Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Metteniusaceae

Flora of the cangas of the Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Metteniusaceae

Resumo

É apresentado um estudo taxonômico de Metteniusaceae das cangas da Serra dos Carajás, no estado do Pará, Brasil. Uma espécie foi encontrada: Emmotum nitens, distribuída exclusivamente na América do Sul, com registros para o Brasil e Bolívia. São apresentadas uma descrição detalhada, ilustrações, fotografias, comentários sobre morfologia, distribuição e fenologia da espécie.

Palavras-chave:
Emmotum; FLONA Carajás; flora

Abstract

A taxonomic study of Metteniusaceae of the cangas of the Serra dos Carajás, Pará state, Brazil, is presented. One species was recorded: Emmotum nitens, distributed in South America, with records in Brazil and Bolivia. A detailed morphological description, illustrations, photographs, notes on morphology, distribution and phenology of the species are presented.

Key words:
Emmotum; FLONA Carajás; flora

Metteniusaceae

Metteniusaceae por muito tempo foi considerada monogenérica, incluindo apenas Metteniusa H. Karst. ex. Schinzl. (Karston 1859Karsten, G.K.W.H. 1859. Metteniusaceae. Florae Colombiae 1. Ferdinandi Duemmleri successors, Berlim. Pp 79-80.). Recentemente, a família sofreu alterações na sua circunscrição, com inclusão de gêneros previamente classificados em Icacinaceae, como Emmotum Desv. ex Ham. (Stull et al. 2015Stull, G.W.; Duno de Stefano, R.; Soltis, D.E. & Soltis, P.S. 2015. Resolving basal lamiid phylogeny and the circumscription of Icacinaceae with a plastome-scale data set. American Journal of Botany 102: 1794-1813.). Na atual circunscrição, Metteniusaceae possui folhas espiraladas, com margens inteiras, inflorescência cimosa-tirsiforme com pedicelo articulado, cálice curto, quincuncial, corola com deiscência valvar com face adaxial quilhada e tricomas ao longo da quilha, gineceu 3-5 carpelar, estiletes muito curtos a longos e estigmas pontuados (Stevens 2001Stevens, P.F. 2001 [onwards]. Angiosperm Phylogeny Website. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 14 setembro 2016.
http://www.mobot.org/MOBOT/research/APwe...
). Metteniusaceae compreende atualmente 11 gêneros (Stull et al. 2015Stull, G.W.; Duno de Stefano, R.; Soltis, D.E. & Soltis, P.S. 2015. Resolving basal lamiid phylogeny and the circumscription of Icacinaceae with a plastome-scale data set. American Journal of Botany 102: 1794-1813.) e 55 espécies de distribuição pantropical (Stevens 2001Stevens, P.F. 2001 [onwards]. Angiosperm Phylogeny Website. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 14 setembro 2016.
http://www.mobot.org/MOBOT/research/APwe...
).

1. Emmotum Desv. ex Ham.

Emmotum possui 14 espécies reconhecidas de distribuição neotropical, com registros para a Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Peru, Brasil e Bolívia (Duno de Stefano et al. 2007Duno de Stefano, R.; Angulo, D.F. & Stauffer, F.W. 2007. Emmotum harleyi, a new species from Bahia, Brazil, and lectotypification of other Icacinaceae. Novon 17: 306-309.). São árvores ou arbustos, com ramos pubescentes, folhas alternas, pecioladas, sem estípulas, simples, inteiras, coriáceas; inflorescência axilar, fasciculada e paniculada (Duno de Stefano et al. 2007Duno de Stefano, R.; Angulo, D.F. & Stauffer, F.W. 2007. Emmotum harleyi, a new species from Bahia, Brazil, and lectotypification of other Icacinaceae. Novon 17: 306-309.; Duno de Stefano & Fernández-Concha 2011Duno de Stefano, R. & Fernández-Concha, G. C. 2011. Morphology-inferred Phylogeny and a Revision of the Genus Emmotum (Icacinaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden, 98: 1-27.). No Brasil são registradas nove espécies, das quais sete ocorrem na Amazônia brasileira. Emmotum nitens (Benth.) Miers, a única espécie registrada nas áreas de canga da Serra dos Carajás, possui ampla distribuição no Brasil.

1.1. Emmotum nitens (Benth.) Miers, Ann. Mag. Nat. Hist. ser. 2-10(57): 180. 1852. Figs. 1a-g; 2a-b

Figura 1
a-g. Emmotum nitens - a. hábito; b. flor; c. detalhe da pétala; d. flor em corte longitudinal; e. estame; f. ovário; g. fruto (a-f. P. L. Viana 3378, g. A. J. Arruda 270).
Figure 1
a-g. Emmotum nitens - a. habit; b. flower; c. petal in detail; d. flower in longitudinal section; e. stamens; f. ovary; g. fruit (a-f. P. L. Viana 3378, g. A. J. Arruda 270)
Figura 2
a-b. Emmotum nitens - a. hábito; b. inflorescência (Fotos: Nara Mota).
Figure 2
a-b. Emmotum nitens - a. habit; b. inflorescence (Photos: Nara Mota).

Árvore, 3-4 m alt. Ramos cilíndricos, pubescentes. Folhas simples, alternas, espiraladas, glabras na face adaxial e velutinas na face abaxial, fortemente discolores, nervação eucamptódroma; pecíolo 0,7-1,5 cm compr.; estípulas ausentes; lâminas 3,2-15 × 2-5,1 cm, elípticas, ovais a obovais. Flores monoclinas, diclamídeas, pedicelo 0,1-0,2 cm compr.; cálice gamossépalo; corola 0,3-0,4 cm compr., pétalas 5, cremes, carnosas, faces externas pubescentes, faces internas percorridas por uma saliência na região mediana, presença de tricomas no ápice e nas bases da saliência; estames 5, 0,3-0,4 cm compr., livres entre si, anteras rimosas; ovário 0,1-0,15 cm compr., lóculos 3; estilete ca. 0,1 cm compr., tomentoso. Fruto drupa globosa, verde quando imaturo, 1,3-1,6 cm diâm., glabro.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, Corpo C, coletada no interior de floresta ombrófila aberta, 6º23'02"S, 50º02'34"W, 788m, 28.VI.2010, fr., A.J. Arruda et al. 270 (BHCB); Serra Sul, S11D, 6°23'17"S, 50°20'57"W, 750m, 10.XII.2012, fl., P.L. Viana et al. 3378 (BHCB); Parauapebas, Serra dos Carajás, Serra Norte, N1, 20.IV.1970, fr., P.B. Cavalcante 2681 (MG); N4, mina piloto pra exploração de ferro, 15.II.1984, fr., A.S.L. da Silva 1833 (MG); N5, 05.I.1989, atrás da Transbalisiana, fl., J.A.A. Bastos 95 (HCJS).

Emmotum nitens é facilmente reconhecível na área por ser uma árvore baixa, com até 4 m de altura, fuste não tortuoso, casca marrom nodulosa, com folhas simples, notavelmente discolores e inflorescências axilares com flores cremes. Registrada com flores e frutos nos meses de janeiro, junho e dezembro.

Ocorre na América do Sul com registros no Brasil e Bolívia. No Brasil a espécie é referida para os estados do Acre, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará e Rondônia, e no Distrito Federal. Na Serra dos Carajás há registros nas Serras Norte: N1, N4, N5, e Serra Sul: S11-C, S11-D.

Lista de exsicatas

  • Arruda, A.J. 270 (1.1); Bastos, J.A.A. 95 (1.1); Cavalcante, P. 2681 (1.1); Nascimento, O.C. 1170 (1.1); Rodrigues, I.M.C. 590 (1.1); Rosa, N.A. 4490 (1.1); Santos, R.S. 122 (1.1); Secco, R. 258 (1.1); Silva, A.S.L. da 1833 (1.1); Silva, M.G. 3012 (1.1); Silva, J.P. 271 (1.1); Viana, P.L. 3378 (1.1).

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e ao Instituto Tecnológico Vale, a estrutura e o apoio fundamentais ao desenvolvimento desse trabalho. Aos curadores dos herbários consultados, o acesso aos materiais examinados. Ao ICMBio, especialmente ao Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo. Ao João Silveira, a confecção das ilustrações. Ao Instituto Tecnológico Vale (01205.000250/2014-10) e ao CNPq (processo455505/2014-4), a bolsa concedida à primeira autora e o financiamento do projeto.

Referências

  • Barroso, G.M.; van den Berg, M.E.; Cavalcante, P.B. 1973. O gênero Emmotum Desv. (Icacinaceae) na Amazônia Brasileira, Museu Paraense Emílio Goeldi Publicações Avulsas 20: 203-220.
  • Duno de Stefano, R.; Angulo, D.F. & Stauffer, F.W. 2007. Emmotum harleyi, a new species from Bahia, Brazil, and lectotypification of other Icacinaceae. Novon 17: 306-309.
  • Duno de Stefano, R. & Fernández-Concha, G. C. 2011. Morphology-inferred Phylogeny and a Revision of the Genus Emmotum (Icacinaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden, 98: 1-27.
  • Howard, R.A. 1942. Studies of the Icacinaceae. III. A revision of Emmotum J. Arnold Arb., Lancaster 23: 479-495.
  • Karsten, G.K.W.H. 1859. Metteniusaceae. Florae Colombiae 1. Ferdinandi Duemmleri successors, Berlim. Pp 79-80.
  • Stevens, P.F. 2001 [onwards]. Angiosperm Phylogeny Website. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 14 setembro 2016.
    » http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/
  • Stull, G.W.; Duno de Stefano, R.; Soltis, D.E. & Soltis, P.S. 2015. Resolving basal lamiid phylogeny and the circumscription of Icacinaceae with a plastome-scale data set. American Journal of Botany 102: 1794-1813.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2016
  • Aceito
    19 Out 2016
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br