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REVISITANDO GEORG SIMMEL1 1 Este texto foi publicado em inglês em Levine (2014: cap. 7).

REVISITING GEORG SIMMEL

Resumo

Este artigo revê cinco das maneiras mais recorrentes por meio das quais diversos sociólogos apreenderam e representaram a obra de Georg Simmel e delas se derivam e se elaboram argumentos e contra-argumentos que abordam os ensinamentos fundamentais dessa obra. São elas: a visão Simmel como um esteta, como inconsequente, como um teórico inconstante, como metafísico e fenomenólogo, e como um teórico latente. Esse debate de ideias apresentado na forma de contrapontos culmina na proposta de uma sexta maneira de apreender Georg Simmel - Simmel como teórico evolucionário, a qual ilumina mudanças importantes na perspectiva de Simmel em seus últimos anos. Tais mudanças, bem como a leitura compreensiva do conjunto de sua obra, podem nos oferecer pontos de partida para novos tipos de investigação.

Palavras-chave:
Georg Simmel; Modernidade; Individualismo; Formas sociais; Teoria evolucionária

Abstract

This article reviews five of the most common ways in which sociologists have apprehended and represented George Simmel's oeuvre and from which an argument about his fundamental lessons are derived and elaborated. These are they: the standpoint of Simmel as aesthete, as inconsequent, as an inconstant theorist, as metaphysician and phenomenologist, and as a latent theorist. Presented in the form of counterpoints, this debate culminates in the proposal of a sixth way to apprehend Georg Simmel which illuminates major shifts in his late years' outlook - Simmel as an evolutionary theorist. Such shifts, as well as a comprehensive reading of his oeuvre, can provide points of departure for new kinds of investigation.

Keywords:
Georg Simmel; Modernity; Individualism; Social forms; Evolutionary theory

Poucos autores têm sido objeto de tamanho dissenso sobre o que realmente realizaram. Proponho aqui rever cinco das formas mais comuns de apreciação da obra de Simmel pelos sociólogos, buscando delas extrair uma base de argumentos justificados sobre o que sua obra pode nos ensinar e como pode nos oferecer pontos de partida para novas investigações.

Simmel como esteta

Comecemos com a visão de alguns comentaristas de que a obra de Simmel seria frívola, desprovida de seriedade intelectual.

Sua obra foi chamada de "sociologia estética, [adequada] para o salão literário" (von Wiese, 1910Von Wiese, Leopold. (1910). Neuere soziologische Literatur: Kritische Literaturübersichten. Kölner Zeitschrift zur Soziologie, 11, p. 11-20.: 3) ou de "sinuosa" (wandlungsreich) (Troeltsch, 1921Troeltsch, Ernst. (1921). Review of Lebensanschauuung. Theologische Literaturzeitung, 17-18, p. 211-212.: 211), descrita como "exercícios deslumbrantes que parecem um jogo elaborado" (Aron, 1967Aron, Raymond. (1967). Main currents in sociological thought. Tradução de Richard Howard e Helen Weaver. Nova York: Basic Books (vol. 2).: 6) ou como algo que serve apenas de "entretenimento de salão" (Collins, 1994Collins, Randall. ([1985] 1994). Four sociological traditions. Nova York: Oxford University Press. [1985]: 117). David Frisby (1981)Frisby, David. (1981). Sociological impressionism: A reassessment of Georg Simmel's Social Theory. Londres: Heinemann., como sabemos, viu em Simmel um flâneur e um "impressionista sociológico".2 2 Isso não impediu sua significativa produção de pesquisa acadêmica sobre o autor, bem como a realização de traduções importantes. Ver Frisby (1992; 1994; 2002) e Frisby & Köhnke (1989). Todas essas formas de apreensão de Simmel, que denomino "esteticistas", convergem para sua visão como um literato precoce, cuja mente ágil saltava de tópico para tópico com aperçus variados, mas em cuja obra não encontramos uma perspectiva séria sobre o mundo.

Avaliação: Os comentaristas não se deram ao trabalho de discutir Simmel seriamente.

Resultado: Apesar de ser fácil ignorar o extremo desdém de tais reações, as sensibilidades estéticas de Simmel podem ser vistas como aspecto integral de sua perspectiva e daquilo que ele tem a nos ensinar, como veremos adiante.

Simmel como inconsequente

Alega-se, por vezes, que a obra de Simmel não exerceu influência duradoura no pensamento social do século XX. Nas palavras de Raymond Aron, Simmel tinha "muitos admiradores, mas poucos discípulos" (1967: 6)Aron, Raymond. (1967). Main currents in sociological thought. Tradução de Richard Howard e Helen Weaver. Nova York: Basic Books (vol. 2)., e ele estava certo. O próprio Simmel observou, corretamente e com aprovação, que não deixava. Em minha visão, isso significa que seu comprometimento com o desenvolvimento intelectual autônomo dos estudantes fez com que não quisesse impor a eles um caminho a ser seguido.3 3 Ao deixar Berlim, em 1914, Simmel perguntou a Martin Buber o que ele tinha deixado aos seus estudantes. Buber respondeu: "Você nos ensinou a pensar" - e Simmel pareceu satisfeito (Gassen & Landman, 1958: 222). Isto é consistente com suas próprias visões expressas sobre a pedagogia (Levine, 1991).

Não ter discípulos, todavia, não equivale a não exercer influência, já que esta podia ser subterrânea. Erich Przywara incluiu Simmel entre aquelas "grandes e esquecidas" figuras que "hoje são fontes das quais as pessoas secretamente retiram água, sem correrem o perigo de qualquer outra pessoa venha a descobrir essas fontes" (Gassen & Landmann, 1958Gassen, Kurt & Ludmann, Michael. (1958). Buch Des Dankes an Georg Simmel. Berlim: Duncker & Humblot.: 224).4 4 Petra Christian se refere a Simmel como o homem por detrás das cortinas, como "ponto" (Christian, 1978: 11, nº 2). Se fosse realizada uma pesquisa que identificasse a frequência com que autores são apropriados sem citação, Simmel, sem dúvida alguma, encabeçaria a lista.5 5 Entre aqueles que se apoiaram fortemente em Simmel com reconhecimentos apenas superficiais - ou até mesmo sem qualquer referência - estão o próprio Buber, Martin Heidegger, Norbert Elias, Karen Horney, Louis Wirth e Erving Goffman. Veja Levine (1997a; 2014: cap. 4).

Mesmo assim, o impacto de Simmel sobre vertentes importantes da filosofia e da sociologia do século XX é facilmente comprovado, não obstante Jürgen Habermas observar, apropriadamente, que, "após a Segunda Guerra Mundial, Simmel não conseguiu, nem na Alemanha nem nos Estados Unidos, alcançar uma presença intelectual que pudesse levar a suspeitar da extensão da sua influência sobre seus contemporâneos" (Habermas, 1991Habermas, Jürgen. (1991). Georg Simmel über Philosophie and Kultur. Texte und Contexte. Frankfurt: Suhrkamp. [Traduzido como "Georg Simmel on philosophy and culture: postcript to a collection of essays". Critical Inquiry, 22/3, 1996.]: 157).6 6 Tradução minha. Esta passagem foi traduzida de forma errada na versão em inglês publicada em Critical Inquiry, 22/3, 1996. Foi enorme sua influência sobre a crítica cultural do século XX, principalmente sobre Lukács, Bloch, Kracauer, Benjamin, e Adorno.7 7 Resumindo essa tradição, David Gross escreveu: "Hoje, uma Kulturkritik rigorosa é praticamente impensável sem uma fundamentação metodológica em toda a tradição alemã [a começar pela] a obra de Simmel na década de 1890" (Gross, 1982: 98). Levando em conta figuras-chave da sociologia do século XX como Weber, Lukács, Park, Moreno, Wirth, Hughes, Merton, Coser, Goffman e Coleman, a afirmação feita quatro décadas atrás continua válida: "Georg Simmel ocupa a posição incomum de ser o único acadêmico europeu a ter uma influência palpável na sociologia nos Estados Unidos ao longo do século XX" (Levine, Carter & Gorman, 1976aLevine, Donald N.; Carter, Ellwood B. & Gorman, Eleanor. (1976a). Simmel's influence on American sociology, I. American Journal of Sociology, 81/4, p. 813-845.: 813; 1976bLevine, Donald N.; Carter, Ellwood B. & Gorman, Eleanor. (1976b). Simmel's influence on American sociology, II. American Journal of Sociology, 81/5, p. 1112-1132.; Levine, 1971Levine, Donald N. (1971). Georg Simmel: on individuality and social forms. Chicago: University of Chicago Press.; 1997bLevine, Donald N. (1997b). Social theory as a vocation. Perspectives, The ASA Theory Section Newsletter, 19, p. 1-18.; 2014Levine, Donald N. (2014). Social theory as a vocation. Piscataway, NJ: Transaction Publishers.: cap. 9).

Avaliação: Percepção limitada e limitante.

Resultado: É importante prestar mais atenção para a influência de Simmel e para o valor de sua obra.

Um teórico inconstante

Como, então, interpretar a complexa obra desse eminente sociólogo? Três pontos de vista me ocorrem. O primeiro afirma que a perspectiva intelectual de Simmel se deslocou radicalmente ao longo das décadas. O segundo considera Simmel essencialmente como um pensador não empírico, filosófico. O terceiro considera-o um teórico substantivo, porém manqué, criador de ideias importantes, mas não de um tipo sistemático e coerente de teoria. Avaliemos criticamente então cada um desses pontos de vista, perguntando o quanto eles se coadunam com os fatos conhecidos e em que medida cada um deles faz jus ao que há de mais importante neste pensador.8 8 Ao considerarmos essas visões, podemos tratar também de outro aspecto fundamental da epistemologia de Simmel. Embora ele tenha estabelecido a legitimidade de múltiplas perspectivas em todas as áreas de conhecimento, também considerava determinadas perspectivas mais apropriadas do que outras para alguns temas. Se ele foi o primeiro filósofo (juntamente com Dilthey) a propor uma atitude que tem sido chamada de pluralismo metodológico (Levine, 2014: cap. 20), isto não significava defender uma posição de relativismo absoluto, segundo a qual qualquer construção hermenêutica seria tão válida quanto qualquer outra. Isto porque certas questões podem não se adequar a determinada perspectiva porque estão além dos limites apropriados. Simmel observa que, quando os objetos se tornam microscópicos ou extremamente amplos, eles não mais se prestam à condição de temas para a pintura; eventos triviais e sem consequências são, por si mesmos, inadequados como foco de atenção dos historiadores, pois eventos "históricos" são aqueles com consequências significativas (Simmel, 1989 [1892]). Além disto, o tratamento de um assunto de determinado modo pode simplesmente não fazer jus ao que há de mais importante nele. Em todos os casos, a facticidade dos objetos impõe limites ao modo como eles podem ser representados (Levine, 2012).

A primeira tentativa séria de elaboração de uma interpretação geral da obra de Simmel foi proposta por Max Frischeisen-Köhler em 1919 e ficou conhecida como Visão Tripartida, pois descreve a obra de Simmel como uma sequência de três fases: uma primeira fase darwinista positivista, passando por uma neokantiana até chegar, por fim, a uma filosofia da vida de extração bergsoniana. Esse esquema foi reiterado por muitos estudiosos, incluindo Nicholas Spykman (1925)Spykman, Nicholas. (2004 [1925]). The social theory of Georg Simmel. Piscataway, NJ: Transaction Publishers ., Lewis Coser (1956)Coser, Lewis A. (1956). The functions of social conflict. Glencoe, IL: Free Press. e Julien Freund (1981)Frisby, David P. & Köhnke, Klaus Christian (orgs.). (1989). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 6: Philosophie des Geldes. Frankfurt am Main: Suhrkamp., e até mesmo pela figura daquele que muito contribuiu para o renascimento dos estudos simmelianos, Michael Landmann.

Uma análise de toda a obra de Simmel - tarefa facilitada pela Georg Simmel Gesamtausgabe (GSG) -, nos obriga a questionar esse ponto de vista. Por mais sugestivo que esse esquema tripartido possa ter sido para uma apropriação reflexiva do corpus de Simmel como um todo, ele obscurece o aspecto talvez mais característico de sua carreira intelectual. Trata-se da notável continuidade de atitude, temas e interlocutores ao longo de toda a sua obra.

Falando da postura de Simmel, seu aluno Siegfried Kracauer expressou-a perfeitamente:

Qualquer um que já tenha se familiarizado ainda que brevemente com o mundo do pensamento de Simmel, logo se encontrará sob o domínio de uma atmosfera espiritual/intelectual característica, que o envolve com uma tangibilidade quase física. Somos surpreendidos pela unidade essencial de todas as obras do pensador e percebemos que ele resolve os muitos e variados problemas da mesma maneira. (1995 [1920]: 231).

No que diz respeito aos temas, mesmo alguém tão sensível aos elementos darwinianos dos primeiros anos de Simmel, como Heinz-Jürgen Dahme, conclui que, pelo menos em relação à sua sociologia, "é surpreendente observar a constância da problemática de Simmel, até mesmo na escolha de palavras, quando comparamos seus primeiros esboços programáticos com suas reformulações posteriores" (Dahme, 1988Dahme, Heinz-Jürgen. (1988). George Simmel und der Darwinismus. George Simmel Gesellschaft: Beiträge, 1/6, Universtät Bielefeld.: 33). Essas continuidades incluem um fascínio pelos efeitos do dinheiro, pela objetificação dos gêneros artísticos, pelas relações de gênero, pelas fontes de individualidade, pela malaise da modernidade e muito mais. Poderíamos escrever uma biografia cativante de Simmel seguindo um ou mais destes tópicos fundamentais. No que diz respeito aos interlocutores, demonstrei que, do início ao fim, Simmel confrontava-se sobretudo com as figuras de Kant e de Goethe (Levine, 2012Levine, Donald N. (2014). Social theory as a vocation. Piscataway, NJ: Transaction Publishers.).

Avaliação: Uma continuidade multifacetada na obra de Simmel tem sido amplamente demonstrada. Além disto, a vinculação do pensamento de Simmel às posições intelectuais de três autores diferentes torna sua obra essencialmente derivativa, privando-nos assim da apreensão do que há de mais importante em sua perspectiva originária. E nos impede de tentar articular os fundamentos conceituais desta perspectiva.

Resultado: Tendo dito tudo isto, é possível - reconheço-o abaixo - detectar uma importante mudança em um aspecto primordial da perspectiva de Simmel na fase tardia de sua vida.

Metafísico e fenomenologista

Outra visão interpretativa parte da observação de Pitirim Sorokin de que "remeter os sociólogos de volta a Simmel é devolvê-los à metafísica pura" (Sorokin, 1928Sorokin, Pitirim A. (1928). Contemporary sociological theories. Nova York: Harper & Brothers.: 506, nota 26). Como muitos outros, Sorokin reclamou da ausência de anotações de campo, notas de rodapé, estatísticas e dados sistematicamente coletados na sociologia de Simmel. Mesmo que o comentário negativo de Sorokin possa ser prontamente refutado com o fato de que os escritos sociológicos de Simmel serviram de fundamento para dezenas de tradições de pesquisa empírica (Levine, Carter & Gorman, 1967a; 1976bLevine, Donald N.; Carter, Ellwood B. & Gorman, Eleanor. (1976b). Simmel's influence on American sociology, II. American Journal of Sociology, 81/5, p. 1112-1132.), podemos aproveitá-lo para tratar de três momentos no empreendimento sociológico de Simmel.

  1. Ele nos lembra que, apesar de Simmel ser corretamente considerado um dos principais fundadores da sociologia acadêmica, sua vocação era realmente a de um filósofo (veja, por exemplo, a carta a Celestin Bouglé, de 13 de dezembro de 1899 [Simmel, 2008Simmel, Georg. (2008). Carta a Celestin Bouglé, de 13 de dezembro de 1899; Carta a Celestin Bouglé [s.d.]. In: Köhnke, Klaus Christian (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 22: Briefe 1880-1911. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 342-343; p. 525.: 342]).

  2. Aponta para a insistência de Simmel na necessidade contínua de um trabalho transempírico na busca contemporânea pela verdade acerca dos fenômenos sociais. Neste ponto, Simmel discorda discretamente de Comte e de seus numerosos seguidores no movimento positivista na Alemanha, que defendiam que apenas afirmações empiricamente verificáveis possuíam valor na ciência social. Ao contrário, Simmel argumentou que toda disciplina exige dois tipos de investigação que vão além daquilo que pode ser empiricamente determinado. Assunções espistemológicas, que direcionam suas pesquisas empíricas, estão no fundamento de toda disciplina e, para além de cada uma delas, encontra-se o amplo contexto humano e histórico ao qual ela se relaciona, perseguindo questões que jamais podem ser respondidas, mas que a mente humana não pode parar de indagar. 9 9 "Cada área de pesquisa tem duas fronteiras que demarcam o ponto em que o processo da reflexão deixa de ser exato e assume um caráter filosófico. As precondições para a cognição em geral, como os axiomas de cada domínio específico, não podem ser apresentadas e testadas dentro desse domínio, exigem antes uma ciência de natureza mais fundamental. [...] Se o começo do domínio filosófico demarca, supostamente, a fronteira inferior do domínio exato, então seu limite superior se encontra no ponto em que os conteúdos sempre fragmentários do conhecimento positivo procuram ser ampliados por conceitos definitivos que, relacionados à totalidade da vida, tornam-se uma imagem do mundo [...]. Este procedimento provisório [assumidamente primitivo] é indispensável quando confrontado com [...] perguntas - especialmente com aquelas relacionadas a valorações e às relações mais gerais da vida intelectual - às quais até hoje temos sido incapazes tanto de responder como de desconsiderar" (Simmel, 1968: 53). ,10 10 O primeiro intérprete norte-americano abrangente de Simmel, Nicholas Spykman, entendeu bem este ponto. Ele organizou sua antologia de Simmel em três seções: uma sobre epistemologia; outra sobre ciência social; e uma última sobre filosofia social e metafísica social (Spykman, 2004 [1925]).

  3. O comentário de Sorokin nos instiga também a considerar a metodologia de Simmel mais de perto, acolhendo, portanto, uma nova visão daquilo que Simmel estava realmente fazendo em suas investigações, sejam sociológicas ou de outro gênero. Dizer isto implica abrir uma investigação complexa sobre questões epistemológicas com relação às quais os sociólogos não têm grande intimidade. Permitam-me abordar o problema realçando minha formulação anterior, para então recorrer a duas fontes adicionais cruciais, Siegfried Kracauer e Gary Backhaus.

Para começar, há muito argumentei que a orientação metodológica de Simmel pode ser delineada com precisão nos termos sugeridos pela matriz semântica de Richard McKeon.11 11 Essa matriz semântica pode ser acessada em duas publicações: McKeon (1990 [1952]) e Watson (1993 [1985]). Resumindo, o método de Simmel consiste em "selecionar algum fenômeno delimitado e finito do mundo do fluxo; examinar a multiplicidade dos elementos que o compõem; e averiguar a causa de sua coerência revelando sua forma" (Levine, 1971Levine, Donald N. (1971). Georg Simmel: on individuality and social forms. Chicago: University of Chicago Press.: xxxi).

Em termos gerais, podemos dizer que esta metodologia contrasta com duas outras tradições metodológicas importantes nas ciências sociais - uma concepção abrangente do processo sócio-histórico total, como na perspectiva marxiana e em outras perspectivas evolucionárias, e um sistema teórico construído por categorias universalmente aplicáveis, como nos esforços de teóricos como Talcott Parsons, Robert Merton, George Homans e Peter Blau.

Essa visão da metodologia de Simmel foi mais desenvolvida em um brilhante artigo de Gary Backhaus, intitulado "Simmel as an eidetic social scientist" (1997), que lança luz adicional sobre a metodologia de Simmel. Ciente de que seus ensaios sociológicos eram vulneráveis à crítica positivista, Simmel introduziu seu compêndio de ensaios sociológicos - a Soziologie, de 1908 - afirmando: "Aqui precisamos aceitar o odium de falar de um procedimento intuitivo - por mais que este se distancie da intuição especulativa, metafísica -, uma configuração peculiar do olhar [...]" (Simmel, 1992Simmel, Georg. (1992 [1908]). Soziologie. In: Rammstedt, Otthein (org.)., Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 11: Soziologie. Frankfurt am Main: Suhrkamp . [1908]: 29).12 12 "Man muss hier das Odium auf sich nehmen, von intuitivem Verfahren zu sprechen, -so weit es auch von der spekulativ-metaphysischen lntuition abstehe- von einer besonderen Einstellung des Blickes..." (Simmel, 1992 [1908]: 29). Backhaus demonstra que o método descrito por Simmel equivale a uma busca por "essências eidéticas", como defendido por Husserl. Inerente a esse tipo de método encontra-se não apenas a resistência a ser subsumido por sistemas teóricos mais amplos, sejam eles sistemas dedutivos abrangentes ou os grandes sistemas dialéticos da história macroscópica. Esse método envolve precisamente o tipo de procedimento intuitivo que Simmel confessou seguir, um procedimento que, como nos diz Backhaus, Husserl tentou fundamentar filosoficamente durante toda a sua vida, mas que Simmel seguiu como que espontaneamente. Mais do que isso, Simmel também combinou sua procura por essências eidéticas com a busca por uma verificação empírica padrão, uma combinação que Merleau-Ponty defenderia mais tarde. Consequentemente, Backhaus chama essa abordagem de ciência social eidética.

Com isto em mente, valeria a pena recuperarmos agora os insights de Siegfried Kracauer, cujo ensaio "Georg Simmel", publicado na revista Logos em 1920, é certamente um dos comentários mais perspicazes jamais escritos sobre a obra de Simmel. O que Kracauer acrescenta às formulações anteriores é a consciência de que Simmel busca não somente identificar formas diversas - sociais, pessoais, culturais -, mas procede metodicamente com vistas a suprir as faltas do eidos por meio da busca de fenômenos que, ao incorporarem estruturas análogas, acabam gerando regularidades legítimas. Ele destaca, por exemplo, semelhanças entre propriedades estruturais de obras de arte e certas organizações sociais; da economia e do sistema legal; da arte e do jogo; da aventura e do amor.13 13 "Ele nunca perde uma chance de mostrar que algumas características essenciais de um objeto (sejam estas formais ou estruturais) são realizadas não só pelo próprio objeto no qual foram descobertas, mas também em toda uma série de objetos" (Kracauer, 1920-1921: 235).

Avaliação (1): Metafísico? Em parte, sim.

Resultado: Esta alegação nos leva à procura daquilo que é legitimamente filosófico na obra de Simmel.

Avaliação (2): Científico também? Sim. Mas científico em que sentido, para além de estimular uma série de tradições de pesquisa empírica?

Resultado: Científico de modo epistemologicamente novo? Sim, certamente; e estabelecer esta compreensão é outra função positiva do tipo de trabalho teórico demonstrado aqui.

UM TEÓRICO LATENTE

Em contraste com aqueles que veem a postura intelectual de Simmel como descontínua e sua obra substantiva como uma simples oferta de representações empíricas eidéticas de um conjunto discreto de tipos fenomenais, há a visão da obra de Simmel como a expressão de uma perspectiva teórica coerente praticada de modo continuado durante toda a sua carreira. Desde "The structure of Simmel's social thought" (1959) até o presente, tenho afirmado a presença de uma perspectiva analítica coerente implícita na obra de Simmel e tenho buscado, passo a passo, identificar e articular essa abordagem, de maneira semelhante ao que Peter Baehr (2013) fez recentemente com a obra de Raymond Aron.

A tarefa está longe de ser completa. Minhas publicações anteriores compilaram um conjunto crescente de noções consensuais daquilo que constitui a orientação teórica implícita de Simmel. Nomeio-as a seguir (remetendo às publicações em que tratei delas):

  1. a distinção entre formas e conteúdos (1959; 1971);

  2. a distinção entre formas e processos de vida (2011);

  3. a distinção entre cultura, sociedade e personalidade (1971; 2008);

  4. o conceito central de interação recíproca (1971);

  5. o princípio do dualismo (1959; 1971; 1991)

  6. a dimensão da distância (1959; 1971; 1991)

  7. um paradigma analítico que vincula relações sociais, processos, papéis, coletividades e padrões dinâmicos a variáveis particulares (1991);

  8. uma visão da experiência humana como marcada pela criatividade, pela fragmentação e pelo conflito (1971).

Avaliação (1): Todos estes conceitos e distinções colocam Simmel - e nós - em uma posição vantajosa a cada vez em que ele se dedica a análisar fenômenos substantivos como o conflito, a troca, o segredo, a estranheza, a submissão e outros mais.14 14 Estas noções prestam-se igualmente bem às suas incursões em tópicos humanistas como a escultura de Rodin, a pintura de Rembrandt, o papel do ator dramático e a cidade de Veneza.

Resultado: Permanece ainda a tarefa de reconstruir o alcance pleno da abordagem de Simmel.

Avaliação (2): Isto é tudo? Estes temas familiares são frequentemente tomados como representando toda a produção sociológica de Simmel, que oferece algo que poderíamos chamar de análise sincrônica e é subsumida à concepção de sociologia formal.

Existe, contudo, toda uma outra vertente da sociologia de Simmel que raramente recebe a devida atenção. É a área da análise histórica macroscópica. Em sua última publicação sociológica, ele a descreve como o estudo sociológico da vida histórica. Isto inclui sua monografia de 1890, Sobre a diferenciação social, ainda não traduzida na íntegra para o inglês, e A filosofia do dinheiro (1900), considerada por ele como a mais significativa de suas obras. Em carta a Celestin Bouglé, Simmel descreveu-a como uma tentativa de "compreender a totalidade da existência social e histórica" (Simmel, 2008Simmel, Georg. (2008). Carta a Celestin Bouglé, de 13 de dezembro de 1899; Carta a Celestin Bouglé [s.d.]. In: Köhnke, Klaus Christian (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 22: Briefe 1880-1911. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 342-343; p. 525.: 525). A fim de destacar a significância deste material, sugiro, ainda, mais um outro rótulo.

Simmel como um teórico evolucionário

Sob este aspecto, o corpus do pensamento de Simmel nunca foi analisado sistematicamente. Uma maneira de fazê-lo é recorrer ao conceito de evolução sociocultural. Nessa perspectiva, dois temas principais se destacam. Um deles é o processo evolucionário de diferenciação social, um tema central que ele derivou de Spencer e nunca abandonou. Um aspecto importante desse padrão foi o processo da individualização. Do início ao fim, Simmel esteve continuamente absorvido pela análise dos diferentes tipos de individualismo e pelos processos através dos quais eles surgiram. Sua última palavra sobre o assunto apareceu num fragmento póstumo, "Das Individuum und die Freiheit" [O indivíduo e a liberdade], no qual analisou os dois tipos principais de individualismos desenvolvidos nos séculos XVIII e XIX.

O outro tema importante da análise histórica ampla de Simmel aparece em seus escritos sobre a evolução da cultura. Nessa dimensão de sua obra, ele identifica dois processos principais. O primeiro consiste na emergência de formas culturais - que denominei de protoformas e formas objetivadas (Levine, 1971Levine, Donald N. (1971). Georg Simmel: on individuality and social forms. Chicago: University of Chicago Press.) - por meio da agência criativa de pessoas e grupos. O segundo processo consiste na diferenciação de universos diversos de formas culturais - "mundos", como ele os chama: religião, ciência, arte, história, senso comum e semelhantes. Poderíamos formular o tema central da perspectiva evolucionária de Simmel como a evolução simultânea do indivíduo diferenciado com crescentes capacidades para a autonomia e de formas culturais diferenciadas que se tornam objetivadas e que, por assim dizer, ganham vida própria.

A junção destes dois processos centrais - a individualização por meio da evolução social e a evolução das formas culturais - resulta em uma ampla moldura interpretativa que informa as análises maduras de Simmel. Os dois fenômenos ligam-se entre si, pois, para Simmel, o termo cultura designa primariamente "cultivo", como na noção francesa da palavra, de forma que a pessoa plenamente desenvolvida apresenta-se como alguém cuja natureza foi cultivada. Para tanto, os seres humanos precisam criar objetos culturais. O processo histórico-universal de individualização é, portanto, ao mesmo tempo, um processo pelo qual um número e uma variedade cada vez maior de objetos culturais se torna disponível para o crescimento individualizado. A evolução simultânea do indivíduo diferenciado com maior capacidade de autonomia e de formas culturais diferenciadas, que se tornam objetivadas e assumem uma vida própria, resulta na complexa estrutura da época moderna.

Já em 1900, Simmel observara que, na Época Moderna, a experiência do cultivo por meio de formas culturais é interrompida. A divisão de trabalho e a economia altamente monetarizada permitem a produção de objetos culturais de modo tal que a subjetividade humana se vê subordinada a processos de produção objetivados e em velocidade que excede a capacidade dos sujeitos humanos de absorvê-los. Em A filosofia do dinheiro, de 1900, e mesmo em um artigo sobre cultura, de 1908, Simmel retratou esta condição apenas como geradora de certa dificuldade, como criando certas "dissonâncias" na vida moderna. Todavia, em 1911, ele veio a designá-la como uma condição "trágica".15 15 O texto "Der Begriff und die Tragödie der Kultur" foi publicado em três versões diferentes. A primeira delas, originalmente publicada na revista Logos: Internationale Zeitschrift für Philosophie der Kultur (v. 2/1, 1911/1912, p. 1-25), é a que se encontra no volume 12 da Georg Simmel Gesamtausgabe. Basicamente o mesmo texto (com o mesmo título), sem diferenças significativas, foi publicado também em 1911 como parte do livro Philosophische Kultur. Mas o texto sofreu algumas modificações de conteúdo na segunda edição da Philosophische Kultur, publicada em 1918: três passagens foram acrescentadas, uma delas um pouco mais extensa. Essa versão de 1918 encontra-se no volume 14 da Georg Simmel Gesamtausgabe (organizado por Rüdiger Kramme e Otthein Rammstedt). [N.E.] A tragédia da cultura procede do fato de que, apesar de o ser humano precisar produzir objetos culturais a fim de satisfazer seu ímpeto inerente em direção ao cultivo, a produção incessante de novas técnicas e de variados objetos culturais cria a situação tipicamente problemática do homem moderno, seu sentimento de estar cercado por um número incontável de elementos culturais que, para ele, não são nem insignificantes nem, em última análise, significativos. Sua dimensão massiva o deprime, pois ele é incapaz de assimilá-los todos, tampouco, porém, ele pode simplesmente rejeitá-los, visto que todos eles pertencem potencialmente à esfera de seu desenvolvimento cultural (Simmel, 2001Simmel, Georg. (2001 [1911-1912]). Der Begriff und die Tragödie der Kultur. In: Kramme, Rüdiger. & Rammstedt, Angela (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 12. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 194-223. [1911-1912]: 219 ss.). Essa situação é trágica porque as forças aniquiladoras voltadas contra o sujeito humano provêm das camadas mais profundas do ser criativo do próprio sujeito.

No decorrer da década, Simmel começou a observar a situação com preocupação crescente. Num artigo para o jornal Frankfurter Zeitung, publicado em 1916, Simmel avançou na análise do dilema do ímpeto do eu para a completude face aos desenvolvimentos desenfreados na cultura objetiva. Esse texto identificou, na verdade, três perigos deste tipo. O primeiro era a erosão do cultivo pessoal em decorrência da proliferação de inúmeros objetos culturais; o segundo era a subordinação de fins pessoais a tecnologias objetivamente elaboradas, uma dinâmica já antevista em suas análises da sofisticação da troca monetarizada em seu livro sobre o dinheiro; e, um terceiro perigo era a fragmentação da vida em decorrência da separação crescente de esferas objetivadas da vida. Este tema retomava uma de suas primeiras dinâmicas evolucionárias: os modos como a crescente diferenciação social engendra o indivíduo em uma pluralidade de esferas que se interconectam. Enquanto o resultado anterior de afiliações múltiplas era considerado essencialmente positivo - como meio para a acentuação da individuação -, o processo da fragmentação agora é visto como caminhando em direção a um desfecho perigoso. Nesse ponto, Simmel diagnosticou a condição da cultura moderna como verdadeira crise: "O destino de uma cultura altamente desenvolvida é que ela é uma crise constantemente adiada. Ela [manifesta] uma tendência de fazer com que a vida, à qual ela deveria servir, se desintegre em futilidade e paradoxo [...]. Para cada um de nós, trata-se, conscientemente ou não, da crise da nossa própria alma" (Simmel, 2000Simmel, Georg. (2000 [1916a]). Wandel der Kulturformen. In: Latzel, Klaus (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 13. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 217-223. [1916a]: 200 ss.). A evolução inexorável de formas culturais trouxe-as a um ponto em que elas tanto sufocam como fraturam o indivíduo, tornando impossível para as pessoas viverem uma vida que não seja oprimida e fragmentada.

Este diagnóstico é frequentemente visto como a última palavra de Simmel sobre a modernidade. De fato, ele decorre logicamente, como vimos, das suposições e alegações acerca da evolução social e cultural. Esta interpretação da visão madura de Simmel em relação à modernidade é amplamente compartilhada, entre outros, por ninguém menos do que Willfried Gessner, no que pode ser considerado atualmente o livro de referência sobre as visões de Simmel sobre a cultura, Der Schatz im Acker, de 2003. Isto sem falar das minhas próprias posições até mais ou menos esta mesma época.

Ainda assim, preciso provocar esta posição. Ela simplesmente não corresponde aos fatos em questão. Além disto, priva a sociologia contemporânea de um insight de enorme valor heurístico - capaz de fornecer uma nova perspectiva sobre a modernidade que confira sentido a fatos que, até agora, não têm sido analisados pela ciência social contemporânea.

Uma mudança radical de Simmel em seus últimos anos

Em 1917, contudo, o artigo sobre a crise da cultura foi revisado. Suas mudanças refletiam argumentos apresentados num artigo escrito no final de 1916, "Wandel der Kulturformen" [A mudança das formas culturais], no qual Simmel postulava que "a vida em sua criatividade produz continuamente algo que já não mais incorpora a vida [...] algo que se impõe contra a vida com suas próprias exigências distintas" (Simmel, 2000Simmel, Georg. (2000 [1916a]). Wandel der Kulturformen. In: Latzel, Klaus (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 13. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 217-223. [1916a]: 41). As mudanças em jogo podem parecer insignificantes, mas elas representam um diagnóstico inteiramente novo acerca da cultura moderna.16 16 Gessner observa isto, mas, a meu ver, não reconhece a extensão e as implicações desta mudança. Toda a extensão desse diagnóstico se evidenciou em 1918, em um dos ensaios mais poderosos de Simmel (1999 [1918])Simmel, Georg. (1999 [1918]). Der Konflikt der modernen Kultur. In: Fitzi, Gregor. & Rammstedt, Otthein (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 16. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 181-207., "Der Konflikt der modernen Kultur" [O conflito da cultura moderna]. Nele, Simmel retrata o dilema central da cultura moderna não como opressão do eu subjetivo pelas formas multiplicadas da cultura objetiva, mas como um ataque à própria possibilidade de formas objetivas por meio da liberação da expressão crua de energias vitais do sujeito.17 17 Habermas entendeu errado o que Simmel estava dizendo aqui quando interpretou o Simmel tardio como adotando o "irracionalismo..." (1985: 170, 198). Toda a história da cultura, Simmel escreve nesse ensaio, ganhou forma como uma oscilação contínua entre períodos em que as formas culturais correspondem às energias vitais do período e tempos de mudança cultural em que essas energias consideram as formas antigas inadequadas e, por isto, criam formas novas. O que distingue a condição cultural da Época Moderna é que essa rebelião periódica, sob a inspiração de um amplo comprometimento com a vida enquanto tal, veio a atacar a legitimidade do respeito a qualquer forma cultural. Com isto, Simmel prognosticou uma série de desenvolvimentos culturais que se estenderiam ao longo do século - desde o dadaísmo da década de 1920, até o drip painting de Jackson Pollock na década de 1940, os happenings dos anos 1960, a mistura dos gêneros aclamada por Clifford Geertz na década de 1980 e a paixão pela improvisação aleatória no presente. Como esta mudança tão drástica em sua orientação pôde ocorrer tão rapidamente, e o que podemos dizer sobre o status das duas posições no pensamento de Simmel?

O contexto da mudança

Duas mudanças na perspectiva de Simmel ocorreram em 1914: sua crescente preocupação com a filosofia da vida de Bergson e sua reação à irrupção da Primeira Guerra Mundial. A primeira, expressa em um artigo de 1914 intitulado "Henri Bergson" (Simmel, 2000Simmel, Georg. (2003 [1914]). Deutschlands innere Wandlung. In: Kösser, Uta; Kruckis, Hans-Martin. & Rammstedt, Otthein (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 15. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 271-285. [1914]: 53-69), oferece uma elaboração da ideia de processo vital, que nunca lhe fora estranha, desde seu engajamento inicial às teorias de Darwin e no comprometimento profundo de Goethe com o processo vital (Levine, 2007Levine, Donald N. (2008). The promise of Ethiopia: public action; civil forgiveness; creative power. Palestra apresentada na InterAfricaGroup Conference sobre "Fostering shared core national values: expanding common political space in the New Ethiopian millennium." Africa Hall, Addis Ababa, 15 de janeiro. Disponível em <http://www.eneips.org/forum/viewforum.php?f=1&sid=925e6ad407c2eed90dd8eb340284f0c4>. Acesso em 19 mar. 2015.
http://www.eneips.org/forum/viewforum.ph...
). A irrupção da guerra levou Simmel a perceber que a opressão asfixiante dos objetos culturais poderia ser contornada por meio de um envolvimento intenso com a experiência crua. Em "Deutschlands innere Wandlung" [A tranformação interior da Alemanha] (Simmel, 2003Simmel, Georg. (2003 [1914]). Deutschlands innere Wandlung. In: Kösser, Uta; Kruckis, Hans-Martin. & Rammstedt, Otthein (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 15. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 271-285. [1914]), ele sugeriu que a situação de guerra havia superado o ethos materialista do período anterior à guerra e iniciado um período em que os indivíduos fundiram-se organicamente com a sociedade alemã mais ampla. Acima de tudo, ele celebrou a oportunidade que a guerra propiciou aos indivíduos de experienciar uma situação existencial "absoluta" (Simmel, 2003Simmel, Georg. (2003 [1914]). Deutschlands innere Wandlung. In: Kösser, Uta; Kruckis, Hans-Martin. & Rammstedt, Otthein (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 15. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 271-285. [1914]: 279); com isso, eles ganharam acesso a uma realidade espiritual mais elevada e a uma manifestação mais profunda das possibilidades da vida humana.

Essas ideias surgiram no pensamento de Simmel acerca da cultura em dois artigos publicados em fevereiro de 1916. Em "Die Krisis der Kultur" [A crise da cultura] ele observou que a guerra havia ajudado a mediar a crise de duas maneiras. Ela permitia que, em certa medida, as pessoas contornassem a cultura objetiva: "Para o soldado, todo o sistema de cultura se dissolve em insignificância, não só porque ele é obrigado a sobreviver sem ele, mas porque, em tempos de guerra, o sentido e as exigências da vida se concentram em uma atividade de cujo valor ele é consciente independentemente da mediação de coisas exteriores" (Simmel, 2000Simmel, Georg. (2000 [1916b]). Die Krisis der Kultur. In: Latzel, Klaus (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 13. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 190-201. [1916b]: 193). Além disto, a guerra providenciou um daqueles momentos históricos em que a unidade dinâmica fundamental da vida se reafirma diante das formas culturais que a sufocam e oprimem. Em resposta às patologias da cultura moderna, a vida teria se erguido em revolta "com sua força unificadora, simplificadora e concentrada" (Simmel, 2000Simmel, Georg. (2000 [1916b]). Die Krisis der Kultur. In: Latzel, Klaus (org.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 13. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 190-201. [1916b]: 201) contra "a desintegração e perversão da vida cultural, [que] têm chegado a um extremo [...]. Inúmeras formas, que haviam começado a endurecer e a se tornar imunes ao dinamismo criativo, foram tragadas de volta para a correnteza da vida" (Simmel, 2000Frisby, David. (2002). Georg Simmel. 2. ed. rev. Londres/Nova York: Routledge. [1916b]: 198). Com relação aos modos como a experiência da guerra teria trazido as pessoas de volta aos fundamentos existenciais, Simmel acrescentou uma observação que reconfiguraria seu diagnóstico final da modernidade. Tratava-se de sua ênfase sobre o próprio conceito da vida, que, desde Nietzsche, havia permeado um grande número de esferas, incluindo a arte, a filosofia e a religião.

Seis meses depois, no diário Berliner Tageblatt, Simmel alterou sua perspectiva analítica sobre a questão introduzindo à equação um elemento marxiano. "A mudança das formas culturais" (Simmel, 2000Frisby, David. (2002). Georg Simmel. 2. ed. rev. Londres/Nova York: Routledge. [1916a]) incorporava a análise dialética de Marx sobre o desenvolvimento econômico como uma oscilação entre períodos em que as formas de produção são adequadas às forças econômicas e períodos em que as forças econômicas não podem ser contidas dentro dessas formas e, por isto, as rompem. Simmel incorporou este modelo dialético e o ampliou para abarcar a produção de todos os tipos de formas culturais. Para Simmel, há um conflito histórico inexorável entre a vida, que se expande e continua a fluir com uma energia sempre crescente, e as formas de expressão historicamente situadas da vida, que persistem em seus moldes rígidos. Em "O conflito da cultura moderna" (1999 [1918]), Simmel injetou nesse modelo a primazia do princípio da vida tal como encontrado nos escritos de Bergson e na experiência imediata da guerra.

O valor diagnóstico da perspectiva dupla

Quaisquer que sejam os fatores biográficos envolvidos, essas formulações cambiantes nos obrigam a ajustar contas entre dois diagnósticos aparentemente contraditórios da cultura moderna oferecidos por Simmel em um intervalo de poucos anos. A maneira mais fácil de fazê-lo é negar sua contradição. Poderíamos dizer que, na perspectiva da tragédia da cultura, Simmel está simplesmente considerando o sujeito como um consumidor de cultura; e que, na perspectiva do conflito da cultura ele pensa o sujeito como um produtor. E, de fato, isto é verdade. Poderíamos observar também que ambas as perspectivas representam a psicologia do sujeito de forma um tanto parecida, como intensamente ambivalente em relação à cultura. Na perspectiva da tragédia da cultura, o consumidor anseia pela cultura como meio de encontrar satisfação psíquica e se encontra em posição antagônica em relação à cultura, porque esta, em sua forma fortemente objetivada e em sua magnitude, frustra o ímpeto do sujeito de incorporá-la como um meio de satisfação espiritual. E, na perspectiva do conflito da cultura, o sujeito vital se depara com formas excessivamente constrangedoras e deseja livrar-se delas, mas ao mesmo tempo deseja formas porque, sem elas, não consegue se expressar de maneira criativa: o sujeito não consegue viver nem com as formas culturais, nem sem elas.

No entanto, minimizar a contradição entre os dois diagnósticos da cultura moderna de Simmel pode obscurecer o insight mais valioso que sua teoria oferece. Como já argumentei em outros textos (Levine, 1991Levine, Donald N. (1995). The German tradition;, On the heritage of sociology. In: Visions of the sociological tradition. Chicago/Londres: University of Chicago Press, p. 181-211; p. 298-316.; 1995Levine, Donald N. (1995). The German tradition;, On the heritage of sociology. In: Visions of the sociological tradition. Chicago/Londres: University of Chicago Press, p. 181-211; p. 298-316.), para Simmel o aspecto mais fundamental da ordem moderna é sua tendência a diferenciar e promover características opostas. Assim, no que diz respeito ao desenvolvimento da individualidade, Simmel vê a ordem social e cultural modernas como liberação de forças que a um só tempo aumentam e ameaçam as possibilidades de individualidade genuína. O mesmo vale para as formas da cultura. A hipertrofia de formas culturais representa aquele lado da modernidade que emerge com a objetivação cada vez maior: a expansão inegável e aparentemente ilimitável de mercadorias, construtos simbólicos, sistemas de informação, normas jurídicas, e semelhantes. E o triunfo da vida sobre as formas culturais representa aquele lado da modernidade que aparece na expressão subjetiva cada vez mais direta: a erosão das formas de polidez, a tendência a atalhos na comunicação, a confusão de gêneros, a libertação da sexualidade, e similares. Manter estas duas ordens de desenvolvimento em vista, considerando-as como ponto de partida, seria começar a fazer justiça à profundidade da interpretação simmeliana da cultura moderna.

Essa dimensão da perspectiva simmeliana pode iluminar dois fenômenos da modernidade global que têm ocupado grande espaço na mídia em anos recentes. Refiro-me às revelações sobre a extensão da vigilância dos meios de comunicação privada por agências governamentais e corporativas invisíveis e à extensão de protestos prolongados, espontâneos e amorfos, a exemplo do movimento Occupy Wall Street, em Nova York. Ambos os fenômenos foram inesperados, e cada um parece ter surgido em reação a algo relacionado ao outro.

O movimento Occupy se alastrou pelo mundo desde os protestos coloridos e inteligentes do Zuccotti Park à praça Tahrir, no Cairo, e ao parque Taksim, em Istambul. Protestos populares, é claro, têm aparecido no palco da história moderna ao longo dos dois últimos séculos. A novidade de Occupy, contudo, foi sua rejeição orgulhosa de qualquer tipo de liderança formal e de qualquer documento proclamado/pronunciado. Com efeito, muitos observadores que de outro modo simpatizavam com os manifestantes, sentiram-se frustrados e mesmo irritados diante da falta de objetivos claramente formulados (Mitchell, Harcourt & Taussing, 2013Mitchell, William John Thomas; Harcourt, Bernard E; & Taussing, Michae. (2013). Occupy: three inquiries in Disobedience. Chicago: University of Chicago Press .).

Por outro lado, algum tempo após o Occupy Wall Street, informações críveis revelaram a extensão em que o governo norte-americano havia usado seu aparato para espionar os registros de telefone e e-mails de ampla população. Essa atividade provinha de uma enorme expansão da tecnologia de vigilância eletrônica; essa tecnologia representa a culminância atual de processos seculares associados por Simmel à hipertrofia da cultura objetivada e à subordinação de valores pessoais a tecnologias elaboradas objetivamente graças à fetichização de meios absolutos impulsionada por uma mentalidade hiper-racionalista. Que símbolo melhor dessa tensão do que os inúmeros rituais em honra à vida de Steve Jobs surgidos durante as vicissitudes do movimento Occupy? A última palavra não foi dita - para Simmel, enquanto a vida prossegue não há nunca uma última palavra -, mas a antinomia entre as forças da Vigilância e as forças do Occupy manifestam de forma inaudita o potencial preditivo e analítico da teoria evolucionária de Simmel.

  • Tradução de Markus Hediger Revisão técnica de Leopoldo Waizbort e Maria Laura Cavalcanti

NOTAS

  • 1
    Este texto foi publicado em inglês em Levine (2014: cap. 7)Kracauer, Siegfried. (1920-1921). Georg Simmel. Logos, IX/3, p. 307-338..
  • 2
    Isso não impediu sua significativa produção de pesquisa acadêmica sobre o autor, bem como a realização de traduções importantes. Ver Frisby (1992Frisby, David. (1992). Simmel and Since: Essays on Georg Simmel's Social Theory. Londres/Nova York: Routledge .; 1994Frisby, David (org.). (1994). Georg Simmel: Critical assessments. Londres/Nova York: Routledge (3 vols.).; 2002Frisby, David. (2002). Georg Simmel. 2. ed. rev. Londres/Nova York: Routledge.) e Frisby & Köhnke (1989)Frisby, David P. & Köhnke, Klaus Christian (orgs.). (1989). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 6: Philosophie des Geldes. Frankfurt am Main: Suhrkamp..
  • 3
    Ao deixar Berlim, em 1914, Simmel perguntou a Martin Buber o que ele tinha deixado aos seus estudantes. Buber respondeu: "Você nos ensinou a pensar" - e Simmel pareceu satisfeito (Gassen & Landman, 1958Gassen, Kurt & Ludmann, Michael. (1958). Buch Des Dankes an Georg Simmel. Berlim: Duncker & Humblot.: 222). Isto é consistente com suas próprias visões expressas sobre a pedagogia (Levine, 1991Levine, Donald N. (1995). The German tradition;, On the heritage of sociology. In: Visions of the sociological tradition. Chicago/Londres: University of Chicago Press, p. 181-211; p. 298-316.).
  • 4
    Petra Christian se refere a Simmel como o homem por detrás das cortinas, como "ponto" (Christian, 1978Christian, Petra. (1978). Einheit und Zwiespalt. Zum hegelianisierenden Denken in der Philosophie und Soziologie Georg Simmels. Berlim: Duncker & Humboldt.: 11, nº 2).
  • 5
    Entre aqueles que se apoiaram fortemente em Simmel com reconhecimentos apenas superficiais - ou até mesmo sem qualquer referência - estão o próprio Buber, Martin Heidegger, Norbert Elias, Karen Horney, Louis Wirth e Erving Goffman. Veja Levine (1997aLevine, Donald N. (1997a). Simmel reappraised: old images, new scholarship. In: Camic, Charles (org.). Reclaiming the sociological classics. Malden: Blackwell Publishers, p. 173-207.; 2014: cap. 4)Levine, Donald N. (2014). Social theory as a vocation. Piscataway, NJ: Transaction Publishers..
  • 6
    Tradução minha. Esta passagem foi traduzida de forma errada na versão em inglês publicada em Critical Inquiry, 22/3, 1996.
  • 7
    Resumindo essa tradição, David Gross escreveu: "Hoje, uma Kulturkritik rigorosa é praticamente impensável sem uma fundamentação metodológica em toda a tradição alemã [a começar pela] a obra de Simmel na década de 1890Simmel, Georg. (1968 [1908]). Soziologie: Untersuchungen über die Formen der Vergesellschaftung. Berlim: Duncker & Humblot ." (Gross, 1982Gross, David L. (1982). Kultur and its discontents: the origins of a "Critique of everyday life" in Germany, 1880-1925. In: Stark, Gary D. & Lackner, Bede Karl (orgs.). Essays on culture and society in modern Germany. College Station: Texas A&M University Press, p. 70-97.: 98).
  • 8
    Ao considerarmos essas visões, podemos tratar também de outro aspecto fundamental da epistemologia de Simmel. Embora ele tenha estabelecido a legitimidade de múltiplas perspectivas em todas as áreas de conhecimento, também considerava determinadas perspectivas mais apropriadas do que outras para alguns temas. Se ele foi o primeiro filósofo (juntamente com Dilthey) a propor uma atitude que tem sido chamada de pluralismo metodológico (Levine, 2014Levine, Donald N. (2014). Social theory as a vocation. Piscataway, NJ: Transaction Publishers.: cap. 20), isto não significava defender uma posição de relativismo absoluto, segundo a qual qualquer construção hermenêutica seria tão válida quanto qualquer outra. Isto porque certas questões podem não se adequar a determinada perspectiva porque estão além dos limites apropriados. Simmel observa que, quando os objetos se tornam microscópicos ou extremamente amplos, eles não mais se prestam à condição de temas para a pintura; eventos triviais e sem consequências são, por si mesmos, inadequados como foco de atenção dos historiadores, pois eventos "históricos" são aqueles com consequências significativas (Simmel, 1989Simmel, Georg. (1989 [1892]). Die Probleme der Geschichtsphilosophie. In: Dahme, Heinz-Jürgen (org.)., Georg Simmel Gesamtausgabe vol. 2. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 297-424. [1892]). Além disto, o tratamento de um assunto de determinado modo pode simplesmente não fazer jus ao que há de mais importante nele. Em todos os casos, a facticidade dos objetos impõe limites ao modo como eles podem ser representados (Levine, 2012Levine, Donald N. (2012). Soziologie and Lebensanchauung: two approaches to synthesizing "Kant" and "Goethe" in Simmel's work. Theory, Culture and Society, 29/7-8, p. 26-52.).
  • 9
    "Cada área de pesquisa tem duas fronteiras que demarcam o ponto em que o processo da reflexão deixa de ser exato e assume um caráter filosófico. As precondições para a cognição em geral, como os axiomas de cada domínio específico, não podem ser apresentadas e testadas dentro desse domínio, exigem antes uma ciência de natureza mais fundamental. [...] Se o começo do domínio filosófico demarca, supostamente, a fronteira inferior do domínio exato, então seu limite superior se encontra no ponto em que os conteúdos sempre fragmentários do conhecimento positivo procuram ser ampliados por conceitos definitivos que, relacionados à totalidade da vida, tornam-se uma imagem do mundo [...]. Este procedimento provisório [assumidamente primitivo] é indispensável quando confrontado com [...] perguntas - especialmente com aquelas relacionadas a valorações e às relações mais gerais da vida intelectual - às quais até hoje temos sido incapazes tanto de responder como de desconsiderar" (Simmel, 1968Simmel, Georg. (1989 [1892]). Die Probleme der Geschichtsphilosophie. In: Dahme, Heinz-Jürgen (org.)., Georg Simmel Gesamtausgabe vol. 2. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 297-424.: 53).
  • 10
    O primeiro intérprete norte-americano abrangente de Simmel, Nicholas Spykman, entendeu bem este ponto. Ele organizou sua antologia de Simmel em três seções: uma sobre epistemologia; outra sobre ciência social; e uma última sobre filosofia social e metafísica social (Spykman, 2004Spykman, Nicholas. (2004 [1925]). The social theory of Georg Simmel. Piscataway, NJ: Transaction Publishers . [1925]).
  • 11
    Essa matriz semântica pode ser acessada em duas publicações: McKeon (1990 [1952])Levine, Donald N.; Carter, Ellwood B. & Gorman, Eleanor. (1976b). Simmel's influence on American sociology, II. American Journal of Sociology, 81/5, p. 1112-1132. e Watson (1993 [1985])Watson, Walter. (1985). The architectonics of meaning: foundations of new pluralism. Nova York: State University of New York Press..
  • 12
    "Man muss hier das Odium auf sich nehmen, von intuitivem Verfahren zu sprechen, -so weit es auch von der spekulativ-metaphysischen lntuition abstehe- von einer besonderen Einstellung des Blickes..." (Simmel, 1992Simmel, Georg. (1999 [1917]). Grundfragen der Soziologie. In: Fitzi, Gregor. & Rammstedt, Otthein (orgs.). Georg Simmel Gesamtausgabe, vol. 16. Frankfurt am Main: Suhrkamp, p. 9-150. [1908]: 29).
  • 13
    "Ele nunca perde uma chance de mostrar que algumas características essenciais de um objeto (sejam estas formais ou estruturais) são realizadas não só pelo próprio objeto no qual foram descobertas, mas também em toda uma série de objetos" (Kracauer, 1920-1921: 235).
  • 14
    Estas noções prestam-se igualmente bem às suas incursões em tópicos humanistas como a escultura de Rodin, a pintura de Rembrandt, o papel do ator dramático e a cidade de Veneza.
  • 15
    O texto "Der Begriff und die Tragödie der Kultur" foi publicado em três versões diferentes. A primeira delas, originalmente publicada na revista Logos: Internationale Zeitschrift für Philosophie der Kultur (v. 2/1, 1911/1912, p. 1-25), é a que se encontra no volume 12 da Georg Simmel Gesamtausgabe. Basicamente o mesmo texto (com o mesmo título), sem diferenças significativas, foi publicado também em 1911 como parte do livro Philosophische Kultur. Mas o texto sofreu algumas modificações de conteúdo na segunda edição da Philosophische Kultur, publicada em 1918: três passagens foram acrescentadas, uma delas um pouco mais extensa. Essa versão de 1918 encontra-se no volume 14 da Georg Simmel Gesamtausgabe (organizado por Rüdiger Kramme e Otthein Rammstedt). [N.E.]
  • 16
    Gessner observa isto, mas, a meu ver, não reconhece a extensão e as implicações desta mudança.
  • 17
    Habermas entendeu errado o que Simmel estava dizendo aqui quando interpretou o Simmel tardio como adotando o "irracionalismo..." (1985: 170, 198).

Referências Bibliográficas

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2015

Histórico

  • Recebido
    13 Nov 2014
  • Aceito
    02 Jan 2015
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