I - Introdução: Em nossa experiência, observamos que o planejamento de cuidados de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva apresenta características próprias. Baseia-se o desenvolvimento das atividades de enfermagem em situações vigentes e, quase sempre, de emergência. Deste modo, um levantamento de dados para elaboração de histórico de enfermagem torna-se pouco significativo, exige tempo e não atinge o objetivo do cuidado intensivo - atendimento do paciente em tempo útil por meio de recursos materiais e humanos concentrados.
Uma vez estabelecida a idéia de que as atividades de enfermagem são desenvolvidas de acordo com as necessidades apresentadas no momento pelo paciente, pensamos na elaboração de um impresso que propiciasse meios para o planejamento e registro sistematizado dos cuidados.
O impresso foi criado, considerando-se as características apresentadas pelos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva, da Sociedade Beneficente de Senhoras - Hospital Sírio-Libanes, São Paulo.
A Unidade é geral, recebendo portadores de afecções diversas, que, em sua maioria, apresentam comprometimento de vias aéreas (primário ou secundário), alterações hemodinâmicas e metabólicas. (tabela I).
Distribuição de paciente admitidos na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sirio-Libanês, durante o mês de junho de 1974, segundo tipo de afecção.
II - Características da Unidade de Terapia Intensiva do ospital Sírio-Libanês:
Número de leitos: 11.
Porcentagem de ocupação: 75%
Regime de trabalho do serviço de enfermagem: 42 horas semanais. Horas cuidado: 17 Pessoal disponível
III - Objetivos do impresso:
1. Planejamento individualizado do cuidado do paciente;
2. Sistematização de cuidados de enfermagem, isto é. a combinação de dados e informações a respeito do atendimento total do paciente. Visa o melhor cuidado com o melhor rendimento do trabalho e poupança de tempo e movimento.
IV - Apresentação do Impresso: O plano apresentado no anexo I ANEXO I foi elaborado a partir do levantamento das necesisdades do paciente considerando-se que as mesmas estão sujeitas a variações dentro de determinados períodos, isto é, que as condições do paciente de terapia intensiva apresentam alterações consideráveis num curto espaço de tempo.
O planejamento procura fornecer informações e dados que permitam uma avaliação das condições gerais do paciente, a orientação das condutas médicas e de enfermagem, a interação entre os Serviços Médico e de Enfermagem.
Como o balanço em nossa unidade é fechado às 6 horas da manhã, o impresso apresenta como primeiro horário para planejamento 7 horas.
A assistência referente a sinais vitais, controle hídrico e cuidados especiais é apresentada em colunas e os horários nas linhas horizontais.
1. Sinais vitais: A primeira coluna destina-se ao registro da temperatura e a segunda ao registro de respiração. Logo após seguem-se colunas para os controles referentes à hemodinâmica, ou seja, pulso, pressão arterial e pressão venosa central. O registro de algum outro parâmetro, não muito freqüente em nossos pacientes, como por exemplo pressão arterial média ou freqüência cardíaca poderão ser efetuados na coluna em branco.
2. Controle hídrico: Aqui é lançada a quantidade de líquidos ingeridos (por via oral, sonda gástrica e parenteral) e eliminados, (por meio de diurese e sonda gástrica). As colunas em branco são para outras infusões e eliminações.
3. Cuidados especiais: Acreditamos que a atenção da enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva deve estar voltada para a preservação de órgãos vitais. Considerando que a manutenção de uma boa função pulmonar depende em grande parte da assistência de enfermagem, e que os auxiliares precisam ser estimulados a participar desta assistência, focalizamos com cuidados especiais, em primeiro lugar, os relacionados às afecções respiratórias, na seguinte ordem:
1º - exercício respiratório: a ordem deste cuidado pode ser complementada com o aparelho a ser utilizado e a duração do mesmo;
2.º - tosse e respiração profunda: cuidado especial para pacientes com respiração espontânea, sem auxílio de respirador; ou quando está com respirador sem dispositivo próprio para variação do ar corrente;
3.º - aspiração traqueal: a técnica de aspiração traqueal por nós usada inclui a alternância de pressão do "cuff", com aspiração prévia da cavidade oro-faríngea;
4.º - higiene oral: este cuidado é apresentado em seguida ao da aspiração traqueal por fazer parte das vias aéreas superiores e, também, porque os pacientes estão acamados, dependentes e, na maioria das vezes, em jejum.
A seguir existem quatro colunas em branco para cuidados não comuns à maioria dos pacientes, como controle de hematócrito, tempo de coagulação, ou ainda, para um cuidado especial como o dos olhos, quando há excesso de secreção, e outros;
5.º - glicossúria e cetonuria: são dados controlados com muita freqüência em nossos pacientes, pela elevada faixa etária, por estarem na maioria das vezes, sujeitos a fatores desencadeantes de disfunção metabólica, como a cirurgia.
Em seguida existe uma coluna em branco para outro eventual controle bioquímico.
6.º - Movimentação: este cuidado pode ser complementado com orientações, por exemplo: movimentação ativo ou passiva de membros superiores ou inferiores. A finalidade destes cuidados é prevenir a atrofia muscular e trombose venosa;
7º - mudança de decúbito: sempre que seja possível, é necessária e obrigatória para mobilizar a secreção pulmonar e refazer a circulação em áreas sob pressão.
4. Observações de enfermagem: Reservamos este espaço para registrar as observações da enfermeira com relação a: nível de consciência, mudança no aspecto ou cor de secreções; exames especializados; alterações observadas na colaboração da pele ou escarrificações e, ainda, introdução ou retirada de sondas e catéteres. O espaço é pequeno, portanto, a anotação deve ser selecionada e bastante objetiva
5. Outros cuidados: Neste item fazemos os registros anotando os valores de peso e "checando" os demais dados, desde que realizados. Anotamos ainda, o material que for encaminhado para cultura, como secreções, catéteres, sangue, etc.
V - COMO PLANEJAR OS CUIDADOS - A enfermeira programa os cuidados a partir das informações recebidas na passagem de plantão, de um rápido exame físico do paciente e das necessidades identificadas no momento. Utiliza ainda, como meios de informação os dados registrados no período antecedente.
A programação é feita somente para o seu período de trabalho, isto é, seis horas. Convencionalmente assinala-se com um ponto a coluna do parâmetro a ser verificado (ou do cuidado a ser executado) e a linha correspondente aos horários em que o mesmo deve ser verificado (ou executado). Anexo I ANEXO I .
Todos os itens seguem a mesma orientação para planejamento, com exceção da infusão por via parenteral, para a qual é feita anotação do volume após cada unidade infundida, na coluna de soros.
Os cuidados executados são "checados" pela pessoa que atende o paciente.
VI - CONCLUSÃO: Elaborada a folha para planejamento de cuidados, colccamo-la em uso pela equipe de trabalho, durante um mês. Concluímos que ela:
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1.º propicia um planejamento sistemático de cuidados de enfermagem.
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2.º proporciona meios para a interação de atividades médicas e de enfermagem.
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3.º oferece meios para a avaliação dos cuidados dispensados ao paciente e
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4.º atinge os objetivos da unidade.
ANEXO I
VII - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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1BURREL, L.O. & BURREL, Z.L. - Intensive Nursing Care. Saint Louis, Mosby, 1973.
-
2CLARKE, D.B. - Intensive care for nurses. Oxford and Edimburg, Blackwell Scientific Publications. 1971.
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3LAMBERSTEN, E.C. - Equipe de Enfermagem Organização e Funcionamento. Trad. de Clarice Ferrarini. Associação Brasileira de Enfermagem, 1966.
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4STORLIE, F. et al - Principies of Intensive Nursing Care. New York, Meredith Corporation, 1972.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul-Sep 1974