Tecnologia educacional para promoção do envolvimento de pais no parto e nascimento

RESUMO

Objetivos:

construir e validar uma cartilha educativa para promoção do envolvimento de pais no parto e nascimento.

Métodos:

estudo metodológico desenvolvido em cinco etapas: diagnóstico situacional; levantamento bibliográfico; construção das ilustrações, layout, design e textos; validação de conteúdo e aparência por juízes (25 especialistas) e cálculo do índice de Legibilidade de Flesch; e validação com o público-alvo (12 pais). Considerou-se Índice de Validade de Conteúdo mínimo de 0,80.

Resultados:

a cartilha intitulou-se “Presença de pai” e foi desenvolvida em 11 tópicos. Na validação de conteúdo e aparência, o Índice de Validade obteve escore global de 0,97. O alfa de Cronbach foi 0,92, indicando excelente confiabilidade de seu conteúdo. Pontuação global para legibilidade foi 74%, denotando fácil compreensão.

Conclusões:

o material teve êxito no processo de validação, podendo ser recomendado para os pais utilizarem-no durante o período pré-natal, promovendo a inclusão do parceiro e preparando-os para o parto e nascimento.

Descritores:
Pai; Parto; Parto Humanizado; Tecnologia Educacional; Estudo de Validação.

ABSTRACT

Objectives:

to build and validate an educational booklet to promote the involvement of parents in labor and birth.

Methods:

methodological study developed in five stages: situational diagnosis; bibliographic survey; construction of illustrations, layout, design and texts; content and appearance validation by judges (25 experts) and calculation of the Flesch Readability Index; and validation with the target audience (12 parents). A minimum Content Validity Index of 0.80 was considered.

Results:

the booklet was entitled “Father Presence” and was developed in 11 topics. In Content and Appearance Validation, the Validity Index obtained an overall score of 0.97. Cronbach’s alpha was 0.92, indicating excellent reliability of its content. A global score of 74% for readability was obtained, considered easy to understand.

Conclusions:

the material was successful in the validation process, and it can be recommended for parents to use it during the prenatal period, promoting the inclusion of the partner and preparing them for labor and birth.

Descriptors:
Fathers; Parturition; Humanizing Delivery; Educational Technology; Validation Study.

RESUMEN

Objetivos:

construir y validar cartilla educativa para promoción del involucramiento de padres en el parto y nacimiento.

Métodos:

estudio metodológico desarrollado en cinco etapas: diagnóstico situacional; levantamiento bibliográfico; construcción de ilustraciones, esbozo, diseño y textos; validez de contenido y apariencia por jueces (25 especialistas) y cálculo del índice de Legibilidad de Flesch; y validación con el público objeto (12 padres). Considerado Índice de Validez de Contenido mínimo de 0,80.

Resultados:

la cartilla intitulada “Presencia de padre” y fue desarrollada en 11 tópicos. En la validez de contenido y apariencia, el Índice de Validez obtuvo escore global de 0,97. El alfa de Cronbach fue 0,92, indicando excelente confiabilidad de su contenido. Puntuación global para legibilidad fue 74%, denotando fácil comprensión.

Conclusiones:

el material tuvo éxito en el proceso de validación, pudiendo ser recomendado a padres utilizarlo durante el período prenatal, promoviendo la inclusión del compañero y preparándolos al parto y nacimiento.

Descriptores:
Padre; Parto; Parto Humanizado; Tecnología Educacional; Estudio de Validación.

INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a figura paterna pouco tem se envolvido no cenário parturitivo, fruto do modelo assistencial tradicional e de uma cultura de distinção de gêneros, em que a mulher é considerada responsável por gestar, parir, criar e cuidar dos filhos. No entanto, diversos benefícios estão sendo relatados com relação ao envolvimento do pai em eventos relacionados ao ciclo gravídico, puerperal e primeiros anos de vida da criança(¹-³).

Nos últimos anos, foram implantadas políticas públicas no Brasil com o intuito de qualificar a assistência ao parto e nascimento para que as mulheres possam vivenciar esses momentos de forma mais digna, respeitosa e humanizada(⁴-⁶). A Lei Federal 11.108/05 garante o direito a toda parturiente à presença de um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, parto e puerpério imediato. Estudo brasileiro já evidenciou que, na maioria das vezes, o próprio companheiro é escolhido como acompanhante(⁷). Estimular e promover o envolvimento do pai durante esses eventos são estratégias consideradas positivas, devendo ser incentivadas e encorajadas pelos profissionais de saúde(⁷-⁸). A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) considera necessária a inclusão da figura masculina durante a gestação, nascimento e desenvolvimento de seus filhos, devendo ser estimulada desde as consultas do pré-natal(⁹).

O pré-natal multidisciplinar qualificado é de suma importância, pois, além de objetivar a manutenção da integridade das condições de bem-estar materno e fetal, é durante as consultas que se deve orientar o preparo físico e psicológico para o parto e estimular a participação paterna nas consultas, nascimento e desenvolvimento de seu filho(⁸,¹⁰).

Pesquisas nacionais e internacionais reconhecem a necessidade do envolvimento do pai no nascimento de seu filho para que ele se torne um participante ativo no apoio à mulher tanto durante a gestação quanto no processo parturitivo(¹-³,¹¹-¹²). O modelo de atenção vigente, principalmente na América Latina, considera as práticas de participação paterna carente de preparo prévio, o que pode gerar situações estressantes e ambivalência emocional nos homens(¹¹). Essa conjuntura também é vivenciada em Singapura(¹²). Entretanto, no Chile, a inclusão do pai como agente ativo durante o parto ganhou relevância nas últimas duas décadas(¹³).

Nesse contexto, estudos(²-³) reforçam que o acompanhamento da gestante pelo seu parceiro pode contribuir de forma positiva no processo de parturição em termos de contribuição para seu bem estar, suporte da dor e progressão do trabalho de parto. O progenitor é uma figura importante, pois, para transição da paternidade, é imprescindível a ligação emocional entre pai e filho. Ressalta se que esse envolvimento e interação deve acontecer de forma natural e espontânea, devendo ser encorajados pelos profissionais de saúde, porque, apesar do processo parturitivo pertencer ao corpo feminino, o homem como pai também precisa participar, auxiliar nas decisões caso necessitem serem tomadas e assumir suas responsabilidades familiares(²).

As consultas de pré-natal pelos profissionais de saúde são uma ótima oportunidade para estimular essa interação, porém são necessários instrumentos capazes de fomentar o envolvimento e a inclusão dos pais(¹,¹⁰). Todavia, a cartilha pode subsidiar a prática do enfermeiro para essa abordagem durante o pré-natal, mediando seu uso para uma melhor compreensão, e ser disponibilizada aos pais para leitura no domicílio. O uso de tecnologias educativas impressas é uma alternativa viável para informação em saúde, podendo abrir novos caminhos para a promoção da saúde numa construção compartilhada de conhecimentos. É um recurso útil, de baixo custo e de fácil aplicabilidade. Vale destacar que há escassez de tecnologias educativas relacionadas à promoção do envolvimento paterno e preparo de pais para parturição.

Portanto, a construção e validação da cartilha educativa visou contribuir para a promoção do envolvimento paterno no parto e nascimento e para uma melhor preparação e orientação dos pais no período gestacional e no processo parturitivo, a fim de favorecer o empoderamento dos envolvidos.

OBJETIVOS

Construir e validar uma cartilha educativa para a promoção do envolvimento de pais no parto e nascimento.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Os preceitos éticos da pesquisa foram respeitados. O estudo foi submetido à Comissão Científica do município e, posteriormente, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú, sendo aprovado. A pesquisa assegurou a ética e a dignidade em toda a sua elaboração, com respeito à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece normativas para estudos com seres humanos.

Desenho, local do estudo e período

Este é um estudo metodológico com abordagem quantiqualitativa, descrito conforme o referencial de estudos de melhoria da qualidade SQUIRE da rede EQUATOR. Utilizou-se o referencial teórico de Echer(¹⁴) na elaboração da tecnologia e a Técnica Delphi do tipo on-line Modificada(¹⁵) para validação do conteúdo e da aparência.

O processo para desenvolvimento da tecnologia ocorreu mediante as seguintes etapas: 1) elaboração do projeto; 2) diagnóstico situacional e levantamento bibliográfico; 3) elaboração da cartilha educativa; 4) validação por juízes especialistas da área da saúde e pelo público-alvo; 5) cálculo do Índice de Legibilidade de Flesch - ILF.

A adequabilidade da comunicação escrita utilizada na tecnologia educativa impressa foi fundamentada nos referenciais teóricos-metodológicos(¹⁶-¹⁷) que ressaltam aspectos a serem considerados na elaboração de materiais educativos, como linguagem, ilustração, layout, design e adequação cultural do material educativo.

O desenvolvimento e a validação da cartilha foram realizados em uma cidade (referência nacional na Atenção Primária à Saúde) da macrorregião da zona norte do estado do Ceará, Brasil; e ocorreu entre o período de janeiro de 2018 a fevereiro de 2019.

População ou amostra do estudo; critérios de inclusão e exclusão

Na etapa do diagnóstico situacional, participaram 14 gestantes e 7 pais selecionados por conveniência, de acordo com os seguintes critérios: realizar acompanhamento pré-natal na unidade de saúde e participar dos grupos de gestantes do serviço.

Na etapa de validação do conteúdo e da aparência, os juízes experts foram selecionados segundo os seguintes critérios: possuir graduação em Enfermagem, ser mestre e/ou doutor; ter pesquisas nas temáticas de enfermagem obstétrica, saúde da mulher e/ou humanização do parto; ter atuação nas áreas da saúde da mulher, enfermagem obstétrica, humanização do parto, assistência pré natal e/ou validação de instrumentos; e ter currículo atualizado nos últimos 12 meses.

Foram realizadas consultas do currículo dos enfermeiros por meio da Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e incluídos os experts ao atingirem 5 pontos de acordo com os seguintes critérios adaptados de outros autores(¹⁸-¹⁹): dissertação ou tese na área de interesse (2 pontos); monografia de graduação ou especialização na área de interesse (1 ponto); participação em grupos/projetos na área de interesse (1 ponto); experiência docente na área de interesse (0,5 ponto/ano); atuação prática na área de interesse (0,5 ponto/ano); orientação de trabalhos na área de interesse (0,5 ponto/trabalho); autoria em trabalhos da área de interesse publicados em periódicos (0,25 ponto/trabalho); participação em bancas avaliadoras de trabalhos na área de interesse (0,25 ponto/trabalho). Consideraram-se as seguintes áreas de interesse: enfermagem obstétrica; humanização do parto; construção e validação de materiais educativos, tecnologias em saúde e assistência pré-natal. Na primeira etapa de validação, participaram 42 juízes; e, na segunda, obtiveram-se avaliações de um total de 25 especialistas.

Na etapa de validação da cartilha com o público-alvo, participaram 12 pais, atendendo ao número mínimo de informantes descritos na literatura(²⁰). Nesse caso, constituíram critérios de inclusão: ser o companheiro de uma gestante acompanhada pela unidade de saúde; e ser alfabetizado, ou seja, possuir pelo menos quatro anos de estudo.

Protocolo do estudo

A primeira etapa, denominada “diagnóstico situacional”, ocorreu com o intuito de conhecer a população à qual se destina o material educativo. Participaram dessa etapa 14 gestantes e 7 pais. Foram realizados grupos focais com as gestantes e entrevistas com os pais por meio de um roteiro semiestruturado. As respostas obtidas nas entrevistas e nos grupos focais foram registradas e organizadas em categorias para subsidiar a construção da cartilha.

Na segunda etapa, desenvolveu-se o levantamento bibliográfico mediante uma revisão integrativa nas seguintes bases de dados: SCIELO - Scientific Electronic Library Online; LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde; MEDLINE - Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, BDENF - Base de dados de enfermagem; e publicações do Ministério da Saúde. A RI teve o objetivo de analisar as evidências disponíveis na literatura sobre a preparação dos pais para o parto e nascimento. A finalidade desse método de pesquisa foi de reunir o conhecimento científico já produzido sobre o tema em questão, o que permitiu buscar, avaliar e sintetizar essas evidências para sua incorporação na pesquisa. Na condução da RI, as seguintes etapas foram percorridas: elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta dos dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação da revisão integrativa.

A pergunta norteadora para a elaboração da revisão integrativa foi: “Quais são as principais evidências disponíveis na literatura sobre as informações necessárias à preparação de casais para o parto e nascimento?”.

Na terceira etapa, construiu-se a versão preliminar da cartilha educativa com a criação dos textos, ilustrações, layout e design, buscando atender às necessidades de conhecimentos identificadas na fase de diagnóstico situacional e na literatura científica atual.

Contou-se com profissional técnico (designer gráfico) para elaboração da diagramação da cartilha, de forma que as figuras fossem atrativas, de fácil compreensão e condizentes com o contexto cultural da população-alvo. Para a elaboração das imagens, utilizaram-se os programas Corel Draw Essentials para desenhar e Adobe Photoshop para colorir as figuras; e, para a diagramação, o programa Adobe InDesign, de forma que, após a elaboração de cada página com as figuras e textos propostos, o material foi encaminhado para os pesquisadores, a fim de que realizassem avaliação prévia do material elaborado e pudessem sugerir modificações.

Na quarta etapa, correspondente à validação de conteúdo e aparência, ocorreram duas rodadas sucessivas de avaliações por juízes experts de todos os estados do Brasil, selecionados no banco de dados do CNPq. A análise dos consensos e dissensos se deu por meio do cálculo do Índice de Validade do Conteúdo - IVC. O nível de compreensão da tecnologia também foi analisado nessa etapa, mediante o cálculo do ILF.

Os juízes avaliaram o instrumento determinando sua relevância e abrangência, isto é, se cada conceito foi adequadamente coberto pelo conjunto de itens e se todas as dimensões foram incluídas, podendo sugerir adequações, inclusão ou a exclusão de tópicos. Foram avaliados seis domínios: objetivo, conteúdo, relevância, funcionalidade, usabilidade e eficiência.

Após avaliação dos especialistas, o material foi submetido a uma revisão linguística e gramatical. Em seguida, calculou-se o ILF, que avalia o grau de legibilidade dos textos em uma escala percentual de 0 a 100. Os textos foram selecionados e avaliados pelo programa de análise de textos disponível no Microsoft Office Word, versão 2010, sendo medido o ILF de cada domínio da cartilha e consideradas aceitáveis as sentenças com ILF entre 50% e 100%. O ILF entre 75% e 100% foi classificado como “muito fácil”, que se refere a público com escolaridade de leitura a partir do 4º ano; entre 50% e 74% foi considerado “fácil”, para público com escolaridade média de 8º ano.

A quinta etapa, denominada “validação com público-alvo”, realizou-se com pais que receberam a cartilha e responderam a um formulário semiestruturado cujo objetivo era apreender suas opiniões em relação a organização, estilo da escrita, aparência e a motivação para aprendizagem proporcionada pela cartilha construída. Foram validados os itens com nível de concordância mínimo de 75% nas respostas positivas. A porcentagem da concordância foi calculada com base no número de participantes que concordaram, dividido pelo total de participantes, multiplicado por 100(²¹).

Análise dos resultados e estatísticas

A análise dos consensos e dos dissensos dos especialistas ocorreu por meio do cálculo do IVC, que quantifica a proporção de juízes especialistas que concorda sobre determinados aspectos do material e de seus itens, até atingir o consenso, podendo ser realizada no máximo três rodadas da técnica Delphi. Utilizou-se uma escala do tipo Likert categórica ordinal de quatro pontos, que varia de: 1 - inadequado; 2 - pouco adequado; 3 - adequado e 4 - muito adequado. Para análise dos dados, as pontuações 1 e 2 foram agrupadas na classificação inadequada; 3 e 4, como adequada. Tópicos que receberam pontuação 1 ou 2 foram revistos e modificados.

Na verificação da consistência interna do questionário aplicado aos juízes na validação da cartilha, foi calculado o alfa de Cronbach, conceituado como uma ferramenta estatística que determina, numa escala decimal de 0 a 1, o quão confiável é o questionário aplicado em um processo de validação. O valor mínimo aceitável para se considerar um questionário confiável é 0,7(²²).

RESULTADOS

Para o diagnóstico situacional, foram realizadas duas sessões de grupos focais com 14 gestantes, sendo, em sua maioria, primigestas e adolescentes, que participavam dos grupos de gestantes na unidade de saúde. A idade variou entre 15 a 34 anos, com uma média de 22 anos. Quanto à ocupação, todas estavam desempregadas. Em relação à escolaridade, nove tinham ensino fundamental, e cinco haviam cursado o ensino médio.

Ao iniciar as sessões, as mulheres aparentavam-se tímidas com certa dificuldade de demonstrar suas concepções, porém, com a realização de oficinas e dinâmicas, aos poucos foi percebido maior envolvimento entre as gestantes e o moderador. Por meio das atividades desenvolvidas, elas expressaram suas opiniões e perspectivas acerca dos questionamentos propostos.

Para conhecer também as percepções dos pais em relação à temática abordada nesta pesquisa e identificar subsídios para a construção da tecnologia educativa, realizou-se entrevista com sete pais mediante visitas domiciliares, acompanhados pela ACS da comunidade. A idade variou entre 18 a 37 anos; e média de 23 anos. Três estavam formalmente empregados e quatro desempregados. Dos entrevistados, dois tinham ensino fundamental; quatro, o ensino médio incompleto, e apenas um o havia concluído. Somente dois pais já tinham outros filhos.

Por meio dos grupos focais com as gestantes e das entrevistas com os pais, foram identificadas lacunas de conhecimentos relacionadas à lei do acompanhante, dúvidas sobre os benefícios da participação do pai, métodos não farmacológicos para o controle da dor e cuidados com o pós parto e com o recém-nascido.

No tocante à revisão integrativa, o levantamento gerou 1.141 produções referentes ao estudo. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão definidos e análise dos títulos correlacionados com a temática, obteve-se uma amostra inicial com 936 estudos, que tiveram seus resumos lidos e analisados conforme os objetivos da pesquisa. Foram excluídas 731 produções por não abordarem a temática relacionada ao objetivo da revisão. Dos 205 estudos selecionados, 108 não se adequavam à pesquisa, 16 não estavam disponíveis, e 39 eram repetidos, resultando em uma amostra final com 52 publicações.

Todo esse levantamento de dados subsidiou a construção do conteúdo impresso e imagético da cartilha. Para a elaboração das imagens, foram utilizados os programas Corel Draw Essentials para desenhar e Adobe Photoshop para colorir as figuras; e a diagramação foi feita no programa Adobe InDesign.

A cartilha desenvolvida foi composta de 11 tópicos, com as seguintes temáticas: conheça a lei do acompanhante; benefícios da participação paterna; preparando-se para acompanhar o nascimento do filho; trabalho de parto: métodos para controle da dor; envolvimento do pai no parto normal; posições para o parto; primeiro contato com o recém-nascido; envolvimento do pai na cesariana; boas práticas para o parto e nascimento; “E depois do parto?”; e estímulo do pai no aleitamento materno.

A capa da cartilha educativa traz o título “Presença de pai: cartilha para o envolvimento do pai no parto e nascimento” e os personagens principais que ilustram o material. As primeiras páginas contêm informações da cartilha, ficha catalográfica, sumário e apresentação da tecnologia. Na contracapa, indica-se a instituição à qual o material está vinculado. Na ficha catalográfica, estão os dados dos autores da cartilha, dos colaboradores, da profissional responsável pela ilustração e pela diagramação e das instituições apoiadoras do estudo. As últimas páginas da cartilha foram projetadas para que os pais pudessem anotar suas dúvidas e descrever a experiência de participar do nascimento do filho.

No processo de validação da tecnologia educativa, com a primeira etapa Delphi, 201 juízes especialistas receberam, via e-mail, o convite para a participação da validação e o link do Google Forms, que incluía o primeiro formulário elaborado. Destes, 42 deram retorno aceitando participar e assinando o TCLE.

Dos 42 experts, 36 (85,7%) eram do sexo feminino, seis (14,3%) do sexo masculino, 21 (50%) eram mestres, 19 (45,2%) doutores, dois (4,8%) possuíam pós-doutorado. Acerca do tempo de graduação, a maioria (16; 38,1%) tinha entre 11 e 20 anos de graduado. Em relação à faixa etária, a maior parte (18; 42,8%) tinha entre 30 a 39 anos. Ao associar as atividades principais desenvolvidas pelos especialistas, identificou-se que 25 (59,5%) dos enfermeiros atuavam na área de ensino; 12 (28,5%), na assistência; três (7,1%), na gestão; e dois (4,8%) trabalhavam especificamente com pesquisas. Com relação ao tempo na função, destacou-se o período de 5 a 10 anos (16; 38,1%), seguido de 11 a 20 anos (13; 30,9%). Quanto à idade dos participantes, a idade média foi de 41 anos.

O formulário enviado auxiliou na validação do conteúdo e da aparência da tecnologia com base nos seis domínios e 21 itens que o compuseram. Junto com o formulário, encontrava-se a tecnologia em anexo para ser avaliada. Ao agrupar as respostas na primeira etapa de validação, foi evidenciado que todos os especialistas demostraram uma concordância maior que 90% em relação aos itens e domínios do formulário eletrônico, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1
Percentual de concordância/não concordância dos juízes especialistas em relação ao conteúdo dos domínios na 1ª e 2ª etapa Delphi

Domínios		Inadequado		Adequado
		n	%	n	%
Etapa I	Objetivo	2	4,8	40	95,2
	Conteúdo	3	7,2	39	92,8
	Relevância	1	2,4	41	97,6
	Funcionalidade	1	2,4	41	97,6
	Usabilidade	2	4,8	40	95,2
	Eficiência	0	0	42	100
Etapa II	Objetivo	0	0	25	100
	Conteúdo	1	4,0	24	96,0
	Relevância	0	0	25	100
	Funcionalidade	0	0	25	100
	Usabilidade	0	0	25	100
	Eficiência	0	0	25	100

A segunda rodada Delphi reuniu um total de 25 juízes experts, dos quais 24 (96,0%) do sexo feminino, 1 (4,0%) do sexo masculino, 13 (52,0%) mestres, 10 (40,0%) doutores e dois (8,0%) com pós-doutorado. No concernente ao tempo de graduação, a maioria (10; 40,0%) tinha entre 11 a 20 anos de graduado. Ao associar as atividades desenvolvidas pelos especialistas, 14 (56,0%) atuavam na área de ensino; sete (28,0%), na assistência; três (12,0%) enfermeiros trabalhavam especificamente com pesquisas, e um com gestão (4,0%). Com relação ao tempo na função, destacou-se o período de 5 a 10 anos (12; 48,0%), seguido de 11 a 20 anos (11; 32,0%). A idade média dos participantes nessa etapa foi de 39,5 anos.

O grau de concordância entre os especialistas, também está apresentado na Tabela 1, por meio de quantidades e percentuais, de acordo com as respostas recebidas.

Nas duas rodadas de avaliação, destacaram-se os experts das universidades federais e estaduais da Região Sudeste, seguida da Região Nordeste, contribuindo significativamente com a qualificação do processo de validação da cartilha.

Na segunda etapa Delphi, percebeu-se um aumento no percentual de concordância entre os juízes, quando comparado ao da primeira rodada, pois a maioria dos domínios obteve 100% de aceitação. Apenas um avaliador não concordou com uma orientação apresentada na cartilha sobre correções de lacerações perineais. Porém, após ajustes, o expert foi contactado via e-mail e validou as correções. Desse modo, a cartilha foi considerada validada, não sendo necessária outras rodadas.

Na primeira e na segunda rodada, no que diz respeito ao IVC, obteve-se um valor de 0,96 e 0,99 respectivamente. O IVC global foi de 0,97, indicando validade de conteúdo e aparência (Tabela 2).

Tabela 2
Resultados do α de Cronbach e do Índice de Validade de Conteúdo em cada domínio

Domínios		α de Cronbach	IVC*
Etapa I	Objetivo	0,65	0,95
	Conteúdo	0,67	0,92
	Relevância	0,72	0,97
	Funcionalidade	0,60	0,97
	Usabilidade	0,81	0,95
	Eficiência	0,75	1
	Total	0,90	0,96
Etapa II	Objetivo	0,75	1
	Conteúdo	0,77	0,96
	Relevância	1	1
	Funcionalidade	0,88	1
	Usabilidade	0,83	1
	Eficiência	0,84	1
	Total	0,92	0,99

• ^*
  Índice de Validade de Conteúdo.

Em relação ao alfa de Cronbach, na primeira rodada, atingiu-se o valor de 0,90; e, na segunda, 0,92, indicando ótima consistência interna do questionário de validação.

Embora a tecnologia tenha alcançado valor de alfa 0,90, que aponta para excelente confiabilidade quanto ao seu conteúdo, e mesmo o instrumento tendo sido validado com mais de 90% de concordância entre os avaliadores na primeira rodada da técnica Delphi, os itens dos domínios apresentaram algumas variações quanto aos valores de alfa e IVC, chamando atenção para serem revisados na cartilha. Além disso, os juízes propuseram algumas sugestões para melhorar o conteúdo e a aparência da tecnologia. As sugestões foram registradas no próprio formulário eletrônico, de acordo com os domínios nele contidos.

Na primeira e segunda etapa Delphi, todos os comentários dos avaliadores foram organizados e agrupados nas categorias: inclusão, exclusão e adequação. As sugestões pautaram sobre: substituição de termos técnicos; reformulação de ilustrações; simplificação e reelaboração de frases para tornar a linguagem mais clara; adição de informações que julgaram necessárias, dentre outras. A maioria dessas propostas foram levadas em consideração, analisadas e acatadas, tendo como base as evidências na literatura. A Figura 1 mostra a capa e alguns temas abordados na versão final da cartilha.

Figura 1
Capa e páginas da versão final da cartilha após ser validada

O Índice de Legibilidade de Flesch foi aplicado com a finalidade de analisar o conteúdo existente na tecnologia, se esta era adequada para todos os níveis de escolaridade, obtendo-se ILF de 74%. Portanto, a cartilha é considerada adequada para a leitura do público de até oito anos de estudo, configurando-se como de “fácil” compreensão intelectual.

Na validação com público-alvo realizada com 12 pais, a cartilha educativa foi considerada relevante, explicativa e adequada. A concordância acerca do conteúdo e aparência do material educativo foi unânime, não havendo sugestões de mudanças a serem implementadas.

Após todo o processo de validação com experts e público-alvo, a versão final da cartilha se manteve com 11 tópicos e foi constituída de 32 páginas, das quais 22 de conteúdo, 7 páginas pré-textuais e pós-textuais e 3 páginas em branco.

DISCUSSÃO

O desenvolvimento da tecnologia educativa deste estudo visou promover o envolvimento de pais em eventos que compreendem a gestação, parturição e o nascimento de seus filhos. Foi construída obedecendo a critérios científicos, referenciados por Echer e validada por meio dos pressupostos da técnica Delphi. Buscou-se conhecer a realidade do público a quem se destina, mediante um diagnóstico situacional.

Com esse diagnóstico, foi possível identificar o que se conhece da temática, as lacunas, as necessidades de informações e o uso da cartilha como tecnologia educacional. Isso conferiu um diferencial ao material e foi imprescindível ao processo de construção. Estudos semelhantes no Brasil executaram levantamento com o público-alvo acerca do conhecimento sobre o assunto, na fase de elaboração de um manual educativo(²³-²⁵).

A validação do material educacional pelos especialistas teve como finalidade avaliar o nível de concordância dos juízes no tocante aos elementos que compõem a tecnologia, para aproximá-la da realidade do leitor, e conferiu reconhecimento científico a respeito da qualidade da cartilha educativa.

Todos os juízes concordaram que seu conteúdo tem capacidade de promover o envolvimento paterno, considerando-a adequada para uso. A compreensão dos textos e coerência das ilustrações também obtiveram escores de IVC satisfatórios, indicando que as informações utilizadas são apropriadas. Essa metodologia de avaliação é observada em diversas publicações sobre construção e validação de tecnologias educativas(¹⁸-²⁰,²³-²⁴). O IVC global do material educativo demonstrou alto índice de concordância, corroborando outros estudos metodológicos brasileiros sobre desenvolvimento de tecnologias educacionais que identificaram achados semelhantes(¹⁸-²⁰,²⁵-²⁷).

É importante destacar que, nas etapas de validação, ocorreram modificações na cartilha educativa para aproximá-la da realidade do público-alvo. Isso porque uma tecnologia educacional direcionada para a promoção e educação em saúde precisa ser adaptada à realidade dos destinatários, buscando descrever e esclarecer o que a literatura expõe(¹⁶-¹⁸). Nesse sentido, pesquisadores nacionais e internacionais ressaltam que os objetivos pretendidos necessitam ser claros e sucintos, tendo em vista que propõem nortear o design instrucional e contribuir na avaliação do processo ensino aprendizagem(¹⁷-¹⁸).

O grau de legibilidade, realizado após validação com especialistas, apresentou percentual satisfatório e coerente para compreensão da escrita da cartilha. Medir o grau de legibilidade de um instrumento educativo faz-se necessário para evitar limitações de aprendizagem, devido à baixa escolaridade; e pode-se ter mais credibilidade e aceitação das tecnologias educativas quando existe a participação de experts na temática e integrantes do público-alvo(²⁶).

Autores defendem que a validação do material educativo com a população que vivencia o tema nele abordado precisa ser considerada no desenvolvimento de tecnologias educativas: trata-se de uma atitude necessária e um ganho importante para o pesquisador e equipe envolvida(²⁷).

Na literatura, existem diversas pesquisas relacionadas a manuais educativos, cuja maioria está voltada para orientações de gestantes sobre a gestação, parto e puerpério. Porém, não foi identificado nenhum material educativo direcionado ao homem cuja finalidade fosse a promoção do seu envolvimento no cenário parturitivo. Um estudo internacional realizado em Singapura evidenciou que programas educacionais de apoio aos pais durante o período perinatal são escassos e reforçou que há necessidade de materiais educativos baseados em tecnologia de fácil acesso capazes de apoiar os pais durante esse período(¹²).

Assim, é necessária a construção de materiais educativos que forneçam ao parceiro subsídios para um maior e melhor apoio à mulher. É preciso levar em conta que essas tecnologias devem ser utilizadas para favorecer a participação desses casais no processo educativo, contribuindo para a construção e manutenção de laços familiares bem como aumento do empoderamento dos envolvidos.

Julga-se que as informações incluídas na cartilha têm capacidade de promover o envolvimento paterno, agregando mais conhecimentos e autonomia durante o acompanhamento da parturição, sendo recomendada a utilização dessa tecnologia pelos enfermeiros durante o pré-natal. Espera-se que esse instrumento seja usado no dia a dia dos pais e profissionais de saúde e forneça um suporte adequado para ações educativas na comunidade.

Ressalta-se a importância de que novos estudos sejam desenvolvidos com o material construído, tais como ensaios clínicos, para verificar a eficácia deste no tocante ao envolvimento paterno durante as fases do ciclo gravídico e puerperal.

Limitações do estudo

Aponta-se a não realização da validação por especialistas da área de design gráfico; e a elaboração da cartilha com base em um diagnóstico situacional que levou em conta a realidade local e cultural de apenas uma determinada população. Ademais, houve limitação em seu potencial de alcance, já que foram excluídos homens analfabetos e com deficiência visual.

Outra limitação está no fato de apenas homens cisgêneros terem sidos contemplados na estrutura da tecnologia. Logo, homens trans, que poderão gestar, se assim tiverem o desejo e condições fisiológicas para tal, não foram incluídos nem contemplados em tal direcionamento da tecnologia.

Contribuições para a área da enfermagem e saúde

Acredita-se que o uso da cartilha promoverá a inserção e o envolvimento dos homens desde o cuidado pré-natal, parto e pós-parto. Contribuirá também com uma maior produção de cuidado na área da enfermagem e avanços nas políticas públicas locais de saúde masculina.

Espera-se que a tecnologia seja utilizada pelos pais, subsidiando as consultas de pré-natal e preparando-os para o período parturitivo. É importante divulgar as informações contidas na cartilha para o público-alvo durante o período gravídico a fim de promover a participação paterna em eventos que compreendem a gravidez, o parto, o nascimento e o puerpério.

CONCLUSÕES

A tecnologia educativa “Presença de pai: cartilha para o envolvimento do pai no parto e nascimento”, após passar por um processo rigoroso de avaliação por parte de juízes especialistas e por representantes do público-alvo, foi considerada validada quanto ao seu conteúdo e sua aparência, mostrando a satisfação dos juízes com o material e a homogeneidade nas avaliações.

Após a validação de conteúdo e aparência, a versão final da cartilha passou por verificação do ILF, sendo classificada como “de fácil leitura” e adequada para público com escolaridade média de 8º ano. Portanto, deve ser considerada no contexto da educação em saúde.

Posteriormente, pretende-se desenvolver um ensaio clínico para verificar a efetividade da cartilha no conhecimento, atitude e prática da inclusão de pais em eventos que compreendem o ciclo gravídico e puerperal. Este estudo seguirá com a realização da validação clínica.

• MATERIAL SUPLEMENTAR

  A pesquisa foi desenvolvida dentro do curso Mestrado Acadêmico em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará. Pode ser acessada na íntegra por meio do link: http://www.repositorio.ufc.br/ri/handle/riufc/36785

AGRADECIMENTO

Agradecemos às gestantes e pais que participaram da pesquisa bem como aos juízes especialistas que contribuíram com a validação da tecnologia educativa.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Marcos Brandão

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  22 Jul 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  13 Maio 2021
• Aceito
  17 Mar 2022