Acessibilidade / Reportar erro

Fatores preditivos do uso de álcool e tabaco em adolescentes

Resumos

OBJETIVOS:

analisar o efeito da autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência sobre o consumo de álcool e tabaco em adolescentes.

MÉTODO:

estudo descritivo correlacional com 575 adolescentes, realizado no ano 2010. Foram utilizadas a Escala de Autoestima, o Questionário de Confiança Situacional, o Questionário de Assertividade e a Escala de Resiliência.

RESULTADOS:

o ajuste do modelo de regressão logística, considerando a idade, sexo, autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência foi significante em relação ao consumo de álcool e tabaco. A idade, resiliência e assertividade foram preditores do consumo de álcool em algum momento na vida e a idade e a assertividade foram preditores no último ano. Para o consumo de tabaco, a idade e o sexo foram preditores em algum momento na vida e a idade no último ano.

CONCLUSÃO:

este estudo pode proporcionar informações importantes para o planejamento de intervenções de enfermagem em adolescentes usuários de álcool e tabaco

Autoimagem; Assertividade; Autoeficácia; Resiliência Psicológica


OBJECTIVES:

to analyze the effect of self-esteem, assertiveness, self-efficacy and resiliency on alcohol and tobacco consumption in adolescents.

METHOD:

a descriptive and correlational study was undertaken with 575 adolescents in 2010. The Self-Esteem Scale, the Situational Confidence Scale, the Assertiveness Questionnaire and the Resiliency Scale were used.

RESULTS:

the adjustment of the logistic regression model, considering age, sex, self-esteem, assertiveness, self-efficacy and resiliency, demonstrates significance in the consumption of alcohol and tobacco. Age, resiliency and assertiveness predict alcohol consumption in the lifetime and assertiveness predicts alcohol consumption in the last year. Similarly, age and sex predict tobacco consumption in the lifetime and age in the last year.

CONCLUSION:

this study can offer important information to plan nursing interventions involving adolescent alcohol and tobacco users.

Self Concept; Assertiveness; Self Efficacy; Resilience, Psychological


OBJETIVOS:

analizar el efecto de la autoestima, asertividad, autoeficacia y resiliencia sobre el consumo de alcohol y tabaco en adolescentes.

MÉTODO:

descritivo correlacional con 575 adolescentes, en 2010. Se utilizaron la Escala de Autoestima, el Cuestionario de Confianza Situacional, el Cuestionario de Asertividad y la Escala de Resiliencia.

RESULTADOS:

el ajuste del modelo de regresión logística, considerando la edad, sexo, autoestima, asertividad, autoeficacia y resiliencia, muestra significancia en el consumo de alcohol y tabaco. La edad, resiliencia y asertividad predicen el consumo de alcohol alguna vez en la vida y la edad y asertividad en el último año. De la misma forma la edad y sexo predicen el consumo de tabaco alguna vez en la vida y la edad en el último año.

CONCLUSIÓN:

este estudio puede proporcionar información importante para la planificación de intervenciones en enfermería de los adolecentes usuarios de alcohol y tabaco.

Autoimagen; Asertividad; Autoeficacia; Resiliencia Psicológica


Introdução

O consumo de álcool e tabaco representa preocupação para os sistemas de saúde. Essas substâncias psicoativas são as mais consumidas pela população mexicana. São consideradas como drogas iniciais e um dos seus efeitos negativos é o de aumentar o risco de uso de drogas ilícitas. Além disso, em diferentes estudos e levantamentos brasileiros e internacionais sobre vícios, verifica-se que a proporção de adolescentes que consome drogas, incluindo, principalmente, álcool e tabaco, aumenta progressivamente e que o início do consumo acontece antes dos 18 anos de idade( 11. Inter-American Drug Abuse Control Commission. (OAS Official Records Series; O EA Ser. L). Report on drug use in the Americas; 2011. OEA/Ser.L/XIV.6.6. Washington, D.C; 2012. - 22. Secretaria de Salud, Consejo Nacional Contra las Adicciones [CONADIC]. (MX). Dirección General de Epidemiología [DGE], Instituto Nacional de Psiquiatría e Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática [INEGI]; 2009 . Encuesta Nacional de Adicciones. México: ENA; 2008. ).

Os problemas da adolescência, tais como a violência, os acidentes, as dificuldades interpessoais, a baixa competência e a desistência escolar, também se relacionam com o início precoce do consumo de álcool e tabaco( 33. Hser Y, Longshore D, Anglin MD. The life course perspective on drug use: A conceptual framework for understanding drug use trajectories. Eval Rev. 2007;31(6):515-47. ). Por outro lado, os autores relatam que o padrão de uso dessas drogas é heterogêneo e varia entre a experimentação e a dependência( 44. Duvicq CG, Pereira N, Carvalho AM. Consumption of licit and illicit drugs in students and the factors of protection and risk. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004;12(n. spe):345-51. ).

Nesse sentido, os adolescentes com maior probabilidade de uso de drogas, como álcool e tabaco, são aqueles que estão expostos a diferentes fatores de risco pessoais, no seu contexto de desenvolvimento e de cognição, relacionados à conduta de promoção da saúde( 44. Duvicq CG, Pereira N, Carvalho AM. Consumption of licit and illicit drugs in students and the factors of protection and risk. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004;12(n. spe):345-51. ).

De acordo com a literatura, os adolescentes são particularmente vulneráveis a danos no seu desenvolvimento e integridade física quando consomem drogas, como o álcool e o tabaco. Por esse motivo, devem ser identificados, nesse grupo, os fatores pessoais e os pensamentos relacionados à conduta de promoção da saúde e de prevenção do consumo de álcool e tabaco, fatores que podem proteger o adolescente contra o início do consumo e contra o uso e abuso de drogas( 55. Walsh S, Djalovski A, Boniel-Nissim M, Harel-Fisch Y. Parental, peer and school experiences as predictors of alcohol drinking among first and second generation immigrant adolescents in Israel. Drug & Alcohol Dependence. 2014;138:39-47. - 66. Srof BJ, Velsor-Friedrich B. Health promotion in adolescents: A review of Pender's Health Promotion model. Nurs Sci Q. 2006;19(4):366-73. ).

Para este estudo, os fatores pessoais abrangeram as características que tornam únicas ou distinguem as pessoas. Esses fatores se classificam como biológicos, socioculturais e psicológicos. Alguns fatores pessoais não podem ser modificados. Nesse sentido, foi considerado como fator pessoal psicológico a autoestima, e considerados como fatores biológicos a idade e o gênero. Por outro lado, os pensamentos relacionados à conduta do não consumo de álcool e tabaco foram a assertividade, autoeficácia e resiliência. Essas variáveis são objetivos passíveis de modificação, por seu alto grau de influência motivacional na conduta, em intervenções de saúde( 77. Sbicigo JB, Bandeira DR, Dell'Aglio DD. Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR):validade fatorial e consistência interna. Psico-USF. 2010;15(3):395-403. ).

Neste estudo, visou-se contribuir com conhecimentos sobre esse fenômeno, a partir da análise do efeito dos fatores pessoais e pensamentos relacionados à conduta do não consumo de álcool e tabaco em adolescentes que vivem na área rural, alunos de educação secundária, em um município do Estado de Guanajuato, México. Para esse fim, foram propostos os seguintes objetivos : 1) descrever a prevalência do consumo de álcool e tabaco em algum momento na vida e no último ano, em alunos de educação secundária na zona rural, 2) descrever a autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência em alunos de educação secundária por gênero, ano escolar e ocupação e 3) relacionar o efeito da autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência sobre o consumo de álcool e tabaco em algum momento na vida e no último ano.

Método

Trata-se de estudo quantitativo, descritivo e correlacional( 88. Annis H, Grahanm J. Situational Confidence Questionnaire Addiction Research Foundation. Toronto, Canada; 1987. ). Os participantes foram avaliados em uma única ocasião. Os dados foram coletados em 14 escolas públicas secundárias rurais de um município do Estado de Guanajuato, México, durante duas semanas no mês de novembro de 2010. A população estudada incluiu adolescentes com idade de 12 a 18 anos, matriculados no ano escolar 2010-2011. A amostragem foi temporal e a amostra abrangeu todos os adolescentes (censo) que aceitaram participar e cujos pais ou cuidadores responsáveis assinaram um Termo de Consentimento para a participação no estudo e que, além disso, estavam presentes no momento da coleta dos dados (n=575). Antes de coletar os dados, os objetivos do estudo foram explicados e a preservação do anonimato e da confidencialidade das informações foi destacada. Posteriormente, os participantes completaram um formulário com dados pessoais (idade, sexo, nível educacional e ocupação) e o histórico de prevalência do consumo de drogas (consumo em algum momento na vida e no último ano). Na coleta dos dados, foram utilizados quatro instrumentos de medida: Escala de Autoestima( 77. Sbicigo JB, Bandeira DR, Dell'Aglio DD. Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR):validade fatorial e consistência interna. Psico-USF. 2010;15(3):395-403. ), Questionário de Confiança Situacional( 88. Annis H, Grahanm J. Situational Confidence Questionnaire Addiction Research Foundation. Toronto, Canada; 1987. ), Questionário de Assertividade( 99. Rathus S. A 30-item schedule for assessing assertive behavior. Behav Ther. 1973; 4:398-406. ) e Escala de Resiliência( 1010. Wagnild GM, Young HM. Development and psychometric evaluation of the resilience scale. J Nurs Measure. 1993;1:165-78. ). Esses instrumentos foram aplicados na população mexicana com coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach aceitável. Nesse caso, a consistência interna dos instrumentos foi avaliada por meio da Escala de Autoestima (α=.66), Questionário de Confiança Situacional (α=.99), Questionário de Assertividade (α=.66) e Escala de Resiliência (α=.98).

Na coleta dos dados participaram a autora principal e sete assistentes de pesquisa, previamente capacitados para esse fim. Através de pôsters e convites pessoais, sala por sala, todos os adolescentes foram convocados a participar do estudo. Aqueles que se mostraram interessados permaneceram em sua sala de aula por 60 minutos para a assinatura do Termo de Consentimento e para a aplicação dos instrumentos. Cada participante recebeu um envelope pardo com os documentos. Na entrega dos instrumentos, foi perguntado a eles se haviam respondido a todos os questionários e todas as perguntas. Ao término da coleta de dados, o participante depositou o envelope em uma urna localizada dentro da mesma sala de aula.

Para analisar as informações, foi elaborada uma base de dados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17. A consistência interna de cada instrumento foi revisada com o uso do coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach. Foram calculadas frequências, proporções e porcentagens para as variáveis categóricas. Para as variáveis numéricas, foram calculadas medidas de posição, tendência central e variação. O teste Kolmogorov-Smirnov de goodness-of-fit foi aplicado com correção de Lilliefors para contrastar a hipótese de normalidade na distribuição das variáveis contínuas, com resultados significantes nas variáveis de resposta (p<.01). Por esse motivo, decidiu-se usar testes não paramétricos ou de livre distribuição. No objetivo um, foram utilizadas tabelas de contingências através de frequências proporcionais. Além disso, foram calculadas as estimativas pontuais e por Intervalo de Confiança de 95%. No objetivo 2, foram elaborados índices e efetuados contrates de hipóteses mediante o teste U de Mann-Whitney e o teste H de Kruskal-Wallis. Para o objetivo 3, foi utilizado o Modelo de Regressão Logística.

Esta investigação recebeu aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Enfermagem da Universidad Autónoma de Nuevo León, México, no dia 30 de junho de 2010, sob Protocolo nºFAEN-D-753.

Resultados

No que diz respeito às características sociodemográficas e ocupacionais dos participantes, foi observado que 56,9% tinham entre 12 e 13 anos de idade. Foi encontrada predominância do sexo feminino (51,5%), 44,2 % eram estudantes de primeiro ano e, com relação à ocupação, 22,3 % dos estudantes trabalhava.

A média de idade dos estudantes foi 13,3 anos (desvio-padrão-dp=1,08). Deve-se assinalar que, com relação ao consumo de álcool, a idade média de início do consumo foi 11,6 anos (dp=1,49), com consumo médio de 1,7 para bebidas alcoólicas em um dia típico (dp=1,0). Com relação ao consumo de tabaco, a idade média de início do consumo foi de 11,9 anos (dp=1,43) e o consumo médio correspondeu a um cigarro (média=1,0, dp=1,61) em um dia típico.

Para responder ao primeiro objetivo, que é o de descrever a prevalência do consumo do álcool e tabaco em algum momento na vida e no último ano, entre alunos da educação secundária na zona rural, foram utilizadas tabelas de contingências através de frequências e proporções. Além disso, foram calculadas as estimativas pontuais e por Intervalo de Confiança de 95%. Nesse sentido, os resultados mostraram que 66,1% (IC 95% [62%-70%]) dos alunos de educação secundária rural consumiram álcool em algum momento na vida e que 32,2% (IC 95% [28%-36%]) o fez no último ano. Por outro lado, 30,3% (IC 95% [26%-34%]) dos participantes relataram ter consumido tabaco alguma vez na vida e 13,6% (IC 95% [11%-16%]) no último ano.

Para responder ao segundo objetivo, que é o de descrever a autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência em alunos de educação secundária por gênero, nível escolar e ocupação, foram construídos índices e calculados contrastes de hipóteses mediante o teste U de Mann-Whitney e o teste H de Kruskal-Wallis.

Os resultados mostraram que existe diferença significativa entre autoeficácia (U=35061,00, p=.002), assertividade (U=32690,00, p<.001) e resiliência (U=35559,50, p=.004) por gênero (Tabela 1). Porém, a autoestima não mostrou diferença significativa (p>.05). As mulheres revelaram mediana mais alta de autoeficácia (mediana=66,67), assertividade (mediana=42,24) e resiliência (mediana=77,14) em comparação com os homens (mediana=45,73, mediana=38,79 e mediana=72,57, respectivamente). A mediana de autoestima foi igual para homens e mulheres (mediana=47,50).

Tabela 1 -
Teste U de Mann-Whitney para autoestima, autoeficácia, assertividade e resiliência por gênero. Guanajuato, México, 2014 (N=575)

No que diz respeito ao nível escolar, os resultados mostraram que existe diferença significativa na autoestima (H=14,89, p<.001), assertividade (H=7,99, p<.05), e resiliência (H=12,10, p<.05); entre a autoeficácia e nível não foi encontrada diferença significativa (p>.05). Os alunos do terceiro ano revelaram média mais alta para autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência: autoestima (mediana=50,0), autoeficácia (mediana=66,67), assertividade (mediana=42,24) e resiliência (mediana=79,14).

Da mesma forma, os resultados indicaram que existe diferença significativa na assertividade (U=22942,50, p<.001) de acordo com os níveis de ocupação. Os outros pensamentos relacionados à conduta, no que diz respeito ao não consumo de álcool e tabaco, não mostrou diferença significativa: autoestima (p>.05), autoeficácia (p>.05) e resiliência (p>.05), de acordo com os níveis de ocupação. Os alunos que não trabalhavam mostraram mediana mais alta em assertividade (mediana=41,38).

Para responder ao terceiro objetivo, que assinalou o efeito da autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência sobre o consumo de álcool, em algum momento na vida e no último ano, foi utilizado o Modelo de Regressão Logística. Para rejeitar a colinearidade entre as variáveis independentes do modelo de regressão, o teste de correlação de Pearson foi aplicado para as variáveis contínuas (idade, autoestima, assertividade, resiliência e autoeficácia) e a correlação V de Cramer quando alguma das variáveis tinha o formato dicotômico (gênero).

No primeiro caso (correlação de Pearson), os coeficientes identificados mostraram correlação fraca moderada. O coeficiente mais alto relatado (0,48) corresponde à correlação entre autoestima e assertividade (Tabela 2).

Tabela 2 -
Correlação de Pearson. Guanajuato, México, 2014

Esse mesmo cenário aparece para a variável dicotômica gênero. Apesar disso, nessa análise, os coeficientes de correlação de V de Cramer correspondiam a 0,55 para gênero e autoeficácia (Tabela 3).

Tabela 3 -
Correlação V de Cramer. Guanajuato, México, 2014

Foi avaliada a colinearidade com base na significância estatística (dentro do modelo de regressão) das variáveis independentes em cada um dos modelos de regressão. Foram propostos quatro modelos que foram significativos no sentido geral. No sentido particular, porém, as variáveis independentes não foram significativas. Nesse caso, em cada um dos modelos, as variáveis independentes sem significância estatística foram eliminadas gradualmente até encontrar o modelo com o melhor ajuste geral e que, particularmente, revelou significância estatística para as variáveis independentes.

A Tabela 4 mostra o ajuste de dois modelos de regressão logística. No primeiro, foram consideradas as variáveis independentes idade, assertividade e resiliência, que mostra significância para o consumo de álcool em algum momento na vida (X2=44,52, gl=3, p<.001), explicando aproximadamente 7,5% da variância. No segundo, as variáveis independentes idade e assertividade foram incluídas, mostrando significância para o consumo de álcool no último ano (X2=28,54, gl=2, p<.001), explicando em torno de 4,8% da variância.

Tabela 4 -
Efeito das variáveis independentes no consumo de álcool em algum momento na vida e no último ano. Guanajuato, México, 2014 (N=575)

As variáveis com capacidade para predizer a probabilidade do consumo de álcool alguma vez na vida foram idade, assertividade e resiliência. Do mesmo modo, as variáveis com capacidade para predizer a probabilidade do consumo do álcool no último ano foram idade e assertividade.

A Tabela 5 apresenta o ajuste de dois modelos de regressão logística. No primeiro, consideraram-se as variáveis independentes idade e gênero, que mostram significância para o consumo de tabaco em algum momento na vida (X2=60,23, gl=2, p<.001), explicando aproximadamente 9,9% da variância. O segundo considerou a variável independente idade, com efeito significante no consumo de tabaco no último ano (X2=16,86, gl=1, p<.001), explicando 2,9% da variância.

Tabela 5 -
Efeito das variáveis independentes no consumo de tabaco. Guanajuato, México, 2014 (N=575)

Observa-se que as variáveis com capacidade para predizer a probabilidade do consumo de tabaco alguma vez na vida são a idade e o gênero. Da mesma forma, a variável com capacidade para predizer a probabilidade do consumo de tabaco no último ano foi a idade.

Discussão

A amostra incluiu 575 estudantes adolescentes com idade entre 12 e 18 anos. O perfil sociodemográfico para este estudo revelou a maior proporção do sexo feminino; a maior parte dos alunos cursava o primeiro ano; uma pequena parte dos participantes estudava e trabalhava. Esses resultados estão de acordo com os achados em institutos( 1111. Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática [INEGI] (MX). Censo y conteo de población y vivienda. [acesso 21 fev 2010]; Disponível em: http://www.censo2010.org.mx
http://www.censo2010.org.mx...
), com maior número de mulheres do que de homens e baixa proporção de estudantes que trabalhavam.

Os adolescentes iniciaram o consumo de álcool e tabaco aos 11 anos, diferente dos resultados de levantamentos brasileiros( 22. Secretaria de Salud, Consejo Nacional Contra las Adicciones [CONADIC]. (MX). Dirección General de Epidemiología [DGE], Instituto Nacional de Psiquiatría e Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática [INEGI]; 2009 . Encuesta Nacional de Adicciones. México: ENA; 2008. ). A adolescência é um período crítico, caracterizado por alterações e adaptações, em que a pessoa busca ter autonomia, adquirir habilidades e experimentar novas sensações( 1212. Alarcón R. El legado psicológico de Rogelio Díaz-Guerrero. Estudos Pesqui Psicol UERJ. 2010;2:553-71. - 1313. Jones S, Magee C. The role of family, friends and peers in Australian adolescent's alcohol consumption. Drug Alcohol Rev. 2014;33(3):304-13. ).

No que diz respeito aos pensamentos relacionados à conduta de não consumir álcool e tabaco dos alunos, por gênero, nível escolar e ocupação, os resultados mostraram que existe diferença significativa nas variáveis autoeficácia, assertividade e resiliência, de acordo com o gênero, em que as mulheres apresentam medianas mais altas em autoeficácia, assertividade e resiliência em comparação com os homens. Porém, a mediana de autoestima foi igual para homens e mulheres. Provavelmente existe nas mulheres o efeito do papel de gênero, no sentido de que as premissas socioculturais atribuem um papel de proteção à mulher, o que implica considerar que as mulheres têm mais fortaleza e resistência (autoeficácia e resiliência) para enfrentar os problemas apresentados( 1414. Nicolai J, Moshagen M, Demmel R. Patterns of alcohol expectancies an alcohol use across age and gender. Drug Alcohol Dependence. 2012;126(3):347-53. - 1515. Hodder RK, Freund M, Bowman J, Wolfenden L, Campbell E, Wye P, et al. A cluster randomised trial of a school-based resilience intervention to decrease tobacco, alcohol and illicit drug use in secondary school students: study protocol. BMC Public Health. 2012;12:1009. ).

Sobre o nível escolar, os resultados mostram que existe diferença significativa na autoestima, assertividade e resiliência. Os estudantes do terceiro ano apresentaram medianas mais altas na autoestima, assertividade, autoeficácia e resiliência, provavelmente relacionadas ao resultado da sua formação, já que estão próximos de terminar a educação secundária e, em muitos casos, é o maior nível educacional conseguido no seu núcleo familiar, o que faz com que se sintam fortes, com resiliência para enfrentar qualquer problema nas suas experiências vivenciadas( 1616. Wingo AP, Ressler KJ, Bradley. Resilience characteristics mitigate tendency for harmful alcohol and illicit drug use in adults with a history of childhood abuse: A cross-sectional study of 2024 inner-city men and women. J Psych Res. 2014;51:93-9. ).

Da mesma forma, os resultados indicaram que existe diferença significativa na assertividade de acordo com o nível ocupacional. Os alunos que trabalhavam apresentaram medianas mais altas na autoeficácia, o que pode ser devido a certa independência gerada por contarem com renda particular. Por outro lado, os alunos que não trabalhavam apresentaram medianas mais altas em assertividade.

Finalmente, foi possível mostrar que as variáveis idade, resiliência e assertividade predizem o consumo de álcool em algum momento na vida e as variáveis idade e assertividade o consumo no último ano, da mesma forma que idade e gênero predizem o consumo de tabaco em algum momento na vida e a variável idade o consumo no último ano. Esses achados estão de acordo com diferentes autores( 1313. Jones S, Magee C. The role of family, friends and peers in Australian adolescent's alcohol consumption. Drug Alcohol Rev. 2014;33(3):304-13. , 1616. Wingo AP, Ressler KJ, Bradley. Resilience characteristics mitigate tendency for harmful alcohol and illicit drug use in adults with a history of childhood abuse: A cross-sectional study of 2024 inner-city men and women. J Psych Res. 2014;51:93-9.

17. Musitu G, Jiménez TI, Murgui S. Funcionamiento familiar, autoestima y consumo de sustâncias em adolescentes: um modelo de medicación. Salud Pública México. 2007;49(1):3-10.
- 1818. Armendáriz NA, Rodríguez L, Guzmán FR. Efecto de la autoestima sobre el consumo de tabaco y alcohol en adolescentes del área rural de Nuevo León, México. Rev Electrónica Salud Mental Alcohol y Drogas. [Internet] . 2008 [acesso 12 jan 2012];4(1):1-16. ) que contribuem para os conceitos de resiliência e de assertividade, no sentido de que a capacidade de enfrentar o contornar diversas dificuldades no seu contexto, além da capacidade de dizer não ao consumo de álcool, pode ser um fator de proteção. Além disso, outra investigação relatou que o consumo do álcool pode variar em função da idade e do sexo( 1818. Armendáriz NA, Rodríguez L, Guzmán FR. Efecto de la autoestima sobre el consumo de tabaco y alcohol en adolescentes del área rural de Nuevo León, México. Rev Electrónica Salud Mental Alcohol y Drogas. [Internet] . 2008 [acesso 12 jan 2012];4(1):1-16. ), motivo pelo qual é necessário reforçar o estudo dos fatores relacionados com o consumo das drogas na perspectiva da enfermagem, já que a enfermeira tem papel fundamental na proposição e implementação de intervenções educativas nessa temática.

Deve-se destacar que não foi observado o efeito da autoestima e autoeficácia no consumo dessas substâncias em algum momento na vida, diferentemente dos resultados de diversos estudos, provavelmente por ser uma amostra proveniente do contexto rural( 1717. Musitu G, Jiménez TI, Murgui S. Funcionamiento familiar, autoestima y consumo de sustâncias em adolescentes: um modelo de medicación. Salud Pública México. 2007;49(1):3-10. - 1818. Armendáriz NA, Rodríguez L, Guzmán FR. Efecto de la autoestima sobre el consumo de tabaco y alcohol en adolescentes del área rural de Nuevo León, México. Rev Electrónica Salud Mental Alcohol y Drogas. [Internet] . 2008 [acesso 12 jan 2012];4(1):1-16. ). É provável que esse fato seja devido às pontuações de autoestima e autoeficácia baixas e homogêneas.

Conclusões

Este estudo descreve a prevalência do consumo de álcool e tabaco, em algum momento na vida e no último ano, e os fatores pessoais nos aspectos avaliados nos 575 estudantes da educação secundária rural. Também se apresenta o efeito desses fatores no consumo.

Deve-se ressaltar a importância de continuar realizando estudos longitudinais, prospectivos sobre a autoestima e os pensamentos relacionados à conduta de não consumo do álcool e tabaco. Além disso, recomenda-se continuar utilizando as escalas aplicadas neste estudo, diante da consistência interna aceitável demonstrada.

Este estudo pode proporcionar informações importantes para o planejamento de intervenções de enfermagem em adolescentes usuários de álcool e tabaco e no desenvolvimento das ações de prevenção e promoção da saúde.

References

  • 1
    Inter-American Drug Abuse Control Commission. (OAS Official Records Series; O EA Ser. L). Report on drug use in the Americas; 2011. OEA/Ser.L/XIV.6.6. Washington, D.C; 2012.
  • 2
    Secretaria de Salud, Consejo Nacional Contra las Adicciones [CONADIC]. (MX). Dirección General de Epidemiología [DGE], Instituto Nacional de Psiquiatría e Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática [INEGI]; 2009 . Encuesta Nacional de Adicciones. México: ENA; 2008.
  • 3
    Hser Y, Longshore D, Anglin MD. The life course perspective on drug use: A conceptual framework for understanding drug use trajectories. Eval Rev. 2007;31(6):515-47.
  • 4
    Duvicq CG, Pereira N, Carvalho AM. Consumption of licit and illicit drugs in students and the factors of protection and risk. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004;12(n. spe):345-51.
  • 5
    Walsh S, Djalovski A, Boniel-Nissim M, Harel-Fisch Y. Parental, peer and school experiences as predictors of alcohol drinking among first and second generation immigrant adolescents in Israel. Drug & Alcohol Dependence. 2014;138:39-47.
  • 6
    Srof BJ, Velsor-Friedrich B. Health promotion in adolescents: A review of Pender's Health Promotion model. Nurs Sci Q. 2006;19(4):366-73.
  • 7
    Sbicigo JB, Bandeira DR, Dell'Aglio DD. Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR):validade fatorial e consistência interna. Psico-USF. 2010;15(3):395-403.
  • 8
    Annis H, Grahanm J. Situational Confidence Questionnaire Addiction Research Foundation. Toronto, Canada; 1987.
  • 9
    Rathus S. A 30-item schedule for assessing assertive behavior. Behav Ther. 1973; 4:398-406.
  • 10
    Wagnild GM, Young HM. Development and psychometric evaluation of the resilience scale. J Nurs Measure. 1993;1:165-78.
  • 11
    Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática [INEGI] (MX). Censo y conteo de población y vivienda. [acesso 21 fev 2010]; Disponível em: http://www.censo2010.org.mx
    » http://www.censo2010.org.mx
  • 12
    Alarcón R. El legado psicológico de Rogelio Díaz-Guerrero. Estudos Pesqui Psicol UERJ. 2010;2:553-71.
  • 13
    Jones S, Magee C. The role of family, friends and peers in Australian adolescent's alcohol consumption. Drug Alcohol Rev. 2014;33(3):304-13.
  • 14
    Nicolai J, Moshagen M, Demmel R. Patterns of alcohol expectancies an alcohol use across age and gender. Drug Alcohol Dependence. 2012;126(3):347-53.
  • 15
    Hodder RK, Freund M, Bowman J, Wolfenden L, Campbell E, Wye P, et al. A cluster randomised trial of a school-based resilience intervention to decrease tobacco, alcohol and illicit drug use in secondary school students: study protocol. BMC Public Health. 2012;12:1009.
  • 16
    Wingo AP, Ressler KJ, Bradley. Resilience characteristics mitigate tendency for harmful alcohol and illicit drug use in adults with a history of childhood abuse: A cross-sectional study of 2024 inner-city men and women. J Psych Res. 2014;51:93-9.
  • 17
    Musitu G, Jiménez TI, Murgui S. Funcionamiento familiar, autoestima y consumo de sustâncias em adolescentes: um modelo de medicación. Salud Pública México. 2007;49(1):3-10.
  • 18
    Armendáriz NA, Rodríguez L, Guzmán FR. Efecto de la autoestima sobre el consumo de tabaco y alcohol en adolescentes del área rural de Nuevo León, México. Rev Electrónica Salud Mental Alcohol y Drogas. [Internet] . 2008 [acesso 12 jan 2012];4(1):1-16.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    13 Nov 2013
  • Aceito
    20 Out 2014
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br