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Audição e funcionalidade: Análise do contexto de um serviço de reabilitação auditiva com base na Classificação Internacional de Funcionalidade

RESUMO

Objetivo:

verificar a associação do tipo e grau de perda auditiva com os fatores demográficos e as categorias da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde relativas a “Estruturas e Funções do Corpo” e “Atividades e Participação”.

Métodos:

trata-se de estudo observacional, analítico e transversal, com amostra não probabilística, desenvolvido com dados secundários, embasados na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, obtidos no prontuário de usuários submetidos à avaliação para reabilitação auditiva, em um Centro Especializado em Reabilitação. Foram realizadas análises descritiva e bivariada. Para as análises de associação, foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson com o nível de significância de 5%.

Resultados:

foram analisados 122 prontuários, que revelaram predominância de mulheres, perda auditiva do tipo neurossensorial de grau moderadamente severo e história progressiva. O tipo de perda auditiva apresentou associação com três categorias de Estruturas e Funções do corpo e três categorias de Atividades e Participação. Em relação ao grau da perda auditiva, dez categorias foram associadas com as Estruturas e Funções do corpo e seis categorias com as Atividades e Participação.

Conclusão:

o tipo e grau da perda auditiva associam-se com as Estruturas e Funções do corpo e com as Atividades e Participação, com maior prejuízo na comunicação.

Descritores:
Audição; Perda Auditiva; Saúde Pública; Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Correção de Deficiência Auditiva

ABSTRACT

Purpose:

to verify the association between types and degrees of hearing loss and demographic factors and categories of the International Classification of Functioning, Disability, and Health, related to “Body Structures and Functions” and “Activities and Participation.”

Methods:

a cross-sectional, analytical, observational study with a nonprobabilistic sample, developed with secondary data, according to the International Classification of Functioning, Disability, and Health, obtained from the medical records of patients assessed for hearing rehabilitation at a specialized rehabilitation center. Descriptive and bivariate analyses were performed. Association analyses used Pearson’s chi-square test, with the significance level set at 5%.

Results:

the study analyzed 122 medical records, which revealed a predominance of women, a sensorineural hearing loss of a moderately severe degree and progressive history. The type of hearing loss was associated with three categories of Body Structures and Functions and three categories of Activities and Participation. The degrees of hearing loss were associated with 10 categories of Body Structures and Functions and six categories of Activities and Participation.

Conclusion:

types and degrees of hearing loss are associated with Body Structures and Functions and Activities and Participation, further impairing communication.

Keywords:
Hearing Loss; Public Health; International Classification of Functioning, Disability and Health; Correction of Hearing Impairment

INTRODUÇÃO

A perda auditiva relacionada à idade, presbiacusia, atinge uma em cada três pessoas aos 65 anos, uma em cada duas aos 75 anos e até 81% em indivíduos com mais de 80 anos11. Goman AM, Lin FR. Prevalence of hearing loss by severity in the United States. Am J Public Health. 2016;106(10):1820-22. https://doi.org/10.2105/AJPH.2016.303299 PMID: 27552261.
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,22. Sharma RK, Lalvani AK, Golub JS. Prevalence and severity of hearing loss in the older old population. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2020;146(8):762-3. https://doi.org/10.1001/jamaoto.2020.0900 PMID: 32584401.
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. Possui característica de perda de células sensoriais na cóclea, comprometimento da estria vascular e degeneração dos neurônios auditivos33. Keithley EM. Pathology and mechanisms of cochlear aging. J Neurosci Res. 2020;98(9):1674-84. https://doi.org/10.1002/jnr.24439 PMID: 31066107.
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, o que pode comprometer a funcionalidade da audição.

As pessoas que apresentam queixa ou confirmação de perda auditiva unilateral ou bilateral, de qualquer tipo ou grau, podem ser atendidas no Sistema Único de Saúde em serviços de Reabilitação auditiva44. Brasil. Ministério da Saúde. Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS: Instrutivo de Reabilitação Auditiva, Física, Intelectual e Visual. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. Available at: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/August/10/Instrutivo-de-Reabilitacao-Rede-PCD-10-08-2020.pdf. Accessed 2023 jan 10.
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, que realizam avaliação e diagnóstico da perda auditiva, seleção, concessão e adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), cujo objetivo é garantir o melhor aproveitamento da audição residual da pessoa com deficiência auditiva, e a terapia fonoaudiológica para acompanhamento e manutenção do AASI. A reabilitação auditiva minimiza as barreiras e proporciona a participação do sujeito na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas44. Brasil. Ministério da Saúde. Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS: Instrutivo de Reabilitação Auditiva, Física, Intelectual e Visual. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. Available at: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/August/10/Instrutivo-de-Reabilitacao-Rede-PCD-10-08-2020.pdf. Accessed 2023 jan 10.
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.

A Classificação Internacional da Funcionalidade e Incapacidade (CIF) é uma classificação de saúde e de aspectos relacionados à mesma, com foco na descrição da funcionalidade do sujeito55. Organização Mundial da Saúde (OMS). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Edusp; 2020.. Apresenta uma linguagem unificada e padronizada, capaz de viabilizar a comparação de dados de descrição e estados pertencentes à saúde, entre países, serviços, setores, assim como o rastreamento da sua evolução no tempo55. Organização Mundial da Saúde (OMS). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Edusp; 2020.,66. Paiva SF de, Dória LE de S, Santos LC, Santos TA, Vieira GDSP. Uso da CIF na área de Audiologia: uma revisão integrativa. Revista CIF Brasil. 2021;13(1):58-68. https://doi.org/10.4322/CIFBRASIL.2021.008
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.

A CIF é dividida em duas partes: Funcionalidade e Incapacidade e Fatores Contextuais e Pessoais. A primeira parte abrange os domínios Funções e Estruturas do Corpo e as Atividades e Participação e a segunda parte é composta pelos domínios Fatores Contextuais e Pessoais. Cada componente é especificado por um código alfanumérico identificado como ‘b’ para Funções do Corpo; ‘s’ para Estruturas do Corpo; ‘d’ para Atividades e Participação e ‘e’ para Fatores Ambientais. Fatores pessoais não são classificados pela CIF55. Organização Mundial da Saúde (OMS). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Edusp; 2020.,66. Paiva SF de, Dória LE de S, Santos LC, Santos TA, Vieira GDSP. Uso da CIF na área de Audiologia: uma revisão integrativa. Revista CIF Brasil. 2021;13(1):58-68. https://doi.org/10.4322/CIFBRASIL.2021.008
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Os profissionais de saúde podem utilizar a CIF em sua prática profissional para classificar os efeitos de uma perda auditiva na vida de uma pessoa e os resultados do tratamento, assim como para ofertar um cuidado continuado por meio da análise das categorias relacionadas aos níveis de comprometimento de funções e estruturas do corpo, atividade e participação. Vantagens estas que não são contempladas por meio da classificação do tipo e do grau da perda auditiva, visto que elas não informam sobre a individualidade biopsicossocial do sujeito77. Olusanya BO, Davis AC, Hoffman HJ. Hearing loss grades and the International classification of functioning, disability and health. Bull World Health Organ. 2019;97(10):725-8. https://doi.org/10.2471/BLT.19.230367 PMID: 31656340.
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,88. Meyer C, Grenness C, Scarinci N, Hickson L. What Is the International Classification of Functioning, Disability and Health and why is it relevant to audiology? Semin Hear. 2016;37(3):163-86. https://doi.org/10.1055/s-0036-1584412 PMID: 27489397.
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. Assim, o uso da CIF permite uma análise multidimensional da funcionalidade e incapacidade relacionada à comunicação humana. Além disso, a classificação pode auxiliar na organização e padronização das informações referentes ao perfil funcional e de qualidade de vida da pessoa com deficiência auditiva no serviço de saúde66. Paiva SF de, Dória LE de S, Santos LC, Santos TA, Vieira GDSP. Uso da CIF na área de Audiologia: uma revisão integrativa. Revista CIF Brasil. 2021;13(1):58-68. https://doi.org/10.4322/CIFBRASIL.2021.008
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,99. Morettin M, Bevilacqua M, Cardoso M. A aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) na audiologia. Distúrb. Comunic. 2008;20(3):395-402. https://doi.org/10.1055/s-0036-1584412
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O presente estudo apresenta como objetivo verificar a associação do tipo e grau de perda auditiva com os fatores demográficos e as categorias da Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade relativas a “Estruturas e Funções do Corpo” e “Atividades e Participação”, de usuários de um serviço de Reabilitação Auditiva em um Centro Especializado em Reabilitação.

MÉTODOS

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, sob o parecer 3.903.587, CAAE 26407919.5.0000.5149. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi dispensado, pois o estudo utilizou dados secundários. A pesquisa e a coleta de dados foram realizadas no período de abril de 2019 a dezembro de 2021.

Trata-se de estudo observacional, analítico e transversal, com amostra não probabilística, desenvolvido em um serviço de Reabilitação Auditiva, de um Centro Especializado em Reabilitação, responsável por garantir a avaliação, o diagnóstico e reabilitação de usuários com deficiência, no âmbito do Sistema Único de Saúde1010. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 793/GM, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília (DF), 2012..

Foram coletados, nos prontuários dos usuários indicados à protetização auditiva do serviço, o exame de Audiometria Clínica, os dados da Anamnese e do Protocolo de Avaliação dos candidatos ao uso de AASI, que foram desenvolvidos pelos profissionais do serviço e é estruturado nos componentes da CIF.

Foram incluídos na amostra os prontuários de usuários que apresentaram somente a perda de audição, sem outra deficiência associada, com exame de Audiometria concluído, idade acima de 18 anos e os protocolos de Anamnese e Avaliação de Usuários Candidatos ao uso de AASI preenchidos no momento da avaliação no serviço. Os critérios de exclusão foram prontuários de usuários que tinham a avaliação audiológica incompleta ou, ainda, que não apresentaram perda auditiva comprovada nos exames realizados e/ou protocolo de Anamnese e Avaliação de Usuários Candidatos ao uso de AASI não preenchido no momento da avaliação.

No exame de Audiometria foram observados os registros dos limiares tonais aéreos pesquisados nas frequências de 0,5, 1, 2, 3, 4, 6 e 8 KHz e ósseos em 0,5, 1, 2, 3, e 4 KHz. Para a classificação do tipo de perda auditiva, foram utilizados os critérios de Silman e Silverman1111. Silman S, Silverman CA. Basic audiologic testing. In: Silman S, Silverman CA, editors. Auditory diagnosis: principles and applications. San Diego: Singular Publishing Group; 1997. p. 44-52. e, para o grau de perda auditiva, a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS)1212. World report on hearing. Geneva: World Health Organization; 2021. Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevention of blindness and deafness; 2020..

O critério de classificação do grau de perda auditiva proposto pela OMS1212. World report on hearing. Geneva: World Health Organization; 2021. Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevention of blindness and deafness; 2020. toma por base a média dos limiares aéreos das frequências 0,5, 1, 2 e 4 KHz e considera-se perda auditiva a partir do liminar médio de 20 dB. Recomenda-se que a classificação seja avaliada juntamente com a CIF1212. World report on hearing. Geneva: World Health Organization; 2021. Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevention of blindness and deafness; 2020., com o objetivo de classificar individualmente se há prejuízo ou não na funcionalidade da audição do usuário avaliado.

Nos protocolos de Anamnese e de Avaliação de Usuários Candidatos ao uso de AASI, constam informações sobre dados demográficos (sexo, idade e escolaridade), clínicos (queixa e história da perda auditiva, idade de detecção da perda auditiva, presença de surdez na família e uso prévio de AASI) e a avaliação funcional com os componentes da CIF, onde foram coletados dados das Estruturas e Funções do Corpo e Atividades e Participação (Tabela 1).

Tabela 1
Categorias da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde relacionadas à audição

Foram consideradas como variáveis respostas o tipo e grau da perda auditiva e as variáveis explicativas foram os fatores demográficos e os componentes da CIF (Estruturas e funções do corpo, Atividades e participação).

Para atender ao objetivo do estudo, foi realizada a análise descritiva dos dados por meio da distribuição de frequência das variáveis categóricas e a análise das medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis contínuas. Para as análises de associação, foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson, sendo consideradas como associações estatisticamente significantes as que apresentaram valor de p≤0,05. Para entrada, processamento e análise dos dados foi utilizado o software SPSS, versão 25.0.

RESULTADOS

A amostra foi composta pela avaliação de 122 prontuários de indivíduos do serviço. A média de idade dos participantes foi de 65,17 anos e desvio padrão 14,90. A análise dos dados demográficos e clínicos revelou que a maioria era do gênero feminino (58,2%), era idosa (68,9%), apresentava perda auditiva do tipo neurossensorial (81,2% na orelha direita e 86,2% na orelha esquerda), de grau moderadamente severo (36,4% na orelha direita e 32,2% na orelha esquerda) e com histórico de perda auditiva progressiva (66,7%).

As análises, em ambas as orelhas, indicaram associação com significância estatística entre o tipo de perda auditiva e a idade - p<0,001 e p=0,001, respectivamente (Tabela 2).

Tabela 2
Análise da associação entre tipo e o grau da perda auditiva, por orelha, com os dados demográficos da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

A associação entre o tipo de perda auditiva e as Estruturas e Funções do corpo, na orelha direita, apresentou significância estatística entre o tipo de perda auditiva e Estruturas do ouvido médio - s250 (p=0,001), enquanto a orelha esquerda apresentou associação com significância estatística entre tipo de perda auditiva e sensação de dor - b280 (p=0,017). Ambas as orelhas apresentaram significância para tipo de perda auditiva e Funções mentais - b167 (p=0,001) (Tabela 3).

Tabela 3
Análise de associação entre o tipo de perda auditiva, por orelha, com a categoria de Estruturas e Funções do Corpo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

Foi possível observar, na orelha direita, associação com significância estatística entre o grau da perda auditiva e as seguintes categorias: Detecção dos sons - b230 (p=0,003), Localização da fonte sonora - b2302 (p=0,002); Lateralização do som - b2303 (p=0,001), Percepção auditiva - b150 (p=0,001); Recepção da Linguagem Oral - b16700 (p=0,018) e Expressão da linguagem oral - b16710 (p=0,006). Para a orelha esquerda, observou-se associação com significância estatística entre grau de perda auditiva e as categorias Funções mentais - b167 (p=0,002), Percepção auditiva - b150 (p=0,001) e Função vestibular - b235 (p=0,007). Para ambas as orelhas, houve associação com significância estatística entre o grau da perda auditiva e a categoria Discriminação da fala - b2304 (p=0,001) e Discriminação dos sons - b2301 (p=0,035) (Tabela 4).

Tabela 4
Análise de associação entre o grau de perda auditiva, por orelha, com a categoria de Estruturas e Funções do Corpo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

A associação entre o tipo de perda auditiva e as Atividades e Participação na orelha direita apresentou associação com significância estatística entre o tipo de perda auditiva e as categorias Conversar com muitas pessoas - d3504 (p=0,040) e Resolver problemas - d175 (p=0,002); enquanto que, na orelha esquerda, observou-se associação com significância estatística para a categoria Resolver problemas - d175 (p=0,001). Observou-se que a Relação familiar - d760 (p=0,001) foi associada ao tipo de perda auditiva para ambas as orelhas (Tabela 5).

Tabela 5
Análise de associação entre o tipo de perda auditiva, por orelha, com a categoria de Atividades e Participação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

O grau da perda auditiva e as Atividades e Participação da CIF apresentaram associação com significância estatística, em ambas as orelhas, para as categorias Conversar com uma pessoa - d3503 (p=0,001), Conversar com muitas pessoas - d3504 (p=0,025) e Comunicação-recepção de mensagens orais - d310 (p=0,003). Obteve-se, ainda, associação com significância estatística para a orelha esquerda para as categorias Dirigir - d475 (p=0,011) e Conseguir, manter e sair de um emprego - d845 (p=0,030). Não foram encontradas associação entre o grau de perda auditiva na orelha direita e as Atividades e Participação da CIF isoladamente (Tabela 6).

Tabela 6
Análise de associação entre o grau de perda auditiva, por orelha, com a categoria de Atividades e Participação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

DISCUSSÃO

Observou-se predominância, em ambas as orelhas, de perda auditiva do tipo neurossensorial e de indivíduos na terceira idade. Isso se dá, possivelmente, à perda auditiva associada ao envelhecimento - presbiacusia, e às dificuldades comunicativas que a acompanham, fazendo com que os idosos procurem mais o serviço de reabilitação auditiva1313. Calviti KC de FK, Pereira LD. Sensibilidade, especificidade e valores preditivos da queixa auditiva comparados com diferentes médias audiométricas. Braz J Otorhinolaryngol. 2009;75(6):794-800. https://doi.org/10.1590/S1808-86942009000600004
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. Ademais, estudos referem que idosos com perda auditiva não tratada apresentam pior qualidade de vida1414. Oliveira IFF de, Dias CAGDM, Fecury AA, Araújo MHM de, Oliveira E de, Dendasck CV et al. Sintomas associados a perda auditiva em idosos: uma revisão bibliográfica. Rev Cient Multidiscip Núcleo Conhec. 2019;10(05):52-64. https://doi.org/10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/perda-auditiva
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e maior risco para o desenvolvimento de demências1515. Livingston G, Huntley J, Sommerlad A, Ames D, Ballard C, Banerjee S et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission. Lancet. 2020;396(10248):413-46. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30367-6 PMID: 32738937.
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, fatores que podem influenciar na necessidade de encaminhamento para um serviço de reabilitação auditiva.

Na orelha direita houve associação entre perda auditiva e Estrutura do ouvido médio (s250) e os maiores valores foram atribuídos para “nenhuma deficiência”. Os achados do estudo são coerentes, uma vez que a maior parte da população atendida no serviço apresenta perda auditiva neurossensorial - acometimento da estrutura do ouvido interno. A mesma inferência pode ser realizada para a associação de Sensação de dor (b280) na orelha esquerda, com maiores valores atribuídos para “nenhuma deficiência”, dado que a dor é um sintoma mais comum em perdas auditivas condutivas e mistas. Em relação às Funções mentais da linguagem (b167), com associação em ambas as orelhas, percebe-se que, apesar de apresentarem a perda auditiva, os indivíduos possuem a função da linguagem preservada, o que é esperado dado que a presbiacusia é uma perda auditiva pós-lingual1616. Mondelli MFCG, Santos MDM dos, Feniman MR. Unilateral hearing loss: benefit of amplification in sound localization, temporal order in gander solution. CoDAS. 2020;32(1):e20180202. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20192018202 PMID: 31721925.
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.

Houve associação entre o grau de perda auditiva na orelha direita e dificuldade para Detecção dos sons (b230), para a Localização da fonte sonora e para a Lateralização do som (b2302 e b2303, respectivamente). Isso pode estar relacionado com a presença de perdas auditivas assimétricas na amostra, visto que nesses casos perde-se o processamento das diferenças temporais entre as orelhas1717. Garcia ACO, Oliveira AC, Rosa BC da S, Santos TM. The relationship of hearing loss with dizziness and tinnitus in the elderly population. Distúrb. Comunic. 2017;29(2):302. http://dx.doi.org/10.23925/2176-2724.2017v29i2p302-308
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. A associação verificada entre a orelha esquerda e a Função vestibular (b235) é unânime na literatura, uma vez que idosos podem apresentar mais queixas vestibulares devido à redução da funcionalidade do labirinto relacionada ao envelhecimento1616. Mondelli MFCG, Santos MDM dos, Feniman MR. Unilateral hearing loss: benefit of amplification in sound localization, temporal order in gander solution. CoDAS. 2020;32(1):e20180202. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20192018202 PMID: 31721925.
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,1818. Mueller M, Schuster E, Strobl R, Grill E. Identification of aspects of functioning, disability and health relevant to patients experiencing vertigo: a qualitative study using the International Classification of Functioning, Disability and Health. Health Qual Life Outcomes. 2012;10(1):75. https://doi.org/10.1186/1477-7525-10-75 PMID: 22738067.
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. As dificuldades de recepção e expressão da linguagem (d310) encontradas na amostra podem resultar da privação dos sons da fala, que ocorre mesmo em perdas auditivas de grau leve1515. Livingston G, Huntley J, Sommerlad A, Ames D, Ballard C, Banerjee S et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission. Lancet. 2020;396(10248):413-46. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30367-6 PMID: 32738937.
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,1919. Lessa AH, Costa MJ. The impact of speech rate on sentence recognition by elderly individuals. Braz J Otorhinolaryngol. 2013;79(6):745-52. https://doi.org/10.5935/1808-8694.20130136 PMID: 24474488.
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. A presença da perda auditiva, em qualquer grau, compromete tanto o feedback auditivo quanto a compreensão do discurso.

A significância estatística encontrada entre o tipo da perda auditiva na orelha direita e a categoria Conversar com muitas pessoas (d3504) é consonante com a literatura: a perda auditiva compromete o recebimento dos sinais de fala e a diferenciação dos mesmos com o ruído, impactando a compreensão da fala2020. Costa ALPA da, Zimmer MC. Performance of elderly individuals with presbycusis in tasks involving inhibitory control. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(2):151-5. https://doi.org/10.1590/S1516-80342012000200008
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. Obteve-se associação em ambas as orelhas para as categorias Resolver problemas (d175) e Relação familiar (d760), com maior proporção para “nenhuma deficiência”. A literatura relata que a perda auditiva pode interferir nas relações familiares2020. Costa ALPA da, Zimmer MC. Performance of elderly individuals with presbycusis in tasks involving inhibitory control. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2012;17(2):151-5. https://doi.org/10.1590/S1516-80342012000200008
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, diferentemente do resultado que foi encontrado neste estudo. É possível dizer que isso tenha ocorrido pela rede de apoio dos deficientes auditivos da amostra. Em relação à d175, percebe-se que apesar da deficiência os indivíduos são capazes de manter a sua autonomia.

O grau da perda auditiva foi associado, em ambas as orelhas, com Conversar com uma pessoa (d3503), Conversar com muitas pessoas (d3504) e Comunicação-recepção de mensagens orais (d310), o que já era esperado, uma vez que estudos apontam que o impacto na comunicação é maior quanto maior o grau da perda auditiva2121. Zaboni ZC, Iorio MCM. Reconhecimento de fala no nível de máximo conforto em pacientes adultos com perda auditiva neurossensorial. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(4):491-7. https://doi.org/10.1590/S1516-80342009000400011
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. Observou-se, ainda, que na orelha esquerda houve associação entre o grau da perda auditiva e a categoria Atividade de dirigir (d475), que pode ser explicado pelo posicionamento do motorista enquanto dirige - o ouvido esquerdo fica mais distante à fala do passageiro. Devido à dificuldade para ouvir e compreender o que foi falado, o motorista pode direcionar a atenção ao passageiro, aumentando o risco de acidentes. Além disso, 82,9% dos usuários da amostra têm perda auditiva incapacitante, ou seja, apresentam, na melhor orelha, limiar auditivo maior ou igual a 41 dB2222. Jardim DS, Maciel FJ, Piastrelli MT, Lemos SMA. Hearing Health Care: perception of the users of a public service. CoDAS. 2017;29(2):e20150259. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20172015259 PMID: 28380199.
https://doi.org/10.1590/2317-1782/201720...
. Essa situação culmina em restrição das atividades de vida diária, como dirigir, e afeta a autonomia e a independência do sujeito. Diante do exposto neste estudo, compreende-se a relevância de se ofertar Serviços de Reabilitação Auditiva para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos com perda auditiva.

O presente estudo apresenta avanços e limitações que merecem ser consideradas para melhor compreensão dos resultados. Como limitações é possível mencionar a utilização de dados secundários, o delineamento do estudo e a impossibilidade de generalização dos dados para outros serviços. Em relação à utilização de dados secundários, foram encontrados dados faltantes, preenchimentos inadequados ou com a falta de uniformização do registro de informações nos prontuários. O delineamento do estudo foi um ponto negativo, pois a coleta dos dados apenas no momento da avaliação impediu a compreensão da evolução dos aspectos de incapacidade e de funcionalidade dos participantes após a reabilitação com o AASI, já a impossibilidade de generalização dos dados ocorreu em função da especificidade do delineamento e do recrutamento da amostra.

Os principais avanços referem-se à transposição dos dados da prática clínica em informações científicas, que contribuem para a compreensão e melhoria do fluxo dos processos assistenciais. O estudo torna-se um avanço importante diante da possibilidade de discussão dos dados de funcionalidade e incapacidade de usuários com alterações auditivas, atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação, que adota a CIF como eixo norteador em todo o processo assistencial. Por meio da CIF, é possível fortalecer as práticas de políticas públicas relacionadas ao diagnóstico e à reabilitação auditiva. Deste modo, é possível construir evidências de implementação da CIF no contexto da saúde coletiva.

CONCLUSÃO

A associação das categorias da CIF com o tipo e grau de perda auditiva dos indivíduos que realizam a Reabilitação Auditiva em um Centro Especializado em Reabilitação revelou que o tipo de perda auditiva predominante é a neurossensorial e a maioria da amostra foi composta por idosos, contexto explicado pelo aumento da expectativa de vida.

Houve associação do tipo e o grau da perda auditiva, em qualquer orelha, com a recepção e a compreensão da mensagem ouvida, seja para conversar com uma ou mais de uma pessoa. Essa dificuldade pode gerar impactos comunicativos e cognitivos, que podem ser minimizados pelo uso das próteses auditivas. Desta forma, o presente estudo reforça a importância da reabilitação auditiva no âmbito do SUS para a promoção do bem estar individual e coletivo.

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  • Estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
  • Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Bolsa de Produtividade em Pesquisa - PQ: 307841/2022-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    10 Out 2023
  • Revisado
    16 Dez 2023
  • Aceito
    19 Jan 2024
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