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Apresentação

APRESENTAÇÃO

Apresentação

A identidade étnica e a identidade linguística são unha e carne eu sou minha língua.

Obstinados, perseverantes, impenetráveis como uma rocha, ainda que possuindo a maleabilidade que nos torna inquebráveis, nós, mestizas e mestizos, permaneceremos.

Glória Anzaldúa

(Como domar uma língua selvagem)

A revista Trabalhos em Linguística Aplicada chega à edição 53.2 reafirmando a vocação para a multiplicidade de pensamentos e temáticas nos estudos sobre linguagens. os oito artigos e a resenha que compõem o presente número movemse de norte a sul, apresentando um pequeno panorama da produção em Linguística Aplicada pelo Brasil. uma produção diversificada, movente e cheia de sotaques.

Diversidade que perpassa as zonas de contato intercultural de um curso de licenciatura para professores indígenas em Goiás; as representações de imigrantes japoneses na região sul do país; a escrita de professores de Geografia e História em Tocantins; as salas de aulas, documentos e dinâmicas de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, por várias partes do Brasil; os espaços virtuais de discussões ocupados por estudantes de Letras do Ceará.

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Para o docente indígena R. S. Xerente, escrita acadêmica consiste em apresentar resultados de uma ou mais pesquisas. A princípio a escrita acadêmica depende de pesquisa para sua efetivação. no contexto da academia - contexto em que escreve esse docente -, como enfrentar o desafio de trabalhar com outras práticas de produção e expressão de conhecimentos que não aquela legada pelo colonialismo de modelo anglocêntrico? o primeiro artigo, de André Marques do Nascimento, da universidade Federal de Goiás (UFG), conduz, a partir do contexto intercultural da licenciatura para professores indígenas, uma reflexão de base política sobre as contradições do trabalho com gêneros canonizados da escrita acadêmica. Para tornar viável sua busca por alternativas à descolonização de conhecimentos, o autor analisa práticas escritas de docentes indígenas, pondo-se à escuta das reflexões desses pesquisadores.

Na sequência, Denise Akemi Hibarino, da universidade Federal do Paraná (UFPR), e Guilherme Jotto Kawachi, da universidade estadual de Campinas (Unicamp), partindo de suas próprias vivências de netos de imigrantes japoneses, seguem pelo caminho de pensar politicamente a construção de identidades no Brasil. refletindo sobre a história da imigração japonesa no Brasil, especialmente aqueles fixados na região sul do país, o foco do artigo são as representações estereotipadas sobre esses imigrantes. entre o estereótipo do trabalhador disciplinado, submisso, dedicado ao trabalho e o perigo amarelo, o controle dos deslocamentos de imigrantes buscava construir e reforçar uma identidade homogênea desse outro, marcada pela proibição de sua língua e pelo perigo do mestiço.

Fernando Zolin Vesz, do instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFECT/MT), acompanha, em uma sala de aula de ensino de língua espanhola, os movimentos linguísticos dos alunos entre o português e o espanhol, apontando para uma pedagogia não bilíngue, mas translíngue, para o ensino do espanhol. Trabalhada como produto de uma "epistemologia de fronteira" a translíngua portunhol, rejeitada pelo ensino baseado no conceito de língua como gramática e forma, dá lugar a práticas linguísticas flexíveis e híbridas que levam a novas compreensões e, consequentemente, a novas práticas. no movimento entre línguas, mestizas e mestizos permanecem.

O trabalho com a escrita na escola é pensado para além das aulas de língua portuguesa ou línguas estrangeiras no artigo de wagner rodrigues da silva e Alline Lais Schoen Diniz, ambos da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Com base na análise das escritas reflexivas produzidas no âmbito dos estágios supervisionados de Geografia e História, os autores refletem sobre o papel político dos docentes, já na formação inicial de professores, buscando a valorização da própria disciplina que - tomada como prática - prescindiria do valor simbólico atribuído às disciplinas de cunho mais teórico. um ponto positivo destacado revela-se na disposição a escutar a voz do aluno-mestre, cujas leituras dão lugar a uma escrita que pode fazer dele um autor capaz de se apropriar de suas leituras e não apenas de alienar-se a elas.

O Currículo Mínimo de Língua estrangeira da secretaria estadual da educação do rio de Janeiro é problematizado, a partir de um olhar crítico e "indisciplinar", no artigo de Marcel Álvaro de Amorim, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De que forma a proposta desse currículo contribui para a ampliação de horizontes culturais e para a participação social efetiva e responsiva dos alunos na construção dessa língua estrangeira, pondo-a de fato a seu serviço como "coisa sua".

O ensino-aprendizagem de inglês como língua estrangeira é também o foco do artigo de Gicele Vergine Vieira Prebianca, do instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia de santa Catarina (IFSC). A autora trabalha aspectos cognitivos da linguagem em seu estudo das relações entre o acesso lexical e a proficiência em produção oral de estudantes Brasileiros de língua inglesa.

Márcia Niederauer, da Universidade de Brasília (UnB), debruça-se também sobre as competências orais em língua adicional, com foco na competência interacional, centrando suas análises nos critérios adotados pelo exame oficial de língua portuguesa para estrangeiros, o Celpe-Bras. Trabalhando com estratégias comunicativas e nível de proficiência na parte oral do exame, a autora destaca a complexidade dessa interação face a face e as implicações dessa perspectiva de avaliação não só para os falantes avaliados, mas também para os avaliadores e para os exames.

Com base na conceitualização de metáfora sistemática, Júlio Araújo, Pedro Henrique Silva e Pedro Jorge Marques, todos da universidade Federal do Ceará (UFC), trabalham a emergência de metáforas linguísticas no cenário das interações em um grupo de discussão de Facebook, entre professor e alunos de uma disciplina do curso de Letras da UFC. A análise dos comentários de alunos e de professores revela que essas redes de metáforas conceitualizam de formas diversas o 'conhecimento', conforme se aproximam das experiências sensório-afetivas ou delas se distanciam, aderindo à visão acadêmica corrente de conhecimento relacionado a edificações, construções de edifícios, etc.

Fechando este breve percurso por alguns dos vários caminhos da Linguística Aplicada, Milton Francisco, da Universidade Federal do Acre (UFAC), resenha o livro os sentidos do texto, de Mônica Magalhães Cavalcante. em diálogo com a Linguística Aplicada, a Linguística Textual e a Análise do Discurso, dirige-se a professores de língua portuguesa do ensino médio, alunos de Letras e de Pedagogia, trazendo, ainda, propostas de atividades que podem ser incorporadas às aulas e trazer ganhos para a leitura e produção de textos.

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Nas idas e vindas pelas searas da Linguística Aplicada, a TLA despede-se nesse número da sua editora-chefe, Matilde V. R. Scaramucci, que, nesses treze anos à frente da publicação, teve papel central na consolidação da revista. uma inflexão, não um fim de jornada, pois, mesmo fora da equipe editorial, Matilde permanece interlocutora fundamental. Desejando à colega sucesso em seus novos projetos, a equipe da TLA agradece sua inestimável contribuição.

A Comissão editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jan 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 2014
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