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"Leys da história", "estilo claro", "ordem e sucessão das cousas" na História do Futuro do Padre Antônio Vieira

Resumos

Através de um estudo do Livro Anteprimeiro da História do Futuro - e dos livros que compõem a História do Futuro - é possível analisarmos os elementos da historiografia nos quais Antonio Vieira estava inserido e talvez encontrarmos pistas do porquê e dos elementos com que a composição de uma história poderia defendê-lo das questões de que estava sendo acusado na Inquisição.


In the Livro Anteprimeiro da História do Futuro - and also the other books that compose the História do Futuro - it is possible to analyze the elements of the historiography in which Antonio Vieira was inserted and maybe we can find clues of the reasons of using history and its elements as a way of defense during the Inquisition.


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  • AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
  • ARISTÓTELES. Poética. Tradução, comentários e índice analítico e onomástico de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
  • CÍCERO, Marco Túlio. De Inventione. De L'invention. Texte Établi et traduit par G. Achard. Paris: Les Belles Lettres, 1994.
  • FABRI, Pierre. Le Grand et Vrai Art de Pleine Rhétorique. Publié avec introduction, notes et glossaire par A. Héron. Premier Livre: Rhétorique. Genebra: Slatkine Reprints, 1969.
  • GAGNEBIN, Jeanne Marie. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
  • HALICARNASSO, Dionísio. Tratado da Imitação. Editado por Raul Miguel Rosado Fernandes. Lisboa: Instituto nacional de Investigação Científica; Centro de Estudos Clássicos das Universidades de Lisboa, 1986.
  • HANSEN, João Adolfo. Vieira, tempo, alegoria e história. Brotéria. Lisboa: Oriente- Out/Nov 1997, vol. 145, pp.541-556.
  • HERÔDOTOS. História. Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985.
  • LÍVIO, Tito. História Romana. Traducción del latin por Francisco Navarro y Calvo. Buenos Aires: El Ateneo, 1955.
  • LUCIEN. "Comment il faut écrire l´histoire" in Oeuvres Complétes. Paris: Garnier, s/d.
  • MENDES, Margarida Vieira. A Oratória Barroca de Vieira. Lisboa: Caminho, 1986.
  • LUCIEN "Comment no Cabo de Não: os Descobrimentos no Livro Anteprimeiro da História do Futuro". Revista Claro-Escuro, n.º 6-7. Lisboa, 1991, pp.9-19.
  • MUHANA, Adma. A Epopéia em Prosa Seiscentista. São Paulo:Unesp, 1997.
  • MUHANA, Adma. Recursos Retóricos na Obra Especulativa de Antônio Vieira. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, USP - Serviço de Apoio Didático, 1989.
  • PÉCORA, Alcir. Teatro do Sacramento. São Paulo; Campinas: Edusp; Editora da Unicamp, 1994.
  • POLÍBIOS. História. Seleção, tradução, introdução e notas de Mario da Gama Kury. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985.
  • TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução do Grego, introdução e notas de Mario da Gama Kury. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1982.
  • VIEIRA, Antônio. História do Futuro. Introdução, actualização do texto e notas por Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1992.
  • VIEIRA, Antônio. História do Futuro (Livro Anteprimeiro). Edição crítica, prefaciada e comentada por José van den Besselaar. Munster, Aschenforff, 1976, 2vols.
  • VIEIRA, Antônio. Sermões. São Paulo: Editora Anchietana Limitada, 1943. 16 vols.
  • VILANOVA, Antonio. Erasmo y Cervantes. Madrid: Editorial Lumen.s.d
  • 1
    Os tópicos que compuseram a nossa busca nos sermões e cartas anteriores ao processo agrupam em: Bandarra profeta, a ressurreição de D. João IV, profecia e profeta alumiados pela luz divina, alguns castigos futuros à Igreja, o Turco, a predestinação, judeus e o Império Temporal de Cristo na Terra.
  • 2
    Os Autos do processo de Vieira na Inquisição, p.65.
  • 3
    Livro Anteprimeiro, I, 187-194.
  • 4
    Os Autos do Processo de Vieira na Inquisição, 6o. exame, p.81.
  • 5
    História do Futuro, I, 1.
  • 6
    História do Futuro, L I, 1. 7História do Futuro, I, 1.
  • 7
    História do Futuro, L I, 2.
  • 8
    História do Futuro, L I, 3.
  • 9
    Livro Anteprimeiro, I, 115-122.
  • 10
    Antonio Vilanova nos informa esta predileção dos humanistas e, principalmente, deErasmo por Luciano, quando analisa o tema da vida como comédia na Espanha Quinhentista. Cf. "El tema del gran teatro del mundo in Erasmo y Cervantes, p. 459.
  • 11
    LUCIEN. Comment il faut écrire l'histoire. In Oeuvres Complétes. Paris: Garnier, s/d, pp. 2-3.
  • 12
    Cf. HALICARNASSO, Dionísio. Tratado da Imitação. Editado por Raul Miguel Rosado Fernandes. Lisboa: INIC/ Centro de Estudos Clássicos das Universidades de Lisboa. L II, III, p.58-59
  • 13
    HERÔDOTOS. História, L I, 1, 2, 3. Tradução do grego, introdução e notas de Mario da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.
  • 14
    Cf. GAGNEBIN, Jeanne Marie. O início da história e as lágrimas de Tucídides. In Sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997, pp.20-21.
  • 15
    LUCIANO. Arte Historica. A partir de uma tradução portuguesa do século XVIII citada pela autora apud A epopéia em prosa seiscentista. São Paulo: Editora da Unesp, 1996, pp.263-264. Na edição francesa das obras completas de Luciano, já citada por nós, encontra-se no parágrafo 31, p.18.
  • 16
    Cf. MUHANA, Adma. Os recursos retóricos na obra especulativa de Antônio Vieira. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, USP - Serviço de Apoio Didático, 1989. p. 108.
  • 17
    Idem, p.69.
  • 18
    HANSEN, João Adolfo. Vieira, tempo, alegoria e história. Brotéria. Lisboa: Oriente - Out./Nov. 1997, vol. 145, p. 541.
  • 19
    MENDES, Margarida Vieira. A oratória barroca de Vieira, op.cit. pp.521-525.
  • 20
    Sermão da Primeira Dominga do Advento, 1651, IV, 16.
  • 21
    Para entendimento destes sentidos da exegese bíblica Cf. HANSEN, João Adolfo. Alegoria: Construção e Interpretação da Metáfora. São Paulo: Atual, 1987, cap.III.
  • 22
    Sermão da Primeira Dominga do Advento, 1651, II, 6.
  • 23
    Idem.
  • 24
    HANSEN, João Adolfo. Vieira, tempo, alegoria e história, op.cit. p. 544.
  • 25
    Cf. PÉCORA, Alcir. Oficina universal, armazém divino. In Teatro do Sacramento. São Paulo; Campinas: Edusp; Editora da Unicamp, 1994, p.160.
  • 26
    MUHANA, Adma. Os recursos retóricos na obra especulativa de Antônio Vieira, op.cit., p.71.
  • 27
    Livro anteprimeiro, I, 187-188.
  • 28
    Tucídides narrou a guerra dos atenienses contra os peloponésios, mas com o fim deverificar se ela era mesma a maior e mais importante de todas as guerras, pesquisando os sinais mais remotos, chegando, no entanto, a evidências de que não fora tão grande. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, L I, 1. Tradução do Grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.
  • 29
    Xenofonte, em sua Ciropedia, segue a mesma noção de Heródoto e, por investigação própria, narra o que ouvira de Ciro, o imperador persa. "Refletimos um dia no grande número de estados populares que sucumbem ao poder dos partidos, no grande número dos partidos, no grande número de monarquias de oligarquias que sucumbem ao poder de partidos democráticos, e também no grande número de reis, que tendo usurpado o ceptro, foram uns imediatamente privados dele, outros enquanto o empunharam, foram sempre objecto de admiração por sua sabedoria e felicidade." XENOFONTE, Prólogo in Ciropedia. Tradução João Felix Pereira. Rio de Janeiro: W.M. Jackson INC, s/d, pp.5-7.
  • 30
    LUCIEN. Comment il faut écrire l'histoire, op.cit., p.2.
  • 31
    POLÍBIOS. História. Seleção, tradução, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985, L I, 1, 2, 3.
  • 32
    História, I, 4.
  • 33
    História, II, 71.
  • 34
    Cf. PÉCORA, Alcir. A razão do mistério. In Teatro do Sacramento, op. cit., pp.111-136.
  • 35
    Crónica General de España, f.3.
  • 36
    Monarquia Lusitana, Prólogo, p.4.
  • 37
    Os recursos retóricos na obra especulativa de Antônio Vieira, III, 4, p.117, grifos da autora.
  • 38
    Os Recurso Retóricos na obra especulativa de Antônio Vieira, III, 4, p.112.
  • 39
    Idem, Ibidem.
  • 40
    Cf. Livro Anteprimeiro, I, 5-89.
  • 41
    LUCIEN. "Comment il faut écrire l'histoire", op. cit., p.18.
  • 42
    Livro Anteprimeiro, L I, I, 120-128.
  • 43
    Cf. Confissões, VIII, em que Santo Agostinho afirma, principalmente, que as obras platônicas sugerem, de todos os modos, Deus e o seu Verbo.
  • 44
    História do Futuro, L II, 6.
  • 45
    Aristóteles, na Poética, menciona a história como negativo da poesia; define poesia enquanto a arte do poeta, e a história como o negativo deste gênero de imitação. Não é o ofício do poeta narrar o que aconteceu, e sim o de representar o que poderia ter acontecido, o verossímil. Portanto os ofícios do poeta e do historiador diferem não pela forma, pois as obras de Heródoto poderiam ser postas em verso, não deixando por isso de ser história, e as obras de um poeta, em prosa, não deixando de ser poesia. Ambas diferem, portanto, porque o historiador diz as coisas que sucederam e o poeta canta as coisas que poderiam ter acontecido. Também diferem pela ordem: a história segue uma ordem natural, enquanto a poesia, uma ordem artificial, necessária. A despeito de serem antitéticas, o poeta pode utilizar a história como imitação, pois o que aconteceu, somente o foi, porque era possível. Por isso Aristóteles afirma que a poesia se refere ao universal e, portanto, tem algo de filosófico, enquanto a história se refere ao particular. ARISTÓTELES. Poética. Tradução, comentários e índice analítico e onomástico de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril, 1973, cap. XVIII, IX. Cícero, por sua vez, define no De Inventione três aspectos da narração, classificando-a em três tipos: a fábula, que contém elementos que não são verdadeiros, nem verossímeis, como por exemplo, narrativas de dragões alados; o argumento, ou ficção, é um evento criado que poderia acontecer, ou seja, é verossímil: epopéias, tragédias, comédias, ou seja, a poesia; e, por fim, a história, em que se contam os eventos que aconteceram em algum lugar, em uma época distante de quem narra: as grandes guerras da Antigüidade. Cícero vai além de Aristóteles e não só diferencia a história do verossímil, a poesia, como também do impossível, a ficção, ou fábulas. CÍCERO. De Iventione. De L' Invention. Texte établi et traduit par G. Achard. Paris: Belles Lettres, 1994, L I, 27. Também, seguindo Cícero, outro preceptista moderno, o francês Pierre Fabri: "Histoire, c'est de raconter chose vraye et aduenue; vray semblable, c'est de dire chose qui n'a point esté, mais eust bien peu estre; fable, de dire chose qui oncques ne fu ne sera." Le grand e vrai art de pleine rhétorique, p.65.
  • 46
    LUCIEN. Comment il faut écrire l'histoire, op.cit., p.5-6. Segundo o estudo de Jeanne Marie Gagnebin, nas historiai de Heródoto "há uma partilha entre dois tipos de narrativas que correspondem a duas formas de tempo: há uma narrativa mítica, lendária, sem cronologia possível, que remete ao tempo afastado dos deuses e dos homens; e há uma narrativa 'histórica' (de um tempo pesquisável e pesquisado), com referências cronológicas passíveis de serem encontradas, que trata do tempo mais recente dos homens". Ainda segundo a autora, não haveria em Heródoto uma negação do tempo mítico e sagrado, ele ressalta que este tempo realmente existiu, no entanto o que o historiador recusava são os procedimentos narrativos do mito para descrever o tempo humano, restrito, finito e histórico. Cf. "O início da história e as lágrimas de Tucídides", op. cit., pp. 19-20.
  • 47
    LUCIEN. Comment il faut écrire l'histoire, op.cit., pp.20-21. Ainda, seguindo os passos de Jeanne Marie, em favor deste conhecimento das coisas relatadas, e preocupado com exigências político-jurídicas, Tucídides, quando narra a Guerra do Peloponeso, rejeita o domínio das antigas tradições míticas, pois, devido a seu caráter mnemônico, não possui solidez e se desfaz. Cf. "O início da história e as lágrimas de Tucídides", op. cit., p.26. Um outro historiador, posterior a Tucídides, também pretere, em sua história, os elementos ditos míticos que poderiam se agregados à história. É o caso de Tito Lívio que em sua História Romana ignora o proveito que poderia ter em escrever a história do povo romano desde sua origem, pois sobretudo, quando considera a antiguidade de alguns feitos, aparece, em muitos historiadores, embelezada por fantasias poéticas, apoiada no irrecusável testemunho da história. No entanto, em sua história, não pretendeu rechaçá-las, nem afirmá-las, antes perdoar o hábito da antigüidade de mesclar coisas divinas e humanas que imprime caracteres mais augustos à origem das cidades. Toda a atenção, diz Lívio, de sua história será voltada ao conhecimento da vida e costumes dos primeiros romanos, averiguar quais foram os homens e quais as artes, tanto na paz como na guerra, que fundaram a grandeza de tal império e que lhe deram impulso, e seguir, enfim, com exatidão, a decadência dos mesmos costumes, que o levou à ruína. LÍVIO, Tito. História Romana. Traducción del latin por Francisco Navarro y Calvo. Buenos Aires: El Ateneo, 1955, T.I, pp. 15-17.
  • 48
    História do Futuro, II, 6.
  • 49
    MENDES, Margarida Vieira. Vieira no Cabo de Não: os Descobrimentos no Livro anteprimeiro da História do Futuro. Revista Claro-Escuro, n0 6-7. Lisboa, 1991, p.15.
  • 50
    MENDES, Margarida Vieira. A Oratória Barroca de Vieira, op. cit., capítulo 10, passim.
  • 51
    Idem, "Vieira no Cabo de Não: os Descobrimentos no Livro Anteprimeiro da História do Futuro", op. cit., pp.15-16.
  • 52
    Cf. MUHANA, Adma. Os recursos retóricos na obra especulativa de Antônio Vieira, op.cit., p.74.
  • 53
    Livro Anteprimeiro, III, 151-162.
  • 54
    Idem, pp.96-98.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2003
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