Acessibilidade / Reportar erro

Correlação entre a capacidade vital lenta e o tempo máximo de fonação em adultos saudáveis

Resumos

Objetivo

analisar o papel do tempo máximo de fonação (TMF) como método de avaliação da capacidade vital lenta (CVL) e a possível correlação entre essas variáveis.

Métodos

trata-se de um estudo do tipo transversal, crossover e a escolha entre as técnicas foram realizadas de forma randomizada. Foram avaliados 101 indivíduos adultos saudáveis de ambos os sexos sendo 71 mulheres. A CVL foi mensurada por meio do ventilômetro, enquanto o TMF foi avaliado por meio da verbalização da vogal /a/, dos fonemas /s/ e /z/ e da contagem numérica.

Resultados

ao analisar a população total, observou-se uma significante correlação positiva entre a CVL e o TMF (/a/, /s/, /z/ e contagem numérica; R = 0,420, 0,442, 0,399 e 0,279, respectivamente com p < 0,05). Quando subdividida a amostra por sexo, apenas no sexo feminino foi verificada a existência de correlação entre essas variáveis (R = 0,296, 0,334, 0,326 e 0,320 respectivamente com p < 0,05).

Conclusão

nesse estudo foi observada uma correlação positiva entre os valores de CVL e TMF para a população total e do sexo feminino, não se verificando essa associação entre os indivíduos do sexo masculino.

Testes de Função Respiratória; Capacidade Vital; Fonação


Purpose

to correlate the value of slow vital capacity (SVC) with the maximum phonation time (TMF) in order to estimate the vital capacity.

Methods

the study is a cross-sectional crossover and participated in this research one hundred one (101) healthy subjects 71 women and 30 men. The slow vital capacity (SVC) was measured using a spirometer and TMF was evaluated by vowel “a”;, the phoneme “s”; and “z”; and the manner of counting numbers.

Results

there was significant correlation between the SVC (ml) and TMF (a, s, z) and technique of counting with r * respectively (0.420, 0.442, 0.399, 0.279) with a p-value <0.05 in total population. There was a positive correlation between the slow vital capacity and the variables /a /, /s /, /z / and technique of counting for females, according to values of r * (0.296, 0.334, 0.326, 0.320) respectively and p-value < 0.05 .

Conclusion

in this study was possible to observe a positive correlation between the SVC and TMF in total population and females, this correlation was not observed among males.

Respiratory Function Tests; Vital Capacity; Phonation


INTRODUÇÃO

A mensuração dos volumes pulmonares é comumente utilizada na prática clínica para o diagnóstico funcional de diversas patologias que deterioram a função pulmonar. Nesse contexto, a redução da capacidade vital lenta (CVL) associa-se aos distúrbios ventilatórios restritivos, estando abaixo do seu valor normal no pós – operatório de cirurgias torácicas, distúrbios neuromusculares e na fibrose pulmonar 1. Crapo RO. Current concepts: Pulmonary-function testing. Journal Medicine. 1994; 331(1): 25-30.,2. Pereira CA. I Consenso Brasileiro sobre espirometria. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 1996;22(3):105-64..

A quantificação da CVL necessita do emprego de equipamentos específicos, tais como o espirômetro e/ou ventilômetro, os quais nem sempre estão disponíveis em todas as esferas da prática clínica. Esse fato justifica a necessidade da obtenção de métodos simples e acurados que possam mensurar a CVL 3. American Thoracic Society. Interpretative strategies for lung function tests. Eur Respir J. 2005;26:948-68.,4. Lúcia BW, Dias AS. Avaliação funcional em crianças e adolescentes asmáticos: Comparação entre a micro espirometria e a espirometria convencional. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2005;31(2):97-102..

A voz é um produto de interação dinâmica complexa e não pode ser tratada em seguimentos isolados de fonação, respiração e articulação. O funcionamento fisiológico da laringe humana exerce um papel ativo ao compartilhar uma aérea comum entre o sistema digestório e o das vias aéreas. A produção de uma vogal depende do equilíbrio entre as forças aerodinâmicas pulmonares e das forças mioelásticas da laringe, portanto qualquer comprometimento desta função exerce um efeito direto sobre a fala e a voz, que podem ser detectadas por meio de medidas pneumofônicas 5. Steffen LM, Moschetti MB, Steffen N, Hanayama EM. Paralisia unilateral de prega vocal: associação e correlação entre tempos máximos de fonação, posição e ângulo de afastamento. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. 2004;70(4):450-5.

. Vieira VP, De Biase, N, Pontes, P. Análise acústica e perceptiva auditiva versus coaptação glótica em alteração estrutural Mínima. ACTA ORL. 2006;24(3):174-80.

. Rossi DC, Munhoz DF, Nogueira CR, Oliveira TCM, Britto ATBO. Relação do pico de fluxo expiratório com o tempo máximo de fonação em pacientes asmáticos. Rev. CEFAC. 2006;8(4):509-17.
-8. Valim MA, Santos RS, Filho EDM, Abdulmassih EMS, Serrato MRF. A relação do tempo máximo de fonação, Lcatives fundamental e a proteção das vias aéreas inferiores no paciente com disfagia neurogênica. Arq. Int. Otorrinolaringol. 2007; 11(3):260-6..

O tempo máximo de fonação (TMF) é a duração que uma pessoa mantém um som durante uma expiração, após uma inspiração máxima, por meio de vogal sustentada. Como a função pulmonar está diretamente relacionada com a produção da voz, indivíduos com doenças pulmonares podem ter o TMF alterado, como também redução na quantidade de ar disponível, prejudicando as forças aerodinâmicas necessárias para o processo da fonação 8. Valim MA, Santos RS, Filho EDM, Abdulmassih EMS, Serrato MRF. A relação do tempo máximo de fonação, Lcatives fundamental e a proteção das vias aéreas inferiores no paciente com disfagia neurogênica. Arq. Int. Otorrinolaringol. 2007; 11(3):260-6.

. Iwarsson J, Thomasson M, Sundberg J. Effects of lung volume on the glottal voice source. Journal of voice. 1998;12(4):424-33.

10 . Salomon NP, Garlitz SJ, Milbrath RT. Respiratory and laryngeal contributions to maximum phonation duration. Journal of voice. 2000;14(3):331-40.
-1111 . Capellari VM. Tempo máximo de fonação e características vocais acústicas de crianças pré-escolares. [dissertação]. Santa Maria(RS): Universidade Federal de Santa Maria; 2006..

A avaliação dos volumes e capacidades pulmonares se faz necessário para identificar pacientes que tenham algum grau de comprometimento da função pulmonar1212 . Gonçalves CT. Análise da capacidade vital lenta após manobra de inspiração fracionadas realizadas pelo nariz e boca em voluntários sadios. [dissertação]. São José dos Campos (SP): Universidade do Vale do Paraíba. Curso de Ciências Biológicas; 2003.. A possibilidade de empregar outras técnicas que não necessitem de equipamentos específicos é um desafio para os pesquisadores.

O objetivo desta pesquisa foi verificar a correlação entre a CVL e o TMF em adultos saudáveis.

MÉTODOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos do Hospital Agamenon Magalhães, Recife-PE em 17/12/2008. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa bem como de seus direitos como participantes e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Este estudo foi do tipo transversal, crossover, realizada no laboratório cardiopulmonar da clínica escola da Faculdade Maurício de Nassau, localizada na cidade do Recife-PE no período de janeiro a junho do ano de 2009.

Participaram do estudo 101 indivíduos saudáveis (71 mulheres e 30 homens com idade média de 23,21 ± 3,652 e 23,40 ± 3,158, respectivamente), selecionados da própria instituição. Foram excluídos da pesquisa indivíduos asmáticos em crise, grávidas, obesos segundo a World Health Organization1313 . WHO – World Health Organization. Obesity-prevention and managing the global epidemic. Geneva: Report of a WHO consultation on obesity, 1998., que já tivessem assistido alguma aula do ciclo profissionalizante de qualquer área da saúde e que apresentaram quadro de gripe ou resfriado na semana da coleta. Foram excluídos ainda, atletas profissionais, e pessoas que participavam de aulas de canto e/ou tocavam aparelhos de sopros.

Foram coletados dados referentes à massa corporal total, estatura, índice de massa corporal (IMC), idade, sexo e estado de saúde1414 . Barreto SSM. Volumes Pulmonares. Jornal Pneumologia. 2002;28(3):83-94.

15 . Fernandes CR, Neto PPR. O Sistema Respiratório e o Idoso: Implicações anestésicas. Rev. Bras. Anestesiologia. 2002;52(4):461-70.

16 . Pereira CAC . Espirometria. Jornal de Pneumologia . 2002;28(3):1-82.

17 . Dornelles S, Jotz GP, Guilherme A. Correlation between perceptual analysis and nasofibroscopy in children without vocal complaint. Rev. AMRIGS. 2007;51(2):121-7.

18 . Marfell-Jones M, Olds T, Stewart A, Carter L. International standards for anthropometric assessment ISAK: Potchefstroom, South Africa, 2006.
-1919 . World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Technical report series. Geneva. 1995; 854., além de valores referentes à capacidade vital lenta, tempo máximo de fonação e técnica de contagem numérica.

A mensuração da massa corporal total (MCT) e da estatura foi conduzida por único avaliador seguindo a padronização da International Society for the Advancement of Kinanthropometry (ISAK)1818 . Marfell-Jones M, Olds T, Stewart A, Carter L. International standards for anthropometric assessment ISAK: Potchefstroom, South Africa, 2006.. Para ambas as mensurações utilizou-se balança com precisão de 50g e estadiômetro com precisão de 0,5 cm (W-200 – WELMY, São Paulo, Brasil). O IMC foi calculado utilizando as medidas antropométricas obtidas de acordo com a fórmula padrão 1919 . World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Technical report series. Geneva. 1995; 854..

A capacidade vital lenta foi mensurada através de um ventilômetro analógico da marca Ferraris Mark Wright Respirometer – USA. Todos participantes foram orientados a respirar através de um bocal no aparelho e todos fizeram uso de um clip nasal durante a manobra2020 . Fiore Junior JF, Paisani DM, Franceschini J, Chiavegato LD, Faresin SM. Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre avaliação através de bocal e de máscara facial. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2004;30(6):515-20.. Durante os testes, foram orientados a sentar com postura adequada e fazer uma inspiração profunda máxima até atingir a capacidade inspiratória máxima. Após a inspiração foi orientado que o participante soprasse todo o ar de forma lenta até atingir o volume de reserva expiratório, em seguida foram anotados os valores correspondentes e foi escolhida a melhor mensuração de três tentativas obedecendo a um tempo de repouso de dois minutos entre cada uma delas 2. Pereira CA. I Consenso Brasileiro sobre espirometria. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 1996;22(3):105-64.,1616 . Pereira CAC . Espirometria. Jornal de Pneumologia . 2002;28(3):1-82.,2020 . Fiore Junior JF, Paisani DM, Franceschini J, Chiavegato LD, Faresin SM. Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre avaliação através de bocal e de máscara facial. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2004;30(6):515-20..

Para avaliar o adequado volume de ar através da emissão de um som ou fala encadeada em uma só expiração foram escolhidos a vogal /a/ sendo a mesma, central, aberta, portanto a vogal de eleição para qualquer teste de voz, o fonema /s/, quando ele é emitido após uma inspiração profunda, avalia-se o suporte aéreo pulmonar, principalmente quanto à habilidade de controlá-lo, já que não há vibração de pregas vocais nesse som e o fonema /z/ por exigir atividade da fonte glótica, permite verificar as alterações estruturais mínimas da cobertura da prega vocal, estando associada ao tipo de fechamento glótico insuficiente permitindo a avaliação do comportamento vocal 6. Vieira VP, De Biase, N, Pontes, P. Análise acústica e perceptiva auditiva versus coaptação glótica em alteração estrutural Mínima. ACTA ORL. 2006;24(3):174-80.,7. Rossi DC, Munhoz DF, Nogueira CR, Oliveira TCM, Britto ATBO. Relação do pico de fluxo expiratório com o tempo máximo de fonação em pacientes asmáticos. Rev. CEFAC. 2006;8(4):509-17..

Foi orientado ao participante que sentasse de forma adequada, fizesse uma inspiração máxima, atingindo a capacidade inspiratória máxima, e durante a expiração o mesmo soltasse um som contínuo até atingir o volume de reserva expiratório (expiração máxima), separados em etapas para cada letra, os valores do TMF foram anotados utilizando-se um cronômetro da marca KENKO®, modelo KK-2808, onde o valor optado para análise foi a melhor de três tentativas, obedecendo a um tempo de repouso de dois minutos entre as mensurações5. Steffen LM, Moschetti MB, Steffen N, Hanayama EM. Paralisia unilateral de prega vocal: associação e correlação entre tempos máximos de fonação, posição e ângulo de afastamento. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. 2004;70(4):450-5.,2121 . Costa JO, Gama ACC, Oliveira JB, Neto ALR. Avaliação acústica e percepto-auditiva da voz nos momentos pré e pós operatório da cirurgia de implante de pré- fáscia do músculo temporal. Rev. CEFAC. 2008;10(1):76-83.,2222 . Cielo CA, Casarin MT. Sons fricativos surdos. Rev. CEFAC. 2008;10(3):352-8..

Outra forma de avaliar o TMF foi por meio da contagem numérica onde as mesmas orientações sobre a postura e explanação de como seria realizado o teste foram pedidos e foi orientado ao paciente que contasse os números em ordem crescente e de forma natural, começando do numeral um até o maior número que o mesmo alcançasse sem realizar nova inspiração, cumprindo um intervalo de quinze segundos entre as tentativas1111 . Capellari VM. Tempo máximo de fonação e características vocais acústicas de crianças pré-escolares. [dissertação]. Santa Maria(RS): Universidade Federal de Santa Maria; 2006..

A ordem da execução dos testes (capacidade vital lenta, fonemas /a/, /s/, /z/ e técnica de contagem) foi feita de forma aleatória (sorteio simples) em cada participante, todos os procedimentos foram realizados por um mesmo pesquisador e foi dado um descanso de dez minutos entre uma técnica e outra.

Análise estatística

Na análise estatística foram utilizados os Softwares SPSS 13.0 para Windows e o Excel 2003 e todos os testes foram aplicados com 95% de confiança.

Foi utilizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para variáveis quantitativas, o teste de média: Teste t Student (Distribuição Normal) e Mann-Whitney (Não Normal) e o coeficiente de correlação de Pearson (Distribuição Normal).

RESULTADOS

As variáveis peso, altura, índice de massa corpórea (IMC), capacidade vital lenta (CVL) e o tempo máximo de fonação (a, s, z e técnica de contagem) foram expressos em média e desvio padrão separados por sexo (Tabela 1). Houve diferença estatística entre o sexo masculino e feminino, para as variáveis peso, altura, IMC, capacidade vital lenta e TMF (/a/, /s/, /z/).

Tabela 1
Variáveis de idade, massa, estatura, IMC, CVL e TMF com suas médias e desvio padrão

Verificou-se uma correlação positiva com diferença estatística entre a capacidade vital lenta e as variáveis /a/, /s/, /z/ e técnica de contagem para o sexo feminino e em ambos os sexos (Tabela 2).

Tabela 2
Correlação entre CVL com as variáveis do TMF (A, S, Z e Tec. Contagem) para sexos masculinos e feminino e ambos os sexos

DISCUSSÃO

A avaliação da capacidade vital lenta é de extrema importância para avaliação funcional do pulmão, que permite diagnosticar, verificar eficácias terapêuticas e auxiliar na prevenção de patologias. A possibilidade de empregar outras técnicas que não necessitem de equipamentos específicos e que possam ter como meio de avaliação a voz para estimar a capacidade vital seria mais um recurso a auxiliar o profissional de saúde na avaliação clínica do paciente.

Um estudo realizado por Salomon et al.,1010 . Salomon NP, Garlitz SJ, Milbrath RT. Respiratory and laryngeal contributions to maximum phonation duration. Journal of voice. 2000;14(3):331-40. denota a relevância do tempo máximo de fonação (TMF) como meio de avaliação clínica tanto para o aparelho fonatório quanto para o respiratório. As contribuições da laringe e do sistema respiratório no TMF são questionadas em relação aos volumes e capacidades pulmonares por serem rotineiramente realizados para o diagnóstico de distúrbios da voz.

Neste trabalho a medição da capacidade vital lenta (CVL) foi realizada por um ventilômetro adaptando-se um bocal para garantir um menor escapamento de ar corroborando Junior Fiori et al.,2020 . Fiore Junior JF, Paisani DM, Franceschini J, Chiavegato LD, Faresin SM. Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre avaliação através de bocal e de máscara facial. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2004;30(6):515-20. que descreve que existem diferentes formas de mensuração da CVL onde suas formas metodológicas e o grau de cooperação do paciente podem interferir nas performances das manobras e consequentemente afetando as medidas avaliadas. Neste mesmo estudo, foram comparados resultados de pressões respiratórias e da capacidade vital (CV) avaliadas entre máscara facial e um bocal achatado adaptado ao ventilômetro e ao manovacuômetro. Foi verificado que a CV pode ser avaliada pelas duas formas tanto pelo bocal quando pela máscara facial, pois não houve evidências de escape aéreo, preferindo o mesmo ao avaliar pessoas saudáveis e cooperativas que realizaram avaliação da CV com um bocal, deixando a máscaras para os pacientes que não foram cooperativos ou que tivessem algum problema que interferisse no entendimento da técnica.

Segundo Pereira et al.,1616 . Pereira CAC . Espirometria. Jornal de Pneumologia . 2002;28(3):1-82. e Crapo 1. Crapo RO. Current concepts: Pulmonary-function testing. Journal Medicine. 1994; 331(1): 25-30. para uma população de uma mesma idade variando apenas o sexo, existe diferença estatística entre peso, altura, índice de massa corpórea (IMC) e capacidade vital lenta (CVL). Neste presente estudo houve diferença estatística entre a CVL para homens, 4905,33 ± 772,157 (média e desvio padrão), e para mulheres, 3315,63 ± 630,518 (média e desvio padrão). Além disso, para jovens de mesma altura verificou-se que o sexo masculino tem maiores valores da função pulmonar do que jovens do sexo feminino3. American Thoracic Society. Interpretative strategies for lung function tests. Eur Respir J. 2005;26:948-68..

O teste de vogais, fonemas sustentados e contagem numérica são medidas tradicionais para investigação da fonação, uma vez que indicam a habilidade do paciente em controlar as forças aerodinâmicas da corrente pulmonar e as forças mioelásticas da laringe. Neste trabalho, houve correlação positiva com a variável CVL e o TMF (/a/,/s/,/z/ e técnica de contagem) para a população total e no sexo feminino, não havendo essa mesma correlação no masculino. Rossi et al.,7. Rossi DC, Munhoz DF, Nogueira CR, Oliveira TCM, Britto ATBO. Relação do pico de fluxo expiratório com o tempo máximo de fonação em pacientes asmáticos. Rev. CEFAC. 2006;8(4):509-17. observaram que fatores que influenciavam na capacidade vital como peso, altura e sexo podem de maneira indireta interferir no TMF.

Os padrões normativos do TMF, descritos por Cielo et al.,2222 . Cielo CA, Casarin MT. Sons fricativos surdos. Rev. CEFAC. 2008;10(3):352-8. para homens foram de 20 segundos e para mulheres de 14 segundos, no entanto ao analisar estes em conjunto a média foi de 20 a 27 segundos. Nesta presente pesquisa foi encontrada uma média para o tempo máximo de fonação acima destes valores, para homens foi maior que 25 segundos e em mulheres acima de 20 segundos. Para população total o TMF corroborou os achados deste trabalho que apresentou valores acima de 22 segundos.

Não foram encontrados valores de padrões normativos para o tempo máximo de fonação na forma de contagem numérica. Neste estudo um valor contado de 51,85 ± 15,1 (média ± desvio padrão) foi achado para a população total e 55,07 ± 15,7 (média ± desvio padrão) no sexo masculino e 50,49 ± 14,729 (média ± desvio padrão) no sexo feminino.

Rossi et al.,7. Rossi DC, Munhoz DF, Nogueira CR, Oliveira TCM, Britto ATBO. Relação do pico de fluxo expiratório com o tempo máximo de fonação em pacientes asmáticos. Rev. CEFAC. 2006;8(4):509-17. estudando pacientes asmáticos relacionando o tempo máximo de fonação e pico de fluxo expiratório (PFE) para verificar o comprometimento broncopulmonar achou que houve proporcionalidade entre as medidas e que quanto maior a gravidade da doença menor o TMF e o PFE . Relatou ainda que o TMF e o PFE sofrem influências de diversos fatores, dessa forma o TMF não seria adequado para uma avaliação generalizada da população devendo ser considerado como um teste de acompanhamento individual.

Salomon et al.,1010 . Salomon NP, Garlitz SJ, Milbrath RT. Respiratory and laryngeal contributions to maximum phonation duration. Journal of voice. 2000;14(3):331-40. descreve que as pressões alveolares e a laringe são os principais fatores que regulam o TMF e que raramente este exame é realizado em clínicas. Descreveu ainda que o TMF foi utilizado como avaliação de apoio a pessoas com distúrbios vocais e outras doenças neuromusculares, além disso, o resultado foi inversamente proporcional a gravidade da doença, ou comprometimento respiratório.

Cabe ressaltar a importância de estudar uma nova técnica sem a necessidade de aparelhos específicos e que usem a voz como recurso, permitindo a realização da avaliação funcional do paciente em qualquer ambiente e com menor custo. Alguns estudos 2323 . Pinheiro AC, Novais MCM, Neto MG, Rodrigues MVH, Rodrigues ES, Aras R, et al. Estimation of lung vital capacity before and after coronary artery bypass grafting surgery: a comparison of incentive spirometer and ventilometry. Journal of Cardiothoracic Surgery. 2011; 6:70. tentaram avaliar e/ou correlacionar a CVL com outros aparelhos, no entanto não foi encontrado estudos que utilizem a voz como meio de estimar a CVL.

CONCLUSÃO

Neste estudo foi possível observar uma correlação positiva entre a Capacidade Vital Lenta e o Tempo Máximo de Fonação em indivíduos adultos saudáveis.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Crapo RO. Current concepts: Pulmonary-function testing. Journal Medicine. 1994; 331(1): 25-30.
  • 2
    Pereira CA. I Consenso Brasileiro sobre espirometria. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 1996;22(3):105-64.
  • 3
    American Thoracic Society. Interpretative strategies for lung function tests. Eur Respir J. 2005;26:948-68.
  • 4
    Lúcia BW, Dias AS. Avaliação funcional em crianças e adolescentes asmáticos: Comparação entre a micro espirometria e a espirometria convencional. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2005;31(2):97-102.
  • 5
    Steffen LM, Moschetti MB, Steffen N, Hanayama EM. Paralisia unilateral de prega vocal: associação e correlação entre tempos máximos de fonação, posição e ângulo de afastamento. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. 2004;70(4):450-5.
  • 6
    Vieira VP, De Biase, N, Pontes, P. Análise acústica e perceptiva auditiva versus coaptação glótica em alteração estrutural Mínima. ACTA ORL. 2006;24(3):174-80.
  • 7
    Rossi DC, Munhoz DF, Nogueira CR, Oliveira TCM, Britto ATBO. Relação do pico de fluxo expiratório com o tempo máximo de fonação em pacientes asmáticos. Rev. CEFAC. 2006;8(4):509-17.
  • 8
    Valim MA, Santos RS, Filho EDM, Abdulmassih EMS, Serrato MRF. A relação do tempo máximo de fonação, Lcatives fundamental e a proteção das vias aéreas inferiores no paciente com disfagia neurogênica. Arq. Int. Otorrinolaringol. 2007; 11(3):260-6.
  • 9
    Iwarsson J, Thomasson M, Sundberg J. Effects of lung volume on the glottal voice source. Journal of voice. 1998;12(4):424-33.
  • 10
    Salomon NP, Garlitz SJ, Milbrath RT. Respiratory and laryngeal contributions to maximum phonation duration. Journal of voice. 2000;14(3):331-40.
  • 11
    Capellari VM. Tempo máximo de fonação e características vocais acústicas de crianças pré-escolares. [dissertação]. Santa Maria(RS): Universidade Federal de Santa Maria; 2006.
  • 12
    Gonçalves CT. Análise da capacidade vital lenta após manobra de inspiração fracionadas realizadas pelo nariz e boca em voluntários sadios. [dissertação]. São José dos Campos (SP): Universidade do Vale do Paraíba. Curso de Ciências Biológicas; 2003.
  • 13
    WHO – World Health Organization. Obesity-prevention and managing the global epidemic. Geneva: Report of a WHO consultation on obesity, 1998.
  • 14
    Barreto SSM. Volumes Pulmonares. Jornal Pneumologia. 2002;28(3):83-94.
  • 15
    Fernandes CR, Neto PPR. O Sistema Respiratório e o Idoso: Implicações anestésicas. Rev. Bras. Anestesiologia. 2002;52(4):461-70.
  • 16
    Pereira CAC . Espirometria. Jornal de Pneumologia . 2002;28(3):1-82.
  • 17
    Dornelles S, Jotz GP, Guilherme A. Correlation between perceptual analysis and nasofibroscopy in children without vocal complaint. Rev. AMRIGS. 2007;51(2):121-7.
  • 18
    Marfell-Jones M, Olds T, Stewart A, Carter L. International standards for anthropometric assessment ISAK: Potchefstroom, South Africa, 2006.
  • 19
    World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Technical report series. Geneva. 1995; 854.
  • 20
    Fiore Junior JF, Paisani DM, Franceschini J, Chiavegato LD, Faresin SM. Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre avaliação através de bocal e de máscara facial. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2004;30(6):515-20.
  • 21
    Costa JO, Gama ACC, Oliveira JB, Neto ALR. Avaliação acústica e percepto-auditiva da voz nos momentos pré e pós operatório da cirurgia de implante de pré- fáscia do músculo temporal. Rev. CEFAC. 2008;10(1):76-83.
  • 22
    Cielo CA, Casarin MT. Sons fricativos surdos. Rev. CEFAC. 2008;10(3):352-8.
  • 23
    Pinheiro AC, Novais MCM, Neto MG, Rodrigues MVH, Rodrigues ES, Aras R, et al. Estimation of lung vital capacity before and after coronary artery bypass grafting surgery: a comparison of incentive spirometer and ventilometry. Journal of Cardiothoracic Surgery. 2011; 6:70.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2014

Histórico

  • Recebido
    30 Mar 2012
  • Aceito
    22 Fev 2013
ABRAMO Associação Brasileira de Motricidade Orofacial Rua Uruguaiana, 516, Cep 13026-001 Campinas SP Brasil, Tel.: +55 19 3254-0342 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistacefac@cefac.br