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Eficácia analgésica da lidocaína e analgesia multimodal na remoção do dreno torácico: Um estudo randomizado controlado1 1 Artigo extraído da tese de doutorado "Avaliação da eficácia analgésica da associação entre anestesia geral e raquianestesia com morfina combinada à ropivacaína a 0,5% em relação à anestesia geral e analgesia multimodal no pós-operatório de revascularização do miocárdio", apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

Resumos

Objetivo:

avaliar a eficiência analgésica de lidocaína subcutânea e analgesia multimodal na remoção do dreno torácico após cirurgia cardíaca.

Método:

sessenta voluntários foram alocados aleatoriamente em dois grupos; 30 participantes no grupo experimental receberam lidocaína subcutânea 1%, e outros 30 do grupo controle receberam o regime de analgesia multimodal compreendendo agentes anti-inflamatórios e opióides sistêmicos. A intensidade e qualidade da dor e Ansiedade Traço Estado foram avaliados. A associação entre variáveis independentes e desfecho final foi avaliada através do Teste Qui-quadrado com correção de Yates e o Teste exato de Fisher.

Resultados:

os grupos não apresentaram diferenças significante, no que diz respeito à intensidade da dor na remoção do dreno torácico (p= 0,47). Os descritores de dor mais comuns relatados pelos participantes foram dor: de pressão, aguda, como uma picada, queimar/arder e intolerável.

Conclusão:

o presente estudo sugere que o efeito analgésico da administração de lidocaína 1% combinada com a analgesia multimodal é mais eficiente.

Manejo da Dor; Tubos Torácicos; Analgesia


Objective:

to assess the analgesic efficacy of subcutaneous lidocaine and multimodal analgesia for chest tube removal following heart surgery.

Methods:

sixty volunteers were randomly allocated in two groups; 30 participants in the experimental group were given 1% subcutaneous lidocaine, and 30 controls were given a multimodal analgesia regime comprising systemic anti-inflammatory agents and opioids. The intensity and quality of pain and trait and state anxiety were assessed. The association between independent variables and final outcome was assessed by means of the Chi-squared test with Yates' correction and Fisher's exact test.

Results:

the groups did not exhibit significant difference with respect to the intensity of pain upon chest tube removal (p= 0.47). The most frequent descriptors of pain reported by the participants were pressing, sharp, pricking, burning and unbearable.

Conclusion:

the present study suggests that the analgesic effect of the subcutaneous administration of 1% lidocaine combined with multimodal analgesia is most efficacious.

Pain Management; Chest Tubes; Analgesia


Objetivo:

evaluar la eficacia analgésica de la lidocaína subcutánea y la analgesia multimodal para la remoción del tubo torácico después de la cirugía cardíaca.

Métodos:

sesenta voluntarios fueron asignados aleatoriamente en dos grupos; 30 participantes en el grupo experimental recibieron lidocaína subcutánea al 1%, y 30 controlos recibieron un régimen de analgesia multimodal que comprende agentes antiinflamatorios sistémicos y opioides. La intensidad y calidad del dolor y rasgo y estado de ansiedad se evaluaron. La asociación entre las variables independientes y el resultado final han sido evaluados por medio de la prueba de Chi-cuadrado con corrección de Yates y la prueba exacta de Fisher.

Resultados:

los grupos no mostraron diferencias significativas con respecto a la intensidad del dolor después de la retirada del tubo torácico (p= 0,47). Los descriptores de dolor más frecuentes informados por los participantes fueron apretado, agudo, punzante, ardiente e insoportable.

Conclusión:

el presente estudio sugiere que el efecto analgésico de la administración subcutánea de lidocaína al 1% combinada con la analgesia multimodal es eficaz.

Manejo del Dolor; Tubos Torácicos; Analgesia


Introdução

O uso do dreno torácico objetiva a preservação da estabilidade da função hemodinâmica e cardiopulmonar através da drenagem de fluídos, sangue e ar das cavidades pleural, pericardial ou mediastinal(11. Charnock Y, Evans D. Nursing management of chest drains: a systematic review. Aust Crit Care. 2001;14(4):156-60.). A remoção do dreno torácico é dolorida, principalmente porque o pericárdio visceral e a pleura são ricos em fibras nociceptivas(22. Puntillo KA, Ley SJ. Appropriately timed analgesics control pain due to chest tube removal. Am J Crit Care. 2004;13(4):292-301.). A remoção do dreno torácico representa um estímulo potencial para as fibras dos nervos intercostais que inervam a pleura parietal, músculos peitorais e suas inserções(33. Kelet H, Dahl JB. The value of "multimodal" or "balanced analgesia" in postoperative pain treatment. Anesth Analg. 1993;77(5):1048-56.).

Os efeitos adversos deste procedimento doloroso, ainda não foi apropriadamente investigado, e pouco se sabe a respeito das medidas aplicadas na unidade de terapia intensiva (UTI) para controlar a dor de procedimentos dolorosos. Esta falta de conhecimento pode contribuir a um aumento em complicações pulmonares pós-operatórias, como uma redução da força do músculo respiratório, do volume e capacidade pulmonar bem como uma diminuição da efetividade de tosse e um aumento em número de infecções pulmonares. Estas complicações interferem com a progressão clínica de pacientes e são consideradas as principais causas de morbi-mortalidade nestes casos(11. Charnock Y, Evans D. Nursing management of chest drains: a systematic review. Aust Crit Care. 2001;14(4):156-60.) .

O escopo dos protocolos de analgésicos é bastante amplo, variando de técnicas não-farmacêuticas, exercícios de relaxamento com opióides e opióides apenas(44. Friesner SA, Miles Curry D, Moddeman GR. Comparison of two pain-management strategies during chest tube removal: Relaxation exercise with opioids and opioids alone. Heart Lung. 2006;35(4):269-76.), bolsas de gelo(55. Chen YR, Hsieh LY. The effectiveness of a cold application for pain associated with chest tube removal: a systematic review. Hu Li Za Zhi. 2015;62(1):68-75.), e anestésicos locais. Algumas abordagens combinam vários medicamentos para melhorar a analgesia e ao mesmo tempo, reduzir os efeitos colaterais. Analgesia multimodal sistêmica, ou balanceada consite em administração intravenosa de anti-inflamatório não esteroide associado com opióide fraco ou potente(3) .

Em outros estudos, tratamentos médicos foram analisados para aliviar a dor na remoção do dreno torácico (CTR), incluindo remifentanil(66. Casey E, Lane A, Kuriakose D, McGeary S, Hayes N, Phelan D, et al. Bolus Remifentanil for chest drain removal in ICU: a randomized double-blind comparison of three modes of analgesia in post-cardiac surgical patients. Intensive Care Med. 2010;36(8):1380-5.), sulfentanil(77. Joshi VS, Chauhan S, Kiran U, Bisoi AK, Kapoor PM. Comparison of analgesic efficacy of fentanyl and sufentanil for chest tube removal after cardiac surgery. Anna Card Anaesth. 2007;10(1):42-5.) fentanil(88. Golmohammadi M, Sane SH. Comparison of fentanyl with sufentanil for chest tube removal. Iranian Cardiovasc Res J. 2008;2(1):42-7.), Paracetamol intravenoso(99. Demir Y, Khorshid L. The Effect of Cold Application in Combination with Standard Analgesic Administration on Pain and Anxiety during Chest Tube Removal: A Single-Blinded, Randomized, Double-Controlled Study. Pain Manag Nurs. 2010;11(3):186-96.), aplicação fria em combinação com supositório de indometacina(1010. Payami MB, Daryei N, Mousavinasab N, Nourizade E. Effect of cold application in combination with Indomethacin suppository on chest tube removal pain in patients undergoing open heart surgery. Iran J Nurs Midwifery Res. 2014;19(1):77-81.), morfina, bupivacaina subcutânea e uma mistura de Óxido Nitroso 50% e Oxigênio 50% (entonox in oxygen), sem diferença estatística(1111. Akrofi M, Miller S, Colfar S, Corry PR, Fabri BM, Pullan MD, et al. A randomized comparison of three methods of analgesia for chest drain removal in postcardiac surgical patients. Anesth Analg. 2005;100(1):205-9.), morfina e cetorolaco de trometamina, sem diferença estatística(1212. Puntillo K, Ley SJ. Appropriately timed analgesics control pain due to chest tube removal. Am J Crit Care. 2004;13(4):292-302.).

Uma das principais técnicas consiste em administração subcutânea de lidocaína, que é usada como controle da dor em vários procedimentos; como punção venosa e arterial, inserção de cateter venoso e arterial, e remoção do dreno torácico, entre outras. Contudo, os pacientes frequentemente não recebem analgésicos ou nenhum outro procedimento para controlar a dor(1313. Chaves LD, Pimenta CAM. Postoperative pain control: comparison among analgesic methods. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2003;11(2):215-9.).

Considerando que a dor é uma ocorrência prevista, quando drenos são removidos, analgésicos deveriam ser administrados aos pacientes apropriadamente antes da remoção do dreno torácico para atingir efeitos satisfatórios. O objetivo do presente estudo é analisar o efeito analgésico de lidocaína subcutânea 1% combinado com analgesia multimodal, ou um regime analgésico intravenoso (IV) por meio de avaliação sistemática da intensidade da dor durante a remoção do dreno torácico, pós cirurgia cardíaca.

Método

O presente estudo foi um ensaio clínico aleatório aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), número 186/05 e registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos, número RBR 8M444Q, de acordo com a Declaração de Helsinki. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, na avaliação pré-operativa. O estudo realizado no Hospital Promater, em Natal-RN-Brasil, em 2013.

Os seguintes parâmetros foram usados para calcular o tamanho da amostra: tamanho da população, 354 individuos; erro tipo 1 ((), 0,005; poder do teste (1-ß), 0,80; 20% de diferença entre os grupos. De acordo com este critério, o tamanho da amostra deveria ser de 60 participantes, com 30 em cada um dos dois grupos. Como uma função de critério de inclusão e perdas durante o período do estudo, a amostra final foi composta de 58 participantes, que foram alocados ao Grupo I (GI) - experimental (n=30) e GII - controle (n=28), através de sorteio simples.

O critério de inclusão foi o seguinte: idade 35 a 75 anos; sem experiência anterior de dreno torácico; estar no período pós-operatório de uma cirurgia cardíaca com inserção de dreno torácico; prover acesso cirúrgico através de esternotomia mediana; prover estabilidade hemodinâmica com sinais avaliados pela monitoração à beira do leito; estado físico II ou III de acordo com a Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA); e apresentar capacidade de comunicação e compreensão verbal para participar das entrevistas. Para avaliar o último, foi utilizada a escala de Ramsey (14). Esta escala pontua sedação em seis níveis diferentes: 1- ansiedade e/ou agitação; 2- tranquilidade, cooperação e orientação; 3- respostas apenas aos comandos; 4- resposta rápida à audição ou ao estímulo da dor; 5- resposta letárgica à audição ou ao estímulo da dor; e 6- sem resposta. Somente indivíduos com níveis ≤ 3 foram incluídos. Individuos que declararam o desejo de não mais continuar no estudo, foram excluídos, assim como indivíduos que desenvolveram complicações pós-cirúrgicas, incluindo insuficiência cardíaca e/ou respiratória severa e AVC (Acidente Vascular Cerebral), ou que precisaram de uma reoperação por qualquer motivo. A Figura 1 retrata o fluxograma dos participantes do estudo.

Figura 1
- Diagrama do fluxo do estudo, Natal, RN, Brasil, 2014

Desta forma, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cada paciente foi treinado na visita pré-operatória para utilizar a escala de avaliação de dor escala visual analógica(1515. Jensen MP, Karoly P, Braver R. Postsurgical pain outcome assessment. Pain. 2002;99:101-9.) (EVA) de 10 cm, como também foram orientados a avaliar a qualidade (descritores) da dor, utilizando o inventário de dor de McGill(1616. Melzack R. The short-form McGill Pain. Pain. 1987;30:191-7.). Nessa oportunidade, o paciente era orientado como deveria proceder quando acordar na UTI, uma vez que o doente ao despertar no pós-operatório deveria estar familiarizado com esses instrumentos, assim teria condição melhor de avaliar sua dor. Também, foi aferida a ansiedade (Traço-Estado), por meio do teste de ansiedade STAI (State-Trait Anxiety Inventory) e referencial teórico de Spielberger(1717. Spielberger CD, Gorsuch RL, Iushene RE. Inventário de Ansiedade Traço-Estado - IDATE: Manual de Psicologia Aplicada [State-Trait Anxiety Inventory - STAI: Manual of Applied Psychology]. Rio de Janeiro: CEPA; 1979.).

Os médicos e enfermeiros da instituição onde o estudo foi conduzido, estabeleceram que os drenos fossem removidos 24 horas após a cirurgia. (fiz um pequeno ajuste na concordância) O número, tamanho e posição dos tubos foram determinados por necessidades cirúrgicas. Tubos tamanhos 19F e 28F são comumente utilizados para drenagem de tórax, na instituição onde o estudo foi conduzido. (Penso que a estrutura da frase fica mais acadêmica desta forma)

As necessidades individuais de analgesia adicional foi registrada para todos os pacientes, experimental e controle, seguindo a padronização da sedação na UTI pós-operatória.

Antes da remoção dos tubos, os pacientes foram alocados aleatoriamente pelos cardiologistas, para os grupos de estudo; utilizando um banco de dados informatizado (pequena alteração - sinônimos), previamente construído. No grupo experimental foram realizadas quatro injeções subcutâneas de lidocaína a(penso ser melhor retirar o 'a') 1% a, aproximadamente, 1 cm da borda da ferida cirúrgica, com 2,0 ml cada, em forma de losango (7mm) totalizando 8,0 ml, mais esquema de analgesia padronizado na UTI para o pós-operatório de cirurgia cardíaca, onde o estudo foi realizado. O GII recebeu apenas analgesia multimodal, com uso de anti-inflamatórios não esteróides, associados a opióides fracos e fortes, administrados por via intravenosa (IV), segundo, avaliação sistemática da intensidade (escala visual analógica) da dor; dor < 3 (Analgésico fraco), Dipirona IV a cada 6 horas (30mg/kg); dor =4 a 7 Tramadol IV 50mg/kg a cada 6 horas, dor = 8 a 10 morfina IV 1 a 2 mg. Os tubos foram retirados pelo cirurgião. Após a realização do procedimento, na ausência do cirurgião, os pacientes foram avaliados por enfermeiras que desconheciam a quais grupos eles pertenciam.

Na análise estatística, para a análise descritiva, os dados categóricos foram organizados em tabelas de frequências absoluta e relativa. Como a distribuição dos dados quantitativos não era normal, os dados foram expressos como valores medianos, mínimo e máximo. Dados com distribuição normal foram expressos como a média e desvio padrão. Para a análise bivariada, a associação entre as categorias relativas variáveis para os grupos, foi investigada através do teste Qui-quadrado, correção de Yates ou Teste Exato de Fisher. Foi usado o teste Mann-Whitney (U) para comparar as medianas ou médias de variáveis independentes contínuas relativas aos grupos.

Em todas as análises, o padrão 0,05 valor-p e intervalo de confiança de 95% foi aplicado.

Resultados

A amostra inicial era composta de 60 participantes. Entretanto, dois individuos do grupo de controle não completaram o estudo, com um caso necessitando reinserção dos drenos torácicos e outro recusou-se a participar das avaliações. Portanto, 58 participantes foram avaliados após a cirurgia. Trinta e seis (62,1%) participantes eram homens, e 22 (37,9%) mulheres; a idade média da amostra era 59,78 (± 8,93). Os grupos não apresentaram diferenças significantes com relação à sexo, idade, tempo de cirurgia, estadia no hospital e estado físico de acordo com a ASA. A tabela 1 descreve a distribuição dos resultados no que diz respeito à avaliação da ansiedade. A maioria dos participantes exibiram respectivamente, níveis de ansiedade traço estado abaixo da média e de leve-a-moderado. Não foi observado associação significante entre os níveis de ansiedade e os grupos de estudo.

Tabela 1
- Dados correspondente às características, níveis do estado de ansiedade e perfil dos participantes por grupo, Natal, RN, Brasil, 2014

Com respeito à avaliação da dor como uma função da injeção de lidocaína, não houve associação entre a presença da dor e os grupos (p=0,42), como mostra a tabela 2. Adicionalmente, a intensidade mediana da dor, com respeito à injeção da lidocaína não houve diferença entre os grupos (p=0,27).

Tabela 2
- Caracterização da amostra de acordo com a presença e intensidade da dor após a injeção de Lidocaina, Natal, RN, Brasil, 2014

Com respeito à remoção do dreno torácico, não houve associação entre o grupo e o nível de ansiedade (p=0,94) ou dor antes do procedimento (p=0,67), como demonstra a tabela 3. A intensidade mediana da dor na remoção dos tubos pleural ou mediastinal não foi significativamente diferente entre os grupos.

Tabela 3
- Caracterização da amostra de acordo com o nível de ansiedade e dor após a remoção do dreno torácico, Natal-RN, Brasil, 2014

Discussão

A evidência que um controle adequado da dor é significantemente beneficial para o conforto do paciente. Embora analgesia multimodal combinada com lidocaína é considerada uma opção para a remoção do dreno torácico, esta terapia não teve efeito no presente estudo.

Embora não houve associação entre traço estado de ansiedade e o grupo, e apesar das orientações e suporte psicológicos providos pelos enfermeiros como parte da rotina de cuidados antes do procedimento, quase metade dos participantes demonstraram ansiedade moderada.

Quase um terço dos participantes relataram a presença de dor antes da remoção do dreno torácico. Ambos os grupos localizaram a maior parte da dor como sendo o local da esternotomia, bem como o local da inserção do dreno torácico, particularmente no caso do dreno pleural, seguido do local da safenectomia. Estes resultados correspondem a estudos anteriores, onde a dor ocorreu no local da esternotomia até o dia três do pós-operatório (18-19).

Não houve diferença significante na dor associada à administração de lidocaína subcutânea entre os grupos. Neste caso, é importante observar que a intensidade da dor relatada era amena, que poderia estar relacionada ao uso da analgesia multimodal. De acordo com a literatura(2020. Cepeda MS, Tzortzopoulou A, Thackrey M, Hudcova J, Arora Gandhi P, Schumann R. Adjusting the pH of lidocaine for reducing pain on injection. Cochrane Database Syst Rev. 2010;8(12):CD006581.), de um modo geral os pacientes relatam desconforto e dor durante a administração da lidocaína subcutânea. Estes sintomas podem estar relacionados ao calibre da agulha, velocidade na administração da anestesia, volume da solução injetada ou temperatura, perfil do paciente, ou o baixo pH da anestesia.

Os grupos não apresentaram diferenças significante na dor associada com o procedimento para CTR. Entretanto, os participantes do grupo experimental (GI) qualificaram a dor após a remoção do dreno torácico mediastinal como intensa, seguida de moderada em quase um-terço dos casos. Estes resultados foram respaldados por vários ensaios clínicos e demonstram que pacientes sentem dor de moderada-a-intensa mesmo quando analgésicos fortes, como morfina e anestésicos locais, incluindo lidocaína, são administrados; de acordo com a maioria dos estudos encontrados, pacientes sentem dor de moderada-a-severa durante a remoção do dreno torácico apesar da administração da morfina ou anestésicos locais(2121. Bruce EA, Howard RF, Franck LS. Chest drain removal pain and its management: a literature review. J Clin Nurs. 2006;15(2):145-54.).

Um estudo comparou a eficácia de remifentanil 0,5 mg/kg versus placebo para aliviar a dor decorrente da remoção do dreno torácico. Os resultados revelaram que os pacientes que tomaram remifentanil apresentaram uma dor significativamente menor do que placebo na remoção do dreno(66. Casey E, Lane A, Kuriakose D, McGeary S, Hayes N, Phelan D, et al. Bolus Remifentanil for chest drain removal in ICU: a randomized double-blind comparison of three modes of analgesia in post-cardiac surgical patients. Intensive Care Med. 2010;36(8):1380-5.). Em outro estudo(7) escores significantemente menores de dor foram relatadas em grupos tratados com fentanil 2 µg/kg IV or sufentanil 0.2 µg/kg IV comparados a pacientes do grupo controle que tomaram 2 ml de soro fisiológico.

Remoção de dreno torácico e pleural em particular, é considerada um fator determinante para o desenvolvimento de dor intensa após cirurgia cardíaca. É observado também que a remoção do dreno torácico pleural é mais dolorosa, comparada com a do dreno mediastinal(22. Puntillo KA, Ley SJ. Appropriately timed analgesics control pain due to chest tube removal. Am J Crit Care. 2004;13(4):292-301.). Alguns pacientes também, relataram que a dor ou desconforto causado pelo procedimento é uma das piores experiências em UTI. A inserção dos drenos pleurais é inevitável durante uma pleurotomia e causa lesões peitorais traumáticas em decorrência de perfuração dos músculos intercostais e pleura parietal, que interfere com os movimentos respiratórios e a posição dos drenos pleurais(2222. Jakob H, Kamler M, Hagl S. Doubly angled pleural drain circumventing the transcostal route relieves pain after cardiac surgery. Thorac Cardiovasc Surg. 1997;45(5):263-4.-2323. Lancey RA, Gaca C, Salm TJV. The use of smaller, more flexible chest drains following open heart surgery. Chest. 2001;119(1):19-24.). Outro estudo(2424. Guizilini S, Bolzan DW, Faresin SM, Ferraz RF, Tavolaro K, Cancio AA, et al. Pleurotomy with subxyphoid pleural drain affords similar effects to pleural integrity in pulmonary function after off-pump coronary artery bypass graft. J Cardiothorac Surg. 2012;25:7-11.) demonstrou que pacientes com dreno pleural subxiphoid relataram menos dor comparados com os que tiveram inserção intercostal. Resultados similares foram relatados (25) e descreveram uma técnica de inserção do dreno pleural subxiphoid para reduzir o desconforto pós-operatório em decorrência do atrito do tubo peitoral no espaço intercostal.

Em nosso estudo, as palavras (descritores) utilizadas pelos participantes para descrever dor, foram: de pressão, aguda, como uma picada, e queimar/arder, e o local mais comum da dor era o local do dreno (65,0%). Usando o mesmo instrumento e tipo de população, um estudo(22. Puntillo KA, Ley SJ. Appropriately timed analgesics control pain due to chest tube removal. Am J Crit Care. 2004;13(4):292-301.) informou que as palavras utilizadas para descrever a dor causada pela remoção do dreno torácico foram: terrível (44,8%), aguda e amena (40,3%), e quente-queima/arde usando o mesmo instrumento na mesma população.

De acordo com a efetividade de terapias não-farmacológicas para controle da dor no CTR; a aplicação fria, que pareceu ser a não-invasiva e segura para reduzir a dor numa revisão sistemática que analisou dados de 426 pacientes, 05 ensaios demonstraram resultados conflitantes(55. Chen YR, Hsieh LY. The effectiveness of a cold application for pain associated with chest tube removal: a systematic review. Hu Li Za Zhi. 2015;62(1):68-75.). Entretanto, no estudo de Demir e Khorshid(26), foi demonstrado que a aplicação fria reduziu a intensidade da dor dos pacientes em decorrência do CTR mas não afetou os níveis de ansiedade ou o tipo da dor. Todavia, eles recomendaram o "frio" como sendo uma técnica de alívio da dor durante o CTR.

Como possível limitação do estudo, acredita-se que, de alguma forma o número da amostra não foi grande. Portanto, os resultados não podem ser generalizados para outros pacientes que experienciam o CTR. Recomendamos, repetir o estudo com mais pacientes que enfrentam o CTR por outras razões. O presente estudo foi designado para dois grupos; então o efeito possível do placebo não foi identificado por pacientes na percepção da dor. Recomendamos conduzir um estudo similar em três grupos para excluir o efeito placebo. Em nosso estudo, pacientes poderiam ter respondido diferentemente a dor, baseado nas condições físicas, emocionais e estado cultural. É sugerido estudos adicionais em configurações diferentes.

Conclusão

Assim, o presente estudo sugere que o efeito analgésico de administração subcutânea de lidocaína 1% combinada com analgesia multimodal é menos efetiva, e que as injeções subcutâneas causam desconforto aos pacientes.

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    Artigo extraído da tese de doutorado "Avaliação da eficácia analgésica da associação entre anestesia geral e raquianestesia com morfina combinada à ropivacaína a 0,5% em relação à anestesia geral e analgesia multimodal no pós-operatório de revascularização do miocárdio", apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.
  • Errata

    No artigo "Eficácia analgésica da lidocaína e analgesia multimodal na remoção do dreno torácico: Um estudo randomizado controlado", com número de DOI: 10.1590/0104-1169.0498.2642, publicado no periódico Rev. Latino-Am. Enfermagem, nov.-dez. 2015;23(6), na página 1000:
    Onde se lia:
    "Conclusão: o presente estudo sugere que o efeito analgésico da administração de lidocaína 1% combinada com a analgesia multimodal é mais eficiente."
    Leia-se:
    "Conclusão: o presente estudo sugere que o efeito analgésico da administração de lidocaína 1% combinada com a analgesia multimodal é menos eficaz."
    Na página 1002:
    Onde se lia:
    "Os médicos e enfermeiros da instituição onde o estudo foi conduzido, estabeleceram que os drenos fossem removidos 24 horas após a cirurgia. (fiz um pequeno ajuste na concordância) O número, tamanho e posição dos tubos foram determinados por necessidades cirúrgicas. Tubos tamanhos 19F e 28F são comumente utilizados para drenagem de tórax, na instituição onde o estudo foi conduzido. (Penso que a estrutura da frase fica mais acadêmica desta forma)"
    Leia-se:
    "Os médicos e enfermeiros da instituição onde o estudo foi conduzido, estabeleceram que os drenos fossem removidos 24 horas após a cirurgia. O número, tamanho e posição dos tubos foram determinados por necessidades cirúrgicas. Tubos tamanhos 19F e 28F são comumente utilizados para drenagem de tórax, na instituição onde o estudo foi conduzido."
    Nas páginas 1002-1003:
    Onde se lia:
    "Antes da remoção dos tubos, os pacientes foram alocados aleatoriamente pelos cardiologistas, para os grupos de estudo; utilizando um banco de dados informatizado (pequena alteração - sinônimos), previamente construído. No grupo experimental foram realizadas quatro injeções subcutâneas de lidocaína a(penso ser melhor retirar o 'a') 1% a, aproximadamente, 1 cm da borda da ferida cirúrgica, com 2,0 ml cada, em forma de losango (7mm) totalizando 8,0 ml, mais esquema de analgesia padronizado na UTI para o pós-operatório de cirurgia cardíaca, onde o estudo foi realizado."
    Leia-se:
    "Antes da remoção dos tubos, os pacientes foram alocados aleatoriamente pelos cardiologistas, para os grupos de estudo; utilizando um banco de dados informatizado, previamente construído. No grupo experimental foram realizadas quatro injeções subcutâneas de lidocaína 1%, aproximadamente, 1 cm da borda da ferida cirúrgica, com 2,0 ml cada, em forma de losango (7mm) totalizando 8,0 ml, mais esquema de analgesia padronizado na UTI para o pós-operatório de cirurgia cardíaca, onde o estudo foi realizado."

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    07 Out 2014
  • Aceito
    03 Maio 2015
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