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Desfecho de pacientes com câncer internados em unidades de terapia intensiva brasileiras com lesão renal aguda

Resumos

OBJETIVOS: Pacientes com câncer criticamente enfermos têm maior risco de lesão renal aguda, mas estudos envolvendo estes pacientes são escassos, e todos em centros únicos e realizados em unidades de terapia intensiva especializadas. O objetivo deste estudo foi avaliar as características e desfechos em uma coorte prospectiva de pacientes de câncer internados em diversas unidades de terapia intensiva com lesão renal aguda. MÉTODOS: Estudo prospectivo multicêntrico de coorte realizado em unidades de terapia intensiva de 28 hospitais brasileiros em um período de dois meses. Foram utilizadas regressões logísticas univariada e multivariada para identificar os fatores associados a mortalidade hospitalar. RESULTADOS: Dentre todas as 717 internações a unidades de terapia intensiva, 87 (12%) tiveram lesão renal aguda e 36% deles receberam terapia de substituição renal. A lesão renal se desenvolveu mais frequentemente em pacientes com neoplasias hematológicas do que em pacientes com tumores sólidos (26% x 11%; p=0,003). Isquemia/choque (76%) e sepse (67%) foram os principais fatores associados à lesão renal, e esta foi multifatorial em 79% dos pacientes. A letalidade hospitalar foi de 71%. Os escores de gravidade gerais e específicos para pacientes com lesão renal, foram imprecisos para predizer o prognóstico nestes pacientes. Na análise multivariada, a duração da internação hospitalar antes da unidade de terapia intensiva, disfunções orgânicas agudas, necessidade de ventilação mecânica e um performance status comprometido associaram-se à maior letalidade. Mais ainda, características relacionadas ao câncer não se associaram com os desfechos. CONCLUSÕES: O presente estudo demonstra que internação na unidade de terapia intensiva e suporte avançado à vida devem ser considerados em pacientes selecionados de câncer criticamente enfermos com lesão renal.

Insuficiência renal aguda; Diálise; Neoplasias; Mortalidade; Estado terminal; Estudo multicêntrico


OBJECTIVES: Critically ill cancer patients are at increased risk for acute kidney injury, but studies on these patients are scarce and were all single centered conducted in specialized intensive care units. The objective was to evaluate the characteristics and outcomes in a prospective cohort of cancer patients admitted to several intensive care units with acute kidney injury. METHODS: Prospective multicenter cohort study conducted in intensive care units from 28 hospitals in Brazil over a two-month period. Univariate and multivariate logistic regression were used to identify factors associated with hospital mortality. RESULTS: Out of all 717 intensive care unit admissions, 87 (12%) had acute kidney injury and 36% of them received renal replacement therapy. Kidney injury developed more frequently in patients with hematological malignancies than in patients with solid tumors (26% vs. 11%, P=0.003). Ischemia/shock (76%) and sepsis (67%) were the main contributing factor for and kidney injury was multifactorial in 79% of the patients. Hospital mortality was 71%. General and renal-specific severity-of-illness scores were inaccurate in predicting outcomes for these patients. In a multivariate analysis, length of hospital stay prior to intensive care unit, acute organ dysfunctions, need for mechanical ventilation and a poor performance status were associated with increased mortality. Moreover, cancer-related characteristics were not associated with outcomes. CONCLUSIONS: The present study demonstrates that intensive care units admission and advanced life-support should be considered in selected critically ill cancer patients with kidney injury.

Kidney failure, acute; Dialysis; Neoplasms; Mortality; Critical illness; Multicenter study


ARTIGO ORIGINAL

Desfecho de pacientes com câncer internados em unidades de terapia intensiva brasileiras com lesão renal aguda

Márcio SoaresI; Suzana Margarete Ajeje LoboII; André Peretti TorellyIII; Patricia Veiga de Carvalho MelloIV; Ulisses SilvaV; José Mário Meira TelesVI; Eliézer SilvaVII; Pedro CarusoVIII; Gilberto FriedmanIII, IX; Paulo César Pereira de SouzaX, XI; Álvaro Réa-NetoVII; Arthur Oswaldo ViannaVIII; José Raimundo AzevedoXIV; Érico ValeXV; Leila RezegueXVI; Michele GodoyXVII; Marcelo Oliveira MaiaXVIII; Jorge Ibrain Figueira SalluhI, em nome da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva - BRICNet

IUnidade de Terapia Intensiva do Hospital de Câncer-I, Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IIDivisão de Medicina Intensiva - Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina e Hospital de Base, São José do Rio Preto (SP), Brasil

IIIUnidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre (RS), Brasil

IVUnidade de Terapia Intensiva da Universidade Estadual do Piauí, Teresina (PI), Brasil

VUnidade de Terapia Intensiva do Hospital do Câncer de Barretos - Fundação Pio XII, Barretos (SP), Brasil

VIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital Português, Salvador (BA), Brasil

VIIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP), Brasil

VIIIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital A. C. Camargo, São Paulo (SP), Brasil

IXUnidade de Terapia Intensiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS), Brasil

XUnidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas Niterói, Niterói (RJ), Brasil

XIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas Mario Lioni, Duque de Caxias (RJ), Brasil

XIIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba (PR), Brasil

XIIIUnidade de Terapia Intensiva da Clínica São Vicente, Rio de Janeiro (RJ), Brasil

XIVUnidade de Terapia Intensiva do Hospital São Domingos, São Luis (MA), Brasil

XVUnidade de Terapia Intensiva do Hospital Unimed Natal, Natal (RN), Brasil

XVIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital Porto Dias, Belém (PA), Brasil

XVIIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco (PE), Brasil

XVIIIUnidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Luzia, Brasília (DF), Brasil

Autor para correspondência Autor para correspondência: Márcio Soares Instituto Nacional de Câncer Centro de Tratamento Intensivo - 10º Andar Pça. Cruz Vermelha, 23 CEP: 20230-130 - Rio de Janeiro (RJ), Brasil Fone: 21 2506-6120 - Fax: 21 2294-8620 E-mail: marciosoaresms@yahoo.com.br

RESUMO

OBJETIVOS: Pacientes com câncer criticamente enfermos têm maior risco de lesão renal aguda, mas estudos envolvendo estes pacientes são escassos, e todos em centros únicos e realizados em unidades de terapia intensiva especializadas. O objetivo deste estudo foi avaliar as características e desfechos em uma coorte prospectiva de pacientes de câncer internados em diversas unidades de terapia intensiva com lesão renal aguda.

MÉTODOS: Estudo prospectivo multicêntrico de coorte realizado em unidades de terapia intensiva de 28 hospitais brasileiros em um período de dois meses. Foram utilizadas regressões logísticas univariada e multivariada para identificar os fatores associados a mortalidade hospitalar.

RESULTADOS: Dentre todas as 717 internações a unidades de terapia intensiva, 87 (12%) tiveram lesão renal aguda e 36% deles receberam terapia de substituição renal. A lesão renal se desenvolveu mais frequentemente em pacientes com neoplasias hematológicas do que em pacientes com tumores sólidos (26% x 11%; p=0,003). Isquemia/choque (76%) e sepse (67%) foram os principais fatores associados à lesão renal, e esta foi multifatorial em 79% dos pacientes. A letalidade hospitalar foi de 71%. Os escores de gravidade gerais e específicos para pacientes com lesão renal, foram imprecisos para predizer o prognóstico nestes pacientes. Na análise multivariada, a duração da internação hospitalar antes da unidade de terapia intensiva, disfunções orgânicas agudas, necessidade de ventilação mecânica e um performance status comprometido associaram-se à maior letalidade. Mais ainda, características relacionadas ao câncer não se associaram com os desfechos.

CONCLUSÕES: O presente estudo demonstra que internação na unidade de terapia intensiva e suporte avançado à vida devem ser considerados em pacientes selecionados de câncer criticamente enfermos com lesão renal.

Descritores: Insuficiência renal aguda; Diálise; Neoplasias; Mortalidade; Estado terminal; Estudo multicêntrico

INTRODUÇÃO

Pacientes criticamente enfermos com câncer têm maior risco de lesão renal aguda (LRA).(1,2) Além disto, a LRA é uma questão complexa, pois é geralmente multifatorial e ocorre no contexto de falência de múltiplos órgãos, e se associa com elevadas taxas de letalidade.(3-10) Como estudos da década de 90 relataram taxas de letalidade de até 93%(11), os oncologistas, intensivistas e nefrologistas tem sido relutantes em iniciar terapia de substituição renal (TSR) para estes pacientes. Não obstante, em estudos mais recentes investigadores de diferentes centros relataram melhores taxas de sobrevida,(6,8-10) e que o diagnóstico da doença maligna por si só não mais se associava a um maior risco de morrer.(7,8) Além do mais, foi também demonstrado que a recuperação da função renal ocorre em mais de 80% dos pacientes que recebem alta vivos da unidade de terapia intensiva (UTI).(9) Contudo, são ainda escassos estudos avaliando adequadamente este subgrupo de pacientes criticamente enfermos com câncer, e os existentes foram realizados em centros únicos com UTIs especializadas, com potenciais implicações para a generalização dos resultados para unidades não especializadas.(5-11) Além disto, não há informações sobre o desempenho dos escores prognósticos nestes pacientes. Portanto, estudamos prospectivamente uma coorte de pacientes criticamente enfermos com câncer e LRA internados a 28 UTIs do Brasil com três objetivos principais: 1) avaliar suas características de desfechos; 2) identificar os fatores associados à letalidade hospitalar; e 3) avaliar o desempenho de dois sistemas gerais e um sistema específico renal de avaliação prognostica.

MÉTODOS

Delineamento e ambiente

Os pacientes foram selecionados a partir de um estudo prospectivo de coorte sobre o prognóstico de pacientes com câncer internados em 28 UTIs brasileiras, realizado entre 1º de agosto e 30 de setembro de 2007.(12) O estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, Brasil, em nome da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva - BRICNet. As UTIs participantes da BRICNet estão localizadas em uma variedade de tipos de hospitais (centros acadêmicos, hospitais privados, hospitais urbanos não acadêmicos, etc) de diferentes regiões geográficas do Brasil. A lista completa de investigadores e centros é apresentada no final deste artigo. O presente estudo foi estritamente observacional, e todas as decisões clínicas (inclusive a internação do paciente à UTI e o início da TSR) foram por critérios dos médicos que atenderam esses pacientes. O estudo foi aprovado por todos os Comitês de Ética locais, e pela Comissão Brasileira de Ética em Pesquisa (CONEP), tendo sido dispensado o uso de um termo de consentimento livre e esclarecido.

Seleção dos participantes

Durante o período do estudo, foram avaliados todos os pacientes com idade > 18 anos com LRA ou com lesão renal crônica agudizada (LRAC) nas primeiras 24 horas após internação nas UTIs participantes. Neste estudo, foram incluídos apenas pacientes classificados como Falência segundo a classificação RIFLE (aumento de três vezes na creatinina sérica (SCr); SCr > 4 mg/dl com aumento agudo > 0,5 mg/dl; débito urinário < 0,3 ml/kg/hora em 24 horas; anúria observada em 12 horas) ou necessidade de TSR.(13,14) Não foram avaliados pacientes em remissão completa de câncer por mais do que cinco anos, as reinternações, e os pacientes com estada na UTI < 24 horas. Também não foram considerados pacientes com insuficiência renal crônica terminal (n=7). Os pacientes com lesão renal crônica tinham sabidamente taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1,73m2 por pelo menos três meses.(15) Definiu-se oligúria como débito urinário < 400 ml/dia.

Coleta de dados e definições

Os dados foram coletados utilizando uma ficha clínica específica e padronizada. Todos os documentos do estudo, inclusive o glossário com todas as definições e procedimentos para coleta dos dados, foram disponibilizados online durante todo o estudo. O centro coordenador estava disponível para contato em caso de qualquer dúvida ou problema durante a fase de coleta de dados.

Foram coletados prospectivamente os dados demográficos, variáveis clínicas e laboratoriais durante a internação à UTI, inclusive a localização no hospital antes da internação à UTI, principal diagnóstico para internação à UTI, comorbidades,(16) performance status (PS) [escala do Eastern Cooperative Oncology Group],(17) fatores contribuintes para a LRA e dados relacionados ao tratamento do câncer. Foram calculadas as seguintes pontuações: terceira versão da Simplified Acute Physiology Score (SAPS 3),(18) e o Mortality Probability Model (MPM0-III),(19), e o escorede Mehta.(20) Foi também estimada a letalidade prevista com a equação adaptada para as Américas Central e do Sul (CSA) do escore SAPS 3.(18) As disfunções de órgãos foram avaliadas utilizando o escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA).(21) Os pacientes foram classificados com base na razão para a internação na UTI em clínica, cirúrgica programada e cirúrgica emergencial. As comorbidades foram avaliadas utilizando o sistema Adult Comorbidity Evaluation-27 (ACE-27), que classifica uma ampla variedade de doenças e condições comórbidas segundo a gravidade da descompensação do órgão e seu impacto no prognóstico.(16) Definiu-se neutropenia como contagem de neutrófilos abaixo de 500/mm3. Sepse foi diagnosticada segundo as definições atuais.(22) Os dados sobre os procedimentos de TSR não foram colhidos. As decisões de iniciar, mudar o método, e cessar TSR foram tomadas pelo nefrologista e/ou intensivista responsável(is) pelo paciente de forma individual, segundo as políticas de cada UTI. A letalidade hospitalar foi o principal desfecho.

Gestão dos dados, apresentação e análise estatística

A inserção dos dados no sistema foi centralizada e realizada por um único gestor de dados utilizando base de dados Microsoft Access (Microsoft Corporation, Readmond, WA, EUA). A consistência dos dados foi avaliada por um único autor (M.S.) por meio de um procedimento de re-verificação em uma amostra ao acaso de 10% dos pacientes. Os dados foram detalhadamente examinados por três investigadores quanto a informações faltantes, valores implausíveis e fora da faixa, erros lógicos e detalhes insuficientes. Em caso de não conformidade, os investigadores locais eram contatados para providenciar a informação necessária.

Foi usada estatística descritiva padrão para descrever a população do estudo. As variáveis contínuas foram relatadas como média ± desvio padrão ou mediana (faixa interquartis 25%-75%, IQR). Foi utilizada regressão univariada e multivariada para identificar fatores associados com a letalidade hospitalar.(23) A linearidade entre as variáveis contínuas e variáveis dependentes foi avaliada utilizando o locally wieghted scatterplot smoothing (LOWESS).(23) Em caso de não linearidade, a variável era adequadamente transformada. Para variáveis categóricas com múltiplos níveis, o nível de referência foi atribuído a um com a menor probabilidade da variável dependente. Variáveis que proporcionaram valores de p <0,2 na análise univariada e as consideras clinicamente relevantes foram inseridas em uma análise multivariada para estimar a associação independente de cada covariável com a variável dependente. Os resultados foram resumidos como odds-ratios (OR) e respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Foram testadas as possíveis interações. A área sob a curva receiver-operating characteristic (AROC) foi utilizada para avaliar a discriminação do modelo; uma AROC de 1,0 denota perfeição, enquanto um valor próximo a 0,50 indica falta aparente de precisão.(24) As AROC foram comparadas utilizando estatística não paramétrica.(25) Foi usado o teste de Hosmer-Lemeshow C goodness-of-fit para avaliar a concordância entre os resultados observados e previstos entre todos os estratos de probabilidades do desfecho de interesse (calibração).(23) Com este teste, valores de p>0,05 indicam uma boa exatidão do modelo. Valores bicaudais de p<0,05 foram considerados como estatisticamente significantes.

RESULTADOS

Características da população do estudo

Dos 717 pacientes internados às UTIs durante o período do estudo, 87 (12%) preencheram os critérios de elegibilidade e constituíram a população do estudo. A freqüência de LRA foi mais alta em pacientes com neoplasias hematológicas [26% (15/50)] do que naqueles com tumores sólidos [11% (74/667)] (p=0,003). Os tipos de neoplasias mais freqüentes foram do trato gastrintestinal superior (n=19, 22%), urogenitais (n=13, 15%), trato gastrintestinal inferior (n=11, 13%), linfomas (n=7, 8%), e leucemias (n=5, 6%). Apenas quatro (5%) pacientes foram submetidos a transplante de medula óssea (TMO) (autólogo=2, alogênico=2). As principais características dos pacientes e achados laboratoriais relacionados com LRA são apresentados, respectivamente, nas tabelas 1 e 2. Além de LRA, as principais razões para internação à UTI foram: sepse grave/choque séptico (n=58, 67%), insuficiência respiratória aguda (excluindo os pacientes sépticos) (n=11, 13%), complicações pós-operatórias (n=9, 10%), e outras (n=9, 10%). Foram identificadas condições comórbidas em 69 (79%) pacientes, e as mais freqüentes foram: hipertensão arterial [n=38 (44%)], diabetes mellitus [n=11 (13%)], doença pulmonar crônica [n=8 (9%)] e doença arterial coronária [n=7 (8%)]. Dezessete (20%) pacientes tinham lesão renal crônica e 26 (30%) pacientes tinham oligúria (Tabela 3). Os principais fatores de contribuição para LRA foram isquemia/choque (76%) e sepse (67%); 69 (79%) pacientes tiveram mais de uma razão para o desenvolvimento de disfunção renal (Tabela 3).

Dezoito (21%) pacientes necessitaram de TSR durante o primeiro dia na UTI. Dentre os 69 pacientes restantes, 13 (19%) receberam TSR após uma mediana de 3 (2-6) dias na UTI. Em geral, os pacientes que receberam TSR tinham maior gravidade das disfunções orgânicas (pontuação SOFA: 15,2±3,7 x 11,5±3,3 pontos; p<0,001) e receberam ventilação mecânica com maior freqüência (71% x 41%; p=0,014) do que os pacientes que não necessitaram TSR. Não houve diferenças significantes com relação à idade (p=0,959), pontuações SAPS 3 (p=0,681), condições comórbidas (p=0,999), PS (p=0,760), uso de vasopressores (p=0,126), tipo (p=0,241) e situação do câncer (p=0,391).

Análise dos desfechos

A letalidade na UTI foi de 61% (53/87) e a letalidade hospitalar de 71% (62/87). Apesar da falta de significância estatística, a letalidade hospitalar foi mais elevada nos pacientes que receberam TSR mais tarde durante a estada na UTI (92%) quando comparados aos pacientes que receberam TSR durante o primeiro dia na UTI (78%) e os que não receberam TSR (64%) (p=0,105). A priorização de cuidados paliativos na UTI foi decidida (suspender ou não iniciar tratamentos invasivos ou de substituição artificial de das funções orgânicas) em 18 pacientes (23%), e a frequência foi o dobro nos pacientes sem TSR do que em pacientes com TSR (29% X 14%, P=0,167). Os sobreviventes tiveram duração mais curta de estada no hospital antes da internação à UTI, maior gravidade da doença aguda e as disfunções de órgãos, e receberam mais frequentemente ventilação mecânica do que os não sobreviventes. O débito urinário também foi mais elevado nos sobreviventes (1110 (710-2455) ml x 850 (215-1536) ml, p=0,038). As comparações entre os grupos são apresentadas nas tabelas 1 e 2.

O tempo de estada no hospital antes da UTI, a pontuação SOFA, o PS, necessidade de ventilação mecânica, obstrução do trato urinário por tumor, necessidade de diálise e níveis de lactato foram selecionados para entrar em uma análise multivariada com a finalidade de identificar os fatores preditivos para letalidade hospitalar. O modelo final é apresentado na tabela 4, e teve tanto boa calibração quanto discriminação. Gênero, insuficiência renal crônica, oligúria e tipo de doença maligna (hematológica ou tumor sólido) foram todos forçados individualmente no modelo final, e em geral os coeficientes das demais covariáveis não mudaram.

Pontuações de gravidade da doença

A pontuação média SAPS 3 foi de 69,5±16,7 pontos, e como previsto, foi maior nos que faleceram do que nos sobreviventes (72,6±17,0 x 61,8±13,6 pontos, p=0,006). As capacidades discriminativas das pontuações de SAPS 3, MPM0-III e Mehta foram uniformemente ruins para todos os modelos, e a AROC variou de 0,60 a 0,68. MPM0-III e SAPS 3 tenderam a subestimar a letalidade, enquanto a pontuação de Mehta tendeu a subestimá-la. Os desempenhos dos modelos são apresentados na Tabela 5. A AROC do modelo final [0,84, IC 95% = 0,75-0,92] foi significantemente maior do que as dos escores SAPS 3 (p=0,013), MPM0-III (p=0,001) e Mehta (p=0,009).

DISCUSSÃO

Dependendo da população estudada, até metade dos pacientes com câncer tiveram LRA e/ou necessitaram de TSR durante a permanência na UTI.(5-11) Neste estudo, 12% dos pacientes foram internados à UTI com LRA, e, em conformidade com Taccone et al.,(26) a freqüência foi mais elevada em pacientes com neoplasias hematológicas do que em pacientes com tumores sólidos (26% x 11%, p=0,003). Como também previamente demonstrado, estiveram presentes causas múltiplas para LRA em 79% dos pacientes. Entretanto, foram identificadas causas de LRA relacionadas ao câncer em menos de 20% deles. Até onde sabemos, este é um dos poucos estudos sobre pacientes de UTI com câncer e LRA selecionados a partir de uma base de dados multicêntrica. Mais ainda, diferentemente de relatos prévios, os pacientes estudados foram incluídos em UTIs não especializadas. Embora a letalidade observada pareça mais alta do que para pacientes sem câncer,(1,27) as taxas de sobrevivência foram bastante aceitáveis e similares às encontradas em relatos mais recentes de UTIs especializadas.(6-10) Os principais preditores de desfecho foram um performance status comprometido e a necessidade de ventilação mecânica. Mais ainda, nossos resultados confirmam as evidências de que as características relacionadas com a neoplasia de base não devem orientar o processo de tomada de decisão para admitir um paciente à UTI ou iniciar a TSR.

Um outro achado importante de nosso estudo se relaciona com o momento da LRA. O tempo de estada no hospital antes da internação à UTI foi um preditor independente de morte. Além disto, a taxa de letalidade foi de 91% entre os pacientes que necessitaram de TSR além do primeiro dia de UTI. Enquanto estes achados podem identificar um subgrupo de pacientes nos quais a LRA se desenvolveu por causa da ineficácia dos tratamentos instituídos, por outro lado podem também sugerir potenciais benefícios da instituição precoce de suporte aos órgãos, inclusive TSR. No estudo de Soares et al., os desfechos dos pacientes que necessitaram de TSR após o primeiro dia de UTI foram consideravelmente piores, e nenhum paciente que necessitou dessa terapia após o quarto dia sobreviveu.(9) Darmon et al. também demonstraram que a deterioração da função renal após internação à UTI associou-se independentemente com a letalidade em pacientes com câncer.(8) No entanto, como não foram colhidas neste estudo informações sobre decisão de cessar TSR, certamente é necessário cautela na interpretação destes dados. Além disto, as decisões para cuidados paliativos ocorreram com o dobro de freqüência em pacientes não dialisados, de forma que não se podem afastar potenciais vieses de seleção. Entretanto, a proporção de pacientes com LRA que receberam TSR em nosso estudo é similar ao relatado na literatura.(5,9,10)

Nas análises multivariadas, além da duração da permanência no hospital antes da internação à UTI, a necessidade de ventilação mecânica, a gravidade das disfunções de órgãos associadas, e um comprometimento do performance status também se associaram com menor probabilidade de sobrevivência. Todas estas variáveis são preditores importantes e bem conhecidos de desfecho, não apenas em pacientes criticamente enfermos com câncer,(8,9,12) como também na população geral de pacientes de UTI com LRA.(27,28)

Este estudo tem também o mérito de ter realizado pela primeira vez validações externas dos escores de prognóstico mais recentes em pacientes com câncer e LRA, e tanto SAPS 3 quanto MPM0-III foram imprecisos para prever os desfechos, subestimando a letalidade. É sabido que escores de prognóstico gerais subestimam a letalidade quando são utilizadas com LRA na internação à UTI.(29) Por outro lado, o uso de um escore específico para pacientes com LRA também resultou em discriminação ruim, por superestimar a mortalidade. A análise da calibração deve, entretanto, ser interpretada com prudência, em razão de o tamanho relativamente pequeno da amostra ter imposto limitações a uma avaliação mais adequada deste parâmetro. Embora a análise da discriminação pareça ser menos afetada pelo tamanho das amostras do que a calibração,(30) validações externas de modelos de prognóstico para pacientes criticamente enfermos exigem tamanhos substanciais de amostras.(31) Não obstante, devem ser levadas em consideração diversas limitações em nosso estudo. Primeiramente, não obstante o delineamento multicêntrico e prospectivo, foi avaliado um número relativamente pequeno de pacientes, de forma que a falta de poder estatístico pode ter sido responsável pela falta de associação entre algumas variáveis e mortalidade. Contudo, como o conhecimento sobre pacientes em UTI e com câncer vem rapidamente aumentando, foi planejada a priori uma duração de dois meses para evitar potenciais vieses relacionados com alterações nos padrões de tratamento. Além disto, pelo fato de que foram também avaliados pacientes de UTIs não especializadas, acreditamos que nossos resultados possam ser mais representativos da prática em hospitais gerais, e portanto mais adequados para generalização. Em segundo lugar, este estudo teve poder insuficiente para avaliar pacientes com doenças malignas hematológicas e os pacientes submetidos a TMO. Embora este não pareça ser o caso para pacientes sem TMO com doenças malignas hematológicas e pacientes submetidos a TMO autólogo,(7) consideramos que pacientes de TMO alogênico deveriam ser avaliados à parte por terem peculiaridades que os diferenciam em termos de prognóstico e mortalidade, que nestes pacientes continuam sendo bem mais altos, particularmente quando se faz necessária TSR.(5,7) Finalmente, não foram coletadas sistematicamente informações sobre as indicações de TSR e as modalidades empregadas, sendo que este tópico deverá merecer melhor avaliação em futuros estudos multicêntricos.

CONCLUSÕES

Este estudo multicêntrico confirmou que a LRA em pacientes criticamente enfermos com câncer é freqüente, em geral multifatorial e ainda associada a elevada letalidade. Por outro lado, o presente estudo também sugere que internação na UTI e TSR devem ser consideradas para pacientes selecionados. A letalidade destes pacientes depende mais da gravidade da doença aguda e do performance status, do que de características relacionadas ao câncer.

Centros e investigadores participantes: Bahia: Hospital Português (José Mário Meira Teles). Distrito Federal: Hospital Santa Luzia (Marcelo de Oliveira Maia). Espírito Santo: Vitória Apart Hospital (Cláudio Piras). Maranhão: Hospital São Domingos - São Luís (José Raimundo Araújo de Azevedo, Widlani Sousa Silva) Minas Gerais: Hospital Mater Dei - Belo Horizonte (Frederico Bruzzi Carvalho). Pará: Hospital Porto Dias - Belém (Leila Rezegue, Rômulo Nina Paes). Paraná: Hospital de Clínicas - UFPR (Álvaro Réa Neto, Nazah C M Youssef). Pernambuco: Hospital de Clínicas - UFPE (Michele Maria Gonçalves de Godoy, Cláudia Ângela Vilela de Almeida, Roberto Barreto Campello). Piauí: Hospital de Terapia Intensiva - Teresina (Patrícia M. Veiga de C. Mello, Lina Melo). Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer - Hospital do Câncer I (Márcio Soares, Jorge I. F. Salluh); Instituto Nacional de Câncer - Hospital do Câncer II (José Jorge Soares Netto, Alexandre de Marca; Rodrigo Hatum; Frederico Muller; Pedro Tibúrcio Nagles; Wlademir Gonzalez); Hospital de Clínicas de Niterói (Paulo César Pereira de Souza, Cláudio Monteiro, Darwin Prado, Moyzés Damasceno); Hospital Mario Lioni - Duque de Caxias (Paulo C. P. Souza, Pedro Paulo Galhardo, Guilherme Nossar); Hospital Pasteur (Bruno da Silva Ferreira, Vicente Cés de Souza Dantas); Hospital Samaritano (Aline Castro, Ricardo Lima); Hospital CardioTrauma (Marcos Freitas Knibel, Robson Dantas Santana); Clínica São Vicente (Arthur Vianna, Alessandra Alves); Hospital São Lucas (Marcos Freitas Knibel, Eduardo Xavier). Santa Catarina: Hospital São José - Criciúma (Felipe Dal-Pizzol, Cristiane Ritter). São Paulo: Hospital A. C. Camargo (Pedro Caruso, Valdelis Novis Okamoto, Lúcio Souza dos Santos); Fundação Pio XII - Hospital do Câncer de Barretos (Ulysses V. A. Silva, Rosana D. S. Almeida, Richard S. P. Silva); Hospital Sírio Libanês (Luciano C. Pontes de Azevedo, Guilherme P. Schettino); Hospital Israelita Albert Einstein (Eliezer Silva, Alexandre Biasi Cavalcante, Miquéias Martins Lima Silva); Hospital de Base - Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (Suzana Margareth Ajeje Lobo); Hospital do Servidor Público Estadual (Ederlon Alves de Carvalho Rezende). Rio Grande do Norte: Hospital Unimed Natal (Érico de Lima Vale). Rio Grande do Sul: Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Pavilhão Central (Gilberto Friedman, Jorge Amilton Hoher); Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Hospital Santa Rita (André Peretti Torelly).

Agradecimentos: Ao Instituto Nacional de Câncer, particularmente ao Departamento de Pesquisa Clínica e ao CNPq por todo o apoio.

Apoio financeiro: Este estudo foi apoiado financeiramente pelo Instituto Nacional de Câncer. O Dr. Soares é parcialmente apoiado por verbas de pesquisa do CNPq.

Submetido em 27 de Junho de 2010

Aceito em 12 de Agosto de 2010

Conflitos de interesse: nenhum a declarar.

Este estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, Brasil, em nome da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva - BRICNet.

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  • Autor para correspondência:
    Márcio Soares
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Out 2010
    • Data do Fascículo
      Set 2010

    Histórico

    • Recebido
      27 Jun 2010
    • Aceito
      12 Ago 2010
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