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A poesia digital em arquivos online latino-americanos: convergências e divergências

Digital poetry in online latin american archives: convergences and divergences

RESUMO

Em consequência da crescente institucionalização da literatura digital, observamos a maturação desse sistema literário em diversas frentes, entre as quais destacamos o desenvolvimento de arquivos online para obras artísticas de tal cariz. Na constituição de repositórios e antologias exclusivamente voltados à literatura digital, repetem-se algumas das aporias presentes nas discussões de arquivos literários e artísticos em geral, mas a elas se acrescentam os desafios de categorizar obras de um campo em constante transformação, seja pelo incessante desenvolvimento de novas tecnologias, seja pela experimentação frequente com gêneros e formas literárias emergentes em contextos computacionais. Diante dessas questões, o presente artigo tem por objetivo discutir as soluções implementadas em três diferentes arquivos literários digitais latino-americanos (a Antología LitELat - v.1., a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana e o Atlas da Literatura Digital Brasileira) para inclusão e categorização de obras identificadas como poesia digital, ou termos análogos. Para tanto, analisaremos a arquitetura geral de tais arquivos e suas taxonomias subjacentes, atentando sobretudo para os metadados dos textos poéticos arquivados e os modos como estes se relacionam entre si e com suas respectivas obras para delinear possíveis entendimentos do que seja a poesia digital.

PALAVRAS-CHAVE:
Poesia digital; arquivos online; taxonomias; metadados; gêneros

ABSTRACT

As a result of the growing institutionalization of digital literature, we observe the maturation of this literary system in several aspects, among which we highlight the development of online archives for such creative works. Some of the aporias that emerge in discussions about literary and artistic archives in general are also present when it comes to repositories and anthologies exclusively dedicated to digital literature, with the extra challenges of categorizing works from a field in constant transformation, whether due to the incessant development of new technologies, or to frequent experimentations with emerging genres and literary forms in computational contexts. Faced with these issues, this paper discusses the solutions implemented in three different Latin American digital literary archives (the Antología LitELat - v.1., the Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana and the Atlas da Literatura Digital Brasileira) to include and categorize works tagged as digital poetry, or similar terms. To do so, we herein analyze the general architecture of such archives and their underlying taxonomies, paying particular attention to the metadata of the archived poetic texts and the way they relate to one another and to their respective works so as to outline possible understandings of what digital poetry is.

KEYWORDS:
Digital poetry; online archives; taxonomies; metadata; genres

No bojo das transformações sociais, culturais e econômicas a que assistimos aceleradamente desde o último quartel do século XX, a par da dita “revolução digital”, não passa incólume a literatura. Hoje a produção, a circulação ou a recepção de textos literários, mesmo que em formato final impresso, não prescindem no mais das vezes de ferramentas digitais em alguma etapa do processo comunicacional. Um atravessamento dessa monta nos leva a pensar na crescente função que os recursos computacionais desempenham nos circuitos literários, culminando, nos casos mais pronunciados de interdependência entre recursos literários e tecnológicos, na composição de textos artísticos que só podem existir como tais em mídia digital e, por conseguinte, formam um sistema literário próprio, que diferentes pesquisadores chamam de “literatura eletrônica”, “ciberliteratura”, “literatura cibernética”, ou “literatura digital” - esta última, opção mais comum entre latino-americanos. Carolina Gainza, importante pesquisadora chilena dedicada a projetos de mapeamento, crítica e preservação da literatura digital hispano-americana, assim define seu objeto de estudo:

(...) escrituras que não apenas utilizam um aparato eletrônico como meio, senão que, e mais importante em sua definição, se baseiam em diversas formas de manipulação de códigos informáticos, seja de forma direta ou indireta. Nesse sentido, a denominação “digital” permite delimitar uma literatura própria dessa época, que refere práticas relacionadas com a experimentação com a linguagem de códigos ou com meios digitais, como as redes sociais. (GAINZA, 2020GAINZA, Carolina C. Nuevos escenarios literários: Hacia una cartografía de la literatura digital latino-americana. In: GUERRERO, Gustavo; LOY, Benjamin; MÜLLER, Gesine. World editors: dynamics of global publishing and the Latin American case between the archive and the digital age. Berlim: De Gruyter, 2020. p. 331-349., p. 334-335, tradução nossa).

Como um polissistema literário Even-Zohar (2013EVEN-ZOHAR, Itamar. Teoria dos polissistemas. Revista Translatio, v. 5, p. 1-21, 2013. Tradução de Luis Fernando Marozo, Carlos Rizzon e Yanna Karlla Cunha. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/translatio/article/view/42899/27134 . Acesso em: 18 nov. 2021.
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) em formação, negociando com outros polissistemas culturais ora mais antigos e estabilizados (literatura impressa, literatura experimental, literatura latino-americana etc.), ora mais recentes e movediços (artes digitais, narrativas em videojogos, redes sociais etc.), a literatura digital é um campo que demanda sistematizações conceituais e terminológicas, bem como projetos de pesquisa básica e aplicada de toda sorte. Entre os mais variados propósitos a que tais projetos possam se dedicar, destacamos neste artigo a urgente demanda por ações de mapeamento, arquivamento e taxonomização de obras que integram esse sistema literário.

Nesse sentido, observam-se hoje na América Latina três iniciativas de maior envergadura (entre muitas outras igualmente importantes, mas ainda não tão estruturadas e difundidas) no que tange à composição de arquivos da literatura digital produzida no continente: a Antología LitELat - v.1. (doravante, ALL) (LITELAT, 2020LITELAT. Antología LitELat - v.1. 2020. Disponível em: http://antologia.litelat.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
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), a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana (CLDL) (LABORATORIO, 2021LABORATORIO Digital de la Facultad de Comunicación y Letras de la Universidad Diego Portales. Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana. 2021. Disponível em: https://www.cartografiadigital.cl/ . Acesso em: 21 nov. 2021.
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) e o Atlas da Literatura Digital Brasileira (ALDB) (OBSERVATÓRIO, 2021OBSERVATÓRIO da Literatura Digital Brasileira. Atlas da Literatura Digital Brasileira. 2021. Disponível em: https://www.observatorioldigital.ufscar.br/#atlas . Acesso em: 21 nov. 2021.
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). A despeito das diferenças de método, escopo ou objetivos entre tais projetos, todos os três disponibilizam importantes espaços online de acesso gratuito que, de modo geral, arquivam obras digitais produzidas por artistas latino-americanos. Porém, em se tratando de um sistema literário ainda em formação, com metalinguagem crítica também em desenvolvimento, arquivos como esses acabam desempenhando um segundo papel, menos explícito, mas igualmente relevante: o de delinear o que sejam a literatura digital e seus principais elementos constitutivos.

Diante desse contexto, o presente artigo tem por fim analisar como a Antología LitELat - v.1., a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana e o Atlas da Literatura Digital Brasileira, além de preservarem de distintos modos obras de literatura digital latino-americana, acabam por circunscrever diferentes entendimentos de poesia digital, o que se soma às particularidades da literatura em mídia eletrônica os desafios de definição do que seja poesia, conforme vasta bibliografia nos Estudos Literários (EAGLETON, 2007EAGLETON, Terry. How to read a poem. Oxford: Blackwell, 2007. 182 p.). Para subsidiar essa discussão, apresentamos na próxima seção algumas discussões importantes acerca de gestos arquivísticos no campo da literatura digital, em cujo bojo contextualizamos os projetos da ALL, da CLDL e do ALDB. Na seção subsequente, enfocaremos como a poesia digital se revela um tipo de objeto literário que, embora abunde nesses arquivos, impõe desafios de tratamento técnico-científico em vários níveis, dos quais enfocamos os de natureza taxonômica para a leitura dos metadados das obras arquivadas.

Aporias do arquivo

Partindo da premissa de que o mapeamento de um polissistema literário emergente envolve não apenas a compreensão das dinâmicas de produção, circulação e recepção dos textos, mas também dos procedimentos e dispositivos de seu arquivamento, resta patente a premência de conduzir projetos arquivísticos no campo da literatura digital, bem como analisá-los criticamente. Afinal, para além da importância de arquivos literários em geral para a área de Letras, ressalte-se que os objetos artísticos que compõem a literatura digital estão sujeitos à dispersão em páginas na web, em plataformas de redes sociais, ou em mídias físicas de arquivos pessoais de artistas. Ademais, estão sujeitos também à obsolescência1 1 Como exemplos mais recentes de obras de literatura digital que se tornaram de difícil acesso devido à obsolescência programada - triste marca dos ciclos de desenvolvimento tecnocapitalista -, tomem-se aquelas armazenadas e comercializadas em mídias físicas que poucos computadores atuais comportam (disquetes, CDs, DVDs etc.) e as que exigem sistemas não mais executáveis com as tecnologias hoje populares (como produções que só funcionam em Adobe Flash, que os navegadores comuns de Internet não mais executam). de hardwares e softwares necessários à sua execução. Portanto, há que se mapear, reunir, catalogar e preservar tais obras, mantendo-as disponíveis e acessíveis a autores, pesquisadores, artistas, leitores, professores e demais interessados nelas.

Arquivos como esses são dispositivos técnicos que organizam dados e metadados de obras segundo procedimentos sistemáticos para sua catalogação e documentação, sendo mais populares entre as comunidades acadêmicas e artísticas de literatura digital as iniciativas que disponibilizam gratuitamente em páginas de Internet o material arquivado. Nesse sentido, na contramão da evanescência típica da cibercultura, os arquivos de literatura digital reproduzem dinâmicas topológicas (organizando materiais num espaço, mesmo que virtual) e nomológicas (operando classificações, inclusões/exclusões e regulando o acesso) de todo arquivo (DERRIDA, 2001DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 130 p.), ainda que reinventadas na materialidade eletrônica.

Entre outras formas que esses dispositivos podem assumir, destacam-se as antologias e os repositórios. Ambos os formatos armazenam textos (ou excertos de textos) de variados autores, os quais podem ser acessados e lidos individualmente e fazer sentido em si, ou contrair novos sentidos quando confrontados com outras obras registradas no arquivo, no que se aproximam, em pleno século XXI, da definição de collection2 2 Conquanto fuja ao escopo da discussão proposta neste artigo, há que se registrar a grande oscilação terminológica quanto ao uso nas Humanidades de “coleção”/“coletânea” (duas possíveis traduções para collection), “miscelânea” e “antologia”, conforme apontado por Benedict (2003); e, nas Humanidades Digitais, de “arquivo”, “repositório” e “banco de dados”, conforme Katherine Harris (2014). apresentada por Barbara Benedict (2003BENEDICT, Barbara M. The paradox of the anthology: collecting and différence in eighteenth-century britain. New Literary History, v. 34, n. 2, p. 231-256, 2003. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/20057778 . Acesso em: 22 set. 2021.
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) em seu estudo de florilégios do século XVIII.

De maneira geral, o termo antologia designa uma “colecção de textos (com ou sem comentário) seleccionados segundo determinados critérios e representativos de uma literatura ou do conjunto da obra de um autor” (CEIA, 2009CEIA, Carlos. Antologia. E-dicionário de termos literários, 29 dez. 2009. Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/antologia . Acesso em: 19 nov. 2021.
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, grifo nossos). Com sua longa história remontando a recolhas de epigramas gregos em 60 a.C. (CUDDON, 1999CUDDON, John Anthony Bowden. Anthology. In: CUDDON, John Anthony Bowden. Dictionary of literary terms and literary theory. London: Penguin Books, 1999. p. 41-42.), a antologia como gênero discursivo apresenta significativa estabilidade de estrutura composicional ao longo dos séculos, da cultura manuscrita à impressa e desta à cibernética, arquivando em seu seio textos (re)publicados em coleções3 3 Algumas antologias de literatura digital flertam em tamanha medida com a cultura impressa que chegam a receber código ISBN, ficha catalográfica, epígrafe e outros paratextos editoriais análogos. . No caso das antologias de literatura digital, aplica-se com inteireza a definição de Carlos Ceia (2009CEIA, Carlos. Antologia. E-dicionário de termos literários, 29 dez. 2009. Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/antologia . Acesso em: 19 nov. 2021.
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), apesar das particularidades que a mídia computacional lhes impõe, tais quais o consumo em aparatos eletrônicos, o acesso via Internet e a dependência de códigos informáticos para sua execução. De todo modo, uma antologia de literatura digital mantém claras relações com protocolos editoriais da cultura literária, tanto em cada um dos textos nela contidos (frequentemente apresentados por paratextos curatoriais), quanto na arquitetônica geral do arquivo (que opera como uma publicação de textos e excertos reunidos).

Por sua vez, quando falamos de um arquivo digital como repositório, afastamo-nos de modos de recepção caros à literatura e nos aproximamos de arquivos da cultura digital mais ampla. Observe-se, por exemplo, a definição de Ariadne Furnival e Fabiano Castro (2018FURNIVAL, Ariadne Chloe; DE CASTRO, Fabiano Ferreira. Repositório digital. In: MILL, Daniel (org.). Dicionário crítico de educação e tecnologias e de educação a distância. Campinas: Papirus, 2018. p. 560-564.), para quem um repositório é “um sistema de informação que armazena, preserva e fornece acesso a distância e de longo prazo a objetos digitais, sejam eles arquivos textuais, imagéticos, audiovisuais ou de dados primários” (FURNIVAL; CASTRO, 2018FURNIVAL, Ariadne Chloe; DE CASTRO, Fabiano Ferreira. Repositório digital. In: MILL, Daniel (org.). Dicionário crítico de educação e tecnologias e de educação a distância. Campinas: Papirus, 2018. p. 560-564., p. 560). Ainda na discussão proposta por esses dois autores, encontramos importante citação que completa sua definição, situando-a em termos estritamente computacionais: “[um repositório digital] é uma infraestrutura de banco de dados capaz de armazenar coleções de documentos em meio eletrônico” (KURAMOTO, 2008KURAMOTO, Hélio. Repositórios institucionais de acesso livre: o que são? Blog do Kuramoto, 1 dez. 2008. Disponível em: https://kuramoto.wordpress.com/2008/12/01/repositorios-institucionais-de-acesso-livre-o-que-sao/ . Acesso em: 20 nov. 2021.
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).

Consoante essa perspectiva mais técnica, estamos considerando como repositórios, no contexto da literatura digital, iniciativas arquivísticas que supostamente visem apenas ao mapeamento, ao armazenamento e à catalogação de obras conforme padrões de bancos de dados, sem explicitamente adotarem pretensões de valoração crítica dos textos. Muito embora a isenção crítica seja um dos princípios norteadores de tais projetos e o principal critério de distinção entre antologias e repositórios (conforme a proposta classificatória aqui colocada), claro está que arquivo algum pode ser de fato meramente descritivo, já que a inclusão ou exclusão de qualquer elemento é, mesmo que de modo velado, ou não intencional, sempre uma tomada de posição com consequências prescritivas, seja em termos de apreciação crítica, seja em termos da delimitação do escopo do arquivo. O mal de arquivo que Jacques Derrida (2001DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 130 p.) associa à atuação de qualquer arconte, fiel depositário do arquivo e responsável não só por sua organização, mas também por sua interpretação, certamente acomete também os repositórios digitais que se querem isentos de juízos de valor.

A seu turno, antologias reconhecem o mal de arquivo mais diretamente, posto que são construídas explicitamente a partir de critérios valorativos, justificando-se a inclusão com base em decisões tomadas pelos editores quanto à qualidade artística do texto, sua prototipicidade frente ao gênero, sua representatividade para determinado recorte geográfico, temporal ou autoral etc. Inclusive, uma importante baliza da qualidade de antologias (impressas ou digitais), para além das características imanentes de cada uma de suas obras, é a clareza das justificativas para as escolhas editoriais, normalmente expressas em paratextos assinados pelos responsáveis pela compilação do material.

Ainda no que concerne à inclusão/exclusão de determinada obra de literatura digital numa antologia, cabe lembrar que, além de critérios referentes à fatura estética dos textos arquivados, há também contingências do processo editorial: a quantidade máxima de obras que podem ser incluídas naquela edição, o prazo para publicação, as agendas de editores ou patrocinadores, as autorizações pelos autores etc. Mesmo em formato digital online, supostamente passível de edições ou atualizações a qualquer momento, antologias eletrônicas acabam sendo publicadas como unidades fechadas, com circunscrição precisa de obras incluídas em volumes. Reproduz-se, pois, sua relação íntima com protocolos editoriais da cultura literária impressa, conforme aventado acima.

Nesse ponto, nova diferença se coloca frente aos repositórios digitais, dado que estes não são “publicados” em determinada data em blocos autocontidos. Se uma antologia é, simultaneamente, uma publicação e um arquivo (ou, melhor um produto editorial que se arquiva em sua publicação), um repositório digital é tão-somente um arquivo ou biblioteca de proporções muito flexíveis, dado que seu espaço de armazenamento é facilmente expansível, e uma nova obra pode ser adicionada a qualquer momento - o que, numa antologia, exigiria ou novo volume, ou revisão e republicação do volume anterior.

Embora tanto antologias, quanto repositórios sejam permeados por ações de curadoria e de armazenamento de obras, talvez se possa dizer que aquela é mais premente nas antologias, ao passo que este é o objetivo precípuo dos repositórios. A complementaridade entre os dois gestos por vezes leva uma mesma instituição a investir em ambos os tipos de arquivo. A Electronic Literature Organization (ELO), por exemplo, já publicou três volumes da antologia Electronic Literature Collection (ELO, 2006ELO. Electronic Literature Collection 1. 2006. Disponível em: https://collection.eliterature.org/1/ . Acesso em: 20 set. 2021.
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, 2011ELO. Electronic Literature Collection 2. 2011. Disponível em: https://collection.eliterature.org/2/ . Acesso em: 20 set. 2021.
https://collection.eliterature.org/2/...
, 2016ELO. Electronic Literature Collection 3. 2016. Disponível em: https://collection.eliterature.org/3/ . Acesso em: 20 set. 2021.
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), os quais foram analisados como coletâneas e como coleções por Vinícius Carvalho Pereira (2021PEREIRA, Vinícius Carvalho. Recolher, escolher, acolher em um arquivo literário digital: o projeto da Electronic Literature Collection como coletânea e coleção. Fragmentum, Santa Maria, n. 57, p. 215-237, jan./jun. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/fragmentum/article/view/61944/pdf . Acesso em: 19 nov. 2021.
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) e muito em breve serão acrescidos de um quarto volume em preparação; no total, 235 obras foram publicadas nesses três volumes. Por outro lado, em projeto capitaneado pela pesquisadora Dene Grigar, a ELO vem desenvolvendo o repositório Next (ELO, 2021ELO. Next. 2021. Disponível em: https://the-next.eliterature.org/ . Acesso em: 19 nov. 2021.
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), com mais de 3000 obras já cadastradas. Já a comunidade europeia Electronic Literature as a Model of Creativity and Innovation in Practice - ELMCIP publicou a Anthology of European Electronic Literature (ELMCIP, 2012ELMCIP. Anthology of European Electronic Literature. 2012. Disponível em: https://anthology.elmcip.net/ . Acesso em: 19 nov. 2021.
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), contendo 18 obras, ao passo que o repositório constituído pela mesma instituição - a Electronic Literature Knowledge Base (ELMCIP, 2011ELMCIP. Electronic Literature Knowledge Base. 2011. Disponível em: https://elmcip.net/knowledgebase . Acesso em: 19 nov. 2021.
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) - contém um total de 3804 entradas para o que eles chamam de creative works.

As discrepâncias numéricas evidenciam em que medida diferem iniciativas arquivísticas como as de antologias e repositórios. A divergência é tamanha que, a um primeiro olhar, pode-se colocar em dúvida a pertinência de sequer compará-las, especialmente se considerarmos que, no contexto da cultura literária impressa, pouco sentido faria cotejar o conjunto de textos que compõem o arquivo de determinada instituição e o conjunto de textos que integram uma antologia publicada por essa mesma instituição. Contudo, no polissistema da literatura digital, as diferenças mais óbvias entre esses dois conjuntos de textos se esfumaçariam, visto que poderiam igualmente ser acessados pela Internet e que não há originais ou cópias em mídia digital. Em ambos os casos, trata-se apenas de sequências de 0s e 1s em última medida, posto que os arquivos de repositórios e de antologias digitais são igualmente copiáveis, coláveis, transportáveis, armazenáveis e executáveis.

Ademais, por ser um campo ainda em formação, a literatura digital dispõe de um número muito pequeno de repositórios e de antologias, e alguns desses, compilados nos anos 90 e no início dos anos 2000, já se tornaram inacessíveis por computadores e navegadores de Internet de hoje, a exemplo do pioneiro trabalho de Jorge Luiz Antonio. Em página de internet de autoria própria (ANTONIO, 2021ANTONIO, Jorge Luiz. Brazilian Digital Art and Poetry on the Web. Vispo. Disponível em: http://www.vispo.com/misc/BrazilianDigitalPoetry.htm . Acesso em: 20 nov. 2021.
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), o pesquisador compilara importante conjunto de links para obras de literatura digital, mas, infelizmente, uma grande porção desses hipervínculos deixaram de operar. Antonio publicou também sua recolha de literatura digital na forma de livro acompanhado de DVD (ANTONIO, 2010ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia digital: teoria, história, antologias. São Paulo: Navegar, 2010. 80 p.), os quais, todavia, encontram-se esgotados. Além disso, a maior parte dos computadores atualmente no mercado já não dispõem de drive para leitura de DVDs.

O problema da inacessibilidade é especialmente grave na América Latina e no Brasil, onde, na periferia do tecnocapitalismo, os arquivos vão sendo construídos por pequenos grupos de pesquisadores, com muita vontade de contribuir com a área, mas sem o devido apoio na forma de políticas públicas de fomento à pesquisa e à cultura, o que limita a abrangência de tais projetos e as possibilidades de atualização dos arquivos para permanecerem operantes em novas tecnologias. Num contexto como esse, antologias e repositórios precisam ser igualmente considerados como vetores importantes na conservação e na definição do campo da literatura digital no continente, opção metodológica que guia o presente artigo e tem como respaldo também uma série de semelhanças entre os arquivos de ALL, CLDL e ALDB, conforme descrito a seguir.

Um marco importante para os projetos arquivísticos de literatura digital na América Latina foi a criação, em 2015, da Red de Literatura Electrónica Latinoamericana - LitELat. A partir de conexões estabelecidas por pesquisadores do continente em eventos da ELO, observou-se a necessidade de formalizar parcerias entre seus grupos de pesquisa e unir forças para o desenvolvimento da literatura eletrônica na América Latina. Entre diversos projetos desdobrados da fundação da rede, em 2020 foi publicada a Antología Lit(e)Lat volumen 1, com editoração de Leonardo Flores, Claudia Kozak e Rodolfo Mata, contendo obras de autores latino-americanos e caribenhos.

Também em decorrência de discussões empreendidas no âmbito da ELO e da LitELat, as pesquisadoras chilenas Carolina Gainza e Carolina Zúñiga começaram a desenvolver em 2018GAINZA, Carolina C. Narrativas y poéticas digitales en América Latina: producción literaria en el capitalismo informacional. México: Cuarto Próprio, 2018. 251 p. a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana, repositório lançado em 2021 numa série de eventos dedicados à preservação da literatura digital no continente. Em seu projeto, as autoras se dedicam ao mapeamento do campo nos países hispânicos da América Latina.

Como projeto parceiro da Cartografía, desenvolve-se no Brasil, sob coordenação de Rejane Rocha, o Observatório da Literatura Digital Brasileira, que, entre outros produtos, lançou em 2021 o Atlas da Literatura Digital Brasileira. O repositório é uma plataforma digital em software livre e foi desenvolvido por meio de projeto iniciado em 2018 com metodologia cartográfica, abrigando hoje a maior coleção de literatura digital produzida no Brasil.

Para melhor apresentação da macroestrutura dos três arquivos, apresentamos o Quadro 1, com dados qualitativos e quantitativos extraídos de suas plataformas em 15/10/20214 4 Embora a probabilidade de os números de ALL se alterarem a partir desta data seja pequena, dado que antologias são publicadas como “volumes” fechados, CLDL e ALDB são repositórios em constante expansão, de modo que todos os números apresentados neste artigo constituem uma fotografia de tais arquivos em 15/10/2021, e não uma descrição de sua estrutura final. . Na seção subsequente, discutiremos como cada um desses arquivos organiza seus materiais e trata especificamente obras categorizadas como poesia digital (ou termos correlatos).

Quadro 1 -
Macroestrutura de ALL, CLDL e ALDB.

Arquivando a poesia digital

Pensar os modos como esses arquivos tratam a poesia digital envolve, necessariamente, entender onde e como o “poético” se insere nas categorizações que cada um desses projetos propõe. Afinal, em se tratando de bases de dados, importa compreender não só cada dado sobre uma obra como unidade informacional em si, senão também o modo como a mesma é registrada enquanto entidade caracterizada por diferentes atributos.

Os arquivos de literatura digital latino-americana aqui analisados indexam cada instância da entidade “obra” (isto é, cada obra digital em seu banco de dados) em diferentes dimensões, algumas comuns a arquivos literários impressos (como autoria, ano de publicação, gênero etc.) e algumas exclusivas da literatura digital (tecnologia empregada, modo de interação com a obra etc.). No Quadro 2, indicamos quais atributos são imputados às obras de cada um desses arquivos5 5 O Quadro 2 apresenta apenas os atributos visíveis na interface com que o leitor/usuário interage ao acessar o arquivo online. Outros metadados, visíveis apenas para quem tenha acesso à planilha subjacente ao banco de dados, não são aqui considerados. .

Quadro 2 -
Atributos das obras cadastradas em ALL, CLDL e ALDB.

Um primeiro olhar percebe já semelhanças significativas entre os atributos associados a cada obra nos três arquivos. Título (A1), autor (A2) e ano de publicação (A3), elementos comuns à identificação de obras literárias em geral, figuram em todos os arquivos ora analisados. Outros elementos comumente encontrados em arquivos literários também se mostram presentes: por exemplo, país (A4) é um metadado para todas as obras de ALL e CLDL, mas não para as de ALDB, posto que este último tem por escopo exclusivamente material literário digital brasileiro.

Sob uma lógica parecida, CLDL e ALL explicitam entre os metadados o idioma (A5) em que a obra é escrita, em consonância com o plurilinguismo latino-americano e caribenho. Em ALDB há até agora apenas o registro de obras em português, conquanto o arquivo possa vir a abarcar no futuro produções em outros idiomas usados no Brasil, como a Libras, línguas indígenas ou de comunidades de imigrantes. Nesse caso, possivelmente será necessário acrescentar o atributo idioma ao seu banco de dados.

Ainda acerca de atributos que poderiam ser igualmente comuns a arquivos literários impressos, observa-se que ALDB investe no registro de um número maior de informações desse tipo, como a indicação se a obra foi premiada ou participou de algum festival (A6); de que versão (A7) se trata6 6 No caso de obras digitais, uma nova versão pode exigir sua transcodificação, isto é, sua conversão para novo sistema de codificação, o que ALDB documenta no atributo A8. , em possível analogia com a ideia de edição de uma obra impressa; e por quem foi publicada (A9), à guisa de editor. Outros metadados exclusivos de ALDB extrapolam os limites da obra e visam situá-la num contexto maior, acrescentando informações acerca de sua autoria nos atributos página pessoal do autor (A10), entrevista com o autor (A11) e informação biográfica do autor principal (A12).

Também em termos de contexto, está presente nos arquivos de ALL, CLDL e ALDB o atributo link (A13), que apresenta ligações eletrônicas para páginas externas onde as obras são acessáveis7 7 Considerando que a possibilidade de chegar à obra em questão envolve não apenas a existência de um link para ela, senão também a gratuidade do acesso, ALDB inclui o atributo disponibilidade (A14) - paga ou gratuita. Como desdobramento desta dimensão, CLDL e ALDB contemplam ainda o atributo licença/propriedade intelectual (A15), o qual diz respeito a questões de copyright e possibilidades de monetização no campo da literatura digital, temas emergentes no contexto latino-americano (GAINZA, 2018). . Estes, porém, nem sempre redirecionam o leitor, de fato à obra, visto que o navegador pode não ter permissão para acessar a página (erro HTTP 403), a URL pode não ser encontrada (erro HTTP 404), ou pode haver problemas na estrutura do site a que o link remete (erro HTTP 500), entre outros. Como recurso para minorar problemas de inacesso como esses - ou outros, decorrentes da obsolescência de softwares e hardwares necessários para execução das obras - ALL sugere o uso de emuladores em alguns casos, enquanto ALDB apresenta vídeos de navegação nas obras, e CLDL dispõe de capturas estáticas de tela e vídeos e navegação.

Já o atributo descrição (A16), presente nos três arquivos, permite conhecer mais detalhadamente as obras, expandindo as informações constantes nos demais atributos. Em se tratando de um campo textual bastante aberto e de extensão variável, o atributo descrição difere da maior parte dos outros que compõem o Quadro 2, já que não se resume a tags de uma ou duas palavras. Em lugar disso, a descrição é apresentada geralmente nos arquivos sob forma de um ou mais parágrafos acerca de cada obra. Estes são redigidos pelos curadores de ALL e CLDL, mas pelos próprios artistas em ALDB. Sendo o atributo mais aberto a considerações não sistemáticas acerca de cada obra registrada nesses dispositivos arquivísticos, o campo descrição é o que coloca mais desafios à análise transversal entre diferentes obras e diferentes arquivos. Tal empreitada fugiria ao escopo do presente artigo, mas constitui objetivo de futura pesquisa, com enfoque na análise textual das descrições (A16) de obras registradas como poesia digital.

Como o Quadro 2 também revela, em outros atributos há bem menos semelhanças entre os arquivos, sobretudo entre a antologia (ALL) e os dois repositórios (CLDL e ALDB), ao passo que estes últimos mantêm um pouco menos de dissimilaridade entre si, na condição de projetos parceiros8 8 Algumas similaridades entre CLDL e ALDB também decorrem do fato de que ambos os repositórios consideraram, em sua macroestrutura, a proposta taxonômica elaborada pela rede internacional CELL - Consortium on Electronic Literature com vistas a uma “arquitetura da informação necessária para tornar obras de escrita criativa e teóricas nascidas em meio digital encontráveis entre bancos de dado de todo o mundo” (CELL, 2021, tradução nossa). A proposta do CELL é unificar taxonomias empregadas por diferentes projetos de pesquisa, curadoria e arquivo, sistematizando a etiquetagem de obras de literatura digital conforme os seguintes atributos: tipo da publicação (meios e canais pelos quais uma obra é tornada pública), modalidades procedurais (ações que ocorrem entre a obra e o usuário), mecanismos (dispositivos que fornecem input ou output para um computador), formatos (dimensões materiais e intermidiáticas da obra e de suas relações com outras obras e contextos). No entanto, os parâmetros definidos pelo consórcio CELL foram considerados apenas como ponto de partida para CLDL e ALDB, de modo que os grupos responsáveis por esses dois projetos fizeram adaptações ao modelo inicial conforme julgaram apropriado para os propósitos de seus arquivos. . O arquivo de ALL é muito mais econômico que os demais em termos de atributos relacionados a aspectos imanentes das obras, os quais são divididos apenas em tecnologias (A17) e categorias (A18). Como consequências diretas dessa opção metodológica, ambos os atributos apresentam um número muito grande de opções de metadados, e uma obra pode receber mais de uma tag quanto à sua tecnologia e mais de uma tag quanto à sua categoria. O Quadro 3 apresenta as opções de etiquetas disponíveis para os atributos A17 e A18 em ALL:

Quadro 3
Etiquetas disponíveis para os atributos A17 - Tecnologia e A18 - Categoria em ALL.

A alta quantidade de instâncias possíveis para os atributos tecnologia e categoria compromete em alguma medida a sistemática taxonômica de ALL, pois culmina na existência de tags de natureza muito diferente para cada atributo, o que exige também que estes tenham nomes bastante genéricos. Por outro lado, a divisão desses metadados em apenas dois atributos simplifica a visualização da informação e resulta em uma interface menos carregada de signos e possivelmente mais compreensível para quem busque essa antologia como leitor, e não como pesquisador, como se pode observar na Figura 1, que reproduz o paratexto editorial e os metadados da obra de poesia digital Common Medications in Psychiatry, arquivada em ALL.

Figura 1 -
Captura de tela do paratexto editorial e dos metadados da obra Common Medications in Psychiatry, arquivada em ALL.

Quanto ao atributo tecnologia (A17), podemos observar que, em ALL, as tags disponíveis descrevem tipos de metadados muito distintos, como a linguagem de programação em que a obra é executada (BASIC, CSS, FORTRAN, JavaScript, Pascal, PHP, Processing), a mídia física em que é armazenada (CD-ROM, cartões perfurados), o dispositivo para o qual que foi produzida (IBM MT72, Minitel, Tela de LED, Teletipo), o sistema operacional em que deve ser executada (Android, iOS, UbuntuStudio 11.04), a rede social em que circula (Blog, Facebook, Instagram, Twitter) etc.

CLDL, por sua vez, opta por não explicitar, na entrada de cada obra, atributos relacionados às componentes tecnológicas utilizadas para sua criação, circulação ou recepção. Essa economia de atributos, tal qual em ALL, redunda em uma interface menos carregada de signos e, portanto, de potencial maior interesse ao leitor não pesquisador de literatura digital. Por outro lado, ao investir em uma arquitetura da informação aplicável a praticamente qualquer obra literária, CLDL prescinde de caracterizar por meio de metadados a literatura digital no que esta tem de mais específico: seu atravessamento pelas tecnologias computacionais. A materialização dessas escolhas na interface do arquivo é evidenciada na Figura 2, que reproduz parte do paratexto editorial e dos metadados da obra de poesia digital Clickable poem@s, arquivada em CLDL.

Figura 2 -
Captura de tela do paratexto editorial e dos metadados da obra Clickable poem@s, arquivada em CLDL.

Já em ALDB, a opção é claramente outra, com sistemática separação das tags para metadados de ordem técnica conforme o tipo de informação apresentada sobre a obra: o dispositivo técnico em que, no momento da recepção, esta deve ser acessada (A19); o programa ou linguagem de programação em que foi desenvolvida e é executada (A20); o sistema operacional em que ela funciona (A21); os requisitos técnicos (A22) para seu funcionamento; a mídia (A23) em que ela se encontra disponível - se em site web ou aplicativo. Além disso, ainda em decorrência das escolhas técnicas, qualquer obra de literatura digital pode envolver diversos modos de o leitor interagir com ela, a exemplo de navegação, seleção de elementos, ativação/desativação etc., o que ALDB documenta no atributo procedimentos de leitura/interação (A24), situado a meio do caminho entre a recepção e a execução da literatura digital.

Com tantos metadados indexados para cada obra, a base de ALDB é bem mais complexa, o que resulta em material mais completo para pesquisas científicas ou mesmo para buscas no repositório usando um ou mais filtros. No entanto, a complexidade pode redundar em uma redução da legibilidade da interface para leitores com menor letramento literário digital ou menos conhecimento sobre procedimentos de consulta e navegação em repositórios desse tipo. A Figura 3 reproduz parte do paratexto editorial e dos metadados da obra de poesia digital Góngora. 1582 a(h)ora. 1990, arquivada em ALDB.

Figura 3 -
Captura de tela do paratexto editorial e dos metadados da obra Góngora. 1582 a(h)ora. 1990, arquivada em ALDB.

Também concernente a questões técnicas, ALDB relaciona a cada obra o atributo acessibilidade (A25) - isto é, se ela pode ser executada normalmente pelas tecnologias disponíveis hoje. Este, porém, é sempre um dado relativo, já que, mais do que da obra, a acessibilidade depende das tecnologias de que dispõe o usuário. Por exemplo, com a instalação do navegador Pale Moon, pode-se executar uma obra desenvolvida em Flash, ao passo que isso é impossível apenas com as versões atuais do Google Chrome, do Mozilla Firefox ou do Microsoft Edge.

A seu turno, no que diz respeito aos aspectos mais textuais das obras cadastradas, ALL, como apresentado anteriormente, opta pela reunião de informações bastante diferentes no atributo categoria (A18). Sob tal rótulo, estão misturadas tags que dizem respeito ao canal pelo qual a obra é transmitida/consumida (oralidade, poesia sonora, poesia visual), à forma de composição (aleatoriedade, animação, bot, geração, obra combinatória) e mesmo ao gênero literário (narrativa, poesia sonora, poesia versificada, poesia visual, prosa poética e videopoesia).

Mais especificamente sobre o gênero, questão central para pensarmos o arquivamento da poesia digital nos três projetos ora estudados, observa-se nas tags de ALL que o arquivo é organizado com base numa pressuposição de que a poesia é complementar à narrativa (isto é, a partir da dimensão verbal dos signos e sua organização discursiva), e não como complementar à prosa (ou seja, a partir da dimensão visual dos signos e sua organização material na página/tela). Tal perspectiva é também adotada na arquitetura de CLDL e ALDB9 9 Ressalte-se, porém, que esse não é um ponto pacífico nos Estudos Literários, como se observa em tratados básicos acerca dos gêneros, os quais podem ser organizados de modos distintos conforme se tomem como critérios o estilo; os modos de operar com a mimese (ARISTÓTELES, 2004); as funções da linguagem predominantes, ao lado da poética (JAKOBSON, 1987); ou mesmo os modos pelos quais se decide onde estabelecer a translineação das sequências de palavras (EAGLETON, 2007). .

Talvez em decorrência dessa escolha, as adjetivações que a tag poesia recebe em ALL, como poesia sonora, poesia versificada, poesia visual e videopoesia, falam não das sequências textuais mobilizadas (narração, descrição, argumentação etc.), e sim do modo intencional de organizar os signos nos estratos visual e/ou óptico (RAMOS, 1974RAMOS, Maria Luiza. Fenomenologia da obra literária. Rio de Janeiro: Forense, 1974. 251 p.). Por fim, cumpre ressaltar que, se a poesia aparece nessa antologia dividida em subcategorias por meio da adjetivação, o mesmo não se dá com a narrativa; há aí a categoria prosa poética, mas esta, claro está, não é necessariamente matéria narrativa. O Quadro 4 detalha a distribuição quantitativa em ALL de obras associadas a tags que, no atributo categoria (A18), designam gêneros literários:

Quadro 4 -
Quantitativo de obras por tags relativas a gêneros literários em ALL.

Os números acima permitem interessantes inferências acerca do arquivamento da poesia digital em ALL. Em primeiro lugar, observe-se que, entre os metadados das 81 obras cadastradas na antologia, tags associadas à poesia (TPS, TPVe, TPVi, TPP e TVP) aparecem 9310 10 Este número é maior que o total de obras na antologia, pois em ALL uma mesma obra pode receber mais de uma entre as tags TN, TPS, TPVe, TPVi, TPP e TVP. vezes, o que claramente sugere a prevalência do gênero em relação à narrativa ou às apenas 3 obras que não receberam qualquer tag referente aos gêneros mais assentes na teoria literária.

Os números mostram também que quase um quarto das obras da antologia recebem mais de uma tag referente ao gênero literário, o que indica que, no âmbito da literatura digital, tais fronteiras conceituais, esfumadas desde o século XIX na tradição impressa, tornam-se ainda mais imprecisas, culminando em significativa sobreposição dos gêneros constituintes de uma mesma obra. No escopo da poesia digital, parece ser ainda mais premente esse fenômeno, visto que 20 obras de ALL recebem mais de uma tag contendo a palavra “poesia” ou suas variações (TPS, TPVe, TPVi, TPP e TVP). As definições de tais categorias, enunciadas de maneira bastante sumária na antologia, tentam dar conta da multiplicidade de formas como cada uma delas se instancia nas obras: poesia sonora - “integra experimentação poética focada na materialidade do som” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
https://cellproject.net/...
), poesia versificada - “oferece textos organizados em versos ou disposições espaciais parecidas com o verso” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
https://cellproject.net/...
), poesia visual - “integra experimentação poética focada na plasticidade do texto e/ou da imagem” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
https://cellproject.net/...
), prosa poética - “apresenta a prosa na fronteira com a poesia” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
https://cellproject.net/...
) e videopoesia - “trabalha a materialidade do audiovisual a partir de uma estreita conexão com a palavra” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
https://cellproject.net/...
).

Por sua vez, CLDL e ALDB apresentam, em lugar do macroatributo categoria (A18), um desdobramento de informações análogas em mais de um atributo, o que aumenta a granularidade das classificações (com mais categorias de metadados), mas aumenta a coesão entre o tipo de informação que cada atributo agrega. Assim, em conformidade com a proposta do consórcio internacional CELL (vide nota de rodapé 8), tanto CLDL quanto ALDB categorizam o formato (A26) das obras com tags como texto, áudio, vídeo, imagem etc. Consequentemente, quando fazem referência ao atributo gênero literário da obra (A27) - chamado de “tipo” em CLDL -, ambos os arquivos utilizam apenas tags mais gerais (poesia, narrativa, ambos, ou outro, em CLDL; poesia, narrativa, poesia e narrativa, ou ensaio, em ALDB), sem a necessidade criar tags que misturam ambos os tipos de informação (gênero e formato), como nos sintagmas poesia sonora, poesia visual, poesia versificada e videopoesia de ALL.

No que diz respeito às tags para o gênero literário, é interessante notar que estas são inexistentes na proposta taxonômica do CELL, talvez pelo desafio de aplicar as categorias tradicionais dos Estudos Literários ao polissistema emergente da literatura digital. No entanto, tanto ALL quanto CLDL e ALDB optam por etiquetar as obras com essa informação, seja no macroatributo genérico categoria de ALL, seja nos atributos específicos tipo/gênero de CLDL e ALDB.

Acerca da implementação de tal categoria no projeto de ALDB, Rejane Rocha (ST48 S3 LITERATURA, 2021ST48 S3 LITERATURA e tecnologia - futuros (im)possíveis. 30 set. 2021. 1 vídeo (1h 58min) Publicado pelo canal Associação Brasileira de Literatura Comparada. Disponível em Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qR6bj8caATo . Acesso em: 19 nov. 2021
https://www.youtube.com/watch?v=qR6bj8ca...
) afirma que, durante a organização do repositório, a associação de muitas obras a um gênero literário como poesia ou narrativa se mostrou um grande desafio aos pesquisadores responsáveis pelo arquivo, haja vista as patentes diferenças entre a literatura impressa e a digital. No entanto, a equipe do Atlas optou por mantê-las na medida em que gêneros como poesia e narrativa são de conhecimento do público geral, de maneira a proporcionar pontos de entrada razoavelmente reconhecíveis às obras de literatura digital para quem com elas tem seus primeiros contatos. Bastante pertinente, a afirmação da pesquisadora chama a atenção para os potenciais de formação de leitores e de divulgação científica de um arquivo de literatura digital, para além de suas funções mais imediatas de documentação e preservação das obras.

O Quadro 5 detalha a distribuição quantitativa em CLDL e ALDB de obras associadas a tags que designam gêneros literários no atributo tipo/gênero (A27):

Quadro 5 -
Quantitativo de obras por tags relativas a gêneros literários em CLDL e ALDB.

Acerca de tal quadro, observe-se primeiramente que o mesmo analisa fenômenos parecidos com os do Quadro 4, que descreve a distribuição de tags referentes a gêneros literários no atributo categoria (A18) de ALL. No entanto, se ALL permitia que mais de uma tag fosse inserida para determinada obra como metadado no atributo categoria, CLDL e ALDB permitem apenas uma tag por obra no atributo tipo/gênero (A27). De tal sorte, o quantitativo de obras nesses dois repositórios com mais de uma tag designativa de gênero é 0.

Isso não significa, porém, que não haja obras que hibridizam gêneros distintos em CLDL e ALDB, apenas que elas são arquivadas de modo diferente. Conforme a arquitetura desses dois repositórios, obras com sobreposição de características de gêneros literários díspares são marcadas com uma única tag que indica isso, como ambos, poesia e narrativa, ensaio poético-tradutório|poesia, ensaio|poesia|poesia e narrativa. Para unificar todas essas tags e contabilizar as obras de gêneros híbridos em CLDL e ALDB, adotamos o código TX, associado a 9 obras na Cartografía e a 12 no Atlas. Considerando os totais de obras cadastrados em cada um dos três arquivos analisados neste trabalho, observamos porcentagens discrepantes em termos da prevalência de obras híbridas: 26/81, ou cerca de 32% em ALL; 9/179, ou cerca de 5% em CLDL; e 12/144, ou cerca de 8% em ALDB. Não se pode, porém, afirmar que tais diferenças digam respeito apenas às discrepâncias nos corpora, senão também aos critérios de aposição de tags pelos pesquisadores responsáveis pela inserção de dados nesses arquivos.

Mais especificamente no que concerne à poesia digital, nota-se que também nos dois repositórios há uma prevalência do gênero em comparação com a narrativa digital, ou com outros gêneros de porcentagens praticamente inexpressivas, como o ensaio poético-tradutório. No entanto, cumpre destacar mais uma vez que o formato dos quadros nas Quadros 4 e 5 não é exatamente o mesmo, pois em ALL uma mesma obra poderia receber mais de uma tag no atributo categoria (A18), de modo que as tags poesia sonora, poesia versificada, poesia visual, prosa poética e videopoesia somam juntas 84 ocorrências, para um total de apenas 81 obras cadastradas na antologia. Já em CLDL e ALDB, como cada obra recebe apenas uma tag no atributo tipo/gênero (A27), podemos contar quantas obras são arquivadas como poesia digital em cada um desses dois repositórios: 122/179, ou cerca de 68% em CLDL; e 101/144, ou cerca de 70% em ALDB. Apesar dos procedimentos de cálculo serem diferentes, nota-se a representatividade da poesia digital em relação a outros gêneros nos três arquivos, o que talvez nos indique a maior urgência para elaboração de metodologias teórico-críticas da poesia no bojo da literatura digital latino-americana.

Por fim, como último atributo do Quadro 2, cumpre destacar que, no atributo técnica de composição - poética (A28), CLDL e ALDB incluem metadados referentes a aspectos da fatura estética das obras propiciados pelos recursos digitais. Para tanto, ambos os arquivos recuperam alguns elementos da taxonomia de modalidades procedurais previstas pelo CELL, mas adaptando-as e complementando-as com metadados emergentes das obras registradas em CLDL e ALDB. O Quadro 6 detalha as tags existentes em cada um desses arquivos para o atributo técnica de composição - poética (A28).

Quadro 6 -
Vocabulário para metadados de A28 em CLDL e ALDB.

Primeiramente note-se que esse quadro tem estrutura diferente dos anteriores, dado que compara o vocabulário dos metadados que CLDL e ALDB apresentam para o atributo técnica de composição - poética (A28), mas não as tags em si, ou seus quantitativos. Isso ocorre porque, como no Quadro 5, ALDB não permite mais de uma tag para esse atributo, preferindo, em vez de etiquetar separadamente uma mesma obra como sonora e generativa, por exemplo, criar uma nova tag com o rótulo sonora|generativa. Além disso, é importante notar que, às vezes, as diferenças no vocabulário são apenas de formulação (literatura autogerada x generatividade). Ademais, às vezes duas tags separadas em CLDL são fundidas numa única tag em ALDB (como no caso de hipertextualidade/hipermedialidade). Tais distinções mostram particularidades na arquitetura da informação proposta em cada repositório e têm consequências diretas na forma de arquivar suas obras.

Mais especificamente no que tange à poesia digital, pode-se ainda observar que outros pesquisadores da área, como Scott Rettberg (2019RETTBERG, Scott. Electronic literature. Cambridge: Polity, 2019. 240 p.), embora reconheçam os desafios de falar de gêneros literários no contexto da literatura digital, optam por defini-los não apenas como poesia ou narrativa, e sim fundindo metadados que CLDL e ALDB registram separadamente como tipo/gênero (A27) e técnica de composição - poética (A28). Assim, Rettberg (2019), ao organizar seu livro Electronic literature, uma importante introdução ao campo, distingue como gêneros poéticos digitais a poesia combinatória (ou autogenerada/generativa, nos termos de CLDL e ALDB) e a poesia cinética (ou animada, conforme CLDL) e interativa. Do mesmo modo, Christopher Funkhouser (2007FUNKHOUSER, Christopher. Prehistoric digital poetry: an archaelogy of forms, 1959-1995. Tuscaloosa: University of Alabama, 2007. 376 p.) trata como gêneros da poesia digital a poesia generativa, a poesia visual e cinética, a poesia hipertextual/hipermídia, a poesia holográfica e a poesia em codigobra11 11 Poemas digitais que, no corpo dos versos, misturam elementos de linguagens naturais e elementos de linguagens de programação. . Resta patente, pois, a necessidade de mais estudos na área de literatura digital para delimitar se elementos como hipertextualidade, generatividade, interatividade, animação etc. distinguem gêneros poéticos em mídia computacional, ou se são apenas instanciações variadas de um mesmo gênero: a poesia digital.

Considerações finais

Neste artigo, empreendemos a análise de três importantes arquivos de literatura digital latino-americana (a Antología LitELat - v.1., a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana e o Atlas da Literatura Digital Brasileira), analisando os modos pelos quais cada um deles desenha um certo mapeamento da poesia digital no continente. Para tanto, inicialmente discutimos questões mais gerais acerca de arquivos literários digitais, propondo como categorias analíticas a antologia e o repositório, de maneira a entender como esses dois distintos modos de arquivar obras de literatura digital implicam em também distintos procedimentos de seleção, inclusão/exclusão e organização dessas obras nos bancos de dados e interfaces dos três projetos aqui analisados.

Na sequência, procedemos a uma apresentação panorâmica dos três arquivos e a uma dissecação minuciosa das taxonomias e dos metadados utilizados para categorização de suas obras. Ao longo da exposição, observamos convergências e divergências nos modos como cada um dos três arquivos privilegia atributos diferentes das obras que abrigam, sistematizando os resultados das comparações em quadros sinópticos que permitem uma melhor visualização da arquitetura da informação subjacente às entradas de cada obra em ALL, CLDL e ALDB.

Nas análises contrastivas dos atributos e tags presentes nos três arquivos, chamamos especial atenção para a maneira como cada um deles trata os metadados referentes à poesia digital como gênero. Nesse quesito, cumpre ressaltar que os resultados encontrados são deveras interessantes na medida em que identificam elementos quantitativos (como a porcentagem de obras identificadas em cada arquivo como poesia digital) e qualitativos (como a diferença de granularidade entre arquivos que tratam como gênero a poesia tout court ou que a subdividem em poesia visual, poesia versificada, videopoesia etc.). No entanto, maiores análises são necessárias para perceber se, em arquivos de literatura digital de outras comunidades artísticas e científicas, a exemplo da ELO e da ELMCIP, o que se trata como gênero é a poesia (em oposição à narrativa e/ou ao drama e à qual se adiciona o digital como um traço suplementar); a poesia digital (em oposição à poesia impressa e/ou à poesia oral); ou os subtipos de poesia digital, como a poesia digital hipertextual, a poesia digital generativa, a poesia digital cinética etc.

O que se observa, portanto, é que, na constituição de repositórios e antologias exclusivamente voltados à literatura digital, repetem-se algumas das aporias presentes nas discussões de arquivos literários e artísticos em geral - tão bem resumidas por Derrida (2001DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 130 p.) na ideia de um mal de arquivo -, mas a elas se acrescentam os desafios específicos de categorizar obras de um campo em constante transformação, seja pelo incessante desenvolvimento de novas tecnologias, seja pela experimentação frequente com gêneros e formas literárias emergentes em contextos computacionais. Mais especificamente no que concerne à poesia digital, os distintos expedientes arquivísticos adotados pelos três projetos aqui analisados precisam ser contemplados numa série de outros estudos, seja porque tais arquivos continuarão a crescer (pela publicação de um volume 2 de ALL ou pela inserção de novas obras nos repositórios de CLDL e ALDB), seja porque suas diferenças implicam não apenas variações nas formas de organizar o material coletado, senão também nos modos como compreendê-lo como poesia num cenário tão proteiforme como o da literatura digital.

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  • PEREIRA, Vinícius Carvalho. Recolher, escolher, acolher em um arquivo literário digital: o projeto da Electronic Literature Collection como coletânea e coleção. Fragmentum, Santa Maria, n. 57, p. 215-237, jan./jun. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/fragmentum/article/view/61944/pdf Acesso em: 19 nov. 2021.
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  • RAMOS, Maria Luiza. Fenomenologia da obra literária Rio de Janeiro: Forense, 1974. 251 p.
  • RETTBERG, Scott. Electronic literature Cambridge: Polity, 2019. 240 p.
  • ST48 S3 LITERATURA e tecnologia - futuros (im)possíveis. 30 set. 2021. 1 vídeo (1h 58min) Publicado pelo canal Associação Brasileira de Literatura Comparada. Disponível em Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qR6bj8caATo Acesso em: 19 nov. 2021
    » https://www.youtube.com/watch?v=qR6bj8caATo
  • 1
    Como exemplos mais recentes de obras de literatura digital que se tornaram de difícil acesso devido à obsolescência programada - triste marca dos ciclos de desenvolvimento tecnocapitalista -, tomem-se aquelas armazenadas e comercializadas em mídias físicas que poucos computadores atuais comportam (disquetes, CDs, DVDs etc.) e as que exigem sistemas não mais executáveis com as tecnologias hoje populares (como produções que só funcionam em Adobe Flash, que os navegadores comuns de Internet não mais executam).
  • 2
    Conquanto fuja ao escopo da discussão proposta neste artigo, há que se registrar a grande oscilação terminológica quanto ao uso nas Humanidades de “coleção”/“coletânea” (duas possíveis traduções para collection), “miscelânea” e “antologia”, conforme apontado por Benedict (2003BENEDICT, Barbara M. The paradox of the anthology: collecting and différence in eighteenth-century britain. New Literary History, v. 34, n. 2, p. 231-256, 2003. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/20057778 . Acesso em: 22 set. 2021.
    https://www.jstor.org/stable/20057778...
    ); e, nas Humanidades Digitais, de “arquivo”, “repositório” e “banco de dados”, conforme Katherine Harris (2014HARRIS, Katherine. Archive. In: RYAN, Marie-Laure; EMERSON, Lori; ROBERTSON, Benjamin. The Johns Hopkins guide to digital media. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2014. p. 16-18.).
  • 3
    Algumas antologias de literatura digital flertam em tamanha medida com a cultura impressa que chegam a receber código ISBN, ficha catalográfica, epígrafe e outros paratextos editoriais análogos.
  • 4
    Embora a probabilidade de os números de ALL se alterarem a partir desta data seja pequena, dado que antologias são publicadas como “volumes” fechados, CLDL e ALDB são repositórios em constante expansão, de modo que todos os números apresentados neste artigo constituem uma fotografia de tais arquivos em 15/10/2021, e não uma descrição de sua estrutura final.
  • 5
    O Quadro 2 apresenta apenas os atributos visíveis na interface com que o leitor/usuário interage ao acessar o arquivo online. Outros metadados, visíveis apenas para quem tenha acesso à planilha subjacente ao banco de dados, não são aqui considerados.
  • 6
    No caso de obras digitais, uma nova versão pode exigir sua transcodificação, isto é, sua conversão para novo sistema de codificação, o que ALDB documenta no atributo A8.
  • 7
    Considerando que a possibilidade de chegar à obra em questão envolve não apenas a existência de um link para ela, senão também a gratuidade do acesso, ALDB inclui o atributo disponibilidade (A14) - paga ou gratuita. Como desdobramento desta dimensão, CLDL e ALDB contemplam ainda o atributo licença/propriedade intelectual (A15), o qual diz respeito a questões de copyright e possibilidades de monetização no campo da literatura digital, temas emergentes no contexto latino-americano (GAINZA, 2018GAINZA, Carolina C. Nuevos escenarios literários: Hacia una cartografía de la literatura digital latino-americana. In: GUERRERO, Gustavo; LOY, Benjamin; MÜLLER, Gesine. World editors: dynamics of global publishing and the Latin American case between the archive and the digital age. Berlim: De Gruyter, 2020. p. 331-349.).
  • 8
    Algumas similaridades entre CLDL e ALDB também decorrem do fato de que ambos os repositórios consideraram, em sua macroestrutura, a proposta taxonômica elaborada pela rede internacional CELL - Consortium on Electronic Literature com vistas a uma “arquitetura da informação necessária para tornar obras de escrita criativa e teóricas nascidas em meio digital encontráveis entre bancos de dado de todo o mundo” (CELL, 2021CELL. Introducing CELL. Consortium on Electronic Literature. Disponível em: https://cellproject.net/ . Acesso em: 18 nov. 2021.
    https://cellproject.net/...
    , tradução nossa). A proposta do CELL é unificar taxonomias empregadas por diferentes projetos de pesquisa, curadoria e arquivo, sistematizando a etiquetagem de obras de literatura digital conforme os seguintes atributos: tipo da publicação (meios e canais pelos quais uma obra é tornada pública), modalidades procedurais (ações que ocorrem entre a obra e o usuário), mecanismos (dispositivos que fornecem input ou output para um computador), formatos (dimensões materiais e intermidiáticas da obra e de suas relações com outras obras e contextos). No entanto, os parâmetros definidos pelo consórcio CELL foram considerados apenas como ponto de partida para CLDL e ALDB, de modo que os grupos responsáveis por esses dois projetos fizeram adaptações ao modelo inicial conforme julgaram apropriado para os propósitos de seus arquivos.
  • 9
    Ressalte-se, porém, que esse não é um ponto pacífico nos Estudos Literários, como se observa em tratados básicos acerca dos gêneros, os quais podem ser organizados de modos distintos conforme se tomem como critérios o estilo; os modos de operar com a mimese (ARISTÓTELES, 2004ARISTÓTELES. Poética. Prefácio de Maria Helena da Rocha Pereira. Tradução e notas de Ana Maria Valente. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004. 232 p.); as funções da linguagem predominantes, ao lado da poética (JAKOBSON, 1987JAKOBSON, Roman. Language in Literature. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1987. 560 p.); ou mesmo os modos pelos quais se decide onde estabelecer a translineação das sequências de palavras (EAGLETON, 2007EAGLETON, Terry. How to read a poem. Oxford: Blackwell, 2007. 182 p.).
  • 10
    Este número é maior que o total de obras na antologia, pois em ALL uma mesma obra pode receber mais de uma entre as tags TN, TPS, TPVe, TPVi, TPP e TVP.
  • 11
    Poemas digitais que, no corpo dos versos, misturam elementos de linguagens naturais e elementos de linguagens de programação.

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    30 Dez 2021
  • Aceito
    09 Abr 2022
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