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Riscos psicossociais no trabalho: estresse e estratégias de coping em enfermeiros em oncologia

Resumos

OBJETIVO:

identificar fontes de estresse e estratégias de coping em enfermeiros que exercem funções em três Serviços de Oncologia de Cirurgia Cabeça e Pescoço, de três hospitais centrais de Portugal.

MÉTODO:

estudo transversal, de carácter descritivo e exploratório, cuja amostra foi constituída pelos 96 enfermeiros dos três serviços. Na recolha de dados, foram utilizados: Questionário Sociodemográfico, Questionário de Saúde Geral-12, Inventário de Estressores Ocupacionais e Brief COPE.

RESULTADOS:

verificaram-se níveis razoáveis de saúde geral. Os estressores mais referidos foram: sobrecarga de trabalho, baixa remuneração salarial, espaço físico onde se desenvolve a profissão, situações emocionalmente perturbadoras e falta de reconhecimento da profissão. As estratégias de coping mais utilizadas foram: planeamento, coping ativo, aceitação e autodistração.

CONCLUSÃO:

os estressores identificados relacionam-se principalmente a aspetos organizacionais e condições de trabalho, e as estratégias de coping escolhidas estão direcionadas para a resolução de problemas e melhoria do bem-estar dos enfermeiros. Percentagem expressiva de enfermeiros apresentou níveis elevados de pressão e emoções deprimidas. Os resultados apresentados corroboram estudos anteriores que alertam para a importância do desenvolvimento de estratégias de prevenção dos níveis de estresse.

Enfermagem; Oncologia; Esgotamento Profissional; Adaptação Psicológica


OBJECTIVE:

to identify sources of stress and coping strategies in nurses who work in three Head and Neck Surgery Oncology Services, in three central hospitals in Portugal.

METHOD:

a cross-sectional descriptive-exploratory study, whose sample was made up of the 96 nurses from the three services. The following were used in the data collection: a socio-demographic questionnaire; the 12-item General Health Questionnaire; and the Occupational Stress Inventory; Brief COPE.

RESULTS:

reasonable levels of general health were ascertained. The most-mentioned stressors were: burden with work; low pay; the physical space where they work; emotionally-disturbing situations and lack of recognition of the profession. The most-used coping strategies were: planning; active coping; acceptance and self-distraction.

CONCLUSION:

the stressors identified are mainly related to organizational aspects and work conditions, and the coping strategies chosen are aimed at resolving problems and improving the nurses' well-being. A significant percentage of the nurses presents high levels of pressure and depressed emotions. The results presented corroborate previous studies which warn of the importance of developing strategies for preventing these stress levels.

Nursing; Medical Oncology; Burnout, Professional; Adaptation, Psychological


OBJETIVO:

identificar fuentes de estrés y estrategias de coping en enfermeros que ejercen funciones en tres Servicios de Oncología de Cirugía Cabeza y Cuello, de tres hospitales centrales de Portugal.

MÉTODO:

estudio transversal, de carácter descriptivo y exploratorio, cuya muestra fue constituida por los 96 enfermeros de los tres servicios. En la recolección de datos fueron utilizados: Cuestionario Socio-demográfico; Cuestionario de Salud General-12; Inventario de estresores Ocupacionales; Brief COPE.

RESULTADOS:

se verificaron niveles razonables de salud general. Los estresores más referidos fueron: sobrecarga de trabajo; baja remuneración salarial; espacio físico donde se desarrolla la profesión; situaciones emocionalmente perturbadoras y falta de reconocimiento de la profesión. Las estrategias de coping más utilizadas fueron: planificación; coping activo; aceptación y auto-distracción.

CONCLUSIÓN:

los estresores identificados se relacionan principalmente con aspectos de organización y condiciones de trabajo, y las estrategias de coping escogidas están dirigidas para la resolución de problemas y la mejoría del bienestar de los enfermeros. Un porcentaje expresivo de enfermeros presentó niveles elevados de presión y emociones de depresión. Los resultados presentados corroboran estudios anteriores que alertan para la importancia del desarrollo de estrategias de prevención de los niveles de estrés.

Enfermería; Oncología Médica; Agotamiento Profesional; Adaptación Psicológica


Introdução

Nas últimas décadas, a constatação das implicações e das consequências das transformações do contexto laboral, tem chamado a atenção para a relevância do estudo dos riscos psicossociais no trabalho. Esses definem-se como os aspetos relativos ao desenho, gestão e organização do trabalho, bem como aos contextos sociais e ambientais, que têm potencial para causar danos do tipo físico, social ou psicológico e que podem ser vivenciados através da experiência de estresse ocupacional( 11. Cox T, Griffiths AJ, Rial-Gonzáles E. El estrés relacionado con el trabajo. Agencia Europea para la Seguridad y la Salud en Trabajo [Internet] 2005; [acesso 23 maio 2011] Disponível em http://osha.europa.eu/es/publications/reports/203.
Disponível em http://osha.europa....
). Dados recentes do Observatório Europeu dos Riscos indicam que entre 50 e 60% dos dias de trabalho perdidos estão relacionados ao fenômeno estresse( 22. Observatório Europeu dos Riscos. Aumenta o número de pessoas que enfrentam riscos psicossociais no trabalho [Internet] 2008; [acesso 20 maio 2011] Disponível em http://osha.europa.eu/pt/press/press-releases/news_article.2008-01-30_stress.
Disponível em http://osha.europa....
). O National Institute for Occupational Safety and Health define estresse ocupacional ou estresse no trabalho, como as reações físicas e emocionais nefastas que ocorrem quando as exigências da função não coincidem com as capacidades, recursos ou necessidades do trabalhador( 33. National Institute for Occupational Safety and Health (USA). Exposure to Stress: Occupational Hazards in Hospitals [Internet] 2008; Publication n. 136. [acesso 8 nov 2010] Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/docs/2008-136/.
Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/d...
). Segundo um conjunto ampliado de estudos, o estresse é responsável pela diminuição da qualidade do desempenho profissional, pela diminuição da satisfação e bem-estar do indivíduo, pela estagnação do desenvolvimento pessoal e pelo absentismo laboral( 11. Cox T, Griffiths AJ, Rial-Gonzáles E. El estrés relacionado con el trabajo. Agencia Europea para la Seguridad y la Salud en Trabajo [Internet] 2005; [acesso 23 maio 2011] Disponível em http://osha.europa.eu/es/publications/reports/203.
Disponível em http://osha.europa....
). Os fatores individuais e os recursos sociais podem moderar a reação às causas de estresse ocupacional( 33. National Institute for Occupational Safety and Health (USA). Exposure to Stress: Occupational Hazards in Hospitals [Internet] 2008; Publication n. 136. [acesso 8 nov 2010] Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/docs/2008-136/.
Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/d...
). Nas instituições de saúde, o estresse profissional é referido na literatura como determinante da diminuição da qualidade dos serviços prestados, aumento do número de erros e elevados custos financeiros( 33. National Institute for Occupational Safety and Health (USA). Exposure to Stress: Occupational Hazards in Hospitals [Internet] 2008; Publication n. 136. [acesso 8 nov 2010] Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/docs/2008-136/.
Disponivel em http://www.cdc.gov/niosh/d...
).

Na área da saúde, os profissionais de enfermagem estão diariamente sujeitos a inúmeras situações desgastantes, quer pela proximidade com os utentes e pela natureza específica das tarefas desempenhadas quer, ainda, pelas características próprias do ambiente de trabalho e sua organização( 44. Mininel VA, Baptista PCP, Felli VE. Psychic workloads and strain processes in nursing workers of brazilian university hospitals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):340-7. ). Essa classe profissional, que nos últimos anos tem sido alvo de diversos estudos, está particularmente exposta a elevados níveis de pressão e estresse( 44. Mininel VA, Baptista PCP, Felli VE. Psychic workloads and strain processes in nursing workers of brazilian university hospitals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):340-7.

5. McIntyre T, McIntyre S, Silvério J. Respostas de stress e recursos de coping nos enfermeiros. Anal Psicol. 1999;17:513-27.

6. Isikhan V, Gomes T, Danis Z. Job stress and coping strategies in health care professionals working with cancer patients. Eur J Oncol Nurs. 2004;8:234-44.

7. Glazer S, Gyurak A. Sources of occupational stress among nurses in five countries. Int J Intercult Relations. 2008;32:49-66.
- 88. Gomes RA, Cruz JF, Cabanelas S. Stress ocupacional em profissionais de saúde: um estudo com enfermeiros Portugueses. Psicol Teoria Pesqui. 2009; 25(3):307-18. ). Desse modo, o interesse pelo estudo do estresse em enfermagem é justificado pela natureza dos serviços prestados, uma vez que a qualidade e eficácia do seu trabalho pode ter impacto decisivo na qualidade dos cuidados prestados aos utentes( 44. Mininel VA, Baptista PCP, Felli VE. Psychic workloads and strain processes in nursing workers of brazilian university hospitals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):340-7. , 88. Gomes RA, Cruz JF, Cabanelas S. Stress ocupacional em profissionais de saúde: um estudo com enfermeiros Portugueses. Psicol Teoria Pesqui. 2009; 25(3):307-18. ). A prestação de cuidados na área específica da oncologia reveste-se de grande complexidade e exigência, dadas as caraterísticas que lhe são inerentes, nomeadamente: tratamentos prolongados e agressivos com efeitos colaterais, cirurgias mutilantes, sofrimento e sentimentos de medo, desespero e pânico dos doentes e a morte têm sido evidenciados como fatores de estresse e estão associados ao sofrimento psíquico do profissional de enfermagem em oncologia( 99. Rodrigues AB, Chaves EC. Stressing factors and coping strategies used by oncology nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(1):24-8. - 1010. Faria DAP, Maia EMC. Nursing professionals' anxiety and feelings in terminal situations in oncology. Rev. Latino-Am. Enfermagem. nov-dez 2007; 15(6):1131-7. ).

A experiência de estresse vem acompanhada pelo processo de coping ( 1111. Lazarus RS, Folkman S. Stress appraisal and coping. New York: Springer; 1984. ). O coping pressupõe a mobilização de recursos, através dos quais o indivíduo irá empreender esforços cognitivos e comportamentais para gerir as exigências internas ou externas que resultam da interação com o meio ambiente, que são avaliadas como ameaça e excedem as capacidades individuais de confronto( 1111. Lazarus RS, Folkman S. Stress appraisal and coping. New York: Springer; 1984. ). Segundo estudos anteriores, para lidar com o estresse ocupacional, os enfermeiros em oncologia utilizam estratégias de coping, de tipo preservação( 1212. Ekedahl M, Wengstrom Y. Nurses in cancer care-Coping strategies when encountering existential issues. Eur J Oncol Nurs. 2006;10:128-39. ) (demarcação de limites no envolvimento de situações causadoras de estresse), reconstrução( 1212. Ekedahl M, Wengstrom Y. Nurses in cancer care-Coping strategies when encountering existential issues. Eur J Oncol Nurs. 2006;10:128-39. ) (ações que permitem a reconstrução de identidade equilibrada) e reavaliação( 99. Rodrigues AB, Chaves EC. Stressing factors and coping strategies used by oncology nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(1):24-8. , 1212. Ekedahl M, Wengstrom Y. Nurses in cancer care-Coping strategies when encountering existential issues. Eur J Oncol Nurs. 2006;10:128-39. - 1313. Negromonte MRO, Araujo TCCF. Impact of the clinical management of pain: evaluation of stress and coping among health professionals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):238-44. ) (reanálise de situações em termos de significado e de alternativas de resolução).

Cuidar do doente oncológico da cirurgia de cabeça e pescoço é especialmente ameaçador ao equilíbrio do enfermeiro. Os tumores de cabeça e pescoço causam deficiências em vários níveis, podendo comprometer a integridade funcional da mastigação, da voz, da fala, da deglutição e da articulação, provocar danos psicológicos e estéticos, e conduzir a perturbações ocupacionais no estilo de vida do doente( 1414. Alvarenga LM, Ruiz MT, Pavarino-Bertelli EC, Ruback MJC, Maniglia JV, Goloni-Bertollo EM. Epidemiologic evaluation of head and neck patients in a university hospital of Northwestern São Paulo State. Rev Bras Otorrinolaringol. 2008;74(1):68-73. ). Acresce, ainda, que as cirurgias de cabeça e pescoço acarretam incontornáveis sequelas, por vezes mais mutilantes do que a doença em seu estádio inicial, provocando sofrimento moral e físico( 1515. Vasconcellos-Silva PR, Nolasco PTL. Dialética da autonomia dos equilíbrios nos conflitos entre pacientes e cirurgiões Oncológicos. Rev Saúde Pública. 2009;43(5):839-45. ). Apesar da constatação empírica do potencial de estresse nesses profissionais não foram encontradas, na revisão de literatura que precedeu este estudo, investigações sobre estresse ocupacional em enfermeiros de oncologia a exercerem funções na área de cirurgia de cabeça e pescoço. No sentido de colmatar essa falta, definiu-se, como objetivo geral desta investigação: identificar as fontes de estresse e as estratégias de coping utilizadas pelos enfermeiros em oncologia, no serviço de cirurgia cabeça e pescoço.

Método

Trata-se de estudo transversal, de caráter descritivo e exploratório, realizado com enfermeiros do serviço de cirurgia cabeça e pescoço, de três Serviços Oncológicos de Cirurgia Cabeça e Pescoço, de três hospitais centrais em Portugal. Definiu-se como população alvo do estudo todos os enfermeiros que cumpriam os seguintes critérios: 1) exercício de funções na prestação direta de cuidados ao doente; 2) desempenho de funções fora do período de integração e 3) participação voluntária no estudo. A amostra foi constituída por 96 enfermeiros, correspondendo ao total de indivíduos da população.

O processo de recolha de dados teve início com um pedido por escrito ao Conselho de Administração e Direção de Enfermagem das três instituições de saúde, no qual se apresentavam informações sobre os objetivos do estudo e dos questionários a utilizar, garantindo-se a confidencialidade dos resultados e o anonimato dos inquiridos. O estudo foi oficialmente autorizado por esses Conselhos que, tendo em consideração a população alvo e o tipo de estudo, dispensaram o Parecer das Comissões de Ética. A recolha dos questionários decorreu entre o mês de janeiro e o mês de abril de 2011.

Na recolha de dados foram utilizados: I) Questionário Sociodemográfico, II) Questionário de Saúde Geral-12 (validado para a população portuguesa)( 1616. Laranjeira CA. General health questionnaire-12 items: adaptation study to the Portuguese population. Epidemiol Psichiatr Soc. 2008;17(2):148-51. ), III) Inventário de Estressores Ocupacionais( 1717. Santos MC, Barros L, Carolino E. Occupational stress and coping resources in physiotherapists: a survey of physiotherapists in three general hospitals. Physiotherapy. 2010;96:303-10. ) e IV) Brief-COPE( 1818. Carver CS. You Want to Measure Coping But Your Protocol's Too Long: Consider the Brief COPE. Int J Behav Med. 1997;4(1):92-100. ) (adaptado para a população portuguesa)( 1919. Sabino A, Santos M, Carvalhais J, Carolino E. Factores de risco de stress relacionado com o trabalho e níveis de stress percebido no corpo académico: estudo numa instituição de ensino superior politécnico. Portugal: Segurança e higiene ocupacionais - SHO; 2011. p. 564-9. ).

O Questionário de Saúde Geral-12 é uma versão reduzida do instrumento original, o General Health Questionnaire, e permite avaliar a perceção geral do indivíduo acerca da sua saúde( 1616. Laranjeira CA. General health questionnaire-12 items: adaptation study to the Portuguese population. Epidemiol Psichiatr Soc. 2008;17(2):148-51. ). Esse questionário, validado para a população portuguesa( 1616. Laranjeira CA. General health questionnaire-12 items: adaptation study to the Portuguese population. Epidemiol Psichiatr Soc. 2008;17(2):148-51. ), é constituído por 12 itens, cada item é avaliado numa escala tipo Lickert com 4 pontos: para os itens negativos a opção de resposta varia de 1-Não, absolutamente a 4-Muito mais do que habitualmente; para os itens positivos a opção de resposta varia de 1-Melhor que habitualmente a 4-Muito menos que habitualmente. No presente estudo considerou-se somente a avaliação global dos 12 itens, tendo-se obtido um valor de alfa de Cronbach igual a 0,829.

O Inventário de Estressores Profissionais é composto por 23 itens e permite ao inquirido avaliar, numa escala tipo Likert de 4 pontos (1-Nada estressante a 4-Muito estressante), um conjunto de situações passíveis de desencadear estresse( 1717. Santos MC, Barros L, Carolino E. Occupational stress and coping resources in physiotherapists: a survey of physiotherapists in three general hospitals. Physiotherapy. 2010;96:303-10. ). Esse questionário foi recentemente utilizado num estudo sobre estresse ocupacional e estratégias de coping em fisioterapeutas( 1717. Santos MC, Barros L, Carolino E. Occupational stress and coping resources in physiotherapists: a survey of physiotherapists in three general hospitals. Physiotherapy. 2010;96:303-10. ). O Inventário de Estressores Profissionais integra duas dimensões relacionadas ao estresse ocupacional: a dimensão funcional e a dimensão sócioemocional( 1717. Santos MC, Barros L, Carolino E. Occupational stress and coping resources in physiotherapists: a survey of physiotherapists in three general hospitals. Physiotherapy. 2010;96:303-10. ). A dimensão funcional diz respeito a estressores associados a aspetos intrínsecos às tarefas dos profissionais de saúde, e a dimensão socioemocional diz respeito a estressores associados a aspetos emocionais e socioemocionais relativos às tarefas desempenhadas pelos profissionais de saúde( 1717. Santos MC, Barros L, Carolino E. Occupational stress and coping resources in physiotherapists: a survey of physiotherapists in three general hospitals. Physiotherapy. 2010;96:303-10. ). Neste estudo, a dimensão funcional apresentou um valor do alfa de Cronbach de 0,824, e a dimensão socioemocional apresentou um alfa de Cronbach de 0,698.

O Brief-COPE( 1818. Carver CS. You Want to Measure Coping But Your Protocol's Too Long: Consider the Brief COPE. Int J Behav Med. 1997;4(1):92-100. ) (adaptado para a população portuguesa)( 1919. Sabino A, Santos M, Carvalhais J, Carolino E. Factores de risco de stress relacionado com o trabalho e níveis de stress percebido no corpo académico: estudo numa instituição de ensino superior politécnico. Portugal: Segurança e higiene ocupacionais - SHO; 2011. p. 564-9. ) foi utilizado para identificar as estratégias de coping utilizadas pelo indivíduo quando se depara com situações potencialmente geradoras de estresse. O Brief-COPE constitui uma versão abreviada do COPE Inventory, e é constituído por 14 dimensões, com dois itens cada: coping ativo planeamento, reinterpretação positiva, aceitação, humor, apoio na religião, uso de suporte emocional, uso de suporte instrumental, autodistração, negação, expressão de emoções, uso de substâncias, descomprometimento comportamental e culpabilização( 1818. Carver CS. You Want to Measure Coping But Your Protocol's Too Long: Consider the Brief COPE. Int J Behav Med. 1997;4(1):92-100. ). Cada item contém uma escala de resposta de 4 pontos tipo Likert: 1 - Não o tenho feito de todo a 4 - Tenho-o feito bastante, na qual o sujeito deve avaliar a opção que melhor descreve as suas ações( 1818. Carver CS. You Want to Measure Coping But Your Protocol's Too Long: Consider the Brief COPE. Int J Behav Med. 1997;4(1):92-100. ). Neste estudo, o Brief-COPE obteve um valor de alfa de Cronbach de 0,872.

Os dados obtidos foram processados pelo programa informático SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 18.0. Assim, para a sistematização da informação obtida através dos dados quantitativos, recorreu-se a técnicas de estatística descritiva (frequências absolutas - n - e relativas - %, medidas de tendência central). Em relação às variáveis em estudo, procedeu-se a uma análise bivariada dos dados. No cruzamento dos fatores sociodemográficos com o Questionário de Saúde Geral-12 e com o Brief-COPE, foi utilizado o teste não paramétrico Mann-Whitney U (p>0,05); e no cruzamento dessas variáveis com o Inventário de Estressores Profissionais, foi utilizado o teste t para amostras independentes (p<0,05). Posteriormente, procedeu-se à análise correlacional entre os fatores sociodemográficos com os instrumentos de colheita de dados utilizados. Em qualquer uma das análises de inferência estatística foi utilizado um nível de significância de 5%.

Resultados

Dos 96 enfermeiros que constituíram a amostra, a maioria era do sexo feminino (n=79 - 82,29%), com média de idade de aproximadamente 31 anos, idade mínima de 22 anos e idade máxima de 53 anos, solteiros (n=51 - 53,1%) e sem filhos (n=66 - 68,8%). O tempo médio de exercício de funções na área da oncologia era de 7 anos e 8 meses, com tempo mínimo de atuação de 5 meses e tempo máximo de 31 anos. No que diz respeito ao tempo de permanência no serviço de cirurgia cabeça e pescoço, os enfermeiros exerciam a sua atividade, em média, há 6 anos e 6 meses, com tempo mínimo de exercício de atividade no serviço de 5 meses e tempo máximo de 30 anos. A maioria dos enfermeiros (n=78 - 80,65%) não possuía formação específica em oncologia, contudo, dos enfermeiros com formação específica em oncologia, o Curso de Enfermagem Oncológica foi o mais realizado (n=12 - 70,6%).

Para a avaliação da perceção da saúde geral da globalidade dos inquiridos (score geral), procedeu-se à soma dos scores de todos os itens que constituem o Questionário de Saúde Geral-12. O score geral varia entre 12 (12×1) e 48 (12×4), sendo o ponto médio de 30 ((48+12)/2). Valores mais elevados revelam menor qualidade de saúde geral. Na Tabela 1 observa-se que o valor de Saúde Geral da amostra está abaixo do ponto de corte, indicando valores razoáveis de saúde geral.

Tabela 1
Avaliação do score geral do Questionário de Saúde Geral-12. Porto, Coimbra, Lisboa - Portugal, 2011

Com base na análise da estatística descritiva das dimensões do Questionário de Saúde Geral-12, verificou-se que 30,2% (n=29) dos inquiridos referiram sentir-se "tristes e deprimidos" e "constantemente sob pressão". Considerando as variáveis "gênero" e "estado civil", constatou-se que não existem diferenças estatisticamente significativas quanto à perceção da qualidade de saúde geral, entre os dois gêneros (teste Mann-Whitney U -p=0,563) e entre o grupo dos casados e dos solteiros (teste Mann-Whitney U - p= 0,938).

Da análise descritiva do Inventário de Estressores Profissionais, verificou-se que a maioria das respostas obtidas variou entre a opção 2-Pouco estressante e 3-Estressante. As situações consideradas 2-Pouco estressante são: a interdependência de responsabilidade (58,3% - n=56), a falta de recursos materiais nos serviços (52,1% - n=50) e os conflitos interpessoais com auxiliares (52,1% - n=50). Como 3-Estressante, a maior percentagem dos indivíduos considerou: a sobrecarga de trabalho (52,1% - n=50), o espaço físico onde se desenvolve a profissão (46,9% - n=45) e as situações de morte e/ou doença com caráter emocionalmente negativo (46,9% - n=45). Os inquiridos consideram como 4-Muito estressante: a falta de reconhecimento social da profissão (44,8% - n=43) e a baixa remuneração salarial (51% - n=49). Considerando a variável "gênero", verificou-se que existem diferenças estatisticamente significativas na dimensão funcional e na dimensão socioemocional relativamente ao gênero, apresentando que os indivíduos do sexo feminino mostram valores significativamente superiores, isto é, os profissionais de enfermagem do gênero feminino atribuem maior grau de estresse aos estressores ocupacionais de ambas as dimensões (teste t para amostras independentes (p=0,049 e p=0,020)). Em relação à variável "estado civil", constatou-se que não existem diferenças estatisticamente significativas para a dimensão funcional e para a dimensão socioemocional, relativamente ao grupo dos casados e ao grupo dos solteiros (separados/divorciados) (teste t para amostras independentes - p=0,715 e p=0,564).

Para a avaliação das estratégias de coping mais utilizadas, recorreu-se à construção de scores para as 14 dimensões do Brief-COPE. O ponto médio é o mesmo para todas as dimensões, sendo que valores mais próximos ou mais elevados que 5 demonstram maior frequência de utilização de cada uma das dimensões - Estratégias de Coping (Tabela 2).

Tabela 2
Avaliação dos scores do Brief-COPE. Porto, Coimbra, Lisboa - Portugal, 2011

Assim, as estratégias de coping mais utilizadas pelos inquiridos foram: o planeamento, o coping ativo, a aceitação, a autodistração e a reinterpretação positiva. Da análise descritiva do Brief-COPE, salienta-se a opção "Tenho-o feito, em média" que obteve percentagens de resposta mais elevadas no que concerne ao coping ativo (Item 2 - "Tenho direcionado os meus esforços em fazer algo para resolver a situação que me causa estresse" - 56,3% - n=54; Item 7 - "Desenvolvido ações para melhorar a situação estressante" - 45,8% - n=44), o planeamento (Item 14 - "Tenho tentado encontrar uma estratégia sobre o que fazer" - 47,9% - n=46; Item 25 - "Tenho refletido muito sobre os passos a dar" - 40,6% - n=39), a aceitação (Item 20 - "Tenho vindo a aceitar a realidade do fato de essa situação estar a acontecer" - 49% - n=47; Item 24 - "Tenho aprendido a viver com isso" - 39,6% - n=38), a reinterpretação positiva (Item 12 - "Tenho tentado ver a situação estressante de uma perspetiva diferente, para a fazer parecer mais positiva" - 33,3% - n=32; Item 17 - "Tenho tentado encontrar algo de bom no que está a acontecer" - 42,7% - n=41) e a autodistração (Item 1 - "Tenho-me virado para o trabalho ou para outras atividades para afastar a minha mente dos assuntos que me causam estresse" - 39,6% - n=38; Item 19 - "Tenho feito outras coisas para pensar menos na situação estressante, tal como ir ao cinema, ver televisão, ler, sonhar acordado, dormir ou ir às compras" - 35,4% - n=34). Considerando a variável "gênero" verificou-se que há apenas diferenças estatisticamente significativas quanto ao uso de substâncias, apresentando o grupo masculino valores mais elevados (Mann-Whitney U - p=0,011). Relativamente à variável "estado civil", constatou-se que não existem diferenças estatisticamente significativas entre o grupo dos solteiros e dos casados (Mann-Whitney U - p>0,05, para qualquer uma das estratégias de coping).

Quanto às correlações entre estratégias de coping e as variáveis saúde geral e dados sociodemográficos, verificou-se que os resultados do Questionário de Saúde Geral-12 se correlacionam positiva e fracamente com as estratégias de coping autodistração, negação e descomprometimento comportamental (Tabela 3), isto é, constata-se a existência de relação entre piores níveis de saúde geral e o recurso a essas estratégias de coping.

Tabela 3
Correlações entre o Questionário de Saúde Geral-12 e o Brief-COPE: coeficiente de correlação de Pearson (r) e nível de significância (p). Porto, Coimbra, Lisboa - Portugal, 2011

Discussão

Com este estudo pretendeu-se avaliar a perceção geral de saúde e identificar fontes de estresse e estratégias de coping numa amostra de 96 enfermeiros de oncologia - Serviço de Cirurgia Cabeça e Pescoço.

Verificou-se que a população em estudo apresenta valores razoáveis de saúde geral. Salienta-se, porém, que percentagem expressiva de enfermeiros refere ter se sentido mais triste ou deprimido do que habitualmente, e também ter sentido mais pressão do que habitualmente. Esses resultados confirmam estudos anteriores que referem que, apesar de uma avaliação geral positiva quanto à sua saúde, os enfermeiros apresentam frequentemente valores elevados relativamente a estados deprimidos ou de ansiedade( 2020. Moore K, McLaughlin D. Depression: the challenge for all healthcare professionals. Nurs Stand. 2003;12-18;17(26):45-52. ).

Em relação a fontes de estresse identificadas neste estudo, destacam-se, reforçando investigações anteriores, aquelas relacionadas à baixa remuneração salarial e à falta de reconhecimento social da profissão( 66. Isikhan V, Gomes T, Danis Z. Job stress and coping strategies in health care professionals working with cancer patients. Eur J Oncol Nurs. 2004;8:234-44.

7. Glazer S, Gyurak A. Sources of occupational stress among nurses in five countries. Int J Intercult Relations. 2008;32:49-66.
- 88. Gomes RA, Cruz JF, Cabanelas S. Stress ocupacional em profissionais de saúde: um estudo com enfermeiros Portugueses. Psicol Teoria Pesqui. 2009; 25(3):307-18. ). A falta de reconhecimento social da profissão é, na realidade, um dos problemas mais referidos por um conjunto de profissionais de saúde (enfermagem e profissionais técnicos de diagnóstico e terapêutica), cuja formação acadêmica só recentemente foi certificada como atribuindo o grau de licenciado. No entanto, esse reconhecimento acadêmico nem sempre tem sido acompanhado por efetivas mudanças no estatuto desses profissionais que, em muitos casos, continuam a sentir obstáculos ao pleno desenvolvimento das suas potencialidades profissionais. Foram ainda considerados como estressantes, por número muito elevado dos sujeitos, situações relacionados aos aspetos funcionais e organizacionais como o espaço físico onde se desenvolve a atividade, a sobrecarga de trabalho e situações relacionadas aos aspetos emocionais, como o confronto com doença, a morte ou outras situações de caráter emocionalmente negativo. Esses resultados são similares aos encontrados em outros estudos com amostras semelhantes( 55. McIntyre T, McIntyre S, Silvério J. Respostas de stress e recursos de coping nos enfermeiros. Anal Psicol. 1999;17:513-27. - 66. Isikhan V, Gomes T, Danis Z. Job stress and coping strategies in health care professionals working with cancer patients. Eur J Oncol Nurs. 2004;8:234-44. , 99. Rodrigues AB, Chaves EC. Stressing factors and coping strategies used by oncology nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(1):24-8. ). As situações de morte e/ou doença com caráter emocionalmente negativo constituem um dos estressores mais evidenciados pelos investigadores nas mais diversas áreas da enfermagem, contudo, assumem principal destaque nos estudos com enfermeiros na área da oncologia( 66. Isikhan V, Gomes T, Danis Z. Job stress and coping strategies in health care professionals working with cancer patients. Eur J Oncol Nurs. 2004;8:234-44. , 99. Rodrigues AB, Chaves EC. Stressing factors and coping strategies used by oncology nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(1):24-8. , 2121. Ekedahl M, Wengstrom Y. Nurses in cancer care-stress when encountering existential issues. Eur J Oncol Nurs. 2007;11:228-37. ). Num estudo( 2121. Ekedahl M, Wengstrom Y. Nurses in cancer care-stress when encountering existential issues. Eur J Oncol Nurs. 2007;11:228-37. ) com enfermeiros de diferentes instituições oncológicas da Suécia, constatou-se que os níveis de estresse variavam de baixos a severos, e as principais fontes de estresse identificadas foram o cuidar de doentes oncológicos jovens, o lidar com as situações de morte e a pouca eficácia no alívio do sofrimento do doente. A valorização da sobrecarga de trabalho como estressor pode se prender ao tipo de cuidados prestados ao doente oncológico (normalmente cuidados complexos), com o número insuficiente de enfermeiros na prestação de cuidados, e com o fato de os enfermeiros desempenharem funções fora do seu âmbito de trabalho (p.ex., funções administrativas ou funções do foro social). Em relação aos espaços físicos nas instituições de saúde, esses tendem a ser pouco ergonômicos, isto é, pouco adaptados às necessidades dos profissionais de saúde, mas, também, pouco adequados às necessidades dos utentes, o que interfere com a dinâmica de trabalho dos profissionais de enfermagem. De forma similar, num estudo( 2222. Rodrigues VMCP, Ferreira ASS. Stressors in nurses working in Intensive Care Units. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(4):1025-32. ) realizado com enfermeiros portugueses da unidade de cuidados intensivos, verificou-se que as condições físicas desadequadas e a sobrecarga de trabalho constituem fonte de estresse. Quanto às fontes de estresse, constatou-se, ainda, que os profissionais de enfermagem do sexo feminino atribuem maior grau de estresse aos estressores ocupacionais, do que os profissionais de enfermagem do sexo masculino. Essa evidência pode ser atribuída ao fato de os profissionais de enfermagem do sexo feminino desenvolverem, para além da atividade laboral, múltiplas funções( 2323. Guerrer FJL, Bianchi ERF. Caracterização do estresse nos enfermeiros de unidades de terapia intensiva. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(2):355-62. ) relacionadas aos aspetos da vida familiar e doméstica. Nesse sentido, aponta um estudo( 44. Mininel VA, Baptista PCP, Felli VE. Psychic workloads and strain processes in nursing workers of brazilian university hospitals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):340-7. ) realizado com enfermeiros de cinco hospitais públicos universitários brasileiros, cujos resultados evidenciaram que os profissionais de enfermagem do gênero feminino vivenciam sentimentos de culpabilidade pela falta de atenção dada aos filhos em detrimento do trabalho, desencadeando sintomas psicossomáticos que comprometem a qualidade de vida geral dos indivíduos e dos familiares próximos.

No que diz respeito ao tipo de estratégias de coping, as mais utilizadas pelos enfermeiros foram o planeamento, o coping ativo, a aceitação, a autodistração e a reinterpretação positiva. A estratégia menos utilizada pelos enfermeiros foi o uso de substâncias. O planeamento e o coping ativo são estratégias de coping que visam essencialmente resolver o acontecimento/situação estressora. Também em estudo( 66. Isikhan V, Gomes T, Danis Z. Job stress and coping strategies in health care professionals working with cancer patients. Eur J Oncol Nurs. 2004;8:234-44. ) realizado em cinco hospitais oncológicos da Turquia, verificaram-se que as estratégias de coping mais utilizadas pelos enfermeiros em oncologia recaíram em ações de reavaliação do potencial estressor e na elaboração de formas de resolução. A utilização preferencial desse tipo de estratégias pode estar relacionada à orientação pragmática de planeamento e resolução de problemas que, tradicionalmente, é seguida na formação acadêmica desses profissionais, mas, também, poderá estar relacionada à existência de um bom suporte social. Os resultados de um estudo( 1313. Negromonte MRO, Araujo TCCF. Impact of the clinical management of pain: evaluation of stress and coping among health professionals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(2):238-44. ) com enfermeiros brasileiros, numa unidade de queimados e num serviço de dor crônica e cuidados paliativos, apontam nesse sentido, pois, constataram-se que as exigências psicológicas e as condições adversas do contexto de trabalho são mitigadas quando os profissionais apresentam níveis elevados de interação social positiva. A aceitação, a autodistração e a reinterpretação positiva são estratégias de coping focadas na emoção. O indivíduo utiliza esse tipo de coping, quando concentra esforços em si mesmo, com o intuito de alterar a sua compreensão sobre o estressor e reduzir o mal-estar provocado. Quanto à estratégia de coping aceitação, representa um padrão de resposta essencialmente caraterizado por aceitação resignada da situação estressante, diminuindo a sua valência. Esse resultado é contrário ao encontrado num estudo( 55. McIntyre T, McIntyre S, Silvério J. Respostas de stress e recursos de coping nos enfermeiros. Anal Psicol. 1999;17:513-27. ) com enfermeiros portugueses, no qual a aceitação constitui uma das estratégias menos utilizadas. O recurso à autodistração é frequentemente expresso no envolvimento em atividades com o intuito de evitar o evento estressor. Embora possa ter um caráter positivo, a utilização sistemática e exclusiva dessa estratégia pode afastar o enfermeiro da realidade que ele tem que confrontar no seu dia a dia e não permitir estratégias mais ativas de resolução. A reinterpretação positiva, que se encontra relacionada à tentativa de o indivíduo reestruturar o acontecimento estressor, tendo por objetivo encontrar aspetos mais favoráveis que permitam o seu crescimento pessoal ou profissional, foi também identificada num estudo( 99. Rodrigues AB, Chaves EC. Stressing factors and coping strategies used by oncology nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(1):24-8. ) com enfermeiros em oncologia, como a estratégia de coping focada na emoção mais utilizada. Resultados semelhantes foram encontrados num outro estudo( 2424. Avellar LZ, Iglesias A, Valverde PF. Sofrimento psíquico em trabalhadores de enfermagem de uma unidade de oncologia. Psicol Estudo. 2007;12(3):475-81. ) sobre sofrimento psíquico com enfermeiros em oncologia, no qual se comprovou que os inquiridos referem "não se envolver" com o doente oncológico, família e/ou colega de trabalho, com o intuito de não estabelecerem laços afetivos.

Indo ao encontro de resultados de investigações anteriores( 2525. Coelho JAPM, Albuquerque FJB, Martins CR, D'Albuquerque HB, Neves MTS. Coping em Jovens frente à Expectativa de Inserção Ocupacional e Indicadores de Depressão. Psicol Teoria Pesqui. 2008;24(4):527-34. ), no presente estudo verificou-se uma correlação significativa negativa entre saúde geral e estratégias de coping de evitamento ou adiamento como a autodistração, negação e descomprometimento comportamental. Esse resultado vem reforçar a ideia de que estratégias centradas no afastamento do indivíduo da fonte de estresse podem ser protetoras em situações pontuais de crise ou de impossibilidade de resolução, mas não são promotoras de equilíbrio físico e emocional em situações que são prolongadas no tempo e que requerem a participação ativa do indivíduo.

Em relação às limitações do estudo, essas se referem à pequena dimensão da amostra em estudo, que não permite a sua generalização. Nota-se, no entanto, que a amostra utilizada compreendeu a totalidade dos enfermeiros dos serviços onde se realizou o estudo.

Conclusão e implicações práticas

Considera-se que os resultados obtidos poderão constituir um contributo importante para a compreensão dos fatores de estresse ocupacional em enfermagem oncológica, para o desenvolvimento de ações que previnam reações adversas na saúde e bem-estar dos profissionais de enfermagem e, consequentemente, promovam a qualidade dos serviços prestados ao utente. Nesse contexto de prevenção, torna-se essencial a implementação de estratégias que visem: (1) melhorar a organização do trabalho e a distribuição de funções, de forma a que sejam respeitadas e efetivamente aproveitadas as capacidades e os recursos pessoais e coletivos dos enfermeiros; (2) melhorar os canais de comunicação (maior adequação da passagem de informação entre equipas), tornando mais efetiva essa comunicação; (3) possibilitar o desenvolvimento e crescimento profissional (valorização das competências e da profissão de enfermagem); (4) criar programas de formação contínua (formação em serviço ou promoção de formação em cursos conferentes de competências transversais ou específicas) e (5) desenvolver programas de apoio e prevenção de estresse (grupos de discussão e grupos de suporte/apoio psicossocial para a ajuda na monitorização do estresse e resolução de situações problemáticas).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2013

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2012
  • Aceito
    30 Jul 2013
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