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Quando a teoria dos stakeholders encontra a teoria da justificação: uma proposta de interseção

Resumo

Discutimos uma interação entre duas teorias, abordando a questão: De quais formas a teoria da Justificação (TJ) pode complementar a teoria dos stakeholders (ST)? Embora a ST forneça uma visão sobre a importância de criar valor para as partes interessadas sem recorrer a tradeoffs, não aborda como várias partes interessadas empregam justificativas para alcançar os seus objetivos; nem explora o pensamento analítico sobre a forma como as organizações e as seus stakeholders respondem e negociam comportamentos durante situações de disputa. A TJ fornece um modelo que interpreta as interações e tensões sociais, considerando que as decisões e ações dos atores são contextualizadas dentro da realidade organizacional. Vários estudos que aplicam o modelo da TJ no contexto das organizações fazem-no analisando direta ou indiretamente os stakeholders; alguns estudos anteriores são aqui retratados. Dessa forma, este ensaio lança luz sobre como tal interseção pode melhorar a compreensão de fenômenos relacionados com situações de disputa. Além disso, o nosso objetivo é contribuir para a compreensão, bem como fornecer ferramentas para facilitar práticas de gestão no que diz respeito à identificação e envolvimento dos stakeholders, na medida em que, sobre o que conhecemos, não há pesquisa suficiente aplicando a interseção aqui proposta.

Palavras-chave:
Teoria dos stakeholders; Teoria da justificação; Práticas de gestão; Controvérsias públicas

Abstract

We discuss an interplay between two theories by addressing the question: In what ways can the Justification theory (JT) complement the Stakeholder theory (ST)? While ST provides an insight on the importance of creating value for stakeholders without resorting to tradeoffs, it does not address how several stakeholders employ justifications to achieve their goals, nor does it explore the analytical thinking on how organizations and their stakeholders account for and negotiate behaviors during disputes. The JT provides a framework that interprets social interactions and tensions by considering that actors’ decisions and actions are contextualized within organizational reality. Several studies that apply the JT framework in the context of organizations do so by directly or indirectly analyzing stakeholders. Hence, this essay sheds light on how such an intersection may help to comprehend the phenomena related to disputes. The study offers tools and contributes to understanding managerial practices for stakeholders identification and engagement since, to the best of our knowledge, there is a research gap regarding the intersection between JT and ST.

Keywords:
Stakeholder theory; Justification theory; Management practices; Public controversies

Resumen

Discutimos una interacción entre dos teorías al abordar la cuestión: ¿De qué manera la teoría de la justificación (TJ) puede complementar la teoría de los stakeholders (ST)? Si bien la ST proporciona una idea de la importancia de crear valor para los stakeholders sin recurrir a compensaciones, no aborda la forma en que varios interesados emplean justificaciones para alcanzar sus objetivos; tampoco explora el pensamiento analítico sobre la forma en que las organizaciones y sus stakeholders dan cuenta y negocian los comportamientos durante las situaciones de controversia. La TJ proporciona un marco que interpreta las interacciones y tensiones sociales considerando que las decisiones y acciones de los actores están contextualizadas dentro de la realidad organizacional. Varios estudios que aplican el modelo de la TJ en el contexto de las organizaciones lo hacen mediante el análisis directo o indirecto de los interesados; en el presente documento se describen algunos estudios anteriores. De ahí que este ensayo arroje luz sobre la forma en que esa intersección puede mejorar la comprensión de los fenómenos relacionados con las situaciones de conflicto. Además, pretendemos contribuir a la comprensión y proporcionar instrumentos para facilitar la práctica de la gestión en lo que respecta a la identificación y participación de los interesados, ya que, hasta donde sabemos, no hay suficientes investigaciones que apliquen la intersección aquí propuesta.

Palabras clave:
Teoría de los stakeholders; Teoría de la justificación; Prácticas de gestión; Controversias públicas

INTRODUÇÃO

O foco da teoria dos stakeholders (TS) são as relações entre uma organização e os seus stakeholders: o modo como essas interações são desenvolvidas e geridas a fim de maximizar o valor criado para todas as partes (Freeman, 2010aFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.). Sua premissa central é que os gestores devem levar em conta os interesses dos stakeholders a fim de engajar-se em um processo decisório mais eficaz e sustentável. O conceito de valor é empregado principalmente como sinônimo de benefícios econômicos, ou seja, lucros. Entretanto, além de criar valor econômico para todos os stakeholders, a criação de valor pode incluir, também, benefícios não econômicos. Por exemplo, colaboradores, enquanto stakeholders, podem demandar benefícios psicológicos como reconhecimento, satisfação e/ou aprendizagem (Argandoña, 2011Argandoña, A. (2011, May). Stakeholder theory and value creation (IESE Business School Working Paper No. 922). Barcelona, Spain: IESE Business School, University of Navarra.).

Em outras palavras, a TS fornece ferramentas para identifica os stakeholders e analisar seus interesses, a fim de negociar com eles (Freeman, 2010bFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.). Diferentes abordagens aos desafios dos gestores para identificar e avaliar a saliência dos stakeholders é abordada em literatura existente (Driscoll & Starik, 2004Driscoll, C., & Starik, M. (2004). The primordial stakeholder: Advancing the conceptual consideration of stakeholder status for the natural environment. Journal of Business Ethics, 49, 55-73. Retrieved from https://doi.org/10.1023/B:BUSI.0000013852.62017.0e
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; Mitchell, Agle & Wood, 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Perspectives, 22(4), 853-886. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1997.9711022105
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; Wood, Mitchell, Agle & Bryan, 2018Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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).

Os gestores devem estar cientes de seu contexto e avaliar como os stakeholders diferem uns dos outros, devido a fatores econômicos, políticos, sociais e culturais. Os stakeholders e a organização são interdependentes, o que afeta diretamente o processo de formulação da estratégia, pois permite que os gestores incorporarem valores e princípios a fim de dar estabilidade temporária às relações com os stakeholders.

O alinhamento entre interesses frequentemente divergentes pode, ainda que indiretamente, levar a um melhor desempenho organizacional (Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Freeman, 2004Freeman, R. E. (2004). The stakeholder approach revisited. Zeitschrift Für Wirtschafts- Und Unternehmensethik, 5(3), 228-241. Retrieved from https://doi.org/10.5771/1439-880x-2004-3-228
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; Harrison, Freeman & Abreu, 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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). Portanto, a TS incentiva práticas éticas de gestão (Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Freeman, Phillips & Sisodia, 2020Freeman, R. E., Phillips, R., & Sisodia, R. (2020). Tensions in Stakeholder Theory. Business and Society, 59(2), 213-231. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318773750
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). Entretanto, as ferramentas para analisar com precisão os interesses dos stakeholders permanecem imprecisas. A teoria dos stakeholders incorporou de contribuições de outros campos do conhecimento, como a sociologia (Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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; Phillips, Barney, Freeman & Harrison, 2019Phillips, R. A., Barney, J. B., Freeman, R. E., & Harrison, J. S. (2019). Stakeholder Theory. In J. S. Harisson, J. B. Barney, R. E. Freeman, R. A. Phillips(Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory. Cambridge, UK: Cambridge University Press.).

Ao considerar o papel que os stakeholders exercem na formulação e execução da estratégia, a TS proporciona uma interpretação ética das relações entre diferentes grupos que influenciam diretamente as concretizações dos objetivos organizacionais (Barney et al., 2019Bertero, C. O. (2011). Réplica 2 - o que é um ensaio teórico? Réplica a Francis Kanashiro Meneghetti. Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 338-342.; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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). Nesse contexto, a organização também deve criar valor para os seus stakeholders, sem recorrer a tradeoffs, buscando um relacionamento que balanceia a satisfação de necessidades de stakeholders com a consecução dos interesses organizacionais (Bundy & Pfarrer, 2015Bundy, J., & Pfarrer, M. D. (2015). A burden of responsibility: The role of social approval at the onset of a crisis. Academy of Management Review, 40(3), 345-369. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.2013.0027
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; Mascena & Stocker, 2020Mascena, K., & Stocker, F. (2020). Stakeholder Management: State of the Art and Perspectives. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, 12(1), 1-30. Retrieved fromhttps://doi.org/https://doi.org/10.24023/FutureJournal/2175- 5825/2020.v12i1.490
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; Stocker & Mascena, 2019Stocker, F., & de Mascena, K. M. C. (2019). Orientation and managing for stakeholders in the decision-making process. Revista de Gestao e Secretariado, 10(1), 167-191. Retrieved from https://doi.org/10.7769/gesec.v10i1.864
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; Sulkowski, Edwards & Freeman, 2018Sulkowski, A. J., Edwards, M., & Freeman, R. E. (2018). Shake Your Stakeholder: Firms Leading Engagement to Cocreate Sustainable Value. Organization and Environment, 31(3), 223-241. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1086026617722129
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).

Compreender como tais interações acontecem (como são realizadas, priorizadas e/ou negociadas), e os conflitos delas decorrentes, é uma forma de se entender melhor como a realidade organizacional é viabilizada ou restringida (Dorobantu, 2019Dorobantu, S. (2019). Sketches of New and Future Research on Stakeholder Management. In J. S. Harisson, J. B. Barney, R. E. Freeman, R. A. Phillips (Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory (pp. 256-263). Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Parmar et al., 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., & Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. The Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/19416520.2010.495581); por isso, isto constitui a justificativa da intersecção aqui proposta entre a teoria dos stakeholders e a teoria da justificação.

A teoria da justificação (TJ) analisa as situações que exigem diferentes regimes de ação e suas justificações (Giulianotti & Langseth, 2016Giulianotti, R., & Langseth, T. (2016). Justifying the civic interest in sport: Boltanski and Thévenot, the six worlds of justification, and hosting the Olympic games. European Journal for Sport and Society, 13(2), 133-153.). Defende o uso de uma perspectiva pragmática da linguística na qual os atores, inseridos em situações de incerteza e de ambiguidade, utilizam recursos gramaticais para lidar e conduzir tais situações (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

A TJ propõe um modelo que analisa as interações entre os indivíduos a partir da premissa de que tais interações requerem o uso de justificativas. Tais justificativas, por sua vez, resultam de situações de desacordo que estão presentes na realidade social e, portanto, na vida organizacional. Esta abordagem permite mapear várias “ordens (mundos) de valor” e que possuem princípios superiores de valor distintos, que por sua vez, são baseados no conceito de “bem comum”. O conceito de bem comum integra o que é útil a todas as pessoas, à sociedade como um todo (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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) e que possibilita associações entre seres (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

O valor é uma característica que avalia a qualificação dos seres em situações de disputa. Buscar formas legítimas, ou seja, não violentas, de chegar a um resultado requer que os seres qualificados se envolvam em negociações legítimas.

Para viver entre esses mundos, indivíduos, grupos e/ou organizações devem usar justificativas que expliquem as suas decisões e ações (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.; Giulianotti & Langseth, 2016Giulianotti, R., & Langseth, T. (2016). Justifying the civic interest in sport: Boltanski and Thévenot, the six worlds of justification, and hosting the Olympic games. European Journal for Sport and Society, 13(2), 133-153.). Estas justificativas podem priorizar, por exemplo, os argumentos de mercado (mundo de mercado) ou preocupações ambientais (mundo verde) (Giulianotti & Langseth, 2016Giulianotti, R., & Langseth, T. (2016). Justifying the civic interest in sport: Boltanski and Thévenot, the six worlds of justification, and hosting the Olympic games. European Journal for Sport and Society, 13(2), 133-153.; Thévenot, Moody & Lafaye, 2000Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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).

A TJ concentra-se em contextos que envolvem discordâncias em relação a pontos de vista conflitantes entre os atores (organizações e stakeholders) e como esses atores elaboram ou/e modificam os seus discursos a fim de justificar as suas decisões e ações situacionais. Tais discordâncias podem surgir, por exemplo, em processos de posicionamento de produtos, como no caso do Salmão do Báltico (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.). Também pode ser aplicado em disputas ambientais, tal como em debates sobre práticas de conservação da natureza (Arts, Buijs & Verschoor, 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
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) ou, ainda, em disputas e negociações entre atores em situação de desastre nuclear (Patriotta, Gond & Schultz, 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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).

Em síntese, é proposta aqui uma intersecção da teoria de stakeholders com a teoria da justificação da seguinte forma: a análise das justificativas empregadas em situações de disputa pode ser utilizada na identificação e compreensão dos interesses dos stakeholders pelos gestores. É, portanto, uma ferramenta que pode influenciar as negociações, impactando no alinhamento de interesses. É também uma ferramenta útil para os pesquisadores, pois proporciona uma interpretação dos princípios morais que emergem das práticas de gestão.

Para esse fim, analisamos estudos anteriores que avaliam as decisões e ações dos stakeholders à luz do modelo da TJ, mostrando como ocorre a intersecção proposta. A gestão dos stakeholders é um desafio, pois requer a identificação precisa e a gestão de múltiplas expectativas (Brondoni et al., 2020Brondoni, S., Bosetti, L., & Civera, C. (2020). Ouverture de ‘CSR and Multi-Stakeholder Management’. Symphonya. Emerging Issues in Management, 1, 1-15. https://doi.org/10.4468/2019.1.01ouverture
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). Nossa proposta argumenta que, analisando as justificações dos stakeholders, é possível auxiliar os gestores a identificarem a saliência de stakeholders e negociar com eles, o que pode mitigar os efeitos negativos que envolvem a gestão de múltiplas expectativas.

Assim, este artigo contribui para a literatura sobre TS ao avançar e aprofundar o entendimento das justificativas utilizadas pelas organizações e seus stakeholders durante situações organizacionais adversas, ou seja, situações que impõem que os atores negociem ou renegociem os cursos de ação com o objetivo de alcançar acordos (por exemplo, mudança organizacional, inovação ou acidente ambiental) (Gioia & Chittipeddi, 1991Gioia, D. A., & Chittipeddi, K. (1991). Sensemaking and Sensegiving in strategic change initiation. Strategic Management Journal, 12, 433-448.; Isabella, 1990Isabella, L. A. (1990). Evolving Interpretations as a Change Unfolds : How Managers Construe Key Organizational Events. The Academy of Management Journal, 33(1), 7-41. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/1094428112452151
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; Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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). Além disso, até o momento, o uso da combinação da TS e TJ para analisar fenômenos organizacionais tem sido negligenciado (Jagd, 2011Jagd, S. (2011). Pragmatic sociology and competing orders of worth in organizations. European Journal of Social Theory, 14(3), 343-359. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1368431011412349
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).

Nossa proposta tem implicações práticas para os gestores que tentam estabelecer relações sustentáveis com seus stakeholders, ao mesmo tempo em que criam valor para ambas as partes envolvidas. A sobrevivência e o desempenho organizacional dependem do alinhamento entre a organização e seus stakeholders. Ao interpretar as justificativas dos stakeholders, os gestores são capazes de avaliar a saliência das reivindicações em uma determinada situação, de avaliar seus interesses e, portanto, de negociar com eles enquanto buscam um alinhamento com todas as partes envolvidas. Nossa proposta ilustra uma forma viável de alcançar tal alinhamento. Além disso, através da interpretação das justificativas é possível prever, até certo ponto, decisões ou ações futuras relacionadas a determinadas questões (Mills, 1940Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, 5(6), 904-913. Retrieved from https://doi.org/10.4324/9780203787120; Schneider & Sachs, 2017Schneider, T., & Sachs, S. (2017). The Impact of Stakeholder Identities on Value Creation in Issue-Based Stakeholder Networks. Journal of Business Ethics, 144(1), 41-57. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2845-4
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).

O artigo está estruturado da seguinte forma. Primeiro, explicamos nossa premissa epistemológica, depois destacamos os conceitos-chave utilizados de TS, o mesmo é feito para TJ. Em seguida, destacamos um tema para a viabilidade de tal interseção e discutimos brevemente estudos anteriores que foram escolhidos pois abordam controvérsias, ou seja, situações de disputa e fornecem uma análise singular aplicando a TJ. A intenção de apresentar breves descrições dos estudos é indicar as possibilidades de utilização da TJ em pesquisas relacionadas a stakeholders. Por fim, apresentamos os nossos argumentos de como e por que tal interseção é relevante para a pesquisa relacionada a stakeholders enquanto discutimos as limitações de nossa proposta e sugerimos futuros desenvolvimentos de pesquisa.

O que fundamenta nossa proposta de interseção?

A relação entre uma organização e o seu ambiente influencia os insights que são observados e aplicados nos estudos de administração. O ambiente e a organização são caracterizados como enacted1 1 O termo deriva da sociologia interpretativa e está relacionado à visão de que as organizações são sistemas construídos (por meio de interações) de significados compartilhados (Smircich & Stubbart, 1985). , fundamentados na sociologia interpretativa, e na epistemologia cognitivo-social que compreende que a organização e o seu ambiente são criados em conjunto através de processos de interação social dos principais participantes. Portanto, há uma combinação de pensamentos e ações; o ambiente é percebido à luz da forma como o estrategista (gestor) faz sentido dele (Smircich & Stubbart, 1985Smircich, L., & Stubbart, C. (1985). Strategic Management in an Enacted World. Academy of Management Review, 10(4), 724-736. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1985.4279096
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).

Ambas as teorias realçam a agência dos atores, uma vez que eles têm a capacidade de interpretar situações e agir com base nelas. Em relação à TS, o gestor deve ser capaz de interpretar uma situação e também os interesses dos diferentes atores a fim de alcançar um alinhamento (Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Freeman, 2010aFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press., 2010b; Freeman, Harrison, Wicks, Parmar & Colle, 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., & Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. The Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/19416520.2010.495581). Quanto à TJ, os atores competentes devem agir em situações de disputa, apresentando justificativas para chegar a uma situação de acordo ou comprometimento (Boltanski & Thevenot, 1999Boltanski, L., & Thevenot, L. (1999). The Sociology of Critical Capacity. European Journal of Social Theory, 2(3), 359-377., 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.; Dequech, 2008Dequech, D. (2008). Logics of justification and logics of action. Journal of Economic Issues, 42(2), 527-535. Retrieved from https://doi.org/10.1080/00213624.2008.11507162
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).

Além disso, o conceito filosófico de “bem comum” está presente em ambas as teorias e sustenta a nossa proposta de interseção. O “bem comum” pode ser entendido como um princípio que é bom para todas as pessoas, para a sociedade como um todo. É tudo o que pertence igualmente a todos os indivíduos, portanto é comunicado ou compartilhado igualmente entre os membros de uma sociedade e possibilita o “bem individual” (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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; Eranti, 2018Eranti, V. (2018). Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, 5(1-2), 42-65. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733
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).

Em relação à TS, o “bem comum” é o seu fundamento principal e possibilita suas premissas éticas centrais, a organização deve “fazer o bem” aos indivíduos ou/e grupos que têm uma “participação “ em seus interesses, bem como ponderar os impactos de suas atividades na sociedade, observando uma preocupação com as gerações futuras (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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). Em relação à TJ, o “bem comum” é o seu argumento central e está relacionado aos ideais de justiça que é superior aos indivíduos; permite que concordâncias entre eles sejam estabelecidas em situações de disputa (Boltanski & Thévenot, 2000Thévenot, L., Moody, M., & Lafaye, C. (2000). Political Practice and Culture in French and American Environmental Disputes. In M. Lamont, & L. Thévenot (Eds.), Rethinking comparative cultural sociology: repertoires of évaluation in France and the United States(pp. 229-272). Cambridge, UK: Cambridge University Press., 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.; Gladarev & Lonkila, 2013Gladarev, B., & Lonkila, M. (2013). Justifying Civic Activism in Russia and Finland. Journal of Civil Society, 9(4), 375-390. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/17448689.2013.844450
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).

Com base nestas suposições compartilhadas, são apresentadas breves descrições de cada teoria visando fundamentar a discussão sobre a interseção entre as teorias da justificação e dos stakeholders.

Quais são as principais premissas da TS?

Freeman percebeu que o ambiente empresarial se tornou mais dinâmico, complexo, exigindo respostas cada vez mais rápidas, e, portanto, os gestores estavam sendo bombardeados com mudanças e turbulência do ambiente que até então eram inéditas. Assim, ele propôs uma abordagem que tem uma aplicação no mundo real e que se concentra na influência que os stakeholders - grupos ou indivíduos que podem afetar ou ser afetados pela realização de um objetivo organizacional - exercem na formulação da estratégia organizacional (Freeman, 2010bIgnatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

Sua premissa central é fornecer respostas mais adaptadas a essas demandas (dinâmicas e complexas). Para tal, os gestores precisam considerar os stakeholders ao tomar decisões estratégicas; precisam saber como identificá-los, analisá-los e negociar com eles (Freeman, 2010bFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.). Os interesses dos stakeholders têm valor intrínseco, o que significa que cada grupo deve ser levado em conta nas práticas de gestão (Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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).

A literatura existente classifica os stakeholders de diversas maneiras. Freeman (2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.), por exemplo, diferencia os stakeholders em internos (proprietários, clientes, funcionários e fornecedores) e externos (governos, concorrentes, grupos que defendem os direitos do consumidor, ambientalistas e a mídia). Clarkson (1995Clarkson, M. B. E. (1995). A Stakeholder Framework for Analyzing and Evaluating Corporate Social Performance. Academy of Management Review, 20(1), 92-117.), por sua vez, classifica-os como stakeholders primários (aqueles que afetam diretamente a sobrevivência da organização, tais como acionistas, investidores, funcionários, clientes e fornecedores) e secundários (aqueles que estão envolvidos com a organização, mas não influenciam diretamente sua sobrevivência). Ao discutir os estudos selecionados para ilustrar nossa proposta, destacamos os stakeholders envolvidos em cada caso.

A TS argumenta que as empresas não são separadas da sociedade e, portanto, os gestores são responsáveis por “[...] gerenciar reclamações e diminuir danos dentro de uma rede intrincada de relações sociais” (Wood et al., 2018Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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, p. 2). Stakeholders não são homogêneos e os seus interesses - que frequentemente são conflitantes - podem e devem ser alinhados com as estratégias da organização, o que pode levara um melhor desempenho organizacional (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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). Assim, a organização deve criar valor para os seus stakeholders sem recorrer a tradeoffs, prevendo um relacionamento sustentável com eles, tentando satisfazer as suas demandas, sem, contudo, comprometer os interesses organizacionais (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Mascena & Stocker, 2020Mascena, K., & Stocker, F. (2020). Stakeholder Management: State of the Art and Perspectives. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, 12(1), 1-30. Retrieved fromhttps://doi.org/https://doi.org/10.24023/FutureJournal/2175- 5825/2020.v12i1.490
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; Phillips et al., 2019Phillips, R. A., Barney, J. B., Freeman, R. E., & Harrison, J. S. (2019). Stakeholder Theory. In J. S. Harisson, J. B. Barney, R. E. Freeman, R. A. Phillips(Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory. Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Stocker & de Mascena, 2019Stocker, F., & de Mascena, K. M. C. (2019). Orientation and managing for stakeholders in the decision-making process. Revista de Gestao e Secretariado, 10(1), 167-191. Retrieved from https://doi.org/10.7769/gesec.v10i1.864
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; Sulkowski et al., 2018Sulkowski, A. J., Edwards, M., & Freeman, R. E. (2018). Shake Your Stakeholder: Firms Leading Engagement to Cocreate Sustainable Value. Organization and Environment, 31(3), 223-241. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1086026617722129
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).

A criação de valor para os Stakeholders inclui benefícios econômicos (isto é, lucros), quanto não-econômicos. Por exemplo, os colaboradores podem demandar benefícios não-econômicos como reconhecimento, satisfação e/ou aprendizagem (Argandoña, 2011Argandoña, A. (2011, May). Stakeholder theory and value creation (IESE Business School Working Paper No. 922). Barcelona, Spain: IESE Business School, University of Navarra.). Em nosso artigo, quando discutimos valor em relação à TS, ele tem o seguinte significado: i) ou estamos falando do valor intrínseco que os stakeholders têm, significando que os seus interesses devem ser considerados pela organização, ou ii) estamos falando de um benefício/ ganho (econômico e/ou não econômico) que resultou de uma situação de disputa e que encorajou ou facilitou relações sustentáveis entre as partes envolvidas.

Diferentes abordagens referem-se a como os gestores podem identificar e priorizar os interessados em uma determinada situação - a saliência dos stakeholders (ver Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Driscoll & Starik, 2004Driscoll, C., & Starik, M. (2004). The primordial stakeholder: Advancing the conceptual consideration of stakeholder status for the natural environment. Journal of Business Ethics, 49, 55-73. Retrieved from https://doi.org/10.1023/B:BUSI.0000013852.62017.0e
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; Magness, 2008Magness, V. (2008). Who are the stakeholders now? An empirical examination of the Mitchell, Agle, and Wood theory of stakeholder salience. Journal of Business Ethics, 83(2), 177-192. https://doi.org/10.1007/s10551-007-9610-2
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; Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Perspectives, 22(4), 853-886. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1997.9711022105
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; Schneider & Sachs, 2017Schneider, T., & Sachs, S. (2017). The Impact of Stakeholder Identities on Value Creation in Issue-Based Stakeholder Networks. Journal of Business Ethics, 144(1), 41-57. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2845-4
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; Wood et al., 2018Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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). Entretanto, as ferramentas para analisar com precisão os interesses dos stakeholders permanecem imprecisas. Propomos um modelo que visa auxiliar os gestores - ao interpretar justificativas dos stakeholders - a identificar, analisar e alinhar os interesses desses stakeholders com os da organização para que a empresa tenha um melhor desempenho (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Freeman, 2010bFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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; Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Perspectives, 22(4), 853-886. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1997.9711022105
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).

A principal contribuição da TS ao campo da estratégia organizacional é possibilitar a compreensão das estratégias e comportamentos das organizações levando em conta o impacto dos stakeholders na formulação e implementação da estratégia (Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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; Parmar et al., 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., & Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. The Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/19416520.2010.495581).

Além disso, a TS tem três aspectos: descritivo (quando usado para descrever o comportamento corporativo), instrumental (quando usado como uma ferramenta para analisar o alinhamento entre os atores e sua influência na realização dos objetivos), e normativo (quando usado para analisar o comportamento corporativo à luz das diretrizes morais) (Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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). Com base nesses aspectos, é possível obter uma perspectiva da intersecção com TJ da seguinte forma: a característica descritiva de TS se beneficiaria da TJ, uma vez que ela pode ser usada para fornecer melhores e profundas descrições de casos, o instrumental, a partir da análise das justificativas empregadas em situações de disputa e seu impacto na (não) realização de objetivos, e, por último, o normativo, pela interpretação dos princípios morais que emergem das práticas de gestão.

Em resumo, os pontos centrais da TS podem ser listados como segue: i) existem stakeholders que influenciam e são impactados pelos objetivos da organização; ii) os gestores precisam considerar os efeitos dos interesses e ações dos stakeholders, assim como o seu contexto, para serem bem sucedidos; iii) para que este relacionamento com os stakeholders seja melhor compreendido, a teoria recomenda atitudes e práticas que advoguem pela responsabilidade moral dos gestores; iv) esta nova informação pode ser aplicada em novas estruturas e processos, bem como na própria formação da estratégia organizacional; e v) tais ações podem levar a um melhor desempenho corporativo (Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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; Godfrey & Lewis, 2019Godfrey, P. C., & Lewis, B. (2019). Pragmatism and pluralism: A moral foundation for stakeholder theory in the twenty-first century. In J. S. Harrison, J. B. Barney, E. Freeman, & R. A. Phillips (Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory (pp. 19-34). Cambridge, UK: Cambridge University Press. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1017/9781108123495.002
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; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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).

A TS aborda várias interações entre diferentes grupos que é baseada nos princípios de confiança, reciprocidade e justiça (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.) e que fornece meios pelos quais a ética pode ser empregada em um contexto empresarial (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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; Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Fontrodona, Ricart & Berrone, 2018Fontrodona, J., Ricart, J. E., & Berrone, P. (2018). Ethical Challenges in Strategic Management: The 19th IESE International Symposium on Ethics, Business and Society. Journal of Business Ethics, 152(4), 887-898. Retrieved from https://doi.org/10.1007/s10551-018-3825-2
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; Parmar et al., 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., & Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. The Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/19416520.2010.495581; Phillips, Freeman & Wicks, 2003Phillips, R., Freeman, R. E., & Wicks, A. C. (2003). What Stakeholder Theory Is Not. Business Ethics and Strategy , Volumes I and II, 13(4), 479-502.). O modelo da TJ, por sua vez, é baseado na premissa da inclusão de valores morais nos estudos sociológicos, argumentando que o acordo é alcançado quando a justiça entre as diferentes partes é observada (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

A literatura existente aponta que a percepção dos stakeholders sobre justiça dentro das práticas de gestão está ligada à reciprocidade e, portanto, permite relações sustentáveis entre as partes e tem implicações no desempenho (Bosse & Coughlan, 2016Bosse, D. A., & Coughlan, R. (2016). Stakeholder Relationship Bonds. Journal of Management Studies, 53(7), 1197-1222. Retrieved from https://doi.org/10.1111/joms.12182
https://doi.org/10.1111/joms.12182...
; Bosse, Phillips & Harrison, 2009Bosse, D. A., Phillips, R. A., & Harrison, J. S. (2009). Research notes and commentaries stakeholders, reciprocity, and firm performance. Strategic Management Journal, 30(4), 447-456. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1002/smj.743
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; Bridoux & Stoelhorst, 2014Bridoux, F. M., & Stoelhorst, J. W. (2014). Microfoundations for stakeholder theory: Managing stakeholders with heterogeneous motives. Strategic Management Journal, 35(1), 107-125. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2089
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; Bridoux & Vishwanathan, 2020Bridoux, F. M., & Vishwanathan, P. (2020). When Do Powerful Stakeholders Give Managers the Latitude to Balance All Stakeholders’ Interests?Business and Society, 59(2), 232-262. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318775077
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; Bundy, Vogel & Zachary, 2018Bundy, J., Vogel, R. M., & Zachary, M. A. (2018). Organization-stakeholder fit: A dynamic theory of cooperation, compromise, and conflict between an organization and its stakeholders. Strategic Management Journal, 39(2), 476-501. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2
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; Harrison, Bosse & Phillips, 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.801
https://doi.org/10.1002/smj.801...
; Schneider & Sachs, 2017Schneider, T., & Sachs, S. (2017). The Impact of Stakeholder Identities on Value Creation in Issue-Based Stakeholder Networks. Journal of Business Ethics, 144(1), 41-57. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2845-4
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). Além disso, a sua intersecção com a sociologia demonstra que “[...] as pessoas tendem a aceitar as crenças de pessoas que são pessoalmente conhecidas e confiáveis, pessoas que são confiáveis por aqueles outros, e pessoas em posições de grande autoridade” (Wood et al., 2018Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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, p. 38). A partir disso, confiança e justiça proporcionam condições para a reciprocidade na gestão de múltiplas expectativas e permitem relações sustentáveis entre diferentes partes, afetando o desempenho organizacional.

Portanto, há um fundamento comum entre TS e TJ (ver Quadro 2) já que ambas abordam debates sobre a realidade social ancorados em princípios morais (Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Gladarev & Lonkila, 2013Gladarev, B., & Lonkila, M. (2013). Justifying Civic Activism in Russia and Finland. Journal of Civil Society, 9(4), 375-390. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/17448689.2013.844450
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; Phillips et al, 2003Phillips, R., Freeman, R. E., & Wicks, A. C. (2003). What Stakeholder Theory Is Not. Business Ethics and Strategy , Volumes I and II, 13(4), 479-502.), e ambas enfatizam a agência humana no sentido de promover a cooperação/situações de acordo que reflitam um princípio comum mais elevado/consciência comum sobre os impactos da organização na sociedade (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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; Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Cloutier, Gond & Leca, 2017Cloutier, C., Gond, J. P., & Leca, B. (2017). Justification, evaluation and critique in the study of organizations: An introduction to the volume. In C. Cloutier, J. P. Gond & B. Leca (Eds.), Justification, Evaluation and Critique in the Study of Organizations (Research in the Sociology of Organizations, Vol. 52, pp. 3-29). Bingley, UK: Emerald Publishing Limited. Retrieved from https://doi.org/10.1108/S0733-558X20170000052001
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https://doi.org/10.4000/revdh.7114...
).

Concentramo-nos na análise das justificativas, porque “[...] a linguagem é tomada por outras pessoas como um indicador de ações futuras” (Mills, 1940Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, 5(6), 904-913. Retrieved from https://doi.org/10.4324/9780203787120, p. 940). Assim, ao combinar ambas as teorias, fornecemos ferramentas para que os gestores avaliem com precisão quem são os seus stakeholders, para avaliar a sua saliência e interpretar os seus interesses em uma determinada situação.

Quais são as principais premissas da TJ?

O modelo da teoria da justificação analisa situações de desacordo em que são empregadas justificativas para se chegar a um acordo/uma solução não violenta e legítima entre diferentes atores (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.). Visa apresentar um modelo que fornece métodos para analisar os comportamentos das pessoas, particularmente discursos e ações, em situações de disputa (Boltanski & Thévenot, 2000Boltanski, L., & Thévenot, L. (2000). The reality of moral expectations: A sociology of situated judgment. Philosophical Explorations: An International Journal for the Philosophy of Mind and Action, 3(3), 208-231. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/13869790008523332
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, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.; Dequech, 2008Dequech, D. (2008). Logics of justification and logics of action. Journal of Economic Issues, 42(2), 527-535. Retrieved from https://doi.org/10.1080/00213624.2008.11507162
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; Eranti, 2018Eranti, V. (2018). Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, 5(1-2), 42-65. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733
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; Mills, 1940Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, 5(6), 904-913. Retrieved from https://doi.org/10.4324/9780203787120).

As justificativas são “atos de fornecer razões de validade, legitimidade e defesa de uma ação, de uma crença ou de um arranjo social” (Susen, 2017Susen, S. (2017). Remarks on the nature of justification: A socio-pragmatic perspective. In C. Cloutier, J P. Gond , & B. Leca (Eds.), Justification, Evaluation and Critique in the Study of Organizations (Research in the Sociology of Organizations, Vol. 52, pp. 349-381). Bingley, UK: Emerald Publishing Limited. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.822
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, p. 350). As razões que motivam o emprego de justificativas relacionam as ações dos atores a uma dada situação, a um contexto específico, e recorrem a normas; neste caso, a princípios de justiça e do bem comum, para obter um resultado (Mills, 1940Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, 5(6), 904-913. Retrieved from https://doi.org/10.4324/9780203787120). Assim, as justificativas devem ser reconhecíveis por outros e são empregadas principalmente quando são exigidas capacidades críticas, sobretudo quando surgem disputas (Eranti, 2018Eranti, V. (2018). Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, 5(1-2), 42-65. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733
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).

Como as organizações são compostas por indivíduos, este modelo também pode ser utilizado para a análise das práticas de gestão organizacional, uma vez que “o estudo das organizações é, em sua essência, o estudo da coordenação” (Cloutier et al., 2017Cloutier, C., Gond, J. P., & Leca, B. (2017). Justification, evaluation and critique in the study of organizations: An introduction to the volume. In C. Cloutier, J. P. Gond & B. Leca (Eds.), Justification, Evaluation and Critique in the Study of Organizations (Research in the Sociology of Organizations, Vol. 52, pp. 3-29). Bingley, UK: Emerald Publishing Limited. Retrieved from https://doi.org/10.1108/S0733-558X20170000052001
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, p. 6). A TJ se baseia no estudo de como as organizações funcionam a fim de promover um ponto de vista particular em um “bem comum” generalizável (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.; Eranti, 2018Eranti, V. (2018). Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, 5(1-2), 42-65. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733
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; Thévenot et al., 2000Thévenot, L., Moody, M., & Lafaye, C. (2000). Political Practice and Culture in French and American Environmental Disputes. In M. Lamont, & L. Thévenot (Eds.), Rethinking comparative cultural sociology: repertoires of évaluation in France and the United States(pp. 229-272). Cambridge, UK: Cambridge University Press.).

O acordo e/ou o fim de uma disputa são alcançados evocando justificativas fundamentadas em princípios comuns mais elevados. Estes princípios estão relacionados aos ideais de justiça e ao bem comum, superiores aos indivíduos, e que permitem concordâncias entre eles. Essas formas do bem comum são chamadas de mundos de valores, e são utilizadas para avaliar a maior ou menor capacidade de atribuir valor a essas situações pelos indivíduos. Situações de concordância e discordância não são estáticas; são dinâmicas e alternadas. Algumas vezes há situações de aquiescência de grupo, em outras, situações de não conformidade (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

As interações entre os atores exigem o uso de justificativas para coordenar ações de formas não violentas na vida social. Os princípios do “bem comum” são a ferramenta que permite a coordenação na vida social. Os atores se engajam em espaços públicos para negociar e/ou defender definições socialmente aceitas de “bem comum” (Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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). Assim, alcançar um acordo ou um compromisso é um processo dinâmico no qual muitas vezes os raciocínios conflitantes são (re)avaliadas continuamente (Boltanski & Thévenot, 2000Thévenot, L., Moody, M., & Lafaye, C. (2000). Political Practice and Culture in French and American Environmental Disputes. In M. Lamont, & L. Thévenot (Eds.), Rethinking comparative cultural sociology: repertoires of évaluation in France and the United States(pp. 229-272). Cambridge, UK: Cambridge University Press.).

Uma contribuição essencial do trabalho de Boltanski e Thévenot para este artigo é o mapeamento e categorização de sete ordens (mundos) de valor, que são diferenciadas por um único princípio de valor baseado em formas legítimas do bem comum. Cada esfera tem diferentes tipos de julgamento e ações que são classificadas de acordo com seu valor. O valor é uma característica que avalia a qualificação dos seres em situações de disputa. A busca de formas legítimas, ou seja, não violentas, para se alcançar um resultado exige que os seres qualificados se envolvam em negociações justas. Cada ordem de valor tem seu superior princípio comum que valoriza a qualificação dos seres envolvidos. Tais mundos emergiram do trabalho de campo etnográfico e entrevistas, comparados com clássicos históricos e filosóficos canônicos (Eranti, 2018Eranti, V. (2018). Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, 5(1-2), 42-65. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733
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).

Para viver entre esses mundos, indivíduos e organizações devem usar justificativas. Cada mundo é definido por características relativas ao princípio superior comum, sujeitos e objetos de valor, relações de valor, testes, formas de evidência e falhas (Boltanski & Thévenot, 2000Thévenot, L., Moody, M., & Lafaye, C. (2000). Political Practice and Culture in French and American Environmental Disputes. In M. Lamont, & L. Thévenot (Eds.), Rethinking comparative cultural sociology: repertoires of évaluation in France and the United States(pp. 229-272). Cambridge, UK: Cambridge University Press., 2006; Gladarev & Lonkila, 2013Gladarev, B., & Lonkila, M. (2013). Justifying Civic Activism in Russia and Finland. Journal of Civil Society, 9(4), 375-390. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/17448689.2013.844450
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; Thévenot et al., 2000). Cada mundo se manifesta após a ocorrência de momentos disruptivos e apresenta os seguintes atributos.

O mundo da inspiração é instável e frágil, no qual a inspiração é motivada por emoções profundas cujos principais sujeitos são os visionários, em que momentos de testes como aventuras ou viagens podem produzir caminhos incertos que podem culminar no fracasso evidenciado pelos indivíduos quando perdem sua originalidade e “retornam à terra” (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

O mundo doméstico é baseado na tradição e hierarquia, no qual os indivíduos hierarquicamente superiores têm maior importância do que os subordinados. Cuja analogia que mais se assemelha a este mundo é a família liderada por figuras patriarcais, observando regras de boas maneiras, honra e respeito, em que os momentos de auge são as cerimônias familiares como casamentos e, por fim, seus fracassos são mostrados quando os indivíduos se tornam indiscretos, rudes ou traiçoeiros (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

Em seguida, o mundo da fama, segundo Boltanski e Thévenot (2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.), é definido pela opinião pública, em que os indivíduos de maior relevância detêm reconhecimento público, pela mídia, cujos momentos de teste compreendem os momentos em que os indivíduos estão imersos em seus papéis públicos e cujos fracassos ocorrem quando perdem sua imagem e caem na obscuridade.

O mundo cívico se baseia na coletividade e no bem-estar coletivo, no qual as leis e os direitos unificam os indivíduos e são melhor representados nas democracias e repúblicas, cujos momentos de auge se expressam em situações que envolvem a vontade coletiva em torno de uma causa justa nas assembleias, congressos e reuniões, nas quais o voto desempenha um papel importante. Suas falhas são apontadas quando a coletividade é fragmentada, quando as eleições são invalidadas ou quando se destacam interesses ou inspirações individuais (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

Caracterizado pela competição e rivalidade, o mundo do mercado atribui um status mais significativo àqueles que são vencedores e que têm maior riqueza. Momentos de teste ocorrem quando há uma troca mercantil cujas falhas estão associadas a perdas financeiras, pobreza e escravidão ao dinheiro. Por sua vez, o mundo industrial é definido pela ciência e tecnologia, onde os principais atributos que conferem maior relevância ao indivíduo são eficiência, produtividade e confiabilidade. A mão-de-obra é, portanto, uma condição natural e os investimentos envolvem compromissos relacionados ao desenvolvimento. Seus principais momentos de teste ocorrem quando o desempenho é medido e suas falhas são apresentadas quando há a objetivação das pessoas, vistas como instrumentos para um fim (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

O mundo verde está relacionado a argumentos ambientais. Este mundo se concentra nos princípios relativos à harmonia com a natureza, considerando que as ações ecologicamente amigáveis estão relacionadas com o bem geral da humanidade e o seu desenvolvimento. Geralmente, este mundo é usado em combinação com uma dos outros seis e aborda questões limpas ou não-poluentes, renováveis e recicláveis sustentáveis. Uma característica distinta é que o mundo verde está limitado por preocupações de tempo e espaço, pois menciona diretamente os problemas que as gerações futuras poderão enfrentar (Giulianotti & Langseth, 2016Giulianotti, R., & Langseth, T. (2016). Justifying the civic interest in sport: Boltanski and Thévenot, the six worlds of justification, and hosting the Olympic games. European Journal for Sport and Society, 13(2), 133-153.; Thévenot et al., 2000Thévenot, L., Moody, M., & Lafaye, C. (2000). Political Practice and Culture in French and American Environmental Disputes. In M. Lamont, & L. Thévenot (Eds.), Rethinking comparative cultural sociology: repertoires of évaluation in France and the United States(pp. 229-272). Cambridge, UK: Cambridge University Press.).

Em situações de disputa, não é possível selecionar apenas um mundo, pois na realidade os mundos estão situados em interações dinâmicas. Tais formas dinâmicas de lidar com diferentes mundos de justificativas em uma situação são classificadas principalmente como comprometimento e relativização. Ambas as formas compreendem tipos de evitar testes, em que o primeiro ocorre devido à vontade dos participantes de reconciliar a um princípio comum mais superior e o segundo devido à concordância dos envolvidos de que nada importa, portanto, evadindo disputas (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

Combinando ambas as teorias, é possível comparar diferentes grupos de participantes, ao mesmo tempo em que se consideram as particularidades de um determinado contexto. Uma interação com a teoria da justificação permite a análise de quais regimes de justificativas foram enfatizados, indicando quais foram os stakeholders, práticas e valores priorizados.

Considerando ambas as premissas da TS e TJ, na próxima seção discutimos como os debates ambientais podem se beneficiar de nossa proposta, retratando estudos anteriores para ilustrar a viabilidade de intersecção da TS e TJ dentro do campo de pesquisa relacionada a stakeholders. Apesar de selecionarmos um tema relacionado aos debates ambientais, outros temas também podem se beneficiar de nossa proposta, conforme discutido na seção de desenvolvimento de pesquisas futuras.

Debates ambientais: Uma aplicabilidade de interseção

Na literatura sobre TS há debates sobre a importância do meio ambiente para os stakeholders e organizações. Tanto a organização quanto seus stakeholders dependem do meio ambiente para existência e sobrevivência (Freeman et al., 2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Hörisch & Schaltegger, 2019Hörisch, J., & Schaltegger, S. (2019). Business, the Natural environment and sustainability: A Stakeholder Theory Perspective. In J. S. Harrison, J. B. Barney, E. Freeman, & R. A. Phillips (Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory(pp. 132-143). Cambridge, UK: Cambridge University Press.). Independentemente do tipo de organização, todas dependem, em maior ou menor grau, de recursos naturais. Assim, a relação entre organização e meio-ambiente é oportuna e tem sido recorrente na literatura (Hörisch & Schaltegger, 2019Hörisch, J., & Schaltegger, S. (2019). Business, the Natural environment and sustainability: A Stakeholder Theory Perspective. In J. S. Harrison, J. B. Barney, E. Freeman, & R. A. Phillips (Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory(pp. 132-143). Cambridge, UK: Cambridge University Press.).

Hörisch e Schaltegger (2019Hörisch, J., & Schaltegger, S. (2019). Business, the Natural environment and sustainability: A Stakeholder Theory Perspective. In J. S. Harrison, J. B. Barney, E. Freeman, & R. A. Phillips (Eds.), The Cambridge Handbook of Stakeholder Theory(pp. 132-143). Cambridge, UK: Cambridge University Press.) abordam esta discussão e nós nos baseamos em seus esclarecimentos para dar sustentação ao nosso argumento. Ao considerar o meio ambiente no contexto da TS, duas abordagens são enfatizadas, o meio ambiente natural: i) pode ser considerado como um stakeholder adicional ou, ii) pode ser considerado como uma preocupação compartilhada entre os stakeholders. A primeira descreve o meio ambiente como um dos stakeholders por si só, uma vez que segue a definição de Freeman (2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.); o meio ambiente é afetado e influencia as decisões e ações organizacionais. Alguns autores afirmam que o meio ambiente deve ser considerado como o mais importante stakeholder de uma organização (Driscoll & Starik, 2004Driscoll, C., & Starik, M. (2004). The primordial stakeholder: Advancing the conceptual consideration of stakeholder status for the natural environment. Journal of Business Ethics, 49, 55-73. Retrieved from https://doi.org/10.1023/B:BUSI.0000013852.62017.0e
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). A segunda abordagem considera uma perspectiva na qual o meio ambiente natural não atende aos critérios de agência humana incorporados na definição de Freeman (2010)Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.. No entanto, deve ser considerado como uma preocupação primária entre as organizações e os stakeholders. Este artigo adere a esta percepção.

Independentemente da abordagem adotada, há benefícios em se incluir o meio ambiente nos debates da TS, uma vez que ambas as abordagens estão relacionadas à melhoria do meio ambiente, aplicando o princípio da TS de não recorrer a tradeoffs. Em outras palavras, os stakeholders influenciam as medidas de sustentabilidade e podem promover soluções para os problemas ambientais.

Por outro lado, a TJ defende que os atores, ou seja, os stakeholders e o meio ambiente, em situações de disputa, regidos pela observância de um princípio comum superior, a sustentabilidade, empregam justificativas nas negociações para chegar a uma situação de acordo (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.). Portanto, a TJ é também um modelo aplicável para analisar questões ambientais.

Dessa forma, selecionamos três estudos sobre debates ambientais para lançar alguma luz sobre diferentes possibilidades de aplicação de nossa proposta de interseção.

Teoria da justificação na análise sociocultural do valor do peixe e da pesca: o caso do salmão do Báltico

O estudo de Ignatious e Haapasaari (2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.) utilizou a TJ para identificar os valores (os atributos) socioculturais relacionados com o estudo de caso do salmão do Báltico, proporcionando uma discussão sobre a governança e gestão da pesca. Os recursos provenientes da pesca têm significados diferentes para a sociedade, na qual se analisa a observação dos mundos de valor divergentes do bem comum.

O bem comum pode ser visto de diferentes maneiras pelos stakeholders, o que leva a problemas de legitimidade da governança. Os autores, então, analisaram discursos e ações que foram adotadas na situação por governantes, pescadores comerciais e recreativos, ONGs ambientais, pesquisadores, moradores e ribeirinhos (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

As duas principais premissas deste estudo são as seguintes: i) os mundos de valor são contextualizados na gestão das tomadas de decisão uma vez que são influenciados pela visão global dos stakeholders envolvidos em tais processos; e, também, ii) os mundos de valor ocorrem nos procedimentos de governança, pois estes ocorrem na realização das decisões, havendo uma interdependência entre os atores e as estruturas criadas por eles (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

São estabelecidas ligações entre as TS e TJ quando se destaca que o conhecimento específico sobre os valores que os stakeholders possuem e incorporam nos processos de tomada de decisão é de extrema importância, pois tal conhecimento resulta no fortalecimento de práticas de gestão como, por exemplo, a negociação de objetivos, e proporciona decisões executadas de forma mais satisfatória - e sustentável. Entretanto, identificar e analisar esses valores é um desafio tanto para os gestores quanto para os pesquisadores (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

Sua análise aplica sete mundos de valor. O mundo verde foi incluído pois estava entrelaçado com os comportamentos dos stakeholders envolvidos. Em resumo, os mundos foram configurados da seguinte forma em relação ao salmão do Báltico: i) o mundo cívico estava relacionado à centralidade das práticas de gestão justa, ii) o mundo verde foi visto como o portador de vários valores ecológicos, iii) o mundo doméstico foi representado como parte da herança nórdica e também como a tradição de trabalho relacionada à pesca, iv) o mundo da inspiração foi caracterizado por apegos emocionais e importância recreativa, v) o mundo da fama estava relacionado à importância simbólica que o salmão do Báltico tem para os stakeholders, vi) o mundo do mercado se referiu ao valor econômico do salmão e, vii) o mundo industrial cujo foco foi a diminuição da importância relativa aos recursos de produção (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

Os autores concluíram que o entendimento sobre as razões e valores da pesca para diferentes stakeholders contribuíram para a formulação de decisões com as quais os stakeholders puderam concordar. A TJ enfatizou o poder dos bons argumentos em contraponto com a influência exercida por atores poderosos. O que implica em que os stakeholders analisem o que é mais benéfico para todos e adaptem seus interesses observando o bem comum, o que por sua vez confere legitimidade e maior aceitabilidade às suas ações, promovendo práticas de governança sustentáveis (Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

Manutenção da legitimidade: controvérsias, mundos de valor e justificativas públicas

Centrado no estudo de caso do acidente nuclear ocorrido na Alemanha envolvendo a empresa sueca Vattenfall, Patriotta et al. (2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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) empregam a TJ para analisar como diferentes stakeholders agem através de discursos públicos para manter a legitimidade das instituições que são relevantes aos seus interesses.

Documentos públicos foram analisados, principalmente aqueles relacionados à cobertura que foi feita pela mídia. Como os discursos de justificativas ocorreram na esfera pública, evidenciando o papel central da mídia em nossa sociedade. A mídia foi considerada como um dos stakeholders analisados. Outros stakeholders envolvidos na disputa foram: a empresa Vattenfall, agentes políticos, ONGs e cidadãos.

Os autores então descrevem como ocorreu a dinâmica dos discursos de mundos de valor e como foi modificada durante a controvérsia. Debates de origem econômica, política, social e cultural surgiram durante o processo e foram analisados de forma diferente, observando-se os tipos de mundos que se destacaram. Eles demonstraram como, durante uma disputa pública, os stakeholders empregaram o mesmo mundo de valor para justificar uma posição ou o seu contrário, direcionando, dessa forma, o debate público baseado em seus interesses (Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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).

Em resumo, as justificativas do mundo industrial - relacionadas a argumentos tecnológicos e científicos - foram utilizadas para defender a empresa em relação a este episódio, em detrimento de aspectos políticos e sociais. Durante a controvérsia foram identificados stakeholders a favor e contra o uso da energia nuclear e que modificaram seus discursos de acordo com a situação, visando sempre tornar suas posições mais relevantes em termos sociais, buscando argumentar por um alinhamento com os princípios do bem comum (Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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).

Portanto, ao mobilizar princípios de bem comum de ordem superior, os stakeholders conseguiram chegar a um resultado e manter a legitimidade da empresa Vattenfall e o uso da energia nuclear. As assimetrias de poder e legitimidade desempenharam um papel importante neste episódio, no qual as stakeholders mais poderosos puderam ser “mais ruidosos” do que outros ao reivindicar suas legitimidades (Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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).

Regimes de justificação: argumentos conflitantes e a construção de legitimidade nas práticas de conservação ambiental na Holanda

Este estudo avaliou as práticas de conservação ambiental na Holanda através de argumentos que as legitimaram ou as invalidaram. O trabalho ressalta que referente aos debates ambientais, a questão não é apenas promover a participação dos stakeholders. É também necessário o envolvimento da validação dos argumentos utilizados, para demonstrar o nível de participação real dos stakeholders, assim como os resultados obtidos no processo (Arts et al., 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
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).

Para este fim, duas regiões geográficas foram escolhidas para a análise. Estes eram lugares nos quais a comunidade estava engajada em protestos organizados contra a implementação de planos de conservação ambiental liderados por organizações de conservação. A unidade de análise concentrou-se nas contestações e negociações dos stakeholders envolvidos (Arts et al., 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
https://doi.org/10.1080/09640568.2017.13...
).

As particularidades deste trabalho podem ser simplificadas da seguinte forma: i) em ambos os casos, os atores críticos tornaram-se reconhecidos como stakeholders relevantes, participando ativamente das discussões; ii) dos mundos utilizados nos regimes de justificação, quatro se destacaram: o doméstico, o industrial, o da inspiração e o verde; dos dois mundos restantes, o cívico não foi utilizado explicitamente, mas seus atributos estavam implícitos para todos, e o de mercado raramente foi utilizado porque seus argumentos foram considerados inválidos nas discussões que ocorreram e também para a legitimidade dos stakeholders e, iii) houve uma assimetria de influência e participação entre os grupos de stakeholders, em que os argumentos que se baseavam na eficiência técnica, nas questões emocionais e de inspiração não eram suficientemente versáteis nos momentos de aproximação quando o princípio do bem comum estava em jogo (Arts et al., 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
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).

Os stakeholders, comunidades locais (residentes), organizações de conservação da natureza e agências governamentais, não estavam dispostos a modificar suas justificativas para chegar a um comprometimento. Além disso, algumas justificativas - relacionadas ao mundo da inspiração - foram deslegitimadas. Tal percepção indica que também pode haver uma hierarquia de importância (legitimidade) dos mundos de valor em uma dada situação. A eficácia do resultado alcançado depende da legitimidade das justificativas empregadas pelos stakeholders (Arts et al., 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
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).

Síntese: Como os estudos de caso analisados esclarecem interseções entre as TS e TJ?

Em primeiro lugar, as possibilidades de aplicação de nossa proposta não se limitam a situações relacionadas ao meio ambiente, embora os três artigos descritos neste estudo estejam relacionados a questões ambientais. No entanto, eles nos permitem identificar intersecções entre as TS e TJ.

Segundo, com base nos estudos analisados, observamos que nossa proposta pode ser metodologicamente aplicada das seguintes formas: i) na escolha de um estudo de caso ou estudos de múltiplos casos, ii) na listagem dos stakeholders que serão considerados dentro do estudo e, iii) na codificação das justificativas de cada stakeholder com base na análise dos mundos de valor. Além disso, nossa proposta incentiva a análise em nível organizacional ou grupal, uma vez que as justificativas a serem analisadas dizem respeito ao posicionamento de grupos ou organizações em uma determinada situação de disputa. O Quadro 1 sintetiza os tópicos centrais dos três estudos.

Em terceiro lugar, o modelo da TJ permite a investigação de mundos de valor conflitantes empregadas por atores distintos, aqui nomeados como stakeholders, dentro da realidade organizacional. Estes artigos demonstram aplicações de pesquisas viáveis que investigam uma pluralidade de controvérsias entre diferentes grupos de stakeholders e tipos de organizações. Em outras palavras, como esses grupos negociaram e priorizaram justificativas para chegar a um acordo ou comprometimento entre as partes envolvidas.

Por fim, a análise e as conclusões dos três artigos diferem e apresentam possibilidades como modelos de réplica para pesquisas futuras, particularmente em relação a situações de debates públicos em que as práticas são questionadas e os atores se engajam em negociações sobre cursos de ação, tentando chegar a acordos (Giulianotti & Langseth, 2016Giulianotti, R., & Langseth, T. (2016). Justifying the civic interest in sport: Boltanski and Thévenot, the six worlds of justification, and hosting the Olympic games. European Journal for Sport and Society, 13(2), 133-153.; Gladarev & Lonkila, 2013Gladarev, B., & Lonkila, M. (2013). Justifying Civic Activism in Russia and Finland. Journal of Civil Society, 9(4), 375-390. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1080/17448689.2013.844450
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; Jagd, 2011Jagd, S. (2011). Pragmatic sociology and competing orders of worth in organizations. European Journal of Social Theory, 14(3), 343-359. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1368431011412349
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; Ylä-Anttila & Luhtakallio, 2016Ylä-Anttila, T., & Luhtakallio, E. (2016). Justifications analysis: Understanding moral evaluations in public debates. Sociological Research Online, 21(4), 1-15. Retrieved from https://doi.org/10.5153/sro.4099
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).

Quadro 1
Síntese dos três estudos analisados

Por exemplo, seria interessante replicar o estudo de Patriotta et al. (2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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) em outros acidentes nucleares e de radiação em países menos desenvolvidos para comparar como os stakeholders justificam a legitimidade da energia nuclear em diferentes culturas. O mesmo se aplica aos outros dois estudos. Seria intrigante comparar como as organizações fornecem justificativas para manter sua legitimidade em casos de acidentes ou desastres ambientais (por exemplo, derramamento de petróleo, contaminação do solo ou do ar) em diferentes partes do mundo para analisar se eles são semelhantes ou não.

Além disso, é importante enfatizar que os mundos de valor são vinculados a disputas. Portanto, as justificativas relacionadas a um mundo são dinâmicas e mudam em uma determinada situação. Em suma, estes estudos também ilustram que - de forma semelhante a TS - o modelo da TJ destaca os pilares descritivos, instrumentais e normativos para analisar a relação organização-stakeholder (ver Donaldson & Preston, 1995Donaldson, T., & Preston, L. E. (1995). The stakeholder theory of the corporation. The Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/amr.1995.9503271992
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). Para fundamentar a intersecção proposta, o Quadro 2 resume comparações dos conceitos fundamentais de ambas as teorias.

Quadro 2
Intersecções entre as TS e TJ

O Quadro 2 apresenta tópicos centrais da TS e da TJ por meio de comparações entre fundamentos teóricos e questões centrais, bem como premissas, entendimentos sobre agência e mentalidade dos seres, saliência dos stakeholders e disputas que podem elucidar conexões pelas quais a TS e a TJ podem dialogar.

Por exemplo, i) ambas fundamentam seus estudos em premissas pluralistas, nas quais a realidade social é promulgada por múltiplos atores e interesses, ii) ambas reconhecem um papel ativo dos atores, ou seja, sua competência cognitiva para se engajar em críticas ao lidar com situações de disputa, nas quais para ambas as teorias, baseadas em princípios morais, os atores buscam um resultado benéfico da situação, ambas reconhecem assimetria em relação aos interesses e ações dos atores e iii) ambas compartilham um discernimento semelhante em relação a situações de disputa que emergem de contextos pluralistas.

Na próxima seção, discutimos o porquê da relevância da nossa proposta, explorando as contribuições teóricas e práticas esperadas, ao mesmo tempo em que apresentamos suas limitações e propomos futuros desenvolvimentos de pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: POR QUE ESSA INTERSEÇÃO INTERDISCIPLINAR É RELEVANTE E O QUE ESPERAMOS ALCANÇAR AO PROPÔ-LA?

A ideia deste artigo surgiu após a leitura dos textos seminais da TS de autoria de Freeman, como uma possibilidade de aprofundar o escopo explicativo da teoria. O formato de ensaio teórico foi escolhido por ser uma abordagem útil para ampliar a discussão interdisciplinar que propomos, incentivando o desenvolvimento e aprimoramento futuro do tema e da interação proposta (Bertero, 2011Bertero, C. O. (2011). Réplica 2 - o que é um ensaio teórico? Réplica a Francis Kanashiro Meneghetti. Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 338-342.; Meneghetti, 2011Meneghetti, F. K. (2011). O que é um ensaio-teórico?Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 320-332. Retrieved from https://doi.org/10.1590/s1415-65552011000200010
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). A TJ pode ser utilizada para entender o modo como os stakeholders engajam-se em debates públicos a fim de administrar disputas, mantendo a legitimidade das instituições das quais fazem parte (Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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).

Assim, a proposta deste ensaio foi de apresentar uma abordagem alternativa que possa auxiliar os gestores a identificar, analisar e alinhar os interesses desses grupos de stakeholders com os da organização, para que a empresa tenha melhor desempenho. Trata-se de uma perspectiva relevante também para os pesquisadores, auxiliando-os a interpretar justificativas adotadas por múltiplos atores (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Freeman, 2010bFreeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. (2010). The Stakeholder Theory: The state of the art. Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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; Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Perspectives, 22(4), 853-886. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1997.9711022105
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; Schneider & Sachs, 2017Schneider, T., & Sachs, S. (2017). The Impact of Stakeholder Identities on Value Creation in Issue-Based Stakeholder Networks. Journal of Business Ethics, 144(1), 41-57. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2845-4
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).

A presente proposta aplica-se para a análise de disputas, ou seja, de debates públicos ou controvérsias, que emergem em contextos sociais. Tais situações tendem a ocorrer em cenários incertos e complexos, onde a análise das justificativas esclarece e contribui para a interpretação dos interesses de stakeholders. Argumentamos que o alinhamento de interesses é benéfico em uma disputa e promove relações sustentáveis entre as partes envolvidas, contribuindo para desempenhos organizacionais positivos (Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Ignatius & Haapasaari, 2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.).

Implicações teóricas

Pesquisa sobre as interações de gestores com stakeholders tem florescido devido à crescente interdependência entre as empresas e a sociedade (Mascena & Stocker, 2020Mascena, K., & Stocker, F. (2020). Stakeholder Management: State of the Art and Perspectives. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, 12(1), 1-30. Retrieved fromhttps://doi.org/https://doi.org/10.24023/FutureJournal/2175- 5825/2020.v12i1.490
https://doi.org/10.24023/FutureJournal/2...
). A literatura existente sobre a importância e o engajamento dos stakeholders tem focado em um conjunto de temas: i) questões relativas a poder, legitimidade e urgência (Magness, 2008Magness, V. (2008). Who are the stakeholders now? An empirical examination of the Mitchell, Agle, and Wood theory of stakeholder salience. Journal of Business Ethics, 83(2), 177-192. https://doi.org/10.1007/s10551-007-9610-2
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; Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Perspectives, 22(4), 853-886. Retrieved from https://doi.org/10.5465/amr.1997.9711022105
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; Wood et al., 2018Wood, D. J., Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Bryan, L. M. (2018). Stakeholder Identification and Salience After 20 Years: Progress, Problems, and Prospects. Business and Society, 1-50. Retrieved from https://doi.org/10.1177/0007650318816522
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), ii) aspectos sobre o alinhamento entre organização e stakeholders e iii) no engajamento de stakeholders para criação de valor para os envolvidos (Bundy et al., 2018Bundy, J., Vogel, R. M., & Zachary, M. A. (2018). Organization-stakeholder fit: A dynamic theory of cooperation, compromise, and conflict between an organization and its stakeholders. Strategic Management Journal, 39(2), 476-501. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2
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; Kimiagari et al., 2013Kimiagari, S., Keivanpour, S., Mohiuddin, M., & Van Horne, C. (2013). The Cooperation Complexity Rainbow: Challenges of Stakeholder Involvement in Managing Multinational Firms. International Journal of Business and Management, 8(22), 50-64. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5539/ijbm.v8n22p50
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; Sulkowski et al., 2018Sulkowski, A. J., Edwards, M., & Freeman, R. E. (2018). Shake Your Stakeholder: Firms Leading Engagement to Cocreate Sustainable Value. Organization and Environment, 31(3), 223-241. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1086026617722129
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). Encontrar uma base comum com a TJ possibilita o estudo de disputas imersas em contextos de incertezas e complexidade e a interação entre organizações e stakeholders.

Nosso ensaio responde à necessidade de discutir como os gestores - e organizações - coordenam e se envolvem com stakeholders com valores e necessidades muitas vezes conflitantes, especialmente em situações de disputa (Bundy et al., 2018Bundy, J., Vogel, R. M., & Zachary, M. A. (2018). Organization-stakeholder fit: A dynamic theory of cooperation, compromise, and conflict between an organization and its stakeholders. Strategic Management Journal, 39(2), 476-501. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2
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).

A fim de demonstrar como as duas teorias podem ser combinadas, desenvolvemos um conjunto de proposições que surgem de nossa discussão anterior sobre a intersecção entre a TJ e a TS e que podem inspirar futuros trabalhos e desenvolvimentos teóricos.

Primeiro, com base nos fundamentos da TJ, sugerimos a seguinte proposição que poderia ser aplicada para entender o comportamento de stakeholders no contexto de uma disputa, tais como nas situações descritas nos casos analisados.

Proposição 1 Em uma disputa pública, é provável que os stakeholders justifiquem as suas posições e argumentos com base nos mundos de valor que priorizam. Esses mundos de valor são apresentados como um meio para alcançar o bem comum.

Além disso, como mostrado por Patriotta et al. (2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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), para aumentar a eficácia das justificativas, ou seja, para permitir a realização de objetivos, os stakeholders tentam alinhar os seus interesses com o bem comum. Dessa forma, nós propomos:

Proposição 2 Em uma disputa pública, as justificativas dos stakeholders são suscetíveis de alcançar maior eficácia quando são percebidas como coerentes com princípios comuns superiores do bem comum.

Os mundos de valor da TJ possuem princípios superiores de valor distintos, que por sua vez, são baseados no conceito de “bem comum”. O conceito de bem comum integra o que é útil a todas as pessoas, à sociedade como um todo (Argandoña, 1998Argandoña, A. (1998). The stakeholder theory and the common good. Journal of Business Ethics, 17(9-10), 1093-1102. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1023/A:1006075517423
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) e que possibilita associações entre seres (Boltanski & Thévenot, 2006Boltanski, L., & Thévenot, L. (2006). On Justification: Economies of Worth. Princeton, NJ: Princeton University Press.).

Ademais, deve-se observar que os mundos de valor não são estáticos ou imutáveis. Eles podem mudar enquanto a disputa avança e são vinculados ao contexto em que ocorrem. Assim, assimetrias de poder podem influenciar o modo como ocorre a priorização dos mundos de valor. Com base nos estudos analisados, seria proveitoso aplicar nossa proposta de analisar os impactos das assimetrias de poder e os testes de legitimidade nas controvérsias (Arts et al., 2018Arts, I., Buijs, A. E., & Verschoor, G. (2018). Regimes of justification: competing arguments and the construction of legitimacy in Dutch nature conservation practices. Journal of Environmental Planning and Management, 61(5-6), 1070-1084. Retrieved fromhttp://dx.doi.org/10.1080/09640568.2017.1319346
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; Patriotta et al., 2011Patriotta, G., Gond, J.-P., & Schultz, F. (2011). Maintaining legitimacy: Controversies, orders of worth, and public justifications. Journal of Management Studies, 48(8), 1804-1836. Retrieved from https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00990.x
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). Isto leva às proposições 3 e 4:

Proposição 3 Em uma disputa pública, organizações e/ou stakeholders poderosos utilizam justificativas para tentar defender sua a legitimidade, podendo ser consideradas mais importantes ou a única que é legítima em uma controvérsia.

Proposição 4 Em uma disputa pública, organizações e/ou stakeholders menos poderosos empregam justificativas que tentam fragilizar a legitimidade de seus oponentes, podendo ser consideradas menos importantes ou não legítimas em uma controvérsia.

No entanto, há situações em que, apesar das partes envolvidas terem diferentes níveis de poder e capacidade de influência, stakeholders e organizações podem chegar a um acordo construído a partir da negociação de interesses. Como ficou evidente no estudo de Ignatius e Haapasaari (2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.), quando os atores empregam justificativas em consonância com princípios superiores de bem comum e assimetrias de poder, o resultado das negociações tem maior aceitabilidade pelas partes envolvidas. Isto leva às proposições 5 e 6:

Proposição 5 Em uma determinada situação, a assimetria de poder pode ser desconsiderada entre as partes envolvidas e justificativas podem ser empregadas para evocar um bem comum.

Proposição 6 Quando se chega a um acordo observando o bem comum, abordando os interesses dos stakeholders e das organizações, o resultado de uma disputa é considerado mais aceitável e promove relações sustentáveis entre os stakeholders e a organização.

Por fim, nossa proposta defende uma lente alternativa para auxiliar os gestores nos desafios relacionados à identificação e envolvimento dos stakeholders. Ao interpretar as justificativas de partes interessadas, os gestores podem identificar, analisar e alinhar os interesses desses grupos com os da organização. Este tema revela a nossa proposição final:

Proposição 7 Em uma controvérsia pública, ao avaliar as justificativas que surgem, os gestores podem identificar os stakeholders, interpretar os seus interesses e, assim, engajar-se ativamente e negociar com eles.

Tal combinação pode ocorrer de diferentes formas para fornecer explicações adicionais sobre os fenômenos organizacionais, ampliando o poder de explicação da TS. As disciplinas têm sido capazes de aprender umas com as outras e o conceito de stakeholder é suficientemente amplo para esforços colaborativos. Uma outra contribuição de tal intersecção seria de ampliar os debates morais nas pesquisas relacionadas à stakeholders, ou seja, relacionado a práticas éticas de gestão de stakeholders (Fontrodona et al., 2018Fontrodona, J., Ricart, J. E., & Berrone, P. (2018). Ethical Challenges in Strategic Management: The 19th IESE International Symposium on Ethics, Business and Society. Journal of Business Ethics, 152(4), 887-898. Retrieved from https://doi.org/10.1007/s10551-018-3825-2
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; Harrison et al., 2015Harrison, J. S., Freeman, R. E., & Abreu, M. C. S. (2015). Stakeholder theory as an ethical approach to effective management: Applying the theory to multiple contexts. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, 17(55), 858-869. Retrieved from https://doi.org/10.7819/rbgn.v17i55.2647
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; Parmar et al., 2010Parmar, B. L., Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Purnell, L., & Colle, S. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. The Academy of Management Annals, 4(1), 403-445. Retrieved fromhttps://doi.org/10.5465/19416520.2010.495581).

A TJ já foi utilizada em outras áreas de estudo, tais como saúde pública, estudos sobre responsabilidade e estudos críticos. Cabe mencionar que tal intersecção dentro de pesquisas relacionadas à stakeholders já foi feita em alguns estudos europeus, reforçando o argumento de que as vantagens surgem deste diálogo (Jagd, 2011Jagd, S. (2011). Pragmatic sociology and competing orders of worth in organizations. European Journal of Social Theory, 14(3), 343-359. Retrieved from https://doi.org/10.1177/1368431011412349
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). Em suma, respondendo à questão de como a TJ pode complementar a TS, observamos que as intersecções entre TS e TJ podem se desdobrar nas seguintes possibilidades:

  1. Aprofundar a compreensão dos mecanismos normativos e morais envolvidos nas relações entre organização e stakeholders, através da identificação de mundos de valor priorizadas durante situações de disputa;

  2. Avançar na identificação da importância dos stakeholders também para considerar a “diversidade de mundos”, mostrando a interação entre poder e assimetrias de legitimidade dentro da negociação de diferentes mundos de valor;

  3. Fornecer uma estrutura alternativa para analisar casos de (re)construção de legitimidade durante e após situações de disputa e,

  4. Incluir o modelo da TJ na análise dos stakeholders, por profissionais e pesquisadores, o que traz novas possibilidades metodológicas.

Embora não forneçamos uma lista exaustiva de aplicações futuras, esperamos que desta discussão surjam reflexões sobre a intersecção de duas teorias e que ela possa fomentar estudos futuros usando tala abordagem.

Implicações e limitações práticas

Nossa proposta tem implicações práticas para os gestores - e stakeholders - que tentam estabelecer relações sustentáveis com seus stakeholders, ao mesmo tempo em que criam valor para as partes envolvidas. A sobrevivência e o desempenho organizacional dependem do alinhamento entre a organização e seus stakeholders. Dessa forma, os gestores devem considerar múltiplas expectativas e interesses (Bundy et al., 2018Bundy, J., Vogel, R. M., & Zachary, M. A. (2018). Organization-stakeholder fit: A dynamic theory of cooperation, compromise, and conflict between an organization and its stakeholders. Strategic Management Journal, 39(2), 476-501. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2
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).

Ao interpretar as justificativas dos stakeholders, os gestores podem avaliar a importância das reivindicações em uma determinada situação, a fim de avaliar seus interesses e, assim, negociar com eles enquanto buscam um alinhamento com todas as partes envolvidas. Já foi sugerido na literatura que “[...] os gestores que desejam fomentar relações positivas com os stakeholders devem se concentrar no alinhamento de seus valores e prioridades [...]” (Bundy et al., 2018Bundy, J., Vogel, R. M., & Zachary, M. A. (2018). Organization-stakeholder fit: A dynamic theory of cooperation, compromise, and conflict between an organization and its stakeholders. Strategic Management Journal, 39(2), 476-501. Retrieved from https://doi.org/10.1002/smj.2
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, p. 476). Nossa proposta ilustra uma maneira possível de conseguir tal alinhamento. Além disso, ao interpretar justificativas, é possível prever, até certo ponto, decisões ou ações futuras relacionadas a questões específicas (Mills, 1940Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, 5(6), 904-913. Retrieved from https://doi.org/10.4324/9780203787120; Schneider & Sachs, 2017Schneider, T., & Sachs, S. (2017). The Impact of Stakeholder Identities on Value Creation in Issue-Based Stakeholder Networks. Journal of Business Ethics, 144(1), 41-57. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2845-4
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).

Embora questões ambientais tenham demonstrado ser um tema frutífero, nossa proposta não se limita a este tópico; outras questões relacionadas a controvérsias públicas são oportunas, tais como má-conduta, acidentes, desastres (ver Perkiss & Moerman, 2020Perkiss, S., & Moerman, L. (2020). Hurricane Katrina: Exploring justice and fairness as a sociology of common good(s). Critical Perspectives on Accounting, 67(102022). Retrieved from https://doi.org/10.1016/j.cpa.2017.11.002
https://doi.org/10.1016/j.cpa.2017.11.00...
). Debates públicos ou disputas são requisitos obrigatórios para a aplicação de nossa proposta pois, diante de tal contexto, stakeholders obrigatoriamente empregam justificativas.

Outrossim, outras limitações incluem os limites teóricos da intersecção entre a TS e a TJ. Por um lado, a TS argumenta que as organizações e os stakeholders frequentemente têm interesses conflitantes, mas devem procurar alinhar tais interesses. Tal alinhamento levaria a um melhor desempenho organizacional (Barney & Harrison, 2020Barney, J. B., & Harrison, J. S. (2020). Stakeholder Theory at the Crossroads. Business and Society, 59(2), 203-212. Retrieved fromhttps://doi.org/10.1177/0007650318796792
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; Crane, 2020Crane, B. (2020). Revisiting who, when, and why stakeholders matter: Trust and stakeholder connectedness. Business & Society, 59(2), 263-286.; Freeman, 2004Freeman, R. E. (2004). The stakeholder approach revisited. Zeitschrift Für Wirtschafts- Und Unternehmensethik, 5(3), 228-241. Retrieved from https://doi.org/10.5771/1439-880x-2004-3-228
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; Harrison et al., 2015). Portanto, a TS é elaborada em premissas que consideram assimetrias de poder e legitimidade entre as partes envolvidas. Por outro lado, para a TJ, assimetrias de poder e legitimidade podem desempenhar um papel em situações de disputa, mas a negociação entre os atores envolvidos pode mitigar tais assimetrias dependendo da situação, como ficou evidente nas conclusões de Ignatius e Haapasaari (2018Ignatius, S., & Haapasaari, P. (2018, February). Justification theory for the analysis of the socio-cultural value of fish and fisheries: The case of Baltic salmon. Marine Policy, 88, 167-173.). Estudos futuros podem testar nossas proposições a fim de contribuir para a intersecção proposta.

Na realidade social, especialmente em situações de disputa, os atores se envolvem em interações empregando justificativas para negociar e barganhar interesses e assim alcançar um alinhamento/coordenação de atividades (Thévenot, 2002Thévenot, L. (2002). Conventions of co-ordination and the framing of uncertainty. In E. Fullbrook (Ed.), Intersubjectivity in Economics: Agents and Structures(pp. 181-197). London, UK: Routledge.).

Esperamos que nossa proposta promova ideias de aplicação futura sobre a compreensão de justificativas observadas no relacionamento entre organização-stakeholders em situações de controvérsias públicas.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer aos revisores anônimos e aos participantes da EnANPAD 2020 por todos os seus comentários que contribuíram durante as diferentes etapas de desenvolvimento deste artigo. Agradecemos o apoio Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES - Brasil) na forma de bolsa de mestrado para Helna Almeida de Araujo Góes sob o código de financiamento 001.

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    O termo deriva da sociologia interpretativa e está relacionado à visão de que as organizações são sistemas construídos (por meio de interações) de significados compartilhados (Smircich & Stubbart, 1985).
  • [Versão traduzida]

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    13 Ago 2020
  • Aceito
    08 Dez 2020
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