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ENXERTIA DE COFFEA ARABICA SOBRE PROGÊNIES DE C. CANEPHORA E DE C. CONGENSIS NO CRESCIMENTO, NUTRIÇÃO MINERAL E PRODUÇÃO

GRAFTS OF COFFEA ARABICA ONTO C. CANEPHORA AND C. CONGENSIS AND ITS EFFECTS ON GROWTH, MINERAL NUTRITION AND YIELD

Resumos

A enxertia de cultivares de Coffea arabica L. sobre Coffea canephora Pierre vem sendo utilizada como alternativa para o cultivo do café em áreas infestadas por nematóides, em vista da resistência de C. canephora a esse patógeno. O objetivo deste trabalho foi estudar no campo, em áreas isentas de nematóides, o desenvolvimento da parte aérea, a nutrição mineral e a produção de cultivares de C. arabica enxertados sobre C. canephora e C. congensis. Em 1986 , instalaram-se experimentos em três regiões cafeeiras paulistas - Campinas, Garça e Mococa - no espaçamento de 3,5 x 2,0 m, com duas plantas por cova. Como porta-enxerto, utilizaram-se duas progênies de C. canephora (Apoatã IAC 2258 e IAC 2286) e uma de C. congensis (IAC Bangelan coleção 5), tolerantes a nematóides e, como enxerto, dois cultivares de C. arabica (Catuaí Vermelho IAC H 2077-2-5-81 e Mundo Novo IAC 515-20). Também se efetuaram auto-enxertias no Catuaí e no Mundo Novo e, como testemunhas, consideraram-se plantas desses cultivares não enxertadas. Os dados mostraram que, mesmo na ausência de nematóides, a utilização de progênies de C. canephora e de C. congensis como porta-enxerto conferiu maior desenvolvimento e produção (médias de cinco anos) aos cultivares de C. arabica, sendo esse efeito mais acentuado no 'Catuaí'. O crescimento sazonal em altura, em todos os tratamentos, foi maior na primavera e no verão e menor no outono e no inverno. De modo geral, a enxertia aumentou o crescimento em altura em todas as estações do ano, principalmente no outono e no inverno. As plantas enxertadas apresentaram maiores teores foliares de potássio e menores de manganês, em relação às não enxertadas. A enxertia não alterou de modo consistente os teores dos demais nutrientes.

enxertia; crescimento; produção; nutrição mineral; café; Coffea arabica; C. canephora; C. congensis.


Grafts of Coffea arabica L. onto C. canephora Pierre have been routinely used in regions infested with nematodes, due to the resistance of C. canephora to these pathogens. In the present work, growth, mineral nutrition and yield of two C. arabica cultivars grafted on C. canephora and C. congensis were evaluated in fields free from nematodes, in three coffee growing regions of São Paulo State, Brazil. Catuaí Vermelho IAC H 2077-2-5-81 and Mundo Novo IAC 515-20 (two cultivars of C. arabica) were grafted on nematode resistant lines Apoatã IAC 2258 and IAC 2286 of C. canephora and on IAC Bangelan colection 5 of C. congensis. Plants not grafted were used as controls, and plants grafted onto their own roots were also evaluated. Grafted cultivars after five years grew better and had higher yield than the ungrafted ones, specially the Catuaí cultivar. Seasonal growth (plant height) was faster during spring and summer, for all treatmentes. In general, grafting increased height throughout the year, mainly during fall and winter seasons. Leaves of grafted plants had higher potassium and lower manganese content than ungrafted ones. Levels of other nutrients were not consistently affected by grafting.

grafting; growth; crop yield; mineral nutrition; coffee; Coffea arabica; C. canephora; C. congensis


ENXERTIA DE COFFEA ARABICA SOBRE PROGÊNIES DE C. CANEPHORA E DE C. CONGENSIS NO CRESCIMENTO, NUTRIÇÃO MINERAL E PRODUÇÃO(1) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998.

JOEL IRINEU FAHL(2, 5) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998. , MARIA LUIZA CARVALHO CARELLI(2, 5) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998. , PAULO BOLLER GALLO(3) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998. , WALDIR MARQUES DA COSTA(4) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998. e MARIA DO CARMO DE SALVO SOARES NOVO(2) (1) Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998.

RESUMO

A enxertia de cultivares de Coffea arabica L. sobre Coffea canephora Pierre vem sendo utilizada como alternativa para o cultivo do café em áreas infestadas por nematóides, em vista da resistência de C. canephora a esse patógeno. O objetivo deste trabalho foi estudar no campo, em áreas isentas de nematóides, o desenvolvimento da parte aérea, a nutrição mineral e a produção de cultivares de C. arabica enxertados sobre C. canephora e C. congensis. Em 1986 , instalaram-se experimentos em três regiões cafeeiras paulistas - Campinas, Garça e Mococa - no espaçamento de 3,5 x 2,0 m, com duas plantas por cova. Como porta-enxerto, utilizaram-se duas progênies de C. canephora (Apoatã IAC 2258 e IAC 2286) e uma de C. congensis (IAC Bangelan coleção 5), tolerantes a nematóides e, como enxerto, dois cultivares de C. arabica (Catuaí Vermelho IAC H 2077-2-5-81 e Mundo Novo IAC 515-20). Também se efetuaram auto-enxertias no Catuaí e no Mundo Novo e, como testemunhas, consideraram-se plantas desses cultivares não enxertadas. Os dados mostraram que, mesmo na ausência de nematóides, a utilização de progênies de C. canephora e de C. congensis como porta-enxerto conferiu maior desenvolvimento e produção (médias de cinco anos) aos cultivares de C. arabica, sendo esse efeito mais acentuado no 'Catuaí'. O crescimento sazonal em altura, em todos os tratamentos, foi maior na primavera e no verão e menor no outono e no inverno. De modo geral, a enxertia aumentou o crescimento em altura em todas as estações do ano, principalmente no outono e no inverno. As plantas enxertadas apresentaram maiores teores foliares de potássio e menores de manganês, em relação às não enxertadas. A enxertia não alterou de modo consistente os teores dos demais nutrientes.

Termos de indexação: enxertia, crescimento, produção, nutrição mineral, café, Coffea arabica, C. canephora, C. congensis.

ABSTRACT

GRAFTS OF COFFEA ARABICA ONTO C. CANEPHORA AND C. CONGENSIS AND ITS EFFECTS ON GROWTH, MINERAL NUTRITION AND YIELD

Grafts of Coffea arabica L. onto C. canephora Pierre have been routinely used in regions infested with nematodes, due to the resistance of C. canephora to these pathogens. In the present work, growth, mineral nutrition and yield of two C. arabica cultivars grafted on C. canephora and C. congensis were evaluated in fields free from nematodes, in three coffee growing regions of São Paulo State, Brazil. Catuaí Vermelho IAC H 2077-2-5-81 and Mundo Novo IAC 515-20 (two cultivars of C. arabica) were grafted on nematode resistant lines Apoatã IAC 2258 and IAC 2286 of C. canephora and on IAC Bangelan colection 5 of C. congensis. Plants not grafted were used as controls, and plants grafted onto their own roots were also evaluated. Grafted cultivars after five years grew better and had higher yield than the ungrafted ones, specially the Catuaí cultivar. Seasonal growth (plant height) was faster during spring and summer, for all treatmentes. In general, grafting increased height throughout the year, mainly during fall and winter seasons. Leaves of grafted plants had higher potassium and lower manganese content than ungrafted ones. Levels of other nutrients were not consistently affected by grafting.

Index terms: grafting, growth, crop yield, mineral nutrition, coffee, Coffea arabica, C. canephora, C.congensis.

1. INTRODUÇÃO

A ocorrência generalizada de nematóides em grande parte da área plantada com café no Brasil vem inviabilizando a cafeicultura em regiões tradicionalmente produtoras de café de alta qualidade, em vista da falta de resistência apresentada pela espécie Coffea arabica L. Por outro lado, C. canephora Pierre vem evidenciando resistência aos nematóides do gênero Meloidogyne e Pratylenchus, assim como ao agente causal da ferrugem (Hemileia vastatrix), além de elevada capacidade produtiva (Costa et al.,1991). Entretanto, o cultivo do 'Robusta' apresenta obstáculos, como a baixa qualidade de bebida e a falta de tradição de cultivo nas principais regiões cafeeiras do País (Costa et al., 1991).

A enxertia de cultivares comerciais de C. arabica sobre C. canephora tem apresentado resultados promissores, oferecendo aos cafeicultores alternativa para o cultivo do café em áreas infestadas por nematóides. Fazuoli et al. (1983), em trabalho de campo desenvolvido em regiões infestadas por Meloidogyne incognita, verificaram aumentos na altura, no diâmetro da copa e na produção de plantas enxertadas, em relação às não enxertadas. A eficiência da enxertia foi confirmada por Costa et al. (1991) em área infestada por nematóides, onde a produção de café beneficiado por hectare, do cultivar Mundo Novo enxertado em porta-enxertos resistentes de C. canephora, somou 26,3 sacas, contra 5,7 sacas do 'Mundo Novo' sem enxertia.

Em adição à resistência de C. canephora a nematóides, a enxertia, possivelmente, atue na interação fisiológica entre a raiz e a parte aérea. Nesse sentido, Fahl & Carelli (1985b) verificaram, em condições isentas de nematóides, que plantas jovens de C. arabica enxertadas sobre C. canephora apresentaram, tanto para a altura como para a área foliar, taxas de crescimento relativo superiores às plantas não enxertadas. Esses resultados mostraram que, mesmo em condições isentas de nematóides, a utilização de C. canephora como porta-enxerto conferiu maior desenvolvimento e vigor às plantas, o que, conseqüentemente, poderia levar a aumentos na produção (Fahl & Carelli, 1985b).

Outros trabalhos efetuados em cultivares de C. arabica demonstraram que a enxertia exerce grande influência no comportamento fisiológico do cafeeiro. Alves (1986), estudando combinações de enxerto e porta-enxerto envolvendo os cultivares de C. arabica Catimor, Catuaí, Mundo Novo e Caturra, verificou que o Catimor sobre os outros três apresentou aumento significativo na taxa de crescimento, em relação aos cultivares não enxertados. Outros processos fisiológicos, como a absorção de íons, a fotossíntese e a atividade da enzima redutase de nitrato também foram alterados em algumas combinações de enxerto e porta-enxerto efetuadas por Alves (1986). Aguilar (1987), em estudos sobre a influência de diferentes porta-enxertos de C. arabica no crescimento e na seca dos ramos em progênies de 'Catimor', observou menor incidência de "die-back", quando foram utilizados o 'Catuaí' e o 'Mundo Novo' como porta-enxertos. Alves (1986) e Aguilar (1987) ressaltaram que o melhor desempenho fisiológico do 'Catimor', quando enxertado sobre 'Mundo Novo' e 'Catuaí', foi devido ao melhor desenvolvimento do sistema radicular desses dois porta-enxertos. Portanto, como C. canephora apresenta um sistema radicular bem mais desenvolvido do que o de C. arabica (Ramos & Lima, 1980; Ramos et al., 1982), possibilitando, aparentemente, maior absorção de água e nutrientes (Ramos et al., 1982), resultados ainda mais promissores poderiam ser obtidos com a enxertia de C. arabica sobre C. canephora.

O objetivo deste trabalho foi avaliar, em condições de campo, em áreas isentas de nematóides, o efeito da enxertia de cultivares de C. arabica sobre progênies de C. canephora e C. congensis, no desenvolvimento, na nutrição mineral e na produção das plantas. Como objetivo adicional, avaliou-se o crescimento sazonal do cafeeiro.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Instalaram-se experimentos de campo em três municípios paulistas com características edafoclimá-ticas diferentes - Campinas, Garça e Mococa - em áreas não infestadas por nematóides. Cada experimento obedeceu ao delineamento estatístico de blocos ao acaso, com dez tratamentos e cinco repetições, sendo o espaçamento de 3,5 x 2,0 m e, as parcelas, de quatro covas, cada uma com duas plantas.

Como porta-enxerto, usaram-se duas progênies de C. canephora - Apoatã IAC 2258 e IAC 2286 - e uma de C. congensis - IAC Bangelan coleção 5 - a qual apresenta grande semelhança taxonômica, morfológica e bioquímica com C. canephora (Krug & Carvalho, 1952; Charrier & Berthaud, 1987). Todas essas progênies são oriundas de plantas matrizes selecionadas pelo Instituto Agronômico de Campinas em áreas infestadas por nematóides. Como enxerto, empregaram-se dois cultivares de C. arabica: Catuaí Vermelho IAC H 2077-2-5-81 e Mundo Novo IAC 515-20. Também se efetuaram auto-enxertias em Catuaí e Mundo Novo, considerando-se, como testemunha, as plantas não enxertadas desses cultivares (Quadro 1).


Sementes de cada material genético foram germinadas em caixa contendo areia lavada e, ao atingirem o estádio de desenvolvimento de "palito-de-fósforo", efetuaram-se enxertias do tipo hipocotiledonar, conforme Moraes & Franco (1973). As plântulas enxertadas, juntamente com as não enxertadas, foram transplantadas para caixas contendo areia lavada e mantidas em ambiente úmido, por meio de cobertura de polietileno transparente, nas quais permaneceram por cerca de 30 dias para aclimatação. Após esse tempo, plantas uniformes foram transplantadas para recipientes plásticos contendo terra e matéria orgânica na proporção de 4:1, permanecendo neles por seis meses, até serem transferidas para o campo. Os plantios, realizados em janeiro de 1986, receberam, posteriormente, todos os tratos culturais da cultura.

O efeito da enxertia no crescimento da parte aérea foi estimado por meio de mensurações no final do experimento, após a quinta colheita da altura e do diâmetro da copa das plantas, considerando-se sua projeção sobre o solo.

O crescimento sazonal em altura, avaliado no ensaio de Mococa, consistiu em medidas efetuadas no fim de cada estação do ano, iniciando-se em setembro de 1986 e se estendendo até o término do experimento.

Para a avaliação dos teores de macro- e de micronutrientes das folhas, nos três locais estudados, no fim de cada estação do ano, do inverno de 1987 até o outono de 1988, retiraram-se amostras - 40 folhas - correspondentes ao terceiro par, a começar do ápice do ramo plagiotrópico de cada parcela (oito folhas por cova). Após duas lavagens com água destilada, as folhas foram postas para secar em estufa com circulação de ar à temperatura de 65 oC. Determinaram-se os teores de macro- e de micronutrientes conforme Bataglia et al. (1983), sendo os obtidos para cada tratamento, nos três locais, apresentados como valores médios abrangendo as quatro estações do ano.

As colheitas dos frutos foram anuais (1988 a 1992), obtendo-se a produção de café coco por parcela, que foi transformada em produção de café beneficiado, mediante um fator de rendimento (produção de café beneficiado/produção de café coco), obtido de uma subamostra de 400 g de café coco de cada parcela.

O efeito dos tratamentos para cada local foi avaliado pelo teste F. Como houve homogeneidade das variâncias, isto é, os quadrados médios residuais de cada local não diferiram entre si pelo teste de Hartley, realizou-se a análise conjunta dos dados, compa-rando-se as médias pelo teste de Tukey a 5% (Nogueira, 1991).

No presente trabalho, os termos plantas enxertadas e auto-enxertadas serão usados, respectivamente, para designar as plantas oriundas da enxertia de C. arabica sobre C. canephora e C. congensis, e de C. arabica sobre C . arabica.

3. RESULTADOS

A enxertia proporcionou aumentos na altura das plantas (Quadro 2). Esse efeito variou com o cultivar, local e porta-enxerto utilizado. Para o 'Catuaí ', a melhor resposta foi obtida em Garça, com aumento até de 22% na altura das plantas. Em Mococa e Campinas, os aumentos foram menos expressivos, ao redor de 12%. Considerando-se os porta-enxertos utilizados, a progênie IAC Bangelan apresentou os melhores resultados para o cultivar Catuaí, nos três locais, proporcionando aumento médio de 16% na altura das plantas. O efeito dos outros porta-enxertos foi variável. A progênie IAC 2258 ocasionou aumentos na altura das plantas nos experimentos de Campinas e Mococa, mas não no de Garça, enquanto a IAC 2286 apresentou resultados positivos somente em Campinas e Garça.


Para o cultivar Mundo Novo, a enxertia elevou altura das plantas nos ensaios de Garça e Mococa, mas não a alterou em Campinas (Quadro 2). O porta-enxerto IAC Bangelan proporcionou os maiores aumentos na altura das plantas, de modo análogo ao observado para o 'Catuaí'.

A auto-enxertia não influenciou o crescimento em altura no 'Catuaí' e no 'Mundo Novo', em relação às respectivas plantas não enxertadas (Quadro 2).

No Quadro 3, encontram-se os dados referentes ao efeito da enxertia no diâmetro da copa das plantas. Para o cultivar Catuaí, essa característica, quando analisada separadamente para Campinas e Mococa, não foi significativamente alterada pela enxertia, provavelmente devido ao elevado coeficiente de variação. Entretanto, a análise conjunta dos dados, abrangendo os dois experimentos, mostrou que as plantas enxertadas apresentaram aumentos no diâmetro da copa em relação às plantas de Catuaí não enxertadas. No cultivar Mundo Novo a enxertia não alterou significativamente o diâmetro da copa das plantas, em todos os tratamentos em Campinas e Mococa. A auto-enxertia aumentou o diâmetro da copa do cultivar Catuaí, mas não alterou o do 'Mundo Novo', em relação às respectivas plantas não enxertadas.


O crescimento sazonal em altura, avaliado ao fim de cada estação do ano, foi maior na primavera e no verão, em todos os tratamentos (Figura 1). No cultivar Catuaí, a enxertia aumentou o crescimento em todas as estações (Figura 1A). É interessante ressaltar que, no outono e no inverno, quando ocorrem quedas nas temperaturas médias e há menor disponibilidade de água no solo, o comportamento das plantas enxertadas foi superior ao das não enxertadas (Figura 1A). Para o 'Mundo Novo', somente no outono foi observada diferença significativa no crescimento em altura, entre as plantas enxertadas e não enxertadas (Figura 1B).

Figura 1.
Crescimento sazonal em altura de cultivares de Coffea arabica, Catuaí (A) e Mundo Novo (B), enxertados sobre progênies de C. canephora e C. congensis, auto-enxertados e não enxertados. Valores médios de cinco repetições. Para cada estação do ano, barras seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A análise química das folhas mostrou que o efeito da enxertia na composição em macro- e em micronutrientes variou com o nutriente, com o cultivar e com o local do experimento (Quadros 4 a 6). O teor de nitrogênio não foi alterado pela enxertia, apresentando níveis semelhantes em todos os tratamentos efetuados (Quadro 4). De modo geral, o teor de potássio nas plantas enxertadas de 'Catuaí' e 'Mundo Novo' aumentou significativamente em Campinas e Mococa, mas não apresentou variação em Garça. Foram obtidos aumentos de 11 e 8% no teor de potássio, respectivamente, para os cultivares Catuaí e Mundo Novo, considerando-se a média das três progênies utilizadas como porta-enxerto nos experimentos de Campinas e Mococa (Quadro 4). A enxertia não alterou consistentemente os conteúdos dos demais macronutrientes (Quadros 4 e 5).




Entre os micronutrientes, deve-se ressaltar o expressivo decréscimo no teor de manganês nas folhas das plantas enxertadas, em relação às não enxertadas, tanto para o 'Catuaí' como para o 'Mundo Novo', nos três locais estudados (Quadro 6). A enxertia não alterou consistentemente os teores foliares dos demais micronutrientes.

O efeito da enxertia na produção acumulada, durante cinco anos consecutivos, é apresentado nos Quadros 7 e 8. De modo geral, as plantas enxertadas apresentaram tendências a aumentar a produção, embora as diferenças estatisticamente significativas tenham variado com o local e com o cultivar. Para o 'Catuaí', em Campinas, a produção das plantas enxertadas não diferiu das não enxertadas nos primeiros anos (1988 a 1991). No quinto ano de produção, contudo, foram obtidos aumentos significativos, principalmente quando se utilizou, como porta-enxerto, a progênie IAC Bangelan, que proporcionou aumento de 35% em relação às não enxertadas (Quadro 7). No experimento de Garça, de modo geral, a enxertia aumentou a produção das plantas do 'Catuaí', já nos primeiros anos. De modo análogo ao observado para Campinas, as plantas enxertadas sobre a progênie IAC Bangelan apresentaram produção 34% maior do que as não enxertadas (Quadro 7).



O cultivar Mundo Novo foi bem menos influenciado pela enxertia do que o 'Catuaí' (Quadro 8): nos experimentos de Campinas e Garça não se observaram aumentos na produção das plantas enxertadas. Em Mococa, a enxertia proporcionou acréscimos esporádicos ao longo dos cinco anos de produção. As plantas da progênie IAC Bangelan apresentaram, no quinto ano de produção, aumento de 31%, que, entretanto, não foi estatisticamente significativo, provavelmente devido à heterogeneidade dos dados. A elevada variabilidade das produções parece ser um comportamento normal do cafeeiro, que pode ser conseqüência de produções excessivas que ocorrem em algumas plantas (Aguilar, 1987), causando exaustão em nutrientes (minerais e orgânicos), com queda acentuada na produção seguinte.

A análise global abrangendo os três locais estudados mostrou que a enxertia aumentou a produção das plantas (Figura 2). Esse efeito foi mais significativo no 'Catuaí' do que no 'Mundo Novo', especialmente quando foram utilizadas as progênies IAC Bangelan e IAC 2286 como porta-enxertos.

Figura 2.
Efeito da enxertia de Coffea arabica sobre C. canephora (IAC 2258 e IAC 2286) e C. congensis (IAC Bangelan), na produção de café beneficiado, durante o período de 1988 a 1992, em três regiões paulistas (Campinas, Garça e Mococa). A. C. arabica Catuaí - IAC H 2077-2-5-81; B. C. arabica Mundo Novo - IAC 515-20. Valores médios abrangendo os três locais. Barras com as mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A auto-enxertia não alterou a produção dos dois cultivares nos três locais em relação às respectivas plantas não enxertadas, excetuando-se os dados obtidos para o 'Catuaí' no experimento de Garça (Quadros 7 e 8).

4. DISCUSSÃO

De modo geral, a enxertia de cultivares de Coffea arabica sobre C. canephora e C. congensis ocasionou maior crescimento das plantas, confirmando resultados obtidos em plantas jovens (Fahl & Carelli, 1985b; Raghuramulu & Purushotham, 1987). Coffea canephora, de modo semelhante a C. congensis, é uma espécie de porte alto e com um sistema radicular bem mais desenvolvido do que o de C. arabica (Ramos & Lima 1980, Ramos et al., 1982; Fahl & Carelli, 1985a). Por sua vez, o 'Catuaí' apresenta características genéticas que lhe conferem porte baixo aliado a alto potencial produtivo. Entretanto, analisando-se os dados de Ramos et al. (1982), verifica-se que a relação massa seca raízes/massa seca parte aérea são semelhantes no 'Catuaí' e em C. canephora. No entanto, o processo da enxertia poderia aumentar a relação raízes/parte aérea, uma vez que as plantas enxertadas apresentam a parte aérea de um cultivar de porte baixo e um sistema radicular mais vigoroso proveniente de C. canephora e C. congensis . Tal situação poderia ser muito vantajosa em condições limitantes de disponibilidade de água e de nutrientes.

O crescimento da parte aérea do cultivar Mundo Novo foi bem menos favorecido pela enxertia, possivelmente por já apresentar porte mais alto e maiores taxas de crescimento do que o 'Catuaí'. De fato, Fahl & Carelli (1985b) observaram que plantas jovens não enxertadas do cultivar Mundo Novo revelaram maior taxa de crescimento em altura do que o 'Catuaí'.

O sistema radicular de C. canephora e de C. congensis das plantas enxertadas, além de explorar maior volume de solo, parece alterar quantitativamente a absorção de alguns nutrientes extremamente importantes para o cafeeiro. O potássio, ao lado do nitrogênio, é um dos principais nutrientes envolvidos no seu desenvolvimento e produção (Malavolta, 1986; Willson, 1987). Esses elementos, além de serem os mais extraídos do solo (Catani & Moraes, 1958; Cietto et al.,1991), são também os mais exportados por ocasião da colheita, como constituinte da casca e dos grãos (Malavolta et al., 1963). Os frutos são considerados drenos preferenciais dos nutrientes absorvidos (Carvajal et al., 1969; Cannell & Kimeu, 1971). Quando a produção é intensa, grande parte do incremento em nutrientes dos grãos é removida ou desviada das folhas e outras partes da planta (Cannell & Kimeu, 1971). O potássio, à semelhança de outros nutrientes, é mobilizado das folhas e ramos para os frutos em desenvolvimento; seu nível nas folhas vai então depender do balanço entre a quantidade absorvida do solo e a exportada para os frutos. No presente trabalho, admitindo-se que, para cada local, a disponibilidade de nutrientes no solo era a mesma para todos os tratamentos, as folhas das plantas enxertadas apresentaram maior teor de potássio e maior produção de frutos, indicando que a enxertia aumentou a absorção desse nutriente.

Grande parte das regiões plantadas com café no Brasil apresenta solos ácidos, com alta disponibilidade de manganês, havendo necessidade da aplicação de calcário para evitar sua toxicidade. Nesse sentido, a enxertia foi muito favorável, pois diminuiu a absorção de manganês pela planta. Esse efeito foi devido, provavelmente, a uma seletividade do sistema radicular de C. canephora e de C. congensis. Tal sugestão é consistente com o fato que a espécie C. canephora é muito mais sensível à toxicidade de manganês, apresentando níveis críticos do elemento nas folhas bem menores do que C. arabica (Willson, 1987). Tal seletividade do sistema radicular de C. canephora e de C. congensis é extremamente importante, pois a produtividade do cafeeiro, em solos com elevado teor em manganês, aumenta, dentro de certos limites, com o decréscimo no seu teor nas folhas (Malavolta et al., 1983).

É fato bem conhecido que C. arabica freqüentemente apresenta superprodução, conduzindo à exaustão de carboidratos e nutrientes dentro da planta e restringindo, conseqüentemente, o crescimento vegetativo (Cannell, 1987). Quando os nutrientes são transferidos das folhas e ramos para os frutos, pode ocorrer a seca dos ramos, que é precedida pelo esgotamento das raízes, restringindo a capacidade de recuperação das plantas (Willson, 1987). As raízes são as primeiras a sofrer com essa competição interna, crescendo menos e dispondo de menos energia para os processos metabólicos, como a absorção de nutrientes (Cannell, 1975). O aumento no fornecimento de nutrientes, pela aplicação de fertilizantes, poderia reduzir o grau de esgotamento da planta, mas a baixa eficiência das raízes para absorver nutrientes com freqüência não atende às necessidades da planta (Willson, 1987). Os dados deste trabalho sugerem que a enxertia sobre C. canephora e C. congensis poderia amenizar o esgotamento em nutrientes que ocorre em C. arabica, proporcionando maior produtividade global. Nesse sentido, as plantas enxertadas apresentaram maiores teores de potássio e melhor desenvolvimento em altura e diâmetro da copa, indicando melhor estado nutricional e possibilitando a formação de maior número de gemas produtivas.

5. CONCLUSÕES

1. A utilização de progênies de C. canephora e de C. congensis como porta-enxertos conferiu maior desenvolvimento da parte aérea aos cultivares de C. arabica, sobretudo no 'Catuaí'.

2. A enxertia proporcionou maiores taxas no crescimento sazonal em altura no 'Catuaí', especialmente no outono e no inverno, quando ocorrem temperaturas mais baixas e há menor disponibilidade de água no solo.

3. As plantas enxertadas apresentaram maiores teores foliares de potássio e menores teores de manganês do que as não enxertadas.

4. A análise global, abrangendo os três locais estudados, mostrou que a enxertia aumentou a produção das plantas, sendo esse efeito mais significativo no cultivar Catuaí do que no 'Mundo Novo', especialmente quando foram utilizadas as progênies IAC Bangelan e IAC 2286 como porta-enxertos.

(2) Centro de Ecofisiologia e Biofísica, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).

(3) Estação Experimental de Agronomia de Mococa, IAC, Caixa Postal 58, 13730-970 Mococa (SP).

(4) Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça (GARCAFÉ), Rua Ribeirão da Garça, 31, 17400-000 Garça (SP).

(5) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.

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  • (1)
    Recebido para publicação em 24 de dezembro de 1997 e aceito em 24 de maio de 1998.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Maio 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Aceito
      24 Maio 1998
    • Recebido
      24 Dez 1997
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