Acessibilidade / Reportar erro

A colaboração internacional na agenda da Enfermagem nos próximos decênios


A sociedade demanda dos profissionais de saúde a responsabilidade de desenvolver, manter e otimizar tanto a qualidade do cuidado prestado aos cidadãos, como a integridade do sistema de saúde como um todo. A constante mutação do contexto de saúde, com aumento de custos econômicos e sociais, em paralelo aos cortes financeiros no setor de saúde em todos os países do mundo, exige a proposição de novas soluções para responder de maneira eficaz e eficiente a essas demandas da sociedade. A colaboração internacional é uma ferramenta útil neste contexto, pois é reconhecida por aumentar a capacidade de abordar problemas complexos a partir de uma diversidade de perspectivas, permitindo identificar questões de pesquisa abrangentes que consideram as disparidades em saúde, as particularidades dos diferentes sistemas de saúde, da mesma maneira que a influência cultural em todos os âmbitos da saúde, além de fomentar o desenvolvimento de habilidades de pesquisa. Se bem estabelecida, seus resultados têm o poder de influenciar os tratamentos de saúde no mundo todo, ao informar adequadamente os formuladores de políticas de saúde e assim, contribuir para a promoção e o restabelecimento da saúde, assim como o bem-estar e conforto da população em geral, incluindo os vulneráveis e marginalizados.

As universidades assim como as organizações e associações profissionais têm um papel fundamental na promoção e condução da colaboração internacional, pois esta agenda comum precisa ser baseada e gerar evidências científicas, colocando a pesquisa no cerne destas colaborações. Além disso, as universidades têm o papel de formar enfermeiros engajados na prestação de cuidado baseado em evidências, com espírito aberto à internacionalização. Por meio dos programas de pós-graduação, a promoção de parcerias incluindo alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, forma pesquisadores com as ferramentas necessárias para estabelecer parcerias futuras. A universidade tem ainda um papel central de catalisar a reunião não somente de pesquisadores, mas também de profissionais, de gestores e dos usuários do sistema de saúde na determinação conjunta das prioridades de ação, na avaliação da pertinência e adequação das estratégias propostas e na avaliação dos resultados obtidos, transformando-os em recomendações para a prática clínica.

O potencial de sucesso de tal parceria depende de planejamento cuidadoso e estratégico11. Sigma Theta Tau International [Internet]. Guidelines for International Collaborative Research. International Research Committee [Access Aug 16, 2016]. 2003. Available from: https://www.nursingsociety.org/docs/default-source/research-documents/guidelines_icr.pdf?sfvrsn=0
https://www.nursingsociety.org/docs/defa...
, que inclui o estabelecimento dos benefícios esperados com o projeto, assim como, sua viabilidade do ponto de vista financeiro. Fontes comuns de financiamento são possíveis, mas como tais editais são relativamente limitados e por vezes específicos, é indispensável que as partes implicadas se lancem à busca de financiamentos locais. A seguir, é imprescindível a avaliação das diferenças de linguagem e culturais para evitar que elas representem barreiras para a comunicação eficaz. As diferenças entre culturas e o que dela deriva, como políticas, valores e mesmo as exigências e procedimentos relativos aos aspectos éticos da pesquisa devem ser considerados e respeitados. Os papéis e a responsabilidade de cada membro da equipe devem ser bem definidos de maneira a explorar e maximizar o potencial de cada um e serem revisados, se preciso, para atender as necessidades do projeto ao longo de sua implementação, exigindo capacidade de adaptação e flexibilidade dos membros da equipe. De maneira interessante, alguns autores22. Bender A, Guruge S, Aga F, Hailemariam D, Hyman I, Tamiru M. International research collaboration as social relation: an Ethiopian-Canadian example. Can J Nurs Res. 2011; 43(2):62-75. referem-se às perspectivas teóricas de Habermas et de Piaget, respectivamente de manifestação de relações sociais e de construção do conhecimento, para a análise das interações complexas implícitas entre os atores neste tipo de colaboração, da mesma maneira que de seus resultados, que devem ser examinados à luz de sua significância e aplicabilidade na prática clínica, assim como sua relevância na produção de conhecimento. A disseminação dos resultados da pesquisa é mandatória, assim como a avaliação de possíveis extensões do projeto ou de novos estudos derivados do projeto.

Na enfermagem, vários artigos, na última década, reforçam a importância da colaboração internacional para incrementar a qualidade da produção científica e melhor responder às demandas de saúde. Muitas universidades têm estabelecido projetos de colaboração internacional ampla ou específica entre faculdades. Outra maneira de buscar e promover tal colaboração é a associação às redes de pesquisa que objetivam promover essas parcerias. Entre as redes, de maneira não exaustiva, podemos mencionar como exemplos no contexto europeu, The European Academy of Nursing Science* * http://www.european-academy-of-nursing-science.com/ e o Researching Complex Interventions for Nursing (REFLECTION)** * *http://www.esf.org/coordinating-research/research-networking-programmes/biomedical-sciences-med/current-esf-research-networking-programmes/researching-complex-interventions-for-nursing-reflection.html , e no Canadá, o Quebec Nursing Intervention Research Network (RRSIQ)*** *** http://rrisiq.com/en/home . As metas dessas redes se coadunam na proposição de uma rede interdisciplinar em enfermagem para o estímulo e suporte ao desenvolvimento e aplicação de conhecimento que responda às demandas de saúde da sociedade. O conhecimento assim como a integração a essas redes podem criar oportunidades interessantes de participar ao desenvolvimento de pesquisas inovadoras com impacto potencial sobre a saúde das populações.

References

  • 1
    Sigma Theta Tau International [Internet]. Guidelines for International Collaborative Research. International Research Committee [Access Aug 16, 2016]. 2003. Available from: https://www.nursingsociety.org/docs/default-source/research-documents/guidelines_icr.pdf?sfvrsn=0
    » https://www.nursingsociety.org/docs/default-source/research-documents/guidelines_icr.pdf?sfvrsn=0
  • 2
    Bender A, Guruge S, Aga F, Hailemariam D, Hyman I, Tamiru M. International research collaboration as social relation: an Ethiopian-Canadian example. Can J Nurs Res. 2011; 43(2):62-75.
  • *
    http://www.european-academy-of-nursing-science.com/
  • *
    *http://www.esf.org/coordinating-research/research-networking-programmes/biomedical-sciences-med/current-esf-research-networking-programmes/researching-complex-interventions-for-nursing-reflection.html
  • ***
    http://rrisiq.com/en/home

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br