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Adaptação transcultural e validação de instrumento para medir a dependência de cuidados de enfermagem

RESUMO

Objetivo:

Adaptar transculturalmente e validar o instrumento INICIARE para uso no Brasil.

Método:

estudo metodológico dividido em duas fases: adaptação transcultural e validação. A primeira ocorreu em seis etapas: tradução, síntese, retrotradução, revisão por especialistas, pré-teste e submissão à autora. A segunda, realizada com 130 pacientes, ocorreu em um hospital privado de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, entre maio e julho de 2019. O estudo obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados foram analisados através da estabilidade, equivalência e da consistência interna.

Resultados:

Na adaptação transcultural, o comitê de especialistas ajustou a versão traduzida, validando o conteúdo. Na validação, a maioria dos pacientes era mulher (64,6%) com média de idade 59 ±15,3. A confiabilidade foi de 0,744.

Conclusão:

A versão do instrumento adaptado para o Brasil mostrou-se adequada e reflete a realidade da prática diária da enfermagem.

Palavras-chave:
Tradução; Avaliação de resultados em cuidados de saúde; Cuidados de enfermagem; Estudo de validação; Avaliação em enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To cross-culturally adapt and validate the INICIARE instrument for use in Brazil.

Method:

methodological study divided into two phases: cross-cultural adaptation and validation. The first phase took place in six stages: translation, synthesis, back-translation, expert review, pre-test and submission to the author. The second, carried out with 130 patients, took place at a private hospital in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil, between May and July 2019. The study was approved by the Research Ethics Committee. Data were analyzed for stability, equivalence and internal consistency.

Results:

In the cross-cultural adaptation, the expert committee adjusted the translated version, validating the content. At validation, most patients were women (64.6%) with a mean age of 59 ± 15.3. The reliability index was 0.744.

Conclusion:

The version of the instrument adapted for Brazil proved to be adequate and reflects the reality of daily nursing practice.

Keywords:
Translating; Outcome assessment, health care

RESUMEN

Objetivo:

Adaptar y validar transculturalmente el instrumento INICIARE para uso en Brasil.

Método:

estudio metodológico dividido en dos fases: adaptación y validación transcultural. La primera, en seis etapas: traducción, síntesis, retrotraducción, revisión de expertos, pre-test y envío al autor. El segundo, realizado con 130 pacientes, se llevó a cabo en un hospital privado de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, entre mayo y julio/2019. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación. Los datos se analizaron mediante estabilidad, equivalencia y consistencia interna.

Resultados:

En la adaptación transcultural, el comité de expertos ajustó la versión traducida, validando el contenido. En el momento de la validación, la mayoría de los pacientes eran mujeres (64,6%) con una edad media de 59 ± 15,3 años. La fiabilidad fue de 0,744.

Conclusión:

La versión del instrumento adaptada para Brasil resultó adecuada y refleja la realidad de la práctica diaria de enfermería.

Palabras clave:
Traducción; Evaluación de resultado en la atención de salud; Atención de enfermería; Estudio de validación; Evaluación en enfermería

INTRODUÇÃO

A preocupação em otimizar os recursos de saúde e em melhorar as condições de trabalho da enfermagem faz com que os gestores utilizem ferramentas para medir e para adequar a gestão de profissionais à prestação do cuidado de enfermagem. A principal dificuldade nesse processo é a escassa oferta de ferramentas que quantifiquem e dimensionem as atividades de enfermagem e que permitam a correta alocação de recursos mínimos necessários ao atendimento de qualidade aos pacientes e familiares11. Barrientos-Trigo S. Validez externa y convergencia de la escala INICIARE 2.0 y Care Dependency Scale: estudio multicéntrico [tese]. Sevilla, ES: Departamento de Enfemería, Universidad de Sevilla; 2015 [citado 2021 jun 2]. Disponible en: https://idus.us.es/bitstream/handle/11441/25455/Validez%20externa%20y%20convergencia%20de%20la%20escala%20iniciare%202.0%20y%20care%20dependency%20scale.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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O uso de um instrumento de classificação de paciente identifica a demanda de cuidados em relação à enfermagem, o que permite o monitoramento da carga de trabalho da equipe e os consequentes ajustes quantitativos e qualitativos. Os instrumentos podem ser distribuídos em três linhas temáticas: os que medem o trabalho do enfermeiro através das competências profissionais; os que medem o trabalho através dos aspectos de segurança clínica e qualidade da atenção; e, finalmente, os que buscam avaliar os cuidados que os pacientes hospitalizados necessitam11. Barrientos-Trigo S. Validez externa y convergencia de la escala INICIARE 2.0 y Care Dependency Scale: estudio multicéntrico [tese]. Sevilla, ES: Departamento de Enfemería, Universidad de Sevilla; 2015 [citado 2021 jun 2]. Disponible en: https://idus.us.es/bitstream/handle/11441/25455/Validez%20externa%20y%20convergencia%20de%20la%20escala%20iniciare%202.0%20y%20care%20dependency%20scale.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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Pesquisadores europeus22. Huber E, Kleinknecht-Dolf M, Kugler C, Spirig R. Patient-related complexity of nursing care in acute care hospitals - an updated concept. Scand J Caring Sci. 2021;35(1):178-95. doi: https://doi.org/10.1111/scs.12833
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, - motivados, entre outras coisas, pelo reconhecimento de contradições na literatura entre os conceitos de “complexidade de cuidado” e de “dependência de cuidado” -, desenvolveram uma pesquisa com o propósito de redefinir o conceito de “complexidade de cuidados de enfermagem”. Os autores argumentam que a carga de trabalho está intrinsicamente associada à complexidade assistencial. Destacam também que a complexidade dos cuidados de enfermagem é um fenômeno relacional, dinâmico, com múltiplos processos interconectados, sendo determinada pela interação entre os seguintes componentes:

  1. relativos às doenças (tipo, número, capacidade de avaliação, progresso, terapia, problemas associados);

  2. recursos pessoais, cognitivos, físicos, funcionais, sociais e comunicativos dos pacientes e seus familiares;

  3. demandas simultâneas de cuidados de enfermagem em relação às decisões e intervenções tomadas para fortalecer as habilidades, aliviar o sofrimento e prevenir a deterioração, dano persistente e sofrimento dos pacientes (dependência do cuidado);

  4. níveis de atenção, conhecimento, experiência e cuidado exigidos dos enfermeiros para alcançar um processo de cuidado de enfermagem eficaz.

A realidade da assistência ao paciente hospitalizado tem se alterado nas últimas décadas, exigindo dos enfermeiros estratégias para enfrentar os aumentos qualitativo (pacientes mais complexos, mais dependentes e mais graves) e quantitativo (número de pacientes) da demanda de cuidados de enfermagem. Consequentemente, os gestores dos serviços de enfermagem são desafiados a buscar formas para minimizar o impacto desse aumento e, dessa maneira, viabilizar condições para a prática da enfermagem, proporcionando uma assistência segura e de qualidade às pessoas. Tais condições precisam estar aliadas à maximização de receita e à diminuição de custos33. Carlisle B, Perera A, Stutzman SE, Brown-Cleere S, Parwaiz A, Olson DM. Efficacy of using available data to examine nurse staffing ratios and quality of care metrics. J Neurosci Nurs. 2020;52(2):78-83. doi: https://doi.org/10.1097/JNN.0000000000000499
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Esse cenário exige a adaptação dos sistemas de saúde - e dos enfermeiros - à nova realidade, o que os leva a reconhecer a importância de fatores como cronicidade, dependência e complexidade no cuidado a essa população44. Viña-García-Bericua M, Román-Medina I. The role of the geriatric nurse specialist as a key response in the care of the elderly, chronicity, complex chronicity and its consequences on dependence. Enferm Clin. 2019;29(6):381-4. doi: https://doi.org/10.1016/j.enfcle.2019.09.004
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Os esforços dos gestores e enfermeiros encontram sustentação na prática baseada em evidências. Por isso, mensurar os resultados e identificar as alterações do estado de saúde do paciente podem tornar-se uma ferramenta imprescindível55. Moorhead S, Swanson EA, Johnson M, Maas ML. Nursing Outcomes Classification (NOC): measurement of health outcomes. 6. ed. St. Louis: Elsevier; 2016.. Foi para atender demandas dessa natureza, foi desenvolvida a Nursing Outcomes Classification (NOC), uma classificação de enfermagem direcionada à mensuração dos resultados alcançados pelo paciente, família ou comunidade, feita a partir das intervenções especialmente implementadas pela enfermagem. O foco da NOC é mensurar resultados sensíveis à essas intervenções55. Moorhead S, Swanson EA, Johnson M, Maas ML. Nursing Outcomes Classification (NOC): measurement of health outcomes. 6. ed. St. Louis: Elsevier; 2016..

Interessados em quantificar os cuidados de enfermagem na perspectiva orientada por resultados, pesquisadores da Universidade de Sevilha na Espanha construíram uma ferramenta conhecida como INICIARE 2.0 (Inventario del NIvel de Cuidados mediante Indicadores de clAsificación de Resultados de Enfermería). Esse instrumento, baseado no modelo conceitual da teoria de necessidades fundamentais e formulado com os resultados da taxonomia NOC, foi desenvolvido e validado entre 2009 e 2011. Em sua primeira versão, o instrumento é composto por 60 itens que identificam as necessidades fisiológicas, cognitivas e de locomoção/mobilidade dos pacientes11. Barrientos-Trigo S. Validez externa y convergencia de la escala INICIARE 2.0 y Care Dependency Scale: estudio multicéntrico [tese]. Sevilla, ES: Departamento de Enfemería, Universidad de Sevilla; 2015 [citado 2021 jun 2]. Disponible en: https://idus.us.es/bitstream/handle/11441/25455/Validez%20externa%20y%20convergencia%20de%20la%20escala%20iniciare%202.0%20y%20care%20dependency%20scale.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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. Atualmente, o instrumento possui 26 itens. Segundo os autores, as reduções têm o intuito de diminuir o tempo que o enfermeiro leva aplicando o instrumento66. Porcel-Gálvez AM, Barrientos-Trigo S, Fernández-García E, Allande-Cussó R, Quiñoz-Gallardo MD, Morales-Asencio JM. Development and external validity of a short-form version of the INICIARE scale to classify nursing care dependency level in acute hospitals. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(22):8511. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17228511
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. O INICIARE-26 identifica as necessidades de cuidados de enfermagem em cinco dimensões: respiração, alimentação e hidratação, eliminação, atividades de vida diária e condutas de saúde.

Motivada pela realidade descrita anteriormente, esta pesquisa objetivou realizar a adaptação transcultural e validar o instrumento INICIARE-26 para uso no Brasil. Tal estudo justifica-se pela necessidade de fornecer à prática clínica um instrumento que permita aos enfermeiros avaliar a dependência dos pacientes em relação aos cuidados de enfermagem, com base em linguagens padronizadas.

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) estabelece normas para o dimensionamento de pessoal de enfermagem nas instituições de saúde, o que pode ser feito a partir da definição de critérios qualitativos e quantitativos. Esses critérios são baseados em horas médias de cuidado de enfermagem, requeridas pelos pacientes, segundo o grau de dependência. Para isso, o COFEN sugere o uso de Sistemas de Classificação de Pacientes como parte do método para o cálculo de pessoal de enfermagem a ser adotado, de forma sistemática, pelas instituições de saúde.

Nessa direção, o INICIARE-26 apresenta-se como uma alternativa às necessidades da enfermagem brasileira, fortalecendo a assistência. Soma-se a isso o fato de o INICIARE-26 medir a situação atual do paciente, o que o diferencia significativamente de outras escalas, que avaliam a complexidade de cuidados em relação à enfermagem. Uma característica como essa torna o INICIARE-26 adequado para melhor refletir o perfil de dependência dos pacientes.

A garantia do adequado uso de um instrumento como o INICIARE-26 no contexto da enfermagem brasileira exige, antes de tudo, sua adaptação transcultural e sua validação, tendo em vista o novo âmbito de utilização. E é com relação a esse aspecto que a questão de pesquisa deste trabalho se organiza. Dito de outro modo, buscou-se encontrar resposta para a seguinte questão: O INICIARE-26 adaptado transculturalmente é válido para uso no Brasil?

MÉTODOS

Desenho do estudo

Trata-se de um estudo metodológico, norteado pelas diretrizes para relatar estudos metodológicos em pesquisa em saúde - MISTIC (Methodological study reporting checklist), disponível na rede Enhancing the Quality and Transparency of Health Research (EQUATOR). Foi realizada a adaptação transcultural do instrumento INICIARE-26, seguindo etapas preconizadas77. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the cross-cultural adaptation of the DASH & QuickDASH outcome measures. Toronto: Institute for Work & Health; 2007 [cited 2021 Jun 2]. Available from: http://www.dash.iwh.on.ca/sites/dash/files/downloads/cross_cultural_adaptation_2007.pdf
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, e posterior validação, conforme descritas na Figura 1.

A adaptação transcultural de instrumentos - envolvendo tanto a tradução quanto a adaptação cultural - é de extrema relevância na padronização de avaliações uniformizadas para a globalização e a comparação de seus resultados, assim como para o desenvolvimento de pesquisas multicêntricas77. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the cross-cultural adaptation of the DASH & QuickDASH outcome measures. Toronto: Institute for Work & Health; 2007 [cited 2021 Jun 2]. Available from: http://www.dash.iwh.on.ca/sites/dash/files/downloads/cross_cultural_adaptation_2007.pdf
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Figura 1 -
Processo de adaptação transcultural e avaliação psicométrica.

Na primeira etapa, de tradução, o INICIARE-26 foi enviado a dois tradutores, ambos com o português do Brasil como língua materna e com domínio na língua original da escala (espanhol). No final dessa etapa, obteve-se duas versões, denominadas “tradução um” (T1) e “tradução dois” (T2). Um encontro com o pesquisador e os dois tradutores foi realizado (etapa 2) com o intuito de obter uma versão de síntese, denominada “tradução um-dois” (T1 2).

Na etapa 3, a síntese das versões (T1 2) foi enviada a dois tradutores, ambos com o espanhol como língua materna e com domínio do português. Os tradutores produziram as versões de retrotradução, denominadas de “retrotradução 1” (RT1) e “retrotradução 2” (RT2). As versões (original, tradução, síntese e retrotradução) foram comparadas pelos tradutores, a fim de corrigir possíveis erros de tradução e de interpretação, evitando comprometimento de significado em algum item. Com base nessa comparação, foi gerada a versão denominada “retrotradução um-dois” (RT1 2).

Para a etapa de revisão (etapa 4), contou-se com cinco especialistas enfermeiros com experiência em sistemas de classificação de pacientes, um enfermeiro professor universitário com experiência em pesquisa e um linguista professor universitário. Os especialistas foram reunidos, momento em que lhes disponibilizado um instrumento contendo as versões original, traduzida e retrotraduzida. Os especialistas avaliaram a versão traduzida e, para isso, consideraram as equivalências culturais, semântico-idiomática e conceituais. Cada item pontuava de 1 a 4, sendo 4 a melhor equivalência e 1 a pior. Os participantes foram orientados a registrar no campo “observação” a sugestão de alteração, quando a pontuação fosse inferior a 4. Concluída a análise individual de cada especialista, sob forma de grupo focado, o pesquisador conduziu a revisão dos itens que apresentaram divergência, com o objetivo de os participantes, em conjunto, realizarem o ajuste para a melhor apresentação do item.

População e cenário

As coletas de dados foram realizadas em unidades de internação de pacientes adultos clínicos e cirúrgicos, em um hospital privado de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. O hospital conta com 189 leitos, dos quais 151 são destinados à internação, distribuídos em três unidades de internação. A taxa de ocupação é de 96,93 % e o tempo médio de permanência é de 8 dias. O perfil do paciente adulto é de 63,11% do sexo feminino e 36,89% do sexo masculino, estando 63,76% destes entre 30 e 74 anos.

Critérios de seleção

Como critérios de inclusão foram considerados todos os pacientes adultos hospitalizados em unidades de internação clínica/cirúrgica. Os critérios de exclusão foram: a) os pacientes com alterações clínicas graves no momento da coleta; b) alteração do sensório ou da cognição e a ausência de um responsável no momento da coleta; c) pacientes obstétricas. Os pacientes foram excluídos, considerando os critérios a e b, somente após os coletadores realizarem a segunda tentativa de coleta.

Definição da amostra

No pré-teste e validação, foram incluídos 35 e 130 pacientes, respectivamente. Para o cálculo da amostra do pré-teste, seguiu-se o recomendado pela literatura77. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the cross-cultural adaptation of the DASH & QuickDASH outcome measures. Toronto: Institute for Work & Health; 2007 [cited 2021 Jun 2]. Available from: http://www.dash.iwh.on.ca/sites/dash/files/downloads/cross_cultural_adaptation_2007.pdf
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. Para a validação, seguiu-se o indicado para análise fatorial que é de no mínimo cinco observações por questão da escala. Assim, considerando que o INICIARE-26 apresenta 26 itens, a amostra foi de 130 pacientes88. Hair JF, Anderson RE, Tatham RL, Black WC. Análise multivariada de dados. 5. ed. Porto Alegre: Bookman; 2005..

Coleta de dados

As três primeiras etapas ocorreram no mês de maio de 2019. A etapa 4, revisão com os especialistas, ocorreu em 01 de junho de 2019. As coletas de dados da etapa 5 (pré-teste) e da validação foram realizadas no período de 06 de junho a 09 de julho de 2019. A coleta de dados foi realizada por dois enfermeiros assistenciais. Para tanto, receberam treinamento de uma hora quanto à aplicação do instrumento de coleta de dados e do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Após a primeira coleta, os enfermeiros aguardaram o período de uma hora para realizarem a segunda coleta, alternando os pacientes. Esse processo fez-se necessário para a realização do teste de equivalência (verifica os resultados entre pesquisadores diferentes) e do teste de estabilidade (verifica os resultados após a passagem do tempo).

Os coletadores aplicaram o instrumento nos pacientes selecionados, seguindo uma lista em ordem alfabética e em atenção aos que atendessem aos critérios de inclusão e exclusão. Nesse momento, foi possível verificar a compreensão dos itens traduzidos. O campo de observação localizado no final do instrumento poderia ser utilizados para informar sugestões que pudessem aprimorar a compreensão do instrumento. A caracterização clínica e demográfica (sexo, escolaridade, data de nascimento, CID principal, cidade de procedência) integrava o instrumento de coleta de dados utilizado na fase de validação. Além disso, o formulário de coleta continha o instrumento INICIARE-26 para o preenchimento. Cada item do instrumento é avaliado com uma escala tipo Likert, podendo pontuar do 1 ao 5. Os dois primeiros intervalos foram estabelecidos como indicadores de dependência e os dois últimos de independência. Os intervalos são rotulados como: 1 = Alta dependência de cuidados; 2 = Dependência moderada de cuidados; 3 = Risco de dependência de cuidados; e 4 = Independência de cuidados.

Análise e tratamento dos dados

A tabulação dos dados foi feita em planilhas no programa Excel for Windows, versão 2013, e, para as análises estatísticas, utilizou-se os programas SPSS 25.0 e AMOS, versão 18.0. As propriedades psicométricas foram avaliadas segundo a fidedignidade, estabilidade, equivalência e consistência interna dos itens pelo alfa de Cronbach.

Para avaliação da concordância entre os especialistas, foram aplicados os testes coeficiente de concordância Kappa de Fleiss e IVC (índice de validação de conteúdo), sendo estabelecido um ponto de corte de 0,78 abaixo do qual o item seria considerado inadequado99. George D, Mallery P. IBM SPSS statistics 25 step by step: a simple guide and reference. 15. ed. New York: Routledge; 2018.. Para a análise de estabilidade, foram utilizados o teste de Wilcoxon, o de Coeficiente de concordância Kappa de Cohen e o de Coeficiente de Correlação Interclasse (ICC). Para avaliar a confiabilidade das questões, utilizou-se o alfa de Cronbach. Foram considerados como valores de referência para interpretação um alfa > 0,7099. George D, Mallery P. IBM SPSS statistics 25 step by step: a simple guide and reference. 15. ed. New York: Routledge; 2018..

Aspectos éticos

Este estudo foi desenvolvido respeitando as exigências da Resolução n° 466/2012. O projeto foi aprovado pela Instituição da pesquisa e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (nº 3.373.889/2019).

RESULTADOS

Durante a primeira etapa de tradução, os tradutores tiveram divergências nas versões T1 e T2, em alguns itens. Os especialistas se reuniram, em presença do pesquisador, da orientadora da pesquisa e dos tradutores a fim de avaliar as equivalências da tradução. A média de idade dos especialistas foi de ± 40 anos (desvio padrão de 6,3) e o gênero feminino mostrou-se prevalente com 85,7% (n= 6). A titulação do grupo envolveu 2 doutores (28,6%), 2 mestres (28,6%) e 3 especialistas (42,9%) e o tempo de formação foi de ±16 anos.

Na fase de revisão, após a explicação inicial do pesquisador, o grupo pontuou os itens avaliando as equivalências semânticas. Na sequência, foram discutidos os itens com maior divergência, a partir do que foi definida uma versão considerada mais adequada. Os tradutores auxiliaram nas discussões nessa fase, esclarecendo dúvidas referentes aos itens e às traduções. Os itens que receberam alterações pelos especialistas são demonstrados no Quadro 1, abaixo:

Quadro 1 -
Itens que receberam alterações dos especialistas. Porto Alegre, Rio Grande Sul, 2019

O título da dimensão “Atividades de vida diária” proporcionou ampla discussão no que tange à manutenção da tradução “Actividades Instrumentales” por “Atividades de vida diária”. Entendeu-se que, no contexto brasileiro, a palavra “instrumentais” não faz parte do contexto prático na área da saúde. Dessa forma, o grupo manteve a versão sugerida pelos tradutores.

Os itens seguintes desencadearam discussões entre os especialistas. Por consenso, optou-se por manter a versão traduzida: “Padrão da eliminação fecal”; “Caminha com marcha eficaz”; “Ritmo respiratório”; “Muda de posição sozinho” e “Condutas de saúde”. Os itens “Preocupação sobre a doença ou lesão” e “Condutas que promovem a saúde” não geraram debate, mas foram pontuados na análise estatística.

Finalizada a versão brasileira do INICIARE-26, foram enviadas à autora do instrumento todas as versões produzidas no processo de adaptação transcultural. Também foi enviada a sugestão das enfermeiras que aplicaram o pré-teste. A autora aprovou a versão traduzida e discordou da sugestão enviada, argumentando que a alteração do item original para “Incontinência fecal” reverteria as pontuações, não sendo indicada sua alteração. Todavia, sugeriu que o item poderia ser traduzido como "Mantém o controle de eliminação fecal”. Após análise, optou-se por manter a versão inicialmente traduzida, apresentada na Figura 2:

Figura 2 -
INICIARE-26 versão brasileira.

Na fase de validação, dos 130 pacientes, 64,6% eram do sexo feminino e tinham a média de idade 59 ±15,3. 52,3% residiam em Porto Alegre e 33,8% possuíam nível superior completo. O diagnóstico prevalente, por capítulo da Classificação Internacional de Doenças versão 10 (CID 10), foi “XIII. Doenças sistema osteomuscular e tecido conjuntivo” perfazendo 18,5%.

Quanto ao tempo de aplicação, o INICIARE-26 contou com uma mediana de 2 (1-2) minutos. Foram excluídos dois pacientes que, após a primeira coleta, apresentaram alterações clínicas. Analisando a frequência de cada item, a dimensão “Atividade de vida diária” apresentou o maior número de itens com pontuação 1, enquanto todos os itens da dimensão “Condutas para a saúde” pontuaram acima de 90% como 5. A análise da consistência interna deu-se pelo alfa de Cronbach, pontuando 0,74 (total da escala). Os resultados do alfa de Cronbach estão expressos na Tabela 1:

Tabela 1 -
Resultados do alfa de Cronbach. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2019

Na dimensão “Respiração”, o alfa de Cronbach foi de 0,65. Se um dos itens for retirado, há uma variação no alfa que vai de 0,46 a 0,70. Um maior valor de alfa se atinge quando for retirado o item “Dispneia ao esforço”. Os valores de correlação variaram de 0,19 a 0,66, indicando correlações com magnitudes fortes e fracas.

Para a dimensão “Alimentação e Hidratação”, o alfa foi de 0,71. Se um dos itens for retirado, há uma variação de 0,63 a 0,74, sendo o item “Capacidade de mastigação” o mais significativo, o que eleva o alfa para 0,74. O mesmo item tem uma correlação fraca com o total do instrumento, ficando em 0,08.

A dimensão “Eliminação” teve o alfa mais baixo, de 0,59. Nessa dimensão, o item “Incontinência Urinária”, se for excluído eleva o alfa para 0,73. A correlação do item total menor foi de 0,17 e a maior de 0,54, indicando correlações fortes e fracas. Com relação à dimensão “Atividades de vida diária”, o alfa foi de 0,84. A exclusão do item “Integridade da pele” pode elevar discretamente o valor do alfa para 0,85, tendo uma correlação de 0,38. A última dimensão, “Condutas de saúde”, teve o melhor valor de alfa, ficando em 0,90. Internamente, nessa dimensão, a exclusão do item “Condutas que promovem a saúde” produz o alfa mais alto (0,91), e a correlação mais baixa foi de 0,61.

Para medir a estabilidade, dois avaliadores aplicaram o instrumento com intervalo de tempo de uma hora, alternando os pacientes. O resultado do Kappa, para esta medida, foi de 0,407. O ICC foi de 0,80 (intervalo de confiança de 95%, 0,30 - 0,82), não significativo.

DISCUSSÃO

As etapas de adaptação transcultural seguiram rigorosamente o recomendado pela literatura55. Moorhead S, Swanson EA, Johnson M, Maas ML. Nursing Outcomes Classification (NOC): measurement of health outcomes. 6. ed. St. Louis: Elsevier; 2016.. O uso do referencial empregado é apontado como o mais frequente e recomendado, além de ter reconhecimento internacional1010. Lino CRM, Brüggemann OM, Souza ML, Barbosa SFF, Santos EKA. The cross-cultural adaptation of research instruments, conducted by nurses in Brazil: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e1730017. doi: https://doi.org/10.1590/0104-07072017001730017
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,1111. Machado RS, Fernandes ADBF, Oliveira ALCB, Soares LS, Gouveia MTO, Silva GRF. Cross-cultural adaptation methods of instruments in the nursing area. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017-0164. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2017-0164
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. Em revisão integrativa, foram propostas recomendações para estudos dessa natureza, destacando a importância da escolha criteriosa do referencial metodológico cuja credibilidade envolve cumprir todos os estágios1010. Lino CRM, Brüggemann OM, Souza ML, Barbosa SFF, Santos EKA. The cross-cultural adaptation of research instruments, conducted by nurses in Brazil: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e1730017. doi: https://doi.org/10.1590/0104-07072017001730017
https://doi.org/10.1590/0104-07072017001...
. A tradução e adaptação de instrumentos pode reduzir custos, além de facilitar a inter-relação entre pesquisadores de diversos países22. Huber E, Kleinknecht-Dolf M, Kugler C, Spirig R. Patient-related complexity of nursing care in acute care hospitals - an updated concept. Scand J Caring Sci. 2021;35(1):178-95. doi: https://doi.org/10.1111/scs.12833
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.

As alterações feitas pelos tradutores foram mantidas pelos retrotradutores, conduta necessária como ferramenta para identificar possíveis discrepâncias nas traduções e para proporcionar uma comunicação com os autores originais do instrumento que está sendo traduzido1111. Machado RS, Fernandes ADBF, Oliveira ALCB, Soares LS, Gouveia MTO, Silva GRF. Cross-cultural adaptation methods of instruments in the nursing area. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017-0164. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2017-0164
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. Pequenos ajustes nessa etapa são comuns e indicados quando se está traduzindo um instrumento. Outros estudos já descreveram a necessidade de alteração das palavras traduzidas, buscando ajustar o instrumento à realidade da cultura brasileira1212. Arthur JP, Mantovani MF, Ferraz MIR, Mattei AT, Kalinke LP, Corpolato RC. Translation and cross-cultural adaptation of the hypertension knowledge-level scale for use in Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3073. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2832.3073
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,1313. Iwamizu JS, Dantas LEPBT. Tradução e adaptação transcultural de um instrumento para identificação do pergil motor de crianças entre 3 e 5 anos. J Phys Educ. 2018;29:e2921. doi: https://doi.org/10.4025/jphyseduc.v29i1.2921
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.

Os especialistas, num primeiro momento, pontuaram os itens conforme as equivalências e, na sequência, cada item foi revisado oralmente e em conjunto, recebendo ajustes por consenso. Esse processo está em consonância com a literatura, que considera importante associar estratégias qualitativas (opinião individual) e quantitativas (medidas estatísticas para ver a concordância) para agregar valor à análise de conteúdo1010. Lino CRM, Brüggemann OM, Souza ML, Barbosa SFF, Santos EKA. The cross-cultural adaptation of research instruments, conducted by nurses in Brazil: an integrative review. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e1730017. doi: https://doi.org/10.1590/0104-07072017001730017
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Na etapa de pré-teste, seguindo o realizado em outros trabalhos semelhantes1212. Arthur JP, Mantovani MF, Ferraz MIR, Mattei AT, Kalinke LP, Corpolato RC. Translation and cross-cultural adaptation of the hypertension knowledge-level scale for use in Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3073. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2832.3073
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-1414. Jozala DR, Oliveira ISF, Ortolan EVP, Oliveira Junior WE, Comes GT, Cassettari VMG, et al. Brazilian Portuguese translation, cross‐cultural adaptation and reproducibility assessment of the modified Bristol Stool Form Scale for children. J Pediatr. 2019;95(3):321-7. doi: https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.01.006
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, os enfermeiros foram orientados a sugerir alterações e a relatar qualquer tipo de incompreensão em relação aos itens do instrumento. Os enfermeiros-coletadores expressaram dúvidas em relação aos parâmetros para considerar o pior resultado (Likert 1) ou o melhor resultado (Likert 5). Eles destacaram como exemplo de dificuldade o item “Cianose”. Infere-se que isso se deva principalmente porque o INICIARE-26 é construído com indicadores da NOC e, com isso, pode ter sua compreensão prejudicada, uma vez que a NOC ainda não é largamente utilizada no contexto da enfermagem brasileira.

Uma alternativa indicada pela literatura, visando minimizar essas dificuldades, é a construção de definições conceituais e operacionais dos indicadores do INICIARE-26.

Tal afirmação consolida as recomendações de alguns estudos, na medida em que os indicadores NOC não possuem definições conceituais que favoreçam sua utilização, maximizem sua precisão e minimizem a subjetividade de cada avaliador1515. Silva NCM, Oliveira ARS, Carvalho EC. Knowledge produced from the outcomes of the “Nursing Outcomes Classification - NOC”: integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(4):104-11. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.04.53339
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. As definições permitem acompanhar os pacientes e identificar de forma rápida as alterações nos padrões1515. Silva NCM, Oliveira ARS, Carvalho EC. Knowledge produced from the outcomes of the “Nursing Outcomes Classification - NOC”: integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(4):104-11. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.04.53339
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,1616. Luzia MF, Argenta C, Almeida MA, Lucena AF. Conceptual definitions of indicators for the nursing outcome “Knowledge: Fall Prevention”. Rev Bras Enferm. 2018;71(2):431-9. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0686
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.

Na validação do estudo, a amostra de pacientes foi composta em sua maioria pelo sexo feminino, com nível superior completo e com mediana de idade de 59 anos. Tais achados são semelhantes a outros estudos que avaliaram complexidade de cuidados na população brasileira1717. Ferreira PC, Machado RC, Martins QCS, Sampaio SF. Classification of patients and nursing workload in intensive care: comparison between instruments. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):e62782. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.02.62782
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,1818. Souza AC, Alexandre NMC, Guirardello EB. Psychometric properties in instruments evaluation of reliability and validity. Epidemiol Serv Saúde. 2017;26(3):649-59. doi: http://doi.org/10.5123/s1679-49742017000300022
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. Entretanto, observou-se que a maioria dos pacientes não foram classificados como idosos, levando-nos a inferir que, pela exclusão de pacientes com limitação de sensório e sem presença de familiar, uma parcela específica dos pacientes não fora incluída na amostra. Vale ressaltar que, como foi dito anteriormente, o INICIARE-26 afere o grau de dependência de cuidado, o que poderá refletir melhor as características da população idosa. As escalas existentes, principalmente no Brasil, foram construídas, em sua maioria, pensando no conceito de complexidade assistencial, o que para algumas populações específicas pode não condizer com o realidade1919. Scherrer Júnior G, Mosquetto MS, Passos KG, Ernandes RDC, Alonso AC. Classificação da complexidade assistencial de idosos em instituições públicas. Rev Recien. 2018 [cited 2021 Jun 2];8(24):31-41. Available from: https://www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/171
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A análise do grau de dependência constatou um maior número de itens pontuados com 1 (pior condição) na dimensão “Atividades de vida diária”, especialmente nos itens “Veste-se sozinho” e “Higieniza-se sozinho”. A presença dessas necessidades tem importante impacto nos cuidados, fator deliberado na dependência dos cuidados de enfermagem. Em estudo que buscou identificar a relação entre diagnósticos de enfermagem e nível de dependência de pacientes para atividade de vida diária de idosos, os pesquisadores validaram que, entre os 52 diagnósticos encontrados nos pacientes pesquisados, 11 foram associados ao nível de dependência para atividades de vida diária2020. Dias KM, Herdman TH, Ferretti-Rebustini REL, Lopes CT, Santos ER. Relationships between nursing diagnoses and the level of dependence in activities of daily living of elderly residents. Einstein. 2020;18:eAO5445. doi: https://doi.org/10.31744/einstein_journal/2020AO5445
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CONCLUSÃO

Na avaliação do comitê de especialistas, a versão para o português do Brasil manteve as equivalências semânticas, culturais e conceituais, bem como os IVC e Kappa de Fleiss apresentaram valores adequados. O instrumento INICIARE-26 se mostrou preliminarmente adequado para uso no Brasil, indicando que, na população estudada, há maior grau de dependência de cuidados, sugerindo ser uma ferramenta que reflete a prática diária.

Cabe destacar ainda que a não utilização da NOC na prática clínica pode ter influenciado os enfermeiros na pontuação do instrumento, embora o treinamento com relação ao INICIARE-26 tenha sido realizado. Pode-se, em linhas gerais, considerar tal aspecto uma limitação do estudo. Por fim, o estudo mostrou-se relevante em três pontos. Primeiramente, quanto ao ensino, uma vez que estudantes poderão fazer uso de instrumento que afere a dependência do paciente ao mesmo tempo que são inseridos em um sistema de linguagem da enfermagem. Em seguida, quanto à prática da pesquisa no campo da Enfermagem, já que possibilitará futuros estudos de aprimoramento do instrumento, além de comparação entre diversas realidades nacionais e internacionais.

Finalmente, quanto à assistência, o INICIARE-26 possibilitará o uso da NOC na prática clínica, o que permite melhor indicar o quanto o paciente é dependente dos cuidados da enfermagem, assim como, qualificar o cuidado. No contexto em que o uso de taxonomias de enfermagem vem aumentando como método de formalização do registro do Processo de Enfermagem, disponibilizar um instrumento que agregue a capacidade de avaliar a dependência do cuidado associado ao uso da NOC qualifica, fundamenta e descomplexifica a assistência.

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Editado por

Editor associado:

Cecília Helena Glanzner

Editor-chefe:

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2021
  • Aceito
    23 Mar 2022
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