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Uso da clorexidina no tratamento da mucosite oral em pacientes com leucemia aguda: revisão sistemática* * Recebido da Universidade Potiguar, Natal, RN, Brasil.

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

As leucemias comprometem a derivação das células-tronco hematopoiéticas e promovem uma proliferação de células malignas sem competência funcional. Estudos apontam que manifestações orais como dor, hiperplasia e sangramento gengival podem ser um dos primeiros sinais em pacientes com leucemia. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise sistemática de artigos publicados nos últimos 15 anos, no que diz respeito ao uso da clorexidina no tratamento e prevenção da mucosite em crianças com leucemia aguda em quimioterapia.

CONTEÚDO:

Uma busca sistemática de artigos publicados entre janeiro de 2000 e janeiro de 2015 foi feita nas bases de dados Pubmed/Medline, Science Directe LILACS. Após pesquisa sistemática 6 artigos preencheram todos os critérios de inclusão metodológica. A clorexidina é um importante meio de prevenção e tratamento da mucosite oral e estudos referem que a efetividade do gluconato de clorexidina a 0,12% está provavelmente relacionada à sua ação bactericida. A correta higienização oral tem importante papel na prevenção da mucosite e outras formas terapêuticas demonstram ser eficazes no tratamento e prevenção da mucosite oral.

CONCLUSÃO:

O gluconato de clorexidina não elimina totalmente as lesões de mucosa oral, mas é capaz de diminuir sua frequência e intensidade sem apresentar efeitos deletérios significativos no paciente. Entretanto, outros fármacos comparados à clorexidina neste estudo podem apresentar melhores resultados.

Descritores:
Hematologia; Manifestações bucais; Mucosite; Oncologia; Quimioterapia

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Leukemias impair hematopoietic stem-cells shunting and promote a proliferation of malignant cells without functional competence. Studies point that oral manifestations such as pain, hyperplasia and gum bleeding may be one of the first signs in leukemia patients. In light of the above, this study aimed at carrying out a systematic analysis of articles published in the last 15 years, with regard to chlorhexidine to treat and prevent mucositis in acute leukemia children under chemotherapy.

CONTENTS:

A systematic search of articles published between January 2000 and January 2015 was carried out in Pubmed/Medline, Science Direct and LILACS databases. After systematic search, 6 articles have fulfilled all methodological inclusion criteria. Chlorhexidine is an important means of preventing and treating oral mucositis and studies refer that 0.12% chlorhexidine gluconate effectiveness is probably related to its bactericide action. Adequate oral hygiene is important to prevent mucositis and other therapeutic modalities have shown to be effective to treat and prevent oral mucositis.

CONCLUSION:

Chlorhexidine gluconate does not totally eliminate oral mucosa injuries, but is able to decrease their frequency and intensity without significant noxious effects. However, other drugs compared to chlorhexidine in this study may present better results.

Keywords:
Chemotherapy; Hematology; Oncology; Oral manifestations; Mucositis

INTRODUÇÃO

As leucemias comprometem a derivação das células-tronco hematopoiéticas e promovem uma proliferação de células malignas sem competência funcional. Existem grupos diferentes de linfócitos e, portanto, tipos diferentes de leucemia, que são classificados de acordo com a célula envolvida, a duração e o caráter da doença1Subramaniam P, Babu KL, Nagarathna J. Oral manifestations in acute lymphoblastic leukemic children under chemotherapy. J Clin Pediatr Dent. 2008;32(4):319-24.

Morais EF, Lira JA, Macedo RA, Santos KS, Elias CT, Morais Mde L. Oral manifestations resulting from chemotherapy in children with acute lymphoblastic leukemia. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80(1):78-85.

Hamerschlak N. Leukemia: genetics and prognostic factors. J Pediatr. 2008;84(4):52-7.
-4Silva LC, Carneiro FM, Cruz RA. Manifestações bucais das leucemias agudas na infância. Arq Bras Odontol. 2008;4(1):40-54.. Sua etiologia ainda é considerada incerta, podendo estar relacionada a fatores como exposição à radiação e genética3Hamerschlak N. Leukemia: genetics and prognostic factors. J Pediatr. 2008;84(4):52-7..

A leucemia linfoide aguda (LLA) acomete cerca de 80% de todas as leucemias que atingem crianças e adultos jovens e a leucemia mieloide aguda (LMA) cerca de 15% do total de casos5Ziegler DS, Dalla Pozza L, Waters KD, Marshall GM. Advances in childhood leukemia: successful clinical-trials research leads to individualized therapy. Med J Aust. 2005;182(2):78-81.,6Costa SS, Silva AM, Macedo IA. Conhecimento de manifestações orais da leucemia e protocolo de atendimento odontológico. Rev Odontol Univ São Paulo. 2011;23(1):70-8.. Na infância, a faixa etária mais acometida é aos quatro anos de idade, sendo cerca de duas vezes mais comum em pacientes caucasianos do que os não caucasianos7Galvão V, Castro CH, Consolaro A. Mucosite severa em paciente com leucemia: uma abordagem terapêutica. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac. 2006;6(2):35-40.,8Pui CH, Robison LL, Look AT. Acute lymphoblastic leukaemia. Lancet. 2008;371(9617):1030-43.. Estudos apontam que manifestações orais como dor, hiperplasia e sangramento gengival podem ser um dos primeiros sinais em pacientes com leucemia4Silva LC, Carneiro FM, Cruz RA. Manifestações bucais das leucemias agudas na infância. Arq Bras Odontol. 2008;4(1):40-54.,9Carneiro FM, Silva LC, Cruz RA. Manifestações bucais das leucemias agudas na infância. Arq Bras Odontol. 2008;4(1):40-54..

O tratamento de escolha para essa neoplasia é a quimioterapia, que pode ser utilizada em conjunto com outras terapias1010 Epstein JB, Tsang AH, Warkentin D, Ship JA. The role of salivary function in modulating chemotherapy-induced oropharyngeal mucositis: a review of the literature. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2002;94(1):39-44.

11 Pels E, Mielnik-Blaszczak M. Oral hygiene in children suffering from acute lymphoblastic leukemia living in rural and urban regions. Ann Agric Environ Med. 2012;19(3):529-33.
-1212 de Mendonça RM, de Araújo M, Levy CE, Morari J, Silva RA, Yunes JA, et al. Prospective evaluation of HSV, Candida spp., and oral bacteria on the severity of oral mucositis in pediatric acute lymphoblastic leukemia. Support Care Cancer. 2012;20(5):1101-7.. Nas últimas quatro décadas, houve importante progresso no tratamento da leucemia e cerca de 80% das crianças e adolescentes com diagnóstico precoce podem alcançar a cura8Pui CH, Robison LL, Look AT. Acute lymphoblastic leukaemia. Lancet. 2008;371(9617):1030-43.. Entretanto, diversos estudos apontam o tratamento antineoplásico como causador de mucosites orais1Subramaniam P, Babu KL, Nagarathna J. Oral manifestations in acute lymphoblastic leukemic children under chemotherapy. J Clin Pediatr Dent. 2008;32(4):319-24.,2Morais EF, Lira JA, Macedo RA, Santos KS, Elias CT, Morais Mde L. Oral manifestations resulting from chemotherapy in children with acute lymphoblastic leukemia. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80(1):78-85.,4Silva LC, Carneiro FM, Cruz RA. Manifestações bucais das leucemias agudas na infância. Arq Bras Odontol. 2008;4(1):40-54..

A mucosite oral caracteriza-se por eritema, seguindo-se ulcerações muito dolorosas na mucosa bucal que interferem no estado nutricional e na qualidade de vida (QV) dos pacientes, podendo limitar ou interromper a terapia oncológica em casos considerados graves2Morais EF, Lira JA, Macedo RA, Santos KS, Elias CT, Morais Mde L. Oral manifestations resulting from chemotherapy in children with acute lymphoblastic leukemia. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80(1):78-85.. Muitos estudos apontam o uso do gluconato de clorexidina, devido à sua atividade antibacteriana, antifúngica e ligação às superfícies teciduais na prevenção e tratamento das manifestações orais desses pacientes, especialmente da mucosite2Morais EF, Lira JA, Macedo RA, Santos KS, Elias CT, Morais Mde L. Oral manifestations resulting from chemotherapy in children with acute lymphoblastic leukemia. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80(1):78-85.,1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.. Entretanto, ressaltam que podem ocorrer sequelas nos pacientes ao utilizar a clorexidina por longo período, como ardência, disgeusia e pigmentação dental1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51..

O conhecimento das lesões orais causadas pelas leucemias agudas (LA) e pelos tratamentos antineoplásicos é dever do cirurgião-dentista, assim como a utilização de tratamentos profiláticos e terapêuticos buscando propiciar ao paciente saúde bucal e auxiliar na devolução do bem-estar físico.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise sistemática de artigos publicados nos últimos 15 anos, no que diz respeito ao uso da clorexidina no tratamento e prevenção da mucosite em crianças com LA em quimioterapia.

CONTEÚDO

Uma busca sistemática de artigos publicados entre janeiro de 2000 e janeiro de 2015 foi feita nas bases de dados Pubmed/Medline, Science Direct e LILACS. Foram pesquisados estudos que avaliaram o uso da clorexidina na prevenção e tratamento da mucosite oral em pacientes com LA.

Nas buscas foram utilizados os seguintes termos: Leucemia Aguda, Mucosite Oral, Clorexidina, Tratamento, Prevenção, Mucosa Oral, assim como seus sinônimos e correspondentes na língua inglesa e espanhola, em combinações variadas. Foram utilizados nas bases de dados possíveis os operadores booleanos AND, OR, NOT. As estratégias de busca estão apresentadas na tabela 1.

Tabela 1
Estratégias de busca e número de artigos encontrados nas bases de dados

Após a obtenção dos resumos, três avaliadores independentes selecionaram os trabalhos pertinentes de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Foram considerados critérios de inclusão estudos originais em língua inglesa, portuguesa ou espanhola cujo objetivo foi avaliar o uso da clorexidina na prevenção e tratamento da mucosite intraoral em pacientes com LA; artigos publicados a partir de janeiro de 2000. Entre os critérios de exclusão encontram-se casos clínicos, trabalhos de revisão, população fora dos padrões da pesquisa, artigos publicados anteriormente ao ano 2000 ou em idiomas diferentes dos selecionados para compor este estudo.

Uma primeira etapa de seleção foi feita a partir da avaliação dos títulos e resumos. Posteriormente, todos os estudos cujos títulos ou resumos foram julgados relacionados ao tema foram obtidos na íntegra e analisados por completo. A final os artigos analisados e selecionados pelos avaliadores após reunião de consenso foram incluídos nesta revisão.

Após pesquisa inicial, 15 estudos demonstraram potencial para a inclusão neste estudo, entretanto, após análise meticulosa e completa dos artigos, apenas 6 preencheram todos os critérios metodológicos de inclusão1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.

14 Soares AF, Aquino AR, Carvalho CH, Nonaka CF, Almeida D, Pinto, LP. Frequency of oral mucositis and microbiological analysis in children with acute lymphoblastic leukemia treated with 0.12% chlorhexidine gluconate. Braz Dent J. 2011;22(4):312-6.

15 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50.

16 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6.

17 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3.
-1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5.. Entre os estudos selecionados 5 foram realizados em países em desenvolvimento1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.

14 Soares AF, Aquino AR, Carvalho CH, Nonaka CF, Almeida D, Pinto, LP. Frequency of oral mucositis and microbiological analysis in children with acute lymphoblastic leukemia treated with 0.12% chlorhexidine gluconate. Braz Dent J. 2011;22(4):312-6.
-1515 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50.,1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3.,1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5. e um em país desenvolvido1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6.. O método e os resultados dos artigos avaliados estão disponíveis nas tabelas 2 e 3.

Tabela 2
Métodos e objetivos dos estudos selecionados na pesquisa
Tabela 3
Resultados obtidos pelos estudos selecionados na pesquisa

A amostra dos participantes entre os estudos selecionados variou entre 14 e 48 pacientes, totalizando 160 participantes. Quatro estudos foram realizados prioritariamente em crianças entre 2 e 15 anos. Os estudos1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6.,1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3. tinham como maioria, participantes acima de 15 anos. A prevenção e tratamento da mucosite oral por meio do gluconato de clorexidina foram avaliados por 5 dos estudos selecionados. Outro estudo avaliou o uso do gluconato de clorexidina em crianças com LLA que já apresentavam mucosite oral1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5..

Para avaliação dos pacientes, nos trabalhos selecionados, foi utilizado exame intraoral. Estudos1414 Soares AF, Aquino AR, Carvalho CH, Nonaka CF, Almeida D, Pinto, LP. Frequency of oral mucositis and microbiological analysis in children with acute lymphoblastic leukemia treated with 0.12% chlorhexidine gluconate. Braz Dent J. 2011;22(4):312-6.,1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6. utilizaram exames microbiológicos. Pereira Pinto et al.1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51. utilizaram ainda o exame citológico. Objetivando avaliar o grau de dor do paciente, autores1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6.,1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5. utilizaram questionários entre os membros do estudo.

A concentração do gluconato de clorexidina utilizada foi de 0,12%, exceto no estudo de Mehdipour et al.1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3. cuja concentração apresentada foi de 0,2%. Três estudos apresentavam grupo controle, sem tratamento1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.,1515 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50.,1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3.. Na avaliação de Choi e Kim1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6. a clorexidina foi comparada ao bicarbonato de sódio no tratamento da mucosite oral, onde o bicarbonato de sódio apresentou melhores resultados.

Já no estudo de Mehdipour et al.1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3. o sulfato de zinco foi comparado à clorexidina, apresentando melhores resultados nas primeiras avaliações do estudo, mas não houve diferença estatística significativa na última análise do experimento que durou 1 mês. Setiawan, Reniarti e Oewen1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5. que analisaram a eficácia da clorexidina e do povidona-iodo no tratamento da mucosite, observaram que o grupo da clorexidina apresentou uma remissão da lesão em menos tempo comparado ao segundo grupo.

No que se refere à localização da mucosa oral mais acometida pela mucosite, apenas o estudo de Costa et al.1515 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50. relatou essa frequência, sendo a mucosa jugal e lábio os locais relatados pelos autores. Os fármacos quimioterápicos utilizados durante o período de acompanhamento dos pacientes em cada estudo podem ser visualizados na tabela 4. Somente o estudo de Soares et al.1414 Soares AF, Aquino AR, Carvalho CH, Nonaka CF, Almeida D, Pinto, LP. Frequency of oral mucositis and microbiological analysis in children with acute lymphoblastic leukemia treated with 0.12% chlorhexidine gluconate. Braz Dent J. 2011;22(4):312-6. não relatou o esquema quimioterápico utilizado como tratamento antineoplásico. Os estudos selecionados são unânimes em afirmar que a fase de maior acometimento da mucosite oral é a de indução e que a correta higienização oral é essencial na prevenção de lesões orais.

Tabela 4
Quimioterápicos utilizados e fases da quimioterapia

DISCUSSÃO

O principal tratamento de escolha para as leucemias agudas é a quimioterapia, com protocolos que duram mais de um ano1919 Macêdo TM, Campos TF, Mendes RE, França DC, Chaves GS, Mendonça KM. Função pulmonar de crianças com leucemia aguda na fase de manutenção da quimioterapia. Rev Paul Pediatr. 2014;32(4):320-5.,2020 Sonis ST, O'Donnell KE, Popat R, Bragdon C, Phelan S, Cocks D, et al. The relationship between mucosal cyclooxygenase-2 (COX-2) expression and experimental radiation-induced mucositis. Oral Oncol. 2004;40(2):170-6.. Esse tratamento é dividido em fases, que são de indução, consolidação e manutenção. A fase de manutenção é o período mais extenso do tratamento e em que as crianças já têm maior estabilidade clínica1919 Macêdo TM, Campos TF, Mendes RE, França DC, Chaves GS, Mendonça KM. Função pulmonar de crianças com leucemia aguda na fase de manutenção da quimioterapia. Rev Paul Pediatr. 2014;32(4):320-5.,2121 Sonis ST. Mucositis as a biological process: a new hypothesis for the development of chemotherapy-induced stomatotoxicity. Oral Oncol. 1998;34(1):39-43.. A fase de indução é considerada na literatura como a fase de maior acometimento da mucosite oral.

Três dos estudos selecionados nesta revisão, fizeram uso do metotrexato na fase de indução do tratamento1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.,1515 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50.,1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5.. A mucosite se desenvolveu com maior frequência entre o 2º e 4º dia após inicio do tratamento utilizando o metotrexato por via venosa com tempos médios de remissão de 16 dias, sendo a gravidade das lesões orais e a sua duração na criança que recebeu bochechos de clorexidina menor em comparação com o grupo controle1515 Costa EM, Fernandes MZ, Quinder LB, de Souza LB, Pinto LP. Evaluation of an oral preventive protocol in children with acute lymphoblastic leukemia. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(2):147-50.. Resultados semelhantes são encontrados em outros estudos1313 Pereira Pinto L, de Souza LB, Gordón-Núñez MA, Soares RC, de Brito Costa EM, de Aquino AR, et al. Prevention of oral lesions in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2006;70(11):1847-51.,2222 Dodd MJ, Larson PJ, Dibble SL, Miaskowski C, Greenspan D, MacPhail L, et al. Randomized clinical trial of chlorhexidine versus placebo for prevention of oral mucositis in patients receiving chemotherapy. Oncol Nurs Forum. 1996;23(6):921-7.,2323 Epstein JB, Vickars L, Spinelli J, Reece D. Efficacy of chlorhexidine and nystatin rinses in prevention of oral complications in leukemia and bone marrow transplantation. Oral Surg Oral Med Oral Pathol.1992;73(5):682-9.. De acordo com Setiawan, Reniarti e Oewen1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5. a mucosite ocorre normalmente entre o 7º e 10º dia após o início do tratamento, especialmente em casos em que é utilizado o metotrexato. Os estudos referem que a efetividade do digluconato de clorexidina a 0,12% está provavelmente relacionada à sua ação bactericida.

Na literatura a ocorrência da mucosite está relacionada com a dose dos fármacos quimioterápicos, o tipo e o intervalo de sua administração, e tais fatores podem variar de acordo com o protocolo utilizado. Dessa forma, entende-se que os diferentes protocolos empregados nos estudos selecionados podem influenciar o maior surgimento ou não da mucosite oral, bem como a gravidade do processo, o que dificulta significativamente uma análise mais criteriosa.

Nesta revisão, todos os estudos apontaram redução significativa na presença de mucosite oral, assim como menor gravidade e tempo de acometimento no paciente por essa doença, quando utilizado digluconato de clorexidina, sendo indicado seu uso na prevenção e tratamento. Entretanto, estudos anteriores apontam que apenas com uma correta higienização oral, em pacientes com leucemias se poderia prevenir a mucosite oral2222 Dodd MJ, Larson PJ, Dibble SL, Miaskowski C, Greenspan D, MacPhail L, et al. Randomized clinical trial of chlorhexidine versus placebo for prevention of oral mucositis in patients receiving chemotherapy. Oncol Nurs Forum. 1996;23(6):921-7.,2323 Epstein JB, Vickars L, Spinelli J, Reece D. Efficacy of chlorhexidine and nystatin rinses in prevention of oral complications in leukemia and bone marrow transplantation. Oral Surg Oral Med Oral Pathol.1992;73(5):682-9.. É sabido que a má higienização da cavidade bucal é outro fator que favorece as infecções locais e, além disso, serve de porta de entrada para as infecções sistêmicas, comprometendo o estado geral do paciente e aumentando seu período de internação hospitalar. A realização de uma correta higienização oral associada ao tratamento profilático da mucosite é de importância na prevenção de tal lesão oral. Diante desses estudos entende-se que uma boa higienização oral associada ao uso do digluconato de clorexidina, é capaz de diminuir o acometimento por mucosite nos pacientes infantis em tratamento oncológico com LLA.

Dentre os estudos selecionados, três compararam a clorexidina com outras formas de tratamento. Setiawan, Reniarti e Oewen1818 Setiawan AS, Reniarti L, Oewen RR. Comparative effects of chlorhexidine gluconate and povidone iodine mouthwashes to chemotherapy induced oral mucositis in children with acute lymphoblastic leukemia. Int J of Oral Med Sci. 2006;5(1):1-5.realizaram a comparação do povidona-iodo com a clorexidina, sendo que essa apresentou melhor resultado no tratamento da mucosite oral, apresentando remissão de 5 a 7 dias, versus 8 a 14 dias do povidona-iodo. Entretanto, o povidona-iodo apresentou resultado superior ao grupo controle que utilizou solução saliva, corroborando com outros estudos2424 Hasenau C, Clasen BP, Roettger D. [Use of standardized oral hygiene in prevention and therapy of mucositis in patients treated with radiochemotherapy of head and neck neoplasm]. Laryngol Rhinol Otol. 1988;67(11):576-9. German.,2525 Rahn R, Adamietz IA, Boettcher HD, Schaefer V, Reimer K, Fleischer W. Povidone-iodine to prevent mucositis in patients during antineoplastic radiochemotherapy. Dermatology. 1997;195(Suppl 2):57-61.. Para o autor, o melhor resultado da clorexidina pode estar relacionado ao fato de ela ser absorvida pelas superfícies orais e liberada no meio bucal por um período de 24h, estando, portanto por mais tempo em contato com a cavidade oral.

Um estudo que avaliou durante quatro semanas a clorexidina e o sulfato de zinco observou um resultado inicial superior do sulfato de zinco, entretanto, na quarta semana a diferença entre os grupos não foi estatisticamente significativa. O sulfato de zinco apresenta efeitos positivos na epitelização, é antioxidante e apresenta ação antibacteriana, sendo eficaz na manutenção da integridade da mucosa e agindo terapeuticamente nas fases iniciais da mucosite1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3..

Choi e Kim1616 Choi SE, Kim HS. Sodium bicarbonate solution versus chlorhexidine mouthwash in oral care of acute leukemia patients undergoing induction chemotherapy: a randomized controlled trial. Asian Nurs Res. 2012;6(2):60-6. apresentaram melhor resultado do bicarbonato de sódio comparado à clorexidina, entretanto, na análise microbiológica o número de micro-organismo presentes na cavidade oral em pacientes que utilizaram bicarbonato de sódio foi superior ao da clorexidina, sendo um resultado semelhante a outros estudos2626 Pitten FA, Kiefer T, Buth C, Doelken G, Kramer A. Do cancer patients with chemotherapy-induced leukopenia benefit from an antiseptic chlorhexidine-based oral rinse? A double-blind, block-randomized, controlled study. J Hosp Infect. 2003;53(4):283-91.,2727 Ferretti GA, Raybould TP, Brown AT, Macdonald JS, Greenwood M, Maruyama Y, et al. Chlorhexidine prophylaxis for chemotherapy- and radiotherapy-induced stomatitis: a randomized double-blind trial. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1990;69(3):331-8.. De acordo com a literatura, a origem das lesões na mucosa oral está diretamente relacionada ao tratamento antineoplásico do paciente, sendo consequência de dois mecanismos maiores: a toxicidade direta da terapêutica utilizada sobre a mucosa e a mielossupressão gerada pelo tratamento2020 Sonis ST, O'Donnell KE, Popat R, Bragdon C, Phelan S, Cocks D, et al. The relationship between mucosal cyclooxygenase-2 (COX-2) expression and experimental radiation-induced mucositis. Oral Oncol. 2004;40(2):170-6., podendo seu curso ser influenciado na presença de infecção. As soluções alcalinas, água associada ao bicarbonato de sódio, modificam o pH da cavidade oral, inibindo a acidez da saliva, e assim eliminando um ambiente propício à proliferação bacteriana e fúngica.

No estudo de Soares et al.1414 Soares AF, Aquino AR, Carvalho CH, Nonaka CF, Almeida D, Pinto, LP. Frequency of oral mucositis and microbiological analysis in children with acute lymphoblastic leukemia treated with 0.12% chlorhexidine gluconate. Braz Dent J. 2011;22(4):312-6. a análise microbiológica revelou a presença de um número reduzido de micro-organismos potencialmente patogênicos. Pacientes com mucosite oral apresentaram maior frequência de estafilococos coagulase-negativos (80%) quando comparados aos pacientes que exibiram mucosa oral normal (33,3%). Labarca et al.2828 Labarca JA, Leber AL, Kern VL, Territo MC, Brankovic LE, Bruckner DA, et al. Outbreak of Stenotrophomonas maltophilia bacteremia in allogenic bone marrow transplant patients: role of severe neutropenia and mucositis. Clin Infect Dis. 2000;30(1):195-7. apontam que o micro-organismo associado a neutropenia grave pode favorecer o surgimento da mucosite oral.

São poucos os estudos na literatura que têm como objetivo avaliar a relação direta entre um fármaco específico utilizado na quimioterapia e a incidência de mucosite oral. Sabe-se, entretanto, que os fármacos quimioterápicos mais comumente associados ao desenvolvimento da mucosite oral são 5-fluoracil, metotrexato2929 Köstler WJ, Hejna M, Wenzel C, Zielinski C. Oral mucositis complicating chemotherapy and/or radiotherapy: options for prevention and treatment. CA Cancer J Clin. 2001;51(5):290-315., cisplatina, bleomicina e doxorrubicina3030 Kelner N, Castro JF. Laser de baixa intensidade no tratamento da mucosite oral induzida pela radioterapia: relato de casos clínicos. Rev Bras Cancerol. 2007;53(1):29-33..

Os estudos selecionados nesta revisão, não estabeleceram correlação entre os esquemas quimioterápicos utilizados e a frequência de mucosite oral entre os participantes. O estudo de Mehdipour et al.1717 Mehdipour M, Taghavi Zenoz A, Asvadi Kermani I, Hosseinpour A. A comparison between zinc sulfate and chlorhexidine gluconate mouthwashes in the prevention of chemotherapy-induced oral mucositis. Daru. 2011;19(1):71-3. utilizou citarabina na fase de indução e novantrone na fase de consolidação, fármacos pouco mencionados em relação ao surgimento da mucosite oral, entretanto a sua alta incidência apresentada infere a necessidade da realização de estudos que avaliem mais aprofundadamente tal correlação, assim como as diferenças entre os esquemas quimioterápicos entre as leucemias linfoides e mieloides e o surgimento da mucosite oral.

CONCLUSÃO

O gluconato de clorexidina não elimina totalmente as lesões de mucosa oral, mas é capaz de diminuir sua frequência e intensidade sem apresentar efeitos deletérios significativos no paciente, reduzindo a dor e o desconforto. Entretanto, outros fármacos comparados à clorexidina podem apresentar melhores resultados, sendo importante a realização de novos estudos para melhor elucidação desses efeitos.

  • Fontes de fomento: não há.
  • *
    Recebido da Universidade Potiguar, Natal, RN, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2015

Histórico

  • Recebido
    01 Maio 2015
  • Aceito
    06 Jul 2015
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