Prezado Editor,
Em relação às considerações sobre a intervenção terapêutica memory box descrita em nosso artigo,(1) estamos certos de que este diálogo qualifica e valoriza a transversalidade da saúde mental durante a pandemia da doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19), como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em informe técnico publicado logo após a declaração de sua atual situação pandêmica.(2) Além disso, agradecemos a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre essa intervenção, descrita de forma sucinta, respeitando o formato deliberado pelo corpo editorial deste periódico.
Destacamos, como resposta aos dois questionamentos, que a memory box constituiu um dispositivo que adaptou os protocolos de entrega às famílias ou aos responsáveis dos pertences salvaguardados pelo hospital de um paciente que foi a óbito. Essa devolução é uma prática ética e usual em nossa realidade, de forma que não há uma busca ativa de objetos que venham a violar a privacidade dos pacientes falecidos, no desejo de construir uma narrativa pela equipe. Assim, respondendo ao segundo questionamento dos autores, a memory box não criou um sistema para devolução dos pertences, mas qualificou-o com sensibilidade, dotando-o de um caráter simbólico, respeitoso e compassivo.
O primeiro questionamento é de grande importância, não apenas durante a COVID-19, uma vez que uma série de protocolos de controle de infecção hospitalar é cumprida na boa prática das unidades de terapia intensiva. É possível ocorrer a infecção pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) por meio do contato com superfícies. No entanto, dados epidemiológicos mais atuais e recomendações de agências sanitárias, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), indicam que a transmissão por meio de superfícies não é a principal via de disseminação, sendo seu risco considerado baixo.(3) O principal modo pelo qual ocorre infecção pelo SARS-CoV-2 é a via respiratória. O risco de transmissão pode ser reduzido com o uso consistente e correto de máscaras, pela devida higiene das mãos e mantendo-se instalações saudáveis. A desinfecção de superfície é recomendada em ambientes comunitários fechados onde houve caso suspeito ou confirmado de COVID-19 nas últimas 24 horas.(3)
Na descrição do nosso relato,(1) os pertences passam por processo de descontaminação e são devolvidos aos familiares em tempo superior a 72 horas. De igual modo, a conversa da equipe com os familiares também segue protocolos de segurança.
Destaca-se, neste momento, que a comunicação clara e respeitosa das equipes das unidades de terapia intensiva com os familiares e enlutados, respeitando sempre as normas de segurança, configura-se como estratégia fundamental de cuidado em saúde e, mesmo na pandemia, deve ser estimulada.(4)
Agradecemos o interesse dos autores e esperamos que haja preocupação e estímulo para que diferentes dispositivos, como a memory box, possam ser desenvolvidos e refinados, permitindo a urgente incorporação do tema da saúde mental no cenário da terapia intensiva.
REFERÊNCIAS
- 1 Luiz TS, Silva Filho OC, Ventura TC, Dresch V. Memory box: possibilities to support grief in the intensive care unit during the COVID-19 pandemic. Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(3):479-80.
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2 World Health Organization (WHO). Mental health and psychosocial considerations during the COVID-19 outbreak. 18 March 2020. Genève:WHO; 2020. [cited 2020 May 16]. Available from: https://www.who.int/docs/defaultsource/coronaviruse/mental-health-considerations.pdf?sfvrsn=6d3578af_2
» https://www.who.int/docs/defaultsource/coronaviruse/mental-health-considerations.pdf?sfvrsn=6d3578af_2 -
3 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Science Brief: SARS-CoV-2 and Surface (Fomite) Transmission for Indoor Community Environments. Updated April 5, 2021. [cited 2021 May 23]. Available from: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/more/science-and-research/surface-transmission.html
» https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/more/science-and-research/surface-transmission.html - 4 Soares M. Caring for the families of terminally ill patients in the intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva. 2007;19(4):481-4.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
05 Jul 2021 -
Data do Fascículo
Apr-Jun 2021
