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Transmutação: criação e inovação nos gêneros do discurso

Transmutación: creación e innovación en los géneros del discurso

Transmutation: creation and innovation in discourse genres

Resumos

Neste ensaio, a partir de formulações de Bakthin, discutimos o conceito de transmutação. O objetivo maior dessa discussão é compreender melhor a constante tensão entre inovação e conservação tão flagrante nos gêneros do discurso. Concebendo a transmutação como o fenômeno que regeria a possibilidade de transformar e ser transformado a que os gêneros do discurso estariam inexoravelmente submetidos e, ainda, baseando-nos na crença de que a transmutação, processo auto e heteroconstitutivo dos gêneros, se dá por mecanismos distintos, propomos uma tipologia operacional. Postulamos, assim, quatro categorias: transmutação criadora, transmutação inovadora, transmutação externa e transmutação interna. Como desdobramento, pretendemos ensejar pesquisas que possam se valer da tipologia apresentada e discuti-la, vindo a revalidá-la ou reformulá-la, de forma a ampliar nossos conhecimentos sobre a plasticidade e dinamicidade desses artefatos discursivos, sem os quais a linguagem humana seria inimaginável.

gênero do discurso; análise de gênero; transmutação


En este ensayo, a partir de formulaciones de Bakthin, discutimos el concepto de transmutación. El objetivo mayor de esa discusión es comprender mejor la constante tensión entre innovación y conservación tan flagrante en los géneros del discurso. Concibiendo la transmutación como el fenómeno que regiría la posibilidad de transformar ser transformado la que los géneros del discurso estarían inexorablemente sometidos y, aún, basándonos en la creencia de que la transmutación, proceso auto y heteroconstitutivo de los géneros, se da por mecanismos distintos, proponemos una tipología operacional. Postulamos, así, cuatro categorías: transmutación creadora, transmutación innovadora, transmutación externa y transmutación interna. Como despliegue, pretendemos dar lugar a pesquisas que puedan valerse de la tipología presentada y discutirla, viniendo a revalidarla o reformularla, de forma a ampliar nuestros conocimientos sobre la plasticidad y dinamicidad de esos artefactos discursivos, sin los cuales el lenguaje humano sería inimaginable.

género del discurso; análisis de género; transmutación


In this essay, from the Bakhtinian formulations, we discuss the concept of transmutation. The major purpose of this discussion is to better understand the constant tension between innovation and conservation so blatant in the genres of discourse. Conceiving transmutation as the phenomenon that would govern the ability to transform and to be transformed, to which genres of discourse inevitably undergo, and also based on the belief that the transmutation process of constitution of self and hetero genres occurs by distinct mechanisms, we propose an operational typology. We postulate, therefore, four categories: creative transmutation, innovative transmutation, internal transmutation and external transmutation. As a consequence, we intend to develop researches that might be assessed and discussed on the basis of the suggested typology, in order to revalidate it or rephrase it to expand our knowledge about the plasticity and the dynamics of discursive artifacts, without which human language would be unimaginable.

discourse genres; genre analysis; transmutation


ENSAIO

Transmutação: criação e inovação nos gêneros do discurso1 1 Este ensaio é parte das reflexões sobre o estudo diacrônico dos gêneros desenvolvido em tese de doutorado, (ZAVAM, 2009), sob a orientação da professora Bernardete Biasi-Rodrigues.

Transmutation: creation and innovation in discourse genres

Transmutación: creación e innovación en los géneros del discurso

Aurea Zavam

Universidade Federal do Ceará. Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística. Coordenadora do grupo de pesquisa TRADICE. Doutora em Linguística. Email: aurea.ufc@gmail.com

RESUMO

Neste ensaio, a partir de formulações de Bakthin, discutimos o conceito de transmutação. O objetivo maior dessa discussão é compreender melhor a constante tensão entre inovação e conservação tão flagrante nos gêneros do discurso. Concebendo a transmutação como o fenômeno que regeria a possibilidade de transformar e ser transformado a que os gêneros do discurso estariam inexoravelmente submetidos e, ainda, baseando-nos na crença de que a transmutação, processo auto e heteroconstitutivo dos gêneros, se dá por mecanismos distintos, propomos uma tipologia operacional. Postulamos, assim, quatro categorias: transmutação criadora, transmutação inovadora, transmutação externa e transmutação interna. Como desdobramento, pretendemos ensejar pesquisas que possam se valer da tipologia apresentada e discuti-la, vindo a revalidá-la ou reformulá-la, de forma a ampliar nossos conhecimentos sobre a plasticidade e dinamicidade desses artefatos discursivos, sem os quais a linguagem humana seria inimaginável.

Palavras-chave: gênero do discurso. análise de gênero. transmutação.

ABSTRACT

In this essay, from the Bakhtinian formulations, we discuss the concept of transmutation. The major purpose of this discussion is to better understand the constant tension between innovation and conservation so blatant in the genres of discourse. Conceiving transmutation as the phenomenon that would govern the ability to transform and to be transformed, to which genres of discourse inevitably undergo, and also based on the belief that the transmutation process of constitution of self and hetero genres occurs by distinct mechanisms, we propose an operational typology. We postulate, therefore, four categories: creative transmutation, innovative transmutation, internal transmutation and external transmutation. As a consequence, we intend to develop researches that might be assessed and discussed on the basis of the suggested typology, in order to revalidate it or rephrase it to expand our knowledge about the plasticity and the dynamics of discursive artifacts, without which human language would be unimaginable.

Key-words: discourse genres. genre analysis. transmutation.

RESUMEN

En este ensayo, a partir de formulaciones de Bakthin, discutimos el concepto de transmutación. El objetivo mayor de esa discusión es comprender mejor la constante tensión entre innovación y conservación tan flagrante en los géneros del discurso. Concibiendo la transmutación como el fenómeno que regiría la posibilidad de transformar ser transformado la que los géneros del discurso estarían inexorablemente sometidos y, aún, basándonos en la creencia de que la transmutación, proceso auto y heteroconstitutivo de los géneros, se da por mecanismos distintos, proponemos una tipología operacional. Postulamos, así, cuatro categorías: transmutación creadora, transmutación innovadora, transmutación externa y transmutación interna. Como despliegue, pretendemos dar lugar a pesquisas que puedan valerse de la tipología presentada y discutirla, viniendo a revalidarla o reformularla, de forma a ampliar nuestros conocimientos sobre la plasticidad y dinamicidad de esos artefactos discursivos, sin los cuales el lenguaje humano sería inimaginable.

Palabras-clave: género del discurso. análisis de género. transmutación.

1 COMEÇANDO A NOSSA CONVERSA: A CONTRIBUIÇÃO DE BAKHTIN

Nada é permanente, salvo a mudança.

(Heráclito)

Nos estudos bakhtinianos, a noção de gênero encontra-se estreitamente imbricada ao conceito de enunciado, o qual, por sua vez, assume relevante importância no curso das formulações do linguista russo. Estabelecendo distinção entre enunciado, entendido como unidade da comunicação verbal, e oração, entendida como unidade da língua, Bakhtin trava diálogo com estudos linguísticos hegemônicos da época, com o intuito de contribuir para a delimitação de fronteiras de cada um desses conceitos. Para tanto, elenca as características da oração, sempre em oposição ao enunciado, e afirma que a falta de compreensão sobre o alcance dessa distinção vinha levando muitos linguistas a cometerem equívocos em suas análises.

Defendendo o enunciado como a unidade real da comunicação, Bakhtin (2000, p. 297) lembra que "as pessoas não trocam orações, assim como não trocam palavras (numa acepção rigorosamente linguística), ou combinações de palavras, trocam enunciados constituídos com a ajuda de unidades da língua". E mais adiante reitera o seu posicionamento acrescentando que "aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas). Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas)" (p. 302). Assim, como podemos ver, gênero e enunciado estão diretamente correlacionados nos postulados bakhtinianos, tanto que, ao conceituar gênero, afirma tratar-se de "tipos relativamente estáveis de enunciados" (p. 279, grifos originais).

Quando se refere à estabilidade relativa dos enunciados, Bakhtin está acenando para a possibilidade de os gêneros serem passíveis de variação, uma vez que suas formas são mais maleáveis e livres que as formas da língua, mais padronizadas, condicionadas a leis normativas. Por outro lado, mesmo sendo mutáveis, os gêneros não são criações individuais, já que, para serem reconhecidos, necessitam retomar certas formas que se encontram acordadas nas esferas em que circulam, necessitam ainda se submeter a certas condições postas pelo contexto sócio-histórico e discursivo em que estão envolvidas as pessoas que interagem naquela determinada atividade enunciativa.

O gênero, consideradas as contribuições de Bakhtin, passa a ser pensado, então, a partir de uma visão de discurso que privilegia o processo interativo que naturalmente envolve as atividades enunciativas, mediadas pela correlação de posições sociais, pela intenção dos enunciadores e pelas finalidades específicas de cada esfera, "como um objeto discursivo ou enunciativo" (ROJO, 2005, p. 196).

Dependendo de cada uma das mediações referidas, e de acordo com as transformações por que passam as sociedades, os gêneros desaparecem, migram para dentro de outros, intercalam-se, transformam-se, num contínuo processo de evolução, tanto dentro da esfera em que foram gerados como daquela que os adotou. É o que, por sua vez, aponta Bronckart (1999, p. 73-74), ao se referir ao caráter tanto histórico, quanto adaptativo das produções textuais: "alguns gêneros tendem a desaparecer [...], mas podem, às vezes, reaparecer sob formas parcialmente diferentes; alguns gêneros modificam-se [...]; gêneros novos aparecem [...]; em suma, os gêneros estão em perpétuo movimento". Ou, ainda, como afirma Todorov (1980, p.46), ao refletir sobre a origem dos gêneros, "um novo gênero é sempre uma transformação de um ou vários gêneros antigos: por inversão, por deslocamento, por combinação".

Como se vê, todos reconhecemos o processo de "reestruturação e renovação dos gêneros" (BAKHTIN, 2000, p. 286), decorrente do processo de contínua transformação a que está submetida a sociedade (os sujeitos) e consequentemente a língua, ou melhor, "os enunciados constituídos com a ajuda de unidades da língua" (BAKHTIN, 2000, p. 287). Mas a reestruturação e a renovação não ocorrem sem deixar rastros. É nesse sentido que Bakhtin (2005, p. 106) afirma que "o gênero sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. [...] O gênero vive do presente mas sempre recorda o seu passado, o seu começo." (grifo original). Recordar o passado significa, para nós, possibilitar encontrar em algum estágio de realização do gênero (ou em vários) indícios de seu processo de transformação, isto é, de seu processo de transmutação. É, pois, sobre transmutação, conceito pouco desenvolvido nos estudos linguísticos, que falaremos a seguir.

2 TRANSMUTAÇÃO: PROCESSO AUTO E HETEROCONSTITUTIVO DOS GÊNEROS

Bakhtin, quando emprega o termo transmutar2 2 Convém lembrar que o termo "transmutar" é encontrado em traduções feitas a partir da edição francesa de Estética da criação verbal (obra de Bakthin de 1979), como, por exemplo, a de Maria Ermantina G.G. Pereira (2000). Na tradução feita por Paulo Bezerra (2006), diretamente do russo, o termo adotado é "reelaborar". Como estamos propondo que a transmutação é um processo ao qual todos os gêneros estão invariavelmente submetidos, optamos pela tradução de 2000. , o faz para falar da transformação pela qual os gêneros primários passam ao serem inseridos nos gêneros secundários. Para o linguista russo, os gêneros primários (gêneros simples) são os ligados ao diálogo, à comunicação verbal espontânea, às esferas da ideologia do cotidiano; e os secundários (gêneros complexos), os que resultam de comunicação cultural mais elaborada, principalmente escrita, ligados às esferas dos sistemas ideológicos constituídos3 3 A propósito da distinção entre gêneros primários e gêneros secundários, basilar em Bakhtin, cf. Faraco, 2003. . Com base nessa distinção, afirma:

os gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea

4 4 Na tradução de Paulo Bezerra (2006, p. 263), "eles [os gêneros secundários] incorporam e reelaboram diversos gêneros primários (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata" (grifo nosso).

. Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios - por exemplo, inseridas no romance, a réplica do diálogo cotidiano ou a carta [..] só se integram à realidade existente através do romance considerado como um todo, ou seja, do romance concebido como fenômeno da vida literário-artística e não da vida cotidiana (BAKHTIN, 2000, p. 281)

Ancorando-nos nessas formulações, entendemos a transmutação como um processo constitutivo dos gêneros, já que nenhum gênero, quer seja primário, quer secundário, permanece inalterável no curso de suas manifestações. Esta nossa proposição nos leva a ressaltar a estreita imbricação entre história da sociedade e história dos gêneros do discurso. Se a sociedade se transforma, transformam-se também os gêneros, não importando de que natureza sejam.

Quando um gênero absorve e transmuta outro, está concomitantemente transmutando-se também. Assim, o romance (da "esfera dos sistemas ideológicos constituídos"), ao tomar a carta (da "esfera da ideologia do cotidiano") como componente, para nos valermos do exemplo de Bakhtin, transforma não só a carta, que passa a integrar uma nova realidade, mas também a si próprio, que passa a exibir uma nova forma composicional. A transmutação é, pois, se assim podemos dizer, um processo auto e heteroconstitutivo dos gêneros. Dessa forma, tanto podemos flagrar a transmutação na absorção de um gênero de uma esfera em outro de outra esfera, a carta no romance, por exemplo, quanto a transmutação no interior do gênero que absorve outro, o romance "inovado".

No citado exemplo de Bakhtin, a transmutação ocorre entre gêneros de esferas5 5 Julgamos, neste momento, oportuno esclarecer que, apoiando-nos na voz de Bakhtin, estamos concebendo esfera como o espaço onde são engendrados e por onde circulam gêneros determinados. Tais gêneros vão se diferenciando e se ampliando "à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa." (2000, p. 279). Essa mesma concepção está em Marcuschi, que emprega a expressão "domínio discursivo" para designar a "esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana", que propicia "o surgimento de discursos bastante específicos" (2002, p. 23). distintas. Paralelamente, podemos pensar que a transmutação se dê também entre gêneros da mesma esfera; seria o caso, por exemplo, de um romance que incorpora um poema, para continuarmos dentro da esfera literária. Agora estamos diante de outra proposição: a transmutação é um fenômeno que ocorre não só entre gêneros de esferas distintas, mas também entre gêneros da mesma esfera.

Para nós, da voz de Bakhtin transcrita anteriormente, podemos propor com segurança que um gênero, ao migrar para outro gênero, passa a elemento constituinte deste. No momento em que uma carta é inserida no romance, ainda que conserve sua forma e seu significado, passa a fazer parte de uma realidade "fabricada", "manipulada", pois é fruto de uma comunicação verbal "artificialmente" espontânea, criada pelo autor no desenvolvimento de sua obra. Integrada ao romance, "concebido como fenômeno da vida literário-artística e não da vida cotidiana", (BAKHTIN, 2000, p.281), a carta, é, nesse sentido, transmutada.

Entendemos, então, que a carta "transmutada" perde sua natureza intrínseca, qual seja a de se constituir "em circunstâncias de comunicação verbal espontânea" (BAKHTIN, 2000, p. 281), uma vez que passa a ser fruto da intenção de um autor que a leva para dentro de sua obra, para uma realidade, digamos, inventada, e não para a realidade existente. O gênero transmutado - a carta - compõe a realidade da enunciação do autor e por isso é transmutado, ainda que do ponto de vista da enunciação dos personagens (a enunciação dentro da obra) venha a simular6 6 Nas palavras de Bakhtin, os gêneros secundários " simulam em princípio as várias formas da comunicação verbal primária" (2000, p. 325, grifo original). uma comunicação verbal espontânea, uma realidade existente. Assim, para Bakhtin, o gênero transmutado, carta, perde, tanto a sua relação imediata com a realidade existente (já não se trata de comunicação verdadeiramente espontânea), quanto a relação com a realidade dos enunciados alheios, pois também não pertence à realidade do romance, fenômeno da vida literário-artística. Ao migrar para o romance, a carta não passa a gênero da esfera dos sistemas ideológicos constituídos, dos gêneros secundários, no caso a do romance; a carta continua sendo gênero da esfera do cotidiano, dos gêneros simples, só que do cotidiano dos personagens.

No exemplo de Bakhtin, a incorporação se dá de um gênero que pertence a uma esfera, a carta, por outro de outra esfera, o romance. Por outro lado, isso não nos permite inferir que esse fenômeno só aconteça com gêneros de esferas diferentes. O próprio Bakhtin, em outra obra, ao discorrer sobre o plurilinguismo - "o discurso de outrem na linguagem de outrem" (1988, p. 127, grifos originais) -, fala sobre hibridização e intercalação de gêneros, duas formas de absorção de discursos. A fim de melhor encaminharmos a defesa desta nossa proposição - qual seja, a transmutação ocorre independentemente de mudança de esfera -, retomamos a definição bakhtiniana desses dois fenômenos decorrentes do plurilinguismo.

Por construção híbrida, Bakhtin entende a fusão de "dois enunciados, dois modos de falar, dois estilos, duas 'linguagens', duas perspectivas semânticas e axiológicas", sem que haja fronteira formal delimitando a divisão de vozes e de linguagens, que "ocorre nos limites de um único conjunto sintático" (1988, p.110); por gêneros intercalados, a introdução, na composição do romance, de diferentes gêneros, "tanto literários (novelas intercaladas, peças líricas, poemas, sainetes dramáticos, etc.), como extraliterários (de costumes, retóricos, científicos, religiosos e outros)" (p.124, grifos nossos).

A introdução de um gênero em outro pode se dar, portanto, não só por gêneros de diferentes esferas, como também por gêneros da mesma esfera, como é permitido se depreender das palavras e exemplos dados por Bakhtin.

Aceitando, então, a reestruturação e renovação como um processo constitutivo dos gêneros e baseando-nos no que postulamos sobre transmutação, retomamos nossas proposições, sintetizadas em três aspectos, que julgamos inerentes à manifestação desse fenômeno:

a) o gênero incorporado (ou transmutado) é agregado à estrutura composicional do gênero incorporante (ou transmutante);

b) o gênero incorporante transmuta e é transmutado;

c) o gênero incorporado e o gênero incorporante podem fazer parte tanto de esferas diferentes quanto de uma mesma esfera.

Além desses aspectos, acrescentamos outro que, somado aos anteriores, nos permitirá vislumbrar uma ampliação da abrangência do conceito de transmutação: o gênero conserva, em sua estrutura composicional, tema e/ou estilo7 7 Tomamos aqui o gênero em sua totalidade (tema, composição e estilo), tal como propôs Bakhtin (2000). , marcas da transmutação, que podem ser percebidas em sua história, isto é, que podem recordar o seu passado, recente ou remoto.

Vista sob essa perspectiva, a transmutação, para nós, responderia pela transformação por que passa um gênero (seja primário ou secundário), tanto na absorção de um gênero por outro (quer da mesma esfera ou de diferentes esferas), quanto na adaptação a novas contingências (históricas, sociais, entre outras). Dito de outra forma, a transmutação seria o fenômeno que regeria a possibilidade de transformar e ser transformado a que os gêneros do discurso estariam inexoravelmente submetidos.

Ainda que saibamos o quão complexa é a tarefa de dilatação de um conceito, sobretudo quando esse conceito é tão pouco explorado teoricamente, mesmo sendo tão fartamente empregado em análises, propomos a ampliação da noção que se tem desse fenômeno, baseandonos na crença de que a transmutação se dá por processos distintos. Em função dessa distinção, propomos ainda uma tipologia operacional.

Nesse sentido, numa primeira instância, a distinção se daria entre transmutação criadora e transmutação inovadora. Com a primeira, estamos nos referindo ao fato de um gênero surgir de outro(s) (como, a mala direta8 8 Cf. Távora (2003). , o blog9 9 Cf. Komesu (2004). , por exemplo); com a segunda, ao fato de todo e qualquer gênero, mesmo os mais estandardizados, comportar transformações, sem que essas o transformem em um novo gênero (os anúncios publicitários10 10 Cf. Laurindo (2005). , o artigo de opinião11 11 Cf. Rodrigues (2001). , por exemplo). Dessa forma, as primeiras manifestações de um gênero que "nasce" seriam sempre flagrantes da transmutação criadora, a transmutação resultante da atividade criadora dos gêneros, a atividade assegurada pela possibilidade que, em princípio, todo gênero tem de dar origem a novos gêneros; já as transformações que observamos cotidianamente nos gêneros seriam reflexos da transmutação inovadora, a transmutação resultante da possibilidade que todo gênero tem de passar por recriação de si mesmo, com ou sem incorporação de outro.

Numa segunda instância, a distinção seria entre transmutação externa (transmutação intergenérica) e transmutação interna (transmutação intragenérica). O processo é intergenérico quando há a inserção de um gênero no outro, resultando na captação ou subversão, de que fala Maingueneau (2001). Assim, quando, por exemplo, um anúncio publicitário incorpora um cartão-postal, estamos diante de transmutação externa, isto é, transmutação intergenérica, como vemos no Exemplo 1, Figura 1 a seguir.


Neste exemplo, o cartão-postal é trazido para dentro da realidade criada pelo gênero anúncio publicitário, que imita a realidade do gênero incorporado, configurando um exemplo claro de captação12 12 De acordo com Maingueneau (2001, p. 173, grifo do autor), " captar um texto significa imitá-lo, tomando a mesma direção [argumentativa] que ele." .

Neste exemplo, o cartão-postal é trazido para dentro da realidade criada pelo gênero anúncio publicitário, que imita a realidade do gênero incorporado, configurando um exemplo claro de captação13 13 De acordo com Maingueneau (2001, p. 173, grifo do autor), " captar um texto significa imitá-lo, tomando a mesma direção [argumentativa] que ele." .

Com essa incorporação, o cartão-postal passou a elemento constituinte desse exemplar do gênero anúncio publicitário (e não de todos), fazendo parte da realidade simulada pelo anúncio. Em outras palavras, o cartão-postal foi transmutado, pois passou a compor uma outra cena enunciativa. Por sua vez, o anúncio publicitário também sofreu transmutação.

O fenômeno da introdução de um gênero na composição de outro recebeu o olhar de Bakhtin no estudo sobre plurilinguismo a que nos referimos anteriormente. O teórico da literatura se reporta a esse fenômeno designando-o como intercalação de gêneros e lembra que, no caso particular do romance, seu objeto de estudo, há um grupo especial de gêneros (confissão, diário, relato de viagem, biografia, carta e alguns outros) que exercem um papel estrutural tão importante que "às vezes chegam a determinar a estrutura do conjunto, criando variantes particulares do gênero romanesco" (1988, p. 124). Desse modo, a introdução, por exemplo, do gênero carta no romance como seu elemento estrutural básico resultaria no gênero romance epistolar. Bakhtin ressalta ainda que o papel que gêneros intercalados como esses exercem é tão grande que pode parecer que o gênero incorporante

esteja privado da sua primeira abordagem verbal da realidade e precise de uma elaboração preliminar desta realidade por intermédio de outros gêneros, ele mesmo [o romance] sendo apenas uma unificação sincrética, em segundo grau, desses gêneros verbais primeiros (1988, p. 125).

No caso do nosso exemplo, preferimos falar em sobreposição, ou superposição, pois o termo 'intercalação', por sua natureza etimológica, sugere algo que se põe "entre, no meio de". O cartão-postal passa a compor a estrutura composicional do anúncio de tal forma que a estrutura deste subsume a daquele. O mais interessante é que, mesmo que um gênero cubra quase que totalmente a forma composicional de outro camuflando-a, ainda assim se reconhece o gênero incorporante14 14 O gênero anúncio continua sendo reconhecido como tal porque o propósito permanece o mesmo: vender um produto ou oferecer um serviço. . Esse "assalto", abonado, não descaracteriza o gênero incorporante, não o desautoriza a continuar pertencendo a sua esfera, muito menos o faz deixar de existir como tal; apenas revela o fenômeno da transmutação.

Nesse sentido, podemos falar em transmutação intergêneros15 15 Apresentando variação em sua designação - hibridização, superposição, intertextualidade intergenérica -, o mesmo fenômeno é abordado respectivamente por Marcuschi (2002); Alves Filho (2005); Koch, Bentes e Cavalcante (2007), entre outros. , isto é, transmutação externa, quando as transformações que ocorrem no gênero são marcadas pela incorporação de um outro gênero, seja da mesma esfera ou não (o cartão-postal não é da mesma esfera do anúncio). Este não é o caso do que se espera, por exemplo, de um editorial, pelo menos como o reconhecemos nos dias atuais, mas o é, por exemplo, do artigo de opinião (da mesma esfera do editorial), por já ser mais flexível e aceitar a incorporação de outros gêneros16 16 Sobre gêneros intercalados especificamente no artigo jornalístico, cf. Rodrigues (2001). , como o poema, conforme vemos no exemplo 2:

Exemplo 2:

Um novo José

Josias de Souza

São Paulo -Calma, José.

A festa não recomeçou,

a luz não acendeu,

a noite não esquentou,

o Malan não amoleceu.

Mas se voltar a pergunta:

e agora, José?

Diga: ora, Drummond,

agora Camdessus.

Continua sem mulher,

continua sem discurso,

continua sem carinho,

ainda não pode beber,

ainda não pode fumar,

cuspir ainda não pode,

a noite ainda é fria,

o dia ainda não veio,

o riso ainda não veio,

não veio ainda a utopia,

o Malan tem miopia,

mas nem tudo acabou,

nem tudo fugiu,

nem tudo mofou.

Se voltar a pergunta:

e agora, José?

Diga: ora, Drummond,

agora FMI.

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

O Malan nada faria,

mas já há quem faça.

Ainda só, no escuro,

qual bicho-do-mato,

ainda sem teogonia,

ainda sem parede nua,

para se encostar,

ainda sem cavalo preto

que fuja a galope,

você ainda marcha, José!

Se voltar a pergunta:

José, para onde?

Diga: ora, Drummond,

por que tanta dúvida?

Elementar, elementar.

Sigo pra Washington.

E, por favor, poeta,

não me chame de José.

Me chame Joseph.

Fonte: Folha de S.Paulo, Caderno 1, Opinião, 04 out. 199917 17 Este mesmo exemplo é citado e analisado por Marcuschi (2002).

Nesse artigo de opinião, o autor, para fazer valer sua intenção argumentativa, lançou mão de outro gênero, no caso o conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, E agora José?18 18 Disponível em: < http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema022.htm>. , revelando o que Bakhtin ressaltou quando afirmou que os gêneros intercalados "refrangem em diferentes graus as intenções do autor" (1998, p. 125). Nesse exemplo, assim como em outros que podemos encontrar, a sobreposição é tamanha que o reconhecimento do gênero incorporante (artigo de opinião) cabe mais ao lócus onde está sendo veiculado e menos a seu propósito e a sua configuração. Esse fenômeno - reconfiguração de um gênero - já tinha sido observado por Bakhtin, quando, recorrendo a uma digressão histórica para melhor compreender e analisar a obra de Dostoiévski, identificou, na menipeia19 19 Gênero da Antiguidade Clássica, do campo do sério-cômico, mistura "temas especificamente filosóficos com assuntos de retórica e dialética, salpicados de hilariedade" (REGO, 1989, p. 32). A denominação sátira menipeia, ou simplesmente menipeia, se deve a Menipo de Gádara, filósofo do século III a.C., que se opunha à sátira romana, aquela que condena. O autor, que em sua obra deixava em aberto a condenação ou o julgamento, deu ao gênero a forma clássica e foi, segundo Bakhtin (2005, p. 91), quem consagrou a sátira, "gênero carnavalizado, extraordinariamente flexível e mutável [...] capaz de penetrar em outros gêneros". , a capacidade de "mudar sua forma externa (conservando sua essência interna de gênero)" (2005, p.136).

Desse exemplo, podemos deduzir que há certos gêneros mais "acolhedores", mais propícios a incorporações do que outros. Da mesma forma, podemos deduzir que os gêneros mais acolhedores estariam vinculados a esferas de comunicação verbal menos rígidas, isto é, esferas cujos gêneros não são fortemente padronizados e em que a criatividade é consentida. Esse fato reforça o que já se conhece sobre a plasticidade e a dinamicidade dos gêneros do discurso20 20 Sobre a dinamicidade e plasticidade dos gêneros e consequentemente sua maior ou menor estabilidade formal, cf. Marcuschi (2002, 2005). .

Retomando a nossa segunda instância de distinção para o fenômeno da transmutação, o processo é intragenérico quando as transformações operadas dentro do gênero não resultam da inserção de outro gênero, mas de fatores que condicionam e impulsionam essa transformação: a mudança de mídium21 21 Entendido como "o sistema dispositivo-suporte-procedimento de memorização, articulado a uma rede de difusão" (DEBRAY, 1995, p. 218). Ou ainda, "o midium não é um simples 'meio', um instrumento para transportar uma mensagem estável: uma mudança importante do midium modifica o conjunto de um gênero de discurso" (MAINGUENEAU, 2001, p.71-72, grifos originais). , de propósito comunicativo, de esfera, de época, de estilo, entre outros (os mesmos fatores que também podem condicionar a incorporação de um gênero por outro). Em outras palavras, podemos falar de transmutação interna, isto é, transmutação intragenérica, quando as transformações que ocorrem no gênero não se prendem a um outro gênero, da mesma esfera ou não, mas a contingências de seu percurso histórico, isto é, a adaptações a novas exigências comunicativas no curso de suas manifestações, como podemos observar com o Exemplo 3, Figuras 2 e 3 a seguir.



Como podemos perceber, não há sobreposição de gêneros, mas transformações de um mesmo gênero. Tais transformações, ainda que possam, hipoteticamente, ter sido inspiradas em outro gênero, não resultam em uma "configuração híbrida"22 22 Termo adotado por Marcuschi quando trata da "intertextualidade inter-gêneros"; a expressão ("configuração híbrida") é sugerida, segundo o autor, por Ursula Fix (1997), para falar de um gênero assumindo a função de outro (cf. MARCUSCHI, 2002, p. 31). , como acontece no caso do cartão-postal inserido no anúncio publicitário, visto anteriormente.

Não podemos deixar de reconhecer que, nos dois exemplares de editorial reproduzidos, estamos também diante do mesmo fenômeno - transmutação - ainda que sob outras formas de manifestação. Tanto no exemplo 3 (Figuras 2 e 3), quanto no exemplo 4 (Figuras 4 e 5), as transformações por que passam os gêneros - respectivamente anúncio e editorial - não decorrem da inserção de um outro gênero, mas revelam flexibilidade diante da acomodação a novas demandas.



No caso do editorial, gênero menos flexível tomado como exemplo, sabemos que, no momento de seu surgimento, suas primeiras manifestações trariam marcas do processo da transmutação criadora. No entanto, em seu estágio atual, comparando-o com exemplares do século XIX (século que registra o aparecimento desse gênero em jornais brasileiros, mas não o século de seu surgimento), facilmente constatamos sinais do processo de transmutação inovadora interna.

É, pois, concebendo a transmutação como um fenômeno mais amplo que postulamos as quatro categorias: transmutação criadora, transmutação inovadora, transmutação externa e transmutação interna.

A transmutação criadora se distingue da transmutação inovadora externa, pois o resultado da primeira (e tão somente dela) será sempre o surgimento de um novo gênero (um gênero surge a partir de, pelo menos, um já existente). A transmutação externa produz alterações na estrutura do gênero que acolhe o "imigrante", sem que desse processo apareça um novo gênero.

Quanto à transmutação inovadora, as transformações podem ser externas ou internas. Serão externas quando houver a "participação" de outro gênero (como demonstrado acima nos exemplos 1 e 2); e internas, quando não houver incorporação (total ou parcial) de outro gênero (exemplos 3 e 4).

Para tornar mais claro e sintetizar, sob outra forma de textualização, o que propomos, concebemos o esquema representado na figura 6, a seguir.


Assim, todo gênero revelaria inicialmente marcas da transmutação criadora, ou nas palavras de Bakhtin, recordaria o seu passado, e no decorrer de seu desenvolvimento, como prática discursiva estabilizada numa dada esfera de comunicação, estaria sujeito a novas transmutações, que poderiam ser de natureza criadora, vindo a contribuir para o surgimento de novos gêneros, e/ou inovadora, manifestando a sua "adaptabilidade" às novas contingências, históricas, políticas, sociais ou culturais. A transmutação inovadora seria externa quando incorporasse um outro gênero; e interna quando revelasse traços de adaptabilidade a novas demandas, sem agregação de outro gênero.

3 ENCERRANDO NOSSA CONVERSA: A CONTRIBUIÇÃO DA PROPOSTA DELINEADA

Um estudo que se debruce sobre a criação e transformação dos gêneros do discurso demonstra sua relevância não só por contribuir com a análise de gêneros, área de reconhecido destaque nesses últimos anos, mas, sobretudo, pelo fato de trazer mais luz sobre o processo pelo qual os gêneros se moldam a novas configurações histórico-sociais.

Ao olharmos para o desenvolvimento dos gêneros, nos vemos diante das sucessivas transformações pelas quais esses artefatos discursivos passam e assim constatamos inevitavelmente a transmutação. O conceito que temos de transmutação por si só não era, entretanto, suficiente para que pudéssemos compreender melhor a extensão e amplitude desse fenômeno, por isso vimos a necessidade não só de ampliá-lo como também de distinguir as modalidades em que tal fenômeno se revela, o qual para nós subjaz ao surgimento e à sobrevivência de todo e qualquer gênero do discurso. Em decorrência dessa ampliação e distinção, propomos uma tipologia operacional e apresentamos, então, as quatro modalidades de transmutação: criadora, inovadora, externa e interna, cujo propósito maior é ensejar pesquisas que possam se valer da tipologia apresentada e discuti-la, vindo, dessa forma, a revalidá-la ou reformulá-la.

Esperamos, na verdade, que a proposta apresentada possa suscitar reflexões, fazer surgir novas ideias, e assim poder expandir o que aqui se apresentou, ou mesmo dar início a novos percursos, que irão resultar em outras proposições, num constante e dinâmico jogo que move a aventura maior e atrai os que nela estão envolvidos: a língua e suas formas de manifestação.

Recebido em: 08/08/11.

Aprovado em: 27/03/12.

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  • ______. Problemas da poética de Dostoiévski Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitárias, 2005.
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  • ZAVAM, A.S. Por uma abordagem diacrônica dos gêneros do discurso à luz da concepção de tradição discursiva: um estudo com editoriais de jornal. 2009. 420 f. Tese (Doutorado em Linguística). Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.
  • 1
    Este ensaio é parte das reflexões sobre o estudo diacrônico dos gêneros desenvolvido em tese de doutorado, (ZAVAM, 2009), sob a orientação da professora Bernardete Biasi-Rodrigues.
  • 2
    Convém lembrar que o termo "transmutar" é encontrado em traduções feitas a partir da edição francesa de
    Estética da criação verbal (obra de Bakthin de 1979), como, por exemplo, a de Maria Ermantina G.G. Pereira (2000). Na tradução feita por Paulo Bezerra (2006), diretamente do russo, o termo adotado é "reelaborar". Como estamos propondo que a transmutação é um processo ao qual todos os gêneros estão invariavelmente submetidos, optamos pela tradução de 2000.
  • 3
    A propósito da distinção entre gêneros primários e gêneros secundários, basilar em Bakhtin, cf. Faraco, 2003.
  • 4
    Na tradução de Paulo Bezerra (2006, p. 263), "eles [os gêneros secundários] incorporam e
    reelaboram diversos gêneros primários (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata" (grifo nosso).
  • 5
    Julgamos, neste momento, oportuno esclarecer que, apoiando-nos na voz de Bakhtin, estamos concebendo
    esfera como o espaço onde são engendrados e por onde circulam gêneros determinados. Tais gêneros vão se diferenciando e se ampliando "à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa." (2000, p. 279). Essa mesma concepção está em Marcuschi, que emprega a expressão "domínio discursivo" para designar a "esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana", que propicia "o surgimento de discursos bastante específicos" (2002, p. 23).
  • 6
    Nas palavras de Bakhtin, os gêneros secundários "
    simulam em princípio as várias formas da comunicação verbal primária" (2000, p. 325, grifo original).
  • 7
    Tomamos aqui o gênero em sua totalidade (tema, composição e estilo), tal como propôs Bakhtin (2000).
  • 8
    Cf. Távora (2003).
  • 9
    Cf. Komesu (2004).
  • 10
    Cf. Laurindo (2005).
  • 11
    Cf. Rodrigues (2001).
  • 12
    De acordo com Maingueneau (2001, p. 173, grifo do autor), "
    captar um texto significa imitá-lo, tomando a mesma direção [argumentativa] que ele."
  • 13
    De acordo com Maingueneau (2001, p. 173, grifo do autor), "
    captar um texto significa imitá-lo, tomando a mesma direção [argumentativa] que ele."
  • 14
    O gênero anúncio continua sendo reconhecido como tal porque o propósito permanece o mesmo: vender um produto ou oferecer um serviço.
  • 15
    Apresentando variação em sua designação - hibridização, superposição, intertextualidade intergenérica -, o mesmo fenômeno é abordado respectivamente por Marcuschi (2002); Alves Filho (2005); Koch, Bentes e Cavalcante (2007), entre outros.
  • 16
    Sobre gêneros intercalados especificamente no artigo jornalístico, cf. Rodrigues (2001).
  • 17
    Este mesmo exemplo é citado e analisado por Marcuschi (2002).
  • 18
    Disponível em: <
  • 19
    Gênero da Antiguidade Clássica, do campo do sério-cômico, mistura "temas especificamente filosóficos com assuntos de retórica e dialética, salpicados de hilariedade" (REGO, 1989, p. 32). A denominação sátira menipeia, ou simplesmente menipeia, se deve a Menipo de Gádara, filósofo do século III a.C., que se opunha à sátira romana, aquela que condena. O autor, que em sua obra deixava em aberto a condenação ou o julgamento, deu ao gênero a forma clássica e foi, segundo Bakhtin (2005, p. 91), quem consagrou a sátira, "gênero carnavalizado, extraordinariamente flexível e mutável [...] capaz de penetrar em outros gêneros".
  • 20
    Sobre a dinamicidade e plasticidade dos gêneros e consequentemente sua maior ou menor estabilidade formal, cf. Marcuschi (2002, 2005).
  • 21
    Entendido como "o sistema dispositivo-suporte-procedimento de memorização, articulado a uma rede de difusão" (DEBRAY, 1995, p. 218). Ou ainda, "o midium não é um simples 'meio', um instrumento para transportar uma mensagem estável: uma mudança importante do midium modifica o
    conjunto de um gênero de discurso" (MAINGUENEAU, 2001, p.71-72, grifos originais).
  • 22
    Termo adotado por Marcuschi quando trata da "intertextualidade inter-gêneros"; a expressão ("configuração híbrida") é sugerida, segundo o autor, por Ursula Fix (1997), para falar de um gênero assumindo a função de outro (cf. MARCUSCHI, 2002, p. 31).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Maio 2012
    • Data do Fascículo
      Abr 2012

    Histórico

    • Recebido
      08 Ago 2011
    • Aceito
      27 Mar 2012
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