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O desempenho da pós-graduação stricto sensu em Enfermagem e a busca pela excelência

EDITORIAL

O desempenho da pós-graduação stricto sensu em Enfermagem e a busca pela excelência

Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi

Membro da Comissão de Editoração da Revista Latino-Americana de Enfermagem, e Professor Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, Brasil. E-mail: avrmlccr@eerp.usp.br

No último mês de setembro, foi divulgado o resultado da avaliação trienal, organizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) dos cursos de pós-graduação stricto sensu brasileiros, realizada por representantes de diversas áreas de conhecimento existentes no país.

Na área de Enfermagem, foi constatado o crescimento e o fortalecimento dos cursos de pós-graduação nacionais e a preocupação quanto aos programas em manter e/ou aumentar os seus conceitos, visando maior visibilidade.

Na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), os conceitos mantiveram-se e/ou ascenderam e, atualmente, esta instituição conta com dois programas de pós-graduação, avaliados com nota 6 (a maior até o momento obtida pela pós-graduação da Enfermagem nacional), sendo esses programas Enfermagem Fundamental – que manteve a nota já obtida em avaliação trienal anterior e Enfermagem em Saúde Pública, que ascendeu de 5 para 6. Os demais (Enfermagem Psiquiátrica e Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem, desenvolvido pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, juntamente com a EERP-USP) mantiveram suas notas 5, conforme avaliação anterior. Esse excelente desempenho é consequente de esforços coletivos dos orientadores e seus orientados, da dedicação e empenho dos coordenadores dos programas e da Comissão de Pós-Graduação, na melhor condução possível dos mesmos; do apoio institucional, incluindo-se o da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, entre outros elementos contributivos.

Em relação à área de Enfermagem no Brasil, na avaliação de 2004/2006, os 32 programas existentes na época obtiveram os seguintes conceitos: 13 com três (40,6%), nove com conceito 4 (28,1%), nove com 5 (28,1%) e um com 6 (3,1%)(1). Na avaliação recentemente finalizada (2007/2009), os resultados de 41 programas foram: 31,4% com conceito 3; igual percentual com conceitos 4 e 5 e, ainda, 5,7% com conceito 6(2). Tais resultados demonstram o crescimento da área tanto em quantidade como qualidade.

É fato que a Enfermagem brasileira ganha espaço e se consolida na formação de recursos humanos em pesquisa com a titulação de mestres em ciência da enfermagem, desde o início da década de 70, e de doutores, no começo dos anos 80. Vem crescendo em número de programas stricto sensu e expansão de cursos, assim como na qualidade da produção de conhecimentos científicos ou tecnológicos avançados, publicados em periódicos de impacto e na formação de recursos humanos qualificados. Os programas existentes encontram-se estruturados com áreas de concentração centradas na disciplina da Enfermagem, consolidada na sua unidade e especificidade de campo de conhecimento. Os 41 programas stricto sensu em Enfermagem, credenciados pela CAPES, representam 38 Cursos de Mestrado Acadêmico, 21 Cursos de Doutorado e três na modalidade Mestrado Profissional(2).

Sabe-se, no entanto, que muito ainda há para ser feito, coletivamente, para incrementar e fortalecer a área de Enfermagem no país. Entre os muitos desafios, enumera-se: maior empenho na busca pelos titulados, objetivando conhecer em quais setores do mercado de trabalho foram absorvidos; maior esforço relacionado ao processo de internacionalização, na busca da excelência já alcançada pela pós-graduação em Enfermagem nos países mais desenvolvidos; maior capacidade de captação de recursos financeiros para a concretização de projetos que auxiliem o desenvolvimento e fortalecimento das linhas de pesquisa; melhor capacitação do corpo docente da pós-graduação stricto sensu com o incremento de programas de pós-doutoramentos em centros de excelência no exterior; maior esforço coletivo na formação de doutores, porque, ainda que o seu crescimento tenha sido importante(3), ainda há carência em muitas regiões do país. Ressalta-se que, apesar de constatado o incremento da produção científica(3), é necessário que ela tenha maior visibilidade, por meio de publicação em periódicos estrangeiros, com destacados fatores de impacto.

Outro aspecto importante e que merece, sobremaneira, ser assinalado é a necessidade de existir melhor distribuição geográfica de programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil, já que há perversa distribuição assimétrica dos mesmos, a exemplo do que também ocorre em outras áreas(4), com importante concentração na Região Sudeste, em detrimento das demais.

Trabalho árduo, esforço coletivo, solidariedade dos programas mais fortes aos que se encontram em desenvolvimento, mais recursos por parte dos órgãos competentes e maior empenho das universidades, certamente se constituem em etapas a serem percorridas para que os desafios possam ser alcançados e os problemas ainda existentes, na área de Enfermagem do país, minimizados. A construção coletiva de um plano de metas nacional da pós-graduação stricto sensu em Enfermagem, com objetivos precisos e consensuados entre representantes, coordenadores, docentes e pós-graduandos, com prazos efetivamente sendo cumpridos, talvez possa se constituir em um dos passos a ser percorrido para que, no futuro, a maioria dos programas de pós-graduação no Brasil alcancem a desejada excelência.

A Revista Latino-Americana de Enfermagem, como órgão de divulgação científica da EERP-USP e do Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, tem contribuído, sobremaneira, para a difusão do conhecimento produzido na pós-graduação em Enfermagem.

Referências

1. Capes. Relatório Anual: Avaliação Continuada – 2006 - Ano Base 2005. Área de Avaliação: enfermagem. 2006, 7 p. [acesso 25 set 2010]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/DocArea_Enfermagem_Anobase2005.pdf

2. Capes. Documento de Área 2009. Área de Avaliação: Enfermagem. 13 p. [acesso 25 set 2010]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/ENFERMAGEM_22jun10b.pdf.

3. Rodrigues RAP, Erdmann AL, Silva IA, Fernandes JD, Araújo TL, Vianna LAC, et al. Doctoral education in nursing in Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. ago 2008. [acesso 27 set 2010];16(4):665-71. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692008000400003&lng=en&nrm=iso&tlng=en

4. Carvalheiro JR. Janus bifronte e a pós-graduação. Ciênc Saúde Colet. 2010;15(4):1908-16.

  • 1
    Capes. Relatório Anual: Avaliação Continuada – 2006 - Ano Base 2005. Área de Avaliação: enfermagem. 2006, 7 p. [acesso 25 set 2010]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/DocArea_Enfermagem_Anobase2005.pdf
  • 2
    Capes. Documento de Área 2009. Área de Avaliação: Enfermagem. 13 p. [acesso 25 set 2010]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/ENFERMAGEM_22jun10b.pdf
  • 4. Carvalheiro JR. Janus bifronte e a pós-graduaçăo. Cięnc Saúde Colet. 2010;15(4):1908-16.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2010
  • Data do Fascículo
    Out 2010
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