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Intercâmbio acadêmico: as dificuldades de adaptação e de readaptação1 1 - Este artigo foi submetido originalmente em português e foi traduzido, posteriormente, para o inglês, pelos autores.

Resumo

A internacionalização do ensino por meio da mobilidade acadêmica internacional é uma realidade que, a cada dia, traz mais oportunidades para que os estudantes brasileiros ampliem seu conhecimento e experiência. O programa Ciência sem Fronteiras e iniciativas das Instituições de Ensino Superior (IES) têm intensificado e promovido o aumento de intercâmbio estudantil, porém, ao retornarem, os estudantes têm sofrido com o processo de readaptação. Assim, este trabalho tem o objetivo de analisar o processo de readaptação do intercambista no retorno ao Brasil após um período de estudos em outro país, identificando seus principais aspectos e impactos na vida do intercambista. A metodologia utilizada neste estudo foi um estudo descritivo com abordagem quantitativa a partir de uma pesquisa tipo survey, na qual foram coletados dados de 586 questionários respondidos por ex-intercambistas. Os resultados mostram que os intercambistas passam por uma mudança de identidade cultural, desprendendo-se de sua cultura de origem ao se adaptarem à de destino, fazendo com que o retorno ao Brasil se torne mais difícil. Também se chegou à conclusão de que as IES não assumem um papel fundamental nesse processo, ao acompanharem com proximidade seus alunos intercambistas nas três fases do intercâmbio: antes, durante e depois.

Intercâmbio acadêmico; Experiência internacional; Readaptação; Educação

Abstract

The internationalization of education through international academic mobility is a reality that, every day, brings more opportunities for Brazilian students to increase their knowledge and experience. The Science Without Borders program and initiatives of Higher Education Institutions (HEIs) have intensified and promoted an increase in student exchange, but when they back, the students have suffered from the process of readaptation. The purpose of this study is to analyze the process of readaptation of the exchange student on his return to Brazil after a period of studies in another country, identifying the main aspects and impacts on the exchange student’s life. The methodology used in this study was a descriptive study with a quantitative approach based on a survey-type survey, in which data were collected from 586 questionnaires answered by ex-exchange students. The results show that the exchange students undergo a change of cultural identity, detaching themselves from their culture of origin when adapting to the destination, making return to Brazil more difficult. It was also concluded that HEIs do not play a fundamental role in this process by closely following their exchange students in the three stages of exchange: before, during and after.

Academic exchange; International experience; Readaptation; Education

Introdução

Com a globalização e suas decorrências, a distância entre os países e suas respectivas culturas diminuiu. O mundo globalizado leva à necessidade das organizações e das pessoas adaptarem-se a uma nova realidade com fronteiras cada vez menores (STALLIVIERI, 2009STALLIVIERI, Luciane. As dinâmicas de uma nova linguagem intercultural na mobilidade acadêmica internacional. 2009. Tese (Doutorado em línguas modernas). Buenos Aires, USAL, 2009. Disponível em: <http://racimo.usal.edu.ar/52/>. Acesso em: 20 set. 2015.
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). Uma das maneiras de adentrar nesse mundo é o intercâmbio para estudos, cada vez mais procurado por jovens em busca de conhecimento, de novas experiências transformadoras. De fato, a ideia central dos intercâmbios não é puramente de estudos, mas, mais do que isso, de mudança de si mesmo (SEBBEN, 2001SEBBEN, Andrea. Intercâmbio cultural: um guia de educação intercultural para ser cidadão do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001.) contribuindo para a formação de um cidadão com perspectiva mundial.

O Governo Federal, através do Ministério da Educação, tem investido em programas voltados à realização de estudos no exterior para estudantes brasileiros. De acordo com Santos (2015)SANTOS, Fabiane. Capes e CNPq apresentam avaliação preliminar do Ciência sem Fronteiras. Brasília, DF: Capes, 2015. Disponível em: <http://capes.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/7583-capes-e-cnpq-apresentam-avaliacao-preliminar-do-ciencia-sem-fronteiras>. Acesso em: 11 set. 2015.
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, o programa Ciência sem Fronteiras foi criado, em 2011, pelo governo brasileiro com um investimento de R$ 6,5 bilhões e busca promover a expansão da ciência e da tecnologia através de mobilidade internacional. Na primeira etapa do programa, desde seu início até o ano de 2015, 101.446 bolsas foram concedidas, sendo 78% desse total para cursos de graduação e o restante dividido entre mestrados, doutorados e pós-doutorados.

Além dos programas governamentais, as Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras têm investido em acordos de cooperação internacional e convênios com universidades de outros países. Esses convênios visam não apenas ao intercâmbio estudantil, mas a programas de educação continuada, a pós-graduações, a alargamento dos horizontes de pesquisa, e a outras atividades.

Diante do exposto, este trabalho tem o objetivo de analisar o processo de readaptação do intercambista ao retornar ao Brasil após um período de estudos em outro país. Para tanto, como metodologia, utilizou-se a pesquisa descritiva com abordagem quantitativa tipo survey, com estudantes que realizaram intercâmbio entre os anos de 2012 e 2015, permanecendo por no mínimo um semestre fora do Brasil.

Os resultados mostram que no retorno ao Brasil, os intercambistas tiveram dificuldades na readaptação. Sentimentos como angústia, irritação, depressão, insegurança, confusão e depressão apareceram de maneira significativa nas respostas, evidenciando que os intercambistas sentiram fortemente o choque cultural reverso. 91% dos respondentes afirmaram que ao retornarem ao Brasil tinham sentimentos de nostalgia relacionados ao período vivido no exterior, 84% disseram que se sentiam pessoas com grandes habilidades interculturais e 72% desejavam nunca ter voltado do intercâmbio. Além disso, com relação às IES, depois do intercâmbio os estudantes não tiveram o suporte necessário, pois apenas 6% deles afirmaram que a IES brasileira deu apoio e 7,5% disseram o mesmo da IES estrangeira.

Referencial teórico

O referencial teórico deste trabalho está dividido em duas partes. A primeira trata da internacionalização das IES e da mobilidade acadêmica. A segunda parte aborda as três principais etapas do intercâmbio acadêmico, antes, durante e depois, enfatizando os aspectos relacionados às dificuldades de adaptação quando do retorno do estudante ao Brasil após a viagem.

Internacionalização das IES e a mobilidade acadêmica

Segundo Stallivieri (2002)STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Educação Brasileira: Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Brasília, DF, v. 24, n. 48, p. 35-57, 2002., as universidades são internacionais desde a criação das escolas europeias na Idade Média. Essas instituições contavam com estudantes e professores de diferentes países, todos em busca de um objetivo comum: o conhecimento. A universidade internacionalizada tornou-se um universo cultural, onde há uma pluralidade de pensamentos, visões de mundo, tendências científicas etc., ou seja, diversos modos de pensar, visto que ali há pessoas de diferentes partes do planeta.

No Brasil, nas décadas de 80 e 90, a internacionalização das IES brasileiras cresceu de maneira significativa, basicamente por quatro razões: i) políticas, como a busca pela paz e entendimento mútuo; ii) econômicas, pela preocupação com a competitividade e o crescimento econômico; iii) socioculturais, pela expansão de valores morais e nacionais; e, iv) acadêmicas, para a qualificação das pessoas para o mercado de trabalho, a reputação das IES, a qualidade do ensino, pesquisa e serviços, bem como a exposição cultural decorrente da mobilidade de estudantes e professores (MIURA, 2006MIURA, Irene Kazumi. O processo de internacionalização da Universidade de São Paulo: um estudo de três áreas do conhecimento. 2006. Tese (Livre Docência) – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2006.).

De fato, para Altbach (2002)ALTBACH, Philip G. Perspectives on international higher education. Change, London, v. 34, n. 3, p. 29-31, 2002., a internacionalização das instituições de ensino não pode ser evitada, sob o risco de se tornarem moribundas e irrelevantes quando se colocam alheias às tendências econômicas e sociais. Além disso, o conhecimento universitário já não cabe dentro das fronteiras dos países e a universidade brasileira tem de se inserir no saber internacional, tanto em termos de suas qualidades quanto de seus temas e prestígio da instituição (BUARQUE, 2003BUARQUE, Cristovam. A universidade numa encruzilhada. In: SEMINÁRIO UNIVERSIDADE: POR QUE E COMO REFORMAR. A universidade na encruzilhada. Brasília, DF: Unesco, 2003. p. 23-65.). Se não por isso, também por uma questão de sobrevivência para competir igualmente com as melhores IES nacionais e estrangeiras (STALLIVIERI, 2002STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Educação Brasileira: Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Brasília, DF, v. 24, n. 48, p. 35-57, 2002.).

Uma das formas mais intensas de internacionalização é o intercâmbio universitário. Stallivieri (2002)STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Educação Brasileira: Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Brasília, DF, v. 24, n. 48, p. 35-57, 2002. afirma que é preciso que os estudantes ampliem seu conhecimento não somente acadêmico, mas pessoal e profissional. O intercâmbio acadêmico promove a integração entre culturas e pessoas diferentes, visto que os estudantes interagem com alunos não somente do país onde estão realizando seus estudos, mas com intercambistas do mundo todo (TAMIÃO; CAVENAGHI, 2013TAMIÃO, Talita Segato; CAVENAGHI, Airton José. O Intercâmbio cultural estudantil na cidade de São Paulo. Revista do Instituto de Ciências Humanas, Belo Horizonte, v. 8, n. 9, p. 40-49, 2013.).

Portanto, a universidade desempenha papel fundamental de preparar os cidadãos para um mundo interligado e interdependente, com uma experiência educacional internacionalizada que permita o conhecimento e respeito pela diversidade cultural. Alicerçada pela cooperação internacional (acordos bilaterais e multilaterais, os programas internacionais e os convênios institucionais), as IES brasileiras têm ampla gama de modalidades de inserção internacional para seus alunos, professores e pesquisadores (LAUS, 2004LAUS, Sonia Pereira. Alguns desafios postos pelo processo de internacionalização da educação superior no Brasil. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO UNIVERSITÁRIA NA AMÉRICA DO SUL, 4., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2004. p. 1-18. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/35810/Sonia%20Pereira%20Laus%20-%20ALGUNS%20DESAFIOS%20POSTOS.pdf?sequence=4 > Acesso em: 15 set. 2015.
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).

Os benefícios da mobilidade acadêmica podem ser analisados sob três aspectos: a IES, o país e o intercambista. No caso das IES, não buscam retorno financeiro nos seus processos de internacionalização, mas sim o aprimoramento de seus conhecimentos e entendimentos interculturais (ALTBACH; KNIGHT, 2007ALTBACH, Philip G.; KNIGHT, Jane. The internationalization of higher education: motivations and realities. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 11, n. 3-4, p. 290-305, 2007.), tendo como motivação o enriquecimento de seus currículos acadêmicos e de seu corpo docente (MOROSINI, 2011MOROSINI, Marília Costa. Internacionalização na produção de conhecimento em IES brasileiras: cooperação internacional tradicional e cooperação internacional horizontal. Educação em Revista, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 93-112, 2011.).

Para o país, quanto maior o número de pessoas internacionalizadas e preparadas para lidar com a diversidade cultural, maiores são as chances de se projetarem e se manterem competitivos. Para o intercambista, as vantagens vão além do aprendizado, pois promovem desenvolvimento psicológico, autoconfiança, amadurecimento, independência, capacidade de relacionar-se e sentir-se um cidadão global, além de permitir conhecer hábitos diferentes e específicos abrindo novas perspectivas (OLIVEIRA; PAGLIUCA, 2012OLIVEIRA, Mariana Gonçalves de; PAGLIUCA, Lorita Marlena Freitag. Programa de mobilidade acadêmica internacional em enfermagem: relato de experiência. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 33, n. 1, p.195-8, 2012.). Larsen e Vincent-Lancrin (2002)LARSEN, Kurt; VINCENT-LANCRIN, Stéphan. Le commerce international de services d’éducation: est-il bon? est-il méchant? Politiques et Gestion de L’enseignement Supérieur, Paris, v. 14, n. 3, p. 9-50, 2002. citam como motivações a possibilidade de o estudo no exterior ser mais qualificado. Além disso, o processo de recrutamento e de seleção empresariais tem levado em conta a experiência internacional (MALUTTA, 2013MALUTTA, César. Implantação do projeto educacional em Joinville, envolvendo intercambistas internacionais através da AIESEC. Udesc em Ação, Florianópolis, v. 6, n. 1, 2013.; TAMIÃO; CAVENAGHI, 2013TAMIÃO, Talita Segato; CAVENAGHI, Airton José. O Intercâmbio cultural estudantil na cidade de São Paulo. Revista do Instituto de Ciências Humanas, Belo Horizonte, v. 8, n. 9, p. 40-49, 2013.).

No entanto, o retorno ao país de origem gera dificuldades semelhantes às encontradas quando o intercambista enfrentou o choque cultural no país de destino. É uma sensação de não pertencimento mais ao país do intercâmbio e nem de pertencimento ao país de origem. Sebben (2001)SEBBEN, Andrea. Intercâmbio cultural: um guia de educação intercultural para ser cidadão do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001. afirma que, antes de realizar o intercâmbio, é bom considerar que há duas migrações: a de ida e a de volta.

O retorno ao país de origem

Para Uehara (1986)UEHARA, Asako. The nature of American student reentry adjustment and perceptions of the sojourn experience. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 10, n. 4, p. 415-438, 1986., o jovem que volta de um intercâmbio pode ter diferentes sentimentos, como, por exemplo, alienação, solidão, sentimento de perda, isolamento, infelicidade, perda de identidade, depressão e, por vezes, doenças causadas por níveis extremos de mudança. É comum o sentimento de solidão e isolamento da família e dos amigos. Isso se deve ao fato do estudante ter fortes ligações com ambos antes de viajar.

Para Sebben (2001)SEBBEN, Andrea. Intercâmbio cultural: um guia de educação intercultural para ser cidadão do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001., a fase de lua de mel após o retorno ao Brasil dura poucos dias ou semanas. O intercambista sente-se feliz e importante, visto que seus amigos e familiares nunca se interessaram tanto por suas experiências e sua vida como nesse momento (STEUTEN, 2015STEUTEN, Mirjan. La coherencia nacional en el proceso del choque cultural inverso de ex-estudiantes internacionales en Santiago de Chile. 2015. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural) - Universidade de Utrecht, Santiago do Chile, 2015. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/320177>. Acesso em: 16 maio 2018.
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). É importante aproveitar essa fase, pois logo vem o choque cultural reverso, similar ao choque cultural ocorrido na chegada ao país de destino, com a diferença que é sentido no retorno ao país de origem.

Gaw (2000)GAW, Kevin F. Reverse culture shock in students returning from overseas. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 24, n. 1, p. 83-104, 2000. aponta que o choque cultural reverso é um processo de reajuste, reaculturamento e reassimilação de um indivíduo com relação à sua cultura, após ter vivido em uma cultura diferente por um significativo período. Já Uehara (1986)UEHARA, Asako. The nature of American student reentry adjustment and perceptions of the sojourn experience. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 10, n. 4, p. 415-438, 1986. entende que o choque cultural reverso promove dificuldades psicossociais (por vezes associadas a problemas físicos) que o repatriado experimenta, na fase inicial do processo de ajustamento ao voltar para casa depois de ter vivido no estrangeiro durante algum tempo. Casa não no sentido de simplesmente o espaço onde se vive, mas sim onde o intercambista se sente em casa, tem a segurança de ser aceito, compreendido e se permite ser ele mesmo (VON EIJE, 2013VON EIJE, Johanneke. El impacto de identidad cultural en el choque cultural inverso: una investigación sobre la adaptación, la identidad cultural y el choque cultural inverso experimentado por médicos y estudiantes de medicina en prácticas en zonas tropicales. 2013. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural). Santiago do Chile, Universidade de Utrecht. 2013. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/281819> Acesso em: 16 maio 2018.
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).

De fato, devido a uma mudança em sua identidade cultural, sua personalidade mudou e o estudante tem uma nova visão de mundo, o que pode gerar confusão em quem permaneceu no país de origem. Por outro lado, a vida dos familiares e amigos também mudou e o intercambista também precisa se adaptar ao que não lhe era familiar anteriormente à viagem.

A principal diferença entre o choque cultural e o choque cultural reverso são as expectativas. O intercambista normalmente espera voltar para o convívio de pessoas e sociedades que não sofreram mudanças no tempo em que esteve fora, o que não ocorre (GAW, 2000GAW, Kevin F. Reverse culture shock in students returning from overseas. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 24, n. 1, p. 83-104, 2000.).

Freitas (2006)FREITAS, Maria Ester de. Expatriação de executivos. GV Executivo, São Paulo, v. 5, n. 4, p. 48-52, 2006. afirma que a readaptação ao país de origem exige tempo e paciência, sendo que a possibilidade de choques é tão grande quanto à ida ao exterior. Ao relacionar os dois choques culturais, o de ida e o de volta, Searle e Ward (1990)SEARLE, Wendy; WARD, Colleen. The prediction of psychological and sociocultural adjustment during cross-cultural transitions. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 14, n. 4, p. 449-464, 1990. afirmam que se antes de viajar o estudante for instruído a respeito do choque cultural que sofrerá no país de destino, é possível que os efeitos do choque cultural reverso no seu retorno sejam minimizados e mais bem controlados. Isso se dá através da realização de treinamentos e orientações adequados no período anterior à viagem (LIMA; BRAGA, 2010LIMA, Mariana Barbosa; BRAGA, Beatriz Maria. Práticas de recursos humanos do processo de repatriação de executivos brasileiros. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 14, n. 6, p. 1031, 2010.).

O Quadro 1 apresenta uma síntese dos fatores que influenciam no choque cultural reverso objetivando, principalmente, orientar o instrumento de coleta de dados. Considerou-se na coluna fator os aspectos que caracterizam uma dimensão geral a ser analisada. Na coluna enfoque, desdobraram-se os fatores no sentido de mais bem compreendê-los. Por fim, na coluna autores estão descritos aqueles que fundamentam a base teórica.

Quadro 1
– Síntese dos fatores influenciadores no retorno ao Brasil

Percebe-se que o fator idade é influenciador no choque cultural reverso. O jovem tem mais facilidade de se desprender de sua cultura nativa, por isso é possível que, ao retornar ao país de origem, quem tem menor idade sinta mais dificuldade no processo de readaptação. Aliado a isso, nota-se que o estado civil influencia o retorno à cultura local. Viajantes casados têm contato com o país de origem com maior frequência, não se desprendendo tanto de sua cultura de origem ao mesmo tempo em que estão se inserindo na nova cultura.

Ao fim e ao cabo, muitas podem ser a razões que promovem o intercâmbio, porém outras tantas são as dificuldades ao retornar. Família, IES e uma preparação adequada facilitam o processo de ida e de retorno, mitigando os problemas e tornando uma experiência produtiva.

Procedimentos metodológicos

Neste estudo, seguiu-se o proposto por Gil (2002)GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002., elaborando-se um estudo descritivo com abordagem quantitativa desenvolvendo-se um survey composto por perguntas objetivas, para que os resultados fossem passíveis de serem verificados em sua confiabilidade. A população alvo desta pesquisa é formada por estudantes brasileiros de graduação que realizaram intercâmbio acadêmico em IES estrangeiras entre os anos de 2012 e 2015. Esse intervalo foi determinado pelo fato de esses estudantes terem memórias de maior exatidão quando comparados a intercambistas que viajaram há mais tempo.

A amostragem utilizada foi não-probabilística, ou seja, os respondentes foram selecionados por conveniência, isto é, aqueles que aceitaram responder (HAIR, 2005HAIR, Joseph F. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.). Ao final, obtiveram-se 586 respostas. Optou-se, também, por considerar apenas estudantes que permaneceram pelo menos um semestre em uma IES estrangeira. Com isso, objetiva-se eliminar da população os estudantes que possivelmente não sentiram os mesmos choques culturais que os participantes alvos do estudo.

O survey foi elaborado com base na pesquisa realizada por Steuten (2015)STEUTEN, Mirjan. La coherencia nacional en el proceso del choque cultural inverso de ex-estudiantes internacionales en Santiago de Chile. 2015. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural) - Universidade de Utrecht, Santiago do Chile, 2015. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/320177>. Acesso em: 16 maio 2018.
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junto a intercambistas e consiste em quatro partes: identificação dos respondentes, período anterior ao intercâmbio, período vivido no exterior e retorno ao Brasil. O instrumento de coleta de dados foi desenvolvido na plataforma Google Forms e esteve disponível para ser respondido entre os dias 13 e 28 de março de 2016. O questionário base de Steuten (2015)STEUTEN, Mirjan. La coherencia nacional en el proceso del choque cultural inverso de ex-estudiantes internacionales en Santiago de Chile. 2015. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural) - Universidade de Utrecht, Santiago do Chile, 2015. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/320177>. Acesso em: 16 maio 2018.
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teve dupla tradução para o português e optou-se por manter as escalas originalmente utilizadas pela autora, ora com 5, ora com 7 pontos.

Além disso, com base nos elementos da fundamentação teórica, incluíram-se perguntas para diferenciar estudantes que viajaram com recursos próprios daqueles que participaram de programas governamentais de incentivo à educação no exterior, tais como Ciência sem Fronteiras, Brafitec, entre outros. Acrescentaram-se perguntas sobre a vida acadêmica e profissional dos intercambistas, objetivando encontrar possíveis fatores relacionados que pudessem interferir na readaptação dos indivíduos ao país de origem.

Um pré-teste foi realizado para detectar possíveis falhas e/ou dúvidas no questionário e avaliar a coerência das respostas. Em decorrência disso, seis questões foram revistas e melhoradas. Hair (2005)HAIR, Joseph F. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2005. sugere quatro ou cinco respondentes para o pré-teste, entretanto, foram escolhidos seis indivíduos por conveniência, os quais responderam no dia 11 de março de 2016.

Já para a aplicação do questionário, os estudantes participantes da pesquisa foram contatados por meio de rede social Facebook, email e telefone. Acessou-se um grupo formado por 30 mil estudantes participantes do programa Ciência sem Fronteiras e outros grupos de específicos de universidades a que se teve contato, além de outros grupos a que se teve acesso.

Posteriormente, verificou-se o questionário em termos de qualidade e integridade. Em seguida, editaram-se os dados, eliminando-se respostas incompletas, inconsistentes ou ambíguas que poderiam mascarar os dados obtidos. Os dados foram submetidos a análises estatísticas descritivas e cruzamento de dados através do programa SPSS (v. 21).

Apresentação dos resultados

Os resultados estão apresentados em duas partes. Na primeira parte, analisou-se o perfil dos respondentes nas Tabelas 1 a 6. Na segunda parte, consta a análise das respostas que avaliaram as dificuldades e facilidades que os respondentes tiveram em seu retorno ao Brasil.

Tabela 1
– Sexo, faixa etária e experiência internacional

A Tabela 1 mostra a representatividade dos sexos, das faixas etárias e das experiências internacionais anteriores ao intercâmbio.

Na Tabela 2, são demonstrados os locais de origem dos respondentes, separando-os por região, a quantidade de cidades que tiveram representantes na pesquisa e o número de respondentes de cada região. Apenas Rondônia, Roraima e Amapá não tiveram participantes.

Tabela 2
– Local de origem dos respondentes

Também foi indagado no questionário qual era o curso superior de cada estudante. Na Tabela 3, cada curso foi dividido nas oito grandes áreas do conhecimento, evidenciando o número de cursos de cada área que estiveram presentes nas respostas da pesquisa e o número de estudantes representantes de cada área do conhecimento.

Tabela 3
– Curso superior

Questionou-se a respeito de qual foi o país e a cidade de destino. Na Tabela 4, são apresentados os locais de destino dos respondentes, separando-os por país, quantidade de cidades que cada país teve de representantes na pesquisa e o número de intercambistas que estudaram em cada país. O Reino Unido foi o país de destino mais escolhido com 89 respostas (15,19%). Foram retirados sete países com apenas uma resposta de intercambista.

Tabela 4
– País de destino

A Tabela 4 mostra, também, que Portugal é um dos países com maior número de intercambistas. Além da facilidade do idioma, a cultura reserva semelhanças que podem ter sido levadas em conta na escolha do país como destino.

Na Tabela 5 são apresentadas as respostas para os seguintes questionamentos: tipo de intercâmbio, ano de início, duração e tempo de retorno ao Brasil. Nota-se que a maioria dos respondentes realizou seus estudos por meio de programas governamentais por um ano, pois o Governo Federal concedeu cerca de 100 mil bolsas de intercâmbio acadêmico no exterior.

Tabela 5
– Ano de início, duração, tipo de intercâmbio e tempo de retorno (%)

Após a escolha do país de destino, os estudantes preparam-se de diversas maneiras com relação ao idioma falado no país de estudos no exterior. Por conta disso, foi questionado se os respondentes estudaram a língua falada no destino. Dos participantes da pesquisa, 28,2% optaram por não estudar a língua. Já dos que estudaram o idioma estrangeiro, 30,2% o fizeram no próprio país de destino com recursos do Governo Federal. Por outro lado, 33,1% realizaram cursos do idioma estrangeiro ainda no Brasil, com vistas a se preparar adequadamente para o período vivido no exterior. Ainda houve aqueles que realizaram cursos com recursos próprios, os quais tiveram a menor representatividade na pesquisa, 8,5%.

Na Tabela 6, são apresentados os dados de como estavam as habilidades linguísticas dos intercambistas antes do intercâmbio acadêmico e ao final. A maioria dos respondentes que relataram ter extrema facilidade no domínio do idioma falado no exterior teve como destino Portugal, pois antes do intercâmbio a maioria dos respondentes se encontrava entre os níveis básico e intermediário.

Tabela 6
– Domínio do idioma estrangeiro no início e ao final do intercâmbio

Vale ressaltar também que 126 respondentes (21,5%) afirmaram ter apenas conhecimento básico do idioma. Desses, 76 estudaram o idioma no exterior com recursos do Governo Federal, ou seja, tiveram a oportunidade de aprimorar o que antes era um idioma praticamente desconhecido. Nota-se a melhora do nível de conhecimento dos idiomas estrangeiros por parte dos alunos. Na outra ponta da Tabela 6, nos dois últimos níveis (considerados os mais avançados), 175 estudantes consideravam ter esse conhecimento no início da experiência internacional. Ao final do intercâmbio, esse número passou para 441, ou seja, 75,3% dos intercambistas respondentes voltaram de suas viagens com níveis avançados do idioma estrangeiro.

Análise do retorno ao Brasil

Ao retornar ao Brasil, o estudante mantém laços com amigos brasileiros e estrangeiros provenientes do período de intercâmbio, por isso, questionou-se como eram esses laços. Assim, 46,2% afirmaram que mantêm contato com alguns amigos brasileiros, enquanto apenas 4,8% dizem não manter contato com brasileiros da época do intercâmbio. Por outro lado, a maioria, 49%, alega que mantêm contato com muitos amigos brasileiros. Já com relação aos amigos estrangeiros do período no exterior, 70,5% dos respondentes afirmam que têm contato com alguns amigos de fora do Brasil. Complementando, 14,3% mantêm contato com muitos amigos e 15,2% dizem não ter mais contato com amigos estrangeiros.

Outro fator que pode influenciar na readaptação do estudante ao Brasil é a (re) inserção profissional. Os respondentes foram questionados a respeito das suas situações profissionais no retorno ao país. Na Tabela 7, são apresentados os dados da situação profissional após o retorno.

Tabela 7
– Situação profissional dos estudantes após o retorno ao Brasil

Ao realizar um intercâmbio, o apoio das duas universidades é uma questão importante que pode influenciar no processo de intercâmbio acadêmico estudantil. Questionou-se se os respondentes receberam algum tipo de apoio/suporte das universidades (tanto estrangeira como brasileira) antes e depois da sua viagem (Tabela 8). O que pode ser observado é que a IES estrangeira dá maior apoio ao aluno intercambista quando comparada à brasileira, tanto antes da viagem como depois. Entretanto, nota-se que ambas as IES deixam a desejar no que se refere a dar suporte aos alunos após a realização dos estudos no exterior.

Tabela 8
– Apoio ao aluno por parte das Instituições de Ensino (%)

Na Tabela 9 é analisado o cruzamento das expectativas de como estão as IES estrangeiras comparadas às brasileiras, com a mudança de opinião a respeito da IES brasileira após o intercâmbio.

Tabela 9
– Expectativa da IES estrangeira e opinião da IES brasileira

Um dado que chama a atenção é que 87,2% dos respondentes esperavam que a universidade de destino fosse melhor que a brasileira, representados por 511 do total de 586 respondentes. Ao serem cruzados com os dados da mudança de opinião a respeito da universidade brasileira, 40,1% (235 participantes) mudaram-na para melhor. Desses 235 respondentes, 208 haviam respondido que antes do intercâmbio esperavam que a IES estrangeira fosse melhor que a brasileira. Isso indica um bom posicionamento para as IES brasileiras, visto que esses alunos antes esperavam maior qualidade no ensino estrangeiro e após o intercâmbio melhoraram suas opiniões a respeito das mesmas.

Para aprofundar as percepções de mudanças ocorridas, o questionário tem uma série de afirmações a respeito. A Tabela 10 expõe as afirmações sobre as percepções de mudanças e suas médias e desvios-padrão. É notável o fato das médias serem altas, assim como todos os desvios-padrões baixos, o que representa uma concentração de respostas perto das médias. A afirmação “regularmente tinha sentimentos de nostalgia relacionados ao meu intercâmbio’’ destaca-se, visto que teve a maior média (4,29) e o menor desvio-padrão (0,81).

Tabela 10
– Percepção da vida no Brasil após o retorno

A Tabela 11 apresenta respostas em escala de 1 a 5, variando de discordo totalmente a concordo totalmente, sobre sentimentos próprios, ou seja, como se viam após o intercâmbio acadêmico.

Tabela 11
– Percepções a respeito de si mesmo após o intercâmbio

A primeira afirmação (Tabela 11) tem a maior média e o menor desvio-padrão, representando a importância que o intercâmbio tem no que concerne a tornar-se uma pessoa mais global e internacional. Percebe-se também que os estudantes relataram que, após o intercâmbio, passaram a ter maiores habilidades interculturais. Outro dado que chama a atenção é o que afirma que a cultura do país de destino teve influência na readaptação ao Brasil, com uma média considerada alta (4,17) e desvio-padrão baixo.

No retorno ao Brasil, juntamente com o chamado choque-cultural reverso, os estudantes experimentam sensações das mais variadas, desde depressão até felicidade. Por conta dessa quantidade de sentimentos que os mesmos podem ter, os respondentes afirmaram se sentiram pouco ou muito, ou se simplesmente não sentiram essas emoções. Dos 586 participantes da pesquisa, 544 (92,9%) não sentiram alívio ao retornar para o Brasil, ou seja, tiveram boas experiências enquanto estiveram no exterior.

A Tabela 12 expõe a respeito das mudanças por parte dos estudantes. A grande maioria afirmou que sentiu muito uma mudança de mentalidade (72,6%) e de visão de mundo (84%), assim como percebeu ter voltado outra pessoa do intercâmbio (74,5%).

Tabela 12
– Sentimentos no retorno ao Brasil

Por conta da quantidade de sentimentos (Tabela 12), alguns estudantes podem sofrer mais que outros. Por isso, foi questionado se, por não se readaptarem ao Brasil, os intercambistas procuraram algum tipo de ajuda psicológica. Enquanto 518 (88,4%) afirmaram que não, 68 (11,60%) disseram que procuraram algum profissional da área.

O último questionamento do survey foi a respeito dos planos e desejos futuros dos estudantes com relação a viajar para o exterior. O dado expressivo foi que 533 dos 586 respondentes escolheram a opção “discordo totalmente’’ para a afirmação “não pretendo retornar ao exterior’’, logo, a maioria dos estudantes pretende retornar ao exterior, seja para estudar ou morar.

Discussão dos resultados

Esta seção relaciona o que foi obtido através dos questionários com os 586 estudantes ex-intercambistas respondentes com o que foi exposto no referencial teórico. Um total de 23 países de destino esteve representado com 213 cidades estrangeiras, sendo que os países que receberam mais intercambistas brasileiros foram Reino Unido (89), Portugal e Espanha (ambos com 85). De acordo com Larsen e Vincent-Lancrin (2002)LARSEN, Kurt; VINCENT-LANCRIN, Stéphan. Le commerce international de services d’éducation: est-il bon? est-il méchant? Politiques et Gestion de L’enseignement Supérieur, Paris, v. 14, n. 3, p. 9-50, 2002., há diversos fatores que influenciam na escolha do país de destino, dentre os quais os econômicos, os acadêmicos e os socioculturais.

Os resultados da pesquisa apontam que os fatores mais influenciadores na decisão do aluno estão relacionados à cultura e à vida no país de destino, bem como ao alto padrão educacional e ao idioma. Nesse caso, Portugal tem, além de idioma similar, uma cultura próxima à brasileira, e o país é considerado o mais barato da Europa Ocidental, o que influencia no momento decisório do aluno que viaja com recursos próprios. Já o Reino Unido permite aprendizado e prática da língua inglesa, além de possuir uma reputação acadêmica e social elevada, porém é um país com um custo de vida considerado alto. Por conta disso, 85 dos 89 intercambistas que estudaram no país o fizeram com ajuda e recursos do Governo Federal.

Ao serem questionados a respeito de suas competências adaptativas, a maior média foi no quesito relacionado à obtenção dos serviços comunitários básicos (4,55), tais como transporte, saúde etc. Já a menor média foi nas relações de amizade com estudantes nativos (3,41), o que confirma o fato de os estudantes brasileiros procurarem mais uns aos outros no processo de adaptação. Assim, os intercambistas devem ser flexíveis a aceitar o novo e as diferenças (CHANG; YUAN; CHUANG, 2013CHANG, Wei-Wen; YUAN, Yu-Hsi; CHUANG, Ya-Ting. The relationship between international experience and cross-cultural adaptability. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 37, n. 2, p. 268-273, 2013.; CANUTO, 2014CANUTO, Simone Aparecida. Um olhar científico sobre a relação de intercâmbio do estudante brasileiro em Portugal. Augusto Guzzo Revista Acadêmica, São Paulo, v. 1, n. 14, p. 115-122, 2014.), o que pode ser observado nas respostas dos intercambistas, ou seja, tiveram sucesso em seus processos de adaptação.

Os resultados confirmam o achado por Steuten (2015)STEUTEN, Mirjan. La coherencia nacional en el proceso del choque cultural inverso de ex-estudiantes internacionales en Santiago de Chile. 2015. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural) - Universidade de Utrecht, Santiago do Chile, 2015. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/320177>. Acesso em: 16 maio 2018.
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, de que ocorre mudança de identidade cultural no processo de intercâmbio, pois apenas 84 respondentes se viam como cidadãos-globais antes do intercâmbio, enquanto após a experiência esse número passou para 326. Isso ocorre pelo fato de o estudante ter contato com diversos tipos de culturas estrangeiras, ao mesmo tempo em que aprende a lidar com as diferenças entre os povos. Segundo Bennett (1998)BENNETT, Milton J. Basic concepts of intercultural communication: selected readings. Boston: Intercultural, 1998. xiii, 272 p., essa mudança faz parte da adaptação e é o processo pelo qual o indivíduo expande sua visão de mundo para que se possa incluir o comportamento e os valores adequados na cultura em que está se inserindo.

De fato, os estudantes julgaram ter maiores habilidades interculturais após o intercâmbio, assim como afirmaram que a cultura do país de destino tem influência na readaptação ao Brasil. Ao estudar no exterior por um grande período e se adaptar ao novo ambiente, o estudante desprende-se de sua cultural local (SZKUDLAREK, 2010SZKUDLAREK, Betina. Reentry - A review of the literature. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 34, n. 1, p. 1-21, 2010.). Isso foi observado, pois os respondentes afirmaram ter uma visão de mundo diferente de seus compatriotas. Isso demonstra que viajar e se adaptar a uma nova cultura auxilia no fortalecimento das competências interculturais dos estudantes. Além disso, indica que na visão de quem viaja aquele que nunca teve a experiência de viver no exterior não tem essas mesmas competências.

Analisando esse questionamento, pode-se afirmar que os intercambistas não se viam parecidos aos brasileiros em nenhum dos quesitos. As diferenças menos percebidas estão relacionadas com as amizades e estilos de comunicação, o que é explicado pela maioria dos amigos dos respondentes no exterior serem brasileiros. Já com relação às pessoas do país de destino, nota-se que os estudantes se viam parecidos aos mesmos, o que evidencia o êxito da adaptação, pois ao se familiarizar com um estrangeiro, o intercambista conseguia se inserir na nova cultura.

A pesquisa ratifica o que afirmava Sowa (2002)SOWA, Patience A. How valuable are student exchange programs? New Directions for Higher Education, New Jersey, v. 2002, n. 117, p. 63-70, 2002., para quem o intercâmbio ajuda no aprendizado e na proficiência de um novo idioma, juntamente com as interações culturais. Ao final da experiência internacional, 90,3% dos respondentes afirmavam ter o domínio da língua falada no seu país de destino, enquanto esse número, antes do intercâmbio, era de 38,6%. O que também contribuiu com esse aumento foi que 30,2% dos intercambistas estudaram o idioma no próprio país de destino com recursos do Governo Federal.

Vale ressaltar que fortes laços de amizade entre intercambistas brasileiros foram criados no período do intercâmbio dificultando o retorno ao Brasil, visto que subitamente há a separação desses círculos de amizade. Dos entrevistados, 95,2% ainda mantêm contato com os amigos brasileiros. Isso, de certa forma, prende-os ao período em que viveram no exterior, pois as conversas e lembranças são constantes nos contatos entre esses grupos de amigos. Os amigos que ficaram no Brasil já não são tão parecidos com o viajante e isso o faz buscar as amizades do tempo em que estiveram no exterior.

No retorno ao Brasil, o estudante encontra um mercado de trabalho cada vez mais acirrado, sendo o intercâmbio um diferencial competitivo interessante e muito valorizado pelas empresas (MALUTTA, 2013MALUTTA, César. Implantação do projeto educacional em Joinville, envolvendo intercambistas internacionais através da AIESEC. Udesc em Ação, Florianópolis, v. 6, n. 1, 2013.). Dos 586 entrevistados, 113 afirmaram que a experiência de intercâmbio foi fundamental para que conseguissem um trabalho ao retornarem. Esse dado vai ao encontro do que afirma Malutta (2013)MALUTTA, César. Implantação do projeto educacional em Joinville, envolvendo intercambistas internacionais através da AIESEC. Udesc em Ação, Florianópolis, v. 6, n. 1, 2013., que os processos de seleção têm levado cada vez mais em conta as experiências internacionais e a fluência em idiomas estrangeiros.

Outro aspecto importante é o papel da instituição de ensino. Hunley (2010)HUNLEY, Holly A. Student’s functioning while studying abroad: the impact of psychological distress and loneliness. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 34, n. 4, p. 386-392, 2010. alega que é necessário que as IES apóiem seus estudantes nas três fases do processo de intercâmbio. De fato, os resultados demonstram que, na visão dos estudantes, as IES não dão suporte adequado aos alunos após a realização dos estudos no exterior. Para os respondentes, as universidades estrangeiras deram-lhes mais apoio que as brasileiras, tanto antes quanto depois do intercâmbio. Prova disso é que apenas 6% afirmaram que a IES brasileira deu muito apoio e 7,5% disse o mesmo da IES estrangeira. Além disso, a maior parte das respostas concentrou-se na opção “não deu apoio’’, ou seja, há uma necessidade de maior apoio e suporte ao processo de intercâmbio: antes, durante e depois.

Caso o intercambista seja instruído através de treinamentos e orientações adequados, a respeito do choque cultural que sofrerá no país de destino, é possível que os efeitos do choque cultural reverso no seu retorno sejam minimizados e mais bem controlados (SEARLE; WARD, 1990SEARLE, Wendy; WARD, Colleen. The prediction of psychological and sociocultural adjustment during cross-cultural transitions. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 14, n. 4, p. 449-464, 1990.; LIMA; BRAGA, 2010LIMA, Mariana Barbosa; BRAGA, Beatriz Maria. Práticas de recursos humanos do processo de repatriação de executivos brasileiros. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 14, n. 6, p. 1031, 2010.).

Ainda sobre as IES, antes do intercâmbio, 511 respondentes esperavam que a IES estrangeira fosse melhor que a brasileira, entretanto, ao retornarem, 235 estudantes afirmaram ter mudado de opinião para melhor a respeito da IES brasileira, o que demonstra que essas estão próximas das estrangeiras no que diz respeito à qualidade de ensino.

No retorno ao Brasil, os respondentes demonstraram ter tido dificuldades na readaptação. Sentimentos de nostalgia e desejo de nunca ter retornado do intercâmbio são exemplos do que pode dificultar esse processo. A maioria dos respondentes permaneceu por dois semestres no exterior, corroborando com Szkudlarek (2010)SZKUDLAREK, Betina. Reentry - A review of the literature. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 34, n. 1, p. 1-21, 2010. que afirma que uma estadia maior contribui de forma negativa no choque cultural reverso, pois o indivíduo teve muito tempo para se desprender da cultura de origem.

Sebben (2001)SEBBEN, Andrea. Intercâmbio cultural: um guia de educação intercultural para ser cidadão do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001. lembra que todos os intercambistas passam pelas migrações de ida e de volta, e, para alguns, o retorno ao Brasil pode ser mais complicado do que a partida. Para Uehara (1986)UEHARA, Asako. The nature of American student reentry adjustment and perceptions of the sojourn experience. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 10, n. 4, p. 415-438, 1986., o jovem que volta de um intercâmbio pode ter diferentes sentimentos, o que foi demonstrado nos resultados desta pesquisa. Observando as respostas dos estudantes, nota-se que os mesmos não estavam preparados para, ou não queriam retornar ao Brasil. Sentimentos como angústia, irritação, depressão, insegurança, confusão e depressão apareceram de maneira significativa nas respostas, evidenciando que os intercambistas sentiram o choque cultural reverso fortemente.

Há ainda os estudantes que buscam ajuda psicológica após o intercâmbio. No presente estudo, 68 respondentes afirmaram tê-lo feito. Isso vai ao encontro do que afirma Uehara (1986UEHARA, Asako. The nature of American student reentry adjustment and perceptions of the sojourn experience. International Journal of Intercultural Relations, Keaau, v. 10, n. 4, p. 415-438, 1986., s/p), que aponta “dificuldades psicossociais (por vezes associadas a problemas físicos) que o repatriado experimenta na fase inicial do processo de ajustamento ao voltar para casa depois de ter vivido no estrangeiro durante algum tempo”. Sendo esse processo de readaptação complicado e devido às mudanças que ocorrem, é importante que o intercambista tenha acompanhamento psicológico nos primeiros meses após o retorno. Isso poderia diminuir os impactos e implicações do choque cultural reverso, fazendo com que o estudante tivesse uma readaptação natural e sem maiores problemas.

Conclusões

Os resultados gerais mostram a importância do programa Ciência sem Fronteiras, pois 67,7% dos estudantes utilizaram-no. Reino Unido (89), Portugal e Espanha (ambos com 85) foram os destinos mais escolhidos. Os resultados confirmam ainda que houve mudança de identidade cultural, no processo de intercâmbio (STEUTEN, 2015STEUTEN, Mirjan. La coherencia nacional en el proceso del choque cultural inverso de ex-estudiantes internacionales en Santiago de Chile. 2015. Dissertação (Mestrado em comunicação intercultural) - Universidade de Utrecht, Santiago do Chile, 2015. Disponível em: <https://dspace.library.uu.nl/handle/1874/320177>. Acesso em: 16 maio 2018.
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), pois no início do intercâmbio, 84 respondentes se viam como cidadãos-globais, já após, esse número passou para 326. Também, ao final da experiência internacional, 90,3% dos respondentes afirmavam ter o domínio da língua falada no seu país de destino, enquanto antes do intercâmbio eram 38,6%.

Concluiu-se, também, que o tempo e a qualidade do período vivido no exterior têm grande influência na readaptação do estudante ao Brasil, ou seja, se o intercâmbio teve sucesso, é provável que o retorno ao país de origem seja dificultado. Isso ocorre devido ao estudante ter tido tempo suficiente para se desprender de sua cultura local e se adaptar ao local de destino, corroborando para uma mudança na identidade cultural do indivíduo.

No que se refere à readaptação profissional, o intercâmbio traz benefícios ao estudante. As empresas valorizam os profissionais com experiências internacionais facilitando na hora de processos de seleção. Percebeu-se também que deve haver uma preparação adequada antes da realização de um intercâmbio. Nesse quesito, entram em cena as universidades, que devem dar o suporte necessário ao seu aluno, tanto na parte burocrática, como na parte psicológica. As IES também são importantes no acompanhamento da situação dos estudantes, antes, durante e depois o intercâmbio, com o objetivo de que, ao final, o intercâmbio tenha sido uma experiência saudável e sem traumas para o estudante.

Ao fim e ao cabo, o intercâmbio acadêmico deve ser realizado com racionalidade a respeito do que virá após, ou seja, ao iniciar o processo, é importante que o estudante esteja ciente do que poderá ocorrer no retorno ao Brasil. Dessa forma, o intercâmbio poderá ser mais bem aproveitado, etapa por etapa e, ao final, a experiência será satisfatória tanto para o estudante quanto para a IES.

Limitações e sugestões de estudos futuros

A presente pesquisa restringiu-se a um tipo de intercâmbio, o acadêmico, portanto, os dados e a interpretação dos resultados podem ser diferentes para outros tipos de intercâmbio. A pesquisa também se limitou a intercambistas brasileiros que viajaram entre os anos de 2012 e 2015 e já retornaram ao Brasil.

Como sugestões para estudos futuros, propõe-se a realização de pesquisa qualitativa junto às Instituições de Ensino Superior investigando suas políticas de intercâmbio acadêmico e relacionando-as com as perspectivas dos alunos ao retornarem. Também, sugere-se analisar as principais diferenças entre as experiências de intercâmbio de estudantes de diferentes estados brasileiros, verificando se o fator geográfico e cultural é determinante para que haja uma diferenciação significativa na readaptação dos estudantes participantes.

Implicações gerenciais

Os resultados deste estudo podem auxiliar as Instituições de Ensino Superior a realizar melhorias em suas áreas responsáveis pelos intercâmbios acadêmicos. Atualmente, as universidades não dão suporte e acompanhamento necessários para os intercambistas, o que, por vezes, inviabiliza a obtenção de um feedback dos mesmos a respeito dos benefícios e dificuldades da experiência internacional acadêmica. Dito isso, é importante que as IES estejam presentes nas três fases do intercâmbio, antes, durante e depois, para que ele tenha o maior sucesso possível.

No que diz respeito ao Governo Federal, é importante que sejam mantidos os projetos educacionais de intercâmbio no exterior (Ciência sem Fronteiras e BRAFITEC) a fim de que os estudantes possam ter mais conhecimentos culturais e acadêmicos, bem como sejam capazes de conviver com outras culturas e saibam respeitá-las.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Set 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2017
  • Aceito
    16 Nov 2017
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