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Quais desfechos devem ser avaliados nos pacientes graves?

RESUMO

Estudos clínicos randomizados em terapia intensiva priorizam desfechos focados em doença e não desfechos centrados no paciente. Uma mudança de paradigma considerando a avaliação de medidas após a alta hospitalar e medidas focadas na qualidade de vida e em sintomas comuns, como dor e dispneia, poderiam refletir melhor os desejos de pacientes e de seus familiares. No entanto, barreiras relacionadas à sistematização da interpretação desses desfechos, a heterogeneidade de instrumentos de medida e a maior dificuldade na execução dos estudos, até o momento, parecem dificultar essa mudança. Além disso, a participação conjunta de pacientes, familiares, pesquisadores e clínicos na definição dos desfechos dos estudos ainda não é uma realidade.

Descritores:
Avaliação de resultados da assistência ao paciente; Estado terminal; Cuidados críticos; Prognóstico; Unidades de terapia

ABSTRACT

Randomized clinical trials in intensive care prioritize disease-focused outcomes rather than patient-centered outcomes. A paradigm shift considering the evaluation of measures after hospital discharge and measures focused on quality of life and common symptoms, such as pain and dyspnea, could better reflect the wishes of patients and their families. However, barriers related to the systematization of the interpretation of these outcomes, the heterogeneity of measurement instruments and the greater difficulty in performing the studies, to date, seem to hinder this change. In addition, the joint participation of patients, families, researchers, and clinicians in the definition of study outcomes is not yet a reality.

Keywords:
Patient outcome assessment; Critical illness; Critical care; Prognosis; Intensive care units

INTRODUÇÃO

Conceitualmente, o surgimento das unidades de tratamento intensivo (UTIs) balizou-se na premissa de salvar a vida dos pacientes críticos, isto é, reduzir a mortalidade. Esse objetivo foi alcançado em muitas situações clínicas, como na sepse(11 Stevenson EK, Rubenstein AR, Radin GT, Wiener RS, Walkey AJ. Two decades of mortality trends among patients with severe sepsis: a comparative meta-analysis. Crit Care Med. 2014;42(3):625-31.) e na insuficiência respiratória aguda.(22 Zambon M, Vincent JL. Mortality rates for patients with acute lung injury/ARDS have decreased over time. Chest. 2008;133(5):1120-7.) Isso se deveu ao progresso das técnicas de monitorização dos órgãos vitais,(33 Pool R, Gomez H, Kellum JA. Mechanisms of organ dysfunction in sepsis. Crit Care Clin. 2018;34(1):63-80.) à organização e especialização das equipes(44 Donovan AL, Aldrich JM, Gross AK, Barchas DM, Thornton KC, Schell-Chaple HM, Gropper MA, Lipshutz AKM; University of California, San Francisco Critical Care Innovations Group. Interprofessional care and teamwork in the ICU. Crit Care Med. 2018;46(6):980-90.

5 Halpern NA. Innovative designs for the smart ICU: Part 2: The ICU. Chest. 2014;145(3):646-58.
-66 Low XM, Horrigan D, Brewster DJ. The effects of team-training in intensive care medicine: a narrative review. J Crit Care. 2018;48:283-9.) e à melhora dos tratamentos sintomáticos da disfunção múltipla de órgãos (DMO).(77 Armstrong BA, Betzold RD, May AK. Sepsis and Septic Shock Strategies. Surg Clin North Am. 2017;97(6):1339-79.)

Embora o objetivo - mortalidade - continue muito valioso para os intensivistas, desfechos centrados no paciente foram ganhando importância no decorrer dos anos. Entre eles, estão um controle mais efetivo da dor, a avaliação dos resultados em médio e longo prazo naqueles que sobrevivem à doença crítica e uma maior atenção aos novos sintomas surgentes nos cuidadores e também nos familiares (nova classe de pacientes).(88 Dinglas VD, Faraone LN, Needham DM. Understanding patient-important outcomes after critical illness: a synthesis of recent qualitative, empirical, and consensus-related studies. Curr Opin Crit Care. 2018;24(5):401-9.

9 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.
-1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.)

Assim, o objetivo deste texto é, por meio de uma revisão narrativa, descrever quais são os desfechos mais importantes para os pacientes criticamente doentes, compará-los com os desfechos mais frequentemente estudados nos ensaios clínicos randomizados (ECRs) e descrever possíveis barreiras que impedem a avaliação de desfechos centrados nos pacientes em ambiente de terapia intensiva.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão não sistemática na qual as referências bibliográficas dos estudos recuperados foram também pesquisadas, visando à identificação de outros estudos relevantes.

A pesquisa de literatura da MEDLINE® foi conduzida no PubMed® em 25 de agosto de 2020, usando termos de pesquisa e sinônimos para desfechos centrados no paciente (“patient-centered outcome”) e doente crítico (“critical illness”). Foram revisados somente artigos encontrados em língua portuguesa, inglesa e espanhola, o que totalizou 40.629 abstracts publicados nos últimos 10 anos. A partir desses abstracts, foram selecionados os artigos que participaram do desenvolvimento deste estudo. Os artigos foram revisados por sua contribuição para a compreensão atual dos desfechos avaliados em pacientes de UTI, com prioridade para revisões, metanálises, revisões sistemáticas e ECR.

FOCO ATUAL DO ESTUDO DA MEDICINA INTENSIVA

Os desfechos descritos nos ECRs são distribuídos de forma hierárquica.(1111 Agarwal A, Johnston BC, Vernooij RW, Carrasco-Labra A, Brignardello-Petersen R, Neumann I, et al. Authors seldom report the most patient-important outcomes and absolute effect measures in systematic review abstracts. J Clin Epidemiol. 2017;81:3-12.) Os pesquisadores caracterizam mortalidade (categoria 1) e morbidade (categoria 2; por exemplo: necessidade de hospitalização, recorrência de doença, necessidade de terapia dialítica, entre outros) como os desfechos mais importantes. Presença de sintomas (por exemplo: dor, dispneia, fadiga, entre outros), qualidade de vida e estado funcional são classificados na categoria 3, somente superando em importância os desfechos substitutos, de categoria 4 (por exemplo: pressão arterial, nível de oxigenação, níveis de interleucinas, entre outros). Esses autores acreditam que o estudo da mortalidade seja uma opinião consensual entre médicos e pacientes, portanto indiscutível.(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.,1212 Young K. Doctors' understanding of rheumatoid disease does not align with patients' experiences. BMJ. 2013;346:f2901.) Além disso, outros desfechos muito importantes para os médicos, como a utilização dos recursos de saúde ou o tempo de ventilação mecânica, parecem ser muito menos importantes para os pacientes quando comparados à presença de dor ou de dispneia.(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.) Ou seja, as respostas que os médicos buscam quando realizam um estudo clínico provavelmente não sejam as mesmas que os pacientes gostariam de obter.(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.,1212 Young K. Doctors' understanding of rheumatoid disease does not align with patients' experiences. BMJ. 2013;346:f2901.

13 Richards T, Montori VM, Godlee F, Lapsley P, Paul D. Let the patient revolution begin. BMJ. 2013;346:f2614.
-1414 Pardo-Hernandez H, Alonso-Coello P. Patient-important outcomes in decision-making: a point of no return. J Clin Epidemiol. 2017;88:4-6.)

Na doença crítica, os desfechos avaliados nos ECRs já foram categorizados previamente em diferentes domínios (Tabela 1).(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.,1515 Chrusch CA, Martin CM, Project TQ. Quality improvement in critical care: selection and development of quality indicators. Can Respir J. 2016;2016:2516765.) A revisão sistemática de Gaudry et al.(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.) avaliou 112 ECRs envolvendo pacientes críticos que preenchiam os critérios de inclusão definidos pelos autores. Os tópicos mais estudados foram ventilação mecânica (27%), sepse (19%) e nutrição (17%). Os autores identificaram que desfechos centrados no paciente foram objetivados em 65% dos ECRs avaliados. No entanto, quando o desfecho mortalidade foi excluído da análise, somente 10% dos estudos avaliavam outros desfechos centrados no paciente, como qualidade de vida, desempenho físico ou cognitivo após a alta da UTI. A figura 1 mostra a prevalência dos ECRs cujos desfechos principal ou secundário foram centrados no paciente, bem como sua distribuição, conforme o foco do estudo.

Tabela 1
Categorização dos desfechos em medicina intensiva

Figura 1
Prevalência dos ensaios clínicos randomizados avaliando pacientes graves com desfechos primário ou secundário centrados no paciente, bem como sua distribuição conforme o foco do estudo. As definições “incluindo mortalidade” e “excluindo mortalidade” referem-se à avaliação de todos os estudos em pacientes graves (VM + nutrição + sepse). As definições “VM”, “nutrição” e “sepse” referem-se a estudos de populações específicas. A definição “excluindo mortalidade” refere-se à avaliação de outros desfechos, além da mortalidade. VM - ventilação mecânica.

Mais recentemente, de Grooth et al.(1616 de Grooth HJ, Parienti JJ, Oudemans-van Straaten HM. Should we rely on trials with disease- rather than patient-oriented endpoints? Intensive Care Med. 2018;44(4):464-6.) demonstraram que revistas de medicina intensiva de alto fator de impacto têm publicado cada vez mais estudos com desfechos primários focados em doença (por exemplo: escores de DMO, dias livres de ventilação mecânica, entre outros). Isso tem ocorrido especialmente a partir de 2016 e em estudos com mais de 200 - 500 pacientes. Desfechos focados em doenças são aparentemente válidos, porém podem ser interpretados ambiguamente em relação ao benefício real para os pacientes. Uma terapia pode diminuir a falência de órgãos sem melhorar a sobrevida ou a qualidade de vida, sugerindo erroneamente que essa nova terapia realmente resultou em benefício para o paciente.(1616 de Grooth HJ, Parienti JJ, Oudemans-van Straaten HM. Should we rely on trials with disease- rather than patient-oriented endpoints? Intensive Care Med. 2018;44(4):464-6.) Desse modo, a escolha de desfechos focados em doença, além de potencialmente distantes dos desejos dos pacientes, pode levar a conclusões ilusórias a respeito da efetividade de determinados tratamentos. No entanto, ressalta-se que a escolha desses desfechos aumenta a chance dos autores de encontrarem um desfecho positivo, quando comparado aos ECRs que objetivam desfechos centrados no paciente (por exemplo: mortalidade).(1717 Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, Damiani LP, Marcadenti A, Kawano-Dourado L, Lisboa T, Junqueira DL, de Barros E Silva PG, Tramujas L, Abreu-Silva EO, Laranjeira LN, Soares AT, Echenique LS, Pereira AJ, Freitas FG, Gebara OC, Dantas VC, Furtado RH, Milan EP, Golin NA, Cardoso FF, Maia IS, Hoffmann Filho CR, Kormann AP, Amazonas RB, Bocchi de Oliveira MF, Serpa-Neto A, Falavigna M, Lopes RD, Machado FR, Berwanger O; Coalition Covid-19 Brazil I Investigators. Hydroxychloroquine with or without azithromycin in mild-to-moderate Covid-19. N Engl J Med. 2020;383(21):2041-52.,1818 Angus DC, Derde L, Al-Beidh F, Annane D, Arabi Y, Beane A, et al. Effect of Hydrocortisone on Mortality and Organ Support in Patients With Severe COVID-19: The REMAP-CAP COVID-19 Corticosteroid Domain Randomized Clinical Trial. JAMA. 2020;324(13):1317-29.) Ou seja, o cálculo do tamanho amostral costuma ser menor, uma vez que muitos dos desfechos substitutos são variáveis contínuas ou ordinais.

QUE DESFECHOS SÃO REALMENTE IMPORTANTES PARA OS PACIENTES?

Em pesquisa clínica, um desfecho relevante para o paciente já foi previamente definido como uma característica ou variável que reflete como o paciente se sente, funciona ou sobrevive.(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.,1919 Pino C, Boutron I, Ravaud P. Outcomes in registered, ongoing randomized controlled trials of patient education. PLoS One. 2012;7(8):e42934.) Estudos clínicos realizados em pacientes diabéticos já demonstraram que sobrevivência, qualidade de vida, desempenho funcional, cognitivo e neurológico são os desfechos mais importantes almejados por essa população.(2020 Gandhi GY, Murad MH, Fujiyoshi A, Mullan RJ, Flynn DN, Elamin MB, et al. Patient-important outcomes in registered diabetes trials. JAMA. 2008;299(21):2543-9.) Porém, quando se posiciona o paciente no centro do cuidado, pode transparecer a ideia de redução da importância do médico e de sua opinião perante decisões que ele se julga capaz de tomar sem necessidade de discussões mais aprofundadas ou compartilhamento de expectativas. No entanto, lembremos que os maiores interessados nos desfechos são aqueles que os sofrem: os pacientes. Médicos e pesquisadores deveriam orientá-los sobre as questões técnicas e as dificuldades na mensuração dos desfechos, porém deveriam necessariamente trazê-los para a discussão e para a escolha dos desfechos a serem investigados nos ECRs. Só com a participação de mais pacientes na construção do desfecho, isso seria possível, colocando peso na “preeminência dos valores e preferências do interessado”.(2121 Trujols J, Portella MJ, Iraurgi I, Campins MJ, Siñol N, de los Cobos JP. Patient-reported outcome measures: are they patient-generated, patient-centred or patient-valued? J Ment Health. 2013;22(6):555-62.) Assim, quais desfechos deveríamos mensurar nos pacientes críticos?

Desfechos mensurados em longo prazo

O estudo da mortalidade na UTI foi e sempre será um marcador de qualidade assistencial.(1515 Chrusch CA, Martin CM, Project TQ. Quality improvement in critical care: selection and development of quality indicators. Can Respir J. 2016;2016:2516765.) No entanto, as possíveis consequências adversas de uma permanência na UTI são muito melhor avaliadas após a alta dessa unidade e, principalmente, após a alta hospitalar, já que a doença crítica está associada à elevada mortalidade(2222 Wunsch H, Guerra C, Barnato AE, Angus DC, Li G, Linde-Zwirble WT. Three-year outcomes for Medicare beneficiaries who survive intensive care. JAMA. 2010;303(9):849-56.

23 Biason BL, Teixeira C, Haas JS, Cabral CD, Friedman G. Effects of sepsis on morbidity and mortality in critically ill patients 2 years after intensive care unit discharge. Am J Crit Care. 2019;28(6):424-32.
-2424 Rosa RG, Falavigna M, Robinson CC, Sanchez EC, Kochhann R, Schneider D, Sganzerla D, Dietrich C, Barbosa MG, de Souza D, Rech GS, Dos Santos RD, da Silva AP, Santos MM, Dal Lago P, Sharshar T, Bozza FA, Teixeira C; Quality of Life After ICU Study Group Investigators and the BRICNet. Early and late mortality following discharge from the ICU: a multicenter prospective cohort study. Crit Care Med. 2020;48(1):64-72.) e à alta prevalência de sequelas em longo prazo.(2525 Prescott HC, Angus DC. Enhancing recovery from sepsis: a review. JAMA. 2018;319(1):62-75.

26 Prince E, Gerstenblith TA, Davydow D, Bienvenu OJ. Psychiatric morbidity after critical illness. Crit Care Clin. 2018;34(4):599-608.

27 Oeyen SG, Vandijck DM, Benoit DD, Annemans L, Decruyenaere JM. Quality of life after intensive care: a systematic review of the literature. Crit Care Med. 2010;38(12):2386-400.
-2828 Wolters AE, Slooter AJC, van der Kooi AW, van Dijk D. Cognitive impairment after intensive care unit admission: a systematic review. Intensive Care Med. 2013;39(3):376-86.) Aproximadamente 20% dos idosos americanos que saem do hospital são readmitidos nos primeiros 30 dias da alta.(2929 Mæhlisen MH, Pasgaard AA, Mortensen RN, Vardinghus-Nielsen H, Torp-Pedersen C, Bøggild H. Perceived stress as a risk factor of unemployment: a register-based cohort study. BMC Public Health. 2018;18(1):728.

30 Wadhera RK, Joynt Maddox KE, Wasfy JH, Haneuse S, Shen C, Yeh RW. Association of the hospital readmissions reduction program with mortality among medicare beneficiaries hospitalized for heart failure, acute myocardial infarction, and pneumonia. JAMA. 2018;320(24):2542-52.
-3131 Jencks SF, Williams MV, Coleman EA. Rehospitalizations among patients in the medicare fee-for-service program. N Engl J Med. 2009;360(14):1418-28.) Sobreviventes de sepse apresentam elevadíssima mortalidade nos primeiros meses (~40%)(3232 Prescott HC. Variation in postsepsis readmission patterns: a cohort study of veterans affairs beneficiaries. Ann Am Thorac Soc. 2017;14(2):230-7.) e anos (~70%)(2323 Biason BL, Teixeira C, Haas JS, Cabral CD, Friedman G. Effects of sepsis on morbidity and mortality in critically ill patients 2 years after intensive care unit discharge. Am J Crit Care. 2019;28(6):424-32.,3333 Winters BD, Eberlein M, Leung J, Needham DM, Pronovost PJ, Sevransky JE. Long-term mortality and quality of life in sepsis: a systematic review. Crit Care Med. 2010;38(5):1276-83.) após a alta da UTI. Além disso, os sobreviventes de cuidados intensivos experimentam mudanças profundas em suas vidas devido ao surgimento de déficits em um ou mais domínios(2525 Prescott HC, Angus DC. Enhancing recovery from sepsis: a review. JAMA. 2018;319(1):62-75.) do funcionamento físico,(2323 Biason BL, Teixeira C, Haas JS, Cabral CD, Friedman G. Effects of sepsis on morbidity and mortality in critically ill patients 2 years after intensive care unit discharge. Am J Crit Care. 2019;28(6):424-32.,3434 Iwashyna TJ, Ely EW, Smith DM, Langa KM. Long-term cognitive impairment and functional disability among survivors of severe sepsis. JAMA. 2010;304(16):1787-94.) psicológico(3535 Nikayin S, Rabiee A, Hashem MD, Huang M, Bienvenu OJ, Turnbull AE, et al. Anxiety symptoms in survivors of critical illness: a systematic review and meta-analysis. Gen Hosp Psychiatry. 2016;43:23-9.

36 Rabiee A, Nikayin S, Hashem MD, Huang M, Dinglas VD, Bienvenu OJ, et al. Depressive symptoms after critical illness: a systematic review and meta-analysis. Crit Care Med. 2016;44(9):1744-53.
-3737 Righy C, Rosa RG, da Silva RT, Kochhann R, Migliavaca CB, Robinson CC, et al. Prevalence of post-traumatic stress disorder symptoms in adult critical care survivors: a systematic review and meta-analysis. Crit Care. 2019;23(1):213.) ou cognitivo.(3838 Girard TD. Sedation, delirium, and cognitive function after critical illness. Crit Care Clin. 2018;34(4):585-98.)

Assim, importante decisão seria migrar a avaliação dos desfechos de dentro para fora do hospital. Isso, porém, ainda não é uma realidade. Gaudry et al.(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.) demonstraram que, dos 73 ECRs incluídos em uma revisão sistemática avaliando desfechos em pacientes críticos, somente 17,8% acompanharam os pacientes por mais de 30 dias após a internação na UTI. Além disso, a escolha de desfechos em longo prazo poderia dificultar a realização e a avaliação de estudos clínicos com populações de doentes criticamente enfermos (Tabela 2). O maior risco de perda de seguimento pode aumentar o viés de seleção. A grande heterogeneidade dos instrumentos utilizados para avaliação de desfechos centrados no paciente no contexto pós-alta da UTI pode dificultar a adequada sumarização da evidência e a reprodutibilidade da evidência.(3939 Turnbull AE, Rabiee A, Davis WE, Nasser MF, Venna VR, Lolitha R, et al. Outcome measurement in ICU survivorship research from 1970 to 2013: a scoping review of 425 publications. Crit Care Med. 2016;44(7):1267-77.) Por exemplo, em 425 publicações examinando sobreviventes de UTI após a alta hospitalar, 250 diferentes instrumentos de mensuração foram identificados. A qualidade de vida foi o desfecho mais frequentemente relatado (em 65% dos artigos). Já a limitação da atividade física, desfecho também muito relevante para os pacientes, apareceu em somente 6% dos artigos. Apesar dessa elevada heterogeneidade repercutir a natureza crescente desse campo de pesquisa, ela reflete negativamente a falta de padronização dos instrumentos de medida,(88 Dinglas VD, Faraone LN, Needham DM. Understanding patient-important outcomes after critical illness: a synthesis of recent qualitative, empirical, and consensus-related studies. Curr Opin Crit Care. 2018;24(5):401-9.) o que limita a comparação entre os estudos e dificulta a realização das metanálises.(4040 Williamson PR, Altman DG, Blazeby JM, Clarke M, Devane D, Gargon E, et al. Developing core outcome sets for clinical trials: issues to consider. Trials. 2012;13:132.) Finalmente, muitos instrumentos de entrevista ainda não estão validados para sua aplicação via telefone, requisito fundamental para acompanhamento dos pacientes em longo prazo.

Tabela 2
Desafios para maior utilização de desfechos em longo prazo e centrados no paciente na medicina intensiva

Avaliação de mortalidade associada à qualidade de vida

Na distribuição hierárquica dos desfechos, mortalidade ganha sempre um papel de destaque.(1111 Agarwal A, Johnston BC, Vernooij RW, Carrasco-Labra A, Brignardello-Petersen R, Neumann I, et al. Authors seldom report the most patient-important outcomes and absolute effect measures in systematic review abstracts. J Clin Epidemiol. 2017;81:3-12.) No entanto, sobreviver é tão importante para os pacientes quanto o é para os médicos? Em estudos avaliando a vida pós-UTI de pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), sobreviver foi o desfecho mais bem avaliado pelos pesquisadores e pelos médicos; porém foi o segundo desfecho menos importante ranqueado pelos pacientes.(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.) Essa incongruência poderia ser explicada por alguns fatores: pela amostra do estudo, composta somente por sobreviventes de UTI (não avaliando obviamente os falecidos); pela propensão dos pesquisadores de aumentar a importância da sobrevida devido à sua consciência da importância na contabilização da morte ao avaliar os desfechos funcionais após a alta hospitalar e pela prática comum de avaliar a mortalidade como resultado primário nos estudos de terapia intensiva.(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.)

Sobreviver à doença crítica, infelizmente, está associado a uma ampla variedade de sequelas físicas e psíquicas em longo prazo que podem afetar o estado funcional e a qualidade de vida.(2525 Prescott HC, Angus DC. Enhancing recovery from sepsis: a review. JAMA. 2018;319(1):62-75.

26 Prince E, Gerstenblith TA, Davydow D, Bienvenu OJ. Psychiatric morbidity after critical illness. Crit Care Clin. 2018;34(4):599-608.

27 Oeyen SG, Vandijck DM, Benoit DD, Annemans L, Decruyenaere JM. Quality of life after intensive care: a systematic review of the literature. Crit Care Med. 2010;38(12):2386-400.
-2828 Wolters AE, Slooter AJC, van der Kooi AW, van Dijk D. Cognitive impairment after intensive care unit admission: a systematic review. Intensive Care Med. 2013;39(3):376-86.) Assim, é crescente a valorização da qualidade de vida como desfecho central para os sobreviventes de UTI.(2727 Oeyen SG, Vandijck DM, Benoit DD, Annemans L, Decruyenaere JM. Quality of life after intensive care: a systematic review of the literature. Crit Care Med. 2010;38(12):2386-400.,4141 Dowdy DW, Eid MP, Sedrakyan A, Mendez-Tellez PA, Pronovost PJ, Herridge MS, et al. Quality of life in adult survivors of critical illness: a systematic review of the literature. Intensive Care Med. 2005;31(5):611-20.) Trata-se de desfecho relatado pelo próprio paciente e que não aceita interferência externa de pesquisadores ou familiares. Valoriza a perspectiva do paciente e permite a avaliação do real impacto de uma enfermidade e das consequências de seu tratamento sob um aspecto multidimensional (ou seja, extrapolando a simples definição de morbidade ou mortalidade). Tal multidimensionalidade possibilita avaliar a percepção do indivíduo em relação a diferentes domínios de sua vida, como, por exemplo, aspectos físicos, funcionamento no dia a dia, desempenho social e aspectos emocionais.(2727 Oeyen SG, Vandijck DM, Benoit DD, Annemans L, Decruyenaere JM. Quality of life after intensive care: a systematic review of the literature. Crit Care Med. 2010;38(12):2386-400.) Assim, uma boa qualidade de vida poderia trazer muito mais satisfação aos pacientes do que determinações de redução da capacidade motora ou da capacidade de realizar atividades básicas ou instrumentais de vida diária.

Nessa visão, a sobrevivência do paciente à doença crítica isoladamente não permite avaliar se ele recuperou sua felicidade, suas atividades e sua capacidade de interagir com o meio. Sobreviver, assim, não significa necessariamente ter qualidade de vida. Os autores sugerem que ambos os desfechos sejam sempre avaliados conjuntamente.

Desfechos conjuntos de paciente, familiares e/ou cuidadores

Em ambientes de pesquisa clínica e acompanhamento de longo prazo, familiares ou cuidadores geralmente são os informantes da evolução dos sobreviventes de UTI. Porém, suas informações sobre os pacientes são confiáveis? Parece que sim. Em estudo realizado com sobreviventes de SDRA, também foram entrevistados pesquisadores e familiares.(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.) Dos 19 desfechos importantes selecionados pelos pesquisadores, aproximadamente 80% apresentaram também concordância entre pacientes e seus familiares. Os desfechos melhor ranqueados foram função física, sintomas pulmonares, sintomas cognitivos, sintomas de saúde mental, dor, fadiga e capacidade de retornar ao trabalho ou atividades prévias. Papéis sociais, atividades ou relacionamentos, sobrevida e sintomas sexuais tiveram o menor nível de concordância. Esses dados ressaltam que familiares poderiam servir como informantes substitutos de desfechos centrados no paciente (em caso de impossibilidade de avaliação do paciente), visando minimizar as perdas de dados relacionados às possíveis incapacidades ou a indisposibilidade dos pacientes em responder os questionários. Além disso, cabe lembrar que familiares de pacientes críticos costumam adoecer junto com eles. Esses apresentam elevada carga psicológica no primeiro ano após a alta hospitalar do paciente,(4242 Cameron JI, Chu LM, Matte A, Tomlinson G, Chan L, Thomas C, Friedrich JO, Mehta S, Lamontagne F, Levasseur M, Ferguson ND, Adhikari NK, Rudkowski JC, Meggison H, Skrobik Y, Flannery J, Bayley M, Batt J, dos Santos C, Abbey SE, Tan A, Lo V, Mathur S, Parotto M, Morris D, Flockhart L, Fan E, Lee CM, Wilcox ME, Ayas N, Choong K, Fowler R, Scales DC, Sinuff T, Cuthbertson BH, Rose L, Robles P, Burns S, Cypel M, Singer L, Chaparro C, Chow CW, Keshavjee S, Brochard L, Hébert P, Slutsky AS, Marshall JC, Cook D, Herridge MS; RECOVER Program Investigators (Phase 1: towards RECOVER); Canadian Critical Care Trials Group. One-year outcomes in caregivers of critically ill patients. N Engl J Med. 2016;374(19):1831-41.,4343 van Beusekom I, Bakhshi-Raiez F, de Keizer NF, Dongelmans DA, van der Schaaf M. Reported burden on informal caregivers of ICU survivors: a literature review. Crit Care. 2016;20:16.) pois são subitamente e despreparadamente obrigados a assumirem papéis decisórios com relação a condutas e tratamentos de seus entes queridos. Assim, considerar familiares e cuidadores como uma população que deveria ter seus desfechos estudados parece lógico, além do fato de que mantê-los em acompanhamento clínico poderia trazer benefícios a eles mesmos.(4444 Ullman AJ, Aitken LM, Rattray J, Kenardy J, Le Brocque R, MacGillivray S, et al. Intensive care diaries to promote recovery for patients and families after critical illness: a Cochrane Systematic Review. Int J Nurs Stud. 2015;52(7):1243-53.)

BARREIRAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA MUDANÇA

Mudanças são difíceis de serem aceitas em quaisquer áreas das ciências exatas ou humanas.(4545 Handley MA, Gorukanti A, Cattamanchi A. Strategies for implementing implementation science: a methodological overview. Emerg Med J. 2016;33(9):660-4.) A troca de um “modelo paternalista” médico decisório para um “modelo de compartilhamento” das decisões com os pacientes (no qual o “paciente está no centro” da tomada de decisões médicas) vem modificando a escala de importância dos desfechos estudados. Parece que agora interessa menos o que é um efeito “clinicamente relevante” e ganha destaque um efeito “importante para o paciente”.(1616 de Grooth HJ, Parienti JJ, Oudemans-van Straaten HM. Should we rely on trials with disease- rather than patient-oriented endpoints? Intensive Care Med. 2018;44(4):464-6.,4646 Brown SM, Rozenblum R, Aboumatar H, Fagan MB, Milic M, Lee BS, et al. Defining patient and family engagement in the intensive care unit. Am J Respir Crit Care Med. 2015;191(3):358-60.,4747 Burns KE, Misak C, Herridge M, Meade MO, Oczkowski S; Patient and Family Partnership Committee of the Canadian Critical Care Trials Group. Patient and family engagement in the ICU. Untapped opportunities and underrecognized challenges. Am J Respir Crit Care Med. 2018;198(3):310-9.)

Algumas dificuldades são vislumbradas até que essa lenta mudança possa ocorrer nos estudos científicos dos pacientes críticos. Primeiro, até o momento, não existe taxonomia dos desfechos estudados em pacientes críticos, nem agrupamento definido de conjunto de desfechos.(1010 Gaudry S, Messika J, Ricard JD, Guillo S, Pasquet B, Dubief E, et al. Patient-important outcomes in randomized controlled trials in critically ill patients: a systematic review. Ann Intensive Care. 2017;7(1):28.,4040 Williamson PR, Altman DG, Blazeby JM, Clarke M, Devane D, Gargon E, et al. Developing core outcome sets for clinical trials: issues to consider. Trials. 2012;13:132.,4848 Young B, Bagley H. Including patients in core outcome set development: issues to consider based on three workshops with around 100 international delegates. Res Involv Engagem. 2016;2:25.,4949 Prinsen CA, Vohra S, Rose MR, King-Jones S, Ishaque S, Bhaloo Z, et al. Core Outcome Measures in Effectiveness Trials (COMET) initiative: protocol for an international Delphi study to achieve consensus on how to select outcome measurement instruments for outcomes included in a "core outcome set." Trials. 2014;15:247.) No entanto, algumas experiências já estão sendo realizadas em algumas especialidades médicas, como a reumatologia(5050 Kirkham JJ, Boers M, Tugwell P, Clarke M, Williamson PR. Outcome measures in rheumatoid arthritis randomised trials over the last 50 years. Trials. 2013;14:324.,5151 Petkovic J, Barton JL, Flurey C, Goel N, Bartels CM, Barnabe C, et al. Health equity considerations for developing and reporting patient-reported outcomes in clinical trials: a report from the OMERACT Equity Special Interest Group. J Rheumatol. 2017;44(11):1727-33.) e a endocrinologia,(2020 Gandhi GY, Murad MH, Fujiyoshi A, Mullan RJ, Flynn DN, Elamin MB, et al. Patient-important outcomes in registered diabetes trials. JAMA. 2008;299(21):2543-9.) e também em estudos de educação de pacientes.(1919 Pino C, Boutron I, Ravaud P. Outcomes in registered, ongoing randomized controlled trials of patient education. PLoS One. 2012;7(8):e42934.) Também na área da medicina intensiva, iniciativas nas áreas do suporte ventilatório(5252 Blackwood B, Ringrow S, Clarke M, Marshall J, Rose L, Williamson P, et al. Core Outcomes in Ventilation Trials (COVenT): protocol for a core outcome set using a Delphi survey with a nested randomised trial and observational cohort study. Trials. 2015;16:368.) e da insuficiência respiratória aguda(5353 Needham DM, Sepulveda KA, Dinglas VD, Chessare CM, Friedman LA, Bingham CO 3rd, et al. Core outcome measures for clinical research in acute respiratory failure survivors. An International Modified Delphi Consensus Study. Am J Respir Crit Care Med. 2017;196(9):1122-30.

54 Turnbull AE, Sepulveda KA, Dinglas VD, Chessare CM, Bingham CO 3rd, Needham DM. Core Domains for Clinical Research in Acute Respiratory Failure Survivors: An International Modified Delphi Consensus Study. Crit Care Med. 2017;45(6):1001-10.
-5555 Hodgson CL, Burrell AJ, Engeler DM, Pellegrino VA, Brodie D, Fan E; International ECMO Network. Core Outcome Measures for Research in Critically Ill Patients Receiving Extracorporeal Membrane Oxygenation for Acute Respiratory or Cardiac Failure: An International, Multidisciplinary, Modified Delphi Consensus Study. Crit Care Med. 2019;47(11):1557-63.) vêm surgindo.

Em segundo lugar, a descoberta do quão diferentes são as expectativas dos pacientes e dos médicos com relação aos desfechos propostos nos estudos é relativamente recente,(99 Dinglas VD, Chessare CM, Davis WE, Parker A, Friedman LA, Colantuoni E, et al. Perspectives of survivors, families and researchers on key outcomes for research in acute respiratory failure. Thorax. 2018;73(1):7-12.,1212 Young K. Doctors' understanding of rheumatoid disease does not align with patients' experiences. BMJ. 2013;346:f2901.,1313 Richards T, Montori VM, Godlee F, Lapsley P, Paul D. Let the patient revolution begin. BMJ. 2013;346:f2614.,5656 Miika M. Seeking Clarity on FDA Medical Apps Oversight. JAMA. 2014;311(18):1847.,5757 Frank L, Forsythe L, Ellis L, Schrandt S, Sheridan S, Gerson J, et al. Conceptual and practical foundations of patient engagement in research at the patient-centered outcomes research institute. Qual Life Res. 2015;24(5):1033-41.) ou seja, ainda muito nova para ser de domínio de toda a comunidade médica.

Terceiro, os métodos para envolver os pacientes na determinação de desfechos centrados neles ainda estão em desenvolvimento e incluiriam a realização de pesquisas qualitativas(5858 Eakin MN, Patel Y, Mendez-Tellez P, Dinglas VD, Needham DM, Turnbull AE. Patients´outcomes after acute respiratory failure: a qualitative study with the PROMIS Framework. Am J Crit Care. 2017;26(6):456-65.) bem como a necessidade de participação dos pacientes em reuniões ou conferências relacionadas à saúde.(88 Dinglas VD, Faraone LN, Needham DM. Understanding patient-important outcomes after critical illness: a synthesis of recent qualitative, empirical, and consensus-related studies. Curr Opin Crit Care. 2018;24(5):401-9.,4040 Williamson PR, Altman DG, Blazeby JM, Clarke M, Devane D, Gargon E, et al. Developing core outcome sets for clinical trials: issues to consider. Trials. 2012;13:132.,5757 Frank L, Forsythe L, Ellis L, Schrandt S, Sheridan S, Gerson J, et al. Conceptual and practical foundations of patient engagement in research at the patient-centered outcomes research institute. Qual Life Res. 2015;24(5):1033-41.) Até o momento, poucos congressos médicos permitem participação ativa dos pacientes nas plenárias de discussão.

Em quarto lugar, optar por desfechos primários focados em doença (por exemplo: índice de oxigenação, escore de falências orgânicas, tempo de reversão do choque, dias livres de ventilação, entre outros) geralmente exige menor tamanho amostral e pode ser um indicador mais sensível dos efeitos de determinado tratamento, quando comparado a desfechos realmente importantes (por exemplo: sobrevida ou qualidade de vida).(1616 de Grooth HJ, Parienti JJ, Oudemans-van Straaten HM. Should we rely on trials with disease- rather than patient-oriented endpoints? Intensive Care Med. 2018;44(4):464-6.)

E, finalmente, a escolha de um desfecho composto (um desfecho centrado na doença associado a um centrado no paciente) visando facilitar a execução da pesquisa poderia ser difícil de ser interpretado, pois o tratamento oferecido, muitas vezes, tem efeitos diferentes em cada um dos componentes individuais do desfecho.(1616 de Grooth HJ, Parienti JJ, Oudemans-van Straaten HM. Should we rely on trials with disease- rather than patient-oriented endpoints? Intensive Care Med. 2018;44(4):464-6.) Tal fato poderia dificultar muito a interpretação deste “novo” desfecho composto proposto para o estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desfechos primários orientados em doença vêm se tornando mais prevalentes em estudos de medicina intensiva. A opção por desfechos centrados nos pacientes visaria corrigir esse rumo equivocado da pesquisa médica atual. Porém inúmeras barreiras financeiras, organizacionais e individuais impedem que essa transição “correta” ocorra com a rapidez que ela deveria ocorrer. A escolha de um desfecho em um estudo científico deveria ser construído em conjunto, no qual as perspectivas do paciente, da família, do pesquisador e do clínico sejam avaliadas, discutidas e sintetizadas, visando obter uma compreensão coesa e representativa dos resultados que seriam importantes para os pacientes - além de serem de fácil execução e interpretação por parte dos médicos, dos familiares e dos pesquisadores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    12 Maio 2020
  • Aceito
    04 Out 2020
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