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Educação para a morte: sensibilização para o cuidar

RESUMO

Objetivo:

relatar a aplicação de um método participativo de ensino-aprendizagem sobre o tema da morte, morrer e cuidados associados, a fim de evidenciar sua aplicabilidade junto a estudantes.

Método:

relato de aplicação de método participativo com grupo de 22 estudantes do 6º período do curso de Enfermagem e Obstetrícia de uma Universidade Pública Federal. A primeira etapa focou experiências pessoais dos estudantes e a segunda, as perspectivas profissionais. Foram utilizados como recursos para coleta de dados: música, desenho, dramatização e fotografia.

Resultados:

após a aplicação do método, os estudantes atribuíram sentidos à morte e aos cuidados de enfermagem, refletiram, criticaram e ressignificaram experiências e vivências sobre o tema.

Conclusão:

o método mostrou-se aplicável e eficaz para o alcance do objetivo, ou seja, possibilita que os educandos atuem como protagonistas do ensino-aprendizagem, construindo, juntos, uma nova perspectiva do cuidado com a morte e o processo de morrer.

Descritores:
Morte; Estudantes de Enfermagem; Educação em Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Atitude Frente à Morte

ABSTRACT

Objective:

to report the application of a participatory teaching-learning method on the themes death, dying, and associate care to highlight its applicability to the students.

Method:

report of application of participatory method in 22 students from the 6th period of the undergraduate program in Nursing and Obstetrics of a public university. The first stage focused on personal experiences of the students and the second on professional prospects. As resources for data collection we used music, drawing, drama, and photography.

Results:

after applying the method, the students assigned meanings to death and nursing care, reflected, criticized, and resignified experiences on the theme.

Conclusion:

the method was considered applicable and effective to achieve the objective, that is, it enables learners to act as protagonists of the teaching-learning process, building together a new perspective of end-of-life care.

Descriptors:
Death; Nursing Students; Education in Nursing; Nursing Care; Attitude Before Death

RESUMEN

Objetivo:

relatar la aplicación de un método participativo de enseñanza-aprendizaje sobre el tema de la muerte, morir y los cuidados asociados, con el objetivo de evidenciar su aplicabilidad junto a estudiantes.

Método:

relato de aplicación de método participativo con grupo de 22 estudiantes del 6º período del curso de Enfermería y Obstetricia de una Universidad Pública Federal. La primera etapa enfocó las experiencias personales de los estudiantes y la segunda, las perspectivas profesionales. Fueron utilizados como recursos para la recogida de datos: la música, el dibujo, la dramatización y la fotografía.

Resultados:

Después de la aplicación del método, los estudiantes atribuyeron sentidos a la muerte y a los cuidados de enfermería, reflejaron, criticaron y resignificaron las experiencias y las vivencias sobre el tema.

Conclusión:

el método se mostró aplicable y eficaz para el alcance del objetivo, o sea, posibilita que los educandos accionen como protagonistas de la enseñanza-aprendizaje, construyendo, juntos, una nueva perspectiva del cuidado con la muerte y el proceso de morir.

Descriptores:
Muerte; Estudiantes de Enfermería; Educación en Enfermería; Cuidados de Enfermería; Actitud Delante la Muerte

INTRODUÇÃO

O cotidiano de cuidar impõe situações de dualidade como saúde-doença, nascimento e morte, as quais requerem preparo profissional para lidar com situações-limites. Na sociedade ocidental, o tema da morte ainda é considerado tabu e, portanto, necessita ser abordado nas diversas situações de cuidar com franqueza e seriedade.

O encontro dos profissionais com o sofrimento, a doença, a morte e o morrer gera dificuldades para lidar e comunicar ao paciente sobre a sua doença e aproximação de sua morte, de modo que, com frequência, sentem-se limitados a atuar nesse cenário de sofrimento e angústia(11 Bandeira D, Cogo SB, Hildebrandt LM, Badke MR. Death and dying in the formation process of nurses from the perspective of nursing professors. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Aug 21];23(2):400-7. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072014000660013
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). Trata-se de uma abordagem que precisa ser trabalhada desde a formação profissional, pois exige competência técnica, conhecimento, raciocínio, percepção e sensibilidade.

Apesar de a morte fazer parte do curso natural da existência e estar presente no cotidiano de trabalho dos profissionais de saúde, ainda são necessários investimentos de natureza pedagógica no preparo para lidar com este fenômeno, particularmente do pessoal de enfermagem(22 Mota MS, Gomes GC, Coelho MF, Lunardi Filho WD, Sousa LD. Reações e sentimentos de profissionais de enfermagem frente à morte dos pacientes sob seus cuidados. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2013[cited 2013 Oct 27];32(1):129-35. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v32n1/a17v32n1.pdf
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-33 Benedetti GMS, Oliveira K, Oliveira WT, Sales CA, Ferreira PC. Significado do processo de morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2013 [cited 2014 Jan 25];34(1):173-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34n1/22.pdf
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). Estudo assinala o déficit na formação do enfermeiro para se defrontar com a morte de pacientes críticos como fator que interfere na qualidade da assistência prestada. O estudo, no entanto, não sinaliza caminhos que minimizem essa carência(44 Freitas TLL, Banazeski AC, Eisele A, Souza EM, Bitencourt JVOV, Souza SS. The look of nursing on death and dying process of critically ill patients: an integrative review. Enferm Glob[Internet]. 2016[cited 2016 Aug 21];15(41):322-34. Available from: http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v15n41/en_revision2.pdf
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).

Essa deficiência reflete-se, também, no trabalho docente, o que se evidencia pela presença de profissionais inseguros em abordar o tema, tratando-o com impessoalidade e desencorajando a reflexão sobre o assunto por parte dos estudantes(55 Santos MA, Hormanez M. Atitude frente à morte em profissionais e estudantes de enfermagem: revisão da produção científica da última década. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2013[cited 2013 Sep 22];18(9):2757-68. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n9/v18n9a31.pdf
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). No ensino, a fragmentação de conteúdo, a falta de articulação entre disciplinas e a manutenção de modelos pedagógicos conservadores não contemplam a complexidade do ser humano(66 Pires AS, Souza NVDO, Penna LHG, Tavares KFA, D’oliveira CAFB, Almeida CM. A formação de enfermagem na graduação: uma revisão integrativa da literatura. Rev Enferm UERJ[Internet]. 2014 [cited 2016 Aug 21];22(5):705-11. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/11206
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).

Se por um lado o preparo do corpo após a morte requer conhecimentos técnicos, a compreensão do processo de morte e morrer exige conhecimentos sobre a existência humana, suas demandas psíquicas, espirituais e sociais. Assim, integrar conteúdos e aplicar metodologias inovadoras, que problematizem o tema com os estudantes, potencializa e viabiliza que o processo ensino-aprendizagem seja mais próximo da realidade das pessoas.

Trabalhar as habilidades de comunicação e diálogo em uma situação tão singular e de difícil manejo, levar os estudantes a compreenderem a morte na vivência do outro(55 Santos MA, Hormanez M. Atitude frente à morte em profissionais e estudantes de enfermagem: revisão da produção científica da última década. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2013[cited 2013 Sep 22];18(9):2757-68. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n9/v18n9a31.pdf
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) e introduzir na formação acadêmica uma visão crítico-reflexiva sobre o processo de morte e morrer são medidas urgentes, uma vez que prestar cuidados de qualidade a pessoas em situação de finitude da vida é possível, especialmente quando se está educacionalmente preparado para esse fim(77 Jafari M, Rafiei H, Nassehi A, Soleimani F, Arab M, Noormohammadi MR. Caring for dying patients: attitude of nursing students and effects of education. Indian J Palliat Care[Internet]. 2015 [cited 2016 Aug 21];21(2):192-97. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26009673
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). Foi justamente este o objetivo de um grupo de docentes que recorreu a uma metodologia ativa, de cunho participativo, para trabalhar o tema “morte, morrer e cuidados à pessoa em situação de finitude e à sua família” em uma disciplina de Enfermagem.

Nas metodologias participativas aplicadas nas pesquisas, os sujeitos são coprodutores de conhecimentos(88 Streck DR. Metodologias participativas de pesquisa e educação popular: reflexões sobre critérios de qualidade. Interface[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 29];20(58):537-47. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622015.0443
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); do mesmo modo, no processo educativo, os estudantes são deslocados do papel de receptores passivos dos conhecimentos transmitidos pelos docentes nas aulas para assumirem o de protagonistas, como forma de valorizar seus conhecimentos e experiências sobre o tema abordado(99 Sobral FR, Campos CJG. The use of active methodology in nursing care and teaching in national productions: an integrative review. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2012[cited 2017 Apr 29];46(1):208-18. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n1/en_v46n1a28.pdf
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). Aplicar métodos ativos e participativos no processo de formação é importante, pois possibilita melhor compreensão dos temas, sob o ponto de vista teórico e prático, e estimula a reflexão crítica dos estudantes, colocando-os no papel de protagonistas do próprio aprendizado e formação(1010 Hermida PMV, Barbosa SS, Heidemann ITSB. Metodologia ativa de ensino na formação do enfermeiro: inovação na atenção básica. Rev Enferm UFSM[Internet]. 2015[cited 2017 Apr 29];5(4):683-91. Available from: https://periodicos.ufsm.br/index.php/reufsm/article/view/16920
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-1111 Quadros JS, Colomé JS. Metodologias de ensino-aprendizagem na formação do enfermeiro. Rev Baiana Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 28];30(2):1-10. Available from: https://portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/15662/pdf_43
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).

Para fins deste estudo, por envolver fotos e geração de documentação escrita sobre as discussões desenvolvidas durante as atividades que compõem o método de ensino-aprendizagem, os estudantes expressaram anuência para que todo o conteúdo discutido nesses momentos integrasse os relatórios da disciplina. Assim, este relato foi composto por material extraído dos relatórios escritos pelos docentes que propuseram e desenvolveram o referido método.

Este artigo tem o objetivo de relatar a aplicação de um método participativo de ensino-aprendizagem sobre o tema da morte, morrer e cuidados associados, a fim de evidenciar sua aplicabilidade junto a estudantes.

OBJETIVO

Facilitar a aproximação do acadêmico com a temática da morte e do morrer, por meio de atividades promotoras de autoconhecimento e discussões reflexivas, despertadas pela dimensão do afeto, sobre o papel do enfermeiro no cuidado à pessoa em processo de finitude e de sua família, em situação de perda e luto.

MÉTODO

O método foi aplicado com estudantes do Curso de Enfermagem e Obstetrícia do Campus UFRJ-Macaé. Este Campus reflete a iniciativa de interiorização da Universidade no Norte do estado do Rio de Janeiro, constituindo-se uma estrutura integrada e não departamental, organizada por cursos de graduação e de pós-graduação, com seus respectivos colegiados. O curso de enfermagem teve início em 2009, com currículo integrado e disciplinas interdisciplinares, articuladas a outros cursos da área da saúde oferecidos no Campus.

Desenvolveu-se o método para aplicação durante a disciplina “Cuidados I: Adulto, Idoso e Família”, no 6º período, pois o tema “morte e morrer” integra a programação da disciplina supracitada, embora possa ser abordado em outras, mediante demanda. As etapas descritas a seguir são sequenciais e têm a finalidade de aproximar os estudantes do tema, sob a perspectiva de vivências pessoais, sentimentos e expectativas a ele relacionados. Para desenvolvê-lo por meio do método aplicado, previu-se o tempo de quatro horas da carga total da disciplina, que é de 195 horas.

O método participativo de ensino-aprendizagem sobre a morte e o morrer dirige-se, originalmente, para a formação em enfermagem, mas poderá ser aplicado na formação de outros profissionais da área da saúde. Sustenta-se em duas etapas que se desenvolvem por meio de atividades, cuja finalidade, correlata à aprendizagem de conteúdos gerais sobre o tema, é a de sensibilizar o acadêmico para o cuidado de pessoas em processo de morrer. Baseia-se na ideia de que é preciso melhor preparo dos estudantes para lidar com a morte e oferecer cuidado às pessoas em processo de finitude, uma vez que a educação formal está aquém na oferta de subsídios, em número e qualidade suficientes, para suprir as necessidades com relação a esse tema(55 Santos MA, Hormanez M. Atitude frente à morte em profissionais e estudantes de enfermagem: revisão da produção científica da última década. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2013[cited 2013 Sep 22];18(9):2757-68. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n9/v18n9a31.pdf
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).

Os conceitos centrais aplicados baseiam-se na consciência e no diálogo, entendendo-se que a consciência não está separada do contexto em que o ser humano vive(1212 Bonin LFR. Educação, consciência e cidadania. In: Silveira AF, et al, (Org.). Cidadania e participação social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2008. 92-104.). Tais conceitos são usualmente adotados com o propósito de desenvolver a capacidade crítico-reflexiva para trabalhar a produção do conhecimento em diferentes grupos, nas metodologias participativas, e criar novas possibilidades para a construção do saber(66 Pires AS, Souza NVDO, Penna LHG, Tavares KFA, D’oliveira CAFB, Almeida CM. A formação de enfermagem na graduação: uma revisão integrativa da literatura. Rev Enferm UERJ[Internet]. 2014 [cited 2016 Aug 21];22(5):705-11. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/11206
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). Nesse sentido, o diálogo com o outro é um potente mediador para a formação de consciência crítica, uma vez que viabiliza a expansão da consciência humana(1212 Bonin LFR. Educação, consciência e cidadania. In: Silveira AF, et al, (Org.). Cidadania e participação social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2008. 92-104.-1313 Cabral DWA, Ribeiro LL, Silva DL, Bomfim ZAC. Vygotsky e Freire: os conceitos de “consciência” e “conscientização”. Pesqui Prát Psicossoc[Internet]. 2015[cited 2017 Apr 28];10(2):412-422. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ppp/v10n2/17.pdf
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).

1ª Etapa: focaliza-se o tema sob a perspectiva pessoal. Nesta etapa, papel e lápis-cera de diversas cores são distribuídos aos estudantes, os quais, após a audição de uma música, deverão fazer um desenho que expresse o tema. A música não é sempre a mesma, mas pode ser escolhida a cada experiência de aplicação do método. No caso relatado, selecionou-se “Pavane pour une infante defunte”, de Maurice Ravel, a qual, por meio do ritmo lento e da melodia melancólica, favorece uma atmosfera propícia para a reflexão sobre o tema. Essa música é indicada por ser clássica e pouco conhecida do público em geral, de modo que reduz a influência de recordações prévias relacionadas a determinados estímulos musicais amplamente conhecidos. A duração do momento musical foi de seis minutos, e a atividade foi avaliada como adequada e suficiente para induzir um estado de relaxamento e reflexão, sem tornar-se cansativa.

A equipe docente sugeriu a seguinte questão de debate: “Como vivencio a situação de morte”, e solicitou que os estudantes escutassem a música sob tal perspectiva e, em seguida, iniciassem os desenhos e os concluíssem no tempo de 15 a 20 minutos. Ao final, cada um explicou o que desenhou e, em seguida, houve uma discussão grupal com o objetivo de destacar semelhanças, especificidades e singularidades de cada desenho e, assim, conscientizar a respeito da influência das emoções pessoais e da cultura sobre a concepção de morte.

O desenvolvimento dessa etapa privilegia a reflexão grupal acerca do assunto proposto, com vistas ao diálogo do grupo, o que, por sua vez, suscita a expressão de outros temas relacionados à cultura daquele grupo. Essa expressão é, então, codificada por meio de produções artísticas dos participantes referentes ao tema, as quais passam a ser decodificadas durante o diálogo grupal, de modo a promover o alcance do objetivo final: a tomada de consciência sobre situações do cotidiano por meio da discussão crítica e reflexiva.

2ª Etapa: focaliza-se o tema sob a perspectiva profissional. Consiste na apresentação da questão de debate: “Como cuido na situação de morte”. Neste momento, os estudantes são divididos em grupos e devem criar uma cena relacionada a essa questão, assim com um cenário, em tempo que pode ser ajustado conforme as necessidades do grupo. Em seguida, encenam a situação criada, a fotografam e a explicam aos demais participantes. Após, solicita-se que analisem e avaliem as fotos, informando se desejam refazer a cena para um novo registro. Dessa forma, eles podem repensar suas ações e expressar o que consideram importante e essencial no cuidado às pessoas em situação de morte. Após a apresentação de todos os grupos, realiza-se outra discussão grupal, seguida de uma avaliação final de todo o processo.

Essa etapa tem o objetivo de deslocar os estudantes da discussão pessoal sobre as experiências com situações de morte e aproximá-los do cuidado profissional, para facilitar a percepção da influência dos sentimentos pessoais e da cultura sobre o ato de cuidar nesse contexto e problematizar experiências de assistência em situação de terminalidade(11 Bandeira D, Cogo SB, Hildebrandt LM, Badke MR. Death and dying in the formation process of nurses from the perspective of nursing professors. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Aug 21];23(2):400-7. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072014000660013
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). É um movimento que parte do sentir e perceber para o agir e criar. Essa mudança de percepção, baseada na problematização de uma realidade concreta e suas contradições, implica uma apropriação do contexto e, portanto, proporciona uma visão mais crítica e profunda da situação. Estimulam-se a atuação, o pensamento, a criação e a transformação, na perspectiva de uma educação problematizadora, crítica e dialética(66 Pires AS, Souza NVDO, Penna LHG, Tavares KFA, D’oliveira CAFB, Almeida CM. A formação de enfermagem na graduação: uma revisão integrativa da literatura. Rev Enferm UERJ[Internet]. 2014 [cited 2016 Aug 21];22(5):705-11. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/11206
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).

Com o objetivo de manter a uniformidade no desenvolvimento do método, todas as etapas são realizadas pelos mesmos professores, os quais são distribuídos nas funções de coordenação e observação dos estudantes, mediante registros escritos, a fim de estimular a discussão grupal e, ao mesmo tempo, documentar a experiência com conteúdo para posterior avaliação.

Neste relato de aplicação do método constam resultados obtidos com quatro turmas, em um total de 22 estudantes e cinco professores, nos anos letivos de 2012 e 2013. Houve predomínio de estudantes do sexo feminino (20), sendo apenas dois do masculino; a idade variou de 21 a 25 anos (21 estudantes) e somente um tinha 30 anos. As cinco docentes possuíam experiência de ensino em cursos de graduação e com aplicação de método ativo de ensino-aprendizagem, mas não tinham formação específica na área de tanatologia, exceto a proponente do método, que apresentava experiências prévias de cuidados a pessoas com câncer e em final de vida.

Para maior fidedignidade na avaliação deste método de ensino-aprendizagem, os conteúdos gerados pelos estudantes e registrados pelas docentes durante as etapas produtoras de sentidos e significados sobre a morte e o morrer, por meio dos desenhos e das cenas, foram submetidos à análise lexical com auxílio de software de análise de dados textuais (Alceste 2012).

Já os conteúdos provenientes das observações dos professores serão apresentados sob forma de análise narrativa.

RESULTADOS

Sentidos sobre a morte

O corpus gerado pelos depoimentos dos estudantes obteve índice de 93% de aproveitamento pelo software, ou seja, apenas 7% do conteúdo foi desprezado. Houve um total de 65 unidades de contexto elementar (uce), que formam fragmentos de discursos representativos dos léxicos que conferem sentidos aos discursos. Os discursos dos estudantes são denominados no software de unidade de contexto inicial (uci). Logo, cada uci corresponde a um estudante produtor de discurso. Após a rodagem no software, o conteúdo de todos os relatos organizou-se em três classes lexicais, descritas a seguir:

A Classe 1 congregou 17 uces, com retenção de 26% do corpus, e 31 palavras analisadas. Remete aos sentimentos sobre a morte, cujos léxicos de maior associação estatística foram: coração (Phi 0,58); Deus, angústia, esperança e incerteza (Phi 0,53); ciclo, incerteza e insegurança (Phi 48). Os sentidos sobre a morte e o morrer comunicados pelos estudantes foram:

Enterro, objetiva ciclo, religião, desaparecer, incerteza, lugar bonito após a morte, morte confortável e lugar bonito, buraco, ciclo, nascimento, crescimento, reprodução e morte, imaginar que quem foi está bem, aprendizagem, pensar em Deus, a própria morte, novo sol. (uce nº 1, uci 1)

Ciclo objetivo, religiosidade, coração apertado, agonia, sofrimento, solitário por quem morreu, dúvida para onde vamos, conforto, perda, dor, verde-esperança, insegurança, impotência, Deus, Deus, Deus, nasce, cresce, reproduz, morre, a dor é maior, porta fechada, coração partido, Deus, Deus, Deus, saudade, tristeza, novo tempo, novo sol, conforto. (uce nº 3, uci 3)

Religião faz com que não se viva a angústia do sumir, coração apertado quando pensa sobre a morte, agonia, sofre sozinha, incerteza sobre a morte, lugar melhor, medo, insegurança, aceitar a vontade de Deus, interromper o ciclo, é uma dor maior. (uce nº 12, uci 8)

A Classe 2 congregou 34 uces, com 53% do corpus, e 17 palavras analisadas. Na Classe 3, houve a seguinte distribuição:14 uces, com 21% do corpus, e 20 palavras analisadas. As Classes 2 e 3 agregaram sentidos sobre a família e crenças professadas pelos estudantes, expressos nos léxicos com as seguintes associações estatísticas: pai (Phi 0,29), familiar (Phi 0,21); gente e perdi (0,55), luz e paz (0,41).

Preparar o corpo eu não consegui, você tem que olhar pra ver, eu pensei que eu tenho que fazer esse processo, sentimento de perda, a dor da perda, eu não tive como falar da minha perda, estou me acostumando com a ideia de perder, falar ajuda a outra pessoa. (uce nº 22, uci 14)

Trabalhar a concepção, ver a morte da melhor forma possível, não sei como, acho que só vou descobrir quando meus pais morrerem, não tenho ligação sentimental com o resto da família, já morreram, assim como os pacientes encarei bem, só não vou encarar bem a morte dos meus pais. (uce nº 39, uci 20)

Um dia triste, mas de paz, imagens que eu já vivi, perdi amigos e parentes, enterro e cemitério, sou evangélica e isso influi 100% na minha visão de morte, eu acredito em céu, a gente sofre pela ausência, saudade, perdi um tio. (uce 40, uci 21)

Angústia, incerteza, impotência e insegurança foram os sentimentos mais presentes entre os estudantes, o que denota a necessidade de se trabalhar com eles o sentido da finitude, as próprias perdas e lutos e suas emoções para, posteriormente, prepará-los tecnicamente para o cuidado de pessoas/famílias e preparo do corpo morto. Destacaram-se nos discursos a dificuldade de lidar com o tema e o desejo de cuidar de forma mais próxima e com menos medo da morte.

Sobre as cenas e fotos produzidas, de maneira geral, retrataram a dor da perda, com os personagens chorando e buscando o consolo de outras pessoas. A espiritualidade, a fé e o apoio entre os pares também ficaram evidentes nas cenas organizadas pelos estudantes.

Exemplifica-se o grupo da turma de 2012, cujo cenário organizado foi o de uma pessoa morta, deitada, e outra em pé com uma mão apoiada na mão do indivíduo morto e a outra sobre a testa. Segundo os estudantes, a cena tinha o objetivo de expressar a importância do cuidado estético do corpo como forma de conforto para a família. Outro cenário organizou-se com três pessoas em pé, em posição de círculo, mostrando apoio entre elas por meio do toque das mãos em ombros e cabeça. Esta cena, segundo os participantes, expressa solicitude em relação à dor do outro e aproximação pelo toque. Evidencia também a necessidade de apoio psicológico e emocional à família após a confirmação da morte. Já no grupo da turma de 2013, o cenário foi inicialmente formado por duas pessoas se abraçando, o que denota apoio e acolhimento em situação de aflição. No entanto, os estudantes, quando viram a foto e discutiram se estava coerente com o que desejavam transmitir, decidiram alterar a cena para duas pessoas sentadas, tristes, abraçadas e com as mãos entrelaçadas, ambas consoladas por uma terceira pessoa em pé, curvada. Em uma segunda cena, tem-se uma pessoa deitada morta, observada por outras duas que se abraçam. O significado produzido neste caso foi o do cuidado com o corpo e acolhimento da família.

Em síntese, os desenhos e os discursos evidenciam como a religião exerce grande influência na forma como os estudantes vivenciam a situação de morte. A representação de que, apesar do sofrimento da perda, a pessoa falecida poderia estar em paz, gerava conforto aos estudantes. Relatar experiências de cuidado com familiares de pessoas em estágio terminal e as angústias vivenciadas colaborou para que o grupo ressignificasse as necessidades humanas por um cuidado mais sensível, que transcenda a técnica.

Observou-se, em um dos grupos, uma contribuição para além do tema: os estudantes, que inicialmente aparentavam poucas afinidades entre si, com divergências pessoais e expressão de extrema racionalidade durante as aulas, conseguiram, no decorrer da atividade de sensibilização, compartilhar diversas experiências e vivências, inclusive com relatos emocionados sobre o tema. Isso permitiu observar que o método não apenas gerou aprendizado sobre a morte e morrer, como também favoreceu o autoconhecimento e o conhecimento grupal, conduzindo os educandos a refletir sobre a morte, agora melhor compreendida, por meio de histórias de vida, percepções e sentimentos.

Sobre a participação dos grupos

O primeiro grupo (turma 2012-2) mostrou-se ansioso por lidar com o desconhecido, pois, até então, tratava-se de uma aula inédita. Já no segundo grupo (turma de 2013-1), houve menos apreensão, uma vez que os estudantes foram alertados pelos demais que seria uma aula diferente e “profunda.” Havia ansiedade, mas, agora, por participar desta experiência.

A cada início de semestre, os estudantes aguardavam ansiosos a divulgação da data desta aula, reiterando o diferencial do trabalho realizado, segundo eles, por envolver um tema ainda pouco discutido na enfermagem. Durante a atividade, além do tema, eram destacados os procedimentos aplicados e promovia-se uma efetiva imersão dos estudantes no processo, o que conferia um status diferenciado na aprendizagem e motivava as participações.

Com efeito, o método participativo produz esse resultado - mobiliza o engajamento quando coloca o aprendiz no centro do processo, com ênfase no desenvolvimento do processo crítico-reflexivo, avaliativo e interativo nos grupos(1111 Quadros JS, Colomé JS. Metodologias de ensino-aprendizagem na formação do enfermeiro. Rev Baiana Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 28];30(2):1-10. Available from: https://portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/15662/pdf_43
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), conforme observado nos resultados apresentados. Cabe ressaltar que, ao debater o tema por meio de uma imersão nas próprias experiências e produções de sentidos e significados sobre ele, o estudante se percebe capaz de desenvolver a consciência sobre o quanto ele próprio é produto e produtor dos sentidos e de uma cultura de práticas sobre o lidar com a morte e o processo de morrer, sendo este também o legado do método participativo(1212 Bonin LFR. Educação, consciência e cidadania. In: Silveira AF, et al, (Org.). Cidadania e participação social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2008. 92-104.).

Vivenciar experiências por meio do método aqui relatado fortalece o grupo, pois cada membro conhece melhor o outro, suas dores, dificuldades e, assim, passa a respeitá-lo mais, benefício este destacado pelos próprios estudantes ao término da atividade. Conviver, estar ao lado dos colegas de turma, nem sempre se traduz em estar junto, mas, quando há oportunidade de vivenciar momentos em que as dificuldades e angústias são problematizadas e discutidas em conjunto, as fragilidades do ser humano emergem, e eles se unem pelas possibilidades de compartilhamento de estratégias para sua superação, o que contribui para que a humanização do cuidado possa se expressar pela via da comunicação(1414 Brito FM, Costa ICP, Costa SFG, Andrade CG, Santos KFO, Francisco DP. Communication in death imminence: perceptions and strategy adopted for humanizing care in nursing. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2014[cited 2016 Jul 12];18(2):317-22. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v18n2/en_1414-8145-ean-18-02-0317.pdf
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). Nesse sentido, a comunicação - base para a interação humana - viabiliza a troca de informações e amplia as possibilidades de compreensão mútua(1515 Morais GSN, Costa SFG, Fontes WD, Carneiro AD. Communication as a basic instrument in providing humanized nursing care for the hospitalized patient. Acta Paul Enferm[Internet]. 2009[cited 2017 Apr 29];22(3):323-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v22n3/en_a14v22n3.pdf
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); logo, o exercício do diálogo com os colegas em classe sobre um tema tão mobilizador, que envolve os sentidos da existência humana, constitui elemento potencial para se pensar as pessoas sob uma perspectiva existencial e a defesa da vida.

Assim, discutir a morte durante a graduação pode melhor preparar os acadêmicos para esta vivência tão frequente na área da saúde, assim como reduzir o estresse e a ansiedade diante de situações que fragilizam emocionalmente o cliente, seus familiares e, por vezes, os membros da equipe de enfermagem(33 Benedetti GMS, Oliveira K, Oliveira WT, Sales CA, Ferreira PC. Significado do processo de morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2013 [cited 2014 Jan 25];34(1):173-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34n1/22.pdf
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). Pesquisa mostrou que uma intervenção educativa sobre cuidados a pessoas que vivenciam uma doença terminal melhorou significativamente as atitudes de estudantes de enfermagem iranianos, o que levou à inferência de que os cursos de graduação devem incorporar em seus curriculos programas educativos sobre a morte e o cuidado de pacientes terminais(77 Jafari M, Rafiei H, Nassehi A, Soleimani F, Arab M, Noormohammadi MR. Caring for dying patients: attitude of nursing students and effects of education. Indian J Palliat Care[Internet]. 2015 [cited 2016 Aug 21];21(2):192-97. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26009673
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). Esses resultados corroboram a avaliação realizada pelos docentes e estudantes que participaram da aplicação do método aqui relatada e evidenciam ser papel do educador despertar os estudantes para o tema, direcionando-os para a ressignificação de suas lembranças sobre a morte, bem como trabalhar o luto e as emoções, por meio da inserção da temática da morte no contexto escolar de formação(1616 Fronza LP, Quintana AM, Weissheimer TKS, Barbieri A. O tema da morte nas escolas: possibilidades de reflexão. Barbarói [Internet]. 2015[cited 2016 Aug 21];43(1):48-71. Available from: https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/view/3496
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). Cabe também destacar que estimular a conversação sobre a morte entre os pares instrumentaliza o estudante de enfermagem a trabalhar as habilidades de comunicação também interprofissionalmente, algo tão necessário para assegurar o bem-estar do paciente(1717 Lancaster G, Kolakowsky-Hayner S, Kovacich J, Greer-Williams N. Interdisciplinary communication and collaboration among physicians, nurses, and unlicensed assistive personnel. J Nurs Scholarsh [Internet]. 2015[cited Jul 12];47(3):275-84. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25801466
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).

Discutir o tema por meio da aplicação de método participativo pode, por vezes, possibilitar o emergir de sentimentos de angústia, potenciais geradores de desconfortos existenciais. Por este motivo, os docentes precisam estar preparados para atender os estudantes e conduzi-los a um efetivo processo de ressignificação da morte e do morrer, auxiliando-os na elaboração de tais sentimentos(1818 Fernandes MFP, Komessu JH. Nurses’ challenges in view of the pain and suffering of families of terminal patients. Rev Esc Enferm USP[Internet]. 2013[cited 2017 Apr 28];47(1):250-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n1/en_a32v47n1.pdf
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).

Acresce-se, eventualmente, a necessidade de mobilizar serviço de apoio psicológico e/ou psicopedagógico, o que não foi necessário nas turmas citadas neste relato, pois as demandas que emergiram eram de competência dos próprios docentes da disciplina, sendo, portanto, por eles resolvidas com recursos próprios da enfermagem, sem necessidade de outras intervenções.

Em situações que envolvem sofrimento e morte, é comum as pessoas acionarem a espiritualidade, religiosidade e fé e, por esse motivo, isto também foi problematizado com os estudantes. Trata-se de mais um desafio que se impõe aos enfermeiros, os quais precisam estar preparados para compreender tais manifestações e agir com bom senso com a pessoa/família que necessita de cuidados.

Há descontentamentos por parte dos enfermeiros em relação à formação insuficiente no quesito “cuidado às necessidades espirituais das pessoas sob seus cuidados”(1919 Castelo-Branco M, Brito D, Fernandes-Sousa C. Necessidades espirituais da pessoa doente hospitalizada: revisão integrativa. Aquichán [Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];14(1):100-8. Available from: http://dx.doi.org/10.5294/aqui.2014.14.1.8
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-2020 Evangelista CB, Lopes MEL, Costa SFG, Abrão FMS, Batista PSS, Oliveira RC. Spirituality in patient care under palliative care: a study with nurses. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 29];20(1):176-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n1/en_1414-8145-ean-20-01-0176.pdf
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), o que não os exime de oferecer assistência espiritual aos pacientes(2020 Evangelista CB, Lopes MEL, Costa SFG, Abrão FMS, Batista PSS, Oliveira RC. Spirituality in patient care under palliative care: a study with nurses. Esc Anna Nery Rev Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Apr 29];20(1):176-82. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ean/v20n1/en_1414-8145-ean-20-01-0176.pdf
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). Esta postura pode ser estimulada ainda na graduação, por meio de discussões que desenvolvam a compreensão das necessidades espirituais das pessoas, sem emissão de juízo de valor, e identifiquem o papel do enfermeiro na viabilização de espaços para manifestação da fé e na oferta de apoio para o que for preciso, transmitindo conforto ou ajudando nas providências necessárias. Desse modo, a oportunidade de debate em situações de morte e processo de morrer apresenta-se como uma alternativa para suprir esta lacuna evidenciada.

CONCLUSÃO

O método participativo, conforme descrito, possibilita que os educandos atuem como protagonistas do processo, construindo, juntos, uma nova perspectiva do cuidado com a morte e o processo de morrer. Trata-se de algo inovador, por envolver diferentes etapas nas quais os estudantes são sensibilizados para a importância do diálogo a respeito de um tema ainda considerado tabu, e sobre o qual não conseguem falar, justamente em um curso de graduação em que o propósito da maioria é obter aprendizado sobre o cuidar da vida e vencer a morte.

Assim, ao exporem as próprias realidades, sentimentos, medos e angústias sobre o tema por meio do desenho de cenas hipotéticas nas quais eram oferecidos cuidados a pacientes em processo de morte, os estudantes puderam refletir, criticar ou alterar cenas, o que, metaforicamente, se traduziu em rever posturas, interpretar situações a atribuir novos significados, adquirindo saberes e reconhecendo a necessidade de buscar por novos conhecimentos para lidar com esse processo.

As etapas e as atividades realizadas, orientadas pelo método participativo, foram capazes de sensibilizar e aproximar os estudantes por meio de experiências sobre a morte do outro e de suas próprias vivências sociofamiliares. Assim, alcançou-se o objetivo de facilitar a aproximação dos acadêmicos com a temática da morte e do morrer, por meio de atividades promotoras de autoconhecimento e discussões reflexivas, despertadas pela dimensão do afeto, sobre o papel do enfermeiro no cuidado à pessoa em processo de finitude e de sua família, em situação de perda e luto.

O método agrega valor ao conhecimento no campo da educação em enfermagem, pois evidencia os necessários investimentos dos professores para o ensino do tema e confere visibilidade à importância do cuidado à pessoa em processo de finitude e suas famílias. Como limitação na aplicação do método, assinala-se o dimensionamento das turmas, pois, para que seja exequível, são recomendados grupos de até 25 estudantes; logo, em turmas maiores, haverá necessidade de subdivisão.

O estudo oferece contribuições para o debate atual acerca do incentivo à humanização, com respaldo nas Políticas de Saúde que visam ao protagonismo dos sujeitos em seus processos de aprender e de cuidar.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    20 Fev 2017
  • Aceito
    21 Maio 2017
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