Acessibilidade / Reportar erro

A expressividade do docente universitário durante sua atuação na sala de aula: análise dos recursos verbais utilizados e suas implicações para a enfermagem

Resumos

A expressividade é a capacidade de o indivíduo tornar vivo seu pensamento pela linguagem e pela expressão corporal, permitindo a transmissão de informações de modo efetivo. O presente estudo objetivou investigar a expressividade do docente universitário de enfermagem ministrando aula, em relação aos seus recursos verbais, a partir do julgamento dos alunos. Trata-se de investigação descritiva, quantitativa, desenvolvida em uma instituição de ensino superior, para a qual foram utilizados instrumentos específicos de avaliação da expressividade. Realizou-se a filmagem de uma aula do referido docente, que foi primeiramente avaliado por três experts fonoaudiólogos e, depois, submetido ao julgamento por parte de 141 alunos que não haviam tido contato prévio com o mesmo. Os resultados mostraram que alunos e experts foram concordantes em seu julgamento sobre as habilidades expressivas do professor universitário de enfermagem, o que comprovou a capacidade e a propriedade dos discentes na avaliação dessa habilidade de comunicação.

Comunicação; Docentes de Enfermagem; Fonoaudiologia


Expressiveness is the ability of individuals to make their thoughts alive through language and body, effectively transmitting information. This study investigated the expressiveness of a university professor during nursing classes in relation to verbal resources from the perspective of students. This descriptive and quantitative study was carried out in a Higher Education Institution using specific instruments to assess expressiveness. The professor's class was video recorded and the video was first assessed by three speech and language experts and later assessed by 141 students with whom he had no previous contact. The results reveal that students and experts agreed in relation to the professors' expressive skills, which proved the ability of students to evaluate this communication skill.

Communication; Teacher of Nursing; Speech; Language and Hearing Sciences


La expresividad es la capacidad del individuo de tornar vivo su pensamiento por medio del lenguaje y por la expresión corporal, permitiendo la transmisión de informaciones de modo efectivo. El presente estudio objetivó investigar la expresividad del profesor universitario de enfermería dando clases en relación a sus recursos verbales, a partir de la evaluación de los alumnos. Se trata de investigación descriptiva, cuantitativa, desarrollada en una Institución de Enseñanza Superior, para lo cual fueron utilizados instrumentos específicos de evaluación de la expresividad. Se realizó una película de una clase del referido profesor, que fue primeramente evaluada por tres expertos fonoaudiólogos y después sometida a evaluación por parte de 141 alumnos que no habían tenido contacto previo con el mismo. Los resultados mostraron que alumnos y expertos coincidieron en su evaluación sobre las habilidades expresivas del profesor universitario de enfermería, lo que comprobó la capacidad y la propiedad de los estudiantes en la evaluación de esa habilidad de comunicación.

Comunicación; Docentes de Enfermería; Fonoaudiología


ARTIGO ORIGINAL

A expressividade do docente universitário durante sua atuação na sala de aula: análise dos recursos verbais utilizados e suas implicações para a enfermagem1 1 Artigo parte da Dissertação de Mestrado "O julgamento da expressividade do professor universitário de enfermagem ministrando aula" apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil.

Cristiane Conceição RomanoI; Liliana Amorim AlvesI; Iara Aparecida de Oliveira SeccoII; Lilian Neto Aguiar RiczIII; Maria Lúcia do Carmo Cruz RobazziIV

IFonoaudióloga, Doutoranda em Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: Cristiane - cristianeromano@yahoo.com.br, Liliana - liliana@eerp.usp.br

IIEnfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor, Universidade Norte do Paraná, PR, Brasil. Hospital Universitário, Universidade Estadual de Londrina, Paraná, PR, Brasil. E-mail: iarasecco@sercomtel.com.br

IIIFonoaudióloga, Doutor em Medicina, Professor Doutor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. E-mail: liricz@fmrp.usp.br

IVEnfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor Titular, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: avrmlccr@eerp.usp.br

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Departamento de Enfermagem Geral e Especializada Av. dos Bandeirantes, 3900 Bairro: Monte Alegre CEP 14040-902, Ribeirão Preto, SP, Brasil E-mail: avrmlccr@eerp.usp.br

RESUMO

A expressividade é a capacidade de o indivíduo tornar vivo seu pensamento pela linguagem e pela expressão corporal, permitindo a transmissão de informações de modo efetivo. O presente estudo objetivou investigar a expressividade do docente universitário de enfermagem ministrando aula, em relação aos seus recursos verbais, a partir do julgamento dos alunos. Trata-se de investigação descritiva, quantitativa, desenvolvida em uma instituição de ensino superior, para a qual foram utilizados instrumentos específicos de avaliação da expressividade. Realizou-se a filmagem de uma aula do referido docente, que foi primeiramente avaliado por três experts fonoaudiólogos e, depois, submetido ao julgamento por parte de 141 alunos que não haviam tido contato prévio com o mesmo. Os resultados mostraram que alunos e experts foram concordantes em seu julgamento sobre as habilidades expressivas do professor universitário de enfermagem, o que comprovou a capacidade e a propriedade dos discentes na avaliação dessa habilidade de comunicação.

Descritores: Comunicação; Docentes de Enfermagem; Fonoaudiologia.

Introdução

A palavra comunicação originada do latim communicatione (comum) significa participar, pôr em comum, ação em comum, relacionar-se com seres vivos e conscientes, tornar algo comum entre seres, sejam informações, sensações ou emoções, entre outros(1). Por meio de diversas conexões e troca de informações, no processo de comunicação, a mensagem é conduzida e compreendida e possibilita o aprendizado, a resolução de atividades, a motivação, a cooperação, obtendo assim melhores resultados nos ambientes de trabalho(2). Indivíduos com habilidades comunicativas apresentam a interação de vários elementos segmentais (vogais e consoantes) e prosódicos (ritmo, entonação, qualidade da voz, taxa de elocução, pausas e padrões de acento) e das relações estabelecidas entre som e sentido(3). Por meio dessa interação conseguem transmitir a mensagem com qualidade, criando, ainda, inter-relação entre emissor e receptor.

A comunicação é processo que se encontra relacionado à expressividade. A pessoa expressiva é comunicativa, possui capacidade de trocar ideias, conversar, dialogar e comunicar adequadamente as informações. A expressividade, então, é considerada a qualidade do que é expressivo e pertence ao processo de comunicação, sendo dele inseparável(3). É a capacidade de o indivíduo tornar vivo seu pensamento pela linguagem e pela expressão corporal e, assim, procurar argumentos que suscitam no outro a vontade de pensar junto e construir uma ideia(4); é a forma de utilizar os recursos comunicativos, podendo gerar impressões negativas ou positivas agradáveis ou não ao ouvinte(5). Está relacionada às emoções e atitudes do falante; o modo pelo qual a pessoa fala e gesticula (a expressão que imprime ao que quer dizer) vai refletir sua atitude diante do assunto explanado e, sem dúvida, vai expressar as suas emoções(6).

Há profissões em que é necessária exigência maior no uso da comunicação e da expressividade e entre elas encontra-se a do professor, que deve transmitir seu conteúdo didático de maneira efetiva aos alunos.

No ensino universitário, o professor tem diante de si o desafio de preparar profissionais para que sejam cidadãos qualificados, que pensem, reflitam e sejam capazes de realizar análises críticas. Para tal, há necessidade de existir relação com os alunos que poderá ser conquistada, entre vários elementos, por meio de um processo de comunicação com qualidade, ou seja, com expressividade, uma vez que ela também é responsável pela facilitação do processo de aprender por parte do aluno. Com boa expressividade apresentada pelo docente, o aluno, possivelmente, ficará mais atento e assimilará melhor o conteúdo ministrado. Entretanto, na formação do professor, pouca atenção tem sido direcionada à preparação específica para suas práticas de sala de aula. Na universidade, a falta de preocupação com a didática desse profissional pode se relacionar a uma das lacunas encontradas na sua formação, ou seja, o desconhecimento sobre a importância de sua performance no ensino(6). Essa formação é apontada, então, como um dos principais fatores que podem levar à melhoria da qualidade do ensino.

Na enfermagem, essa formação deve ser solidificada com base no domínio de conhecimentos científicos e na atuação investigativa no processo de ensinar e aprender; a tarefa do professor é se apropriar do instrumento científico, técnico, tecnológico, de pensamento, político, social e econômico e de desenvolvimento cultural para que seja capaz de pensar e gestar soluções. Sua prática deve superar o simples ato de transmitir informações; além da competência técnica e científica é indispensável preparação com comprometimento político(7).

Se ele, entretanto, não for comunicativo e não apresentar expressividade, dificilmente conseguirá transmitir o seu conhecimento, mesmo que o domine de maneira competente. No contexto da sala de aula, a expressividade vai comandar a interação entre mestre e discípulos, facilitando a transmissão do conhecimento(6).

Acresce-se que em uma profissão – como a enfermagem – em que se lida com clientes, os quais, muitas vezes, dependem de assistência complexa, não deve haver prejuízos na construção do conhecimento durante a formação do futuro enfermeiro, para que não haja possibilidades de acontecer danos aos pacientes que ficarão sob seus cuidados.

Assim, a expressividade pode ser um elemento a ser avaliado, servindo de "termômetro" ao professor, já que se ele for inexpressivo pode prejudicar o processo ensino/aprendizagem. Considerando, então, que, durante o processo de formação do aluno na universidade, ele não se deve colocar, apenas, como mero espectador, mas sim como participante ativo, a avaliação que ele faz do ensino que recebe e do professor que o transmite pode permitir a esse professor o conhecimento dos elementos necessários para redirecionar sua expressividade, treinando maneiras de torná-la mais adequada.

A relevância deste estudo encontra-se no fato de o tema ser pouco abordado, na literatura consultada, havendo reduzido número de investigações tratando da expressividade do professor de ensino superior, tanto de enfermagem como de outras profissões da área da saúde. Elaborou-se, então, a seguinte questão norteadora: o docente de ensino superior de Enfermagem, por meio da utilização de seus recursos verbais transmite, de maneira expressiva, o conteúdo a ser ministrado aos seus alunos?

Acredita-se que o estudante universitário de enfermagem consegue elaborar avaliação apropriada do professor em seu contato na sala de aula; dessa forma, o julgamento desse aluno, sobre as habilidades expressivas do professor, pode apresentar compatibilidade com a avaliação de experts fonoaudiólogos. Diante do exposto, o presente estudo objetivou avaliar a expressividade do professor universitário de enfermagem ministrando aula, em relação aos seus recursos verbais e o julgamento de experts e dos alunos voltados às suas habilidades expressivas.

Método

Estudo de abordagem quantitativa, descritivo, realizado na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo e desenvolvido em uma instituição de ensino superior (IES) de ensino de enfermagem, composta, em sua maioria, por profissionais da área da saúde, notadamente enfermeiros. Em 2010, havia 96 professores em exercício ativo na instituição, todos responsáveis por disciplinas de graduação. Na ocasião da coleta de dados, havia 567 alunos de graduação matriculados, distribuídas entre oito semestres dos cursos de bacharelado e dez semestres do curso de licenciatura (325 do curso de bacharelado e 242 do curso de licenciatura).

Os participantes do estudo foram docentes e graduandos de enfermagem da IES. Quanto aos docentes, os critérios de inclusão propostos para a sua seleção foram: pertencer ao corpo docente efetivo da IES, estar em atividade acadêmica regular, trabalhar há mais de um ano na instituição, não ser conhecido pelos alunos, por ministrar conteúdos teórico-práticos em semestres posteriores aos cursados pelo grupo de alunos participantes do estudo e consentir em participar da pesquisa. Após o estabelecimento desses critérios, foram contatados três professores da IES, todos enfermeiros, que seriam analisados quanto à sua expressividade ao ministrar aulas. No entanto, um recusou, o outro aceitou fazer parte do estudo, configurando-se, então, como professor participante (PP) e o terceiro constituiu-se no professor teste (PT), que concordou nessa participação, na condição de apenas ser realizada a confiabilidade de um questionário por parte dos experts fonoaudiólogos.

Em relação aos alunos, os critérios de inclusão propostos para a sua seleção foram: ser aluno regular da IES, estar matriculado em disciplinas do primeiro ao quarto semestre dos cursos de bacharelado e licenciatura, desconhecer os professores que seriam avaliados quanto a sua expressividade e consentir em participar da pesquisa. Obedecidos tais critérios, o número de sujeitos inicialmente era 167, todos matriculados no primeiro ou segundo ano dos dois cursos existentes na IES, totalizando quatro turmas. As turmas 1 e 2 foram compostas por alunos dos primeiros anos, tanto do curso de bacharelado como do curso de licenciatura; as turmas 3 e 4 foram constituídas por alunos dos segundos anos, de ambos os cursos. Esses alunos representam 29,45% em relação ao número total de graduandos da IES e 64,23% em relação ao número total de graduandos de primeiro e segundo ano.

Ressalta-se que, no processo de coleta de dados deste estudo, uma turma, representada por 26 discentes, foi desconsiderada, por ser constatada a ocorrência de viés na ocasião da coleta de dados (os alunos estavam ansiosos pela entrega rápida dos questionários e para deixar a sala de aula, não se atentando às perguntas do questionário entregue para avaliar a expressividade do professor). Diante desse fato a amostra foi, então, constituída por 141 alunos, representando 24,8% dos 567 matriculados na IES e 54,23% em relação ao total de 260 alunos de primeiro e segundo ano.

Para a operacionalização do presente estudo, foram estabelecidas as etapas, mostradas a seguir.

Etapa 1 - Preparo dos instrumentos: foi utilizado o protocolo de avaliação fonoaudiológica (PAF) como instrumento básico para avaliação da expressividade do professor(8). Esse protocolo é subdividido em três itens que são: recursos verbais, recursos vocais e recursos não verbais. Neste estudo foi utilizado apenas o item dos recursos verbais (tipo de voz, ataque vocal, loudness, pitch, articulação, velocidade de fala, coordenação pneumofonoarticultória).

Foi, então, preparado o instrumento denominado Questionário de Avaliação do Aluno (QAA1) para os estudantes responderem, devidamente adaptado do PAF(8), por se considerar que poderiam apresentar dificuldades na compreensão dos termos específicos utilizados na linguagem fonoaudiológica. O QAA1 contém questões de múltipla escolha, fechadas, abordando perguntas do PAF(8), objetivando-se identificar o julgamento dos alunos em relação aos recursos verbais. O aluno deveria marcar a resposta que achasse mais conveniente.

Etapa 2 – Confiabilidade do Questionário de Avaliação do Aluno (QAA1) por meio da avaliação da filmagem do professor teste (PT): constou da confiabilidade do QAA1. Para tanto, foram estabelecidos contatos com três fonoaudiólogos experts, convidados a participar do estudo como juízes do instrumento QAA1. Foi realizada filmagem, por um técnico da instituição, com duração de uma hora, do PT ministrando uma aula, a um grupo de alunos, com seu prévio consentimento e dos estudantes, em sala com 80 alunos, os quais não fizeram parte desta pesquisa. Após, o filme foi editado segundo os seguintes critérios: selecionaram-se dois minutos no início, dois no meio e dois no fim e converteu-se em um DVD (disco digital de vídeo), totalizando seis minutos de gravação.

Esse vídeo em DVD foi enviado para os experts previamente contatados, juntamente com o instrumento QAA1, tendo sido esse material avaliado, por eles. Entre a entrega do material e a sua devolução, o tempo gasto para tal avaliação foi de um mês. As observações que os experts realizaram foram acatadas, originando o instrumento modificado, denominado QAA2.

Etapa 3 - Avaliação do professor participante (PP) pelos experts, segundo o PAF: foi realizada a filmagem do PP ministrando uma aula de duas horas aos alunos do último ano do curso de bacharelado da IES. Essa filmagem foi feita por um técnico da instituição; após, o filme do PP foi editado da mesma forma que o filme do PT, totalizando seis minutos, também foi gravado em DVD tendo sido encaminhado aos experts que avaliaram tal filmagem, segundo os recursos verbais do PAF(8). A devolução desse material avaliado ocorreu após um mês.

Etapa 4 - Avaliação do PP pelos alunos segundo o instrumento QAA2: o instrumento QAA2 foi aplicado, em quatro turmas de alunos matriculados na IES, sendo o primeiro e segundo ano do curso de bacharelado e o primeiro e segundo ano do curso de licenciatura dessa IES. A escolha dessas turmas ocorreu, conforme já mencionado anteriormente, devido ao fato de o PP ainda não ministrar aulas para os mesmos. A coleta dos dados foi realizada durante 30 minutos (min) nas salas de aulas das turmas 1 a 4, após prévia autorização dos professores que iriam ministrar aulas. Na maioria das salas, o professor cedeu 30min após o primeiro intervalo de 1hora e 30min a 2 horas (h) de aula ministrada (turmas 1 a 3); no entanto, o professor responsável pela aula para a turma 4 cedeu esse tempo somente no final de sua aula. Foi identificado que nas turmas 1 a 3, os alunos demoraram, em média, de 25 a 30min para as respostas, enquanto que a turma 4 gastou 10min, constatando-se que, além da rapidez na resposta ao QAA2, várias respostas estavam faltantes.

Nessas salas, a primeira autora deste estudo, fonoaudióloga, em contato com os alunos obedeceu a sequência descrita a seguir: apresentação dos objetivos do estudo, distribuição do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e recolhimento dos mesmos, assinados; distribuição do questionário QAA2 e explicação sobre o seu preenchimento; apresentação da primeira exibição do vídeo do PP em DVD; reapresentação do vídeo, caso fosse necessário; solicitação de resposta ao questionário, sem sua interferência e recolhimento dos mesmos e agradecimento aos alunos pela participação. Antes da realização da coleta de dados, a proposta do estudo foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa da IES, sob nº0517/2005, e aprovada. Todos os participantes (alunos, PP e PT) foram esclarecidos e assinaram o TCLE de participação voluntária na pesquisa, conforme recomenda a Resolução 196/96 do Ministério da Saúde(9).

Resultados

O PT é enfermeiro, com idade superior a 50 anos, com experiência em ensino, pesquisa e extensão e há mais de 30 anos no exercício da docência na IES; o PP igualmente é enfermeiro, com idade superior a 40 e inferior a 50 anos, trabalha há 8 anos na IES e possui experiência de ensino, além de extensão e pesquisa.

Os alunos, em sua grande maioria, são mulheres (acima de 90%) e jovens (idades entre 18 e 23 anos) e são dos cursos de licenciatura e bacharelado

A identificação da expressividade do professor de enfermagem, conforme a avaliação dos três experts fonoaudiólogos - segundo os recursos verbais do protocolo de avaliação fonoaudiológica (PAF)(8) - sobre a filmagem do PP, foi a que se segue: tipo de voz - neutra, loudness - médio, pitch - agudo, articulação - precisa, velocidade de fala – média.

Os dados da identificação da expressividade desse professor, segundo a avaliação dos recursos verbais, realizada pelas três turmas de alunos de enfermagem, bem como a comparação com a opinião dos experts encontram-se sumarizados nas figuras apresentadas a seguir. A existência de diferenças entre a avaliação da expressividade do PP, realizada por experts fonoaudiólogos e pelos estudantes, pode ser percebida por meio das frequências apresentadas em tais figuras. Informa-se que as barras de erro representam o erro padrão e o asterísco (*) indica que a alternativa escolhida pela maioria dos alunos é significativamente maior que as demais (a=0,05).

Discussão

A expressividade do PP, conforme a avaliação de experts fonoaudiólogos, em relação aos recursos verbais (tipo de voz, loudness, pitch, articulação, velocidade de fala), mostrou poucas discordâncias, constatando-se homogeneidade de informações entre eles e indicando o embasamento profissional similar de cada um. No caso específico deste estudo, os experts eram fonoaudiólogos, com idades entre 40 e 60 anos e apresentavam experiência profissional semelhante, trabalhando com voz profissional, principalmente em rádio/TV, tendo importante experiência com a expressividade.

A Figura 1 mostra que a resposta escolhida pela maioria dos alunos de enfermagem é significativamente maior que as demais e concordante com os fonoaudiólogos, ou seja, ambos os grupos (alunos e experts) não identificaram alterações no tipo de voz do PP. Sabe-se que há a presença de queixas vocais e disfonias entre professores, na maioria dos estudos encontrados(10-11); esse profissional não saber utilizar a voz adequadamente e, também, não apresenta preparo prévio para tal utilização(10-15). Esses resultados são assemelhados à pesquisa que avaliou a voz de professores de enfermagem de uma universidade pública. Entre o julgamento dos professores e experts especialistas, quanto ao tipo de voz, constatou-se a semelhança na percepção de ambos(13). O ritmo e volume da voz audível é tranquilo e algo que é agradável aos ouvidos. No presente estudo separou-se o ritmo do volume da voz e na avaliação dos experts o ritmo do PP demonstrou ser repetitivo, ou seja, ele fala muitas vezes no mesmo ritmo(16). Esse fato torna-se prejudicial à comunicação do professor com o aluno, a aula cansativa e, com isso, os alunos podem se dispersar.


Quanto a loudness, a maioria dos estudantes de enfermagem concordou com os experts que essa sensação é média. A Figura 2 mostra que a resposta selecionada pela maior parte dos discentes é significativamente maior que as demais e concordante com a resposta dos experts. Essa concordância significou refinamento da percepção auditiva tanto dos alunos como dos experts, mesmo considerando-se que os primeiros não possuem prática e experiência nesse tipo de avaliação.


O ouvido humano tem capacidade de perceber a loudness (volume sonoro)(17) e isso pode explicar o fato dos alunos de enfermagem também a perceberem sem terem a prática para realizar essa análise. Em relação às variáveis pitch e loudness, investigação relacionada à expressividade do professor universitário demonstrou que, após a conclusão da análise dos questionários aplicados aos professores e do teste de expressividade, esses parâmetros garantiram maior expressividade. Tais variáveis aumentaram os recursos expressivos, porém, também ficou constatado que as emoções interferem na fluência do indivíduo, como também nos parâmetro não verbais; como resultados, alguns parâmetros que garantiram maior expressividade foram os de pitch e intensidade vocal(6).

Em relação ao pitch, sensação psicofísica da altura, levando em conta a variação entre sons graves e agudos(13,18), 92,9% dos estudantes de enfermagem concordaram com os experts em relação ao parâmetro vocal avaliado, ou seja, perceberam que o pitch (sensação de frequência) do PP encontrava-se agudo. A Figura 3 mostra que a alternativa escolhida pela maioria dos alunos é significativamente maior que as demais e concordante com a opinião dos experts. Esse parâmetro alterado na expressividade acarreta dificuldades para transmitir a intenção do discurso durante a emissão da fala(6). Já em outro estudo, o pitch foi normal em 73% dos alunos da licenciatura do curso de química, que serão futuros professores dessa matéria(12).


Para a maioria dos alunos de enfermagem, a articulação da fala do PP é precisa, concordando assim com os experts. A Figura 4 mostra que a resposta selecionada pela maior parte dos alunos é significativamente maior que as demais e concordante com a dos fonoaudiólogos. Estudo identificou 67% de articulação precisa na maior parte dos informantes (discente do curso de licenciatura em química) e tal precisão articulatória alta auxilia na compreensão da mensagem; houve 33% de imprecisão articulatória, o que foi considerado índice elevado(12). Em outra investigação, os sujeitos da pesquisa foram professores do sexo feminino e na faixa etária de 22 a 62 anos. Identificou-se que há grande influência da idade na cadeia muscular da face, responsável pela articulação dos fonemas, ou seja, quanto maior a idade, mais flexíveis tornam-se os articuladores(19).


Quanto à velocidade da fala, 78% dos discentes concordaram com os experts que é média ou precisa e tais informações podem ser evidenciadas na Figura 5, em que a resposta selecionada, pela maioria, é significativamente maior que as demais e concordante com a resposta dos fonoaudiólogos. A velocidade de fala está diretamente ligada à articulação, ou seja, se a pessoa articula com precisão, automaticamente sua velocidade de fala será média, pois ela pronunciará bem os fonemas da língua, fazendo com que a mensagem seja entendida(13-18). Em outra investigação, a velocidade de fala foi considerada adequada em 54% dos discentes de licenciatura em química; porém, houve inadequação dessa velocidade em 46% dos professores avaliados(12).


A prática docente é determinante para a formação profissional e a profissão de professor é importante, considerando-se a demanda aumentada de aprendizagem da sociedade; entretanto, tal prática torna-se limitada se a atividade do docente restringir-se apenas à transmissão do conhecimento(7). O conteúdo transmitido sem expressividade, possivelmente não será retido pelo aluno e poderá prejudicá-lo em seu futuro desempenho profissional.

O professor deve ser um comunicador que desperte o interesse dos alunos; para tanto não basta deter-se, somente, em codificar sua mensagem, como é feito usualmente, mas necessita torná-la decodificável para o aluno. Cada docente é único em sua forma de montar estratégias de ensino que terão influência positiva ou negativa na apreensão de conhecimento pelo aluno, em sala de aula(20).

Percebe-se, então, que a expressividade do professor é recurso que regula a sua interação com seus discípulos, ferramenta com a qual ele pode contar para direcionar suas ações na sala de aula e para a organização e manejo da classe(6). A sala de aula deve ser lugar de demonstração de emoção, descontração, afetividade e respeito; os espaços onde acontecem as relações de aprendizagem devem ser sujeitos à crítica, mantendo-se o respeito entre professores e alunos; diferenças individuais devem ser entendidas e valorizadas, pois estimulam a construção do conhecimento(20). É evidente que, se houver ausência de expressividade por parte do professor, essa relação vai ser prejudicada.

Especialmente no caso da enfermagem, o docente não expressivo ou com expressividade inadequada pode prejudicar, sobremaneira, a transmissão de conhecimento aos seus alunos. Inexiste a formação de enfermeiros críticos e reflexivos se os seus professores não tenham tido formação adequada; assim, espera-se que esses docentes superem o mero ato de transmitir informações aos alunos(6).

O aluno busca no docente o domínio do conteúdo ministrado, a credibilidade decorrente da vivência profissional, a clareza de linguagem em suas explicações e, assim, por meio dos argumentos ministrados adquire a vontade de refletir e pensar juntos(4) sobre a sua profissão. Fatores facilitadores da interação em sala de aula, apontados em estudo com estudantes de enfermagem, foram a dinâmica utilizada em aula, o conteúdo relevante e a boa comunicação professor/aluno(20).

No presente estudo foi identificado que os alunos de enfermagem pesquisados apresentaram elementos de avaliação da expressividade do PP semelhantes aos apresentados pelos especialistas em voz, fonoaudiólogos, mostrando sua capacidade crítica para realizar tal avaliação.

Conclusões

O presente estudo teve o objetivo geral de avaliar a expressividade do professor universitário de enfermagem ministrando aula e o julgamento dos alunos em relação aos seus recursos verbais. Contou com 141 alunos que realizaram a avaliação da expressividade do professor, que também foi avaliado, nesse aspecto, por experts fonoaudiólogos.

Os experts apresentaram, praticamente, poucas discordâncias entre sí em relação à avaliação dessa expressividade; quanto à identificação da expressividade do professor de enfermagem, segundo a avaliação de alunos e dos experts, em relação aos elementos: tipo de voz, loudness, pitch, articulação e velocidade da fala os resultados mostraram que as alternativas escolhidas pela maioria dos alunos foram significativamente maiores que as demais e concordantes com os experts.

O julgamento dos alunos de enfermagem sobre as habilidades expressivas do professor demonstrou, então, ser compatível com a avaliação dos fonoaudiólogos. Os alunos dessa IES demonstraram não ser apenas meros espectadores, mas sim pessoas capazes de avaliar, com propriedade, o professor.

Novas pesquisas fazem-se necessárias para o avanço do conhecimento sobre a expressividade do professor de enfermagem, elemento imprescindível para a sua efetiva atuação profissional e consequente capacidade para tornar o aluno mais preparado para o futuro exercício profissional.

Referências

Recebido: 8.8.2010

Aceito: 15.8.2011

  • 1. Sousa JP. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicaçăo e dos Media. 2. ed. Porto (PT); 2006. 823 p. [acesso 10 mai 2010]. Disponível em: http://bocc.unisinos.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-teoria-pequisa-comunicacao-media.pdf
  • 2. Chiavenato I. Introduçăo ŕ teoria geral da administraçăo: uma visăo abrangente da moderna administraçăo das organizaçőes. 7 . ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2004.
  • 3. Kyrillos LR, organizadora. Expressividade: da teoria ŕ prática. Rio de Janeiro (RJ): Revinter; 2005.
  • 4. Stier MA, Costa B. Expressividade: falar com naturalidade e técnica no jornalismo de televisăo. In: Kyrillos L, organizadora. Expressividade: Da teoria ŕ prática. Rio de Janeiro (RJ): Revinter; 2005. p. 179-96.
  • 5. Ferreira ABH. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: revista ampliada. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira; 1986.
  • 6. Barbosa N, Cavalcanti ES, Neves EAL, Chaves TA, Coutinho FÂ, Mor EF. The expressiveness of the university teacher as cognitive factor in the teach-leaming. Cięnc Cogn [periódico na Internet] 2009; 14(1) [acesso 4 maio 2011], 75-102. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180658212009000100006&Ing=pt&nm=iso. ISSN 1806-5821
  • 7. Rodrigues MTP, Mendes SJAC. Enfermeiro professor: um diálogo com a formaçăo pedagógica. Rev Bras Enferm. [periódico na Internet]. ago 2007 [acesso 17 abr 2011]; 60(4):456-459. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672007000400019&lng=en. doi: 10.1590/S0034-71672007000400019
  • 8. Feijó D. Avaliando a comunicaçăo oral. In: Kyrillos LR, organizadora. Fonoaudiologia e Telejornalismo. Săo Paulo (SP): Revinter; 2003. p. 75-88.
  • 9
    Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos: Resolução nº 196/96. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1996.
  • 10. Penteado RZ, Pereira IMTB. Qualidade de vida e saúde vocal de professores. Rev Saúde Pública. [periódico na Internet]. abr 2007. [acesso 14 dez 2009];41(2):236-43. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89102007000200010&script=sci_arttext
  • 11. Romano CC, Alves LA, Silva AL, Marziale MHP, Robazzi MLCC. Alteraçőes vocais decorrentes do trabalho em professores: uma revisăo de bibliografia. Rev Enferm UFPE. [periódico na Internet]. jul-set 2009. [acesso 14 dez 2010];3(3):269-77. Disponível em: http://www.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/183/183
  • 12. Chaves TA, Coutinho FA, Mortimer EF. A expressividade do futuro professor de química: recursos verbais e năo verbais. Rev Bras Ensino Cięnc Tecnol. (RBECT). 2009;2(1):1-17.
  • 13. Alves LA. Parâmetros vocais e percepçăo vocal de professores universitários [dissertaçăo de Mestrado] Ribeirăo Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirăo Preto da Universidade de Săo Paulo; 2007. 215 p.
  • 14. Vieira AC, Behlau M. Análise de voz e comunicaçăo oral de professores de curso pré-vestibular. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(3):346-51.
  • 15. Salas SWA, Centeno HJ, Landa CE, Amaya CJM, Benites GM Del R. Prevalęncia de disfonía en profesores del distrito de Pampas - Tayacaja- Huancavelica. Rev Med Hered. [Internet.] jul-set 2004. [acesso 12 dez 2009]15(3):125-30. Disponível em: http://www.upch.edu.pe/famed/rmh/15-3/v15n3ao1.pdf
  • 16. Rocha EM. O comportamento comunicativo docente de enfermagem e sua influęncia na aprendizagem do educando. [dissertaçăo de Mestrado] Săo Paulo (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirăo Preto da Universidade de Săo Paulo; 1999. 101 p.
  • 17. Medeiros EB. Introduçăo a teoria acústica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais [Internet]. [acesso 16 jul 2010]. Disponível em: http://www.cpdee.ufmg.br/~semea/anais/artigos/EduardoBauzer.pdf
  • 18. Behlau M, Pontes P. Avaliaçăo e tratamento das disfonias. Săo Paulo: Lovise; 1995.
  • 19. Troni CR, Arakaki FN, Lima FS, Mott L, Rodrigues KA, Ferreira LP. Professores em contexto profissional e năo profissional: análise objetiva e subjetiva dos aspectos da articulaçăo e da postura. Distúrbios Comun Hum. ago 2006;18(2):179-88.
  • 20. Rocha EM, Silva MJP. Changes in classroom relations and their influence on learning. In: Proceedings of the 8. Brazilian Nursing Communication Symposium [Proceedings online]; 2002 May 02-03; Săo Paulo, SP, Brazil. 2002 [acesso 7 mai 2011]. Disponível em: http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000052002000200023&lng=en&nrm=van
  • Endereço para correspondência:
    Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi
    Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
    Departamento de Enfermagem Geral e Especializada
    Av. dos Bandeirantes, 3900
    Bairro: Monte Alegre
    CEP 14040-902, Ribeirão Preto, SP, Brasil
    E-mail:
  • 1
    Artigo parte da Dissertação de Mestrado "O julgamento da expressividade do professor universitário de enfermagem ministrando aula" apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Out 2011

    Histórico

    • Recebido
      08 Ago 2010
    • Aceito
      15 Ago 2011
    Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
    E-mail: rlae@eerp.usp.br