Professor Aronnax: “Ou conhecemos todas as variedades de criaturas que povoam nosso planeta, ou não as conhecemos. Se não as conhecemos todas, se a natureza continua guardando segredos para nós no domínio da ictiologia, nada mais plausível do que admitir a existência de peixes ou cetáceos, de espécies ou mesmo gêneros novos, com uma estrutura essencialmente ‘abissal’, que habitam as camadas inacessíveis à sonda e que um acontecimento qualquer, uma fantasia, um capricho, se preferirmos, impele, após longos intervalos, à superfície do oceano. Se, ao contrário, conhecemos todas as espécies vivas, devemos necessariamente procurar o animal em questão dentre as criaturas marinhas já catalogadas. Neste caso, eu estaria disposto a admitir a existência de um narval gigante.” (Verne, 1870/2012Verne, J. (2012). Vinte mil léguas submarinas (A. Telles, trad.). Rio de Janeiro: Zahar. (Obra original publicada em 1870), p. 33) |
Pensamento lógico-dedutivo do cientista, que dialoga com os saberes já estabelecidos em sua época. |
Função da teoria |
Capitão Nemo: “As mais aborrecidas circunstâncias colocaram-nos diante de um homem que rompeu com a humanidade. Os cavalheiros vieram perturbar minha existência.” (Verne, 1870/2012Verne, J. (2012). Vinte mil léguas submarinas (A. Telles, trad.). Rio de Janeiro: Zahar. (Obra original publicada em 1870), p. 89) |
Um cientista que não se relaciona com a humanidade. |
Produtores da ciência |
Náutilus: “O Náutilus continuou a descer, apesar das poderosas pressões que sofria. Eu sentia suas placas metálicas tremerem sob a juntura dos rebites; as vigas abaulavam-se; as paredes gemiam; os vidros do salão pareciam estufar sob a pressão das águas. E o sólido aparelho provavelmente teria cedido se, como dissera seu capitão, não fosse capaz de resistir como um bloco compacto.” (Verne, 1895/2012Verne, J. (2012). Vinte mil léguas submarinas (A. Telles, trad.). Rio de Janeiro: Zahar. (Obra original publicada em 1870), p. 330) |
O Náutilus desafia as adversidades da natureza. |
Liberdade e independência para Nemo |
A máquina do tempo
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“Bem, não me importo de revelar a vocês que há algum tempo venho trabalhando nesse conceito de Geometria de Quatro Dimensões. Alguns dos resultados a que cheguei são interessantes. Por exemplo, aqui está o retrato de um homem aos oito anos de idade, outro aos quinze, outro aos dezessete, outro aos vinte e três e assim por diante. Todos eles representam secções, por assim dizer, de um ser quadridimensional, que é uma coisa fixa e inalterável.” (Wells, 1895/2010Wells, H. G. (2010). A máquina do tempo (B. Tavares, trad.). Rio de Janeiro: Alfaguara. (Obra original publicada em 1895), pp. 19-20) |
O cientista constrói conhecimento a partir de conceitos/teorias vigentes em seu tempo. |
Função da teoria |
“… precipitei-me cada vez mais depressa rumo ao futuro. A princípio eu não tinha intenção de parar, não pensava em nada senão nessas sensações para mim inéditas. Mas logo uma nova série de impressões brotou na minha mente, uma certa curiosidade acompanhada por temor, que acabaram por tomar conta de mim. Pensei: que estranhos progressos da humanidade, que maravilhosos avanços sobre a nossa civilização rudimentar não se revelariam aos meus olhos quando eu me dispusesse a observar esse mundo difuso que flutuava e desaparecia diante dos meus olhos! Vi arquiteturas majestosas e esplêndidas erguendo-se diante de mim, construções mais maciças do que qualquer edifício do nosso tempo, e que ainda assim me pareciam feitas apenas de luz e névoa. Vi um verde mais luxuriante espalhar-se pelos flancos da colina e permanecer ali sem qualquer interferência do inverno. Mesmo sob o véu de confusão que me envolvia, a terra parecia muito bela.” (Wells, 1895/2010Wells, H. G. (2010). A máquina do tempo (B. Tavares, trad.). Rio de Janeiro: Alfaguara. (Obra original publicada em 1895), p. 40) |
O cientista enxerga beleza e esplendor na forma como o homem transforma o mundo, e considera o desenvolvimento urbano um avanço com relação ao seu tempo natal. |
Concepção de progresso |
“Vejam, eu sempre supus que os habitantes do ano 802 mil e tantos estariam incrivelmente avançados, em relação a nós, em conhecimentos, em arte, em tudo. E de repente um deles me faz uma pergunta de quem tem o mesmo nível intelectual de uma criança de cinco anos – perguntava-me, na verdade, se eu tinha vindo do sol num trovão! […] Uma onda de desapontamento cruzou minha mente. Por um instante, achei que tinha construído a Máquina do Tempo em vão.” (Wells, 1895/2010Wells, H. G. (2010). A máquina do tempo (B. Tavares, trad.). Rio de Janeiro: Alfaguara. (Obra original publicada em 1895), pp. 46-47) |
Descrição do intelecto da população do futuro. |
Evidências para a concepção de condicionamento do homem |
O fim da eternidade
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A eternidade: “um Observador ideal era meramente um feixe de nervos lógico-perceptivos anexados a um mecanismo de escrita de relatórios. Entre a percepção e o relato, a emoção não deveria intervir.” (Asimov, 1955/2007Asimov, I. (2007). O fim da eternidade (S. Alexandria, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1955), p. 24) |
Supressão das emoções |
Método científico |
Andrew Harlan: “Acima de tudo, havia desenvolvido o sentimento do poder de um Técnico. Tinha o destino de milhões de pessoas nas pontas dos dedos e, se isso era fonte de solidão, também era fonte de orgulho.” (Asimov, 1955/2007Asimov, I. (2007). O fim da eternidade (S. Alexandria, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1955), p. 47) |
Concepção de cientista: poder, solidão, orgulho. |
Produtores da ciência |
Noÿs: “– O bem maior? – perguntou Noÿs, num tom indiferente que parecia zombar da frase. – O que é isso? Suas máquinas decidem. Seus Computaplexes. Mas quem é que ajusta as máquinas e diz a elas o que pesar na balança? As máquinas não resolvem problemas com maior lucidez do que os homens, só resolvem mais rápido. Só mais rápido! Então, o que é que os Eternos consideram o bem?” (Asimov, 1955/2007Asimov, I. (2007). O fim da eternidade (S. Alexandria, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1955), pp. 247-248) |
Noÿs questiona a legitimidade ética da Eternidade. |
Aspecto social |
2001: Uma odisseia no espaço
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“Os fabricantes de ferramentas foram recriados por suas próprias ferramentas. Pois, ao usar porretes e pederneiras, suas mãos desenvolveram uma destreza que não se encontrava em parte alguma do reino animal, permitindo-lhes fabricar ferramentas ainda melhores, o que, por sua vez, desenvolveu seus membros e cérebros ainda mais. Era um processo crescente e cumulativo; e, no final, estava o Homem.” (Clarke, 1968/2013Clarke, A. C. (2013). 2001: uma Odisseia no espaço (F. Fernandes, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1968), p. 60) |
Concepção de condicionamento na evolução do homem. |
Concepção de conhecimento historicamente construído |
“Qualquer que tenha sido sua forma de funcionamento, o resultado final foi uma inteligência artificial capaz de reproduzir … a maioria das atividades do cérebro humano, e com muito maior velocidade e confiabilidade.” (Clarke, 1968/2013Clarke, A. C. (2013). 2001: uma Odisseia no espaço (F. Fernandes, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1968), p. 133) |
A confiança que o homem deposita na tecnologia. |
Consequência da visão cartesiana de mundo |
“Qualquer homem que já tivesse trabalhado numa instalação fortificada de mísseis teria se sentido à vontade em Clavius. Ali, na Lua, estavam utilizando os mesmos equipamentos e a mesma ciência da vida subterrânea e de proteção contra um ambiente hostil; mas ali eram aplicados para fins pacíficos.” (Clarke, 1968/2013Clarke, A. C. (2013). 2001: uma Odisseia no espaço (F. Fernandes, trad.). São Paulo: Aleph. (Obra original publicada em 1968), p. 93) |
Diferentes usos da tecnologia levantam a questão da ética. |
Noção de verdade externa ao homem |