Propõe-se, neste estudo, delimitar os sistemas de tratamento vigentes no início do século XX em documentação produzida por brasileiros. A amostra utilizada para análise é constituída por cartas pessoais escritas entre 1906 e 1937. Na descrição e explicação do fenômeno, adotam-se alguns pressupostos da Teoria da Variação e do modelo das Tradições Discursivas. Os resultados encontrados indicaram quatro padrões comportamentais: (I) uso exclusivo do tu-íntimo em cartas de maior intimidade; (II) emprego categórico de você em cartas de mesma natureza; (III) predomínio de tu-íntimo ao lado de formas do paradigma de você, como o imperativo-subjuntivo, em uma seção específica da carta; e (IV) variação entre tu e você nos mesmos contextos funcionais com uma distribuição morfossintática diferenciada: formas do paradigma de tu predominam em contextos [+morfologizados] como o afixo verbal de segunda pessoa e o clítico acusativo/dativo te, ao passo que o paradigma de você prevalece em contextos [-morfologizados], como o pronome forte (nominativo ou complemento preposicionado).
Pronomes de tratamento; Variação tu/você; Mudança linguística; Mescla de formas de tratamento