Acessibilidade / Reportar erro

Respostas biológicas de Sipha flava (Forbes, 1884) (Hemiptera: Aphididae) alimentados em diferentes genótipos de capim-elefante1 1 Parte da tese de doutorado da primeira autora

Biological responses of the Sipha flava (Forbes, 1884) (Hemiptera: Aphididae) fed with different elephant grass genotypes

Resumo

Objetivou-se avaliar o efeito de genótipos de capim-elefante, Pennisetum purpureum Schum, sobre alguns aspectos biológicos de Sipha flava (Forbes). Utilizaram-se discos foliares de 15 genótipos de capim-elefante, nos quais ninfas com até 12 horas de idade, foram individualizadas em placas e mantidas à 25 ºC, UR de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. Avaliou-se o número de ínstares, a duração e sobrevivência de cada ínstar e período ninfal, a duração do período pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo, a capacidade diária e total de produção de ninfas e a longevidade dos adultos e ciclo biológico (ninfa-adulto). As ninfas apresentaram quatro instares, em todos os genótipos estudados. Não foram registradas diferenças significativas na duração do primeiro e último estádios ninfais nos genótipos avaliados, diferentemente do observado para os instares intermediários e período ninfal. Os parâmetros biológicos referentes à fase adulta do afídeo, como período pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo e a longevidade foram afetados pelo genótipo. Cameroon de Piracicaba e Guaçu IZ2. Estes genótipos mostraram-se mais adequados ao desenvolvimento do afídeo, proporcionado maiores valores para produção de ninfas/fêmea, produção diária de ninfas/fêmea, período reprodutivo e longevidade do adulto; já o Sem Pêlo proporcionou maiores efeitos negativos nos parâmetros biológicos de S. flava.

Palavras-chave
Pulgão-amarelo; Pennisetum purpureum; Biologia; Resistência

Abstract

This work aimed to evaluate the effect of genotypes of elephant grass, Pennisetum purpureum Schum, on some biological aspects of Sipha flava (Forbes). Foliar disks of 15 elephant grass genotypes were used, on which individual nymphs up to 12 hours old were placed in dishes and kept at 25 ºC, RH of 70 ± 10% and 12-hour photophase. We evaluated the number of instars, duration and survival of each instar and the entire nymphal period, duration of the pre-reproductive, reproductive and post-reproductive period, daily and total nymph production capacity and longevity of the adults and biological cycle (nymph-adult). The nymphs passed through four instars on all the elephant grass genotypes studied. There were no significant differences in the duration of the first and last nymph stages on the different genotypes, unlike observed for the intermediate instars and nymphal period. The biological parameters of the adult phase of the aphid, such as pre-reproductive, reproductive and post-reproductive period and longevity, were also affected by the genotype. Cameroon de Piracicaba and Guaçu IZ2 were the most suitable genotypes for development of the aphids, providing higher values for overall production of nymphs/female, daily production of nymphs/female, reproductive period and adult longevity. On the other hand, the Sem Pêlo genotype was the least suitable for the aphids' development and reproduction according to the biological parameters studied.

Key words
Yellow-aphid; Pennisetum purpureum; Biology; Resistance

Introdução

O afídeo Sipha flava (FORBES, 1884) encontra-se presente em diversas regiões do mundo (BLACKMAN; EASTOP, 2000BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids on the worlds crops: an identification and information guide. 2. ed. New York: john Willey, 2000. 466p.; KINDLER; DALRYMPLE, 1999KLINDER, S. D.; R. L. DALRYMPLE. Relative susceptibility of cereals and pasture grasses to the yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae). Journal of Agricultural and Urban Entomology, v. 16, n. 02, p. 113-122, 1999.) e apresenta importância econômica em culturas como sorgo, cana de açúcar, trigo, cevada, centeio e muitas espécies de forrageiras (BLACKMAN; EASTOP, 2000BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids on the worlds crops: an identification and information guide. 2. ed. New York: john Willey, 2000. 466p.; KINDLER; DALRYMPLE, 1999KLINDER, S. D.; R. L. DALRYMPLE. Relative susceptibility of cereals and pasture grasses to the yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae). Journal of Agricultural and Urban Entomology, v. 16, n. 02, p. 113-122, 1999.; MEDINA-GAUD et al., 1965MEDINA-GAUD, S., MARTORELL, L. F.; BONILLA, R. R. Notes on the biology and control of the yellow sugarcane aphid of sugarcane, Sipha flava (Forbes) in Puerto Rico. In: PROCEEDINGS CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY SUGAR-CANE TECHNOLOGISTS, 12., San Juan, Puerto Rico. 1965. p. 1307-1320.), podendo se espalhar rapidamente na planta hospedeira, acelerando o processo de senescência (BREEN; TEETES, 1986BREEN, J. P.; TEETES, G. L. Relationships of the yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae) density to sorghum damage. Journal of Economic Entomology, v. 79, n. 04, p. 1106-1110, 1986.; WEBSTER, 1990WEBSTER, J. A. Yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae): Detection and mechanisms of resistance among Ethiopian sorghum lines. Journal of Economic Entomology, v. 83, p. 1053-1057, 1990.).

Genótipos de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) têm demonstrado suscetibilidade ao ataque desse fitófago, sobretudo em ambientes de casa-de-vegetação, local onde são realizados estudos experimentais de pesquisa, para posterior aplicação no campo, visando melhores resultados para o corte e pastejo. O capim-elefante é uma forrageira perene, com altas taxas de crescimento e produtividade, elevado valor nutritivo e grande aceitação pelos animais (SANTOS et al., 2001SANTOS, E. A.; SILVA, D. S.; FILHO, J. L. Q. Aspectos Produtivos do Capim-Elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) cv. Roxo no Brejo Paraibano. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 01, p. 31-36, 2001.). Essa planta é usada tanto para corte como para pastejo, apresenta boa adaptação à maioria dos ecossistemas tropicais (PEREIRA et al., 2000PEREIRA, A. V. et al. Variação da qualidade do capim-elefante (Pennissetum purpureum Schum) e híbridos de capim-elefante x milheto (P. purpureum x P. glaucum), em função da idade da planta. Ciência Agrotecnologia, v. 24, n. 02, p. 490-499, 2000.; DALL'AGNOL et al., 2004DALL'AGNOL, M.; SCHEFFER-BASSO.; NASCIMENTO, J. A. L. Produção de forragem de capim-elefante sob clima frio. Curva de Crescimento e Valor Nutritivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 05, p. 1110-1117, 2004.), e atualmente é uma das forrageiras que mais contribuem para a produção de leite no Brasil (XAVIER et al., 2001XAVIER, D. F. et al. Efeito do manejo pós-plantio no estabelecimento de pastagem de Capim-elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 04, p. 1200-1203, 2001.). Estudos referentes à seleção de genótipos de capim-elefante buscando características favoráveis ao seu cultivo já foram desenvolvidos por Souza Sobrinho et al. (2005)SOUZA SOBRINHO, F. Melhoramento de forrageiras no Brasil. In: SIMPOSIO DE FORRAGICULTURA E PASTAGENS, 5., 2005, Lavras. Anais... Lavras: UFLA/FAEPE, 2005. 1 CD. e Auad et al. (2007)AUAD, A. M. et al. Seleção de genótipos de capim-elefante quanto à cigarrinha-das-pastagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 08, p. 1077-1081, 2007..

As características físicas, morfológicas e químicas das forrageiras podem provocar modificações no comportamento dos insetos e interferir na sua biologia, reduzindo sua adaptação e conferindo proteção às plantas; assim, a planta apresenta um mecanismo de resistência, que pode afetar direta ou indiretamente o potencial de reprodução do inseto, provocando aumento no índice de mortalidade ou reduzindo sua fertilidade (LARA, 1991LARA, M. F. Princípios de resistência de plantas a insetos. São Paulo: Ícone, 336p, 1991.). Portanto, a condição morfológica e fisiológica da planta hospedeira determinará sua resistência inerente, bem como as condições de crescimento das populações de fitófagos (BETHKE et al., 1998BETHKE, J.A., REDAK, R.A.; SCHUCH, U.K. Melon aphid performance on chrysanthemum as mediated by cultivar, and differential levels of fertilization and irrigation. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 88, n. 01, p. 41-47, 1998.).

Pesquisas relacionadas aos aspectos biológicos de S. flava mantidos em diferentes genótipos de capim-elefante são inexistentes. Desta forma, objetivou-se avaliar o efeito de genótipos de P. purpureum, sobre alguns parâmetros biológicos desse afídeo.

Material e métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Entomologia da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, MG, em câmara climatizada regulada à 25 ºC, UR de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas.

Discos foliares de P. purpureum foram acondicionados em placas de plástico de 2,5 cm de diâmetro e 2,5 cm de altura, contendo uma camada de 1,0 cm de ágar:água (1:1), para manter a turgescência do material vegetal. Utilizaram-se quinze genótipos de capim-elefante, selecionados entre aqueles com maior diversidade genética, obtidos no campo Experimental da Embrapa Gado de Leite: Mineiro; Cameroon de Piracicaba; Pioneiro; Guaçu IZ 2; Cameroon; CNPGL 962703; Elefante da Colômbia; Sem pêlo; Roxo de Botucatu; Mott; Kizozi; P 24 I Piracicaba; Merckeer Comum de Pinda; Merckeer 23 A; Porto Rico.

Ninfas de S. flava, com até 12 horas de idade, criadas em plantas de capim-elefante do genótipo Napier, foram individualizadas nas placas as quais foram fechadas com tecido voil fixado com elástico, sendo alimentadas nos respectivos genótipos pesquisados. Os discos foliares foram substituídos à medida que se apresentavam com sinais de amarelecimento e de ressecamento. Avaliaram-se o número de ínstares, a duração e sobrevivência de cada ínstar e período ninfal e a duração dos períodos pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo, assim como a capacidade diária e total de produção de ninfas e a longevidade dos adultos.

Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado com 15 tratamentos e 30 repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

As ninfas de S. flava apresentaram quatro ínstares independentemente do genótipo onde foram criadas. Esses resultados assemelharam-se àqueles obtidos quando alimentadas em cana-de-açúcar, sorgo (NUESSLY, 2005NUESSLY, G. S. Yellow sugarcane aphid, sipha flava (Forbes) (Insecta: Heteroptera: Aphididae. Gainesvuille: Institute of Food and Agricultural Sciences, 2005.) e para os afídeos de um modo geral, conforme observações de Dixon (1987)DIXON, A.F.G. Parthenogenetic reproduction and the rate of increase in aphids. In: MINKS, A.K.; HARREWINJN, P. World crop pests - aphids: their biology, natural enemies and control. v.2A, Amsterdam: Elsevier, 1987, cap. 4, p. 269-285. e Blackman e Eastop (2000)BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids on the worlds crops: an identification and information guide. 2. ed. New York: john Willey, 2000. 466p..

Não foram registradas diferenças significativas na duração média, do primeiro e último estádios ninfais de S. flava alimentando-se dos diferentes genótipos de capim-elefante (Tabela 1).

Tabela 1
Duração média (em dias) (±EP), dos instares e fase ninfal de Sipha flava alimentado em diferentes genótipos de capimelefante, Pennisetum purpureum. UR de 70% ± 10 ºC, 25 ºC e fotofase de 12 horas. Embrapa

Para o segundo estádio, foi verificada maior duração quando alimentados dos genótipos Elefante da Colômbia e Sem Pêlo (2,3 e 2,5 dias, respectivamente), e para o terceiro estádio, quando alimentados dos genótipos Cameroon, Elefante da Colômbia e Sem Pêlo (2,2; 2,2 e 2,6 dias, respectivamente). A similaridade da duração dos instares em diferentes genótipos de crisântemo (Dendranthema grandiflora Tzvelev) e de algodoeiro como planta hospedeira de Aphis gossyppi Glover também foi verificada por Soglia et al. (2002)SOGLIA, M. C. M.; BUENO, V. H. P.; SAMPAIO, M. V. Desenvolvimento e sobrevivência de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em diferentes temperaturas e genótipos comerciais de crisântemo. Neotropical Entomology, v. 31, n. 02, p. 211-216, 2002. e por Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004., respectivamente, e em sorgo para Rhopalosiphum maidis Fitch por Fonseca et al. (2002)FONSECA, A. R. Efeitos de genótipos resistentes de sorgo e Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Crysopidae) sobre Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856) (Hemiptera: Aphididae). 2002. 142f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais., os quais não registraram a influencia dos diferentes genótipos na duração dos instares de ambas as espécies de afídeos.

A duração do período ninfal de S. flava foi afetada pelo genótipo, pois os afídeos que se alimentaram nos genótipos Cameroon, Elefante da Colômbia, Sem Pêlo e Merckeer 23A apresentaram período ninfal mais extenso, com duração de 9,3; 9,1; 8,8 e 8,9 dias, respectivamente (Tabela 1). Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004. verificaram que a duração do período ninfal de A. gossypii foi afetada pela genótipo de algodoeiro pesquisada. Vendramini e Nakano (1981)VENDRAMIM, J. D.; NAKANO, O. Aspectos biológicos de Aphis gossypii Glover, 1877 (Homoptera: Aphididae) em algodoeiro. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 10, n. 02, p. 163-173, 1981. e Kokourek et al. (1994)KOKOUREK, F. et al. Effect of temperature on development rate and intrinsic rate of increase of Aphis gossypii reared on greenhouse cucumbers. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 71, n. 01, p. 59-64, 1994. também obtiveram respostas diferentes para a duração deste parâmetro biológico quando A. gossypii utilizaram diferentes genótipos da planta hospedeira na sua alimentação.

Foi verificado efeito dos genótipos de P. purpureum sobre a sobrevivência dos ínstares e em toda a fase ninfal de S. flava (Tabela 2).

Tabela 2
Sobrevivência média (%), (±EP), nos ínstares e fase ninfal de Sipha flava, alimentado em diferentes genótipos de capim elefante, Pennisetum purpureum. UR de 70% ± 10 ºC, 25 ºC e fotofase de 12 horas, Embrapa

Afídeos mantidos no genótipo Sem Pêlo obtiveram porcentagens mais baixas de sobrevivência em todos os instares e, conseqüentemente, fase ninfal; ao passo que para os genótipos Cameroon de Piracicaba, Pioneiro, Mott, Kizozi e P24 Piracicaba foram registrados percentuais significativamente mais elevados para sobrevivência nos diferentes instares e, conseqüentemente, na fase ninfal do afídeo (Tabela 2). Resultados semelhantes foram constatados para outros genótipos, porém, o comportamento de maior ou menor viabilidade foi variável em função do estádio em que o inseto se encontrava.

Soglia et al. (2002)SOGLIA, M. C. M.; BUENO, V. H. P.; SAMPAIO, M. V. Desenvolvimento e sobrevivência de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em diferentes temperaturas e genótipos comerciais de crisântemo. Neotropical Entomology, v. 31, n. 02, p. 211-216, 2002. também verificaram efeito de diferentes genótipos de crisântemo sobre a sobrevivência de A. gossypii. Entretanto, Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004. não registraram diferenças significativas para a sobrevivência dos instares e na fase ninfal de A. gossypii criados em diferentes genótipos de algodoeiro, constatando-se valores entre 93,3 e 100%. As discrepâncias dos resultados obtidos, possivelmente, se devem aos aspectos morfológicos, químicos e àqueles relacionados à adaptabilidade do inseto fitófago aos diferentes genótipos da planta hospedeira.

Com relação à fase adulta, maior período pré-reprodutivo foi verificado nos materiais Mineiro, Cameroon de Piracicaba, Pioneiro, Guaçu IZ2, Elefante da Colômbia, Sem Pêlo e Roxo de Botucatu, com durações médias entre 1,3 e 1,6 dias (Tabela 3).

Tabela 3
Duração média (em dias) (±EP), dos períodos pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo, longevidade e produção diária e total de ninfas de Sipha flava, alimentado em diferentes genótipos de capim elefante, Pennisetum purpureum. UR de 70%±10 ºC, 25 ºC e fotofase de 12 horas, Embrapa

Os pulgões criados nos genótipos Cameroon de Piracicaba e Guaçu IZ2 apresentaram período reprodutivo significativamente maior quando comparados aos demais materiais, com 15,3 e 18,6 dias, respectivamente, ressaltando-se que estes materiais estão entre aqueles que apresentaram maior fecundidade, com uma produção de 2,5 e 2,8 ninfas/fêmea/dia, respectivamente. Fonseca (2002)FONSECA, A. R. Efeitos de genótipos resistentes de sorgo e Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Crysopidae) sobre Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856) (Hemiptera: Aphididae). 2002. 142f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais. e Razmjou et al. (2006)RAZMJOU, J. et al. Demographic parameters of cotton aphid, Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae) on five cotton cultivars. Insect Science, v. 13, n. 03, p. 205-210, 2006., também verificaram efeito dos genótipos das plantas hospedeiras sobre a duração do período reprodutivo de R. maidis e A. gpssypii, respectivamente. Da mesma forma, Hesler (2005)HESLER, L.S. Resistance to Rhopalosiphum padi (Homoptera: Aphididae) in three triticale accessions. Journal of Economic Entomology, v. 98, n. 02, p. 603-610, 2005. também verificou variações significativas no período reprodutivo de Rhopalosiphum padi (Linnaeus) mantidos em diferentes genótipos de trigo e, Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004. verificaram o efeito de genótipos de algodão para este mesmo parâmetro biológico de A. gossypii.

Em relação à produção total de ninfas por S. flava, observou-se que o número de ninfas/fêmea foi maior quando os afídeos se alimentaram do genótipo Guaçu IZ2, seguido do genótipo Cameroon de Piracicaba, com 50,0 e 36,7 ninfas/fêmea (Tabela 3); denotando assim, serem estes genótipos adequados para que o inseto praga tenha seu potencial biótico aumentado no menor período de tempo. Webster (1990)WEBSTER, J. A. Yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae): Detection and mechanisms of resistance among Ethiopian sorghum lines. Journal of Economic Entomology, v. 83, p. 1053-1057, 1990. também verificou que diferentes genótipos de sorgo promoveram taxas reprodutivas variadas em S. flava, com uma variação de 19,0 a 62,3 ninfas/fêmea. Concordando com estas observações, Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004. e Hesler (2005)HESLER, L.S. Resistance to Rhopalosiphum padi (Homoptera: Aphididae) in three triticale accessions. Journal of Economic Entomology, v. 98, n. 02, p. 603-610, 2005. também verificaram para A. gossypii e R. padi , respectivamente, variações no número de descendentes em função do genótipo sobre o qual foram criados. No entanto, Razmjou et al. (2006)RAZMJOU, J. et al. Demographic parameters of cotton aphid, Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae) on five cotton cultivars. Insect Science, v. 13, n. 03, p. 205-210, 2006. não verificaram o efeito dos genótipos de algodoeiro sobre a produção total de ninfas de A. gossypii.

Considerando-se o período pós-reprodutivo, este foi mais prolongado para os pulgões alimentados dos genótipos Cameroon de Piracicaba, Guaçu IZ2 e Mott, com 2,8; 3,3 e 2,3, dias, respectivamente (Tabela 3). No entanto, Fonseca (2002)FONSECA, A. R. Efeitos de genótipos resistentes de sorgo e Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Crysopidae) sobre Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856) (Hemiptera: Aphididae). 2002. 142f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais. não registrou interferência dos genótipos de plantas de sorgo sobre este parâmetro reprodutivo de R. maidis, relatando que um período pós-reprodutivo mais curto, permite ao inseto permanecer menos tempo sugando a planta e, conseqüentemente, acarretando menor dano.

Constatou-se que a longevidade de S. flava foi maior nos materiais Cameroon de Piracicaba e Guaçu IZ2, com 17,5 e 21,3 dias de vida, respectivamente (Tabela 3). De maneira semelhante, Pessoa et al. (2004)PESSOA, L. G. A. et al. Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004. registraram influência do genótipo de algodoeiro na duração ciclo biológico de A. gossypii. Por outro lado, Razmjou et al. (2006)RAZMJOU, J. et al. Demographic parameters of cotton aphid, Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae) on five cotton cultivars. Insect Science, v. 13, n. 03, p. 205-210, 2006. estudando o desenvolvimento desse afídeo em diferentes genótipos desta mesma planta hospedeira, não verificaram diferenças significativas no período de vida de adultos.

De forma semelhante aos resultados obtidos no presente estudo, os quais evidenciaram a influência de diferentes genótipos de capim-elefante nos parâmetros biológicos de S. flava, outros estudos também mostraram uma estreita relação entre genótipos de plantas hospedeiras e as respostas biológicas de afídeos. Razmojou et al. (2006)RAZMJOU, J. et al. Demographic parameters of cotton aphid, Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae) on five cotton cultivars. Insect Science, v. 13, n. 03, p. 205-210, 2006. destacam que a qualidade e a quantidade de nutrientes dos quais o inseto se alimenta reflete principalmente na sua sobrevivência e reprodução, o que está diretamente relacionado à planta hospedeira. Possivelmente, os efeitos negativos registrados nos parâmetros biológicos analisados durante o desenvolvimento de S. flava, como redução da fecundidade e alteração do período reprodutivo, verificados quando os afídeos foram mantidos em determinados genótipos, estão relacionados com o mecanismo de resistência por antibiose, ou seja, defesa da planta mediante o ataque por essa espécie de afídeo.

Verificou-se que os genótipos Sem Pêlo, Kizozi, P24 Piracicaba, Merckeer 23A e Porto Rico apresentaram os menores valores para a maioria, ou a totalidades dos parâmetros biológicos estudados; sendo estes considerados promissores para a utilização na dieta animal.

Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que os genótipos Cameron de Piracicaba e Guaçu IZ2 foram mais suscetíveis ao desenvolvimento do afídeo; ao passo que o genótipo Sem Pêlo foi mais resistente, sendo, dessa forma o mais indicado para a dieta animal.

Conclusões

  1. Os diferentes genótipos de capim-elefante exerceram influência nos parâmetros biológicos de S. flava.

  2. Os genótipos Cameron de Piracicaba e Guaçu IZ2 mostraram-se mais adequados ao desenvolvimento do afídeo por permitirem maior produção de ninfas/fêmea, por estarem incluídos nos materiais com maior produção diária de ninfas/fêmea, por permitir maior período reprodutivo e maior longevidade do adulto.

  3. O genótipo Sem Pêlo foi aquele que proporcionou maiores efeitos negativos nos parâmetros biológicos de S. flava.

  • 1
    Parte da tese de doutorado da primeira autora

Agradecimentos

Os autores expressam seus agradecimentos a FAPEMIG, CNPq e EMBRAPA/CNPGL.

Referências

  • AUAD, A. M. et al Seleção de genótipos de capim-elefante quanto à cigarrinha-das-pastagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 08, p. 1077-1081, 2007.
  • BETHKE, J.A., REDAK, R.A.; SCHUCH, U.K. Melon aphid performance on chrysanthemum as mediated by cultivar, and differential levels of fertilization and irrigation. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 88, n. 01, p. 41-47, 1998.
  • BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids on the worlds crops: an identification and information guide 2. ed. New York: john Willey, 2000. 466p.
  • BREEN, J. P.; TEETES, G. L. Relationships of the yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae) density to sorghum damage. Journal of Economic Entomology, v. 79, n. 04, p. 1106-1110, 1986.
  • DALL'AGNOL, M.; SCHEFFER-BASSO.; NASCIMENTO, J. A. L. Produção de forragem de capim-elefante sob clima frio. Curva de Crescimento e Valor Nutritivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 05, p. 1110-1117, 2004.
  • DIXON, A.F.G. Parthenogenetic reproduction and the rate of increase in aphids. In: MINKS, A.K.; HARREWINJN, P. World crop pests - aphids: their biology, natural enemies and control. v.2A, Amsterdam: Elsevier, 1987, cap. 4, p. 269-285.
  • FONSECA, A. R. Efeitos de genótipos resistentes de sorgo e Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Crysopidae) sobre Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856) (Hemiptera: Aphididae). 2002. 142f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais.
  • HESLER, L.S. Resistance to Rhopalosiphum padi (Homoptera: Aphididae) in three triticale accessions. Journal of Economic Entomology, v. 98, n. 02, p. 603-610, 2005.
  • KLINDER, S. D.; R. L. DALRYMPLE. Relative susceptibility of cereals and pasture grasses to the yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae). Journal of Agricultural and Urban Entomology, v. 16, n. 02, p. 113-122, 1999.
  • KOKOUREK, F. et al Effect of temperature on development rate and intrinsic rate of increase of Aphis gossypii reared on greenhouse cucumbers. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 71, n. 01, p. 59-64, 1994.
  • LARA, M. F. Princípios de resistência de plantas a insetos São Paulo: Ícone, 336p, 1991.
  • MEDINA-GAUD, S., MARTORELL, L. F.; BONILLA, R. R. Notes on the biology and control of the yellow sugarcane aphid of sugarcane, Sipha flava (Forbes) in Puerto Rico. In: PROCEEDINGS CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY SUGAR-CANE TECHNOLOGISTS, 12., San Juan, Puerto Rico. 1965. p. 1307-1320.
  • NUESSLY, G. S. Yellow sugarcane aphid, sipha flava (Forbes) (Insecta: Heteroptera: Aphididae. Gainesvuille: Institute of Food and Agricultural Sciences, 2005.
  • PEREIRA, A. V. et al Variação da qualidade do capim-elefante (Pennissetum purpureum Schum) e híbridos de capim-elefante x milheto (P. purpureum x P. glaucum), em função da idade da planta. Ciência Agrotecnologia, v. 24, n. 02, p. 490-499, 2000.
  • PESSOA, L. G. A. et al Aspectos da biologia de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em quatro cultivares de algodoeiro, em laboratório. Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 06, p. 1235-1239, 2004.
  • RAZMJOU, J. et al Demographic parameters of cotton aphid, Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae) on five cotton cultivars. Insect Science, v. 13, n. 03, p. 205-210, 2006.
  • SANTOS, E. A.; SILVA, D. S.; FILHO, J. L. Q. Aspectos Produtivos do Capim-Elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) cv. Roxo no Brejo Paraibano. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 01, p. 31-36, 2001.
  • SOUZA SOBRINHO, F. Melhoramento de forrageiras no Brasil. In: SIMPOSIO DE FORRAGICULTURA E PASTAGENS, 5., 2005, Lavras. Anais... Lavras: UFLA/FAEPE, 2005. 1 CD.
  • SOGLIA, M. C. M.; BUENO, V. H. P.; SAMPAIO, M. V. Desenvolvimento e sobrevivência de Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em diferentes temperaturas e genótipos comerciais de crisântemo. Neotropical Entomology, v. 31, n. 02, p. 211-216, 2002.
  • VENDRAMIM, J. D.; NAKANO, O. Aspectos biológicos de Aphis gossypii Glover, 1877 (Homoptera: Aphididae) em algodoeiro. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 10, n. 02, p. 163-173, 1981.
  • WEBSTER, J. A. Yellow sugarcane aphid (Homoptera: Aphididae): Detection and mechanisms of resistance among Ethiopian sorghum lines. Journal of Economic Entomology, v. 83, p. 1053-1057, 1990.
  • XAVIER, D. F. et al. Efeito do manejo pós-plantio no estabelecimento de pastagem de Capim-elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 04, p. 1200-1203, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2010

Histórico

  • Recebido
    20 Mar 2009
  • Aceito
    09 Fev 2010
Universidade Federal do Ceará Av. Mister Hull, 2977 - Bloco 487, Campus do Pici, 60356-000 - Fortaleza - CE - Brasil, Tel.: (55 85) 3366-9702 / 3366-9732, Fax: (55 85) 3366-9417 - Fortaleza - CE - Brazil
E-mail: ccarev@ufc.br