Benefícios do Qigong como prática integrativa e complementar para a saúde: revisão sistemática^*

Resumos

Objective:

to analyze, in the literature, evidence about the benefits of the integrative and complementary practice of Qigong with regard to the health of adults and the elderly.

Method:

a systematic review by searching for studies in the PubMed, CINAHL, LILACS, EMBASE and Cochrane Library databases. Randomized and non-randomized clinical trials were included; in Portuguese, English and Spanish; from 2008 to 2018. The Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses strategy was adopted, as well as the recommendation of the Cochrane Collaboration for assessing the risk of bias in the clinical trials analyzed.

Results:

28 studies were selected that indicated the benefit of the practice to the target audience, which can be used for numerous health conditions, such as: cancer; fibromyalgia; Parkinson’s disease; Chronic Obstructive Pulmonary Disease; Burnout; stress; social isolation; chronic low back pain; cervical pain; buzz; osteoarthritis; fatigue; depression; and cardiovascular diseases. However, there was a great risk of bias in terms of the blinding of the research studies.

Conclusion:

the practice of Qigong produces positive results on health, mainly in the medium and long term. This study contributes to the advancement in the use of integrative and complementary practices in nursing, since it brings together the scientific production in the area from the best research results available.

Descriptors:
Complementary Therapies; Medicine, Chinese Traditional; Qigong; Systematic Review; Evidence-Based Practice; Nursing

Objetivo:

analizar las evidencias presentes en la literatura acerca de los beneficios del Qigong como práctica integradora y complementaria en relación a la salud de adultos y ancianos.

Método:

revisión sistemática mediante la búsqueda de estudios en las siguientes bases de datos: PubMed, CINAHL, LILACS, EMBASE y Cochrane Library. Se incluyeron ensayos clínicos aleatorizados y no aleatorizados en portugués, inglés y español, de 2008 a 2018. Se adoptó la estrategia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses, así como la recomendación de la Colaboración Cochrane empleada para evaluar el riesgo de sesgo de los ensayos clínicos analizados.

Resultados:

se seleccionaron 28 estudios que indicaron los beneficios de la práctica para el público objetivo, empleada en la afección de numerosos problemas de salud como cáncer, fibromialgia, Mal de Parkinson, Enfermedad Pulmonar Obstructiva Crónica, Burnout, estrés, aislamiento social, lumbalgia crónica, dolor cervical, tinnitus, osteoartritis, fatiga, depresión y enfermedades cardiovasculares. No obstante, se registró un gran riesgo de sesgo en lo que se refiere al procedimiento de enmascaramiento de las investigaciones.

Conclusión:

practicar Qigong produce resultados positivos en la salud, principalmente, a mediano y largo plazo. Este estudio contribuye al avance en el uso de prácticas integradoras y complementarias en enfermería, ya que reúne la producción científica en el área, seleccionada a partir de los mejores resultados de las investigaciones disponibles.

Descriptores:
Terapias Complementarias; Medicina China Tradicional; Qigong; Revisión Sistemática; Práctica Clínica Basada en la Evidencia; Enfermería

Introdução

Também conhecidas como práticas alternativas e/ou complementares (PIC), as terapias integrativas destinam-se ao alcance do bem-estar físico e mental e são capazes de amenizar sintomas provenientes de condições de saúde e tratamentos convencionais^(1-2).

Em 2006, no Brasil, reconheceram-se as PIC, a partir da publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), pela Portaria nº 971, incluindo, no Sistema Único de Saúde (SUS): Medicina Tradicional Chinesa (MTC)/Acupuntura; Homeopatia; Plantas Medicinais, Fitoterapia; Medicina Antroposófica; e Crenoterapia-Termalismo Social. Onze anos depois, com a Portaria nº 849, outras foram acrescentadas: Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga^(3-4).

Recentemente, em 2018, pela Portaria nº 702, acrescentaram-se no sistema: Aromaterapia, Apiterapia, Bioenergética, Constelação Familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Hipnoterapia, Imposição de Mãos, Ozonioterapia e terapia de Florais⁽⁵⁾. O fato de as PIC terem sua procura aumentadas, bem como sua inserção no SUS, apontam para o início de um movimento no Brasil em busca da qualificação da forma do cuidar em saúde ofertado para a população, gradativamente mais integral, resolutivo e universal⁽¹⁾.

O Qigong é uma PIC da MTC que vai ao encontro dessa perspectiva do cuidado em saúde. E, conforme já discutido, trata-se de uma prática com alto índice de reconhecimento por seus resultados positivos à saúde. Ocorre, durante o processo, uma melhora no transporte de energia e sangue por meio da relação corpo-mente estabelecida, que influencia o sangue, a essência, fluidos corporais e a mente, essenciais ao ser humano. Dessa forma, é possível ajustar e tornar harmônicos os fluxos do Qi e o Yin-Yang do corpo, promovendo, por conseguinte, saúde⁽⁶⁾.

Um estudo na área explorou, de forma progressiva, resultados dessa terapia em públicos-alvo distintos, por exemplo, pessoas com idade avançada e outras com condições de saúde crônicas que não são passíveis de transmissão, com o intuito de entender sua influência no que tange à saúde⁽⁶⁾. Entretanto, mais avaliações, provenientes de estudos com métodos reconhecidos, são necessárias no que diz respeito à fisiologia envolvida nos resultados da terapia, para que seja possível desenvolver o que é conhecido na área quanto a sua relação com a saúde dos praticantes, motivo este que incentivou o desenvolvimento do presente estudo.

Práticas que desenvolvem tanto as condições físicas e mentais quanto a qualidade de vida (QV), como as PIC, tratam-se do alicerce no que se refere à busca de cuidados de enfermagem de qualidade, realizadas durante o compartilhamento de conhecimento entre profissionais e usuários de saúde. Nesse sentido, há uma valorização de sua participação ativa neste processo⁽²⁾.

O fato de enfermeiros lançarem mão de PIC relaciona-se a um movimento humanizador de integração de cuidados, que abrange sua disseminação, bem como o ato de torná-las legítimas nesse âmbito. Apesar de a literatura apresentar sólidas evidências, não há grande uso dessas práticas por parte de profissionais da área e pacientes^(1-2).

Sendo assim, com o intuito de construir um aporte científico, além de otimizar a ação da enfermagem tanto nos cuidados quanto na produção de saúde, pesquisas que explorem resultados de PIC, como o Qigong, com foco naquelas que se relacionem à enfermagem, são essenciais. Dito isso, o objetivo desta revisão sistemática tratou-se de analisar na literatura as evidências sobre os benefícios da prática integrativa e complementar de Qigong à saúde de pessoas adultas e idosas.

Método

O método revisão sistemática da literatura (RS) torna possível reunir, analisar e sintetizar produções científicas a respeito de certa questão clínica, a fim de que seja possível entender, discutir e estabelecer ações clínicas com base em evidências⁽⁷⁾.

A trajetória metodológica percorrida baseou-se na estratégia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), por meio de sua lista de verificação de itens e fluxograma para o desenvolvimento de uma RS^(8-9).

Com a finalidade de se construir a questão de pesquisa desta RS, utilizou-se a estratégia PICO: Paciente/População/Problema de interesse (P): adultos e idosos; Intervenção/Área de Interesse (I): prática de Qigong; Comparação (C): não se aplica; e Outcomes/Desfecho (O): benefícios da prática de Qigong para a saúde. Com ela, é possível identificar palavras-chave sobre o assunto. A estratégia é essencial no que se refere ao desenvolvimento da estratégia de busca de estudos primários relevantes nas bases de dados⁽⁹⁾.

Assim, obteve-se a seguinte questão: A prática de Qigong produz efeitos benéficos para a saúde de adultos e idosos? As pesquisas dos estudos primários, realizadas a partir dos descritores apresentados a seguir, deram-se nas bases de dados: National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Excerpta Medica Database (EMBASE); e Cochrane Controlled Register of Trials (CENTRAL) - Cochrane Library.

Para tanto, utilizaram-se descritores, bem como sinônimos, em concordância com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), a Medical Subject Headings (MeSH) e o Emtree da Elsevier Life Science (Emtree), como apresentado na Figura 1.

Figura 1
Estratégia de busca dos estudos primários da revisão sistemática. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2019

Base de dados	Descritores controlados		Não controlados	Estratégia de busca
PubMed (MeSH)	Adult Young Adult Aged Qigong Treatment Outcome Outcome Assessment (Health Care)		Older Adults Qi Gong Ch’i Kung	(((((Adult) OR (Young Adult) OR (Older Adults) OR (Aged) OR (Elderly)))) AND (((Qigong) OR (Qi Gong) OR (Ch’i Kung)))) AND (((Treatment Outcome) OR (Outcome Assessment (Health Care))))
CINAHL (MeSH)
Cochrane Central (MeSH)
EMBASE (Emtree)	Adult Young Adult Aged Qigong	Treatment Outcome Outcome Assessment (Health Care)
LILACS (DeCS)	Adult Adulto Adulto Young Adult Adulto Joven Adulto Jovem Aged Anciano Idoso	Qigong Treatment Outcome Resultado del Tratamiento Resultado do tratamento Outcome Assessment (Health Care) Evaluación de Resultado (Atención de Salud) Avaliação de Resultado (Cuidados de Saúde)		(tw:((Adult) OR (Adulto) OR (Adulto) OR (Young Adult) OR (Adulto Joven) OR (Adulto Jovem) OR (Aged) OR (Anciano) OR (Idoso))) AND (tw:((Qigong) OR (Qi Gong) OR (Ch’i Kung))) AND (tw:((Outcome Assessment (Health Care)) OR (Evaluación de Resultado (Atención de Salud)) OR (Avaliação de Resultado (Cuidados de Saúde))))

Como critérios de inclusão, adotaram-se: ensaios clínicos randomizados e não randomizados relativos ao uso de Qigong por adultos e idosos; que respondessem à pergunta da pesquisa; redigidas nas línguas portuguesa, inglesa ou espanhola; com início em janeiro de 2008 e término em dezembro de 2018 (considerando este como um período histórico importante para o reconhecimento das Práticas Integrativas e Complementares [PIC] como o Qigong nos meios científico e político); disponíveis nas bases mencionadas. Os critérios de exclusão adotados foram: não selecionar pesquisas relacionadas ao Qigong médico (externo); que não discutissem avaliação dos efeitos do Qigong ou não apresentassem uma definição correta sobre ele; e que apresentassem somente protocolos de ensaios clínicos, sem obter resultados.

A busca foi feita, de forma concomitante, em novembro de 2018, por meio das cinco bases de dados mencionadas. Ao cruzar os descritores, foram encontrados 334 artigos. A fim de gerenciar as pesquisas, utilizaram-se os softwares Rayyan QCRI^® e EndNote Web^®. Os mesmos softwares foram utilizados para exportar, organizar e filtrar os estudos no que diz respeito a duplicações nas bases. Os estudos foram pré-selecionados ao ler títulos e resumos e, por fim, foram selecionados para esta revisão por meio da completa leitura a fim de incluir na amostra. Também foi realizada a pré-seleção pela leitura do título e resumo e, finalmente, a seleção dos estudos para a revisão final mediante a leitura na íntegra para inclusão na amostra.

A extração dos dados foi realizada por dois revisores, de forma independente. As recomendações do Consolidated Standards of Reporting Trials⁽¹⁰⁾ foram adotadas para a leitura criteriosa de cada ensaio clínico incluído, sendo elaborado um quadro síntese a respeito com as seguintes informações para a análise na íntegra: identificação (título e resumo); introdução (embasamento científico, justificativa e objetivos); método (tipo de estudo, critérios de inclusão e exclusão dos participantes, intervenções realizadas, hipóteses, tamanho amostral, randomização, cegamento e análise estatística); resultados (recrutamento, dados da linha de base, números analisados, estimativas, análises auxiliares e efeitos e danos indesejados nos grupos analisados); discussão (limitações, generalização e interpretação dos resultados); conclusão; e registros dos protocolos . Tanto o delineamento de pesquisa quanto o nível de evidência dos artigos foram realizados, para que fosse possível classificá-los conforme a hierarquia de evidências⁽¹¹⁾.

A avaliação crítica dos estudos foi realizada com base na recomendação da Colaboração Cochrane⁽¹²⁾ para a avaliação do risco de viés de ensaios clínicos. Trata-se de uma ferramenta que permite a avaliação de diversos tipos de viés encontrados em ensaios clínicos, sendo organizada por sete domínios, com três categorias cada, a saber: alto risco de viés, baixo risco de viés e risco de viés incerto. Tal instrumento foi escolhido porque era necessário analisar o nível da metodologia das pesquisas encontradas na RS, para que os desfechos advindos das evidências científicas na literatura fossem confiáveis.

Resultados

Selecionaram-se 28 trabalhos compatíveis com os critérios de inclusão adotados para esta RS, não sendo adicionados estudos a partir da revisão das referências desta amostra selecionada, conforme estabelecido em Figura 2, apresentada a seguir.

Figura 2
Fluxo de seleção dos estudos, conforme adaptação do PRISMA⁽⁸⁾. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2019

No que diz respeito à autoria principal dos artigos, 13 (46,4%) tratavam-se de médicos, oito eram (28,6%) enfermeiros, dois (7,1%), psicólogos, dois (7,1%), terapeutas ocupacionais, um (3,6%), farmacêutico, um (3,6%), educador físico e um (3,6%), fisioterapeuta. Notou-se, também, que 15 (53,6%) dos estudos foram desenvolvidos na China, cinco (17,9%) na Alemanha, três (10,7%) nos Estados Unidos, dois (7,1%) na Suécia, dois (7,1%) na Coreia e um (3,6%) na Tailândia. A Figura 3, ao lado, apresenta a descrição dos estudos analisados na RS.

Figura 3
Descrição dos estudos incluídos na revisão sistemática, segundo ano de publicação e títulos. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2019

Estudo	Ano	Título
E1	2016	Exploratory outcome assessment of Qigong/Tai Chi Easy on breast cancer survivor(13).
E2	2016	Effect of health Baduanjin Qigong for mild to moderate Parkinson’s disease(14).
E3	2015	Randomized controlled trial of Qigong/Tai Chi Easy on cancer-related fatigue in breast cancer(15).
E4	2016	Qigong or Yoga Versus No Intervention in Older Adults With Chronic Low Back Pain: a Randomized Controlled Trial(16).
E5	2015	Qigong versus exercise therapy for chronic low back pain in adults: a randomized controlled non-inferioritytrial(17).
E6	2012	Therapeutic Effects of Qigong in Patients with COPD: a Randomized Controlled Trial(18).
E7	2009	Effects of Qigong in patients with burnout: a randomized controlled trial(19).
E8	2011	Functional and Psychosocial Effects of Health Qigong in Patients with COPD: a Randomized Controlled Trial(20).
E9	2016	Effects of Qigong Exercise on Biomarkers and Mental and Physical Health in Adults With at Least One Risk Factor for Coronary Artery Disease(21).
E10	2013	Effects of a Brief Qigong-based Stress Reduction Program (BQSRP) in a distressed Korean population: a randomized trial(22).
E11	2013	Psycho-physical and neurophysiological effects of qigong on depressed elders with chronic illnes(23).
E12	2012	A randomized controlled trial of qigong for fibromyalgia(24).
E13	2012	A Randomized Controlled Trial of Qigong Exercise on Fatigue Symptoms, Functioning, and Telomerase Activity in Persons with Chronic Fatigue or Chronic Fatigue Syndrome(25).
E14	2011	Tai chi Qigong improves lung functions and activity tolerance in COPD clients: a single blind, randomized controlled trial(26).
E15	2011	Qigong Versus Exercise Versus No Therapy for Patients With Chronic Neck Pain: a randomized controlled trial(27).
E16	2010	Qigong for the treatment of tinnitus: a prospective randomized controlled study(28).
E17	2009	Qigong and exercise therapy for elderly patients with chronic neck pain (QIBANE): a randomized controlled study(29).
E18	2009	Tai Chi Qigong for the quality of life of patients with knee osteoarthritis: a pilot, randomized, waiting list controlled trial(30).
E19	2008	The effect of Qigong on Fibromyalgia (FMS): a controlled randomized study(31).
E20	2017	Qigong/tai chi for sleep and fatigue in prostate cancer patients undergoing radiotherapy: a randomized controlled trial(32).
E21	2015	The Effects of a 6-Month Tai Chi Qigong Training Program on Temporomandibular, Cervical, and Shoulder Joint Mobility and Sleep Problems in Nasopharyngeal Cancer Survivors(33).
E22	2016	A randomized controlled trial of qigong on fatigue and sleep quality for non-Hodgkin’s lymphoma patients undergoing chemotherapy(34).
E23	2013	The sustaining effects of Tai chi Qigong on physiological health for COPD patients: a randomized controlled trial(35).
E24	2017	Effects of tai chi qigong on psychosocial well-being among hidden elderly, using elderly neighborhood volunteer approach: a pilot randomized controlled trial(36).
E25	2017	A nurse facilitated mind-body interactive exercise (Chan-Chuang qigong) improves the health status of non-Hodgkin lymphoma patients receiving chemotherapy: Randomised controlled trial(37).
E26	2017	The efficacy of Guolin-Qigong on the body-mind health of Chinese women with breast cancer: a randomized controlled trial(38).
E27	2018	Effects of Qigong practice in office workers with chronic non-specific low back pain: a randomized control trial(39).
E28	2014	Effect of qigong training on fatigue in haemodialysis patients: a non-randomized controlled trial(40).

A totalidade dos artigos submetidos à análise foi publicada na língua inglesa, e 21 deles em periódicos distintos, com predomínio (n = 24) de revistas da área da Medicina. Apenas um não era randomizado, embora todos tenham sido avaliados com nível de evidência II, considerado forte, conforme o referencial teórico adotado⁽¹¹⁾.

Os trabalhos foram avaliados criticamente, de acordo com a Figura 4 a seguir, com a avaliação do risco de viés, em conformidade com os critérios da Colaboração Cochrane⁽¹²⁾, a fim de determinar a confiabilidade dos resultados.

Figura 4
Avaliação do risco de viés dos estudos incluídos na revisão sistemática, segundo a ferramenta de avaliação da Colaboração Cochrane⁽¹²⁾. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2019

Em busca de cumprir o objetivo desta RS e conduzir uma comparação entre os dados obtidos e a literatura, organizaram-se os artigos em cinco categorias temáticas. A primeira foi estabelecida quanto à prevenção em saúde associada à terapia, em que o E9⁽²¹⁾, com pessoas adultas com diagnóstico de risco de doença arterial coronariana (DAC) (n = 139) com faixa etária média de 62 anos, mostrou melhora na saúde mental e física percebida (p < 0,001), e também na quantidade de gordura corporal (p < 0,001) em comparação com o grupo de controle. Também, a intervenção (12 semanas) apresentou resultados importantes nos perfis lipídicos, com níveis médios significativamente menores, porém, não no que se refere à proteína (hs-CRP), hemoglobina glicada (HbA1c) e ao açúcar plasmático em jejum⁽²¹⁾.

A segunda categoria temática tratou dos efeitos psicossociais provocados pelo Qigong em três estudos (E10, E11 e E24). O E10⁽²²⁾ realizou um programa de Qigong (4 semanas) em sujeitos estressados (n = 50) com idade média de 38 anos, mostrando que, em comparação com o grupo de controle, o grupo de intervenção teve reduções significativamente maiores nos escores da escala de estresse percebido (p = 0,0006), do estado de ansiedade (p = 0,0028), traço de ansiedade (p < 0,0001), subescalas de personalidade (p = 0,0321), sintomas (p = 0,0196) para síndrome da raiva, bem como aumento significativamente maior nas pontuações de QV da Organização Mundial da Saúde (OMS) (p < 0,05). Entretanto, os índices de cortisol salivar não sofreram alteração⁽²²⁾.

O E11⁽²³⁾ de Qigong (12 semanas) em idosos deprimidos com doenças crônicas (n = 38) com faixa etária média de 80 anos revelou que o grupo de intervenção mostrou redução significativa nos sintomas depressivos (p < 0,025), melhoria da autoeficácia (p = 0,050), melhoria do autoconceito de bem-estar físico (p < 0,025) e aumento da força física (p = 0,034). Verificou-se, além disso, menor nível de cortisol salivar (p < 0,008) no referido grupo⁽²³⁾.

Já o E24⁽³⁶⁾, com idosos isolados socialmente (n =46) com idade média de 77 anos, apresentou que os praticantes de Tai Chi/Qigong (3 meses) melhoraram, significativamente, a escala de solidão (p = 0,033), bem como o componente de satisfação do questionário de apoio social (p = 0,044) quando comparado ao das pessoas do grupo de controle. Outro dado importante é que 82% dos participantes relataram que continuariam os exercícios, ao passo que nove relataram que ampliaram seu círculo de amizade, o que indica que a maioria gostou de praticar Tai Chi/Qigong⁽³⁶⁾.

A terceira categoria temática referiu-se aos efeitos analgésicos relacionados à prática de Qigong, em que cinco estudos foram analisados (E4, E5, E15, E17 e E27). O E4⁽¹⁶⁾, com idosos com dor na região lombar (n = 176) com faixa etária média de 72 anos, demonstrou não haver distinções estatisticamente significativas nos grupos em relação a mudanças no grau de dor lombar durante a pesquisa ( Qigong x Yoga, p = 0,18 e Qigong x Controle, p = 0,12). Entretanto, houve satisfação com a terapia de Qigong (7,9) e de Yoga (7,8) e maiores chances de recomendação a outros indivíduos⁽¹⁶⁾.

O E5⁽¹⁷⁾ investigou a terapia (3 meses) em pacientes com lombalgia crônica (n = 123) com idade média de 46 anos, revelando não ter havido, estatisticamente, confirmação da não inferioridade (p = 0,204) - levando em conta a margem de não inferioridade considerada de 5 mm pela pesquisa em questão na média da intensidade da lombalgia - do grupo de Qigong (n = 64; 34,8 mm) quando comparado ao de controle (n = 63; 33,1 mm), com a prática de alongamentos e relaxamentos destinados à dor lombar crônica. A distinção encontrada tratou-se somente do fato de que o grupo de Qigong aderiu mais nas aulas guiadas (67,2 %), bem como naquelas feitas em casa (72 %)⁽¹⁷⁾.

O E15⁽²⁷⁾ revelou que o Qigong (6 meses), em adultos apresentando dor na região cervical de forma crônica (n = 122) com faixa etária média de 45 anos, mostrou uma diferença significativa com o grupo de controle no que se refere ao grau de dor (p = 0,002). Os resultados secundários submetidos a avaliação (dores na região do pescoço, falta de capacidade e QV) demonstraram os benefícios do Qigong quando comparados com o grupo de controle, de forma parecida quando se tratam de exercícios convencionais⁽²⁷⁾. Quanto ao E17⁽²⁹⁾, com idosos apresentando dor na região cervical de forma crônica (n = 93) com idade média de 75 anos, no que tange à dor, falta de capacidade e QV, não foram identificadas distinções significativas ao comparar os grupos de Qigong (3 meses) e controle (p = 0.099), bem como aquele com práticas convencionais de exercícios (p = 0,699)⁽²⁹⁾.

E o E27⁽³⁹⁾, com adultos referindo dor na região lombar de forma crônica e não específica e que trabalham em escritórios (n = 62) com faixa etária média de 35 anos, evidenciou uma importante redução no grau de dor e incapacidade funcional da região lombar (p < 0,022) para as pessoas do grupo de Qigong (6 semanas). Além disso, importantes melhoras foram identificadas no que se refere ao grau de dor (p < 0,001), comprometimento funcional da região das costas (p < 0,001), amplitude do movimento (p < 0,001), força dos músculos (p < 0,001), frequência cardíaca (p < 0,001) e estado mental (p = 0,005), além de melhor satisfação geral com a prática (p < 0,001) no grupo de intervenção⁽³⁹⁾.

A quarta categoria temática referiu-se aos efeitos da terapia na área de oncologia, em que sete estudos (E1, E3, E20, E21, E22, E25 e E26) foram agrupados. O E1⁽¹³⁾, com 87 pessoas que sobreviveram à neoplasia mamária, com idade média de 59 anos, apontou benefícios físicos e psicológicos subsequentes (12 semanas), bem como importante aumento no level de atividade física e de função cognitiva (p < 0,001). Também houve uma redução do peso corporal pelo IMC [-0,66 (p = 0,048)] quando comparado ao outro grupo de exercício⁽¹³⁾.

O E3⁽¹⁵⁾ testou uma intervenção (12 semanas) com Qigong/Tai Chi Fácil versus Sham Qigong em relação a fadiga, depressão e qualidade do sono de pessoas que sobreviverem à neoplasia mamária (n = 87) com faixa etária média de 58 anos. Verificou-se, neste estudo, importante redução de fadiga no grupo de Qigong/Tai Chi Fácil (p = 0,005) em comparação ao outro grupo, mantida ao longo dos 90 dias de prática (p = 0,024). Houve, em adição, melhora nos quadros de depressão e no sono nas duas intervenções (p < 0,05)⁽¹⁵⁾.

Quanto ao E20⁽³²⁾, que avaliou homens com câncer de próstata (n =50) em tratamento radioterápico com idade média de 64 anos, notou-se que o grupo que praticou Qigong, durante o tratamento, descreveu noites de sono maiores (p = 0,05) quando comparados aos grupos controle e que realizaram atividades mais leves; porém, ao final da radioterapia, isso já não ocorria⁽³²⁾.

Por outro lado, o E21⁽³³⁾, envolvendo pessoas que sobreviveram à neoplasia nasofaríngea (n = 52) com faixa etária de 58 anos, trouxe resultados positivos (6 meses). A amplitude de movimento da região cervical foi melhorada (p < 0,008), e as mobilidades dos ombros e das articulações temporomandibulares não se alteraram (p > 0,008). Piora quanto à amplitude de movimentos dos ombros e habilidade para abrir a boca foram identificadas no grupo controle de forma gradativa (p < 0,008). No que tange a dificuldades de sono, houve melhoras para o grupo de intervenção (p < 0,008), relacionadas ao desenvolvimento da amplitude dos movimentos da região cervical (p < 0,05)⁽³³⁾.

O E22⁽³⁴⁾ avaliou pessoas acometidas por linfoma não Hodgkin em tratamento quimioterápico (n = 102) com idade média de 59 anos, mostrando, também, importante diminuição de fadiga e aumento da qualidade de sono (p < 0,001) para o grupo de Qigong (12 semanas), desde que haja um considerável período de prática⁽³⁴⁾. Nesse sentido, o E25⁽³⁷⁾, com pacientes acometidos pela mesma doença (n = 96) e submetidos ao primeiro ciclo do tratamento quimioterápico com faixa etária média de 60 anos, também revelou importante melhora no nível de fadiga (p <0,001) para o grupo de intervenção, além dos glóbulos brancos (p < 0,001), hemoglobina (p = 0,002) e qualidade de sono (p < 0,001)⁽³⁷⁾.

Ademais, o E26⁽³⁸⁾, com participantes reabilitando-se de neoplasia mamária (n = 158) com idade média de 50 anos, houve benefícios para o bem-estar emocional (p < 0,01) e específico (p < 0,01) no que se refere à QV submetida a avaliação e comparação com o grupo controle para o grupo de Qigong (24 semanas). Houve benefícios quanto à ansiedade (p < 0,01) para o grupo de intervenção. Já o grupo controle teve benefícios para a depressão (p < 0,05). Todavia, não foi identificada distinção com significância entre eles. Tanto um grupo quanto outro apresentaram benefícios para a imunidade, porém, o de Qigong foi mais desenvolvido nos graus de necrose tumoral-alfa (TNF-a) (p < 0,05) em comparação ao de controle⁽³⁸⁾.

Por fim, a quinta categoria temática agrupou doze estudos (E2, E6, E7, E8, E12, E13, E14, E16, E18, E19, E23 e E28) referentes ao uso do Qigong para a reabilitação em saúde. O E2⁽¹⁴⁾, com pacientes com Doença de Parkinson (n= 89), entre a faixa etária de 67 anos, mostrou que o grupo praticante de Baduanjin Qigong (6 meses) apresentou importantes desenvolvimentos no sono (p = 0,029), mobilidade funcional (p = 0,041) e teste de caminhada de 6 minutos (p = 0,042) quando comparado ao de controle. Além disso, a velocidade de marcha (p = 0,011) foi aumentada⁽¹⁴⁾.

O E6⁽¹⁸⁾, com pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) (n = 118) com idade média de 62 anos, revelou que, mesmo sem ter relação com a fase da enfermidade, tanto o grupo que praticou Qigong (6 meses) quanto aquele de atividades convencionais de reabilitação pulmonar, melhoraram quanto ao teste de caminhada de 6 minutos e aos escores de QV quando comparados ao controle. De forma mais precisa, os praticantes de Qigong melhoraram quanto à diminuição da exacerbação aguda da DPOC estágio I, bem como as complicações relacionadas, além da manutenção da estabilidade do nível do fator de TNF-a para pessoas com DPOC estágio II⁽¹⁸⁾.

No E7⁽¹⁹⁾, com participantes com Burnout (n = 68) com faixa etária média de 44 anos, os resultados não obtiveram distinções estatisticamente relevantes em relação aos grupos considerados (12 semanas), uma vez que os dois tiveram benefícios ao reduzir o grau de Burnout, fadiga, ansiedade e depressão por meio do Qigong⁽¹⁹⁾.

Ainda com participantes com DPOC (n = 52) com idade média de 73 anos, o E8⁽²⁰⁾ evidenciou indícios para desenvolvimento de capacidade funcional e QV em todas as suas subescalas no grupo que praticou Qigong, ao passo que o outro grupo demonstrou indícios de piora da QV em quatro (saúde geral, saúde mental, fadiga e emocional)⁽²⁰⁾.

A fibromialgia foi avaliada no E12⁽²⁴⁾ (n = 89), em adultos com faixa etária média de 52 anos, onde o grupo que praticou Qigong (6 meses) apresentou importantes benefícios relativos à dor (2 meses: p < 0,0001; 4 meses: p = 0,0002; e 6 meses: p = 0,02); impacto da fibromialgia (2 meses: p < 0,0001; 4 meses: p = 0,005; e 6 meses: p = 0,02); qualidade de sono (2 meses: p = 0,004; 4 meses: p = 0,0007; e 6 meses: p = 0,01); função física (2 meses: p = 0,001; 4 meses: p = 0,009; e 6 meses: p = 0,02); e função mental (2 meses: p = 0,001; 4 meses: p = 0,05; e 6 meses: p = 0,35) nos domínios de QV submetidos a avaliação, em comparação com o grupo controle⁽²⁴⁾.

O E13⁽²⁵⁾, com pessoas apresentando fadiga crônica (n = 52) com idade média de 42 anos, mostrou a eficácia da intervenção (4 meses) com importantes benefícios em comparação com o grupo controle quanto ao escore de fadiga total (p <0,05), de fadiga física (p <0,01), de fadiga mental (p <0,05) e de funcionamento mental (p = 0,001). Também, a telomerase no grupo com praticantes de Qigong foi estatisticamente relevante em comparação com o grupo controle (p <0,05)⁽²⁵⁾.

Em relação ao E14⁽²⁶⁾, com indivíduos com DPOC (n = 206) com faixa etária média de 73 anos, verificaram-se melhorias similares aos outros estudos no grupo de Qigong (3 meses) no que se refere à capacidade vital (p = 0,002), ao volume expiratório forçado em 1 segundo (p <0,001) e à taxa de exacerbação (p = 0,006). Isso não foi evidenciado no grupo de exercício convencional. Notou-se piora das funções pulmonares para o grupo de controle⁽²⁶⁾.

A terapia também foi avaliada no E16⁽²⁸⁾ em indivíduos com zumbido (n = 71) com idade média de 45 anos, revelando que o Qigong (5 semanas) trouxe melhoras quanto ao zumbido (p <0,0001). Também, é possível considerar que a intervenção é potencialmente benéfica para o tratamento dessa condição dadas a grande satisfação das pessoas com a terapia, bem como a estabilidade de seus efeitos (3 meses)⁽²⁸⁾. No E18⁽³⁰⁾, com pessoas acometidas por osteoartrite sintomática apresentando alterações radiológicas na articulação do joelho (n = 44), com faixa etária média de 69 anos, a terapia evidenciou benefícios relevantes estatisticamente para a QV em relação ao grupo controle (p = 0,010), bem como no teste de caminhada de 6 metros (p = 0,005)⁽³⁰⁾.

Indivíduos com Síndrome de Fibromialgia (SFM) (n = 57), com idade média de 69 anos, também foram estudados no E19⁽³¹⁾, sendo que houve importante diminuição de dor (p <0.0001), além de menos inconveniência relatada por conta da condição (p <0,0001) e melhor habilidade para mantê-la sob controle (p <0,01) com a terapia. De forma similar, o grupo com pessoas praticantes de Qigong (7 semanas) referiu relevante diminuição de ansiedade em relação ao grupo controle (p <0,01), além de benefício em relação à QV (p <0,01)⁽³¹⁾.

Ainda quanto à DPOC, o E23⁽³⁵⁾, com 206 participantes com faixa etária média de 73 anos, mostrou importante desenvolvimento da capacidade de exercício (6 meses) (p < 0,001), bem como relevante aumento na distância média de caminhada (+ 17%). Também foi identificado benefício para as funções pulmonares (p < 0,001), bem como melhora quanto ao volume expiratório médio forçado em 1 s (+ 11%)⁽³⁵⁾.

Por último, o E28⁽⁴⁰⁾, com pacientes em hemodiálise (n = 172) com idade média de 57 anos, revelou, para o grupo de intervenção (6 meses), ser menor a fadiga partindo de 8 semanas de prática, com diminuição relevante comparando-se com o controle (p = 0,005). Além disso, o benefício do Qigong para esse público quanto ao fortalecimento da musculatura, desenvolvimento da função psicológica e diminuição do estresse foram apontados pela pesquisa⁽⁴⁰⁾.

Discussão

O uso do Qigong na rede de saúde revela ser uma prática capaz de promover saúde, além de ir ao encontro da prevenção, o que pode ser confirmado com base nos resultados positivos demonstrados neste estudo. Dito isso, é necessário incentivar estudos com foco nos resultados do Qigong, considerando a prevenção e a promoção de saúde, pois a maior parte das pesquisas busca investigar pessoas com enfermidades já estabelecidas.

Pesquisas sobre o assunto indicaram, também, melhoras da parte respiratória, de circulação, relaxamento e funções relativas à cognição por conta da prática do Qigong, de forma semelhante aos achados deste estudo^(41-43). Igualmente, houve indícios capazes de associar a prática de forma positiva à gestão de fatores de risco relativos a enfermidades cardiovasculares, ou seja, o Qigong é relevante para promover saúde e prevenir enfermidades para pessoas adultas e idosas.

Portadores de DPOC, em sua maioria idosos, encontraram, também, benefício com a prática de Qigong quanto à função pulmonar, capacidade funcional, qualidade de vida e redução da fadiga. Tais resultados vão ao encontro de outra RS sobre a relação do Qigong com o DPOC⁽⁴¹⁾ no que se refere aos efeitos da terapia mediante as técnicas de exercícios respiratórios estimulados em idosos, o que projeta grande importância para o planejamento da reabilitação pulmonar dessa população pela terapia.

Da mesma forma, neste estudo, a prática teve resultados psicossociais positivos em pessoas idosas, indo ao encontro de pesquisas relacionadas, com resultados parecidos evidenciados^(44-46). Estudos sobre a melhora da depressão em adultos e idosos pelo Qigong associam esse resultado com a redução de sinais relativos ao estresse recebidos pelo sistema límbico, no hipocampo e na amígdala, em vista da conexão entre mente/atenção com foco confirmada por meio da prática terapêutica, a qual, por consequência, demonstra causar efeito sobre a secreção do hormônio responsável por liberar corticotrofina pelo hipotálamo e, bem como daquele adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise^(47-48).

Quanto aos efeitos analgésicos, a dor foi um dos desfechos importantes investigados pelos estudos, tendo a literatura mostrado que a terapia pode acentuar o nível de tolerância e percepção da dor principalmente em adultos. Desse modo, uma relevante liberação endógena de controle álgico é relacionada à prática do Qigong nos estudos^(49-50). Os efeitos do Qigong no que diz respeito ao eixo hipófise-hipotálamo-adrenal desempenham relevante função na fisiopatologia da fibromialgia^(49,51), o que a evidencia como pertinente à recomendação e emprego em busca de reabilitar adultos e idosos.

Quanto à Doença de Parkinson, estudos na área vão ao encontro dos resultados apresentados nesta RS, comprovando que uma prática de exercício regular, como a proposta pelo Qigong, é benéfica para a reabilitação destes pacientes, pois traz benefícios físicos, bem como menor chance de que pessoas idosas sofram quedas⁽⁵²⁾.

Com relação aos efeitos na oncologia, uma pesquisa prospectiva longitudinal demonstrou que é possível, inclusive, considerar a prática, inserida no estilo de vida, como protetora no que tange à redução das mortes por conta de neoplasias, por estimular o sistema imune e controlar a resposta inflamatória relativa à doença⁽⁵³⁾.

Nota-se, ainda, nas pesquisas consideradas, aumento da duração e intensidade dos resultados positivos do Qigong proporcional à quantidade praticada. Isso, por conseguinte, precisa ser considerado para se recomendar o engajamento em pesquisas que objetivem a investigação dos resultados dessa prática para a saúde. Para tanto, recomenda-se um protocolo de intervenção de, no mínimo, quatro semanas, com base nos resultados encontrados nesta RS.

O Qigong tem como fundamento o desenvolvimento do autoconhecimento, fazendo com que seu praticante seja ativo e capaz de prevenir e curar doenças ao longo da vida. Dessa forma, o Qigong mostra-se como uma modalidade de exercício mente-corpo que pode ser facilmente praticada por adultos e muito benéfica a longa prazo, como apresentado nos resultados deste estudo.

Por meio da avaliação crítica conduzida, foi possível constatar alto risco de viés nos domínios de cegamento das pesquisas, uma vez que este era impossível, e havia probabilidade de influenciar a avaliação dos resultados, os quais careciam de controle adequado ou, então, descrição clara sobre protocolo e análise⁽⁵⁴⁾.

É recomendada a realização de novos ensaios clínicos randomizados de alto nível de metodologia com foco neste assunto de pesquisa. Além disso, a fim de avaliar a prática de Qigong, são necessárias pesquisas longitudinais, envolvendo pessoas com saúde para compor a linha de base.

Conclusão

É possível compreender os resultados fisiológicos advindos da prática de Qigong por meio das evidências científicas identificadas e submetidas à avaliação, o que torna este estudo de grande contribuição, uma vez que traz uma síntese da produção a respeito do uso de uma prática integrativa e complementar em saúde, baseada nos achados científicos mais relevantes disponíveis.

A RS revelou a aplicação benéfica do Qigong na promoção, prevenção e reabilitação de doenças e distúrbios fisiológicos em adultos e idosos, como: câncer; fibromialgia; doença de Parkinson; DPOC; Burnout; estresse; isolamento social; lombalgia crônica; dor cervical; zumbido; osteoartrite; fadiga; depressão; e doenças cardiovasculares. Reforça-se, com isso, a necessidade do fortalecimento do uso de PIC, como o Qigong, na assistência em saúde com vistas à garantia da integralidade e melhora da assistência na atenção à saúde oferecida aos adultos e idosos.

• *
  Artigo extraído da dissertação de mestrado “Desenvolvimento e validação de tecnologias digitais voltadas ao ensino de uma prática integrativa e complementar em saúde”, apresentada à Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

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Editado por

Editora Associada: Maria Lúcia Zanetti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  15 Jul 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  03 Jul 2019
• Aceito
  06 Abr 2020