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“Ninguém solta a mão de ninguém”: uma autoetnografia performática “ingênua” (?), “romântica”(?) e “esperançosa”(?)

“Nobody loses no one’s hand”: an “ingenue” (?), “romantic” (?) and “hopeful” (?) performance autoethnography

“Nadie suelta la mano de nadie”: una autoetnografía performativa “ingenua” (?), “romántica” (?) y “esperanzada” (?)

Resumo

Por meio de uma autoetnografia performática, os autores buscam problematizar os limites e as potencialidades do medo na contemporaneidade, propondo caminhos a partir da resistência, da esperança e do amor. Considerando seus movimentos diaspóricos e o encontro com diferentes culturas e épocas, o potencial de proposições dialógicas e de construção de pontes se reflete na interface do corpo com a cultura-sociedade.

Palavras-chave:
autoetnografia performativa; corpo; diáspora; medo; esperança

Abstract

Through a performance autoethnography the authors seek to problematize the limits and potentialities of fear in contemporary times, proposing ways from resistance, hope and love. Considering theirs diasporic movements and the encounter with different cultures and times, the potential of dialogical propositions and building bridges is reflected in the body’s interface with culture-society.

Keywords:
performative autoethnography; body; diaspora; fear; hope

Resumen

A través de una autoetnografía performativa, los autores buscan problematizar los límites y potencialidades del miedo en la contemporaneidad, proponiendo caminos basados en la resistencia, la esperanza y el amor. Considerando sus movimientos diaspóricos y el encuentro con diferentes culturas y épocas, el potencial de propuestas dialógicas y de tender puentes se refleja en la interfaz entre el cuerpo y la sociedad-cultura.

Palavras clave:
autoetnografía performativa; cuerpo; diáspora; temor; esperar

MEDO

  1. 1.

    Estado psíquico provocado pela consciência do perigo, real ou apenas imaginário, ou por ameaça;

  2. 2.

    Receio de ofensividade irracional;

  3. 3.

    Receio de ofender, de causar mal ou de que ocorra algo desagradável (Michaelis, 2021MICHAELIS. Dicionário brasileiro de língua portuguesa. [online]. São Paulo: Melhoramentos. 2021. Disponível em: Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/palavra/MdKaa/medo/ . Acesso em: 14 jan. 2021.
    https://michaelis.uol.com.br/palavra/MdK...
    ).

Sexta. Estados Unidos.

Imagem 1
Cartaz presente em portas e/ou jardins de casas estadunidenses que quer dizer: “a vida das pessoas negras tem importância” (tradução livre dos autores)

Sábado. Estados Unidos.

Imagem 12
Cartaz presente em jardins de casas estadunidenses que quer dizer: “não importa de onde você é, estamos felizes por ser nosso vizinho.” (tradução livre dos autores)

Domingo. Estados Unidos.

Dia marcado pelo medo e pela insegurança. Ao passar ao lado de pessoas gritando palavras de ordem e expressando desejos de “mudança”, sinto-me nauseado. Meu estômago se move diante do desconforto provocado pelo medo que adentrou meu corpo e me faz lembrar de minha existência. Seria o sonho uma realidade, ou seria a realidade um sonho? Até este momento nunca tinha sentido um medo tão real de não mais existir. Em minha posição privilegiada de um homem branco, de classe média, professor universitário, médico, nunca senti o medo como algo real e concreto como o sinto agora.

***

Instantaneamente comecei a lembrar de histórias1 1 O presente artigo recorre à linguagem e à estrutura poética, com trechos em poesia e linguagem subjetiva, a fim de aprofundar a experimentação desta pesquisa. Ademais, estes compõem elementos de uma performance na escrita, trazendo outros elementos para ampliarmos as possibilidades de escrita na produção de conhecimento. Para mais informações, sugerimos o artigo de Raimondi, Moreira, Brilhante e Barros (2020). . Revirei um baú cheio de coisas do passado e meu corpo começou a remexer minha existência e me fez lembrar de histórias. Histórias do encontro, do meu corpo com outros corpos, performando um “eu-como-o-outro”, não mais existindo uma separação espaço temporal fixa do “eu-e-o-outro” (Alexander, 2005ALEXANDER, Bryant Keith. 2005. “Performance ethnography: The reenacting and inciting of culture”. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna. (editors). Handbook of Qualitative Research. 3rd ed. Thousand Oaks, CA: Sage; p. 411-442. ; Denzin, 2018DENZIN, Norman K. 2018. Performance autoethnography. New York: Routledge.) - produzindo, por meio deste movimento em direção à cultura, uma autoetnografia performática (Raimondi, Moreira, Brilhante, Barros, 2020RAIMONDI, Gustavo Antonio; MOREIRA, Cláudio; BRILHANTE, Aline Veras; BARROS, Nelson Filice. 2020. “A autoetnografia performática e a pesquisa qualitativa na Saúde Coletiva: (des)encontros método+lógicos”. Caderno de Saúde Pública. Dezembro. Vol. 36, n° 12, p. e00095320.). Se são verdades ou mentiras essas histórias, eu não sei. Mas seria isso realmente importante?! Apesar disso, tenho a certeza de que as marcas trazidas pelo meu corpo para o presente, neste momento, são bem reais e vivas.

***

Quando era criança, ouvi histórias de pessoas que sentiam medo diante de necessidades materiais básicas para (sobre)viver.

Fome, sede, segurança, transporte, emprego, saúde,

tantas outras formas de ter a necessidade de assegurar a vida. Mas eu nunca precisei pensar se essas necessidades não seriam atendidas em minha rotina. Desde o meu nascimento, em grande parte de minha vida, tive a certeza da comida na mesa, do refresco na geladeira, da segurança da casa de meus pais, do carro dos meus pais e do meu carro, de meu emprego que não me permitia pensar em uma possibilidade de desemprego, de saúde garantida pelo meu plano de saúde, e tantas outras seguranças que garantiam minha vida e minha existência.

O que temer então?

O Outro?

A insegurança não fazia parte da minha rotina, da minha vida. No lugar privilegiado em que cresci e me formei enquanto sujeito, só sabia da insegurança na periferia geográfica das possibilidades que usufruía ou nos momentos esporádicos que minha segurança era ameaçada pelos então chamados “marginais”. “Marginais” caracterizados pelas histórias que ouvi desde pequeno como sendo

pobres, “pretos”, ladrões e violentos.

Por mais que esporadicamente visitasse ou me deparasse com essas bordas, essas margens, esses contornos, esses Outros,

não conseguia sentir o medo da não existência, não temia a perda da minha existência.

Temia as possíveis perdas de minhas posses materiais e os possíveis atos de violência relacionados a um possível roubo que poderia sofrer ao encontrar-me com essas bordas, ao encontrar-me com esses Outros chamados “marginais”. Reproduzindo a história única sobre “possíveis” Outros, sobre “possíveis” encontros, “possíveis” perdas, possíveis... seres humanos, cristalizava em minha consciência a o racismo estrutural (Almeida, 2018ALMEIDA, Silvio. 2018. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento.) da nossa sociedade mascarado pelo discurso da “proteção do medo”. Cristalizava a relação periferia-pobre-preto-latino-ladrão-violento, o que me fazia evitar ao máximo encontrar-me ou entrar em contato com essas bordas, margens, Outros. Então, pergunto-me:

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?2 2 Tradução livre dos autores: “quais vidas têm valor? Para quem? Sob quais circunstâncias?”.

Apesar de temer esse suposto roubo e essa violência, sabia, de uma forma consciente ou inconsciente, que havia um aparato jurídico, econômico, cultural e social que me protegeria ou, na pior das hipóteses, me ressarciria de qualquer dano que pudesse sofrer. Estaria errado em pensar/sentir isso sendo um homem branco, de classe média, médico, professor universitário?! Dessa forma, diante da cultura hegemônica, não há, assim, o que de fato meu corpo/minha existência pudessem temer. Então, pergunto-me novamente:

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?

***

Como histórias, talvez como contos de fadas ao abordarem os vilões, conhecia o que poderia ser o medo, mas nunca o havia presenciado em minha vida, nunca havia sentido o que temer. Os príncipes,

brancos, loiros, ricos, fortes,

corajosos, não temiam os vilões. Então por que eu deveria temer, não é mes-

mo?! Teria eu, por acaso, alguma não identificação com esses príncipes, ou melhor, heróis dos contos de fadas?!

Mas há uma diferença desses príncipes, esses heróis. Eu sou gay! Nunca vi um herói gay… assim como não vi um herói negro, indígena, pessoa com deficiência… Eles existem? Se sim, como existem? Ou melhor… como suas existências são representadas? Em que contextos? Por quem? Seria então por isso que estou sentindo medo? Será que o fato de o local em que vivo ser um dos que mais mata lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais do mundo estaria potencializando esse medo?

Sinto em meu corpo que, de alguma maneira, cruzei uma fronteira e por ela fui cruzado. No espaço seguro e protegido, não me sentia mais pertencer por inteiro. Hoje senti visceralmente... o medo...

medo de não mais existir... medo da insegurança... medo da violência...

medo da morte próxima…

Mas não se esqueça, há muitos medos que para muitos

não são meros adereços.

São marcas da vida marcas de nossa sociedade machista racista misógena capacitista

LGBTfóbica ….

Nos meus privilégios,

O medo me encontrou mais tarde na vida

Mas qual o meu compromisso minha responsabilidade de manter esse sistema do medo?

Mas não se esqueça, a branquitude precisa assumir sua responsabilidade neste sistema de medo.

***

Sentindo a vontade de fugir, de me esconder, de erguer muros com os tijolos de meus privilégios para, de alguma forma, me sentir mais seguro, mais protegido, mais vivo. Mas um pensamento insistia em se fazer presente como um fantasma que insistia em me assombrar.

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?

Pela primeira vez, após abandonar meu armário, sinto medo de me expressar. Temendo o que posso falar com meus olhos, meus lábios, meu corpo, resolvi me calar. Busquei de várias maneiras encontrar armários, baús, porões, sótãos, buracos ou outros lugares que pudessem me dar a sensação de proteção.

Depois de tanto procurar, encontrei um armário. Aquele velho conhecido que achei que tinha desmontado. Ainda com suas portas mal ajustadas, ele se mostrava como um recurso para me assegurar. De uma madeira grossa, ele poderia me esconder. Será que, ao me esconder lá, eu poderia parecer o príncipe, o herói dos contos de fadas e, assim, não mais sentir esse medo?

Olhei para ele por vários momentos, mas não consegui entrar.

Com lágrimas nos olhos e com o coração apertado, não consegui entrar.

Não queria voltar para ele.

Não consegui aceitar mais ele em minha vida. Não conseguia abrir mão

da vida, do amor, da vontade, da possibilidade, da coragem, do privilégio, de ter “saído do armário”! Mas, infelizmente,

com o medo que sinto algo me atrai... para nele ... entrar.

Cansado desse medo e dessa negociação com esse armário, que consome minhas energias, corro para o meu quarto. Com passos apressados e pensamentos desnorteados, corro.

De madrugada, em minha casa, no privilégio de uma cama quente de uma noite fria, adormeço encolhido e coberto por tudo aquilo que, de alguma forma, pudesse me dar a sensação de proteção. Agora sinto o que temer.

***

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?

***

Segunda. Em algum lugar.

Acordo com o medo não mais ao meu lado, mas de alguma forma ele está cada vez mais perto de mim ou até poderia dizer que está agora dentro de mim.

Sinto medo.

Medo do que possa acontecer. Medo de meu futuro.

Medo... Medo... Medo... Medo... Diante do medo, busco a razão para tentar de alguma forma compreender o que está se passando comigo, com minha existência para, quem sabe, conseguir me acalmar. Pois não seria o medo algo irracional?!

Entretanto, um sonho insiste em se fazer presente diante de meus pensamentos supostamente lógicos. Colocava algumas das imagens desse sonho de lado e acionava a razão, mas, sem me dar conta, lá estava novamente esse sonho na tela de meus pensamentos. Após algumas tentativas de buscar a razão e não conseguir encontrar respostas, decidi observar esse sonho.

Mas por que sonhei com um conto de fadas? Fadas não existem, não é mesmo?!

Ou, se existem, existem para quem pode ler essas histórias, como eu, não é mesmo?!

Ou existem para quem pode ver essas histórias em desenhos e filmes, não é mesmo?!

Mas qual o sentido desses contos que... não existem?

Controlar, criticar, reproduzir ou simplesmente... brincar com a realidade?

Por alguns momentos, tenho a impressão de que tinha conversado com um ser encantado. Aquele sorriso largo, despretensioso e sagaz, não existia mais. Seu rosto estava marcado por um desgosto. Contava-me que já não conseguia se fazer mais visível como outros animais diferentes e agora cada vez mais chamados de “exóticos”, que eram considerados como perigosos para a ordem social e, por isso, deveriam se adequar a uma “ordem” ou deveriam fugir para assim não mais existir naquele país.

Não conseguia entender o que estava acontecendo naquele reino mágico, naquelas terras encantadas, onde “tudo que se planta dá”; cheias de criaturas belas que até então viviam a sua liberdade e, em certa harmonia, “conservavam” uma amizade. Não era aquele reino reconhecido pela sua ‘democracia’, pela sua diversidade, pela sua miscigenação? Ou seria tudo isso um mito da minha imaginação?

No matter where you are from, we’re glad you’re our neighbor.

Mas o ser encantado me contou que a rainha branca, única mulher até então a governar aquele reino, tinha sido deposta por um movimento de batucadas marcado pela “moral e pelos bons costumes” daquele reino, o qual agora deveria ser um “país de verdade”. Disse que o rei de espada, astuto que só, quis tomar o reino e transformar tudo em pó!

Fui então falar com um amigo

Que estranho dilema

Ele não estava mais aqui comigo

Sua vida em versos, virou poema

Vidas foram aos poucos sumindo

Viraram “memes”, protestos, poemas

No chão o sangue se esvaindo

Metáfora de vidas que, ali, não valiam a pena

O chapeleiro maluco se viu surpreso

Seu governo tão odiado

De repente se tornou saudoso, amado

Mas o povo já não era mais coeso

A Rainha branca deposta

O Rei de Espadas sem nenhuma proposta

O Chapeleiro maluco sedento

O povo na rua, o chão cruento

Andei por alguns caminhos agora escuros, marcados pelo medo e pela insegurança. Como na memória de um outro conto de fadas, vi cartazes com pincéis color(rindo com deboche, sarcasmo e violência), com as cores de meu país, vários monumentos… mas o Brasil é diverso demais para ser só verde e amarelo… quantas cores cabem (se é que cabem) na aquarela que (con)forma uma miscigenação forjada na violência e na opressão e cujas raízes insistem em penetrar e destroçar as vidas de tantos(as) ainda hoje… Esses pincéis que, de tão verde e amarelo, tornaram cada momento cinza, com a desculpa de colorir com as cores da nação para corrigir desvios… - “precisamos corrigir o ‘erro’”, diziam apressadamente. Mas que “erro” seria esse? O que poderia estar errado naquele reino encantado? Seriam as instituições? Ou seriam as pessoas? O que precisava ser marcado? Ou seria remarcado?

Sem muitas respostas, a vida (supostamente) colorida já quase não existia mais ali. Procurei meus amigos de outros tempos, mas vi cartas do baralho como súditos desse novo Rei de Espadas passarem pelas ruas gritando e exigindo apoio ao novo governo que seria “posto”. Escondido dessas carreatas, vi muros serem marcados por inscrições que pareciam querer gritar que a “ferro e fogo” aquele reino “seria novo”. Não haveria mais desvios, não haveria mais o “erro”, pois a “ordem” seria, de novo, um meio. “Marcharemos adiante, pois agora o progresso é nossa fronte!”. Como a marcar esse momento, uma vitrola antiga, insistia em cantar: “Pai, afasta de mim esse cálice

...

Pai....afasta de mim esse cálice

...

Pai....afasta de mim esse cálice

...

de vinho tinto de sangue.”

(Buarque; Gil, 1978BUARQUE, Chico; GIL, Gilbeto. 1978. Cálice. Rio de Janeiro: Polygram/Philips.)

***

No matter where you are from, we’re glad

you’re our neighbor.

***

Sem, no entanto, entender os significados desse “novo” lugar e os motivos des-

sa vitrola tocar, vi de relance um animal encantado passar. Corri para conversar com ele, mas, sem um paraquedas, no chão fui rapidamente me deparar. Entre jornais espalhados pelo chão, comecei a encontrar mais notícias sobre aquele “novo” lugar. Sem conseguir muito acreditar e com a cabeça ainda a girar, fui lendo várias notícias sobre aquele momento que via passar.

Com um discurso de reduzir terras dos povos originários daquele reino para a ampliação do plantio de dinheiro;

com um discurso de redimensionar os recursos financeiros das pesquisas daquele reino, as formigas deveriam produzir “valor agregado” ao seu trabalho;

com um discurso de extinguir estratégias de ensino em roda

para reiterar as fileiras da “ordem”, as escolas deveriam ser “novas”;

com um discurso de proteger o povo, afirmava que o criminoso não é um ser daquele povo;

com um discurso que apoia o armamento, dizia que “ladrão bom” é “ladrão morto”;

com um discurso de banir “marginais negros”, dizia reiterar a lei para ambos;

com um discurso de condecorar as cartas de “segurança” que infelizmente matam, mas felizmente resolvem o “problema”, dizia que “violência se combate com mais violência”;

com um discurso de que nesse reino não tem homofobia, dizia somente que não gostar não implica em perseguir nem matar;

com um discurso de proteger a “verdadeira família”, percebia que minha futura família não mais existiria;

com um discurso de mudar o “coitadismo”, afirmava que corrigiria esse desvio;

com um discurso para as “maiorias”, reiterava a “democracia”;

...

***

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?

***

A sociedade daquele reino se seduzia pelo discurso da “renovação”, mas aquele “rei” já estava ali há um tempão. Mesmo com pouco trabalho pelo e para o povo realizado, parecia se mostrar como uma opção nova para um “povo” dito “cansado”. Ao longe, ouvia os gritos... desse “povo”: “chega de ‘roubalheira’, não queremos mais um conto de ‘baboseira’!”

Curioso para entender, fui ali olhar quem estava a gritar. Entre as frestas de uma janela quebrada, subi em uma caixa para tentar ver a “multidão” que passava.

Jovens em sua maioria, com curso superior em sua maioria, cartas de um baralho branco em sua maioria, de classe média/média alta em sua maioria.

Entre essa “maioria”, de relance ouvi um oráculo me contar: “mensagens foram enviadas, com um alto volume, de forma rápida, contínua e repetitiva, sem uma consistência e veracidade da informação - como um canto que seduz, muitos foram seduzidos por essa nova ‘cruz’”.

Como uma nova cruzada, a partir dos discursos desse novo rei, cartas se sentiram legitimadas para expressarem sua ferocidade para “consertar”. Com violência em palavras e ações, começaram a “punir” tantos seres daquele reino que não se enquadravam no que era considerado “direito”.

Dizendo que “não posso controlar as pessoas”, o rei de espadas autorizava essas ações. O que ali importaria? Que valores, costumes, corpos, vidas valeriam? E em quais circunstâncias isso “realmente” ocorreria?

Sem saber as respostas e espantado com tal realidade, ecoava em minha mente que, quando a experiência não é libertadora, o desejo do oprimido, infelizmente, é de se tornar opressor (Freire, 2017FREIRE, Paulo. 2017. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro - RJ: Paz e Terra.).

Na boca do povo

Nada de novo

Ódio, intolerância, preconceito

O amor já era um mero conceito

Enquanto alguns se punham a chorar

Quem ousava levantar

Era convidado a se retirar

Nesse mundo, não dava mais para ficar

Vi vidas se esvaindo

O medo foi consumindo

Transformando pessoas em objetos

E o ódio deixando de ser simples projeto

O rei de espadas falava

Não posso meus súditos controlar

Mas afirmava que uma boa correção

Poderia ser por palmadas

Com o discurso da correção do “medo” destilando pelos seus lábios

O rei de espadas promovia

Que as cartas até então mascaradas pela maquiagem da tolerância Saíssem de suas caixas e passassem a exigir a segurança Mas para quem?

Só para os seus, os “verdadeiros” privilegiados e merecedores

***

No matter where you are from, we’re glad

you’re our neighbor.

***

Com medo daquele lugar e sem saber o que fazer para de lá me retirar, comecei a correr. Sem portas, sem saídas, sem caminhos, me vi novamente em um labirinto. Querendo gritar, pedir ajuda, mas com medo de ser descoberto, comecei a chorar. Entre lágrimas de um pedido de socorro, consegui me despertar. Com um pranto copioso me levantei. Estarrecido com o pesado (re)vivido, uma nova música começou a tocar em minha vitrola antiga, que agora voltava a berrar ...

“Moro em um país tropical A bençoado por Deus E bonito por natureza Mas que beleza!” (Bem Jor, 1969) Que beleza!? Que beleza? Que beleza? ??????????

***

Whose lives matter?

For whom?

Under what circumstance?

***

Terça. Brasil.

Donald Trump é eleito presidente dos Estados Unidos da América a partir de vitória do colégio eleitoral, apesar de ter perdido no voto popular geral.

Domingo. Estados Unidos.

Jair Bolsonaro é eleito novo presidente do Brasil com maioria dos votos válidos, sendo a primeira vez que um militar é eleito após pouco mais de 30 anos do Fim do Regime Militar Brasileiro.

Segunda. Em outro lugar.

Sem conseguir compreender meus sentimentos e meu sonho, que, de alguma forma, atravessam minha história e me conectam ou me desconectam com o espaço/otempo em que vivi e em que vivo, busco encontrar os sentidos, os significados para tudo isso. Antes mesmo que pudesse encontrar algo, recordei-me de um trecho de um livro que estava lendo...

Fronteiras são estabelecidas para definir os espaços seguros e não-seguros, para distinguir nós deles. [...] A fronteira é um espaço vago e indeterminado criado por um resíduo emocional de uma fronteira não natural. Estando ela em constante estado de transição. O proibido é o seu habitante. (Anzaldúa, 2012ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books., p. 3).

Sendo que,

Os únicos habitantes “legítimos” são aqueles que estão no poder, os brancos [aqui ouso acrescentar que esses brancos são homens, heterossexuais, de classe média], e aqueles que se alinham com os brancos. (Anzaldúa, 2012ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books., p. 4).

Lembrando que

A ambivalência e a inquietação residem lá [na fronteira] e a morte não é estranha. (Anzaldúa, 2012ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books., p. 4)

Compreendi, ao ler esses trechos e relembrar do vivido e reconhecer o que estou vivendo, que talvez cruzei a fronteira, mantendo ainda muitos privilégios de minha existência. Por vários anos estive no espaço seguro, como um habitante “legítimo”, em que a coerência e a quietude (às custas de quantos silenciamentos?) (de)marcavam minha existência. Por vários anos, minhas crenças, formadas a partir da cultura hegemônica em que estava inserido, consolidaram a “bolha social” em que eu vivia.

As bordas existem, os outros poderiam até ser reais, mas não os conhecia e nem imaginava a realidade à qual pertenciam. Por vários anos, essa bolha criada e recriada, geração após geração, tanto em minha família como nos espaços sociais aos quais “pertencia”, mantinha a fixação “nós-eles”, que, como uma conta matemática, separava, na verdade, subtraia, eles de nós ou nós de eles e assim resultava no que aprendi a chamar de “sociedade” - reproduzindo, novamente, uma história única sobre eles.

Nós brancos, heterossexuais, de classe média, descentes de países do norte-global (de preferência europeus ou norte-americanos).

Eles os/as demais.

“Sociedade”

Medo? Do quê? O que haveria para temer? Como em um check-list, até algum tempo atrás, preenchia todos os “parâmetros avaliados” para aquele que é considerado “de bem” e não conseguia sentir, identificar, reconhecer meus privilégios e, como isso, mantinha a estrutura de poder, dominação e exclusão.

Anzaldúa (2012ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books.) comenta que, “para evitar a rejeição de alguns de nós, conforme os valores da cultura, empurrão a parte não aceitável para dentro das sombras” (p. 20). Pelo medo da rejeição, empurrei para as sombras de um armário, durante muitos anos, o fato de não ser heterossexual.

Com esse medo, em última análise, corroborava inconscientemente para a manutenção dessa fronteira nós-eles. Violentando a mim para pertencer a um espaço, fui me matando e mantendo o suposto “nós” vivo. Consumindo o discurso e a cultura hegemônica sobre o Outro, projetava sobre esse Outro o que poderia ser o “medo” a fim de manter minha segurança, de manter aquilo que acreditava como sendo “o melhor”, “o certo”, “o adequado”, “o legítimo”,...

Como em meu sonho, por meio de vários discursos, buscava demarcar o espaço que vivia e que acreditava viver, para que a segurança de meu ser jamais fosse desestabilizada. Com certa violência, acreditava proteger meu ser e, sem perceber, me aprisionava em uma existência limitada, mas que me permitia viver a segurança “encantada”.

Entretanto,

As sombras desse armário Começaram a me sufocar.

Buscando o ar da vida e das possibilidades Fui me encontrar.

Encontrando-me do outro lado,

Do lado de lá,

Ou do lado de cá,

Cruzei uma fronteira Para a vida desfrutar.

Eu-e-Outro e eu-como-o-Outro, Performo possibilidades nesse “novo.

Escrevendo com a “tinta de meu sangue” (Anzaldúa, 2005ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719.),

Canto a vida,

Para dela os males espantar.

Vivendo a minha existência nesse outro lado, compreendi que há muitas possibilidades para a vida. E, ao mesmo tempo, compreendi as muitas resistências para se viver essas possibilidades existenciais. Reconhecendo-me gay e decidindo viver minha homossexualidade, rasurei o “visto” da heterossexualidade do check-list daquela “sociedade”.

Nesse processo, compreendi a perda de um dos meus antigos privilégios. Ser gay me posicionava em uma performance desviante daquela que seria esperada para um corpo que tem um pênis, ao mesmo tempo, mantinha meus outros privilégios de ser cisgênero, branco, classe média, por exemplo.

Sentia nos meus ombros a exclusão. Hoje, fora do armário, vivo uma certa inclusão-excludente. Sinto-me incluído em um mundo que considero mais real e coerente com aquilo que acredito, mas também sinto a exclusão de decidir ser quem sou em um mundo que quer homogeneizar a todos.

Dessa forma, o sonho e o meu medo começaram a fazer sentindo, pois, de alguma maneira, me informavam que não era mais “bem-vindo” ali. Sentia, agora, que, em algum momento, poderia receber o “convite para me retirar”, pois, como nos gritos daquele sonho, a “ordem” queria ser mantida naquele lugar. O medo fazia sentido, pois poderia não mais viver a possibilidade do meu ser.

Com esse medo de deixar de existir, compreendi que já utilizei, em muitas situações, o discurso da “ordem” daquele possível novo rei. Sem conhecer o meu lugar de privilégio e o lugar do Outro, sem me afetar pelos efeitos da manutenção de meus privilégios e pela ausência deles em relação aos Outros, não conseguia compreender a minha rejeição, o meu preconceito e a minha negação do Outro.

Ecoando em minha mente, a voz de Anzaldúa8 se fazia de novo presente ...

Onde existe perseguição a minorias, há projeção da sombra.

Onde existe violência e guerra, há repressão da sombra.

(Anzaldúa, 2005ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719., p. 86).

***

Whose lives matter? No matter For whom? where you are from,

we’re glad

Under what circumstance? you’re our neighbor.

***

Nessa escuridão que, durante muito tempo, não quis trabalhar, eu também me escondia. Devido à minha insegurança e a todos esses medos que vivia e reproduzia, preferia manter e, consequentemente, naturalizar a “ordem” para conseguir ali “viver”.

Hoje, com uma consciência diferente e em uma outra posicionalidade, começo a entender que o discurso do medo me seduziu também. Pois, ao mesmo tempo que a perseguição e a violência se faziam presentes, havia discursos de resistência e união. Não poderia me deixar conduzir pelo medo, pois, com essa estratégia, me esconderia e novamente ao armário voltaria. Resistindo, tendo esperança e amando, me fazia presente e, com uma nova música a cantarolar, junto comecei a cantar ...

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

ESTAMOS NA BEIRA DO MUNDO

NA BEIRA DE NÓS

AQUI DO FUNDO O GRITO É ROUCO

MAS AINDA É VOZ

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM3 3 Música escrita por Laura Canabrava a partir do desenho “Ninguém solta a mão de ninguém”, da tatuadora Thereza Nardelli; e encenada pela encubadora de Cias do CEFTEM, com direção de Duda Maia e Leticia Medella. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=dAyeBnNNI7Q>. Acesso em: 14 jan. 2021.

***

Em Quais mãos... quero segurar?

Quais mãos... não quero soltar?

Em Quais mãos... não quero nem encostar?

Quais mãos... querem segurar... minhas mãos?

Quais vidas... importam para mim?

As vidas semelhantes... à minha?

As vidas diferentes... à minha? Todas... as vidas?

Qual “vizinho(a)” estou feliz por ter por perto?

Seria o vizinho... semelhante a mim?

Seria o vizinho... diferente de mim? Seria todo e qualquer vizinho?

Entre dúvidas e angústias de meus discursos e minhas práticas

Encontro a ambivalência e a contradição em minha própria existência.

Diante da diferença que nos constitui enquanto seres humanos Busco compreender a semelhança daqueles que considero serem Semelhantes a mim.

O que nos faz ser semelhantes e diferentes?

Em que ponto(s) nossas intersecções permitem existir... um diálogo? Poderia existir uma aproximação?

Pois, ao mesmo tempo em que quero segurar mãos... não quero encostar em outras

Pois, ao mesmo tempo em que amo algumas... odeio outras

Pois, ao mesmo tempo em que estou feliz ao lado de algumas... estou triste, envergonhado, desgostoso, enojado... ao lado de outras.

Nós e eles.

Oposições.

Binarismos. Divisões.

Como poderia, então, viver uma união?

Como caminhar, então, por essa(s) ponte(s)? Ou continuarei erguendo muros?

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É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática. (Freire, 2003FREIRE, Paulo. 2003. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. , p. 61).

As possibilidades são inúmeras, uma vez tenhamos decidido agir, em vez de apenas reagir. (Anzaldúa, 2005ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719., p. 706).

Estar disposto a segurar as mãos daqueles que acreditam naquilo que acredito permite-me sentir que não estou sozinho e, assim, me sinto mais fortalecido para continuar a enfrentar os desafios na construção da justiça social. Mas, para isso, preciso compreender que há outras mãos que pensam diferente de mim, como a minha já pensou e ainda pensa em uma série de questões. E, mesmo pensando de forma distinta, houve aquelas mãos que, no passado, não se soltou das minhas. Sem ela(s), estaria eu, aqui, querendo dar as mãos para não mais em um armário viver, mas sim em um mundo enriquecido por possibilidades de existir?

Se esse mundo de possibilidades está ameaçado, e, consequentemente, a minha possibilidade de existir também está ameaçada, sinto e ouço muitas mãos a dizer que preciso/precisamos resistir. Para isso, a pergunta que me faço é: qual estratégia utilizar para essa resistência, sem, no entanto, reproduzir aquilo que me ameaça? Será que eu quero resistir devolvendo ao meu “suposto” ameaçador a mesma intimidação com a qual ele “me ataca”/”sou atacado”, mas com uma “bandeira diferente”? Com uma “justificativa” diferente? Que diferença é essa? Da manutenção de uma perspectiva dual de “nós” versus “eles”? Teriam os meios importância nesse fim, nessa busca pela justiça social, pela promoção de possibilidades? Ou “os fins justificam os meios”4 4 Frase atribuída ao texto “O príncipe”, de Nicolau Maquiavel. .

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O medo me permitiu enxergar que há corpos que querem se dar as mãos e continuar caminhando. Mas o medo também me permitiu enxergar que não quero dar as mãos para aqueles que me causam medo... de não mais existir. Enxergar a distância entre o que digo e o que faço é fundamental para pensar em possibilidades de ação, em vez apenas de reação (Anzaldúa, 2005ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719.). Pois...

Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!5 5 Frase de Angela Davis.

Em uma sociedade LGBTfóbica, não basta não ser LGBTfóbico, é preciso ser anti-LGBTfobia!

Em uma sociedade misógina, não basta não ser misógino, é preciso ser antimisoginia!

Em uma sociedade capacitista, não basta não ser capacitista, é preciso ser anticapacitismo!

Em uma sociedade preconceituosa, não basta não ser preconceituoso, é preciso ser antipreconceito!

Em uma sociedade violenta, não basta ser não violento, é preciso ser antiviolência!

Em uma sociedade que promove o medo, não basta não reproduzir o medo, é preciso promover o amor, pois, em tempos de ódio, amar é um ato revolucionário!

“Escolho usar minhas energias como mediadora” (Anzaldúa, 2005ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719., p. 712), pois, apesar de existirem inúmeras fronteiras que dividem as pessoas, há, também, pontes que podem existir entre cada uma dessas fronteiras (Anzaldúa, 2012). E a construção dessas pontes depende, em relação às fronteiras em que habito, de minha disposição em construí-las. Se a ignorância divide pessoas, cria preconceitos e reitera a subjugação de um povo, talvez precisamos pensar na construção de ponte(s) que dialoguem e promovam o encontro respeitoso da diferença, e, quem sabe, promulguem uma pedagogia da esperança (Anzaldúa, 2012; Freire, 2012FREIRE, Paulo. 2012. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra .). Mas, para isso, Anzaldúa (2012) nos convida a pensar...

A luta sempre foi interior, e se dá em terrenos exteriores. Devemos adquirir consciência da nossa situação antes de podermos efetuar mudanças internas, que, por sua vez, devem preceder às mudanças na sociedade. Nada acontece no mundo “real” a menos que aconteça primeiro nas imagens em nossas mentes. (Anzaldúa, 2012ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books., p. 714).

***

Talvez, após pensar sobre cartazes em jardins estadunidenses, sentir o medo, sonhar, refletir, pensar sobre pontes e minhas próprias contradições e desejos, esteja sendo...

“ingênuo”...

“romântico”...

“esperançoso”...

“...”

Sei que quero me desafiar a não mais o medo seguir, mas, no amor e na esperança, resistir e agir. Buscando aproximar minha fala de minha prática, quero dar mãos a tantos que acreditam em um mundo melhor, pautado na diversidade, na justiça social, nos direitos humanos. Quero aprimorar minhas competências de mediador e de construtor de pontes. Cansei de somente criticar os muros e apedrejar os outros. Quero de alguma forma buscar dialogar, ouvir, não gritar, não violentar, não... o medo alimentar. Acredito que o desafio está posto, como um amigo me falou, “ou mudamos ou vamos acabar nos matando a todos”. Então, qual o meu compromisso individual e coletivo? O que quero/queremos fazer?

Referências Bibliográficas

  • ALEXANDER, Bryant Keith. 2005. “Performance ethnography: The reenacting and inciting of culture”. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna. (editors). Handbook of Qualitative Research 3rd ed. Thousand Oaks, CA: Sage; p. 411-442.
  • ALMEIDA, Silvio. 2018. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento.
  • ANZALDÚA, Glória. 2012. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza 4th ed. San Francisco: Aunt Lute Books.
  • ANZALDÚA, Glória. 2005. “La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência”. Estudos feministas, Vol. 13, n° 3, p. 704-719.
  • BEN JOR, Jorge. 1969. País tropical São Bernardo dos Campos: Odeon.
  • BUARQUE, Chico; GIL, Gilbeto. 1978. Cálice Rio de Janeiro: Polygram/Philips.
  • DENZIN, Norman K. 2018. Performance autoethnography New York: Routledge.
  • FREIRE, Paulo. 2003. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa São Paulo: Paz e Terra.
  • FREIRE, Paulo. 2012. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido São Paulo: Paz e Terra .
  • FREIRE, Paulo. 2017. Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro - RJ: Paz e Terra.
  • MICHAELIS. Dicionário brasileiro de língua portuguesa [online]. São Paulo: Melhoramentos. 2021. Disponível em: Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/palavra/MdKaa/medo/ Acesso em: 14 jan. 2021.
    » https://michaelis.uol.com.br/palavra/MdKaa/medo/
  • RAIMONDI, Gustavo Antonio; MOREIRA, Cláudio; BRILHANTE, Aline Veras; BARROS, Nelson Filice. 2020. “A autoetnografia performática e a pesquisa qualitativa na Saúde Coletiva: (des)encontros método+lógicos”. Caderno de Saúde Pública Dezembro. Vol. 36, n° 12, p. e00095320.
  • 1
    O presente artigo recorre à linguagem e à estrutura poética, com trechos em poesia e linguagem subjetiva, a fim de aprofundar a experimentação desta pesquisa. Ademais, estes compõem elementos de uma performance na escrita, trazendo outros elementos para ampliarmos as possibilidades de escrita na produção de conhecimento. Para mais informações, sugerimos o artigo de Raimondi, Moreira, Brilhante e Barros (2020).
  • 2
    Tradução livre dos autores: “quais vidas têm valor? Para quem? Sob quais circunstâncias?”.
  • 3
    Música escrita por Laura Canabrava a partir do desenho “Ninguém solta a mão de ninguém”, da tatuadora Thereza Nardelli; e encenada pela encubadora de Cias do CEFTEM, com direção de Duda Maia e Leticia Medella. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=dAyeBnNNI7Q>. Acesso em: 14 jan. 2021.
  • 4
    Frase atribuída ao texto “O príncipe”, de Nicolau Maquiavel.
  • 5
    Frase de Angela Davis.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    17 Fev 2021
  • Aceito
    06 Jul 2021
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