Este artigo versa sobre a existência de uma ordem segregada e o funcionamento da categoria "aborígene" no Sudeste da Austrália ao longo do século XX. Para além das definições "oficiais" da população aborígene, analisaremos as modalidades práticas da identificação, graças particularmente a uma análise dos recenseamentos e das classificações estatísticas dos aborígenes. Mostraremos que, na ausência de documentos oficiais especialmente reservados aos aborígenes atestando seu registro em um cadastro central, as técnicas relativas à sua identificação aproximavam-se das formas pré-industriais de reconhecimento das pessoas, fundadas na familiaridade e nas relações face a face. Esta situação tinha como consequência que aqueles localmente conhecidos como aborígenes ou que tinham traços físicos aborígenes facilmente reconhecíveis encontravam-se presos em um sistema coercitivo do qual era difícil escapar, enquanto outros podiam passar através das malhas identificatórias sem, no entanto, recolocar em causa um sistema de relações raciais marcadamente dicotômico.
Aborígenes; Austrália; Identificação; Raça; Classificações jurídicas