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Linfoma de Hodgkin recidivado após transplante autólogo de medula óssea

Relapsed Hodgkin's lymphoma after autologous bone marrow transplantation

EDITORIAIS EDITORIALS

Linfoma de Hodgkin recidivado após transplante autólogo de medula óssea

Relapsed Hodgkin's lymphoma after autologous bone marrow transplantation

Abrahão E. Hallack NetoI; Juliana PereiraII

IProfessor substituto da Disciplina de Hematologia da Universidade Federal de Juiz de Fora

IIProfessora associada. Disciplina de Hematologia, Universidade de São Paulo

Correspondência Correspondência: Abrahão Elias Hallack Neto Av. Rio Branco 2679, Sala 714 Centro 36010-012 - Juiz de Fora - MG E-mail: abrahallack@ig.com.br

O linfoma de Hodgkin (LH) tem alta chance de cura, entretanto, alguns pacientes recidivam após terapia primária ou, menos freqüentemente, tornam-se refratários. Para pacientes com LH recidivado, o transplante autólogo de medula óssea (ATMO) é a principal opção terapêutica.1,2 A resposta à quimioterapia pré-transplante é o principal fator de prognóstico, de forma que os pacientes com doença estável ou mínima resposta ao esquema de resgate têm menos de 20% de chance de apresentarem remissão durável com ATMO.2 Estes são os pacientes que deveriam ser alocados em estudos com terapêuticas experimentais, bem como aqueles com progressão de doença durante o tratamento com esquema de salvamento. A mediana de sobrevida dos pacientes recidivados após ATMO é de dois anos e a resposta à terapia de resgate o fator de prognóstico mais importante.2 À recaída, existem vários fatores de impacto prognóstico, entre eles o estádio clínico (EC), presença de anemia e o tempo de duração da primeira remissão.3

Nesta edição da RBHH, Santos FM e cols4 descrevem a evolução de 17 pacientes recidivados ou refratários após ATMO. Dez receberam acima de dois esquemas de quimioterapia antes do ATMO, o que está associado à evolução desfavorável, como confirmado neste estudo. Nessas situações não existe terapêutica de escolha testada e padronizada, o que torna premente novos estudos com esta casuística. Infelizmente as drogas habitualmente testadas, a exemplo da gemcitabina, ifosfamida, vinblastina e vinorelbina, têm eficácia e resultados a longo prazo por demais desapontadoras.5

O segundo ATMO parece mais promissor para pacientes que obtiveram longa remissão completa (RC) com o primeiro ATMO.6 O papel do transplante de medula óssea alogênico (aloTMO) em pacientes com LH recidivado permanece controverso e está associado à alta taxa de mortalidade. Por outro lado, o aloTMO condicionado com intensidade de dose reduzida ainda necessita de maior tempo de avaliação.7 Vários novos agentes estão sob investigação em LH recidivado e refratário. Estudos in vitro demonstraram que o anticorpo monoclonal quimérico anti-CD30 (SGN30) inibe o crescimento das células de Reed-Sternberg que são quase todas CD30+, mas, in vivo, os resultados foram desapontadores.8 O anti-CD30 humanizado (MDX-060) apresentou atividade mínima em LH. Recentemente, o SGN-35, anti-CD30 conjugado a monometilauristatna mostrou-se promissor em estudos fase I, mas com resultados ainda preliminares.9 Galiximab, um AcMo anti-D80 está em investigação pelo Grupo B de Leucemia e Câncer. Novos agentes inibidores de proteassoma, que interferem em mecanismos epigenéticos e imunomoduladores eficazes para outras doenças hematológicas estão sendo testados para LH. O bortezomibe foi efetivo in vitro, mas não in vivo. O inibidor de histona deacetilase (MGCD0101) foi eficaz em pacientes recidivados após ATMO. A associação de talidomida e vinblastina apresentou 36% de resposta em pacientes com LH intensamente tratados e estudos fase II com lenalidomida estão em andamento.9

Santos FM e cols4 destacam três pacientes que receberam diferentes tratamentos e o único vivo e em RC há nove anos foi tratado apenas com radioterapia para recidiva localizada. Esta situação chama a atenção para o fato de que, com o surgimento de novas opções terapêuticas, talvez a radioterapia esteja sendo deixada em segundo plano, levando a uma subutilização desta forma de tratamento para portadores LH em recidiva após ATMO.

O estudo de Santos FM e cols4 nos remete a uma situação incomum quando se trata de LH, mas desafiadora e por enquanto insolúvel. Porém, como demonstrado pelos autores, a individualização do tratamento com base nos fatores de prognóstico clínicos e biológicos após falha terapêutica com ATMO pode evitar toxicidades advindas de terapias ineficazes e controversas. Mais estudos como este são necessários para um melhor entendimento deste grupo, e acreditamos que terapêuticas experimentais devam ser oferecidas a estes pacientes, que, em sua maioria são jovens, e em uma situação sem muitas opções e em condições de se submeterem a diferentes formas de tratamento.

Recebido: 23/7/2008

Aceito: 25/7/2008

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor.

  • 1. Schmitz N, Pfistner B, Sextro M, Sieber M, Carella AM, Haenel M et al. Aggressive conventional chemotherapy compared with high-dose chemotherapy with autologous haemotopoietic stem-cell transplantation for relapsed chemosensitive Hodgkin's disease: A randomized trial. Lancet 2002;359(9323):2065-71.
  • 2. Ferme C, Mounier N, Divine M, Brice P, Stamatoullas A, Reman O et al Intensive salvage therapy with high-dose chemotherapy for patients with advanced Hodgkin's disease in relapse or failure after initial chemotherapy: results of the Groupe d'Etudes des Lymphomes de l'Adulte H89 Trial. J Clin Oncol. 2002;20(2):467-75.
  • 3. Josting A, Franklin J, May M, Koch P, Beykirch MK, Heinz J et al. New prognostic score based on treatment outcome of patients with relapsed Hodgkin's lymphoma registered in the database of the German Hodgkin's Lymphoma study group. J Clin Oncol. 2002; 20(1):221-30.
  • 4. Santos FM, Pracchia LF, Linardi CGC, Buccheri V. Tratamento do linfoma de Hodgkin após falha do transplante autólogo. Rev bras hematol hemoter. 2008;30(4):266-71.
  • 5. Pracchia LF, Linardi CCG, Buccheri V. Gemcitabina e ifosfamida no tratamento do linfoma de Hodgkin refratário ou recidivado após múltiplas terapias. Rev bras hematol hemoter. 2007;29(4):422-4.
  • 6. Lin TS, Avalos BR, Penza SL, Marcucci G, Elder PJ, Copelan EA. Second autologous stem cell transplant for multiply relapsed Hodgkin's disease. Bone Marrow Transplant. 2002; 29(9):763-7.
  • 7. Peggs KS, Hunter A, Chopra R, Parker A, Mahendra P, Milligan D et al Clinical evidence of a graft-versus-Hodgkin's-lymphoma effect after reduced-intensity allogeneic transplantation. Lancet. 2005; 365(9475):1934-41.
  • 8. Bartlett NL, Younes A, Carabasi MH, Forero A, Rosenblatt JD, Leonard JP et al. Phase I multidose study of SGN-30 immunotherapy in patients with refractory or recurrent CD30+ hematologic malignancies. Blood. 2008;111(4):1848-54.
  • 9. Bartlett NL. Modern treatment of Hodgkin lymphoma. Curr Opin Hematol. 2008;15(4):408-14.
  • Correspondência:
    Abrahão Elias Hallack Neto
    Av. Rio Branco 2679, Sala 714
    Centro 36010-012 - Juiz de Fora - MG
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Out 2008
    • Data do Fascículo
      Ago 2008
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