Acessibilidade / Reportar erro

RESUMOS DE LIVROS BOOK REVIEWS

André Francisco Pilon

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Dicen que estoy en la mitad del camino: educacion en salud con el adolecente. Washington, D.C. Organizacion Panamericana de la Salud, 1988. 87 p. ilus.

Sempre que tratamos de educação em saúde, necessariamente estamos falando dos sujeitos que dela participam. Como lembra Goran (1988), os sujeitos podem ser vistos ora como subjugados ora como soberanos, em relação a algo que lhes seja externo ou interno (e aqui os indicadores psicológicos, biológicos, sociológicos, epistemológicos disputam fronteiras entre externalidade-internalidade).

O que sabemos, o que devemos saber e o que deve ser considerado como evidência varia das crenças populares às convicções dos cientistas, abrangendo mundo íntimo, mundo de relações, mundo social e mundo físico (cf. Binswanger, 1957). Do universo do "senso comum", enquanto "subcosmo seletivo de experiências e conhecimentos", dotado de valor, é possível transcender para a argüição filosófica — que corresponde a uma reflexão problematizadora (Griffero, 1989).

O preço desse aprofundamento do conhecimento de nós mesmos e de nosso lugar no mundo é de termos que mudar nossa condição de sujeitos, em ambos os sentidos já mencionados, reexaminando nossos limites e possibilidades de conhecer, sentir e agir, no contínuo subjetivo-objetivo. Adquirimos, como quer Fromm (1969), liberdade "para" (distinta da liberdade "de"), o que equivale a uma bússola interna — quem tem uma bússola poderá salvar-se na tempestade, enquanto aquele que não a tem poderá sossobrar na calmaria...

Essas considerações são importantes quando discutimos a educação em saúde, especialmente quando é vista como algo a ser acrescentado ou até mesmo contraposto ao senso comum, às maneiras de sentir, pensar e agir dentro de uma determinada cultura. Nesse sentido, é preciso distinguir entre "situação" (a totalidade do espaço-tempo em que os sujeitos existem) e "contexto"ou "circunstância" (as condições especiais que esse espaço-tempo assume em nossas vidas cotidianas).

De um lado temos a "realidade" (cuja exploração é infinita, em função inclusive de nosso próprio desenvolvimento como sujeitos) e o fato que vivemos (o mundo em si); de outro, temos o que experimentamos, o que vivenciamos mediante esse fato (um agir e sofrer que dependerá de nossos valores, desejos e expectativas, de uma "visão de mundo" que dá significado a nosso projeto de vida e aos eventos intercorrentes).

A explicitação dessas questões é fundamental em educação em saúde, uma vez que os sujeitos estão imersos em um universo cultural e em circunstâncias específicas de vida, cuja transformação é essencial para o desenvolvimento de nichos sócio-culturais favoráveis, em termos de educação, saúde, lazer, trabalho e cidadania. Na América Latina, os agravos ao adolescente são reflexo de políticas mal conduzidas, que afetam a população em geral e que implicam graves deficiências à qualidade de vida.

Assim, o desenvolvimento da metodologia de trabalho apresentada na obra, de crítica, reflexão e ação no grupo de jovens, implicaria as próprias instituições sociais, de maneira a acolherem propostas transformadoras da realidade que representam. Em outras palavras, é preciso desenvolver um nicho sócio-cultural compatível com a metodologia proposta, para que o adolescente não permaneça na "metade do caminho". Esse nicho poderia envolver uma reconstrução recíproca dos significatos de "estar-no-mundo", explorando as antinomias e conflitos e problematizando situações.

A questão é de como diferenciar esse nicho no tecido social, político e econômico, baseado, este, em prescrições e normas, em saberes especializados e compartimentalizados, de maneira a privilegiar a razão (e não o intelecto), a reflexão (e não o controle). Face do desmedido apetite de "produtores e consumidores egocêntricos" (Chermayeff e Tzonis, 1971), uma nova visão-de-mundo implicaria a discussão das condições desiguais de acesso e de distribuição de posições e recursos, mas não apenas numa ótica de com que viver (recursos disponíveis), mas de como viver (valores e significados).

O compromisso com a problematização e não com a "solução de problemas" (que borbulham na superfície de um caldo efervescente) levaria a educação em saúde a uma necessária ruptura epistemológica (da preocupação com o que — prescrição — à preocupação com o como — processos), colocando em tela de juízo os princípios organizadores do conhecimento que postula, dos próprios paradigmas que controlam e orientam seu discurso. Não é possível propor novas metodologias dentro de esquemas tradicionais: se partirmos da problematização não haverá mais lugar para a preleção.

Na postura "dialética" da obra, cabe lembrar a abordagem dialógica, que implica a busca ativa dos próprios sujeitos (indagação), a construção recíproca dos significados, o desvendamento de maneiras de sentir, pensar e agir como sujeitos (no sentido ambíguo do termo), a integração da experiência, da expressão e da compreensão, a reflexão da razão sobre seus próprios produtos e o exame das conseqüências do projeto de vida individual e coletivo (**) Em relação à educação em saúde, cabem as mesmas considerações feitas por ROSCHKE & CASAS (1987): "se utiliza la educación basicamente como un instrumento aséptico, de como hacer las cosas para su sobrevivência como sistema, sin permitir a la práctica educativa el acceso al nivel de decision y de determinación del trabajo educativo, ni la possibilidad de discutir a nivel de la praxis los problemas de una determinada realidad" (p. 7).).

BINSWANGER, L. Being-in-the-world. London, Souvenir Press, 1957.

CHERMAYEFF, S & TZONIS, A. Shape of community. Realization of human potential Middlesex, Penguin Books, 1971.

GORAN, T. The ideology of power and the power of ideology. London, Verso, 1988.

GRIFFERO, T. Parlare del tempo. Ermeneutica metódica e senso comune. Aut Aut, Florence, 228 :139-55 nov./ dic., 1989.

FROMM, E. O medo à liberdade. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.

ROSCHKE, M. A. C. & CASAS D., M. E. Contribucón a la formulación de un marco conceptual de educación continua en salud. Educ. méd. Salud, 21 (21): 1-10,1987.

(

Jorge da Rocha Gomes

Departamento de Saúde Ambiental—FSP/USP

Las disposiciones de las normas básicas de segundad en materia de proteccion radiologica relativas a la proteccion de los trabajadores contra las radiaciones ionizantes. Ginebra, Oficina Internacional del Trabajo, 1990. 31 p. (OIT Serie Seguridad, Higiene y Medicina del Trabajo, no 55).

Em 1982 foi editado pela Divisão de Publicações da OIEA (Organização Internacional de Energia Atômica), a obra "Normas Básicas de Segurança em Matéria de Proteção Radiológica" (volume no 09 da Coleção Segurança).

Levando em consideração seu caráter essencialmente técnico e a complexidade do assunto, foi julgado oportuno editar este libreto, que é uma versão simplificada e comentada das referidas Normas para facilitar a compreensão do público em geral.

Após breve revisão dos efeitos biológicos e riscos profissionais das radiações ionizantes, o libreto aborda detalhadamente vários itens das Normas como requisitos para instalação, proteção (com ênfase no sistema de limitação da dose), exposição profissional, médica e do público, acidentes e emergências.

Trata-se na realidade de um folheto explicativo de 31 páginas e não um substituto das Normas Básicas de Segurança que, como advertem os autores, devem ser consultados no texto original.

Roque Passos Piveli

Departamento de Saúde Ambiental — FSP/USP

Handbook of hazardous waste management for small quantity generators, by Russell W. Phifer and William R. Mctigue Jr. Chelsea. Mich., Lewis Publ., 1988.198 p.

Esta publicação é um manual para o Gerenciamento de Resíduos Perigosos produzidos em pequenas quantidades. No primeiro capítulo, os autores demonstram a necessidade de uma regulamentação específica para os resíduos perigosos produzidos em pequenas quantidades e resumem os capítulos subseqüentes.

No capítulo 2, comparam-se os critérios para o estabelecimento das regulamentações utilizadas na Legislação Federal Americana, pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) e pelos governos estaduais. Também são discutidos aspectos jurídicos e técnicos de amostragem, caracterização e classificação dos Resíduos Perigosos.

No capítulo 3, são listados os tipos de resíduos produzidos em pequenas quantidades, discutindo-se as suas principais características como as relativas à presença de solventes, ácidos e bases, metais pesados, pesticidas, substâncias oxidantes e redutoras etc...

No capítulo 4, são discutidos os procedimentos que devem ser seguidos pelos produtores dos resíduos e no capítulo 5 apresenta-se como usar código de Regulamentação Federal, em seus títulos 40 e 49.

No capítulo 6, apresentam-se técnicas para armazenamento e manuseio dos resíduos perigosos no próprio local da produção, como o empacotamento, o uso de containers, a segregação, a ventilação, o uso do espaço etc...

No capítulo 7, estabelecem-se diretrizes para a limitação interna dos riscos, como a instalação de uma auditoria interna, escolha das empresas para o gerenciamento, etc... No capítulo 8, discutem-se o funcionamento dos serviços de inspeção e as técnicas para garantir uma fiscalização eficiente. O capítulo 9 refere-se especificamente ao gerenciamento dos resíduos laboratoriais, isto é, as técnicas de controle individuais e de disposição nos Sistemas Municipais de Tratamento.

No capítulo 10, estudaram-se as opções gerais para a disposição dos resíduos como os tratamentos: térmico, químico, biológico e a disposição no solo. Finalmente, no capítulo 11, discutem-se as tendências do gerenciamento dos resíduos perigosos envolvendo aspectos políticos, disposição no solo, a redução na produção de efluentes, técnicas de tratamento etc...

André Francisco Pilon

Departamento de Prátrica de Saúde Pública-FSP/USP

Laws and policies affecting, adolescent health, by John M. Paxman and Ruth Jane Zuckerman. Geneva, World Health Organization, 1987. 300 p.

"Leis e políticas que afetam a saúde do adolescente" é uma obra que a Organização Mundial da Saúde publica em língua inglesa, de autoria de dois especialistas norte-americanos em questões legais (Direito do menor), e que, em conseqüência, enfatizam as normas que, em diferentes países, destinam-se a regular a matéria.

A questão básica discutida é, pois: face dos eventos na adolescência, que demandam atenção nas áreas legal e de saúde, como lidar em termos da legislação corrente, abrangendo áreas como sexualidade e reprodução, acidentes, saúde bucal, trabalho e segurança, consumo de drogas, álcool e tabaco.

Advertem os autores que "é perfeitamente possível que a abordagem legal pareça inteiramente adequada em algumas circunstâncias e completamente inadequada em outras...; a idéia é adaptá-la de maneira a costurá-la harmoniosamente no tecido local" (pág. 2). Não se trata, pois, de fornecer modelos ideais, mas de explorar várias formas, vigentes no mundo, de tratar a questão.

Essa advertência é importante, principalmente porque, até mesmo nos cursos de formação (ou especialização), muitas vezes não há espaço para a problematização, sob aspectos culturais, políticos ou econômicos, de eventos que expressam condições dos projetos de vida (individual e coletivo), as possíveis formas de existência de pessoas, grupos e sociedades em um dado contexto.

Nesse sentido, Levin

* * Levin, L. S. Salud para los jóvenes de hoy, esperanza para el mundo de mañana. Foro Mundial de la Salud, 10 (2): 151-169, 1989. (1989) lembra o "erro fácil" de partir dos "problemas" para intervenções, "depositando excessiva fé" nas definições profissionais, em termos de diagnóstico e tratamento, esquecendo os aspectos de promoção em saúde, abrangendo políticas públicas, ambientes favoráveis, participação popular, capacitação pessoal e reorientação dos serviços de saúde.

Lembra ainda esse mesmo autor, como aspectos positivos — comprorhisso e lealdade, identidade comunitária — sequer são considerados em muitas intervenções sobre os chamados "grupos adolescentes de quarteirão" (apenas para dar um exemplo), intervenções estas que não propiciam qualquer espaço alternativo no tecido social para uma transformação, dada a sua ingenuidade diretiva.

Outro aspecto importante — destacado na obra em epígrafe — é que nem sempre "programas de saúde" e "determinações legais" se coadunam, sequer em nível de prescrição (e que dizer em nível de operacionalização, com serviços desorganizados e recursos humanos despreparados?). Por isso, e principalmente em países como os do Terceiro Mundo, a solução depende menos da questão estatutária (prescrição) e muito mais da tomada de consciência e transformação cultural das práticas vigentes.

André Francisco Pilon

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Measurement strategies in health psychology, edited by Paul Karoli. New York, John Wiley, 1985.657 p.

A ciência do homem vai além do conceito do ser capaz de entender a natureza: projeta-o como alguém capaz de compreender-se como parte integrante dela, em presença e receptividade.

Essa presença não é um ponto no espaço: o homem vive sua circunstância aqui, mas também e além, por seu projeto de vida. Conceitos precisos, inequívocos, quantificados, ao cristalizar uma realidade cuja construção é contínua, ambígua e complexa, produtos chamados "objetos de investigação" (segundo diferentes óticas), que implicam uma redução "a priori" do fenômeno estudado.

Os objetos, contudo, não existem separadamente dos sujeitos que os representam: uma mesa não pode ser descrita sem explicitar seu significado: como lembra Boss (1983), pode-se desmontá-la, separar os pedaços, analisá-los quimicamente e ainda se desconhecer para que serve.

Por outro lado, as formas de organizar a informação — e de produzi-la, enquanto aplicação de uma metodologia — sofrem os efeitos de um processo histórico: pessoas e instituições relacionam-se de forma a comprometer pensamentos, sentimentos e ações em algo aceitável para a ciência da época (cf Polkinghorne, 1983).

Esses aspectos epistemológicos devem sempre ser colocados cada vez que se analisam formas de validação de conhecimentos em termos de avaliação quantitativa (ou qualitativa), como acontece na obra em epígrafe, endereçada às estratégias de medida na área da psicologia da saúde.

Como lembra o Autor principal, essa área da psicologia caracteriza-se pela aplicação de teorias e metodologias aos problemas da promoção da saúde, redução de risco, influência de estilos-de-vida e explicitação dos fatores de ordem pessoal e social na saúde-doença. É claro que diferentes teorias de conhecimento presidem as diferentes propostas apresentadas (especialmente sob aspectos comportamentais e cognitivos).

Assim o Autor divide as abordagens em molares (psicossociais, de qualidade-de-vida, eco-comportamentalistas, experimentais e quase-experimentais, longitudinais e prospectivas); especializadas (psicofisiológicas, psicodiagnósticas, cognitivo-comportamentais e taxonômicas) e de alvo especial (aceitação de medicalização) ("medical compliance"), recursos sociais (comunidade e serviços), avaliação da dor, informação sobre doença, eventos estressantes e políticas públicas de saúde).

Para cada uma dessas abordagens são discutidos o respectivo referencial teórico e os processos de avaliação específicos. Sem dúvida alguma que a contribuição complexifica e contextualiza a abordagem epidemiológica na área da saúde e, assim sendo, enriquece a gama de indicadores à disposição dos sanitaristas, na tentativa de abordar os problemas dentro de uma concepção "técnica", vigente nos países desenvolvidos.

No entanto, o fato de destacar a preocupação sobre "como" as pessoas pensam sobre sua saúde (ao invés da restrição tradicional apenas ao "que" as pessoas pensam sobre sua saúde) já representa um avanço na forma sob a qual a questão é colocada tradicionalmente (v. Introdução à obra; as demais partes são de responsabilidade de autores diversos, que tendem a explicitar várias teorias à medida em que problematizam as questões, sob óticas estruturalistas, funcionalistas e outras).

O fato de enfatizar os aspectos subjetivos (que, embora gerados em uma cultura, adquirem características diferenciadas face de indivíduos e grupos) aproxima a obra às abordagens que integram percepção-pensamento-afeto-ação, ainda que sob uma forma de "estratégia de medida", com vistas a uma intervenção planejada, seja em nível de pessoa, grupo ou população (aspectos de previsão e controle).

Como a experiência se dá (estrutura), em que intensidade (nível) e como essa estrutura se atualiza (tipo) são dimensões relevantes quando se estuda o "como" da experiência (Giorgi, cit. em Polkinghorne); a investigação das ações humanas passa obrigatoriamente por seu significado para os sujeitos e esse significado está associado a aspectos subjetivo-objetivos.

Por isso — pelo menos numa visão fenomenológica — a avaliação das questões no contínuo saúde-doença implica os sujeitos como coparticipantes do processo: não se verifica apenas uma relação (tipo 2+2 = 4), mas compreende-se o significado a partir de quem enuncia (a interpretação reapresenta as questões sob a luz daqueles que as interpretam).

As estratégias de avaliação são assim outras tantas formas de mediação e qualificação e expressam uma orientação face ao mundo, em termos de maior ou menor abertura em face de questões básicas como sobreviver, adoecer e morrer. A questão "Está doendo muito?" jamais poderá ser expressa numa escala como indicadores padronizados. Afinal, a orientação e a motivação das pessoas face a si mesmas e às suas circunstâncias de vida variam no espaço-tempo e influem no que é ou não possível suportar.

BOSS, M. Existential foundations of Medicine & Psychology. New York, Jason Aronson, 1983.

POLKINGHORNE, D. Methodology for the human sciences. Albany, State University of New York Press, 1983.

Antonio Carlos Azevedo

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Prevention and control of nosocomial infections, edited by Richard P. Wenzel. Baltimore, Williams & Wilkins, 1987. 641 p.

"Prevention and Control of Nosocomial Infections" é um clássico da literatura de Controle de Infecções Hospitalares. Seu autor, o Prof. Richard P. Wenzel, foi consultor do Programa Brasileiro de Controle de Infecções Hospitalares (Ministério da Saúde). Desta forma, sua leitura é quase que obrigatória para quem deseja aprimorar-se nesse ramo da Administração de Serviços de Saúde.

O Cap. 1, relativo à história do controle de infecções, é extenso e informativo. O segundo capítulo busca analisar sucintamente o impacto do problema na saúde das populações. O Cap. 3, referente a custos, traz uma boa abordagem conceitual, mas é muito limitado no que diz respeito à metodologia, aspecto importante para quem enfrenta o dia a dia do processo em nível dos hospitais. O Cap. 4, que comenta os efeitos legais do fenômeno, na melhor tradição do direito anglo-saxão, é profundamente centrado na jurisprudência, trazendo uma lista (11 p.) de casos recentemente (até 1983) levados às cortes americanas. No capítulo seguinte (Cap. 5 — Alguns Aspectos Éticos), são discutidos alguns pontos especialmente no referente ao manuseio e divulgação de informações durante o processo de controle de infecções.

O Cap. 6, "Organizando o Controle de Infecções", é sumário, abordando apenas superficialmente as complexas implicações desse aspecto da questão. No entanto, nos capítulos seguintes ("Estabelecimento de Prioridades" — Cap. 7; "Vigilância e Informação" — Cap. 8; "Colheita de Dados e Administração" — Cap. 9) essas carências são, em grande parte, superadas.

No Cap. 10, "Identificação e Controle'de Epidemias", este componente é abordado de forma bastante prática, ainda que sucinta. No Cap. 11, "A Comissão de Controle de Infecções", o papel desse órgão e de seus componentes é ilustrado brevemente. Há, no entanto, como complemento, a descrição da agenda de uma reunião de uma comissão desse tipo, o que ilustra de forma prática o funcionamento colegiado.

O Cap. 12, "Imunizações para o pessoal de saúde e clientela hospitalar", apresenta uma descrição de cada um dos imunizantes relevantes ao tema, bem como das condições para seu uso (vac. anti-hepatite B; imunoglobulinoterapia e anti-hepatite A; vac. anti-rubéola; vac. anti-sarampo; tétano e difteria; coqueluche; gripe; infecções pneumocócciças; imunoglobulinoterapia para vari-cela-zoster; raiva; pólio; caxumba; hemophilus influenzae tipo B; ÊCG e vacinas para viajantes internacionais). Para ilustrar a riqueza bibliográfica desta obra, basta lembrar que apenas neste capítulo 12 são listados 580 títulos (!). Os aspectos referentes à saúde do pessoal hospitalar são complementados no Cap. seguinte (13): "Aspectos do Controle de Infecções e a saúde dos funcionários", onde são descritas as principais afecções envolvidas, bem como comentadas as implicações de custos para o Hospital, nesse aspecto do processo.

No Cap. relativo ao componente microbiológico, os autores trabalham a importância da microbiologia no processo, inclusive na identificação do que denominam de "pseudo-epidemias", ou seja, a observação de aglomerados de ocorrências de culturas positivas de determinados germes em tecidos ou fluidos humanos sem a correspondente ocorrência de episódios clínicos relevantes.

Há ainda capítulos sobre a seleção de antibióticos para a lista hospitalar de medicamentos (Cap. 15); Avaliação de Produtos (equipamentos e material de consumo) - Cap. 16; Desinfecção cutânea (Cap. 17); Desinfecção, esterilização e disposição de dejetos (Cap. 18); infecções relacionadas à terapia intravascular (Cap. 19); Pneumonia Hospitalar (Cap. 20); Infecções Urinárias (Cap. 21); Infecções Cirúrgicas e Queimaduras (Cap. 22); Infecções em Prótese (Cap. 23); Infecções Gastrointestinais hospitalares (Cap. 24); Infecções raras — bulbo ocular e S.N.C (Cap. 25); Prevenção da morbidade febril pós-cesareana (Cap. 26); Infecções do Recém - Nascido (Cap. 27); Infecção Hospitalar no doente pediátrico (Cap. 28); Infecção no Idoso (Cap. 29); Infecção no Hospedeiro Imunocomprometido (Cap. 30); Estudos caso-controle e ensaios clínicos (Cap. 31); Conceitos Estatísticos (Cap. 32) e Utilização da Literatura (Cap. 33). Importante notar que o Cap. referente a infecções no Hospedeiro Imunocomprometido, embora muito ilustrativo, é sucinto e de forma alguma expressa a importância que após a publicação do livro em 1987, a SIDA-AIDS assumiu como complicador do problema do controle de infecções, hospitalares.

O livro apresenta assim um caráter enciclopédico, abordando com grande precisão principalmente os aspectos mais conceituais do Controle das Infecções Hospitalares, nem sempre descendo a pormenores operacionais. Desta forma, sua utilização pelos responsáveis diretos pelo controle de infecções no hospital deve ser complementada com a utilização do Manual de Controle de Infecções editado pelo Ministério da Saúde.

Marcia Faria Westphal

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Social marketing: new imperative for public health, by Richard K. Manoff. New York, Praeger, 1985. 293 p.

Marketing Social é definido pelo Autor como um processo de transmissão de informações com capacidade de produzir mudanças de comportamento, baseado na abordagem de sistemas, com aplicação universal, adotando características peculiares em função da problemática a tratar, da situação local e da população a atingir.

Nos últimos 50 anos, estratégias de Marketing foram gradualmente introduzidas na vida econômica dos países industrializados para venda de produto, considerando que os desejos e necessidades do consumidor é que geriam a dinâmica do mercado e, portanto, a produção.

A proposta desse livro é defender a utilização do Marketing Social em Saúde Pública, com metodologia educativa em Saúde e mostrar como fazê-lo: técnicas e estratégias.

Inicialmente retoma a história da Saúde Pública, mostrando que Saúde nos tempos atuais não pode mais ser considerado ausência de doenças e portanto dependente da intervenção médica. A mesma lógica do consumidor, comandando o mercado foi acentuada em relação à Saúde na Conferencia de ALMA-ATA, em 1978, quando o principio dos cuidados primários de Saúde foram oficialmente enunciados. Nesta reunião, a Educação foi considerada como método de prevenção e estratégia de preparo da população para participar do planejamento dos serviços e dos programas de Saúde. A resistência dos profissionais de Saúde em aceitar o Marketing Social como estratégia adequada para corrigir falhas de comunicação, seja em relação a seu alcance como sua efetividade, foram difíceis de vencer. A propaganda de alguns medicamentos e alimentos industrializados há tempos vinha demonstrando seus efeitos negativos. Somente com a valorização crescente dos fatores de estilo de vida como responsável pelo desencadeamento de grande parte dos problemas de Saúde da época e com a consciência de que a educação em saúde precisava ser revista é que o Marketing Social começou a ser acolhido como alternativa. Seu alcance em termos de cobertura de população e seus resultados convenceram os resistentes.

Na segunda parte descreve os passos a serem seguidos no desenvolvimento de um plano de Marketing Social. Enfatiza o papel da pesquisa, como forma de obter a participação do consumidor na elaboração do plano educativo e acompanhamento de seu desenvolvimento. Descreve os componentes do plano de "media" e os cuidados no "desenho" da mensagem, utilizando para isto exemplos retirados de experiências já realizadas. Discute os fundamentos teóricos do "Modelo de redução das resistências", seu papel e da Antropologia e outras Ciências Sociais no delineamento e análise da mensagem.

Finalmente, na terceira parte examina os problemas sociais, econômicos, políticos e ambientais que vêm impedindo ou dificultando os esforços de Marketing Social, e apresenta casos concretos onde tentativas foram feitas para eliminá-los ou minimizá-los.

O livro é bastante interessante para pesquisadores da Saúde Pública e profissionais voltados para a prática que estão buscando alternativas para aumentar o alcance e a rentabilidade de seus esforços.

Néia Schor

Departamento de Saúde Materno-Infantil — FSP/USP

Suicide in adolescence, edited by René F.W. Diekstra and Keith Hawton. Dordrecht, Mar-tinus Nijhoff Publ., 1987.196 p.

O livro tem a finalidade de proporcionar aos estudiosos da área maior compreensão do comportamento dos jovens que procuram o suicídio, tendo em vista não apenas os aspectos psicológicos, mas, também, as relações de outros fatores que levam o jovem à procura de uma maneira tão drástica de dizer "Não" ou de "Ir embora".

O livro é dividido em 6 capítulos: abordando informações recentes em suicídio entre adolescentes; visão geral da questão social relacionada ao mesmo; relato de casos; formulação de teorias em relação ao comportamento do jovem que procura o suicídio e nos três últimos capítulos apresenta métodos de avaliação e tratamento de adolescentes "suicidas", visando ao indivíduo, à família, à escola e à comunidade.

Nos dois últimos capítulos, detalha com maior rigor a questão da avaliação, os programas de prevenção, e propostas educativas (jovens, profissionais, família e comunidade), apresentando alguns exemplos e tipos de materiais utilizados.

O livro é bem estruturado e de leitura fácil, apesar de ter sido escrito basicamente por profissionais da área da psiquiatria e psicologia.

A publicação é de grande interesse para os profissionais de Saúde Pública que estejam trabalhando na área da Adolescência.

José Cavalcante Queiroz

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Veterinary epidemiology, by Michael Thrusfield. London, Butterworths, 1986.280 p.

O livro relaciona as disciplinas que compõem o currículo da medicina veterinária, enfocando o seu grande objetivo, que é a saúde das populações animais.

A preocupação é conseguir diagnosticar bem e tratar melhor o indivíduo com doença infecciosa, não esquecendo os procedimentos mais modernos da medicina veterinária e humana.

O autor aponta quatro pontos importantes para serem observados pelo clínico veterinário:

a) relacionar as doenças com a ecologia e o manejo;

b) as imunizações totais e continuadas dão oportunidade de aparecerem doenças não infecciosas graves;

c) aparecimento de doenças chamadas "da produção" — influenciadas por cusas multifatoriais, p. e. — confinamento, superalimentação, etc.;

d) importância da avaliação econômica constante sobre os rebanhos quantificando as perdas ocasionadas por doenças infecciosas ou não.

Esses quatro pontos de abordagem e a apreciação das doenças são considerados de grande valia para epidemiologia veterinária, pois eles permitem relacionar os efeitos da doença com a economia pecuária.

Este livro não é um texto profundo que esgota os assuntos indicados; pelo contrário, ele é feito para estudantes de medicina veterinária e para médicos veterinários modernos e atuantes. Ele faz uma revisão dos termos e conceitos epidemiológicos, relacionando-os com a ecologia das doenças.

O prefácio relaciona os especialistas que revisaram os vários capítulos deste livro.

A evolução histórica da Medicina Veterinária é contada, os postulados de Koch (3) e os de Evans (10) são relacionados com o significado estatístico de uma doença.

Já o capítulo 11 introduz a utilização dos computadores como instrumentos indispensáveis ao estudo epidemiológico.

Nos capítulos 12 e 13, ele discute as variações entre as diversas escolas estatísticas e dessa maneira torna o livro auto-suficiente nessa matéria.

A ocorrência de uma doença varia com o tipo de população, se compacta ou dispersa e são discutidos também os índices de morbidade, mortalidade e, também a prevalência, a incidência, etc.

O autor comenta a classificação e as causas determinantes das doenças e as relações com a idade, sexo, herança, hospedeiros e infecções ambientais etc.

Fala sobre a transmissão e/ou manutenção das infecções, relaciona as características do patógeno, sua evolução, sensibilidade às drogas, etc.

A ecologia é realçada quando relacionada à doença, e são lembrados os conceitos básicos.

É discutida a distribuição da população de uma mesma espécie em regiões diferentes, quando interessa à disseminação da doença.

Há comentários sobre fonte e natureza de custos de obtenção dos dados e também sobre organizações veterinárias oficiais e associativas, abatedouros, organizações agrícolas, fazendas de criação e numerosas outras fontes relacionadas à atividade de medicina veterinária.

No capítulo que trata dos efeitos econômicos causados pela doença, há temas sobre a natureza da decisão econômica; análise econômica das doenças animais; tributo do custo de uma doença; e muitas outras.

Um assunto interessante é o que relaciona o desenvolvimento da saúde com a produtividade, saúde com a produção leiteira, etc.

Finalmente, o livro dispõe de um glossário de termos utilizados em epidemiologia.

Os apêndices tratam de informações matemáticas básicas e outras referentes a processos utilizados pela estatística para a análise de dados epidemiológicos.

As referências bibliográficas são muito numerosas.

O livro representa uma importante contribuição para as escolas de medicina veterinária e para os cursos de especialização e para os de pós-graduação.

Roberto Tonani de Campos Mello

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

What to do about AIDS: physicians and mental health profissional discuss the issues, edited by Leon McKusick. Berkeley, University of California, 1986. 202 p.

Desde o surgimento dos primeiros casos de AIDS/SIDA (síndrome da imunodeficiência humana) e sua divulgação, observamos reações entre a população leiga, a imprensa e os profissionais de saúde demonstrativas de um evidente mal estar frente à nova doença. Embora suscitado por ela, essas reações não podem ser compreendidas apenas dentro dos limites da doença. O pânico, a discriminação de determinados grupos na sociedade, a negação dos riscos de contraí-la, a incapacidade de discriminar comportamentos de risco de outras práticas mais seguras, são provas cabais de que as pessoas se viram em um turbilhão interior, enquanto tentando lidar com esta nova doença. Várias perguntas se apresentaram: qual a relação entre doença e o modo de viver; quais as responsabilidades das instituições públicas e privadas e que papel devem desempenhar; qual o sentido da vida propriamente dita; como compreender as reações das pessoas frente à doença?

Enfrentar o desafio de controlar a pandemia em que veio se constituir a AIDS/SIDA deixou muito clara a necessidade de se abordar o problema através dos seus diferentes aspectos: biológicos, psicológicos, econômico-organizacionais e políticos. É dentro desta visão que vamos encontrar este livro. Ele está dividido em quatro partes. A primeira —Aspectos Médicos para Profissionais de Saúde Mental - apresenta informação médica básica a respeito da doença, inclusive os aspectos neuropsiquiátricos que possam se desenvolver. As pessoas que tenham interesse em se aprofundar em algum aspecto devem procurar outros trabalhos que desenvolvam mais o tema e estar permanentemente buscando atualizar estes conhecimentos.

A segunda parte — Tratamento em Saúde Mental — aborda os aspectos psicológicos envolvidos na síndrome. Aqui há um corpo de conhecimento de outras disciplinas que são utilizadas para analisar e buscar compreender as reações ligadas à AIDS/SIDA. Vamos encontrar capítulos que tratam do impacto da síndrome sobre os médicos; sobre os pacientes nos diferentes estágios da doença; sobre o aconselhamento de pacientes assintomáticos e a respeito da abordagem psicoterapêutica destes pacientes.

Na terceira parte — Questões Correlatas — é descrito o impacto da AIDS/SIDA em vários subgrupos: homossexuais; usuários de drogas; mulheres; pessoas que souberam recentemente que estão contaminadas pelo vírus e aqueles que perderam alguém com a doença.

Na quarta e última parte — Aspectos de Saúde Pública — são descritos os esforços desenvolvidos na cidade de São Francisco, as estratégias administrativas desenvolvidas para enfrentar o problema gerado pela doença.

O livro, escrito por vários autores, todos envolvidos com a síndrome, é de uma propriedade e oportunidade muito grande em um momento, ainda, em que o nosso país vê crescer o número de casos, ao mesmo tempo que suas instituições são exigidas a buscar alternativas organizacionais para responder às necessidades geradas pela síndrome

  • *
    ) Em relação à educação em saúde, cabem as mesmas considerações feitas por ROSCHKE & CASAS (1987): "se utiliza la educación basicamente como un instrumento aséptico, de como hacer las cosas para su sobrevivência como sistema, sin permitir a la práctica educativa el acceso al nivel de decision y de determinación del trabajo educativo, ni la possibilidad de discutir a nivel de la praxis los problemas de una determinada realidad" (p. 7).
  • *
    Levin, L. S. Salud para los jóvenes de hoy, esperanza para el mundo de mañana.
    Foro Mundial de la Salud,
    10 (2): 151-169, 1989.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Out 2004
    • Data do Fascículo
      Ago 1990
    Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Avenida Dr. Arnaldo, 715, 01246-904 São Paulo SP Brazil, Tel./Fax: +55 11 3061-7985 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revsp@usp.br