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EDITORIAL

Maíra Baumgarten; José Vicente Tavares dos Santos

É uma grata alegria informar aos leitores o novo patamar atingido por Sociologias. Nosso esforço de difusão de estudos sociológicos foi reconhecido por comitês de pares: estamos sendo indexados em importantes bases de dados nacionais e internacionais e fomos aceitos para integrar a coleção SciELO Brasil, um portal de periódicos científicos que disponibiliza os textos integrais das revistas. Além disso, desde nosso 6º número, fazemos parte do conjunto de periódicos do Programa de Apoio a Publicações do Governo Federal (CNPq). Continuamos, sempre, a ser acolhidos no Programa de Incentivo a Periódicos da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRGS, a quem somos muito agradecidos.

Consolidou-se, também, a internacionalização da Revista pois cerca de 24,5% dos 106 artigos e resenhas publicados entre 1999 e 2002 foram escritos por autores estrangeiros de variados países da Europa (Suécia, Inglaterra, Portugal, França, Alemanha) e da América (EUA, Canadá, Chile, Argentina, Uruguai, Venezuela).

Tais evidências expressam a inserção de Sociologias no processo de disseminação internacional da produção sociológica, com autores oriundos de 12 países e sempre incluindo textos em língua espanhola.

Este número 8º mantém tal perspectiva, com o dossiê Violências, América Latina o tema das conflitualidades é retomado por um conjunto de trabalhos que visam à análise sociológica da disseminação de formas de violência nas sociedades latino-americanas.

Visto que a sociedade fragmentada, diferenciada e heterogênea, deste jovem Século XXI, origina múltiplas relações sociais, novas modalidades de ação coletiva emergem, protagonizadas por diferentes agentes sociais. Ao mesmo tempo, progressivamente os valores coletivos deixam de ser parâmetro de orientação das ações sociais o que se expressa em crise das instituições sociais, na ampliação dos conflitos sociais e pela disseminação das formas de violência.

Os textos analisam vários países (Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai e Venezuela), produzindo questões sociológicas que emergem das pesquisas realizadas sobre o espaço urbano - Caracas, Maracaibo, Bogotá, Buenos Aires, Porto Alegre, Brasília e São Paulo - e rural - da Argentina, Uruguai e Brasil.

Tais questões podem ser assim formuladas: quais as formas de violências que predominam na América Latina, no início do Século XXI? Quais as origens - sociais, econômicas, políticas e simbólicas - das violências? Qual a relação entre juventude e violência? Como se conforma a crise do sistema de Justiça Penal? Quais os efeitos dos meios de comunicação na disseminação das violências? Quais as lutas sociais pela cidadania que se configuram atualmente na América Latina? Qual a matriz disciplinar dos estudos sobre as conflitualidades?

Os textos inseridos na seção Artigos estão, mesmo indiretamente, vinculados ao tema do dossiê. Por um lado, trata-se da violência associada a mudanças no mundo do trabalho. María Alejandra Silva - com o artigo Arriesgarse para no perder el empleo: las secuelas en la salud de los obreros de la construcción del Mercosur - aborda o debate atual sobre os riscos do trabalho em obras da construção civil em países do Mercosul, percebendo os determinantes sociais do processo de saúde-enfermidade e identificando os modos de gestão dos riscos do trabalho. Da análise, emergem as limitações dos sistemas de cobertura e registro de enfermidades e de acidentes de trabalho, em uma situação de crescimento do "emprego não registrado" e do "emprego informal".

Por outro lado, Sandro Ruduit escreve sobre a reestruturação no setor de telecomunicações, examinando os padrões de relacionamento interfirmas e as modalidades de emprego na rede de empresas liderada pela Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). A partir da análise de empresas prestadoras de diferentes tipos de serviços, localizadas em diversos níveis da rede, o autor conclui que existe grande diversidade nas práticas de serviços e de emprego.

Na seção Interfaces, a temática da violência foi investigada no espaço escolar. Bernard Charlot, eminente educador francês, analisa o modo pelo qual os sociólogos gauleses abordam as distinções conceituais em tela: a violência na escola, à escola ou da escola? Violência, agressão ou agressividade? A violência, transgressão ou incivilidades? O estudo enfoca a tensão engendrada pelas relações sociais e pelas práticas quotidianas da escola.

Finalmente, na Resenha, Iselda Ribeiro discute algumas contribuições de David Bayley, importante sociólogo americano, sobre a relação entre a polícia e a sociedade, em obra presente em oportuna coleção coordenada pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Ao publicar um conjunto denso de trabalhos sociológicos sobre as conflitualidades e as violências queremos, também, contribuir para superar tais dilaceramentos do tecido social e institucional. Sociologias, ainda que assumindo a sociologia como autoconsciência crítica da sociedade, não se furta a idear possíveis históricos, em um difícil processo civilizatório que os cidadãos e cidadãs, em um social mundializado, estão a imaginar e a construir.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jan 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2002
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