Acessibilidade / Reportar erro

Contato pele a pele entre mãe e recém-nascido a termo no parto normal: estudo transversal

RESUMO

Objetivo:

analisar a prática do contato pele-a-pele em recém-nascidos a termo no parto normal.

Método:

estudo transversal, realizado em São Paulo-SP, com 78 binômios mãe-filho. Os dados foram obtidos nos prontuários e por observação não participante. Foram analisadas as condições maternas, neonatais e assistenciais, duração do contato pele-a-pele e pega da mama materna.

Resultados:

o contato pele-a-pele foi realizado em 94,9% dos nascimentos, com duração média de 29 minutos. A duração foi maior em partos com períneo íntegro, neonatos com Apgar 10, sem aspiração das vias aéreas superiores, assistidos por enfermeira obstétrica e com assistência neonatal por médico residente em pediatria. As variáveis que favorecem a pega da mama foram integridade perineal, neonato com boa vitalidade, sem aspiração das vias aéreas superiores e que receberam ajuda profissional para a pega.

Conclusão:

o contato pele-a-pele foi realizado na quase totalidade dos nascimentos, mas com tempo inferior ao recomendado como boa prática.

Descritores:
Recém-Nascido; Relações Mãe-Filho; Parto Normal; Estudos Transversais; Enfermagem Obstétrica

ABSTRACT

Objective:

to analyze skin-to-skin contact practice in full-term newborns after birth.

Method:

a cross-sectional study carried out in São Paulo-SP with 78 mother-child binomials. Data were obtained from medical records and by non-participant observation. Maternal, neonatal and care conditions, length of skin-to-skin contact and breastfeeding attachment were analyzed.

Results:

skin-to-skin contact was performed in 94.9% of births, with a mean length of 29 minutes. Births with intact perineum took longer, neonates with Apgar 10, without upper airway aspiration, assisted by a nurse-midwife and with neonatal assistance by a resident in pediatrics. The variables that favor breastfeeding attachment were perineal integrity, newborn with good vitality, without upper airway aspiration and who received professional assistance for breastfeeding attachment.

Conclusion:

skin-to-skin contact was performed in almost all births, but with less time than recommended as best practice.

Descriptors:
Newborn; Mother-Child Relations; Natural Childbirth; Cross-Sectional Studies; Midwifery

RESUMEN

Objetivo:

analizar la práctica del contacto piel-a-piel en recién-nacidos a término durante el parto normal.

Método:

estudio transversal, realizado en São Paulo-SP, con 78 binomios madre-hijo. Los datos provienen de historias clínicas y observación no participante. Se analizaron las condiciones maternas, neonatales y del parto, la duración del contacto piel-a-piel y el acople mamario.

Resultados:

el contacto piel-a-piel se realizó en el 94,9% de los partos, con duración media de 29 minutos, que fue mayor en partos con perineo intacto, neonatos con Apgar 10, sin aspiración de vía aérea superior, asistidos por enfermera obstétrica y con atención neonatal por médico pediatra residente. Las variables que favorecieron el acople fueron integridad perineal y neonatos con buena vitalidad, sin aspiración de la vía aérea superior, que recibieron ayuda profesional para el acople.

Conclusión:

el contacto piel-a-piel se realizó en casi todos los partos, con menos tiempo del recomendado como buena práctica.

Descriptores:
Recién Nacido; Relaciones Madre-Hijo; Parto Normal; Estudios Transversales; Enfermería Obstétrica

INTRODUÇÃO

O contato pele a pele (CPP) consiste no posicionamento do recém-nascido (RN) despido e em posição prona, coberto somente com mantas secas e previamente aquecidas, sobre o abdome ou tórax desnudo da mãe(11 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 8 maio de 2014. Brasília; 2014[cited 2017 Dec 3]. Seção 1, p.50. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
).

A Portaria nº 371/2014 do Ministério da Saúde (MS) brasileiro(11 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 8 maio de 2014. Brasília; 2014[cited 2017 Dec 3]. Seção 1, p.50. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
) ressalta que a prática do CPP deve ser iniciada precocemente: “para todo RN a termo, com ritmo respiratório normal, tônus normal e sem líquido meconial, recomenda-se assegurar o CPP imediato e contínuo após o parto”. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)(22 Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Organização Mundial da Saúde. Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado: módulo 3: promovendo e incentivando a amamentação em um Hospital Amigo da Criança: curso de 20 horas para equipes de maternidade. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009.), o profissional que presta assistência obstétrica deve proporcionar o CPP imediatamente ao nascimento, permitindo a sua realização por, pelo menos, uma hora ininterrupta. O MS, pela mesma portaria, reforça ainda que os procedimentos de rotina realizados com os neonatos podem ser postergados para depois da primeira hora de vida(11 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 8 maio de 2014. Brasília; 2014[cited 2017 Dec 3]. Seção 1, p.50. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
).

A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), ao propor os “Dez passos para o Sucesso do Aleitamento Materno (AM)”, incluiu, em seu quarto passo, a realização do CPP ao nascimento(22 Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Organização Mundial da Saúde. Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado: módulo 3: promovendo e incentivando a amamentação em um Hospital Amigo da Criança: curso de 20 horas para equipes de maternidade. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009.). Segundo o MS(11 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 8 maio de 2014. Brasília; 2014[cited 2017 Dec 3]. Seção 1, p.50. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
), o quarto passo da IHAC deve ser interpretado como “colocar o RN em CPP com sua mãe, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora, e incentivar a mãe a identificar se o RN mostra sinais de que está querendo ser amamentado, oferecendo ajuda se necessário”.

A literatura descreve inúmeros benefícios do CPP, quando realizado imediatamente após o nascimento. Especificamente para o RN, destacam-se a promoção de melhor estabilidade fisiológica, início precoce e maior duração da amamentação, fortalecimento do vínculo materno, maiores níveis de glicose sanguínea, melhor controle de temperatura, estabilidade cardiorrespiratória, menor tempo de choro e concentração de cortisol mais baixa (nível de estresse)(33 Cleveland L, Hill CM, Pulse WS, DiCioccio HC, Field T, White-Traut R. Systematic review of skin-to-skin care for full-term, healthy newborns. JOGNN. 2017;46(6):857-69. https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.005
https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.0...

4 Hakala M, Kaakinen P, Kääriäinen M, Bloigu R, Hannula L, Elo S. The realization of BFHI step 4 in Finland: initial breastfeeding and skin-to-skin contact according to mothers and midwives. Midwifery. 2017;50:27-35. https://doi.org/10.1016/j.midw.2017.03.010
https://doi.org/10.1016/j.midw.2017.03.0...

5 Beijers R, Cillessen L, Zijlmans MA. An experimental study on mother-infant skin-to-skin contact in full-terms. Infant Behav Dev. 2016;43:58-65. https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01.001
https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01...

6 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
-77 Stevens J, Schmied V, Burns E, Dahlen H. Immediate or early skin-to-skin contact after a caesarean section: a review of the literature. Matern Child Nutr. 2014;10(4):456-73. https://doi.org/10.1111/mcn.12128
https://doi.org/10.1111/mcn.12128...
).

Estudos apontam que o tempo de permanência do RN em CPP, para que cada um desses benefícios seja atingido, é variável. Para melhor estabilidade fisiológica, por exemplo, o CPP deve durar cerca de 60 minutos(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
), o que se assemelha ao tempo necessário para o incentivo ao AM e para a promoção do vínculo materno-infantil (55 minutos de CPP)(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...

7 Stevens J, Schmied V, Burns E, Dahlen H. Immediate or early skin-to-skin contact after a caesarean section: a review of the literature. Matern Child Nutr. 2014;10(4):456-73. https://doi.org/10.1111/mcn.12128
https://doi.org/10.1111/mcn.12128...
-88 Dani C, Cecchi A, Commare A, Rapisardi G, Breschi R, Pratesi S. Behavior of the newborn during skin-to-skin. J Hum Lact. 2015;31(3):452-7. https://doi.org/10.1177/0890334414566238
https://doi.org/10.1177/0890334414566238...
). O período de 60 minutos também é considerado ideal para estabilizar os níveis de glicose sanguínea no RN(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
) e para promover comportamentos neonatais mais estáveis(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...

7 Stevens J, Schmied V, Burns E, Dahlen H. Immediate or early skin-to-skin contact after a caesarean section: a review of the literature. Matern Child Nutr. 2014;10(4):456-73. https://doi.org/10.1111/mcn.12128
https://doi.org/10.1111/mcn.12128...
-88 Dani C, Cecchi A, Commare A, Rapisardi G, Breschi R, Pratesi S. Behavior of the newborn during skin-to-skin. J Hum Lact. 2015;31(3):452-7. https://doi.org/10.1177/0890334414566238
https://doi.org/10.1177/0890334414566238...
). Períodos de 15 minutos são considerados suficientes para promover o controle de temperatura e a estabilidade cardiorrespiratória(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
), e a permanência em CPP por 30 minutos favorece a redução do tempo de choro(66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
-77 Stevens J, Schmied V, Burns E, Dahlen H. Immediate or early skin-to-skin contact after a caesarean section: a review of the literature. Matern Child Nutr. 2014;10(4):456-73. https://doi.org/10.1111/mcn.12128
https://doi.org/10.1111/mcn.12128...
). Percebe-se, desse modo, que o tempo de CPP preconizado ao nascimento também influencia os benefícios ofertados pela prática.

Em 2003 foi realizado o primeiro monitoramento dos hospitais com selo Hospital Amigo da Criança (HAC), com vistas a implantar um sistema de avaliação periódico das instituições credenciadas. Um total de 137 instituições foi avaliado, o que correspondia a 90% do total de 152 HAC no país. O cumprimento do quarto passo foi relatado em 96% das instituições, considerando-se somente a avaliação categórica (realizado ou não realizado)(99 Araújo MFM, Otto AFN, Schmitz BAS. First assessment of the »,» ®,® §,§ ­,­ ¹,¹ ²,² ³,³ ß,ß Þ,Þ þ,þ ×,× Ú,Ú ú,ú Û,Û û,û Ù,Ù ù,ù ¨,¨ Ü,Ü ü,ü Ý,Ý ý,ý ¥,¥ ÿ,ÿ ¶,¶ Ten Steps for the Maternal Breast-Feeding Success »,» ®,® §,§ ­,­ ¹,¹ ²,² ³,³ ß,ß Þ,Þ þ,þ ×,× Ú,Ú ú,ú Û,Û û,û Ù,Ù ù,ù ¨,¨ Ü,Ü ü,ü Ý,Ý ý,ý ¥,¥ ÿ,ÿ ¶,¶ compliance in Baby-Friendly Hospitals in Brazil. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2003;3(4):411-9. https://doi.org/10.1590/S1519-38292003000400006
https://doi.org/10.1590/S1519-3829200300...
). Em contrapartida, estudo descritivo retrospectivo, sobre a prevalência do CPP na primeira hora de vida do RN em um HAC do município de Marília, interior do estado de São Paulo, investigou 1.787 registros de parto e relatou que somente 7% dos RN receberam o CPP dentro dos primeiros 30 minutos de vida e 24% dentro da primeira hora(1010 Siqueira FPC, Colli M. Prevalence of early contact between mother and newborn in a hospital child friend. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2013 [cited 2017 Dec 3];7(11):6455-61. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/12292/14958
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
).

Do mesmo modo, os dados do estudo “Nascer no Brasil” demonstraram taxas insuficientes de CPP ao nascimento. Trata-se de um estudo de base hospitalar que envolveu 266 maternidades de 190 diferentes municípios do país, incluindo 23.940 mulheres no período de fevereiro de 2011 a outubro de 2012. Encontraram-se taxas de realização do CPP ao nascimento de 27,9% na Região Norte, 28,8% na Região Nordeste, 26,9% na Região Sudeste, 32,5% na Região Sul e 25,5% na Região Centro-Oeste do país. Quanto ao AM em sala de parto, as frequências foram ainda menores, variando entre 11,5% na Região Nordeste e 22,4% na Região Sul. Com relação às instituições investigadas que possuíam o selo HAC, somente 38,1% dos binômios mãe-filho foram posicionados em CPP ao nascimento, e 24% dos neonatos mamaram em sala de parto(1111 Moreira MEL, Gama SGND, Pereira APE, Silva AAMD, Lansky S, Pinheiro RDS. Clinical practices in the hospital care of healthy newborn infant in Brazil. Cad Saúde Pública. 2014;30(1):S128-S139. https://doi.org/10.1590/0102-311x00145213
https://doi.org/10.1590/0102-311x0014521...
).

Estudo transversal realizado em seis países da América Latina avaliou o CPP de forma categórica (realizado/não realizado). A prática foi identificada em 97% dos partos na Argentina, 95% no Peru, 91% no Brasil, 75% no Chile, 64% na República Dominicana e 58% no Uruguai. Já as taxas de AM foram de 97% na Argentina, 88% no Peru, 79% no Brasil, 62% no Chile, 51% no Uruguai e 46% na República Dominicana(1212 Binfa L, Pantoja L, Ortiz J, Cavada G, Schindler P, Burgos RY, et al. Midwifery practice and maternity services: a multisite descriptive study in Latin America and the Caribbean. Midwifery. 2016;40:218-25. https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.010
https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.0...
). A variação desses achados pode indicar diferenças na interpretação da prática do CPP e nas diretrizes de cuidado materno-infantil.

Estudo qualitativo realizado na Índia objetivou identificar as barreiras para a implementação do CPP no contexto hospitalar. Inúmeras barreiras foram descritas pelos profissionais de saúde, destacando-se o espaço e número reduzido de funcionários disponíveis na sala de parto para a realização da prática, rotina hospitalar de avaliações que necessitam de mudança departamental, apreensão da equipe devido ao desconhecimento da prática e paroquialismo sobre a prática do CPP(1313 Alenchery AJ, Thoppil J, Britto CD, de Onis JV, Fernandez L, Suman Rao PN. Barriers and enablers to skin-to-skin contact at birth in healthy neonates: a qualitative study. BMC Pediatrics. 2018;18(1). https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-y
https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-...
).

A criação de políticas e protocolos institucionais para a implementação do CPP ao nascimento é importante para a realização da prática. O financiamento e a certificação IHAC são outros quesitos que colaboram para a sua efetivação(1414 Hubbard JM, Gattman KR. Parent-infant skin-to-skin contact following birth: history, benefits, and challenges. Neonatal Netw. 2017;36(2):89-97. https://doi.org/10.1891/0730-0832.36.2.89
https://doi.org/10.1891/0730-0832.36.2.8...
). Tendo em vista as evidências sobre os benefícios do CPP e a sua realização de modo insuficiente ou inadequado nos serviços de saúde, buscou-se estudar a prática do CPP ao nascimento em um HAC, seguindo as recomendações das diretrizes de cuidado materno-infantil, a fim de contribuir para a sua ampliação no cenário brasileiro.

OBJETIVO

Analisar a prática do CPP realizada em RN a termo no parto normal. Os objetivos específicos foram determinar a frequência de CPP realizada imediatamente ao nascimento; verificar o tempo de permanência do RN em CPP ao nascimento; analisar os fatores relacionados à duração do CPP ao nascimento; analisar a efetivação da pega da mama materna na primeira hora de vida do RN.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e da instituição onde os dados foram coletados. As participantes foram informadas sobre o caráter voluntário e anônimo de sua participação. Ao concordarem em serem incluídas, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No caso de participantes menores de 18 anos, foi solicitada a assinatura do Termo de Assentimento, além do TCLE pelo responsável legal. Também foi obtida a anuência, por escrito, dos profissionais diretamente envolvidos na coleta de dados (enfermeiras e médicos).

Desenho, período e local do estudo

Estudo observacional transversal norteado pela ferramenta STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology), realizado em um hospital geral situado na zona sul do município de São Paulo, SP, com média mensal de 400 partos por mês, dos quais 60% são partos normais. Em 2005 o local foi acreditado pela IHAC e mantinha o selo até o final da coleta. O Centro Obstétrico (CO) conta com leitos PPP (pré-parto, parto e pós-parto) e com uma sala de reanimação neonatal, onde são realizados os procedimentos de rotina da assistência ao RN. Os partos normais são assistidos por enfermeiras obstétricas, obstetrizes, médicos obstetras, médicos residentes e estudantes de enfermagem, obstetrícia e medicina. Os dados foram coletados no período de 1 a 31 de agosto de 2017.

População e amostra

A população foi composta por puérperas e seus neonatos, a termo, saudáveis, nascidos de parto normal no campo de estudo. Com base na média mensal de partos normais no local do estudo, a amostra representativa de prevalência foi composta por 78 binômios, utilizando-se a seguinte fórmula:

n = p 1 P Z 2 a / 2 e 2

N representa o tamanho amostral; z representa o escore padrão para um erro probabilístico de 5% (z 2,5% =1,96 e α=5%); p representa a prevalência estimada (p=0,5); ϵ representa a margem de erro amostral de 10% (ϵ=0,1). O intervalo de confiança adotado foi de 95%.

Com vistas a garantir a representatividade da amostra em relação às práticas adotadas por profissionais dos diferentes turnos de trabalho, a coleta foi realizada em diferentes horários. Para tanto, a amostra foi estratificada em quatro grupos, de acordo com o horário do nascimento, no período das 24 horas (plantão par diurno 7-19h e noturno 19-7h/plantão ímpar diurno 7-19h e noturno 19-7h).

Foram elegíveis as mulheres em trabalho de parto internadas no CO durante o período de coleta de dados, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: gestação única; RN a termo, com idade gestacional entre 37 e 42 semanas; parturientes sem indicação prévia de cesariana. Os critérios de exclusão foram: nascimento por cesariana ou fórceps; RN clinicamente não elegível para o CPP (instabilidade respiratória ou hemodinâmica, hipotonia muscular, vômitos ou regurgitação, oxigenação artificial ou qualquer outra intercorrência neonatal que contraindique o CPP precoce); intercorrências maternas, como atonia uterina, hemorragia pós-parto, retenção placentária, laceração de trajeto com sangramento contínuo, coagulopatia, entre outros.

Protocolo do estudo

A coleta de dados foi realizada por uma das pesquisadoras, primeira autora do presente estudo.

Antes do início da coleta de dados, os profissionais que prestam assistência obstétrica e neonatal foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo e os procedimentos de coleta de dados. As parturientes foram abordadas pela pesquisadora no momento da admissão no CO e também foram esclarecidas quanto aos objetivos e procedimentos de coleta de dados.

Os dados de caracterização materna e neonatal e da assistência obstétrica (idade materna, paridade, sexo do RN, Apgar do primeiro e quinto minutos, condição perineal, presença de acompanhante, profissional que assistiu ao parto) foram obtidos dos prontuários. Aqueles relacionados ao CPP e à assistência neonatal foram obtidos por meio da observação não participante, iniciada no período expulsivo do parto.

Para o registro dos dados, foi utilizado um instrumento elaborado exclusivamente para o estudo. A realização do CPP foi registrada como “sim ou não” e sua duração foi contada em minutos (avaliada por cronômetro digital). O início do CPP ao nascimento foi computado a partir do posicionamento do RN sobre o tórax ou abdome materno (cronômetro digital iniciado) e considerado interrompido no momento em que o RN foi retirado do colo materno (cronômetro digital parado). Registrou-se, também, qual profissional foi responsável pela assistência neonatal, se houve aspiração das vias aéreas superiores (AVAS) e quais cuidados de rotina foram realizados com o RN na primeira hora de vida (profilaxia da oftalmia neonatal com instilação de nitrato de prata, da hemorragia digestiva com vitamina K por via IM, rastreamento de alterações oculares pelo teste do reflexo vermelho e pesagem).

A assistência neonatal, em alguns casos, foi realizada em CPP, sem interromper a prática na primeira hora de vida. Quando ocorreu a interrupção antes dos 60 minutos preconizados, os cuidados neonatais foram prestados na sala de reanimação. Desse modo, foi necessário seguir o RN até essa sala, de forma ininterrupta, acompanhando-o até que retornasse à sua mãe, continuando a observação durante toda a primeira hora de vida.

Foi verificado, ainda, se ocorreu ou não a pega efetiva da mama materna na primeira hora de vida do RN. A pega foi considerada efetiva quando houve apreensão da região mamilo-areolar materna pelo RN. A ajuda do profissional de enfermagem no posicionamento do RN na mama materna foi realizada espontaneamente pelo profissional ou por solicitação materna.

Durante a coleta de dados, não houve intervenção da pesquisadora na assistência prestada ao binômio mãe-filho.

Análise dos resultados e estatística

Foram realizadas análises descritivas, com frequência absoluta e relativa, média, desvio padrão (DP), mínimo e máximo, e análise inferenciais, utilizando-se os programas SPSS, versão 22.0 e R, versão 3.4.2.

Para analisar as variáveis categóricas, foram utilizados os testes qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher. Os testes Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney foram utilizados para comparar as médias das variáveis numéricas. Para a análise da associação entre as variáveis numéricas (tempo de CPP e idade materna), foi realizada a correlação de Spearman, sendo que a correlação varia de -1 a 1, e zero equivale a não existência de relação entre as variáveis.

A regressão logística com seleção de variáveis via Lasso (Least Absolute Shrinkage and Selection Operator) foi utilizada para análise do tempo de CPP.

O método Lasso seleciona as variáveis mais significantes para determinado desfecho através do método de validação cruzada. De acordo com as variáveis de interesse do estudo, o programa realiza várias regressões com os diferentes valores dos parâmetros de penalização para efetivar a análise.

O nível de significância estabelecido foi de 5%.

RESULTADOS

No período de coleta de dados, ocorreram 453 nascimentos, sendo 301 partos normais, 151 cesarianas e um fórceps.

Foram incluídos no estudo, 78 binômios mãe-filho (40 nascimentos nos plantões diurnos e 38 nos plantões noturnos). Dentre as 79 mulheres que atenderam aos critérios de inclusão e aceitaram participar da pesquisa, apenas uma foi excluída devido ao desfecho instrumental do parto.

A idade materna variou de 13 a 42 anos, sendo que a maioria das mulheres (55,2%) tinha até 25 anos (média=24,9; DP=5,9) e 44,8% eram primíparas. Durante o trabalho de parto (TP), a administração da ocitocina foi a intervenção mais frequente (51,5%). A episiotomia foi realizada em 12,8% das mulheres e 74,4% tiveram lacerações perineais. A maioria das mulheres (83,3%) estava acompanhada pelo parceiro ou um familiar e 51,2% dos partos foram assistidos por enfermeiras obstétricas (dados não apresentados em tabela).

Em relação às características dos RN, 59% eram do sexo feminino, a totalidade teve boa vitalidade ao nascer (Apgar≥7 no primeiro e quinto minutos) e a maioria (61,6%) pesava entre 3.000 e 3.495 gramas (média=3.195; DP=335,2). A AVAS foi realizada em 17,9% dos RN, que, na maioria das vezes, receberam os primeiros cuidados de rotina (administração de nitrato de prata e vitamina K, teste do reflexo vermelho e pesagem) durante a primeira hora de vida. Foi observado que 64,1% dos RN iniciaram a amamentação dentro da primeira hora de vida, sendo que 67,9% receberam ajuda de algum profissional (voluntariamente ou por solicitação) para realizar a pega correta da mama materna. Em todos os partos, o médico pediatra ou médico residente em pediatria estava presente e prestou assistência neonatal no CO (dados não apresentados em tabela).

Em relação ao CPP, 94,9% dos binômios mãe-filho realizaram a prática ao nascimento e 73% destes foram separados antes dos 60 minutos. O CPP teve duração em média de 29 minutos (DP=23,7). O motivo da não realização do CPP em quatro (5,1%) binômios mãe-filho foi a imediata transferência do RN, pelo profissional, para a sala de reanimação neonatal, para a realização dos primeiros cuidados de rotina.

A Tabela 1 apresenta a análise bivariada do tempo de CPP. Houve associação significante com duração maior em relação às seguintes variáveis: condição perineal (mulher com períneo íntegro; p=0,022); partos assistidos por enfermeiras obstétricas (p=0,027); Apgar no quinto minuto com índice 10 (p=0,003); RN sem AVAS (p>0,001); RN sem cuidados de rotina na primeira hora (p>0,001); assistência neonatal prestada por médico residente em pediatria (p=0,028).

Tabela 1
Valores da média, desvio padrão, mínimo e máximo do tempo de contato pele a pele e valor de p, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2017 (N=78)

A análise bivariada do tempo de CPP em relação à idade materna e ao peso do RN, realizada pela correlação de Spearman não mostrou diferença significativa (dados não apesentados em tabela).

A Figura 1 mostra a relação entre a duração do CPP inferior a 60 minutos e a AVAS no RN. Pela análise de regressão via LASSO, observa-se que os RN que receberam AVAS ficaram, em média, 27 minutos a menos em CPP ao nascimento.

Figura 1
Contato pele a pele inferior a 60 minutos em relação à aspiração das vias aéreas superiores, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2017

A Tabela 2 mostra a análise bivariada da pega da mama materna na primeira hora de vida do RN. Houve associação significante com maior proporção da pega efetiva em relação às seguintes variáveis: índice de Apgar mais elevado no primeiro e quinto minutos (p=0,035 e p=0,009, respectivamente); sem AVAS (p=0,015); ajuda profissional para a efetivação da pega (p<0,001). A condição perineal materna com integridade mostrou tendência à efetivação da pega (p=0,053).

Tabela 2
Efetivação da pega na primeira hora de vida do recém-nascido e valor de p, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2017 (N=78)

A análise bivariada do tempo de CPP em relação à idade materna e ao peso do RN, realizada pelo teste de Mann-Whitney, não mostrou diferença significativa (dados não mostrados em tabela).

DISCUSSÃO

Em estudo que incluiu 1.200 binômios mãe-filho, o CPP ao nascimento foi realizado por 100% da amostra(1515 Allen DJ, Parratt JA, Rolfe MI, Hastie CR, Saxton A, Fahy KM. Immediate, uninterrupted skin-to-skin contact and breastfeeding after birth: a cross-sectional electronic survey. Midwifery. 2019;79:102535. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102535
https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.1025...
), em contraposição à taxa de 94,9% deste estudo. Assim como no presente estudo, a maioria dos RN não permaneceu em CPP pelo tempo recomendado de 60 minutos. Ainda que a prevalência de 91% de CPP no Brasil, encontrada em pesquisa multicêntrica(1212 Binfa L, Pantoja L, Ortiz J, Cavada G, Schindler P, Burgos RY, et al. Midwifery practice and maternity services: a multisite descriptive study in Latin America and the Caribbean. Midwifery. 2016;40:218-25. https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.010
https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.0...
), seja próxima da obtida neste estudo, vale salientar que a referida pesquisa incluiu unicamente três hospitais da cidade de São Paulo e não avaliou o tempo de duração da prática.

A proporção de 27% de binômios que permaneceram em CPP, ininterruptamente, neste estudo, assim como a duração média do CPP (29 minutos), podem ser consideradas insuficientes, haja vista os benefícios para a promoção da saúde materno-infantil evidenciados por revisão sistemática(33 Cleveland L, Hill CM, Pulse WS, DiCioccio HC, Field T, White-Traut R. Systematic review of skin-to-skin care for full-term, healthy newborns. JOGNN. 2017;46(6):857-69. https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.005
https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.0...
,66 Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
https://doi.org/10.1002/14651858.CD00351...
).

No presente estudo, a menor disponibilidade do médico pediatra permanecer no CO (assistência concomitante à unidade neonatal), em comparação ao médico residente em pediatria, pode estar relacionada ao menor tempo de CPP quando o mesmo foi responsável pela assistência. Corroborando achados de outros estudos(1616 Abdulghani N, Edvardsson K, Amir LH. Health care providers' perception of facilitators and barriers for the practice of skin-to-skin contact in Saudi Arabia: a qualitative study. Midwifery. 2019;81:102577. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102577
https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.1025...
-1717 Robiquet P, Zamiara PE, Rakza T, Deruelle F, Mestdagh B, Blondel G, et al. Observation of skin-to-skin contact and analysis of factors linked to failure to breastfeed within 2 hours after birth. Breastfeed Med. 2016;11:126-32. https://doi.org/10.1089/bfm.2015.0160
https://doi.org/10.1089/bfm.2015.0160...
) que evidenciam que o profissional pode influenciar na duração do CPP, também nos partos assistidos por enfermeiras obstétricas, os RN permaneceram em média, 17,7 minutos a mais em CPP, em comparação aos partos assistidos por médicos obstetras.

Não foram observadas barreiras ao início do CPP neste estudo, dado que a maioria dos profissionais ofereceu o contato ao nascimento e nenhuma puérpera se recusou. Porém, na maioria das vezes, o contato foi interrompido antes do tempo preconizado de uma hora, principalmente para a realização dos cuidados neonatais de rotina, em especial a AVAS. Vale reiterar que o perfil da amostra consistiu em RN a termo, saudáveis, sem complicações que impossibilitassem a realização do CPP. Os resultados mostram que o RN aspirado fica, em média, 27 minutos a menos em CPP. Estudo derivado da pesquisa “Nascer no Brasil” identificou taxas de AVAS ao nascer em 71% dos RN saudáveis(1111 Moreira MEL, Gama SGND, Pereira APE, Silva AAMD, Lansky S, Pinheiro RDS. Clinical practices in the hospital care of healthy newborn infant in Brazil. Cad Saúde Pública. 2014;30(1):S128-S139. https://doi.org/10.1590/0102-311x00145213
https://doi.org/10.1590/0102-311x0014521...
), apontando as intervenções de rotina como barreira para o CPP e início do AM(1818 Lau Y, Tha PH, Ho-Lim SST, Wong LY, Lim PI, Nurfarah BZMC, et al. An analysis of the effects of intrapartum factors, neonatal characteristics, and skin-to-skin contact on early breastfeeding initiation. Matern Child Nutr. 2018;14(1). https://doi.org/10.1111/mcn.12492
https://doi.org/10.1111/mcn.12492...
).

Em relação à condição perineal, nos partos sem trauma, houve uma maior duração do CPP e da pega efetiva na primeira hora de vida. Revisão sistemática realizada sobre a realização de sutura perineal após o nascimento evidenciou que a dor pode resultar em desconforto e prejudicar a mobilidade da puérpera, comprometendo o início precoce do AM(1919 Elharmeel SM, Chaudhary Y, Tan S, Scheermeyer E, Hanafy A, van Driel ML. Surgical repair of spontaneous perineal tears that occur during childbirth versus no intervention. Cochrane Database Syst Rev. 2011;8: CD008534. https://doi.org/10.1002/14651858.cd008534.pub2
https://doi.org/10.1002/14651858.cd00853...
). Estudo que avaliou 92 binômios em CPP e em cuidado convencional (CPP somente após a episiorrafia) indica a importância do CPP ao nascimento pelo maior tempo possível, para favorecer o AM precoce, sugerindo que o RN seja mantido em CPP ininterruptamente, inclusive durante o reparo perineal(2020 Khadivzadeh T, Karimi A. The effects of post-birth mother-infant skin to skin contact on first breastfeeding. Iran J Nurs Midwifery Res (Online) [Internet]. 2009 [cited 2017 Oct 27]; 14(3):111-6. Available from: http://ijnmr.mui.ac.ir/index.php/ijnmr/article/view/94/94.
http://ijnmr.mui.ac.ir/index.php/ijnmr/a...
).

Dentre as barreiras ao CPP, estudo indiano aponta a falta de tempo e adesão como influência para a efetivação inadequada da prática(1313 Alenchery AJ, Thoppil J, Britto CD, de Onis JV, Fernandez L, Suman Rao PN. Barriers and enablers to skin-to-skin contact at birth in healthy neonates: a qualitative study. BMC Pediatrics. 2018;18(1). https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-y
https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-...
), interferindo nos benefícios propostos. O CPP realizado por 60 minutos estimula também a produção de ocitocina materna, favorecendo a apojadura e contribuindo para a pega efetiva da mama materna (início precoce do AM)(2121 Vila-Candel R, Duke K, Soriano-Vidal FJ, Castro-Sánchez E. Effect of early skin-to-skin mother-infant contact in the maintenance of exclusive breastfeeding: experience in a health department in Spain. J Hum Lact. 2017;34(2):304-312. https://doi.org/10.1177/0890334416676469
https://doi.org/10.1177/0890334416676469...
-2222 Sharma A. Efficacy of early skin-to-skin contact on the rate of exclusive breastfeeding in term neonates: a randomized controlled trial. Afr Health Sci. 2016;16(3):790. https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20
https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20...
).

Embora o presente estudo não tenha mostrado associação significante entre a duração do CPP e a pega efetiva da mama, o contato precoce está relacionado com o AM efetivo(1616 Abdulghani N, Edvardsson K, Amir LH. Health care providers' perception of facilitators and barriers for the practice of skin-to-skin contact in Saudi Arabia: a qualitative study. Midwifery. 2019;81:102577. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102577
https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.1025...
,2121 Vila-Candel R, Duke K, Soriano-Vidal FJ, Castro-Sánchez E. Effect of early skin-to-skin mother-infant contact in the maintenance of exclusive breastfeeding: experience in a health department in Spain. J Hum Lact. 2017;34(2):304-312. https://doi.org/10.1177/0890334416676469
https://doi.org/10.1177/0890334416676469...
-2222 Sharma A. Efficacy of early skin-to-skin contact on the rate of exclusive breastfeeding in term neonates: a randomized controlled trial. Afr Health Sci. 2016;16(3):790. https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20
https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20...
). Os laços afetivos estão mais fortes nas duas primeiras horas de vida do RN, e promover o vínculo materno nesse momento é de primordial importância para a efetivação e manutenção da amamentação exclusiva(55 Beijers R, Cillessen L, Zijlmans MA. An experimental study on mother-infant skin-to-skin contact in full-terms. Infant Behav Dev. 2016;43:58-65. https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01.001
https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01...
).

A pega da mama materna, na primeira hora de vida do RN, foi realizada em 64,1% da amostra. Essa taxa é menor que a obtida em três hospitais de São Paulo, de 79%(1212 Binfa L, Pantoja L, Ortiz J, Cavada G, Schindler P, Burgos RY, et al. Midwifery practice and maternity services: a multisite descriptive study in Latin America and the Caribbean. Midwifery. 2016;40:218-25. https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.010
https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.0...
), mas bem superior aos 16,1% identificados em amostra nacional representativa de 266 hospitais brasileiros(1111 Moreira MEL, Gama SGND, Pereira APE, Silva AAMD, Lansky S, Pinheiro RDS. Clinical practices in the hospital care of healthy newborn infant in Brazil. Cad Saúde Pública. 2014;30(1):S128-S139. https://doi.org/10.1590/0102-311x00145213
https://doi.org/10.1590/0102-311x0014521...
). Ressalta-se que a ajuda profissional contribui para a efetivação da pega, tendo a equipe de enfermagem um papel fundamental no processo(1616 Abdulghani N, Edvardsson K, Amir LH. Health care providers' perception of facilitators and barriers for the practice of skin-to-skin contact in Saudi Arabia: a qualitative study. Midwifery. 2019;81:102577. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102577
https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.1025...
).

Os achados deste estudo sugerem uma influência positiva da IHAC para a promoção do CPP ao nascimento e inicio precoce do AM, com taxas efetivas da pega da mama materna na primeira hora de vida do RN.

Limitações do estudo

A principal limitação se refere à possível interferência da pesquisadora na coleta de dados, devido à observação não participante do CPP. É possível que a porcentagem elevada da prática tenha sido influenciada pela presença da pesquisadora no local.

Contribuições para a área da Enfermagem, Saúde ou Políticas Públicas

Os resultados deste estudo apontaram a relevância da enfermagem na assistência à mulher e ao RN no parto para a superação das barreiras do CPP. O sucesso da prática depende, principalmente, da atuação de enfermeiras, obstetrizes e médicos, além de protocolos assistenciais e políticas institucionais bem estabelecidas.

Boas práticas, como a promoção da integridade perineal, a restrição de práticas rotineiras no cuidado neonatal que interferem no CPP e a disponibilidade da equipe de enfermagem para apoiar a primeira mamada são essenciais para o sucesso do CPP (uma hora ininterrupta desde o nascimento). Ressalta-se a importância do registro da duração do CPP, e não exclusivamente a informação dicotômica “sim ou não”, para o aprimoramento dessa prática.

FOMENTO

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

CONCLUSÃO

O CPP foi realizado na quase totalidade dos nascimentos, mas com duração inferior a uma hora na maioria dos casos. Os fatores que facilitam o prolongamento do CPP e a efetivação da pega da mama materna se relacionam à boa vitalidade ao nascer e à integridade perineal. A assistência ao parto por enfermeiras obstétricas favoreceu o CPP. A ajuda profissional na pega da mama favorece a amamentação precoce, independente da duração do CPP. As barreiras ao CPP e à efetivação da pega se relacionam com os cuidados neonatais de rotina prestados ao RN durante a primeira hora de vida, em especial a AVAS.

  • FOMENTO
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

REFERENCES

  • 1
    Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 371, de 07 de maio de 2014. Institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido (RN) no Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 8 maio de 2014. Brasília; 2014[cited 2017 Dec 3]. Seção 1, p.50. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0371_07_05_2014.html
  • 2
    Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Organização Mundial da Saúde. Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado: módulo 3: promovendo e incentivando a amamentação em um Hospital Amigo da Criança: curso de 20 horas para equipes de maternidade. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009.
  • 3
    Cleveland L, Hill CM, Pulse WS, DiCioccio HC, Field T, White-Traut R. Systematic review of skin-to-skin care for full-term, healthy newborns. JOGNN. 2017;46(6):857-69. https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.005
    » https://doi.org/10.1016/j.jogn.2017.08.005
  • 4
    Hakala M, Kaakinen P, Kääriäinen M, Bloigu R, Hannula L, Elo S. The realization of BFHI step 4 in Finland: initial breastfeeding and skin-to-skin contact according to mothers and midwives. Midwifery. 2017;50:27-35. https://doi.org/10.1016/j.midw.2017.03.010
    » https://doi.org/10.1016/j.midw.2017.03.010
  • 5
    Beijers R, Cillessen L, Zijlmans MA. An experimental study on mother-infant skin-to-skin contact in full-terms. Infant Behav Dev. 2016;43:58-65. https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01.001
    » https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2016.01.001
  • 6
    Moore ER, Bergman N, Anderson GC, Medley N. Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD003519. https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
    » https://doi.org/10.1002/14651858.CD003519.pub4
  • 7
    Stevens J, Schmied V, Burns E, Dahlen H. Immediate or early skin-to-skin contact after a caesarean section: a review of the literature. Matern Child Nutr. 2014;10(4):456-73. https://doi.org/10.1111/mcn.12128
    » https://doi.org/10.1111/mcn.12128
  • 8
    Dani C, Cecchi A, Commare A, Rapisardi G, Breschi R, Pratesi S. Behavior of the newborn during skin-to-skin. J Hum Lact. 2015;31(3):452-7. https://doi.org/10.1177/0890334414566238
    » https://doi.org/10.1177/0890334414566238
  • 9
    Araújo MFM, Otto AFN, Schmitz BAS. First assessment of the »,» ®,® §,§ ­,­ ¹,¹ ²,² ³,³ ß,ß Þ,Þ þ,þ ×,× Ú,Ú ú,ú Û,Û û,û Ù,Ù ù,ù ¨,¨ Ü,Ü ü,ü Ý,Ý ý,ý ¥,¥ ÿ,ÿ ¶,¶ Ten Steps for the Maternal Breast-Feeding Success »,» ®,® §,§ ­,­ ¹,¹ ²,² ³,³ ß,ß Þ,Þ þ,þ ×,× Ú,Ú ú,ú Û,Û û,û Ù,Ù ù,ù ¨,¨ Ü,Ü ü,ü Ý,Ý ý,ý ¥,¥ ÿ,ÿ ¶,¶ compliance in Baby-Friendly Hospitals in Brazil. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2003;3(4):411-9. https://doi.org/10.1590/S1519-38292003000400006
    » https://doi.org/10.1590/S1519-38292003000400006
  • 10
    Siqueira FPC, Colli M. Prevalence of early contact between mother and newborn in a hospital child friend. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2013 [cited 2017 Dec 3];7(11):6455-61. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/12292/14958
    » https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/12292/14958
  • 11
    Moreira MEL, Gama SGND, Pereira APE, Silva AAMD, Lansky S, Pinheiro RDS. Clinical practices in the hospital care of healthy newborn infant in Brazil. Cad Saúde Pública. 2014;30(1):S128-S139. https://doi.org/10.1590/0102-311x00145213
    » https://doi.org/10.1590/0102-311x00145213
  • 12
    Binfa L, Pantoja L, Ortiz J, Cavada G, Schindler P, Burgos RY, et al. Midwifery practice and maternity services: a multisite descriptive study in Latin America and the Caribbean. Midwifery. 2016;40:218-25. https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.010
    » https://doi.org/10.1016/j.midw.2016.07.010
  • 13
    Alenchery AJ, Thoppil J, Britto CD, de Onis JV, Fernandez L, Suman Rao PN. Barriers and enablers to skin-to-skin contact at birth in healthy neonates: a qualitative study. BMC Pediatrics. 2018;18(1). https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-y
    » https://doi.org/10.1186/s12887-018-1033-y
  • 14
    Hubbard JM, Gattman KR. Parent-infant skin-to-skin contact following birth: history, benefits, and challenges. Neonatal Netw. 2017;36(2):89-97. https://doi.org/10.1891/0730-0832.36.2.89
    » https://doi.org/10.1891/0730-0832.36.2.89
  • 15
    Allen DJ, Parratt JA, Rolfe MI, Hastie CR, Saxton A, Fahy KM. Immediate, uninterrupted skin-to-skin contact and breastfeeding after birth: a cross-sectional electronic survey. Midwifery. 2019;79:102535. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102535
    » https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102535
  • 16
    Abdulghani N, Edvardsson K, Amir LH. Health care providers' perception of facilitators and barriers for the practice of skin-to-skin contact in Saudi Arabia: a qualitative study. Midwifery. 2019;81:102577. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102577
    » https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102577
  • 17
    Robiquet P, Zamiara PE, Rakza T, Deruelle F, Mestdagh B, Blondel G, et al. Observation of skin-to-skin contact and analysis of factors linked to failure to breastfeed within 2 hours after birth. Breastfeed Med. 2016;11:126-32. https://doi.org/10.1089/bfm.2015.0160
    » https://doi.org/10.1089/bfm.2015.0160
  • 18
    Lau Y, Tha PH, Ho-Lim SST, Wong LY, Lim PI, Nurfarah BZMC, et al. An analysis of the effects of intrapartum factors, neonatal characteristics, and skin-to-skin contact on early breastfeeding initiation. Matern Child Nutr. 2018;14(1). https://doi.org/10.1111/mcn.12492
    » https://doi.org/10.1111/mcn.12492
  • 19
    Elharmeel SM, Chaudhary Y, Tan S, Scheermeyer E, Hanafy A, van Driel ML. Surgical repair of spontaneous perineal tears that occur during childbirth versus no intervention. Cochrane Database Syst Rev. 2011;8: CD008534. https://doi.org/10.1002/14651858.cd008534.pub2
    » https://doi.org/10.1002/14651858.cd008534.pub2
  • 20
    Khadivzadeh T, Karimi A. The effects of post-birth mother-infant skin to skin contact on first breastfeeding. Iran J Nurs Midwifery Res (Online) [Internet]. 2009 [cited 2017 Oct 27]; 14(3):111-6. Available from: http://ijnmr.mui.ac.ir/index.php/ijnmr/article/view/94/94
    » http://ijnmr.mui.ac.ir/index.php/ijnmr/article/view/94/94
  • 21
    Vila-Candel R, Duke K, Soriano-Vidal FJ, Castro-Sánchez E. Effect of early skin-to-skin mother-infant contact in the maintenance of exclusive breastfeeding: experience in a health department in Spain. J Hum Lact. 2017;34(2):304-312. https://doi.org/10.1177/0890334416676469
    » https://doi.org/10.1177/0890334416676469
  • 22
    Sharma A. Efficacy of early skin-to-skin contact on the rate of exclusive breastfeeding in term neonates: a randomized controlled trial. Afr Health Sci. 2016;16(3):790. https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20
    » https://doi.org/10.4314/ahs.v16i3.20

Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Ana Fátima Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    01 Maio 2020
  • Aceito
    24 Ago 2020
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br