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PRODUTIVIDADE E HUMANIDADES* * Conferência apresentada na 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), São Paulo, 12-6-88, na Mesa Redonda “O Futuro da Universidade Brasileira”, sob coordenação da Profa. Dra. Lygia Chiapinni Moraes Leite.

Resumos

O presente artigo examina criticamente a proposta de modernização da universidade brasileira. Ponto de partida é a analise do termo “improdutivos”, aplicado como alcunha desqualificadora àqueles que defendem a democratização da universidade, fato que anula a possibilidade do debate. Faz-se a distinção entre dois modelos de modernização: um aplicável às universidades ligadas às oligarquias locais (norte e nordeste) e outro aplicável às grandes universidades do sul do país. A análise do primeiro modelo sugere que a proposta de transformação de universidades federais em unidades de ensino técnico-profissional acaba por alinhá-las ainda mais às oligarquias locais. A análise do segundo modelo, mais sofisticado, sugere que a proposta modernizadora seria uma tentativa de adaptar a universidade às exigências atuais da racionalidade capitalista.

Universidade: modernização; democratização; produtividade; humanidades; racionalidade; capitalismo


This article examines critically the proposal for the modernization of Brazilian universities. The point of departure is the term “unproductive”, applied as an epithet to disqualify those who defend the democratization of the university - a fact which eliminates the possibility of debate. The article distinguishes between two models of modernization: one is applicable to universities tied to local oligarchies (in the North and Northeast), and the other to the large universities of the South. The analysis of the first model suggests that the proposal for transforming the federal universities into units for technical and professional training ends up aligning them even more closely with the local oligarchies. Analysis of the second, and more sophisticated, model suggests that the modernizing proposal would be an attempt to adapt the university to the present requirements of capitalist rationality.

University: modernization; democratization; productivity; humanities; rationality; capitalism


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    Conferência apresentada na 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), São Paulo, 12-6-88, na Mesa Redonda “O Futuro da Universidade Brasileira”, sob coordenação da Profa. Dra. Lygia Chiapinni Moraes Leite.
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    Uma proposta que tem circulado um tanto silenciosamente na USP concerne ao ensino das línguas. Propõe-se que sejam separadas do ensino de literatura, que tenham caráter fortemente instrumental para uso de outras áreas, e que sejam reduzidas à graduação, prevalecendo apenas aquelas línguas necessárias às demais áreas de trabalho universitário. Línguas clássicas, por exemplo, seriam ministradas para cursos de filosofia e como preparação para a pós-graduação em Literatura clássica. Teoria literária, teorias lingüísticas e literaturas seriam transferidas para a pósgraduação e, no plano das licenciaturas, haveria essas disciplinas somente para as línguas a serem ministradas no segundo grau.
    No caso das ciências sociais, a tendência é tratá-las segundo o modelo do New Deal e de seu uso para o estado de bem-estar social, caso projetos políticos de cunho social-democrata consigam vigorar no país. A ciência política, por seu turno, tende a encaminhar-se para as pesquisas no campo dos sistemas partidários e dos sistemas eleitorais, acoplando-se à indústria política.
    No caso da história e da geografia, tudo indica que a graduação será no estilo da licenciatura curta e o treinamento para pesquisa será feito só na pós-graduação. Algo semelhante poderá ser proposto para a filosofia, caso permaneça no ensino de segundo grau. No caso da filosofia, a graduação poderá voltar-se para a formação do corpo docente de segundo grau e para o aprimoramento cultural dos graduados em outras áreas cursando pós-graduações específicas. Quanto à pós-graduação, haveria a tendência a acoplá-la a grupos nacionais de pesquisas sob a orientação da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia e a centros de excelência, conveniados com a universidade. A graduação seria, como no caso das línguas e das ciências sociais, história e geografia, fortemente instrumental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Dec 1989
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