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Quadro de profissionais de enfermagem em unidades médico-cirúrgicas de hospitais de ensino: composição e custos

Cuadro de los profesionales de enfermería en las unidades médico-quirúrgicas de los hospitales de enseñanza: composición y costos

RESUMO

Objetivo

Avaliar o quadro quanti-qualitativo médio de profissionais de enfermagem em serviço nas unidades médico-cirúrgicas de três hospitais gerais, públicos e de ensino, do município de São Paulo frente ao quadro médio projetado, segundo parâmetros da Resolução Cofen nº 293/04 e mensurar o custo médio dos quadros em serviço e projetado.

Método

Estudo quantitativo, exploratório descritivo, com coleta prospectiva de dados.

Resultados

Na maioria das unidades estudadas o quadro de profissionais de enfermagem está quantitativamente adequado. Em duas Instituições a proporção de enfermeiras é inferior ao preconizado pelo Cofen. O ajuste quali-quantitativo do quadro representaria acréscimo mensal de R$ 141.325,92 para o Hospital A; R$ 138.988,80 para o Hospital B e redução de R$ 99.028,00 para o Hospital C.

Conclusão

A principal contribuição deste estudo reside na proposição de um método para avaliação quali-quantitativa do quadro de profissionais de enfermagem, bem como para determinação do custo médio de sua adequação.

Enfermagem; Recursos Humanos de Enfermagem no Hospital; Carga de Trabalho; Custos e Análise de Custo

RESUMEN

Objetivo

Evaluar el promedio del cuadro cuantitativo y cualitativo de los profesionales de enfermería que prestan servicio en las unidades médico-quirúrgicas de tres hospitales generales, públicos y de enseñanza, del municipio de São Paulo, frente al cuadro medio proyectado según los parámetros de la Resolución Cofen n° 293/04 y mensurar el promedio de costo de los cuadros en servicio y proyectado

Método

estudio cuantitativo, descriptivo, exploratorio, con recolección prospectiva de datos.

Resultados

en la mayoría de las unidades estudiadas el cuadro de los profesionales de enfermería está cuantitativamente adecuado. En dos instituciones, la proporción de enfermeras es inferior a la recomendada por el Cofen. El ajuste cualitativo y cuantitativo del cuadro representa un incremento mensual de R$ 141,325.92 para el Hospital A; R$ 138,988.80 al hospital B y la reducción de R$ 99,028.00 al hospital C.

Conclusión

la principal contribución de este estudio está en proponer un método de evaluación cualitativa y cuantitativa de los profesionales de enfermería, así como para determinar el promedio de costo de su adecuación.

Enfermería; Personal de Enfermería en Hospital; Carga de Trabajo; Costos y Análisis de Costos

ABSTRACT

Objective

Evaluate the mean quantitative and qualitative nursing staff working in the internal medicine and surgical units of three public general teaching hospitals in the city of São Paulo, compared to projected mean staff according to the parameters of Cofen Resolution No. 293/04, as well as measure the mean cost of current and projected nursing staff.

Method

Quantitative, descriptive, exploratory study using prospective data collection.

Results

In most of the units studied, the number of nursing professionals was adequate. In two of the institutions, the percentage of nurses was lower than that recommended by Cofen. Qualitative and quantitative adjustment of the staff would represent a monthly cost increase of R$141,326 for Hospital A, R$138,989 for Hospital B, and a reduction of R$99,028 for Hospital C.

Conclusion

The main contribution of this study was the proposed method for qualitative and quantitative evaluation of nursing staff, in addition to determining the average cost for adjustments.

Nursing; Hospital nursing staff; Workload; Cost and Cost Analysis

INTRODUÇÃO

O cenário social, político e econômico, nas últimas décadas, tem determinado a busca de estratégias gerenciais capazes de conciliar as restrições orçamentárias com a melhoria dos produtos e serviços oferecidos à população. Inseridas nesse contexto, as instituições de saúde também enfrentam o desafio de compatibilizar o uso eficiente dos recursos com a melhoria do atendimento prestado aos seus usuários.

No Brasil, essas instituições passam por grandes dificuldades, tendo em vista a falta de investimento na infraestrutura e na força de trabalho frente às necessidades de saúde da população. Os problemas relacionados ao campo da gestão e da formação de recursos humanos são apontados como um dos principais fatores que levam à desqualificação da assistência(11. Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Gestão do trabalho e da regulação profissional em saúde: agenda positiva. 3ª ed. Brasília: MS; 2009.).

Na tentativa de equacionar os custos crescentes desse setor, as principais medidas adotadas pelos gestores recaem sobre a limitação quantitativa e/ou qualitativa de trabalhadores de enfermagem, imprimindo uma sobrecarga de trabalho que dificulta a organização e a execução dos processos assistenciais, bem como a promoção de quaisquer medidas que favoreçam a qualidade do cuidado e a segurança dos usuários e dos prestadores da assistência(22. Garcia EA, Fugulin FMT. Nurses’ work time distribution at the emergency service. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2010 [cited 2014 Oct 24];44(4): 1032-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n4/en_25.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n4/en...
), ignorando, muitas vezes, os parâmetros mínimos de pessoal de enfermagem, recomendados pela Resolução nº 293/04, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)(33. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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).

Verifica-se, portanto, a necessidade de produzir conhecimentos que subsidiem a tomada de decisão acerca da adequação do quadro de profissionais de enfermagem frente aos custos a ele relacionados, contribuindo para o direcionamento das políticas de recursos humanos e a transformação dos processos gerenciais adotados nas instituições de saúde.

Nessa perspectiva, o presente estudo tem por objetivos avaliar o quadro quanti-qualitativo médio de profissionais de enfermagem em serviço nas unidades médico-cirúrgicas de três hospitais gerais, públicos e de ensino, do município de São Paulo, frente ao quadro médio projetado segundo parâmetros da Resolução Cofen nº 293/04 e mensurar o custo médio dos quadros de profissionais de enfermagem em serviço e projetado, conforme Resolução Cofen.

MÉTODO

Trata-se de um estudo exploratório descritivo, de abordagem quantitativa, com coleta prospectiva de dados, realizado em Unidades Médico-Cirúrgicas de três hospitais gerais, públicos e de ensino, denominados Hospital A; Hospital B e Hospital C, do município de São Paulo, após aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (Processo nº 1110/2011) e das Instituições coparticipantes que integram a pesquisa (processos números: 1183/12, 110/11 e 176/12). No Hospital A foram analisadas duas Unidades, no Hospital B três e no C cinco Unidades.

O período de coleta de dados abrangeu os meses de agosto de 2012 a julho de 2013.

A população foi composta pelos profissionais de enfermagem (enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem) e pelos pacientes internados nas unidades médico-cirúrgicas selecionadas.

Cálculo do quantitativo e qualitativo médio diário de profissionais presentes nas Unidades

A média diária de enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem presentes nas unidades, em cada mês do período de agosto de 2012 a julho de 2013, foi calculada por meio da equação:

Em que:

k presentes na unidade; = quantidade média diária de profissionais da categoria

k presentes na unidade nos d = 1, 2, 3....n dias da amostra, obtido por meio das escalas mensais de trabalho; = somatório da quantidade diária de profissionais da categoria

k = categoria profissional em análise (enfermeiro, técnico/auxiliar de enfermagem).

Projeção do quantitativo e qualitativo médio diário de profissionais necessários para as Unidades

O cálculo realizado percorreu as etapas:

Identificação da quantidade média diária de pacientes, segundo o grau de dependência de enfermagem – os pacientes internados nas Unidades Médico-Cirúrgicas dos Hospitais A, B e C foram classificados segundo o grau de dependência de enfermagem, por meio do Sistema de Classificação de Pacientes (SCP) proposto por Fugulin, Gaidzinski e Kurcgant(44. Fugulin FMT, Gaidzinski RR, Kurcgant P. Sistema de classificação de pacientes:identificação do perfil assistencial dos pacientes unidades de internação do HU-USP. Rev Latino Am Enfermagem [Internet]. 2005 [citado 2014 out. 24];13(1):72-8. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n1a12.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n...
), pelas pesquisadoras, em parceria com equipe de enfermagem que presta a assistência.

A quantidade média de pacientes, segundo o tipo de cuidado, foi calculada pela equação:

Em que:

j(mínimo, intermediário, alta dependência, semi-intensivo e intensivo); = quantidade média diária de pacientes, segundo o tipo de cuidado

= taxa média mensal de ocupação das Unidades, no período de agosto de 2012 a maio de 2013;

Lj = quantidade de leitos, segundo o tipo de cuidado j (mínimo, intermediário, alta dependência, semi-intensivo e intensivo).

O cálculo da carga média diária de profissionais de enfermagem necessários, segundo Resolução Cofen nº 293/0411, foi obtido por meio da equação:

Em que:

j(mínimo, intermediário, alta dependência, semi-intensivo e intensivo); = carga média diária de trabalho, segundo o tipo de cuidado

j(mínimo, intermediário, alta dependência, semi-intensivo e intensivo); = quantidade média diária de paciente, segundo o tipo de cuidado

(33. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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) (cuidado mínimo 3,8 horas; intermediário 5,6 horas; alta dependência e semi-intensivo 9,4 horas; intensivo 17,9 horas). = horas médias diárias de cuidado, segundo a Resolução Cofen nº 293/04

O cálculo da quantidade média de profissionais, segundo a categoria, foi obtido pela aplicação das seguintes equações:

Em que:

= quantidade média diária de profissionais de enfermagem requeridos;

n tipos de cuidadoj (mínimo, intermediário, alta dependência, semi-intensivo e intensivo); = somatório das cargas médias de trabalho, segundo os

t = jornada de trabalho.

A quantidade de enfermeiros foi calculada mediante a proporção preconizada pela Resolução COFEN nº 293/04(33. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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) para esta categoria profissional.

Em que:

= quantidade média diária de enfermeiros;

= quantidade média diária de profissionais de enfermagem;

= proporção média de enfermeiros (cuidados mínimo e intermediário 33%; cuidados alta dependência e semi-intesivos 42% e cuidados intensivos 52%);

= proporção média de auxiliares de enfermagem (cuidados mínimo e intermediário 66%; cuidados alta dependência e semi-intesivos 58% e cuidados intensivos 48%).

Os cálculos descritos nas diferentes etapas possibilitaram comparar o quantitativo médio de enfermeiros e técnicos/auxiliares em serviço em relação ao projetado nas Unidades Médico-Cirúrgicas, segundo parâmetros oficiais.

Para a coleta de dados sobre os custos dos quadros de profissionais de enfermagem, as fontes foram os Departamentos de Pessoal dos Hospitais A, B e C, que enviaram planilhas com a massa média salarial de enfermeiros, técnicos/auxiliares de enfermagem, conformada no período estudado.

Essas planilhas continham o registro da quantidade de profissionais, dos salários-base, dos encargos sociais, das gratificações e dos benefícios, por categoria funcional, das Unidades Médico-Cirúrgicas.

O cálculo do salário anual foi realizado pela somatória dos salários, encargos, benefícios e gratificações e depois efetuada a razão entre ela e o número de profissionais, por categoria, para a obtenção do salário mensal.

Para a aferição do custo da hora média mensal, por categoria, foi calculada a razão entre o salário médio mensal e o número de horas trabalhadas, conforme contrato de cada Hospital.

A variação da quantidade de profissionais projetada (QPP), de acordo com as categorias, em relação à quantidade de profissionais em serviço (QPS), bem como a variação do custo do salário mensal da equipe projetada (CSM-EP) em relação ao custo do salário mensal da equipe em serviço (CSM-ES) foi calculada da seguinte forma(55. Castilho V, Fugulin FMT, Gaidzinski RR. Gerenciamento de custos nos serviços de enfermagem. In: Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. p. 121-35.):

Variação=(QPP/QPS-1)×100=%

Variação=(CSM-EP/CSM-ES-1)×100=%

Análise dos dados

Os dados foram organizados em planilhas eletrônicas e apresentados por meio de figuras e quadros, com medidas de tendência central.

Para comparar o quadro de profissionais em serviço com o projetado foi utilizado teste de significância entre médias, bem como o teste qui-quadrado, ao nível de significância de 5%.

Os custos com pessoal foram analisados por meio da estatística descritiva, utilizando-se a média salarial mensal, por categoria profissional, dos Hospitais A, B e C. Os valores estão demonstrados em real.

RESULTADOS

Durante o período estudado, os pacientes internados nas unidades médico-cirúrgicas dos três hospitais de ensino foram classificados, pelos pesquisadores, segundo o SCP de Fugulin(44. Fugulin FMT, Gaidzinski RR, Kurcgant P. Sistema de classificação de pacientes:identificação do perfil assistencial dos pacientes unidades de internação do HU-USP. Rev Latino Am Enfermagem [Internet]. 2005 [citado 2014 out. 24];13(1):72-8. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n1a12.pdf
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). O número médio diário de pacientes correspondeu à: 76 no Hospital A, 118 na B e 117 no Hospital C. A distribuição média diária de pacientes, segundo a classificação adotada, está representada na Figura 1.

Figura 1
Quantidade média diária de pacientes internados nas unidades médico-cirúrgicas de três hospitais de ensino, segundo o SCP de Fugulin, Gaidzinski e Kurcgant(4), período de agosto/2012 a julho/2013 - São Paulo, 2014.

A Figura 1 demonstra que no Hospital A houve predomínio de pacientes classificados como cuidados intermediários e alta dependência, não sendo encontrados pacientes de cuidados semi-intensivos e intensivos. No Hospital B o maior número de pacientes internados correspondeu à categoria de cuidados mínimos, seguido de cuidados alta dependência e cuidados intermediários. No Hospital C observou-se maior quantitativo de pacientes classificados na categoria de cuidados intermediários, seguidos de cuidados mínimos e alta dependência de enfermagem. Os Hospitais B e C alocaram, em média, um paciente de cuidados intensivos e sete de semi-intensivos, por dia, nas unidades estudadas.

O quadro médio diário de profissionais de enfermagem em serviço, obtido nas escalas de trabalho e o quadro projetado para as mesmas unidades, conforme a Resolução Cofen nº 293/04(33. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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), está sintetizado na Figura 2.

Figura 2
Quantidade média diária de profissionais de enfermagem em serviço e projetada, nas unidades médico-cirúrgicas de três hospitais de ensino, período de agosto/2012 a julho/2013 - São Paulo, 2014.

Nas duas Unidades do Hospital A, as equipes projetadas pelo método do Cofen e as equipes em serviço não apresentam uma diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade, demonstrando adequação quantitativa do quadro existente.

No Hospital B, as equipes projetadas pelo método do Cofen e as equipes em serviço apresentam uma diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade em apenas uma Unidade, evidenciando defasagem no quadro existente. Nas duas outras Unidades estudadas essa diferença não foi significativa, observando-se adequação numérica de profissionais.

No Hospital C as equipes projetadas pelo método do Cofen e as equipes em serviço apresentam uma diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade apenas em duas das cinco Unidades analisadas, demonstrando que nessas Unidades o quantitativo de profissionais superou o quantitativo projetado segundo parâmetros do Cofen. Nas demais unidades, onde a diferença entre o quadro projetado e o existente não foi significativa, verifica-se adequação quantitativa de profissionais.

A Figura 3 sintetiza a distribuição média diária de profissionais, segundo a categoria profissional, em serviço nas Unidades dos Hospitais estudados e a proporção projetada, conforme o percentual determinado pelo Cofen, considerando-se a carga de trabalho e o tipo de cuidado predominante.

Figura 3
Quantidade média diária de profissionais de enfermagem, segundo a categoria profissional, em serviço e projetada, nas unidades médico-cirúrgicas de três hospitais de ensino, período de agosto/2012 a julho/2013 - São Paulo, 2014.

Nas duas Unidades estudadas no Hospital A, a quantidade projetada de enfermeiras, pelo método do Cofen, e a quantidade de enfermeiras em serviço apresentam diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade, demonstrando que o número de enfermeiras é inferior à proporção recomendada pelo Cofen.

Em todas as Unidades do Hospital B a quantidade de enfermeiras projetadas pelo método do Cofen e a quantidade de enfermeiras em serviço, apresentam uma diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade demonstrando, também, que o número de enfermeiras é inferior à proporção recomendada pelo Cofen.

No Hospital C a quantidade de enfermeiras projetada pelo método do Cofen e a quantidade de enfermeiras em serviço apresentam uma diferença significativa ao nível de 95% e 11 graus de liberdade em duas Clínicas, onde o número de enfermeiras supera a proporção indicada pelo Cofen. As demais Unidades apresentam adequação qualitativa de profissionais de enfermagem.

Custo com quadro de profissionais de enfermagem nos Hospitais A, B e C

Conforme demonstrado no Quadro 1, o custo total médio mensal dos salários da equipe de enfermagem em serviço, no período de agosto de 2012 a julho de 2013, correspondeu a R$ 755.408,16 no Hospital A, R$ 476.505,60 no Hospital B e R$ 621.790,86 no Hospital C.

Quadro 1
Distribuição da quantidade média de profissionais de enfermagem em serviço e do custo médio hora anual e custo salário mensal, segundo a categoria profissional e jornada de trabalho dos Hospitais A, B e C - São Paulo, 2014.

Observa-se que a média anual do custo da hora da categoria Enfermeira do Hospital A é 3,24 maior que o do Hospital C e 1,75 que o do Hospital B; já a média anual do custo da hora da categoria Enfermeira do Hospital B é 1,85 maior que o do Hospital C. Em relação à categoria Técnico/Auxiliar de Enfermagem, a média anual do custo da hora do Hospital A é 3,83 maior que o do Hospital C e 1,83 maior que o do Hospital B; a média anual do custo da hora dessa categoria no Hospital B é 2,09 maior que a do Hospital C.

Evidencia-se que o Hospital C possui a maior carga horária mensal (203,36 horas), seguido dos Hospitais A e B. A sua carga horária mensal é 1,41 vezes maior que a do Hospital A e 1,70 vezes maior que a do Hospital B. A carga horária do Hospital A é 1,2 vezes maior que a do Hospital B.

O custo médio hora e mês da quantidade mínima de profissionais de enfermagem projetada de acordo com a Resolução Cofen nº 293/04(33. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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), segundo a categoria profissional e a jornada de trabalho dos Hospitais A, B e C está demonstrado no Quadro 2, evidenciando-se que o custo médio mensal da equipe projetada corresponderia a R$ 896.734,08 no Hospital A, R$ 615.494,40 no Hospital B e R$ 522.762,78 no Hospital C.

Quadro 2
Distribuição da quantidade mínima de profissionais de enfermagem projetada de acordo com a Resolução Cofen nº 293/04 e do custo médio hora e mês, segundo a categoria profissional e jornada de trabalho dos Hospitais A, B e C - São Paulo, 2014.

A partir dos dados dos Quadros 1 e 2, constata-se que o ajuste quali-quantitativo do quadro de profissionais de enfermagem, conforme parâmetros mínimos da Resolução Cofen nº 293/04, representaria um acréscimo mensal de R$ 141.325,92 para o Hospital A decorrente do aumento de 13 Enfermeiros e da redução de cinco Técnicos/Auxiliares; um acréscimo de R$ 138.988,80 para o Hospital B devido o aumento de 31 Enfermeiros e redução de 18 Técnicos/Auxiliares e redução de R$ 99.028,00 para o Hospital C com a diminuição de oito Enfermeiros e 16 Técnicos/Auxiliares.

DISCUSSÃO

Na maioria das unidades estudadas o quadro de profissionais de enfermagem está quantitativamente adequado, segundo parâmetros do Cofen. Verificou-se que apenas uma Unidade do Hospital B apresenta quantitativo de profissionais inferior ao quantitativo projetado segundo parâmetros do Cofen. Em duas Unidades do Hospital C o quantitativo de profissionais supera o quantitativo projetado segundo Cofen, que constitui parâmetro mínimo para o dimensionamento de profissionais de enfermagem.

Entretanto, no que se refere à distribuição percentual dos profissionais de enfermagem observou-se que, com exceção das Unidades do Hospital C, as Unidades dos Hospitais A e B apresentam quantitativo de enfermeiras inferior ao preconizado pelo Cofen. A variação do quantitativo de enfermeiras no Hospital A indicou a necessidade de acréscimo de 76,4% enfermeiras e de 206,6% no Hospital B. No Hospital C essa variação correspondeu à diminuição de 15,1% de enfermeiras.

Esse dado corrobora os resultados de outro estudo(66. Fugulin FMT. Parâmetros oficiais para o dimensionamento de profissionais de enfermagem em instituições hospitalares: análise da resolução COFEN nº 293/04 [tese livre-docência]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2010.) que demonstrou que a proporção de enfermeiras na maioria das Instituições de Saúde brasileiras é inferior à distribuição recomendada pelo COFEN, constituindo-se um padrão a ser alcançado pelas Instituições Hospitalares no Brasil.

A adequação do quadro de profissionais referente, principalmente, ao ajuste da proporção do número de enfermeiras em relação à proporção de técnicos/auxiliares de enfermagem, representou um acréscimo de 18,7% do custo com pessoal no Hospital A, 29,1% no Hospital B e redução de 15,9 no Hospital C.

A composição do quadro de pessoal de enfermagem, a jornada contratual de trabalho e o valor salarial foram variáveis estudadas para a conformação do custo com recursos humanos nas Unidades Clínico-Cirúrgicas dos Hospitais A, B e C. No entanto, outras variáveis também podem influenciar na aferição dos custos, como o número de leitos, a complexidade assistencial e os recursos tecnológicos disponíveis. O conhecimento dessas variáveis aliadas ao custo subsidiam as tomadas de decisões em relação à adequação do quadro existente frente às necessidades assistenciais e às disposições legais vigentes.

Nessa perspectiva, os enfermeiros precisam determinar o quantitativo e qualitativo de profissionais necessários para alcançar o padrão de assistência desejado, bem como analisar o impacto financeiro desses recursos no resultado das atividades assistenciais desenvolvidas pela equipe de enfermagem, considerando que embora os aspectos econômicos sejam importantes, eles não devem se sobrepor aos técnicos, humanos, éticos e sociais nas tomadas de decisões(77. Fugulin FMT, Lima AFC, Castilho V, Bochembuzio L, Costa JA, Castro L. Cost of nursing staffing adequacy in a neonatal unit. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2014 Oct 23];45(n.spe): 1582-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe/en_v45nspea07.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe/...
).

Pesquisa recente(88. Aiken LH, Sloane DM, Bruyneel L, Van den Heede K, Griffiths P, Busse R, et al. Nurse staffing and education and hospital mortality in nine European countries: a retrospective observational study. Lancet. 2014;383(9931):1824-30.) desenvolvida com o propósito de fornecer informações sobre os profissionais de enfermagem das instituições hospitalares de nove países da Europa, concluiu que medidas de conteção de gastos que incidem sobre o quantitativo e qualitativo de profissionais de enfermagem podem expor os usuários a risco e afetar adversamente os resultados da assistência aos pacientes, sugerindo, ainda, que um maior número de enfermeiros na assitência poderia reduzir as mortes hospitalares evitáveis.

Assim, considera-se que os enfermeiros necessitam, também, buscar conhecimentos, habilidades e competências que sustentem a negociação do quadro de profissionais, demonstrando que embora sua adequação acarrete elevação dos custos operacionais, pode contribuir para a diminuição dos gastos advindos de resultados negativos na assistência prestada, em decorrência da insuficiência numérica e/ou qualitativa de profissionais(77. Fugulin FMT, Lima AFC, Castilho V, Bochembuzio L, Costa JA, Castro L. Cost of nursing staffing adequacy in a neonatal unit. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2014 Oct 23];45(n.spe): 1582-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe/en_v45nspea07.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe/...
).

CONCLUSÃO

A contribuição deste estudo reside na proposição de um método para avaliação quali-quantitativa do quadro de profissionais de enfermagem, bem como para determinação do custo médio de sua adequação.

Os resultados obtidos, mediante sua aplicação, merecem análises e interpretações cuidadosas para que as decisões favoreçam a provisão e a distribuição eficiente do quantitativo e qualitativo de profissionais de enfermagem, frente aos padrões de segurança e qualidade esperados.

A utilização deste método em outras realidades e a correlação dos resultados obtidos, com os indicadores de qualidade assistencial e gerencial poderão contribuir, cientificamente, para evidenciar o impacto do quadro de profissionais de enfermagem nos resultados dos pacientes e das instituições de saúde.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Gestão do trabalho e da regulação profissional em saúde: agenda positiva. 3ª ed. Brasília: MS; 2009.
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    Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o Dimensionamento do Quadro de Profissionais de Enfermagem nas Unidades Assistenciais das Instituições de Saúde e Assemelhados [Internet]. Brasília: COFEN; 2004 [citado 2014 jan. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2932004_4329.html
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    Fugulin FMT, Lima AFC, Castilho V, Bochembuzio L, Costa JA, Castro L. Cost of nursing staffing adequacy in a neonatal unit. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2011 [cited 2014 Oct 23];45(n.spe): 1582-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe/en_v45nspea07.pdf
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2015

Histórico

  • Recebido
    30 Nov 2014
  • Aceito
    05 Mar 2015
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