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Co(rpo)memoração*1 *1 Neologismo sugerido por Marco Antonio Coutinho Jorge que associa corps (corpo) e mémorer (rememorar), na dissertação de Mestrado em Psicanálise, de Madeira, M. O. M. Reflexões Psicanalíticas sobre o Fenômeno Psicossomático. Orientador Marco Antonio Coutinho Jorge. Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Rio de Janeiro, abril de 2019. Pesquisa em continuidade no doutorado da autora (PGPSA-UERJ). : fixação e regressão a traços de memória deixados no corpo

In-body memory: from fixation and regression to memory traces left in the body

Co(rps)mémoration: de la fixation et de la regresssion aux traces de mémoire laissés laissés sur le corps

C(uerp)onmemoración* * En el original, co(rpo)memoração, que representa la unión de dos palabras: cuerpo y memorar/conmemoración. : fijación y regresión a las huellas de memoria que quedan en el cuerpo

O trauma, como co(rpo)memoração, será abordado, neste trabalho, na perspectiva psicanalítica, com base nos desdobramentos que se manifestam em “atos” no corpo que tomam o lugar da elaboração psíquica. Perspectiva na qual a repetição se apresenta sob a modalidade da fixação a um gozo “além” e da regressão como uma espécie de memória que evita o encontro com o novo e retorna a traços de memória deixados no corpo. Para tanto, será tomado como referência o pesadelo vivido e narrado pela ativista Eve Ensler, no relato de cunho testemunhal, em seu livro No corpo do mundo: um livro de memórias (2014). Ensler fala da relação profundamente íntima e dolorosa que tem com seu corpo e como esta mudou ao longo de sua vida, depois de conviver com mulheres que tinham experimentado a violência e o sofrimento da violação de seus corpos.

Palavras-chave:
Psicanálise; manifestações clínicas; corpo; memória


Resumos

This paper discusses trauma as an in-body memory based on ramifications that are manifested as “acts” in the body, and which replace psychic elaborations. In thispsychoanalytic perspective, repetition is manifested as fixation to a joissance “beyond” and as regression as a kind of memory that avoids the new and looks to traces of past memory left in the body. To this end, the nightmare lived and narrated by activist Eve Ensler in her book In the body of the world: A memoir (2014), will be used as reference. Ensler speaks of the deeply intimate and painful relationship she has with her body and how it changed throughout her life, after spending time with women victims of sexual violence.

Key words:
Psychoanalysis; clinical manifestations; body; memory

Cet article traite du traumatisme, comme co(rps)mmémoration basée sur des déroulements qui se manifestent comme des “actes” dans le corps, et qui remplacent les élaborations psychiques. Dans cette perspective psychanalytique, la répétition se manifeste comme une fixation à une jouissance “au-delà” et comme une régression en tant que type de mémoire qui évite la rencontre avec le nouveau et renvoie à des traces de mémoire laissées sur le corps. À cette fin, le cauchemar vécu et raconté par l’activiste Eve Ensler dans son livre Dans le corps du monde: une mémoire (2014), sera utilisé comme référence. Ensler y parle du rapport profondément intime et douloureux qu’elle entretient avec son corps et de la façon dont elle a évolué au cours de sa vie, après avoir vécu avec des femmes victimes des violences sexuelles.

Mots clés:
Psychanalyse; manifestations cliniques; corps; mémoire


El trauma, como forma de c(uerp)onmemoración, será abordado, en este trabajo, desde la perspectiva psicoanalítica, a partir de los desdoblamientos que se manifiestan en “actos” en el cuerpo que ocupan el lugar de la elaboración psíquica. Una perspectiva en la que la repetición se presenta bajo la modalidad de fijación a un goce “más allá” y de regresión como una especie de memoria que evita el encuentro con lo nuevo y vuelve a las huellas de la memoria dejados en el cuerpo. Para ello, se tomará como referencia la pesadilla vivida y narrada por la activista Eve Ensler, en el relato testimonial de su libro De Pronto, Mi Cuerpo: Una Memoria (2015). Ensler habla de la relación profundamente íntima y dolorosa que mantiene con su cuerpo y de cómo ésta ha cambiado a lo largo de su vida, tras convivir con mujeres que habían experimentado la violencia y el sufrimiento de la violación de sus cuerpos.

Palabras clave:
Psicoanálisis; manifestaciones clínicas; cuerpo; memoria


Introdução

Assistimos estupefatos ao recrudescimento do ódio no mundo. A violência se apresenta em sexismo, homofobia, racismo, xenofobia, rivalidades políticas e religiosas, assim como na atualidade brasileira estamos diante do crescimento patente da violência contra mulheres. São formas de violência que não estão distantes de nós: elas encarnam não só o nosso Eu, sede de toda a agressividade, como nos dão acesso ao mais estranho dos outros, como um outro em nós. Cabe ao analista refletir quais seriam as balizas estruturais detrás de tais fenômenos.

Embora o amor e o ódio nos pareçam sentimentos opostos em seu conteúdo, eles estão ligados à constituição do ser. Trata-se do amódio (hainamoration), enamoração feita de ódio e de amor, verdadeiras paixões fundamentais como Jacques Lacan (1953-54/2009)Lacan, J. (2009). O seminário. Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1953-54). introduziu em O seminário. Livro 1. Amor e ódio também são paixões que envolvem a oposição imaginária entre o igual e o diferente. Relações essas caracterizadas pelo amor com quem me identifico e por ódio com quem rivalizo.

Diz respeito à constituição do ser tratada por Sigmund Freud no artigo “A negativa” (Die Verneinung) (1925/2007c), em que o mecanismo da Austossung, expulsão, é o ponto de partida da configuração do ser na sua primeira paixão, o ódio. O Eu-prazer originário julga o que é desagradável, expulsa-o configurando-se no dito do sujeito — “isso não é parte de mim”, procurando se diferenciar do desprazer do mundo externo. Por outro lado, o que é agradável é incorporado — “isso é parte de mim”. Sobre essa primeira forma de negação, expulsão para fora de si (Ausstossung), é possível pressupor a separação que há entre o Eu e um real que é traumático.

Como elaborado por Freud em “Além do princípio de prazer” (1920/2006b), chamamos de traumáticas as excitações que tiveram força suficiente para romper a fantasia, que tende a operar de modo eficaz como um escudo protetor, pois a fantasia é o limite entre o sujeito e a invasão do real.1 1 O real é uma categoria estabelecida por Jacques Lacan. É um registro que só pode ser entendido em relação aos registros do simbólico e do imaginário. O real é definido como o que escapa ao simbólico, não pode ser falado ou escrito, trata-se do impossível. Marco Antonio Coutinho Jorge (2010) explora esse tema em “Os dois polos da fantasia”. In Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol: 2: a clínica da fantasia. Por isso Lacan conceitua o real como aquilo que é da ordem do não senso, ou seja, aquilo que escapa a toda e qualquer tentativa de ser simbolizado. Não há dúvidas que um trauma externo pode perturbar gravemente a economia energética do organismo, acionar todos os mecanismos de defesa e tornar o princípio de prazer inoperante. O sistema psíquico sofre uma síncope impossibilitando capturar o excesso de estímulo para poder psiquicamente processá-lo.

Diante do fracasso da função simbólica, seria tarefa do aparelho psíquico — aparelho de linguagem — operar independentemente do princípio de prazer como demonstram os casos de compulsão à repetição. São traços de lembranças arcaicas que fazem retornar certas vivências do passado, mas que não incluem nenhuma possibilidade de prazer. Em O seminário. Livro 11 (1964/1998b), Lacan chama a atenção para o fato “do real ser apresentado na experiência analítica na forma do que há nele de inassimilável — na forma do trauma” (p. 57).

Sob esse viés, em 1918, no artigo “Psicanálise das neuroses de guerra” Sándor Ferenczi discorre sobre o tema explicando que as fixações dos movimentos de expressão da maioria dos traumatizados remetem aos estados infantis, ao modo das regressões presentes na conversão histérica que, segundo Freud e Breuer, são regressões às fases ultrapassadas de desenvolvimento. Cabe salientar que essa declaração corrobora a nossa hipótese de que a histeria de conversão e o fenômeno psicossomático (FPS) são regressões a caminhos já trilhados, às fases originais de desenvolvimento.

No ponto crucial da teoria apresentada no ensaio “Além do princípio de prazer” (1920/2006b), no qual enfatiza, como tema principal, a repetição que vai servir de fundamento para a pulsão de morte — pulsão de destruição e de agressividade (cf. Jorge, 2020, pp. 479-504Jorge. M. A. C. (2020). Posfácio – Incidências clínicas: “O terceiro passo de Freud”. In S. Freud, Obras incompletas de Sigmund Freud (pp. 479-504). Autêntica.), Freud reafirma o princípio de prazer como um processo primário que predomina no psíquico, porém ineficiente diante dos perigos do mundo externo. O fato novo revelado por Freud nesse ensaio é a compulsão à repetição, que faz regredir a certas experiências do passado, mas que não inclui nenhuma possibilidade de satisfação prazerosa, nem mesmo para moções pulsionais recalcadas naquela ocasião. Essas experiências vividas num estado de desamparo são causadoras de sensações profundamente dolorosas: a violência familiar, a perda de amor, o fracasso no desabrochar da vida sexual infantil, por exemplo, deixam traços permanentes do sentimento de insuficiência e inferioridade tão comum nos neuróticos.

Quando o aparelho psíquico sofre uma efração sob a ação do trauma, a compulsão à repetição estaria operando a favor da captura e da fixação (Bindung) psíquica das impressões traumáticas. Assim como os sonhos buscam resgatar a capacidade do aparelho psíquico de processar os estímulos que afluem na ocasião do desencadeamento do medo, as afecções dolorosas exercem influência poderosa na distribuição da libido do sujeito. O enigmático desses processos é que lidam com energia livre e móvel (sem representação psíquica), tal qual os processos psíquicos primários provindos do inconsciente.

Freud salienta que a chance de contrair uma neurose diminui quando o trauma é acompanhado por um ferimento físico. Fato justificado pela capacidade que um ferimento desse tipo tem de mobilizar o investimento narcísico na direção do órgão em sofrimento, utilizando essa energia para capturar o excesso de excitação. O adoecimento ajuda a promover a distribuição da libido e a capturar e ligar psiquicamente, ou seja, dar sentido às impressões traumáticas, apesar de escapar ao domínio do princípio de prazer.

Em relação ao termo fixação, Freud emprega-o em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905/2009) no mais amplo sentido, inclusive filogenético, denominando uma fixação da libido numa determinada fase do desenvolvimento da sexualidade e fazendo com que o modo de satisfação permaneça característico dessa fase e se estenda às mais diversas regiões da atividade psíquica. No caso Dora (1905/1992b), ele usa o termo para especificar a fixação da libido com os sintomas da afonia e da tosse de Dora, que toma para explicar a conversão histérica, na enigmática transposição de uma situação puramente psíquica para uma corporal. Ao discutir esse tema no livro Artigos de metapsicologia, Luiz Alfredo Garcia-Roza (2008)Garcia-Roza, L. A. (2008) Artigos de metapsicologia (1914-1917): narcisismo, pulsão, recalque e inconsciente (Vol. 3). Jorge Zahar. afirma que na “carta 52”, embora ainda não use o termo fixação (Fixierung), Freud concebe esse tipo de “insistência” como uma forma de recalcamento (p. 178).

Freud (1891/2014)Freud, S. (2014). Afasias: sobre a concepção das afasias; As Afasias de 1891/ Sigmund Freud, Luiz Garcia-Roza. Zahar. concebe o aparelho psíquico — aparelho de linguagem — como sendo formado segundo estratificações sucessivas, de tal modo que os traços mnêmicos sofrem rearranjos ou transcrições (Umschriften) de tempos em tempos. Ele indica que a memória não é confiável integralmente, pois ela é móvel e não estática, de tal modo que as fixações produzem efeitos patógenos.

No artigo metapsicológico sobre o recalque (1915/2004b), os termos recalque primário (Urverdrängung) e fixação (Fixierung) são empregados para designar situações em que a representação da pulsão (Vorstellung) nega o acesso à consciência. Por outro lado, pelo fato de que a partir de então permanece ligada à representação-palavra, a pulsão conhece um destino essencialmente psíquico.

Segundo Garcia-Roza (2008)Garcia-Roza, L. A. (2008) Artigos de metapsicologia (1914-1917): narcisismo, pulsão, recalque e inconsciente (Vol. 3). Jorge Zahar., as noções de fixação, inscrição e recalque não significam a mesma coisa, mas correspondem à mesma fase do recalcamento, cada uma à sua maneira. A partir de então, estabelece-se uma moção pulsional (Triebregung), de modo que a representação fixada funciona como polo atrativo para os recalques posteriores (p. 178). O Outro como lugar do recalque primário é situado também como lugar da fala e, nesse sentido, o inconsciente se estrutura como linguagem e o corpo, antes inteiramente da ordem do gozo, passa a ter o gozo limitado às zonas erógenas referidas às pulsões parciais (Jorge, 2010Jorge. M. A. C. (2010). Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan: a clínica da fantasia (Vol. 2). Jorge Zahar.). Em termos lacanianos, trata-se da fixação de um gozo singular, um modo repetitivo de o sujeito buscar satisfação ainda que na dor.

Configura-se, assim, a íntima relação entre fixação e regressão, que temos relacionado ao longo de nossa pesquisa à co(rpo)memoração — um retorno aos primórdios quando os recursos psíquicos falham, mas que indicam manifestações do simbólico, em princípio enigmáticas, que incidem sobre o corpo.

Frente ao trauma, o real impossível de ser dito, muitas vezes é só pela re-petição ou até mesmo pela co(rpo)memoração que se pode co-memorar o imemorável. O sujeito co(rpo)memora com o Outro (a família ou a cultura na qual está integrado), o que significa evocar, conjurar um tempo primordial. São fenômenos que em sua causalidade indicam uma cifra inscrita no corpo, situam o sujeito na árvore genealógica, na constelação familiar, indicam traços de identificação e sinalizam símbolos bizarros que aparecem no corpo. Traços tomados de empréstimo, às vezes da imagem, às vezes da cena que comemora o Outro primordial.

O trauma como co(rpo)memoração será abordado, neste trabalho, tomando como referência o relato, de cunho testemunhal, do verdadeiro pesadelo vivido pela escritora e ativista Eve Ensler (2014)Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros. em seu livro De pronto mi cuerpo: una memoria.2 2 Título no original: In the body of the world: a memoir. A metodologia utilizada neste artigo foi o estudo teórico-clínico, relato da história clínica que pode funcionar, até certo ponto, como substituto da entrevista do sujeito, como Freud sustenta em abordagem semelhante no ensaio sobre a Gradiva (1907/1979a), estudo da obra literária de Wilhelm Jensen, e no caso Schreber (1911/1980), sendo este último a análise do relato da história clínica do autor em obra literária. Cabe ressaltar que esta é apenas uma leitura possível e impõe-se como fundamental, na abordagem psicanalítica, que o considerado traumático seja analisado na singularidade de suas manifestações clínicas, em cada caso, a posteriori e a partir das operações que podem convocar o sujeito.

O exílio do corpo

Com base nessas considerações, partimos da relação profundamente íntima e dolorosa que Eve Ensler (2014)Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros. narra ter tido com seu próprio corpo e de como esta mudou ao longo de sua vida: uma desconexão provocada pelo abuso sexual de seu pai e pela omissão de sua mãe. “Porque eu não falei, não poderia habitar meu corpo”, escreve, “eu não poderia sentir ou conhecer sua dor” (p. 11).

Ela supõe que haja ligação entre o “exílio de seu próprio corpo” e a falta de afeto em sua infância que resultou em um furo, um vazio, uma fome, um desejo que determinou sua vida. Quanto a isso, pondera:

Fui expulsa muito prematuramente de mim mesma e me perdi. [...] Não me criei em um lar, mas numa espécie de queda livre de ódio e de violência que me levou a uma vida de movimento constante de abandonos e de tropeços. (p. 11)

Ensler trata em seu testemunho da ligação do ódio à ignorância. Sem reconhecer seu próprio corpo, ela se confessou uma estranha para si mesma, seu corpo era uma carga, via-o como algo que desgraçadamente havia que ocupar. Em suas palavras:

Por isso tinha necessidade de me drogar, de trepar. [...] não tinha tanto a ver com o sexo, como sentir um lugar. Necessitava que me tocassem, sentir o peso do outro, sentir o outro dentro de mim, sinto que existo. Estou aqui. (p. 11)

Segundo Eve Ensler, sua atitude passiva diante do que lhe acontecia era como uma espécie de sonolência: um estado narcótico autoinduzido por um perigo extremo, uma espécie de divisão (escisión) da consciência, um abandono parcial do mundo ou a semiconsciência em outro mundo. Sonolência que, segundo sua narrativa, é uma paralisia que se produz quando estamos presos entre duas escolhas morais extremas, “lealdade ou vergonha, mudar ou morrer” (pp. 25-26).

Sergio Laia e Heloisa Caldas (2016)Laia, S., & Caldas, H. (2016). Violência e agressividade: diferenças a partir da linguagem e do inominável da feminilidade. Revista de Psicologia Clínica, 16(3), 1-23). argumentam que pode haver um deslizamento do segredo do recalque para o silêncio concernente ao real: mesmo que a pessoa violentada admita sua parcela de responsabilidade, por se manter na situação potencialmente produtora de violência, ela, em muitos casos, não consegue exprimir em palavras a pulsão de morte que a imobiliza, impedindo que evite ou abandone a relação violenta.

Ensler repetia algo pouco apropriado à adaptação vital, reproduzia um discurso no qual se achava presa à sua família. É o que se denomina de supereu, uma das instâncias do aparelho psíquico, cujo papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao Eu. Nesse sentido, a consciência moral, a auto-observação e as formações de ideais são funções próprias do supereu. Como definem Laplanche e Pontalis (2001)Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (2001). Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes., por ser o herdeiro do complexo de Édipo, o supereu é constituído pela “interiorização das exigências e das interdições parentais” (pp. 497-498). O sujeito é condenado a ser um dos elos do discurso familiar, até que se aproprie dele. Como Lacan (1953-54/2009)Lacan, J. (2009). O seminário. Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1953-54). afirma: “é uma forma circular de uma fala, que está justo no limite do sentido e não sentido, que é a problemática” (p. 127).

Há pessoas que, a julgar por suas reações ao trauma, parecem passar por uma reversão da pulsão de autopreservação. Em outras palavras, elas parecem buscar a autodestruição. Como presumiu Freud (1920/2006b)Freud, S. (2006b). Além do princípio de prazer. In Escritos sobre a psicologia do inconsciente (Vol. 2, pp.123-198). Imago. (Trabalho original publicado em 1920)., há nelas uma vasta desfusão das pulsões de vida e de morte, em consequência das quais foram liberadas quantidades excessivas de destruição voltadas para o interior. O Eu se apresenta enfraquecido, sua atividade é inibida por severas proibições do supereu, está danificado em sua atividade de autoproteção, dilacerado por anseios contraditórios, por conflitos não resolvidos e por dúvidas não esclarecidas, como indica o testemunho da autora.

Conflitos encenados desde o complexo de Édipo, drama que se entende pela paixão da criança pelo sexo oposto, a paixão da filha pelo pai, do filho pela mãe, que se agrega ao desejo de morte da figura parental do mesmo sexo. No drama de Ensler, o pai representa aquele que subverte a lei da proibição do incesto, mãe e filha se configuram rivais. Por conseguinte, sentem uma pela outra ódio e rivalidade. Quer se exprima ou permaneça profundamente mergulhado no inconsciente, esse sentimento é recalcado pelo poderio do mandamento moral do supereu: “Amarás pai e mãe, sob a pena de morte”, que é a gênese do sentimento de culpa.

Trata-se da lei simbólica que regula os gozos: somos todos castrados e sujeitos à função fálica, com exceção do pai da horda (o pai mítico de “Totem e tabu”) que controla e goza de todas as mulheres. É o pai que se apresenta como aquele que não está interditado pelo tabu do incesto: todas as mulheres existem para ele, e para ele apenas, como acessíveis.

Segundo o relato, de todas as coisas destrutivas às quais o pai submeteu a família, nada foi tão devastador e duradouro como a forma com que abusou delas, as enfrentou e as separou: “Este foi seu legado mais profundo e duradouro” (Ensler, 2014, p. 118Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.). É paradoxal quando a violência se revela onde menos esperamos encontrá-la: na família. É nesse jogo identificatório, em que o sujeito se vê no outro, captado por uma imagem estranha e ao mesmo tempo sua, que observamos a função do processo de identificação. Logo, podemos dizer que: “a linha divisória entre agressividade e violência é bastante tênue, como nos indicam os fenômenos da rivalidade, ciúme e inveja que encobrem o conflito mortífero entre sujeito e objeto” (Laia & Caldas, 2016, p. 7Laia, S., & Caldas, H. (2016). Violência e agressividade: diferenças a partir da linguagem e do inominável da feminilidade. Revista de Psicologia Clínica, 16(3), 1-23).). Trata-se da relação imaginária entre o Eu e o outro, na qual a violência faz desaparecer as identificações entre o sujeito e o objeto exatamente no ponto onde a linguagem fracassa.

Ensler associa a mutação prematura e destrutiva da família à de uma célula cancerígena que condiciona os modelos psíquicos e sociais da nossa existência:

O mundo parece estar construído sobre impérios nascidos destas mutações: os pobres enfrentando os pobres, um grupo étnico contra outro, um grupo se sobrepondo ao outro numa sedução que mantém os poderosos em seus lugares. (Ensler, 2014, p. 118Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.)

É a força desagregadora do ódio e da ignorância. O que foi vivido traumaticamente pelo sujeito e não pode ser integrado a um contexto de simbolização, poderá ser a posteriori (Nachträglichkeit) rememorado, repetido e elaborado. O aparecimento de acontecimentos, de situações, a maturação orgânica (uma vez que a evolução da sexualidade, pelas defasagens implicadas, favorece o fenômeno do a posteriori), podem possibilitar ao sujeito simbolizações e reelaborações de suas vivências anteriores.

Co-movida pelo ódio e pela dor

Ensler busca elaboração e se interroga: “Sou masoquista?” Confundia as dores e as penalidades com uma forma de proteção como indica sua narrativa:

Nunca fui suficientemente valente para me permitir ter medo. [...] Talvez o terror fosse algo familiar [...] talvez essa familiaridade seja o que cheguei a associar com a conexão, a vitalidade, o amor, e por que sempre me senti atraída por homens violentos: homens que não me golpeavam, mas que viviam à beira de uma explosão. Precisava sentir esse golpe vertiginoso de ódio. (Ensler, 2014, pp. 51-52Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.)

É para essa ambivalência estrutural que Lacan (1948/1998a)Lacan, J. (1998a). Agressividade em psicanálise. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, pp. 104-126. (Trabalho original publicado em 1948)., no ensaio “A agressividade em psicanálise”, chama a atenção sobre as condutas que revelam “com evidência, escravo identificado com o déspota, ator com o espectador, seduzido com o sedutor” (p. 116). O testemunho de Eve aponta para esse tipo de identificação quando diz claramente que, ao contrário da irmã que tinha medo do pai e fugia de suas investidas, ela o enfrentava e entrava no jogo das mãos que a estrangulavam, dos golpes que a ensanguentavam, mas que, na verdade, para ela eram in-significantes diante do que podia provocar a si mesma nesse jogo de sedução sadomasoquista.3 3 “Expressão que não apenas enfatiza o que pode haver de simétrico e de complementar nas perversões sádica e masoquista, como também designa um par de opostos fundamental, quer na evolução, quer nas manifestações da vida pulsional (Laplanche & Pontalis, 2001, p. 466).

Em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905/2009), Freud afirma que a história cultural da humanidade dá evidências de que a crueldade e a pulsão sexual estão intimamente relacionadas. Refere-se aos pares de opostos que alternam posições ativa e passiva, de modo que um sádico é sempre e simultaneamente masoquista. Ademais, sob a ação intrapsíquica do supereu, o sadismo retorna à própria pessoa (Eu), meta pulsional passiva, sob a forma de automartírio. Como Freud ressalta no ensaio “O problema econômico do masoquismo” (1924/2007a), trata-se da forma mais comum de masoquismo que ocorre nos neuróticos — o masoquismo moral. Além disso, o elemento da agressividade da libido indica que qualquer dor encerra em si própria a possibilidade de gozo, satisfação por meio do sofrimento. Gozo que representa ao mesmo tempo o prazer e a dor tributários de uma moção pulsional.

O sujeito atualiza o passado além do princípio de prazer. Co-movida pelo ódio e pela dor, Ensler foi para os campos de refugiadas de violações da Bósnia, dirigiu por campos minados em Kosovo, se anestesiou com drogas e se expôs a todo tipo de ação suicida. Movia-se na tentativa, diz ela: “talvez de despregar a sua maldade, ou buscar sua bondade, ou aproximando-se cada vez mais da falta de humanidade mais absoluta para tentar compreender como sobreviveu ao pior do que somos capazes” (Ensler, 2014, p. 53Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.).

“Só um rito, um ato sempre repetido, pode comemorar esse encontro imemorável — pois ninguém pode dizer, nenhum ser consciente pode dizer o que é o trauma” (Lacan, 1964/1998b, p. 60Lacan, J. (1998b). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado 1964).). Ensler repete seu rito co-vivendo sua dor com mulheres que tinham experimentado a violência e o sofrimento. Foi necessário o jogo de espelhos com o outro, vítima das violências mais atrozes, para começar a enxergar a si mesma. A imagem do outro na imagem de si mesma surge no Congo. Depois de viajar por sessenta países, pensou que havia escutado tudo, mas não estava preparada para a brutalidade que lá encontrou. No Congo vivia-se uma prolongada guerra que dizimou 8 milhões de vidas e levou à violação e à tortura centenas de milhares de mulheres.

Foi nessa ocasião, quando construía um centro de urgência para mulheres, que foi diagnosticada com câncer. O tumor avançara como um “exército irrefreável que me tocou, destruiu, erodiu e de repente era demasiado tarde. Não fui boa cuidadora de meu corpo” (Ensler, 2014, p. 23Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.). Transferida para um Centro de Tratamento de Câncer nos E.U.A., Eve confessa que o diagnóstico havia sido tão inesperado, tão espantoso, que a havia conduzido a uma espécie de transe.

Era devastadora a abrangência do tumor: vagina, colo do útero, ovários, ânus, reto, as trompas de falópio, os nódulos linfáticos, o tecido da cavidade pélvica e “todas as partes maternais” (p. 40). Recorda-se de um amigo médico dizendo-lhe, num período de sua vida em que estava sempre doente, que ela tinha uma tendência de somatizar. Pesquisando sobre esse termo — somatizar — descobriu que se tratava da forma de resposta que o corpo encontra para se defender contra o excesso de estresse, manifestando transtornos psicológicos em forma de sintomas físicos no estômago, no útero ou na vagina. Além disso, soube que mulheres que haviam sofrido abuso sexual, emocional e psíquico tinham maior tendência a somatizar.

De tal pesquisa resulta uma série de elaborações e questionamentos. Estaria a somatização relacionada à histeria, um significante muito particular para ela, que sempre fora tida como histérica na família? E prossegue: se a histeria é provocada pelo sofrimento de um grande trauma no qual existe um conflito subjacente, qual foi o seu conflito? Terá sido amar seu pai e sua mãe e trair sua mãe quando seu pai a violentou, inclusive querendo seu próprio pai inteiramente para si? Estaria seu conflito no fato de ter escutado os relatos mais horrorosos do mundo sobre violências infigidas aos corpos de mulheres e de ter sido incapaz de acabar com isso apesar de todos os esforços? Por que o câncer no útero? Existe o câncer da violação? Quantas mulheres com câncer na vagina, nos ovários e no útero foram violentadas, golpeadas e traumatizadas?

Sob esse aspecto, embora saibamos ser o sintoma uma formação do inconsciente com estrutura de linguagem, a dúvida permanece em relação a alguns fenômenos somáticos que causam problemas tanto aos médicos quanto aos psicanalistas. A medicina distingue esses fenômenos das doenças com que lida habitualmente em razão da ausência de uma causalidade orgânica. Sabemos que essa dúvida também paira no campo da psicossomática.

Nesse campo tem havido grandes transformações, uma vez que a pesquisa passou à abordagem holística dos problemas de saúde e abandonou a teoria sobre a causação psicológica da doença. Muitas contribuições foram dadas e as oriundas da psicanálise foram importantíssimas, apesar de não haver referência à psicossomática na obra de Freud. Suas elaborações, entretanto, são essenciais principalmente no que tange à abordagem desses fenômenos “silenciosos” sob os pontos de vista: tópico, quanto à localização nas instâncias Isso-Eu-Supereu; dinâmico, quanto ao conflito pulsional; econômico, no que diz respeito à distribuição do investimento libidinal.

Para citar apenas algumas dessas contribuições, mencionamos Georg Groddeck (1921/2008)Groddeck, G. W. (2008). O Livro d’Isso. Perspectiva. (Trabalho original publicado em 1921). para quem a doença é manifestação do Isso e a função da psicanálise reside em, por meio da elaboração da resistência e da transferência, levar o Isso a substituir a linguagem da doença pela da saúde, por intermédio do desrecalcamento de determinadas vivências.

Utilizando-se da perspectiva metapsicológica, Paul-Laurent Assoun (1996)Assoun, P.-L. (1996). Metapsicologia freudiana: uma introdução. Jorge Zahar., nomeou o FPS de sinto(soma)tico ou sintoma somático, diferenciando-o do sintoma analítico expresso na linguagem. Segundo essa perspectiva, o sintoma somático implicaria a queda das estratégias significantes, na desfusão entre pulsão de vida e pulsão de morte, assim como na alteração do funcionamento das instâncias Isso-Eu-Supereu.

Outras concepções abordam o problema em torno da conversão somática relacionada a conflitos das fases mais arcaicas do psiquismo. Dentre eles, que são congruentes com essa concepção, estão Jean Guir (1988)Guir, J. (1988). Psicossomática na clínica lacaniana. Jorge Zahar. e Christophe Dejours (1991)Dejours, C. (1991). Repressão e subversão em psicossomática – pesquisas psicanalíticas sobre o corpo. Jorge Zahar., que “concebem as conversões somáticas como depósitos que guardam, para o sujeito, uma significação histórica e uma significação dinâmica que é possível pôr em evidência pela análise, sendo, portanto, potencialmente simbolizadoras” (Madeira, 2019, p. 161Madeira, M. O. M. (2019). Reflexões psicanalíticas sobre o fenômeno Psicossomático. Dissertação (Mestrado em Psicanálise). Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.).

Jacques-Alain Miller (2004)Miller, J.-A. (2004). Biologia lacaniana e acontecimentos de corpo. Opção Lacaniana online nova série, 3(41), 7-67, dezembro. ISSN 1519-3128, no artigo “Biologia lacaniana e acontecimentos de corpo”, adverte ser fundamental a distinção de sintoma como acontecimento de corpo, de sintoma como advento da significação, ou seja, como metáfora e, portanto, interpretável. Segundo sua concepção, trata-se de constatar que o sintoma, sendo satisfação pulsional, é gozo no corpo vivo: “Quando dizemos corpo vivo, desconsideramos o corpo simbolizado, assim como o corpo-imagem. Nem imaginário, nem simbólico, mas vivo, eis o corpo que é afetado pelo gozo” (p. 18). Com o termo afetar designa-se aquilo que deixa traços permanentes no corpo com efeitos perturbadores: “O efeito de afetar inclui, também, o efeito do sintoma, o efeito de gozo e mesmo o efeito de sujeito, mas efeito de sujeito situado num corpo e não puro efeito de lógica” (p. 52).

O aumento de demandas de pacientes que manifestam esses fenômenos tem fornecido à clínica vasto material que sinaliza tempos traumáticos: a pandemia, as mortes, a brutal desigualdade social, o desemprego e a violência em alta, a crise econômica e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia: ética e política que desencadeiam angústia e desalento, experiências difíceis de serem simbolizadas. Sendo fenômenos que expressam as paixões nas ações vitais, as sensações penosas e afetivas remetem ao desamparo primordial, ao Unheimilich (1919/2019) — ao mais familiar e estranho em nós. É compreensível, segundo Freud, que a doença ocupe a função de agente simbolizador frente ao luto: “Como reação à perda de uma pessoa amada, ou à perda de abstrações colocadas em seu lugar, tais como a pátria, liberdade, um ideal etc.” (Freud, 1917/2006a, p. 103Freud, S. (2006a). Luto e melancolia. In Escritos sobre a psicologia do inconsciente (Vol. 2, pp. 99-122). Imago. (Trabalho original publicado em 1917).).

Vozes do corpo

Todas estas questões aludem às elaborações de Freud iniciadas na década de 1890, quando ele descobre que os pensamentos inquietantes ou ideias inconciliáveis recalcados e expulsos da consciência podem ser transformados no que ele chamou de conversão. Nesses casos, apesar da ideia ser suprimida da consciência, os sentimentos ligados a ela e impedidos de obter expressão na vida mental são deslocados para o corpo. O corpo exprime e mascara o conflito do desejo recalcado.

É nas fontes de Charles Darwin4 4 A importância do pensamento de Charles Darwin na obra de Freud é revelada no livro de Lucille B. Ritvo A influência de Darwin sobre Freud: um conto de duas ciências (1992) que enumera os seguintes elementos: sexualidade infantil, conflito, regressão, significado e função dos sintomas, coexistência de opostos no inconsciente e a relação entre perversão e normalidade. Ritvo salienta que Freud referiu-se a Darwin pelo menos vinte vezes em sua obra e sempre de forma positiva, fato que demonstra o impacto de seu pensamento na obra do criador da psicanálise. que Freud vai buscar a ideia de uma significação que deve ser expressa, custe o que custar. Se não for possível por meio da fala, que seja pelas “vozes do corpo”. Essa elaboração consta da obra A expressão das emoções no homem e nos animais, última obra teórica publicada por Darwin (1872/2000)Darwin, C. (2000). A expressão das emoções no homem e nos animais. Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1872)., em que ele desenvolve o princípio segundo o qual os movimentos que ajudam a satisfazer algum desejo ou aliviar algum desprazer serão repetidos, mesmo que sem utilidade, sempre que tais sensações forem experimentadas.

Tendo esse princípio como paradigma, Freud (1986)Freud, S. (1986). Carta 52. In Correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess (pp. 208-219). Imago. (Carta escrita em 6.12.1896). afirmou a Fliess, na “carta 52” (6.12.1896), que, longe do ataque histérico ser uma descarga, é ação e, como tal, preserva todas as características das ações originais, sendo, por conseguinte, um meio de obtenção de prazer. Freud acreditava que esses sintomas eram como traços de memória deixados no corpo desde a experiência original.

Para entendermos melhor do que se trata, cabe ressaltar uma curta passagem do “Projeto para uma psicologia científica” (1895/1992a), no qual salienta que o complexo de outrem, na experiência original de satisfação, se separa em dois componentes: um, dando a impressão de uma estrutura constante, se mantém reunido como uma coisa (objeto) do mundo e outro compreendido como um trabalho mnêmico, isto é, pode ser direcionado como um aviso do próprio corpo, tal como a mímica de representação.

Mesmo que a experiência original esteja totalmente inconsciente, o corpo é testemunha tanto das experiências de satisfação como de desprazer, sendo o corpo na histeria o paradigma de sintoma para a psicanálise. A histérica mostra com seu corpo, da forma mais explícita, o que é um “corpo erógeno” (Leclaire, 1992Leclaire, S. (1992). O corpo erógeno. Escuta.). Corpo seduzido que exibe a marca do desejo que veio do Outro, desejo denegado sob a marca do recalque. Nesse sentido, algo de irrepresentável volta no “dejeto” corporal sob a forma de ação repulsiva que transborda no próprio corpo. Desse modo, vemos que o processo do afeto histérico não fica limitado à sua função de descarga. Muito além disso ele traduz uma atividade de simbolização substitutiva.

Mas há um ponto curioso ressaltado por Freud no “Projeto...” (1895/1992a)Freud, S. (1992a). Proyeto de Psicología. In Obras completas (Vol. 1, pp. 25-40). Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1895). sobre a vivência de dor. Ele indica que na satisfação se gera um trilhamento (facilitação) entre duas imagens-mnêmicas e que, com a descarga da satisfação, há uma drenagem do quantum de tensão dessa imagem. Com a reanimação do desejo, talvez seja a imagem-lembrança do objeto de prazer a alcançada primeiro. Embora a vivência de prazer deixe esse trilhamento que será sempre repetido quando essas sensações retornarem, no caso da vivência de dor, desprazer, a imagem-mnêmica do objeto hostil conserva um trilhamento privilegiado e de “particularíssima amplitude”.

Como desenvolvi na dissertação de mestrado Refexões psicanalíticas sobre o fenômeno psicossomático (2019), sempre que sentimos emoções e sensações em que são acionados os movimentos que ajudam a satisfazer algum desejo, ou aliviar algum desprazer, ainda que não levem a nenhum esforço imediato, todo nosso sistema ficará perturbado pela força do hábito e da associação ou, em outras palavras, por caminhos já trilhados no corpo e no psíquico. Emoções e sensações ditas depressivas, conforme Darwin (1872/2000)Darwin, C. (2000). A expressão das emoções no homem e nos animais. Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1872)., não estimulam atividade alguma, pelo menos de imediato. Ele cita os casos de dor extrema, medo, tristeza, que levam o sujeito a um esgotamento completo: consequentemente, elas são expressas principalmente “com sinais negativos e prostração” (p. 341).

Por outro lado, apesar da inatividade do sujeito, tais afetos podem gerar efeitos orgânicos que, muitas vezes, revelam o estado de “espírito da pessoa”. Por exemplo, queda e mudança da cor do cabelo causada por terror ou tristeza intensos, suor frio e tremor dos músculos por medo, alterações de secreção no estômago e no canal intestinal, falência de certas glândulas alterando o sistema imunológico. São fenômenos de tamanha extensão que podemos dizer, com Darwin: a espécie humana é uma espécie dolorida.

Se a dor deixa marcas de particularíssima amplitude tanto no corpo como na mente, podemos dizer, segundo Freud e Darwin, que uma parte do corpo pode adquirir um significado mental, assim como pode também, em alguns casos, tornar-se o local da doença física.

Essa foi a ênfase dada por Freud em seu ensaio sobre a perturbação psicogênica da visão (Freud, 1910/1979bFreud, S. (1979b). La perturbación psicógena de la visión según el psicoanálisis. In Obras completas (Vol. 11, pp. 205-216). Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1910).), no qual afirma que um órgão que tem função de percepção sensorial pode comportar-se tal qual um órgão genital. Isso justificaria a afirmação de que a excitação sexual pode se originar nos mais diversos órgãos. Confirma-se, pois, que qualquer órgão pode funcionar tal qual uma zona erógena.

Esse é o corpo para a psicanálise — corpo que se constrói recortando a anatomia a partir do desejo do Outro sobre o corpo do infans,5 5 O termo Infans em francês refere-se à criança que ainda não domina a linguagem. banhado na linguagem. Afinal, na espécie humana, por sua total impotência e dependência dos cuidados do outro nos primeiros estágios de existência, estamos à deriva desse desejo. Diante de perdas e danos em nossas primeiras relações, o corpo funciona como um “bloco mágico” (Freud, 1925/2007bFreud, S. (2007b). Uma nota sobre o “bloco mágico”. In Escritos sobre a psicologia do inconsciente (Vol. 3, pp. 145-158). Imago. (Trabalho original publicado em 1925).) inscrito por letras, mesmo que apagadas do que chamamos de superfície consciente, deixam traços de memória profundos na carne. Desse modo, como sentimentos de desespero, luto e tristeza, que muitas vezes precedem o adoecimento, podem ser ignorados? Por meio da doença, tendo como veículo o corpo seduzido, erogenizado, o sujeito responde às mensagens que vieram do Outro.

Como Freud (1910/1979b)Freud, S. (1979b). La perturbación psicógena de la visión según el psicoanálisis. In Obras completas (Vol. 11, pp. 205-216). Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1910). trabalhou no ensaio acima referido, há dois tipos de pulsões sexuais:6 6 Segundo Laplanche e Pontalis (2001), Freud, em “Além do princípio de prazer”, vai fazer coincidir simetricamente pulsões do Eu e pulsões de morte. Quando leva às últimas consequências a tese segundo a qual a pulsão tende, no fundo, a restabelecer o estado anorgânico, vê nas pulsões de autoconservação — pulsões parciais destinadas a garantir no organismo o seu caminho para a morte (p. 419). as pulsões que servem à sexualidade e, portanto, à obtenção do prazer sexual e as que têm por meta a autoconservação do indivíduo ou pulsões do Eu. As pulsões de autoconservação são o conjunto das necessidades ligadas às funções corporais essenciais à conservação da vida do indivíduo. Ele classificou, nessa ocasião, o conjunto dessas grandes necessidades não sexuais (necessidades vitais) sob o nome de pulsões de autocon-servação e, contrapondo-se a essas no conflito psíquico, estão as pulsões do Eu. Segundo Freud, todas as pulsões orgânicas que agem no nosso psiquismo podem ser classificadas como de fome ou amor. Além disso, afirmou que parte das pulsões sexuais permanecem por toda a vida abrigadas nas pulsões do Eu e só se revelam de modo inequívoco quando do adoecimento.

Com essa breve incursão na posição teórica que se apoia no modelo da conversão histérica descrito por Freud, indagamos se o FPS possui uma significação inconsciente e pode se expressar simbolicamente pela linguagem do corpo. Nesse sentido, caberia indagar se um órgão pode expressar uma doença pelos mesmos princípios que determinam a eleição de qualquer outra representação.

Buracos: viver pela vagina, morrer pela vagina

Retornamos as questões de Ensler: o corpo poderia estar manifestando o conflito que viveu entre amor e ódio, as violações infigidas a ela pelo próprio pai?

Parte da resposta está em seu testemunho. Ela narra que, após sua cirurgia, os membros da equipe médica disseram ter descoberto algo que não tinham visto antes. As células do câncer endometrial (uterino) tinham criado um tumor entre a vagina e o intestino causando uma fístula no reto. O câncer havia feito o mesmo percurso das violações de seu pai, como também tinham observado nos casos de violações a que as mulheres do Congo haviam sido submetidas.

Segundo seu relato, um dos médicos comentara que não conseguira dormir após a cirurgia. Impressionado pelo mistério do que haviam encontrado, manifestara-se com as seguintes palavras: “Estas descobertas não são médicas, nem ciência. São espirituais” (Ensler, 2014, p. 43Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.).

Sua vivência de dor extrema no hospital onde ficara ligada por “tubos”, “bombas”, “um saco de merda da colostomia”, fazem-na lembrar as palavras de um médico italiano que fora examiná-la: “Parece que você nunca foi paciente. Agora terá que aprender a sê-lo. Será duro para você” (p. 61).

A última coisa que Ensler desejara era ser uma paciente e a ideia de parar, de estar quieta, dava-lhe mais medo que o câncer. Mas as palavras do médico italiano reverberaram em sua memória: “Será um umbral para você. Aprenderá a ter piedade de si mesma. Aprenderá a ser uma paciente” (p. 61). Ela reconhece: o adoecimento fora mesmo um limiar em sua vida. Estava demasiado cansada. Era uma paciente. Algo relaxara em seu interior pela primeira vez, desde que ouvira o primeiro alçar da voz de seu pai violentando-a.

O corpo deu limite à repetição. O que presumimos ser a co(rpo) memoração desencadeia a elaboração simbólica. Diz-se sempre atraída por buracos. Buracos negros. Buracos infinitos, impossíveis, ausências, vaginas. Põe-se a pensar na vagina, significante que a levara a escrever a peça teatral, um tecido com um buraco, tão intrincada, tão sensível, tão delicada. Não pode deixar de associá-la ao céu, à membrana do céu e ao buraco de ozônio.

Conforme suas elaborações, os homens tinham se transformado em fazedores de buracos, buracos de ganância, buracos de dor, buracos de violação. Buracos em membranas que funcionam para proteger a superfície do órgão no corporal. Buracos na camada de ozônio que protegem a Terra dos raios ultravioletas. Buracos em nossa memória devido aos traumas. São buracos que destroem a integridade do ser. Buracos que determinarão toda vida posterior de uma mulher. “Buraco que se formou quando meu pai me invadiu e me desorientei. O buraco que se formou quando a membrana social foi rasgada pelo incesto” (p. 45).

Como Freud afirmou, em “Introdução ao narcisismo” (1914/2004a), as afecções dolorosas exercem uma forte influência na distribuição da libido. Além disso, podem mobilizar uma camada de investimento narcísico sobre o órgão afetado e, utilizando-se dessa energia de “superinvestimento”, capturar e ligar o excesso de excitação. O ódio dá lugar à força agregadora do amor, uma nova ação psíquica se inicia no processo de adoecimento de Eve Ensler: amigos, colegas, irmã, mãe, filho (que adotara aos 5 anos), neta, todos investindo em sua cura — ganhos secundários da doença.

Além da equipe de médicos e enfermeiros, Ensler contou com a colaboração do que ela nomeou de uma “cirurgiã psíquica”, que associava os fragmentos de sensações corporais a traços de memória. Essa profissional, com base nas manifestações clínicas de Ensler, disse não entender como ela não havia adoecido antes, com toda a crueldade a que seu pai a havia submetido. Ambas associaram o surgimento do câncer aos maus-tratos. Sua análise desdobrou-se no entendimento de que a quimioterapia, antes de ser um envenenamento do próprio corpo, deveria ser aceita como um “guerreiro empático que chega para resgatar sua inocência matando o autor do crime que se meteu dentro de ti” (Ensler, 2014, p. 92Ensler, E. (2014). De pronto, mi cuerpo (Título Original: In the body of the world: a memoir). Capitán Swing Libros.).

Ensler entra no que podemos chamar de um processo de elaboração. Ao longo de vários meses de tratamento, toda a distância se apaga. Eve entra em conexão com o que indica ser o simbolismo inconsciente: a Terra como símbolo do ventre e das entranhas da mulher, o pênis como arma que as dilacera. Une sua própria enfermidade à devastação da Terra, sua força vital à resistência da humanidade e se sente gratamente unida ao corpo do mundo.

Ela interpreta o tratamento quimioterápico contra o câncer como uma “limpeza”, “um exorcismo” de uma versão original, para que pudesse começar a ver que essa, talvez, não fosse a sua história. Precisava construir outra, num processo que liga o amor ao desejo de saber. Ensler transforma a expressão de seu trauma — o imundo — na matéria viva a partir da qual escreveu peças de teatro Monólogo da vagina, Alvo necessário e O bom corpo. É também autora dos livros Inseguro finalmente, Uma memória política e Eu sou uma criatura emocional. Quase dez anos após seu tratamento, curada, Ensler é considerada uma escritora de êxito internacional. É fundadora do movimento global V-day — destinado a frear a violência contra as mulheres e as meninas — e tem dedicado sua vida ao corpo da mulher: como falar dele, como protegê-lo e como valorizá-lo.

O adoecimento outorga-lhe poderes secretos e acesso a um mundo onde não há países nem supostas fronteiras, onde a vida tem lugar ao lado da morte, onde os únicos portos seguros são os amores que levamos no peito. A invasão do real também pode nos fazer poetas. Com Eve Ensler, podemos interrogar, então, se o FPS, o acontecimento no corpo e a complacência somática não são todos da ordem da co(rpo)memoração, ou melhor, modos de nomear os fenômenos “silenciosos” que, na falta de uma saída psíquica, fornecem aos processos inconscientes uma saída no corpo. Como tal, a nossa hipótese sobre a co(rpo)memoração é uma tentativa de refetir sobre o adoecimento como um possível modo do sujeito elaborar.

  • 1
    O real é uma categoria estabelecida por Jacques Lacan. É um registro que só pode ser entendido em relação aos registros do simbólico e do imaginário. O real é definido como o que escapa ao simbólico, não pode ser falado ou escrito, trata-se do impossível. Marco Antonio Coutinho Jorge (2010)Jorge. M. A. C. (2010). Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan: a clínica da fantasia (Vol. 2). Jorge Zahar. explora esse tema em “Os dois polos da fantasia”. In Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol: 2: a clínica da fantasia.
  • 2
    Título no original: In the body of the world: a memoir.
  • 3
    “Expressão que não apenas enfatiza o que pode haver de simétrico e de complementar nas perversões sádica e masoquista, como também designa um par de opostos fundamental, quer na evolução, quer nas manifestações da vida pulsional (Laplanche & Pontalis, 2001, p. 466Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (2001). Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes.).
  • 4
    A importância do pensamento de Charles Darwin na obra de Freud é revelada no livro de Lucille B. Ritvo A influência de Darwin sobre Freud: um conto de duas ciências (1992) que enumera os seguintes elementos: sexualidade infantil, conflito, regressão, significado e função dos sintomas, coexistência de opostos no inconsciente e a relação entre perversão e normalidade. Ritvo salienta que Freud referiu-se a Darwin pelo menos vinte vezes em sua obra e sempre de forma positiva, fato que demonstra o impacto de seu pensamento na obra do criador da psicanálise.
  • 5
    O termo Infans em francês refere-se à criança que ainda não domina a linguagem.
  • 6
    Segundo Laplanche e Pontalis (2001)Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (2001). Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes., Freud, em “Além do princípio de prazer”, vai fazer coincidir simetricamente pulsões do Eu e pulsões de morte. Quando leva às últimas consequências a tese segundo a qual a pulsão tende, no fundo, a restabelecer o estado anorgânico, vê nas pulsões de autoconservação — pulsões parciais destinadas a garantir no organismo o seu caminho para a morte (p. 419).
  • *1
    Neologismo sugerido por Marco Antonio Coutinho Jorge que associa corps (corpo) e mémorer (rememorar), na dissertação de Mestrado em Psicanálise, de Madeira, M. O. M. Reflexões Psicanalíticas sobre o Fenômeno Psicossomático. Orientador Marco Antonio Coutinho Jorge. Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Rio de Janeiro, abril de 2019. Pesquisa em continuidade no doutorado da autora (PGPSA-UERJ).
  • *
    En el original, co(rpo)memoração, que representa la unión de dos palabras: cuerpo y memorar/conmemoración.

Referências

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  • Miller, J.-A. (2004). Biologia lacaniana e acontecimentos de corpo. Opção Lacaniana online nova série, 3(41), 7-67, dezembro. ISSN 1519-3128
  • Ritvo, L. B. (1992). A influência de Darwin sobre Freud: um conto de duas ciências Imago.
Editor/Editor: Prof. Dr. Nelson da Silva Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Set 2022

Histórico

  • Recebido
    26 Maio 2021
  • Revisado
    03 Jun 2022
  • Aceito
    07 Jun 2022
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