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Competências socioemocionais de professores na educação técnica em enfermagem

RESUMO

Objetivos:

identificar as competências socioemocionais com professores que atuam num curso técnico em Enfermagem.

Método:

estudo qualitativo na modalidade da pesquisa-ação. Critérios de inclusão: ser professor de um curso técnico em Enfermagem. Coleta de dados: dezembro de 2018 a junho de 2019, com a realização de cinco encontros de grupo focal. Dados analisados utilizando-se a técnica de Análise de Conteúdo, segundo Bardin.

Resultados:

foram classificados em duas categorias: 1) Competências socioemocionais do professor em uma perspectiva conceitual e vivencial; 2) Competências socioemocionais do professor em uma perspectiva consciente das experiências vividas.

Considerações Finais:

foram elencadas cinco competências socioemocionais para a prática docente: autocontrole, criatividade, empatia, respeito e saber ouvir. Houve forte conscientização do professorado sobre a temática, com impacto na sua prática docente.

Descritores:
Educação em Enfermagem; Educação Baseada em Competências; Educação; Educação Técnica em Enfermagem; Habilidades Sociais

ABSTRACT

Objectives:

to identify the socio-emotional competencies in teachers who work in a Nursing technical course.

Method:

qualitative study in the action research modality. Inclusion criteria: being a teacher in a Nursing technical course. Data collection: December 2018 to June 2019, with the realization of five focus group meetings. Data analyzed using the Content Analysis technique, according to Bardin.

Results:

data classification into two categories: 1) Teacher socio-emotional competencies in a conceptual and experiential perspective; 2) Teacher socio-emotional competencies in a conscious perspective of lived experiences.

Final Considerations:

five socio-emotional competencies were listed for teaching practice: self-control, creativity, empathy, respect, and knowing how to listen. There was a strong awareness of the theme among teachers, impacting their teaching practice.

Descriptors:
Nursing Education; Competency-Based Education; Education; Technical Nursing Education; Social Skills

RESUMEN

Objetivos:

identificar las competencias socioemocionales con profesores que actúan en curso de Graduación en Auxiliar de Enfermería.

Método:

estudio cualitativo en la modalidad de la investigación-acción. Criterios de inclusión: ser profesor de un curso de Graduación en Auxiliar de Enfermería. Recolecta de datos: diciembre de 2018 a junio de 2019, con la realización de cinco encuentros de grupo focal. Datos analizados utilizándose la técnica de Análisis de Contenido, según Bardin.

Resultados:

fueron clasificados en dos categorías: 1) Competencias socioemocionales del profesor en una perspectiva conceptual y vivencial; 2) Competencias socioemocionales del profesor en una perspectiva consciente de las experiencias vividas.

Consideraciones Finales:

fueron enlistadas cinco competencias socioemocionales para la práctica docente: autocontrol, creatividad, empatía, respeto y saber escuchar. Hubo fuerte concientización del profesorado sobre la temática, con impacto en su práctica docente.

Descriptores:
Educación en Enfermería; Educación Basada en Competencias; Educación; Graduación en Auxiliar de Enfermería; Habilidades Sociales

INTRODUÇÃO

A enfermagem é uma das profissões que mais agrega serviços dentro do setor saúde, sendo composta por 80% de técnicos e auxiliares em enfermagem e 20% de enfermeiros(11 Machado MH, Aguiar WF, Lacerda WF, Oliveira E, Lemos W, Wermelinger M, et al. Características gerais da enfermagem: o perfil sociodemográfico. Enferm Foco 2016;6(1/4):11-17. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2016.v7.nESP.686
https://doi.org/10.21675/2357-707X.2016....
). Por isso, todas e quaisquer ações ou intervenções nessa área podem ser cruciais para estabelecer conexões realmente eficazes.

Nesse contexto, as competências socioemocionais são necessárias para o desenvolvimento do profissional da área de enfermagem e da própria profissão desde a formação, para que este possa influenciar positivamente os contextos macrossocial e microssocial. Assim, repensar a formação dos profissionais em enfermagem torna-se importante porque, de certa forma, qualquer ação ou intervenção deles causa um impacto neste emaranhado e complexo mundo da saúde(22 Kobayashi RM, Leite MMJ. Formação de competências administrativas do técnico de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(2):221-7. https://doi.org/10.1590/S0104-11692004000200011
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).

Nos planos de ensino da disciplina de Administração dos Serviços de Enfermagem, em cursos técnicos de Enfermagem no município de São Paulo, estado de São Paulo (SP), Brasil, por exemplo, somente 7% dessas competências estão voltadas ao saber-ser(22 Kobayashi RM, Leite MMJ. Formação de competências administrativas do técnico de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(2):221-7. https://doi.org/10.1590/S0104-11692004000200011
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), dentro das quais propriamente se encaixariam as competências socioemocionais.

Com frequência, a figura do professor de Enfermagem, sobretudo dos cursos técnicos, não aparece quando se trata dos resultados eficazes na entrega dos serviços em saúde para os indivíduos e população. Porém, esse educador enfermeiro, apesar de estar nos bastidores, muitas vezes é quem também faz brilhar o espetáculo(33 Marques AM, Tanaka LH, Foz AQB. Avaliação de programas de intervenção para a aprendizagem socioemocional do professor: uma revisão integrativa. RPE [Internet]. 2019 [cited 2021 Mar 05];32(1):35-51. Available from: https://revistas.rcaap.pt/rpe/article/view/15133 https://doi.org/10.21814/rpe.15133
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)!

Uma busca bibliográfica, realizada no Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (PubMed) e Education Resources Information Center, do Institute of Education Science (ERIC, Estados Unidos), com os descritores "Competências" e "Inteligência Emocional", evidenciou que professores com mais competências socioemocionais mostram-se mais eficientes no ensino; compreendem melhor as emoções de seus alunos e são mais capazes de dar suporte em momentos emocionalmente difíceis; lidam e manejam melhor o comportamento dos estudantes em sala de aula; e são mais capazes de desenvolver competências socioemocionais nos alunos. "Estes aspectos favorecem a criação de um clima saudável em sala de aula, que contribui para o sucesso acadêmico, o que pode aumentar a satisfação do professor com seu trabalho e diminuir o estresse, gerando um ciclo virtuoso(33 Marques AM, Tanaka LH, Foz AQB. Avaliação de programas de intervenção para a aprendizagem socioemocional do professor: uma revisão integrativa. RPE [Internet]. 2019 [cited 2021 Mar 05];32(1):35-51. Available from: https://revistas.rcaap.pt/rpe/article/view/15133 https://doi.org/10.21814/rpe.15133
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)".

Procurou-se voltar o olhar para o professor de Enfermagem de curso técnico em Enfermagem dada a escassez de literatura alusiva a tal temática com esses profissionais.

OBJETIVOS

Identificar as competências socioemocionais com professores que atuam num curso técnico em Enfermagem.

MÉTODO

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP-UNIFESP/EPM). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), segundo as recomendações do Comitê de Ética da UNIFESP e da Resolução 466/12, foi assinado pelos participantes antes da coleta de dados.

Tipo de estudo

Neste estudo, a participação do grupo se deu de forma cooperativa, uma vez que os sujeitos escolheram participar voluntariamente, cooperaram com o projeto e foram regularmente consultados, segundo Tripp(44 Tripp D. Action research: a methodological introduction. Educ Pesqui. 2005;31(3):443-66. https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300009
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).

Foi norteado pelo Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) e realizado por meio da pesquisa-ação - um método de pesquisa participativa no qual o pesquisador está diretamente envolvido com o problema de pesquisa(55 Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Ed Cortez;2011. 194p.). O objeto de investigação não são as pessoas, e sim as situações sociais e seus problemas; o objetivo da pesquisa-ação é resolver ou esclarecer os problemas da situação observada(44 Tripp D. Action research: a methodological introduction. Educ Pesqui. 2005;31(3):443-66. https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300009
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).

Portanto, a pesquisa não se limita à ação: pressupõe aumento do conhecimento e do nível de consciência das pessoas ligadas à situação, bem como ampliação do conhecimento do próprio pesquisador(66 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977. 141p).

Local de estudo

O estudo foi realizado com professores de uma escola técnica de enfermagem de um bairro da periferia de São Paulo, SP, Brasil, em uma zona de alta vulnerabilidade social. A escola se destaca por proporcionar uma formação integral aos seus alunos com alto impacto na melhoria do processo ensino-aprendizagem.

Critérios de seleção

Foram convidados a participar da pesquisa professores envolvidos diretamente com os alunos da referida instituição. Foram excluídos: professores de férias ou licenças no período de coleta de dados do grupo focal.

População

Participaram da pesquisa cinco profissionais, sendo três enfermeiros, um pedagogo e um psicólogo; todos, do sexo feminino, acima de 45 anos e com mais de cinco anos de experiência como docente.

Coleta de dados

A coleta foi realizada por meio de encontros de grupo focal por proporcionarem uma participação ativa dos participantes. As caracterizações das falas foram designadas pela inicial P seguida do numeral e da letra E, para informar o número do encontro de grupo focal. Os objetivos de cada encontro foram os seguintes:

  • 1º encontro - 19/12/2018. Apresentar os objetivos da pesquisa e oferecer material para estudo;

  • 2º encontro - 04/02/2019. Compreender o impacto das competências socioemocionais e verificar as competências desenvolvidas;

  • 3º encontro - 25/03/2019. Desenvolver o referencial de competências. Conceituar as cinco competências elencadas e traçar um plano de ação;

  • 4º encontro - 29/04/2019. Verificar a formação para alcançar as competências socioemocionais;

  • 5º encontro - 26/06/2019. Relatar as vivências práticas em relação às cinco competências elencadas.

Análise e tratamento dos dados

Para análise, foram seguidas as seguintes etapas: 1. Transcrição das gravações; 2. Submissão do texto à avaliação dos participantes, que puderam ler e complementar e/ou alterar trechos, caso julgassem necessário; 3. Conferência dos participantes; 4. Validação da transcrição por outros pesquisadores; 5. Codificação e indexação dos temas abordados para a criação de categorias (foram estabelecidas duas categorias e cinco subcategorias); 6. Validação das categorias por outros pesquisadores; 7. Interpretação e discussão das categorias temáticas com base na literatura científica encontrada sobre o tema.

A referência para a análise dos resultados foi Bardin(66 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977. 141p), que define a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, "indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens"(66 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;1977. 141p).

Quanto ao método da análise de conteúdo, a organização deu-se em três polos cronológicos, de acordo com o autor citado: 1) pré-análise; 2) exploração do material; 3) interpretação dos conteúdos.

Para este estudo, o referencial teórico sobre competências socioemocionais utilizado foi o do Instituto Ayrton Senna, que tem como embasamento em seus estudos grande parte da literatura científica internacional norte-americana(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
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).

Segundo o Instituto Ayrton Senna (IAS), que traz pesquisas multicêntricas em vários estados do país, em sua grande maioria com crianças e adolescentes, estudantes da rede pública municipal e estadual(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
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), a definição resumida das competências socioemocionais pode ser explicitada como "capacidades individuais, que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
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))".

Elas podem ser observadas em nosso padrão costumeiro de ação e reação diante de estímulos de ordem pessoal e social. Entre outros exemplos, estão a persistência, a assertividade, a empatia, a autoconfiança e a curiosidade para aprender(88 Pancorbo G, Laros JA. Validity evidence of the Social and Emotional Nationwide Assessment Inventory. Paidéia. 2017;27(68):339-47. https://doi.org/10.1590/1982-43272768201712
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). Exemplos de competências consideradas híbridas são a criatividade e o pensamento crítico, pois envolvem habilidades socioemocionais e cognitivas(99 Primi R. Mapping self-report questionnaires for socio-emotional characteristics: what do they measure? Estud Psicol. 2019;36:e180138. https://doi.org/10.1590/1982-0275201936e180138
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).

O Instituto considera que, para desenvolver esse conjunto de competências socioemocionais durante o processo de ensino e aprendizagem, faz-se necessário trabalhar ou influenciar ações tanto no âmbito de políticas públicas quanto nas práticas pedagógicas, envolvendo diversos atores do processo educacional(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
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).

RESULTADOS

Baseando-se na análise dos depoimentos dos participantes deste estudo, foram identificadas duas categorias temáticas e respectivas subcategorias, apresentadas no Quadro 1, a seguir:

Quadro 1
Resultados da análise dos discursos produzidos nos encontros de grupo focal

Categoria 1 - Competências socioemocionais do professor em uma perspectiva conceitual e vivencial

As participantes compartilharam a importância das competências socioemocionais e o seu significado nas vertentes conceituais e vivenciais em relação a si mesmas. Apontaram algumas competências mais importantes para o professor e elencaram cinco essenciais para o desenvolvimento no curso técnico em Enfermagem. As competências socioemocionais escolhidas foram definidas conceitualmente e aprofundadas sob seu aspecto vivencial com os estudantes. Essas competências foram: respeito, empatia, saber ouvir, criatividade e autocontrole.

A categoria 1 foi dividida em três subcategorias descritas abaixo.

Subcategorias:

1.a) Percepção e compreensão sobre as competências socioemocionais necessárias ao professor

As falas destacam definições conceituais de competências socioemocionais em que uma participante as trata de forma ampla, como o CHA (conhecimentos, habilidades e atitudes), até as reflexões sobre a relação delas com as virtudes. Ainda, consideram que essas competências necessitam ser reguladas pelo autoconhecimento e pela relação com o outro, apesar de ser algo difícil de ser desenvolvido. Uma participante destaca a necessidade do preparo para desenvolver essas competências durante a formação do enfermeiro, conforme as seguintes falas:

É a questão da postura [...] teu CHA: seus conhecimentos, suas habilidades e suas atitudes [...]. (P2E1)

O enfermeiro ainda sai da escola, da faculdade, achando que pode dar aula [...] e não é bem isso [...] porque tem toda questão pedagógica, psicológica que ele não tem na sua formação [...]então ele vai ter que desenvolver [...]. (P2E2)

As falas a seguir referem-se a algumas competências socioemocionais mostrando como a relação com os estudantes influencia e traduz a necessidade de o professor ter abertura para ouvir o aluno, relacionando essa competência com respeito, empatia e autocontrole, que requerem comprometimento enquanto professor:

Estar aberto ao outro para saber como transmiti-lo [...] e ter a paciência de esperar o tempo do outro. (P4E1)

Saber ouvir. Às vezes, o professor pensa que é o chefe da casa [...]. (P3E2)

Respeito, empatia [...] se colocar no lugar do outro com o olhar do outro [...] isso é mais difícil [...] saber ouvir, comprometimento, se eu não sou comprometida com essa causa, as coisas não saem [...]. (P2E2)

Os seguintes depoimentos destacam diversas competências necessárias ao professor do curso técnico em Enfermagem, como: respeito, empatia, saber ouvir, flexibilidade, amabilidade, cortesia, firmeza, paciência, persistência, organização, criatividade, compreensão, amor, humildade, comunicação, afetividade, comprometimento, responsabilidade, autoconhecimento, ética, autoestima, valorização, bom convívio, parceria e autocontrole.

Flexibilidade [...] essas meninas vêm de um mundo virtual [...] o que você demorou duas horas para preparar [...] elas demoram 2 minutos [...]. (P4E2)

Eu pensei que as competências são: paciência, persistência, organização, criatividade, empatia, compreensão, amor e depois mais que amor [...] humildade. (P4E1)

Com base na diversidade das competências, as participantes escolheram cinco competências para serem aprofundadas.

1.b) Definição e compreensão sobre as competências socioemocionais essenciais do professor, elencadas pelas participantes

As competências socioemocionais elencadas pelas participantes baseando-se nas discussões reflexivas com o grupo de professores foram: respeito, empatia, saber ouvir, criatividade e autocontrole.

A competência "respeito" mostra a necessidade de uma postura ética, coerente e honesta do modo de ser do professor e, ainda, de haver respeito ao modo de ser do estudante.

Respeito:

[...] tenho que respeitar a opinião alheia [...]. ((P3E4)

Aceitar as pessoas nas diferentes formas de ser, agir e pensar mesmo sendo muito contra daquilo que você pensa, mesmo sendo contra aquilo que eu acredito. (P3E3)

A competência de empatia não significa somente se colocar no lugar do outro, mas, sobretudo, olhar com o olhar do outro, se conectando com o estudante genuinamente, conforme demonstrado na definição a seguir.

Empatia:

Tem a questão da empatia; se colocar no lugar do outro, mas olhar com o olhar do outro. A gente sempre faz esse discurso [...] a Enfermagem precisa se colocar no lugar do outro para aquela pessoa [...] de que mundo que aquela pessoa vem e, muitas vezes, olhar a necessidade do indivíduo, conhecer a necessidade do outro [...] . (P2E1)

Saber ouvir foi uma das competências mais citadas desde o primeiro encontro do grupo focal. Não é apenas comunicar no sentido da escuta, mas se conectar com o sentimento do estudante.

Saber ouvir:

Precisa ter sensibilidade. Ter interesse pelo outro [...]. (P2E3)

Criatividade, uma das competências do professor para ensinar, não na vertente didáticopedagógica, mas de motivar o estudante a ser criativo tendo por alicerce a sua própria capacidade e a motivação do professor.

Criatividade:

O estímulo tem que ser constante [...] desenvolver outras possibilidades [...]. (P2E3)

Elaborar diferentes formas de fazer o outro entender [...] mas eu tenho que perceber qual é a sua capacidade de compreensão [...] exercício diário [...] se imaginar dentro de situações e pensar de que maneira eu saio disso [...]. (P3E3)

O autocontrole é a competência socioemocional bastante familiar para o professor com relação aos estudantes. O processo para desenvolver o autocontrole perpassa pelo autoconhecimento.

Autocontrole:

Ter sabedoria para aflorar novas formas de atingir o outro objetivamente dentro da sua capacidade de compreensão [...] às vezes eu não posso [...] de repente, eu explico "trocentas" vezes a mesma coisa para ele [...] e aí perco a paciência [...]. (P3E3)

1.c) Percepção da importância da relação professor e estudante para o desenvolvimento das competências socioemocionais

Os depoimentos abaixo mostram como os professores podem desenvolver as competências socioemocionais por meio da demanda vinda dos próprios estudantes em diferentes situações do processo de ensino e aprendizagem. Esses momentos envolvem recordar e refletir sobre as experiências vividas pelos professores do curso técnico em Enfermagem em questão e, sobretudo, mostrar empatia e respeito em compreender o estudante, colocando-se na situação e sentimento do outro em um processo de autoconhecimento.

Respeito:

Eu percebo mais isso em estágio quando você se senta do lado [...]. (P2E1)

Às vezes, a gente engessa muito o aluno [...] "Professora posso dar uma opinião?" "Não!" (P3E3)

Empatia:

Você precisa conhecer de onde veio o universo desse indivíduo até para saber como você fala [...] pode ser que você esteja falando para um grupo que não está entendendo você [...] então [...] qual é o contexto daquele grupo (P2E2)

Saber ouvir:

A partir da relação com o outro, dedicando tempo para ouvir, refletir e ajudar o outro a enxergar novas reflexões e ações. (P5E1)

Criatividade:

Se a gente quer atingir o indivíduo e que a matriz tenha esse propósito de formar alunos reflexivos [...] como vou ter isso se o professor ele não é reflexivo, [...] se ele, quando vai falar, vomita o conteúdo? (P2E2)

Autocontrole:

A emoção mais difícil de tolerar [...] acho que é desrespeitar [...] quando acontece algo assim [...] eu me controlo mas, eu tenho vontade de colocar a mão no pescoço [...]. (P5E4)

Categoria 2 - Competências socioemocionais do professor em uma perspectiva consciente das experiências vividas

Esta categoria possui duas subcategorias, sendo a 2.a, os resultados da prática vivencial entre os professores; e a 2.b, a aplicação vivencial do professor, o desenvolvimento da autopercepção das competências elencadas no coletivo dos professores do curso técnico em Enfermagem.

Subcategorias:

2.a) Desenvolvimento da percepção do outro e para o outro

No quarto encontro do grupo focal, uma psicóloga que já pertencia ao grupo de professoras participantes deste estudo realizou uma dinâmica em que cada professora ofereceu feedback a todas as outras, com o objetivo de se perceber na fala e na escuta, procurando integrar e relacionar com as competências elencadas: respeito, empatia, saber ouvir, criatividade e autocontrole.

Essa dinâmica fez aflorar as experiências de competências socioemocionais vivenciadas entre as professoras do curso técnico em Enfermagem, em que uma dizia para a outra a respeito da sua pessoa.

O seguinte depoimento mostra o cuidado de praticar uma fala amável, um pouco cerimoniosa para não ser ofensiva, contribuindo parcialmente para o desenvolvimento das suas próprias competências socioemocionais.

Este ano você está muito alegre, comunicativa, mudou seu semblante. (P3E4)

A fala a seguir mostra o melhor do feedback, contribuindo para o desenvolvimento das competências socioemocionais elencadas:

P3 é o primeiro ano que estamos mais próximas [...] você é uma profissional certeira [...] tem uma capacidade de síntese nas coisas [...] você é muito otimista [...] mas às vezes é tudo muito rápido e você não pensa [...] A B C [...] e tudo vem junto [...] A ao Z [...] o que sinto é que falta a pausa [...] você é superamável atenciosa, carinhosa [...]. (P2E4)

2.b) Autopercepção das competências socioemocionais

Durante três meses, os professores tiveram a oportunidade de experimentar as cinco competências elencadas por eles mesmos com os estudantes e se autoperceberam conscientemente.

As descrições das competências foram complementadas baseando-se na Categoria 1.

A fala da participante a seguir mostra o desenvolvimento de competências para o autoconhecimento e a relação com o autorrespeito em poder expressar os seus próprios sentimentos, no sentido de fazerem com que os estudantes tenham respeito.

Respeito:

Eu pensei respeito por si, e qual é a situação recente em que eu demonstrei respeito pelo outro? (P1E3)

Com relação à empatia, a prática vivencial com os estudantes mostrou a percepção do julgamento ou crítica que o professor pode fazer ao estudante sem compreender o que de fato está ocorrendo. Esse professor teve a oportunidade de se remeter a quando era estudante, e essa consciência possibilitou experimentar o processo da empatia.

Empatia:

Depois dessas discussões [...] eu vi que é importante você se colocar no lugar do outro [...] e agora, como eu sou muito prática, eu penso [...] como ele está vendo esse assunto [...] e deixar o aluno se desenvolver [...] é a melhor coisa [...] então, eu quando vejo que eu estou acelerada [...] eu puxo o freio de mão [...] Na questão da farmacologia, por exemplo, eu vi que o aluno não pega [...] então eu me coloquei no lugar do outro e caramba [...] será que ele não vê que um número vem atrás do outro [...] e pensei então: eu também já tive essa dificuldade [...] eu precisei de enxergar isso com os olhos do outro [...]. (P3E5)

As falas a seguir mostram o autoconhecimento desenvolvido pelas percepções de que, quando os professores falam demais, os estudantes deixam de falar. O propósito da consciência é treinar ouvir mais e falar menos. Uma participante provou que, assim, os estudantes prestam mais atenção nas aulas.

Saber ouvir:

Eu, como vocês viram [ouvir as pessoas] interrompi muito [...] sou ansiosa [...]. (P5E4)

Nessas últimas matérias, Micro/Imunologia, eu procurei que elas falassem mais [...] eu percebi que elas prestam mais atenção quando elas mesmas falam do que quando nós ficamos falando, falando [...]. (P4E5)

A participante a seguir percebeu que, quanto mais mudança na aula planejada, mais frustração e mau humor, entendendo que o antídoto do enrijecimento seria a flexibilidade, que tem como consequência a criatividade e disposição para inovar.

Criatividade:

[...] quando meus planos não dão certo [...] e me frustro, vem em forma de mau humor [...] por exemplo, em sala de aula, estava planejado tal coisa por fazer e aí tenho que mudar [...] parece que tudo bem mudar um plano, mas me aborrece [...] eu tenho dificuldade de esperar [...]. (P4E4)

Para os participantes, a competência do autocontrole está relacionada como a diminuição da ansiedade e a prática da paciência, tendo como consequência a obtenção de melhores estratégias para contribuir com o aprendizado das novas gerações.

Autocontrole:

[...] para mim, a questão que pega é essa do autocontrole [...] o autodomínio [...] e também o saber ouvir por conta dessa minha ansiedade [...] de fazer, fazer, fazer [...] então [...] eu procurei fazer assim: quando estava com as alunas [...] também uma professora me deu uma dica de uma mudança de estratégia [...] fazer que as alunas participassem mais [...] eu procurei instigar mais as alunas para que falassem e eu fiquei mais na parte de organizar as ideias e direcioná-las [...]. (P4E5)

Uma outra vertente da autopercepção sobre o desenvolvimento das competências socioemocionais sentidas pelas participantes foi o acolhimento à própria professora e a valorização de compartilhar entre e com as outras professoras, conforme a fala seguinte:

Essas questões que você trouxe [...] para mim foram um acolhimento [...] nós estamos sendo cuidadas [...] vamos que ter sempre um momento [...] P5 você podia fazer isso [...] trazer sempre essas questões para nós [...] o que eu preciso [...] o que posso desenvolver [...] como você está me enxergando [...] a gente não vai falar tudo que pensa, mas aprimorar, achar outros caminhos [...]. (P3E5)

As participantes falaram acerca da necessidade de continuidade das discussões sobre as competências socioemocionais, assim como de desenvolvimento dessas competências para amenizar o sofrimento do professor e dos estudantes, valorizando o trabalho realizado, conforme falas destacadas a seguir:

É importante ter esse tempo [...] é importante a gente sentar e fazer uma reflexão desse jeito [...] comentar com alguém pedindo isso [...] fazer um projeto pedindo isso [...]. (P4E5)

Houve uma proposta do próprio grupo das professoras do referido curso técnico em Enfermagem para dar continuidade de modo a aprofundar o conhecimento sobre as competências socioemocionais elencadas por elas.

DISCUSSÃO

A grande questão ao abordar o tema das competências socioemocionais com as professoras do curso técnico em Enfermagem foi como implementá-las na prática educacional. As professoras destacaram algumas facilidades e dificuldades em suas falas. Por exemplo, ao mencionarem que a escola em questão já tem essa preocupação com o processo ensino-aprendizagem desde sua origem, elas consideraram isso um fator facilitador para o desenvolvimento desse trabalho. Mencionaram também a dificuldade relacionada à falta de tempo para refletir sobre a temática e ao pouco conhecimento teórico sobre ela. Também pareceu difícil inserir esse módulo dentro da matriz curricular do curso, uma vez que a abordagem técnica ainda é muito priorizada.

Com relação à Categoria 1, as competências socioemocionais do professor em uma perspectiva conceitual e vivencial foram evidenciadas em quase todas as falas das participantes; por mais que tenha havido um desconhecimento inicial dos conceitos de tais competências e uma insegurança ou falta de habilidade teórica, as professoras vivenciam essa temática na prática profissional, sem refletir sobre elas. Isso vai ao encontro da literatura tanto nacional quanto internacional: relata-se que essas competências socioemocionais, também chamadas de competências leves ou soft skills, sejam refletidas nas falas e comportamentos tanto de alunos como de professores, ainda que desconheçam sua aplicabilidade(1010 Damasio BF. Mensurando habilidades socioemocionais de crianças e adolescentes: desenvolvimento e validação de uma bateria (nota técnica). Trends Psychol. 2017;25(4):2043-50. https://doi.org/10.9788/tp2017.4-24pt
https://doi.org/10.9788/tp2017.4-24pt...

11 Anunciacion L, Chen CY, Pereira DA. Factor structure of a social-emotional screening instrument for preschool children. Psicol-USF. 2019;24(3):449-61. https://doi.org/10.1590/1413-82712019240304
https://doi.org/10.1590/1413-82712019240...
-1212 Santos MV, Silva TF da, Spadari GF, Nakano TC. Competências socioemocionais: análise da produção científica nacional e internacional. Rev Interinst Psicol. 2018;11(1):4-10. https://doi.org/10.36298/gerais2019110102
https://doi.org/10.36298/gerais201911010...
). Também converge com a literatura o fato de as professoras participantes terem vivenciado essas competências socioemocionais e de realmente promoverem a eficácia do processo ensino-aprendizagem(1313 Carvalho RS, Silva RD. Currículos socioemocionais, habilidades do século XXI e o investimento econômico na educação: as novas políticas curriculares em exame. Educ Rev. 2017;12(63):173-90. https://doi.org/10.1590/0104-4060.44451
https://doi.org/10.1590/0104-4060.44451...
-1414 Coelho VA, Marchante M, Sousa V, Romão, AM. Programas de intervenção para o desenvolvimento de competências socioemocionais em idade escolar: uma revisão crítica dos enquadramentos SEL e SEAL. An Psicol. 2016;34(1):61-72. https://doi.org/10.14417/ap.966
https://doi.org/10.14417/ap.966...
). Isso se demonstrou, por exemplo, quando uma das professoras participantes da pesquisa relatou que, após ter mudado sua estratégia, demonstrando autocontrole, na aula de Farmacologia, a aluna conseguiu apreender melhor a abstração no cálculo da medicação(1313 Carvalho RS, Silva RD. Currículos socioemocionais, habilidades do século XXI e o investimento econômico na educação: as novas políticas curriculares em exame. Educ Rev. 2017;12(63):173-90. https://doi.org/10.1590/0104-4060.44451
https://doi.org/10.1590/0104-4060.44451...
,1515 Smolka AB, Laplane AF, Magiolino LS, Dainez D. O problema da avaliação das habilidades socioemocionais como política pública: explicitando controvérsias e argumentos. Educ Soc. 2015;36(130):219-42. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302015150030
https://doi.org/10.1590/ES0101-733020151...
-1616 Moreira PA, Pinheiro A, Gomes P. Development and evaluation of psychometric properties of inventory of teachers' perceptions on socio-emotional needs. Psicol Reflex Crit. 2013;26(1):67 76. https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000100008
https://doi.org/10.1590/S0102-7972201300...
). Da mesma forma, tal fato corrobora o referencial abordado pelo Instituto Ayrton Senna, no qual se enfatiza que elas podem e devem ser trabalhadas no ambiente escolar(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-b...
).

Com relação a Categoria 2, observamos que as professoras participantes da pesquisa puderam, mediante a reflexão conceitual e vivencial das competências socioemocionais, assumi-las de forma consciente, por meio do desenvolvimento da percepção do outro e para o outro e, também, das suas próprias autopercepções(1717 Andrews J, Higson H. Graduate Employability, 'Soft Skills' Versus 'Hard' Business Knowledge: A European Study. J Higher Educ Europe. 2010;32:411-22. https://doi.org/10.1080/03797720802522627
https://doi.org/10.1080/0379772080252262...
). Neste estudo, o objetivo foi conhecer essas competências de forma mais esquematizada, para, num segundo momento, podermos trabalhar o desenvolvimento delas; primeiro, nos professores, para, depois, aplicá-las ao aprendizado com os alunos, ainda que as duas tarefas sejam uma via de mão dupla(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-b...
).

Também, fazendo um paralelo com o conceito de competências socioemocionais que o IAS recolhe, observamos que não é simplesmente atitude, interesse vocacional ou personalidade(1818 Keng L. The perceived importance of soft (service) skills in nursing care: a research study. Nurse EducToday. 2020;85:104302. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2019.104302
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2019.1043...

19 Laari L, Dube BM. Nursing students' perceptions of soft skills training in Ghana. Curationis. 2017;40(1):1-5. https://doi.org/10.4102/curationis.v40i1.1677
https://doi.org/10.4102/curationis.v40i1...

20 Pearson E, McLafferty I. The use of simulation as a learning approach to non-technical skills awareness in final year student nurses. Nurse Educ Pract. 2011;11(6):399-405. https://doi.org/10.1016/j.nepr.2011.03.023
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2011.03.0...
-2121 Silva DI, Mello DF, Mazza VA, Toriyama ATM, Veríssimo MLÓR. Dysfunctions in the socio emotional development of infants and its related factors: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2019;28: e20170370. https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2017-0370
https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-20...
). A competência socioemocional está relacionada a uma inter-relação de habilidades emocionais e sociais que auxiliam a pessoa a manejar melhor as próprias emoções, a relacionar-se positivamente com outros, a executar tarefas diversas (p.ex., estudar, trabalhar, entre outras) e a lidar com as demandas diárias de uma maneira competente. São habilidades para a vida(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-b...
). A aprendizagem socioemocional (ASE) envolve o processo pelo qual são adquiridos tais conhecimentos, atitudes e habilidades para que seja atingido um nível satisfatório de competência socioemocional(2121 Silva DI, Mello DF, Mazza VA, Toriyama ATM, Veríssimo MLÓR. Dysfunctions in the socio emotional development of infants and its related factors: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2019;28: e20170370. https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2017-0370
https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-20...
-2222 Cannaerts N, Gastmans C, Dierckx de Casterlé B. "Contribution of Ethics Education to the Ethical Competence of Nursing Students: Educators and Students Perceptions. Nurs Ethics. 2014;21(8):861-78. https://doi.org/10.1177/0969733014523166
https://doi.org/10.1177/0969733014523166...
).

As competências propostas pelo Instituto Ayrton Senna (IAS)(77 Senna IA. Competências e habilidades socioemocionais[Internet]. 2019[cited 2021 Mar 05]Available from: https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao/guia-educacao-integral-na-alfabetizacao-socioemocionais.html
https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-b...
,2121 Silva DI, Mello DF, Mazza VA, Toriyama ATM, Veríssimo MLÓR. Dysfunctions in the socio emotional development of infants and its related factors: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2019;28: e20170370. https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2017-0370
https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-20...

22 Cannaerts N, Gastmans C, Dierckx de Casterlé B. "Contribution of Ethics Education to the Ethical Competence of Nursing Students: Educators and Students Perceptions. Nurs Ethics. 2014;21(8):861-78. https://doi.org/10.1177/0969733014523166
https://doi.org/10.1177/0969733014523166...
-2323 Morrell BLM, Eukel HN, Santurri LE. Soft skills and implications for future professional practice: Qualitative findings of a nursing education escape room. Nurse Educ Today. 2020;93:32-45. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2020.104462
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2020.1044...
) são apresentadas como vetores para direcionar as inovações curriculares, sobretudo ao focalizar aspectos cognitivos e socioemocionais. Responsabilidade, colaboração, comunicação, criatividade e autocontrole se tornam questões a serem priorizadas nas proposições curriculares, ao mesmo tempo que objetos de avaliação em larga escala(2424 Kobayashi RM, Leite MMJ. Desenvolvendo competências profissionais dos enfermeiros em serviço. Rev Bras Enferm. 2010;63(2):243-49. https://doi.org/10.1590/S0034-71672010000200012
https://doi.org/10.1590/S0034-7167201000...
). As competências socioemocionais priorizadas nesse contexto são aquelas que desempenham um papel crucial na obtenção não só do sucesso escolar, mas, principalmente, na vida futura das crianças e jovens adolescentes(2525 Durlak JA, Weissberg RP, Dymnicki AB, Taylor RD, Schellinger KB. The impact of enhancing students social and emotional learning: a meta‐analysis of school‐based universal interventions. Child Develop. 2011;82:405-32. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2010.01564.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2010...
). Por isso, observou-se que reconhecer essas competências socioemocionais dos professores que atuam nesse cenário foi um elemento transformador para a conscientização do coletivo desses professores, da importância de suas ações, reações e comportamento emocional para promover o desenvolvimento e aprendizado de seus alunos(1818 Keng L. The perceived importance of soft (service) skills in nursing care: a research study. Nurse EducToday. 2020;85:104302. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2019.104302
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2019.1043...
,2626 Thungjaroenkul P, Cummings GG, Tate K. Testing the social cognitive career theory in Thai nurses' interest to become nurse educators: A structural equation modeling analysis. Nurse Educ Today. 2016;44:151-6. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.05.027
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.05.0...
).

Torna-se necessário desenvolver estudos mais aprofundados sobre essas competências socioemocionais a fim de se propor o desenvolvimento e a sistematização delas em professores que atuam em curso técnico em Enfermagem.

Limitações do estudo

Há uma limitação quanto à validação de tais competências, uma vez que não foi encontrada em literatura nenhuma matriz nesse contexto que pudesse certificar as referidas competências socioemocionais com professores de curso técnico em Enfermagem - e também porque se exigiria um tempo maior para aplicação e validação desses dados, além de um instrumento apropriado para essa realidade.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Pôde-se notar que essas competências socioemocionais no contexto da educação em saúde, em geral - e, especificamente, na área de Enfermagem - são cruciais para efetivar um processo ensino-aprendizagem eficaz e estão relacionadas à elevação da qualidade da assistência de enfermagem. Isso porque, ao contribuir para a melhoria das relações, melhoramos o processo educativo e, por sua vez, o atendimento de saúde bem como todo o Sistema Único de Saúde (SUS), com a possibilidade, ainda, de contribuir significativamente nas políticas públicas em saúde. Tratase, portanto, de um avanço para o aprimoramento profissional que vai além da questão técnica, a fim de promover uma entrega de serviço realmente eficaz e que agregue valor ao contexto laboral, especificamente na área de enfermagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou identificar e tornar conhecidas as competências socioemocionais dos professores de um curso técnico em Enfermagem, no município de São Paulo, SP, Brasil. Foram elencadas as competências socioemocionais mais promissoras: respeito, empatia, saber ouvir, criatividade e autocontrole. No cenário da pesquisa, a maioria dessas competências elencadas referese ao relacionamento interpessoal. Diante da oportunidade de vivenciá-las no processo ensinoaprendizagem, houve uma conscientização do professorado em relação à importância de se trabalhar essas competências a fim de formar pessoas motivadas para a transformação de sua realidade social e profissional, diante de um mundo altamente globalizado pelas tecnologias. Não existiam estudos específicos sobre as competências socioemocionais centrados no nível técnico em Enfermagem, ainda que vários deles destaquem as habilidades sociais como relevantes para a abordagem no ensino, tanto intelectual quanto prática - por exemplo, no que diz respeito à assertividade da condução de uma técnica. Nesse primeiro momento, essas competências foram analisadas num cenário específico, mas observa-se que podem ser aplicadas em quaisquer outros níveis e em diferentes públicos. Este estudo traz como possibilidade pesquisas futuras sobre essas competências socioemocionais no cenário analisado e, também, para o público específico de professores. Há necessidade de validar as competências socioemocionais no intuito de comprovar cientificamente sua evolução, os desdobramentos de seu processo de desenvolvimento, bem como os resultados no mundo laboral.

  • FOMENTO
    Este estudo foi financiado pela CAPES – demanda social.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Fátima Helena Espírito Santo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2021
  • Aceito
    11 Abr 2021
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