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A ENFERMAGEM MODERNA COMO CATEGORIA PROFISSIONAL: OBSTÁCULOS À SUA EXPANSÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA* * Tese. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, 1963 São Paulo, R.U.S.P., Serviço de Documentação, 1966. Um resumo desta pesquisa foi publicado, em inglês, no INTERNATIONAL NURSING REVIEW II (3) II-14 May-june, 1964.

O reduzido número de estudantes de enfermagem, fator significativo na escassês de enfermeiras diplomadas para atenderem às exigências crescentes dos serviços de saúde do País, levou a autora a procuralr resposta à seguinte questão: que obstáculo existem na sociedade brasileira impedindo o crescimento de matrícula nas escolas de enfermagem?

Estudos sobre ocupações, realizados no País, revelam que as alunas ao terminar os cursos secundários são atraídas por profissões de grande westígio que representam igualmente, as aspirações de seus pais. Resultados de investigações sobre hierarquia de prestígio das profissões, realizados no Brasil e outros países, indicaram que as profissões. tradicionais situam-se nos níveis superiores da escala, ao passo que nos níveis inferiores acham-se colocadas as ocupações manuais semi-epecializadas e não especializadas. Todavia, tais estudos não incluiam as enfermeiras diplomadas na relação das profissões estudadas.

Os objetivos do presente trabalho foram: a) analisar as condições em que emergiu a enfermagem na sociedade brasileira e os fatores que tem interferido negativamente no ritmo de seu desenvolvimento, e b) averiguar se a posição atribuida à enfermeira diplomada, na hierarquia de prestígio ocupacional, em Ribeirão Preto evidenciava as mudanças que ocorrem no sentido de reduzir os obstáculos para o recrutamento de candidatas para escolas de enfermagem.

Este trabalho foi planejado e realizado em 1961-1962, em Ribeirão Preto, cidade localizada em área do Estado de São Paulo caracterizada por rápidas mudanças sociais e, onde 10 anos antes, havia sido criada uma Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Em 1952, antes do inicio das atividades dessa Escola, foi levado a efeito um inquérito que revelou ser a enfermagem considerada ocupação manual não especializada.

Metodologia

Para a coleta de dados foram utilizadas:

  1. Investigação bibliográfica para fins de análise das condições sócio-econômicas e culturais do País e do desenvolvimento da profissão de 1923 a 1960.

  2. Entrevista com 965 indivíduos, constituindo 9 grupos amostrais, como segue:

  1. alunos de ambos os sexos, do 2.° ciclo do curso normal de estabelecimentos selecionados (n.° = 436)

  2. pais de alunos selecionados e que residissem na cidade (n.º = 173)

  3. professores de escolas selecionadas (n.° = 50)

  4. estudantes de .medicina da 1.ª série (n.° = 94)

  5. estudantes de medicina da 6.ª série (n.° = 51)

  6. médicos docentes da Faculdade de Medicina (n.° = 51)

  7. médicos a cidade (n.° = 51)

  8. advogados (n.° = 33)

  9. engenheiros (n.° = 26)

A seleção desses grupos amostrais baseou-se no pressuposto de que a posição que eles iriam atribuir à enfermeira diplomada, na hierarquia de prestígio profissional, seria muito relevante para este estudo.

Com exceção dos grupos dos advogados e engenheiros, os demais grupos constituiram amostras casuais.

O fato da amostra não ser representativa da comunidade constituiu limitação do trabalho.

As técnicas utilizadas para coleta de dados, durante as entrevistas, basearam-se naquelas usadas por Hutchinson e Taft em seus estudos sobre o prestígio da ocupações, realizados respectivamente no Brasil e na Australia.

As 20 ocupações selecionadas foram: advogado, agrônomo, comerciário, dentista, engenheiro, enfermeiro diplomado, farmacêutico, fazendeiro, funcionário público, grande comerciante, guarda civil, jornalista, mecânico, médico, motorista, operário, padre, pedreiro, pequeno comerciante e professor primário.

A cada entrevistado foi apresentada uma série de 20 cartões contendo cada um o nome de uma ocupação, pedindo-se que classificasse aqueles cartões decrescente de posição social que, na opinião dele, a sociedade em geral atribuia a cada ocupação. Terminada a ordenação entregava-se ao entrevistado uma lista de 9 fatores, colocados em ordem alfabética, pedindo-lhe que escrevesse ao lado, em ordem decrescente, os fatores que na opinião dele, contribuiam para o prestígio social de ocupação. Esess fatores foram os seguintes: estudos de nível superior, importância do trabalho para a coletividade, inteligência, elevado nível de remuneração, independência (trabalho por conta própria), boas condições de trabalho, possibilidades de progresso, trabalho interessante e segurança (pequeno risco de vida).

Analise dos Dados

Para a ordenação decrescente das ocupações foi calculada média aritmética das medianas atribuídas pelos grupos amostrais. Segundo esse calculo, a enfermeira diplomada foi colocada em torno da mediana, no 12.° lugar da escala de prestígio, logo abaixo do professor (11.º) e acima do funcionário público (13.°).

O médico, engenheiro e advogado profissões tradicionais ocuparam respectivamente os três primeiros lugares e o pedreiro foi colocado no fim da escala.

A fim de verificar a concordância entre o julgamento dos indivíduos, componentes de cada amostral, foi feito o calculo do coeficiente de Kendall. A concordância verificada tornou mais significativos os resultados alcançados pela análise estatística do material empírico. Calculou-se também o coeficiente de concordância para o conjunto dos grupos amostrais, cujos resultados revelaram que maior grau de concordância ocorreu no julgamento dos dois exUremos da escala (médico e pedreiro) e maior dispersão entre as profissões situadas em torno da mediana.

Com relação aos fatores que contribuem para o prestígio das profissões, o resultado da análise dos dados indicou a prioridade aos estudos de nível superior. A importância do trabalho para a comunidade e a inteligência ocuparam o 2.° e 3.° lugar e a segurança foi a última colocada.

Resultados

  1. A análise da sociedade brasileira ao início da década de 20, quano foi introduzida a enfermagem no País, revelou que as condições sócio-econômicas e cultarais constituíam obstáculos à expansão da enfermagem moderna, devido a concepções negativas acerca da profissão, reduzido número de jovens com educação secundária e diminuto mercado de trabalho para a profissão.

  2. As mudanças sociais ocorridas em diversos setores da vida social, em consequência da industrialização e urbanização, contribuiram tanto para a elevação do nivel da educação feminina como paira o desenvolvimento de modernos serviços de saúde que exigem a colaboração dos trabalhos de enfermeira diplomada.

  3. A posição social atribuída à enfermeira diplomada na hierarquia de prestígio revelando ser a enfermagem categoria profissional que exige formação especializada, indica que as transformações sociais ocorridas tendem a reduzir os obstáculos ao recrutamento de candidatas para as escolas de enfermagem, uma vez que em Ribeirão Preto, há decênio, a profissão era considerada como ocupação manual não especializada.

  4. O julgamento dos pais dos alunos, atribuindo à enfermagem posição social logo abaixo do magistério primário, profissão feminina de prestígio tradicional, foi considerado muito significativo, dada a sua conhecida oposição à enfermagem, como profissão para suas filhas.

  5. A prioridade dos estudos de nível superior, como característica de prestígio profissional, indicou que a elevação das escolas de enfemagem a estabelecimentos de nível superior será fator para atração de maior número, de candidatas.

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    Tese. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, 1963 São Paulo, R.U.S.P., Serviço de Documentação, 1966.
    Um resumo desta pesquisa foi publicado, em inglês, no INTERNATIONAL NURSING REVIEW II (3) II-14 May-june, 1964.

Bibliografia Básica

  • ABEL-SMITH, Brian - A History of the nursing profession . London, Heinemann, 1961.
  • DOCK, Lavinia L. e STEWART, Isabel M. - A Short history of nursing . New York, G. P. Putnam's Sons, 1938.
  • HUTHINSON, Bertran e colabs. - Mobilidade e trabalho: um estudo na cidade de São Paulo . Rio de Janeiro, MEC, INEP, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. (CBPE. Série 8 pesquisas e monografias, v. 1).
  • LEVANTAMENTO de recursos e necessidades da enfermagem no Brasil. Rio-de Janeiro, Associação Brasileira de Enfermagem, 1958. Ainda não publicado.
  • MYRDAL, Alva e KLEIN, Viola - Women's two roles: home and work . London, Routledge & Kegan Paul Ltd., 1956.
  • PARSONS, Ethel - Modern nursing in Brazil. The American Jowrnal Of Nursing , 27 (6): 443-449, jun. 1927.
  • PEREIRA, Luiz - A Escola numa área metropolitana . Boletim n.° 253 da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da U.S.P., 1960 p. 140.
  • RELATÓRIO da Comissão Especial incumbida de elaborar anteprojeto de Lei Orgânica de assistência médico-hospitalar para o Pais. Revista Técnica de Planejamento Hospitalar , 2 (3/4): 43, abr.-jun. 1956.
  • TAFT, Ronald - The Social grading of occupations in Australia. The-British Journal of Sociology , 4 (2) : 181-187, jul. 1953.
  • WOODHAM-SMITH, Cecil - Florence Nightingale . New York, McGraw-Hill Book Co., Inc., 1951.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 1973
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