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Como produzir sentido a partir da precariedade? Bios-precário e vida sensível

RESUMO

A operação que nos interessa destacar gira em torno da zona de problematicidade que ilumina o trabalho crítico com materiais culturais e que supõe uma complementaridade conceitual entre os caminhos da biopolítica e da precariedade. Aquilo que essas análises e seu trabalho com materiais indicam, de um modo muito nítido, é um conjunto de dimensões, linhas de indagação e zonas de problematização que não adquirem a suficiente relevância nos debates contemporâneos sobre biopolítica e precariedade. Daí advém a necessidade de elaborar uma ferramenta de trama conceitual que dê conta dos marcadores que codificam uma vida precária. Justamente, este é o ponto cego em comum e, ao mesmo tempo, o espaço de interseção conceitual que nos interessa: os percursos em biopolítica que não tenham considerado os processos de precarização da vida e, em igual medida, as teorizações sobre a condição precária que não tenham pensado em termos estritamente biopolíticos. Denominamos bios-precário a este nó conceitual a partir da conjunção entre a caixa de ferramentas (teóricas) de Judith Butler em relação à ontologia corporal da precariedade e ao cruzamento do percurso biopolítico de Roberto Esposito entre vida impessoal e biopolítica afirmativa.

PALAVRAS-CHAVE:
Bios-precário; Biopolítica; Precariedade; Judith Butler; Roberto Esposito

ABSTRACT

The operation that we want to emphasize revolves around the problematic area that brings light to the critical work that uses cultural material and assumes a conceptual complementarity between the paths of biopolitics and precariousness. What these analyses and their work with materials clearly indicate is that a set of dimensions, lines of questioning and problematic zones are not given enough relevance in contemporary debates about biopolitics and precariousness. Therefore, there emerges the need to develop a conceptual tool that may account for markers that encode a precarious life. That is, precisely, the common blind spot and, at the same time, the space of conceptual intersection on which we focus: the biopolitical paths that have not been taken into account in the processes of precarization of life and, in equal measure, the theorization about the precarious condition that has not been developed in strictly biopolitical terms. We call this conceptual knot bíos-precarious. This concept stems from the confluence between Judith Butler’s (theoretical) tools in relation to the bodily ontology of precariousness and the intersection between impersonal life and affirmative biopolitics in Roberto Esposito’s biopolitical path.

KEYWORDS:
Bíos-precarious; Biopolitics; Precariousness; Judith Butler; Roberto Esposito

RESUMEN

La operación que nos interesa subrayar gira en torno a la zona de problematicidad que ilumina el trabajo crítico con materiales culturales y que supone una complementariedad conceptual entre los recorridos de la biopolítica y de la precariedad. Lo que estos análisis y su trabajo con materiales indican, de un modo muy nítido, es un conjunto de dimensiones, líneas de indagación y zonas de problematización que no adquieren la suficiente relevancia en los debates contemporáneos sobre biopolítica y sobre precariedad. De allí la necesidad de elaborar una herramienta de entramado conceptual que dé cuenta de los marcadores que codifican una vida precaria. Y justamente, ese es el punto ciego en común y a la vez, el espacio de intersección conceptual que nos interesa: los recorridos en biopolítica que no han considerado los procesos de precarización de la vida y en igual medida, las teorizaciones sobre la condición precaria que no han pensado en términos estrictamente biopolíticos. Denominamos bíos-precario a este nudo conceptual a partir de la conjunción entre la caja de herramientas de Judith Butler en relación a la ontología corporal de la precariedad y el cruce en el recorrido biopolítico de Roberto Esposito entre vida impersonal y biopolítica afirmativa.

PALABRAS CLAVE:
Bíos-Precario; Biopolítica; Precariedad; Judith Butler; Roberto Esposito

Mar del Plata, Buenos Aires, Argentina, julho de 2017. O secretário de saúde da cidade balneária expõe a sua perspectiva sobre “homens em situação de rua” a partir da morte do “indigente” Sergio Fernández e com especial ênfase se refere ao caso de uma mulher que costuma dormir na rua. Em diálogo com periodistas do programa de rádio Lo que el viento no se llevó, o secretário Gustavo Blanco argumenta: “fomos buscá-la dezessete vezes. Nós a deixamos em um hospital e ela retorna para a rua. Como um cachorrinho, retorna ao lugar em que se sente confortável”. Citando um código normativo com velhas reminiscências positivistas e higienistas, o secretário de saúde alega um esforço para “retirar” esta mulher da rua para a admitir em um hospital, mas, apesar das políticas sanitárias e dos esforços investidos, ela se empenha em “retornar para o seu lugar porque se sente confortável”.

Cidade autônoma de Buenos Aires, Argentina, setembro de 2018. A colunista Carolina Koruk publica em Revista ParaTi um artigo Tiempo de salario emocional: de qué se trata este nuevo beneficio laboral, que aborda uma nova tendência com fortes repercussões na Europa: o salário emocional. Koruk comenta uma pesquisa do iOpener Institute for People & Performance, da Inglaterra, sobre a felicidade nas tarefas diárias dos trabalhadores e sobre o estado emocional que reporta um maior compromisso dos empregados nas empresas. Em época de crise, explica Koruk, muitas empresas realizam gastos extras como um elemento decisivo para que os empregados não migrem com seus talentos para outra companhia, almejando que estes gastos extras mantenham os empregados felizes quando não há como remunerá-los. Vinculado à cultura da flexibilidade (quando se alcança o cumprimento dos objetivos, se dá liberdade de horários), este tipo de salário aponta às emoções e ao bem-estar, ao apreço a cada uma das pessoas que trabalham, à escuta para a motivação e ao clima profissional.

Ao centro dessas cenas estão as noções de biopolítica e de precariedade. Os acontecimentos expostos são imagens que nos permitem pensar os modos como funcionários, jornalistas e nossas sociedades em geral traçam distinções hierárquicas entre vidas a proteger, a cuidar ou a planificar para o futuro, e vidas a abandonar, sacrificar ou diretamente eliminar. Esse traçado fundamental, que é o núcleo central da biopolítica e dos processos de precarização, implica uma série de cortes, gradações e de umbrais diferenciados em torno dos quais se decide a humanidade ou a não-humanidade de indivíduos e grupos. Imagens que se inscrevem em uma linha de interrogação sobre as condições em que resulta possível apreender uma vida ou sobre os mecanismos específicos de poder através dos quais se produz, se cuida ou se valora diferencialmente a vida. Estas perspectivas nos dão uma imagem agudizada, mas certamente patente, de uma dinâmica que tem por objeto uma vida, o ser vivo ou o vivente de acordo com uma série de distinções e oposições - mais ou menos estabilizadas - entre vida e não vida, entre vida e morte, entre o vivo e o não vivo, ou entre a vida puramente biológica (zoé) e uma forma de vida (bíos). E, com efeito, vida e precariedade nomeiam um deslocamento de sentidos, como faz o Secretário de Saúde Gustavo Blanco, em relação a um campo de conceitos e de práticas que levam o pensamento para além do humano, por situar os indigentes nos confins do selvagem e do animal. Assim, a precariedade encena uma reconfiguração da desigualdade estrutural associada à pobreza e seus marcadores de iniquidade através da indagação recorrente dos limites da espécie, do humano e de suas margens.

Nesse contexto, uma série de análises críticas e estudos culturais realizados a partir de materiais estéticos elaborados na América Latina, como os trabalhos de Fermín Rodríguez (2010)RODRÍGUEZ, F. Un desierto para la nación: la escritura del vacío. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010., Florencia Garramuño (2015)GARRAMUÑO, F. Mundos en común: ensayos sobre la inespecificidad del arte. Buenos Aires: FCE, 2015., Gabriel Giorgi (2016)GIORGI, G. Precariedad animal. Boca de Sapo, n. 21, 2016b.1 1 GIORGI, G. Formas comuns: animalidade, literatura e biopolítica. Tradução por Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2016. , Ximena Briceño (2017)BRICEÑO, X. Vidas secas or Canine Melancholia: Reflections on Living Capital. Latin American Cultural Studies, v. 26, n. 2, p.299-319, 2017. e tantos outros, investigam essa vida como um campo expansivo e um conjunto de operações de leitura que mobilizam sentidos do visível e do sensível, definidos em grande medida pela lógica biopolítica, mas também por processos de precarização do vivente.

A operação que nos interessa destacar sobre essa vida gira em torno das dimensões que se iluminam por meio do trabalho crítico de leitura dos materiais culturais (RUCOVKSY, 2016; 2018a; 2018b; 2019a e 2019b) e que supõem uma complementaridade conceitual entre os percursos da biopolítica e da precariedade. O que estas análises indicam é um conjunto de dimensões, linhas de indagação e zonas de problematização que não adquirem a suficiente relevância nos debates contemporâneos sobre biopolítica e precariedade. Com isso surge a necessidade de elaborar uma ferramenta de entrelaçamentos conceituais que possa dar conta desses marcadores que codificam uma vida precária. E, justamente, esse é o ponto cego em comum e, ao mesmo tempo, o espaço de interseção conceitual: os percursos em biopolítica que não consideraram os processos de precarização da vida e, em igual medida, as teorizações sobre a condição precária que não foram pensadas em termos estritamente biopolíticos.

Denominamos então bios-precário a este novo nó conceitual a partir da conjunção entre a caixa de ferramentas de Judith Butler, em relação à ontologia social-corporal da precariedade, e o cruzamento com a teorização de Roberto Esposito sobre a biopolítica, mais especificamente entre vida impessoal e biopolítica afirmativa. Com efeito, nas considerações de Butler e Esposito se descobrem muitos pontos de divergência, mas talvez mais de convergência. Com isso queremos ressaltar duas operações, a ontologia corporal e de biopolítica afirmativa em Butler e Esposito, porque permitem delimitar esta forma de vida precária, e as relações entre bios, cultura e política em torno da pergunta pela atualidade: em que medida o presente está atravessado pela precariedade e pela biopolítica? Ou, em outras palavras, em que medida o presente se interpreta a partir da configuração conceitual de Judith Butler e Roberto Esposito?

Assim, o que guia a presente indagação não é um afã exegético sobre a obra e o pensamento de Butler e Esposito (os nomes próprios) que faça honra à reputação nominal de tais autores, mas sim o apontar para outro procedimento e em outra direção epistemológica. A intenção é desdobrar a perspectiva - ou melhor, localizar este bios-precário em um plano sobreposto - conforme um procedimento topológico e sistemático, isto é, uma dobra dentro da figura mais ampla a que pretende se contrapor: quais são as condições de possibilidade dos viventes precarizados, do bíos-precário? Como dar conta destes vetores e modulações, mas também da dimensão de época ou do presente histórico que codificam a vida?

1 A biopolítica é o horizonte insuperável de nosso tempo

Muita coisa não posso te contar. Não vou ser autobiográfica. Quero ser “bio”. Escrevo ao correr das palavras. Clarice Lispector

A biopolítica é um campo de investigação heterogêneo, de limites difusos e em constante expansão, que envolve um conjunto vasto de estudos e linhas de investigação dificilmente agrupáveis em uma perspectiva única. Em um sentido intuitivo, o termo parece iluminar uma constelação imprecisa que gira em torno dos pares de conceitos bios (a vida nutritiva para Aristóteles, o corpo ou os viventes) e política (o poder, o governo, as instituições, as leis, os conflitos). Segundo o sentido da palavra, a biopolítica se refere à política que se ocupa e se encarrega da vida (em grego bíos politikós), mas a partir da distinção entre bios e zoé, a biopolítica se refere à vida qualificada dos homens (bios)2 2 O termo biopolítica se distancia, por sua vez, da noção de zoopolítica, a qual se refere à política que toma por objeto a zoé, a totalidade indiferenciada dos viventes, animais, humanos e não-humanos. A prevalência do termo bios sobre zoé se deve à aparição, no começo do século XIX, do termo “biologia” e, em particular, ao projeto de Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) de uma ciência dos corpos vivos, dos seres viventes enquanto viventes, escreve Edgardo Castro (2011, p.19). Uma reapropriação contemporânea da noção de zoopolítica é a que defende Fabián Ludueña Romandini (2012), a respeitor de uma instância de interseção ou cruzamento entre vida e política que não passam pela exclusão de algo assim como zoé, mas por sua politização. .

Considerada como um oxímoro (a fusão de dois conceitos que se contradizem, pois a política no sentido clássico vai além da mera criatura e do corporal) ou uma simples tautologia - a política não se ocupa e incide sempre sobre a vida? (LEMKE, 2018, p.13)3 3 No original: “¿no se ocupa e incide la política siempre sobre la vida?”. LEMKE, T. Biopolítica: críticas, debates e perspectivas. São Paulo: Editora Politeia, 2018. -, o termo biopolítica implica uma instabilidade constitutiva que demonstra a vitalidade do termo e a “particular mobilidade semântica” que lhe é inerente (BAZZICALUPO, 2017BAZZICALUPO, L. Biopolítica: un mapa conceptual. Santa Cruz de Tenerife: Melusina, 2017., p.41)4 4 No original: “particular movilidad semántica”. BAZZICALUPO, L. Biopolítica. Um mapa conceitual. Rio Grande do Sul: Editora Unisinos, 2017. . Daí a oscilação que delimita a relação entre os dois termos que compõem a categoria: o que se deve entender por bios? Como formular a hipótese sobre uma relação exclusiva entre vida e política?

Tudo isso conduz a um desdobramento, escreve Esposito (2010)5 5 ESPÓSITO, R. Bios. Biopolítica e Filosofia. Tradução de M. Freitas da Costa. Lisboa: Edições 70, 2010. , entre duas tonalidades e categorias: por um lado, a vida em função da política ou a vida como objeto da política, o poder fazer viver ou a vida traduzível em política (uma política que se exerce exteriormente sobre a vida) e, por outro lado, o caráter político da bios, a política em seu interior, constitutivo da vida, a vida como sujeito da política (uma política imanente da vida). Se nos ativermos ao léxico grego e, em particular, ao aristotélico (AGAMBEN, 2002)6 6 AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte, UFMG, 2002 , a biopolítica remete à dimensão da zoé, a vida em sua simples manutenção biológica, sem qualificação, despojada de toda característica formal (deveríamos falar de estrutura zoopolítica então?). Em seu conteúdo semântico, coloca em evidência o nexo representado pela definição de o que está vivo e especialmente o que é humano. Em tal sentido, o pensamento biopolítico abre então um vasto campo de problemas e interrogações: que consequências tem esse encontro, esse sintagma conceitual ou essa interpelação recíproca entre a vida e o poder? Qual é a natureza dessa relação? São dimensões externas ou revelam uma imbricação intrínseca, um enlace originário? (GIORGI; RODRÍGUEZ, 2007GIORGI, G.; RODRÍGUES, F. Ensayos sobre biopolítica. Excesos de vida. Buenos Aires: Paidós, 2007., p.32). Em tal sentido, queremos salientar o conjunto de oposições e demarcações epistemológicas que parecem funcionar como condição de possibilidade da fixação de um sentido da noção de biopolítica: a diferença entre vida (excepcionalmente humana) e não vida (animal, mecânica, vegetal, espectral), o limite entre vida e morte (que em Foucault gira em torno do fazer morrer e seu inverso complementar, o fazer viver), os entes vivos frente aos não vivos (HARAWAY, 2016HARAWAY, D. Staying with the Trouble: making Kin in the Chthulucene. Durham: Duke, 2016.), e a vida puramente biológica a respeito de uma forma de vida, uma vida formada ou qualificada (BISET, 2016BISET, E. Deconstrucción de la biopolítica. Pléyade, n. 17, p.205-222, enero-junio 2016,).

Nos amplos percursos teóricos traçados em torno da biopolítica coloca-se em foco, na dimensão constitutivamente política da vida (no nível dos indivíduos e das populações) e nos modos de gestão desta vida, o fazer viver e seu revés complementar, o deixar morrer. Essas distinções são os eixos das teorizações canônicas de Michel Foucault, passando pela leitura italiana de Giorgio Agamben, Antonio Negri e Roberto Esposito, até as interpretações de Nikolas Rose, Peter Miller e Paul Rabinow. Nos debates que giram em torno da condição precária, principalmente com Judith Butler, mas também com Richard Gilman-Opalsy, Guillaume Le Blanc, Guy Standing, Athena Athanasiou, Lauren Berlant, Isabell Lorey e até a espanhola Remedios Zafra, faz-se um destaque especial de um tipo de vida corporal exposta e em relação de dependência de outros, definida em grande medida por sua vulnerabilidade física e deficiências, e sua condição existencialmente finita ou contingente. Entretanto, certos percursos da crítica cultural das últimas décadas trazem à superfície também uma dimensão de época e não apenas uma lógica política ou uma racionalidade de governo (aquilo que Foucault desenvolve em torno da governamentalidade neoliberal), uma vida corporal configurada pela exposição mútua, pela vulnerabilidade ou pelos processos de perda da posse e expropriação, que causam danos a tal condição (ATHANASIOU; BUTLER, 2013ATHANASIOU, Ath.; BUTLER, Judith. Dispossession: The Performative in the political. Cambridge: Polity Press, 2013.); mas uma vida precária, um bios-precário que abre um umbral de politização e que pode ser, ao mesmo tempo, um campo de experimentações conceituais e formais, estéticas e políticas.

A partir deste ângulo, há um ponto que parece útil esclarecer antecipadamente: por que bios e não vida nua ou zoé? Por que bios e por que não uma forma-de-vida? Nessa interseção se situa bios-precário, entre Roberto Esposito e Judith Butler e, diferentemente do pensamento de Giorgio Agamben (2002)7 7 Para referência, consulte a nota de rodapé 7. , que identifica na biopolítica - e no regime de soberania - um campo de cesuras e práticas divisórias entre as vidas reconhecíveis e as vidas a abandonar, ou a conversão de bios (um modo de vida qualificada e particular) em zoé (a simples vida nua). Segundo Agamben, a máquina governamental do Ocidente é o que articula um paradigma teológico-político, outro teológico-econômico e um terceiro de glória ou espetáculo, e que opera como um estado de exceção, isto é, como um Estado que inclui dentro de si o elemento anômico que o funda e cuja função consiste em capturar e produzir a vida nua, a nuda vita. A biopolítica, de acordo com Agamben, caracteriza-se por produzir o que se supõe ser uma mera vida e cuja suposição, como em um círculo vicioso, a produz (MOYANO, 2019MOYANO, M. I. Giorgio Agamben: el uso de las imágenes. Buenos Aires: La Cebra y Programa de Estudios en Teoría Política, 2019., p.294). Mas também no deslocamento conceitual de seu pensamento, na aposta por uma biopolítica menor (AGAMBEN, 2003AGAMBEN, G. Biopolitica minore: entrevista concedida a Paolo Perticari. Roma: Edizione Manifestolibri, 2003.), que dirige a sua atenção para uma vida inseparável de suas formas ou para uma vida que jamais é possível isolar como uma vida nua. Em outras palavras, toda vida já é uma forma-de-vida que trata sobretudo dos modos individuais, dos atos e processos do viver que são possibilidades de vida, de imaginação e de potência comum (General Intellect).

Distante da proposta de Agamben, como observamos, bios-precário é um sintagma que a um só tempo sobrepõe e justapõe a biopolítica afirmativa e a filosofia impessoal de Esposito com a ontologia social corporal de Judith Butler. A partir de Esposito (2005ESPOSITO, R. Inmmunitas: protección y negación de la vida. Buenos Aires: Amorrortu, 2005.; 2007ESPOSITO, R. Communitas: origen y destino de la comunidad. Buenos Aires: Amorrortu, 2007.; 2010;8 8 Para referência, consulte a nota de rodapé 6 2019aESPOSITO, R. Tercera persona: política de la vida y filosofía de lo impersonal. Buenos Aires: Amorrortu, 2019a.; 2019b)ESPOSITO, R. Comunidad, inmunidad y biopolítica. España: Herder, 2019b., bios nomeia a singularidade dos processos de vida que se reconhecem no interior do mecanismo de imunização (figura do katékhon, phármakon), que opera dialeticamente por incremento, proteção e desenvolvimento da vida e, alcançado um ponto aporético, termina impedindo o seu desenvolvimento ou sua destruição e aniquilamento. No coração do funcionamento imunitário que, como sabemos, é incluído como terceiro termo entre a soberania e a biopolítica, Esposito identifica uma linha de fuga à captura teológico-jurídica-biomédica da imunidade que se desdobra, já não sobre a vida, mas sobre a normatividade imanente da vida. Antes que a negação e a privação do comum (lo proprium) ou a mecânica de fechar o corpo sobre si e dentro de si, bios aponta para um horizonte de projeção do sujeito fora de si mesmo, experiência de relação recíproca que o expõe ao contato e inclusive ao contágio com o outro ou com o soma que é parte constitutiva da carne do mundo. Potência virtual e compositiva que é capacidade de modificar a nós mesmos, bios é transplante, incorporação protética e enxerto porque destrói as fronteiras da propriedade pessoal, a dimensão do interior e do exterior, do natural e artificial.

Outro aspecto de bios se define em contraste a uma norma que parte a vida. Assim aponta Esposito: no reverso oposto à normatização da vida, bios se conjuga como tentativa de vitalização da norma ou como pura faticidade vital em sua absoluta singularidade. Do que se trata é de um ser vivente que está sempre além de si mesmo, ultrapassando a esfera do indivíduo, suas formas e figuras pré-estabelecidas, em variação e em mobilização dos corpos, conservando a sua própria capacidade normativa de estabelecer novas normas. Bios é qualquer forma de existência que tenha igual legitimidade para viver em uma relação complexa com o ambiente e num entrelaçamento de relações nas quais está necessariamente inserida. Aí se situa o bios, como ser vivente que depende de conexões e encontros com outras intensidades que, como regra imanente da vida, é o resultado de um processo de sucessivas individuações e reprodução, mas como processo de desindividualização ou de dessubjetivação também, pois nada permanece durante um longo período no mesmo estado, idêntico a si. Como se pôde ver até aqui, Esposito segue o legado deleuziano e spinozista, o que configura uma linha de pensamento do virtual em relação a uma vida que oscila permanentemente entre o atual e o virtual, que excede toda atualização e precisamente por isso, se torna junto de outras produzindo relações, afirmando seu estilo singular e seu ritmo.

Em um sentido posterior, Esposito identifica no dispositivo da pessoa uma zona que transborda e excede seu mecanismo. A categoria de pessoa funciona como um operador de dominação biopolítica porque exibe hierarquias do vivente, distribuições desiguais e reificações da corporeidade. O que capta a “máquina teológica-política” da pessoa é um umbral de duplicidade entre a pessoa (capacidade jurídica-artificial) e a produção de seu oposto negativo, a coisa (elemento biológico sem valor, parte bestial ou animal, matéria inerte ou simplesmente não-pessoa). Elemento de desdobramento estrutural ou de assimilação excludente, este se assenta sobre uma lógica que parece articular unidade e divisão, em duas partes assimétricas, esfera do bios e da zoé (uma submetida à outra). A ideia da pessoa supõe ademais uma deriva tanatopolítica, cujo funcionamento está em deixar ou descartar violentamente aquilo que no homem não se considera pessoa e em consequência pode-se destinar à morte. É precisamente aí, onde o pensador italiano situa um bios impessoal como um campo de contestações, na alteração e contaminação de seu significado prevalecente que potencializa a abertura para outras possibilidades de vida. Entre os extremos da pessoa e da coisa, entre o humano e o natural, um foco de análise genealógica se situa no esvaziamento do contexto humanista, em uma larga tradição que define o homem na distância e diferença em relação ao gênero animal ou em contraposição com uma zona de humanidade bestializada. A reviravolta na ordem do humano e do animal vem a significar a mudança e a metamorfose, a multiplicidade ou pluralidade que permite abordar a infinita diferença entre cada vida singular e, ao mesmo tempo, o pré-individual e o pós-individual em cada um dos viventes. A potência imanente deste bios impessoal, que se reconhece no neutro (ne-uter) de Maurice Blanchot e na valorização da esfera do “se” de Émile Benveniste, se constitui em um plano de interrogação sobre a forma, os corpos e seus modelos de ordenação e se associa a essa margem móvel de vizinhança e intercâmbio entre viventes.

2 A precariedade é o horizonte insuperável de nosso tempo

Por sua vez, Judith Butler (2015BUTLER, J. Notes toward a Performative Theory of Assembly. Cambrigde, MA: Harvard University Press, 2015.;9 9 BUTLER, J. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Tradução de Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha; revisão de tradução de Marina Vargas; revisão técnica de Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 2017; 2018;10 10 BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução de Fernanda Siqueira Miguens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. 2019a e 2019b11 11 BUTLER, J. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução de Andreas Lieber; revisão técnica de Carla Rodrigues. Edição Kindle. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b. ) concebe, a partir do precário, uma ontologia social dos corpos que se propõe como epistemologia alternativa à matriz liberal e neoliberal do sujeito proprietário. Assim, frente à ontologia discreta e amuralhada do individualismo possessivo (possessive individualism), a precariedade da vida, a condição vulnerável do ser-com, nos conduz a perguntar pelos modos em que nossas sociedades e nossa dependência estrutural das normas sociais de reconhecimento constroem definições de vida e, precisamente por isso, também as condições sociais e econômicas para que se mantenha como tal.

Frente à razão neoliberal que subjaz na ontologia do individualismo possessivo, Judith Butler identifica um duplo nível justaposto e convergente dos processos de precarização: por um lado, precariedade (precariousness) e despossessão nomeiam uma condição ontológica-existencial dos corpos, essa abertura constitutiva, esse estar sempre fora de si, o estar feito de laços e de relações com os outros. Essa condição implica um certo reconhecimento do caráter relacional de nossa existência com pessoas e com um entorno, mas também com normas e marcos normativos (toda existência está inserida em um entrelaçamento de relações de poder e não há vida que exceda ao marco normativo, senão por reiteração-iteração e deslocamentos internos ao mesmo, desvios ou ressignificações normativas in situ).

De acordo com Butler, nossa existência possui um caráter relacional, o que aponta ao vínculo com redes de interdependência (social, econômica, biológica, ecológica) e que permite tanto a sobrevivência e a proteção como a violência e o desaparecimento físico, o feminicídio e a agressão. Ademais, o ponto de partida dessa relacionalidade constitutiva em redes de vinculação supõe que toda vida humana é fundamentalmente corpo e, justamente porque supõe mortalidade, finitude, necessidades físicas e fisiológicas, sua condição é a de um ser constitutivamente vulnerável, exposto ao contato com outros. Por outro lado, mas em convergência e justaposição, essa condição compartilhada de precariedade nos diferencia: alguns corpos estão mais expostos e protegidos que outros. O que se produz necessariamente é a atribuição diferencial da precariedade (precarity) ou a forma privativa de despossessão (becoming dispossessed), categoria que expõe a maximização da vulnerabilidade que nos constitui (dimensão frágil e necessária de nossa interdependência), mas sujeita a distribuições diferenciais, isto é, alude às formas históricas específicas que versam sobre relações sociais e econômicas, da presença ou ausência de infraestruturas e instituições que organizam a proteção das necessidades corporais.

3 Pontos cegos e problemas comuns

Bios-precário. A questão, então, retorna. É necessário argumentar sobre a utilização dessa fórmula conceitual: “por que bios-precário?”. Ambos vocábulos estão em recíproca tensão para indicar algo que não se deixa nomear de outra maneira. O que se descobre nesse ponto de convergência está na dupla valência do sintagma: de um lado, a pergunta pelo vivente (bios) que está no centro do pensamento biopolítico e que Esposito inscreve nos termos de um tipo de vida impessoal-neutra-anônima por fora da silhueta da pessoa, da forma autoimunizada do corpo e do regime da coisa-objeto. Mas, como aponta Butler, a pergunta pelo vivente se dispõe no interior mesmo do mecanismo ou no interior do marco normativo nos termos de um deslocamento interno. Em uma mesma linha de significado, a pergunta pelo vivente aponta para as condições de possibilidade (sociais, econômicas, políticas) para que se mantenha a vida como tal. A linha de indagação que Butler recupera em relação à nossa dependência estrutural às normas sociais de reconhecimento e aos modos em que nossas sociedades constroem definições de vida. E nessas definições se jogam precisamente as condições de possibilidade para que a vida seja vivível e sustentável. O que é uma vida e quais são suas condições normativas, sociais, econômicas, ecopolíticas que a fazem sustentável e vivível? A partir desse ângulo, a pergunta pelo vivente e pelas condições de possibilidade do vivente se solapam porque apontam para um mesmo eixo transversal do precário.

Por outro lado, frente a um legado subterrâneo que Esposito identifica com a tradição romano-cristã e que Butler remete à herança liberal, em ambas as teorizações nos encontramos com um pressuposto inquestionado que atravessa e obtura continuamente o entendimento sobre aquilo que é o “ser-com” ou as relações de interdependência com outros. Isto é, o dispositivo teológico-político da pessoa, a semântica teológica-biomédica da imunidade e a matriz liberal do individualismo possessivo. A partir disso, Butler e Esposito propõem ontologias relacionais do sujeito ex-tático e do ser-com, mas em diferentes níveis. Em Esposito a projeção do sujeito fora de si mesmo supõe uma experiência da relação recíproca que o expõe ao contato para além das fronteiras da propriedade pessoal e inclusive o expõe ao contágio com o outro, ou com o soma que é parte constitutiva da carne do mundo. Em Butler se trata de uma exposição que se define nos termos de uma interdependência com outros e com normas sociais que nos constituem. A precariedade comum (precariousness) é uma condição ontológica que supõe a interdependência da vida (em relação a outros viventes, mas também a interdependência em relação às normas ou às relações de poder) e o caráter extático dos corpos vulneráveis.

Nesse ponto se esboça um aspecto propositivo do bios-precário que - ao menos nesse ângulo - parece atribuir o extático e o aberto, atravessado por agentes exteriores, em contraposição à forma-de-vida que trata sobretudo dos modos individuais, os atos e processos do viver. Ao contrário de Agamben, o ser-com e as redes de interdependência não se limitam aos modos individuais e os atos de uma vida inseparável de suas formas, mas apontam a um processo expansivo do precário, que conjuga saberes, experiências e zonas do coletivo em níveis heterogêneos.

Bios-precário convoca Esposito e Butler quando uma caixa de ferramentas assume uma interrogação que a outra não considera: uma ontologia da vida (o bios impessoal de Esposito se define em torno à norma de vida, a partir da exposição, abertura vital e contágio corporal), que se configura como precária (existencialmente vulnerável, extática e exposta a outros), justamente por um diagnóstico de época, os tempos de uma nova intensidade neoliberal (BUTLER, 2015BUTLER, J. Notes toward a Performative Theory of Assembly. Cambrigde, MA: Harvard University Press, 2015.12 12 Para referência, consulte a nota de rodapé 10 e 2017a) e o seu correspondente processo de normalização da precariedade (LOREY, 2016LOREY, I. Estado de inseguridad: gobernar la precariedad. Madrid: Traficantes de sueños, 2016.)13 13 Diferente de Janell Watson (2012), que encontra em Butler e Esposito uma lógica conceitual compartilhada, que se mantém “vinculado aos limites biopolíticos de um discurso liberal” nas valências dos pares bios/immunitas e precarity/precariousness, nossa teorização aposta em uma leitura de complementaridade em uma ontologia comum que excede o marco (neo)liberal, quando uma caixa de ferramentas imbrica com a outra, mas apenas a partir do diagnóstico crítico e de resistência ao tempo presente. . E precisamente por isso, devemos notar que, se tanto Butler quanto Esposito identificam um núcleo comum que se conserva inquestionado, é a partir de Butler que podemos denominar esse ser-com (bios impessoal) como bios-precário. E como em um jogo de espelhos invertidos, é a partir de Esposito que podemos nomear a vida precária como bios impessoal, ou, mais ainda, ler essa vida precária em termos explicitamente biopolíticos14 14 Na obra de Butler, as menções manifestas sobre biopolítica são escassas como, por exemplo, a identificação com as ciências da vida, o vitalismo e o racismo de estado em Marcos de guerra. A própria Butler reconhece sua dívida em relação a esse vasto campo de indagações (SOLEY-BELTRAN; PRECIADO, 2007). No entanto, é possível rastrear uma chave de leitura ou um procedimento biopolítico em Butler em seu interesse em pensar sobre a regulação, os limites da vida e até a pergunta pelas condições sociais e econômicas que mantêm a vida. O trabalho de Eduardo Mattio (2017), Gubernamentalidad y agencia resistente. Consideraciones biopolíticas en la obra reciente de Judith Butler [“Governamentalidade e agência resistente. Considerações biopolíticas no trabalho recente de Judith Butler”] é fundamental nesta linha de pesquisa. . Bíos-precário se delineia a partir dos contornos de uma biopolítica afirmativa e de uma ontologia social corporal que se esboça em torno de um laço de contato e contágio (este unicum) entre bios e zoé, forma e força, modalidade e substância, na vida despossuída-precarizada (precarity), mas em relações de entrega e interdependência com viventes humanos e não humanos, normas e marcos normativos.

Deste modo, conforme a articulação entre ambas as caixas de ferramentas, é importante notar quais legados e tradições privilegiam cada uma, em termos gerais, como Derrida e Foucault, no caso de Butler e Deleuze, na reconstrução de Esposito. Assim como aponta Esposito, o bios é um ponto de fuga do dispositivo da pessoa e da semântica teológica-biomédica da imunidade. Em Butler se trata de uma condição ontológica a respeito da interdependência com as normas e com outras vidas e, sendo assim, não há vida que exceda esse marco normativo, mas sim deslocamentos internos. E este é, precisamente, um aspecto que não adquire suficiente relevância na biopolítica afirmativa de Esposito, pois toda vida se encontra saturada, em maior ou menor medida, de poder. O excesso de vida, a capacidade de variação e de potenciação pressupõem não tanto um resto de vida em contraste com uma norma que a rompe, ou uma norma que tende a subjugar a potência inovadora da vida, mas sim, a partir da interpretação derridiana de Butler, os deslocamentos e ressignificações subversivas que se produzem no interior da norma, pois é em seu caráter intrinsecamente iterativo que se realizam os desvios e excessos. A vida está, desde o início, inserida nos mecanismos imunitários, normativos e personificantes e, na reprodução reiterativa dos mesmos, volta a esboçar um deslocamento em direção à facticidade vital ou que habilita a vitalização subversiva da norma.

4 Um sismógrafo do tempo presente

Este espaço de conexão e entrelaçamento conceitual nos permite advertir a triangulação na qual se configura o bios-precário, de acordo com a caixa de ferramentas de Esposito, de Butler e com as dimensões que não estão presentes em ambas. Em outras palavras, três grandes vetores compõem bios-precário: a biopolítica afirmativa de Esposito, a ontologia corporal de Butler e uma dimensão de época que se vislumbra e que, em conjunto, dispõem as condições necessárias para pensar o precário como ontologia.

O sintagma bios-precário funciona como coagulador de imaginários, figurações, linguagens e imagens, como mecanismo cultural de condensação de sentidos, mas também é um instrumento conceitual e sistemático através do qual é possível articular um sismógrafo do tempo presente. Aqui nos referimos ao trabalho analítico com aquilo que as obras e os materiais culturais pensam o presente, os modos de contestação e reformulação que a cultura coloca em cena (RUCOVSKY, 2018aRUCOVSKY, M. M. Tanta vida mutua: Mujeres y precariedad animal. Atlea: Estudos Neolatinos, v. 20, n. 2, 2018a. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2018000200017&lng=en&nrm=iso&tlng=es. Acesso em: 21 ago. 2019.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
; 2018bRUCOVSKY, M. M. La vaca que nos mira: vida precaria y ficción. Revista Chilena de Literatura, n. 97, p.175-197, 2018b. Disponível em: https://revistaliteratura.uchile.cl/index.php/RCL/article/view/49094/51597. Acesso em: 21 ago. 2019.
https://revistaliteratura.uchile.cl/inde...
; 2019aRUCOVSKY, M. M. Rotar en la precariedade o sobre el trabajo de los jóvenes. AContracorriente: una revista de estudios latinoamericanos, v. 16, n. 3, p.139-160, 2019a. Disponível em: https://acontracorriente.chass.ncsu.edu/index.php/acontracorriente/article/view/1912/3277. Acesso em: 21 ago. 2019.
https://acontracorriente.chass.ncsu.edu/...
; 2019bRUCOVSKY, M. M. Taedium Vitae: Precarity and affects in porteña night. E-Scrita. Revista do curso de Letras da UNIABEU, v. 10, n. 1, jan.-abr., 2019b. Disponível em: https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RE/article/view/3554. Acesso em: 21 ago. 2019.
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). A questão se refere ao que é esse presente: o que é, pois, este presente a que, de um ou outro modo, pertencemos? O que quer dizer exatamente isso que chamamos de presente, o “hoje”, o agora? Que diferença introduz o hoje em relação a ontem? O que o caracteriza em sua descrição analítica e em sua prova diagnóstica, mas também em suas contradições e enfrentamentos?

Trata-se de uma relação com o presente que, na esteira da releitura foucaultiana de Kant (1983-1984)15 15 FOUCAULT, M. O que são as luzes? In: Ditos e escritos II. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Tradução de Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. , significa uma mudança de perspectiva sobre nós mesmos. Uma pergunta recorre a outra: qual é a minha atualidade? E o que produz o fato de que eu fale dela? Qual é o campo atual de nossas experiências? E qual é o campo das experiências possíveis? A atitude e a vontade de atribuir o próprio presente como tarefa é o que Michel Foucault denomina como ontologia da atualidade seguindo a inspiração iluminista dos escritos kantianos. Essa expressão designa um modo de relacionar-se ontologicamente com e frente à atualidade, uma tarefa e um tipo de atitude analítica (éthos ou crítica permanente) do momento singular, desse modo de ser histórico no qual se escreve e por causa dele que se escreve. Trata-se de relação reflexiva com o presente que aponta não apenas ao movimento vertiginoso do que ocorre (tempo do transitório, fugitivo e contingente), nem às linhas de força que o atravessam, mas, sobretudo, refere-se a uma crítica permanente da própria história, da decisão sobre aquilo que somos e que, em sua potencialidade latente, pode desvelar e liberar aquilo que poderíamos ser. Neste sentido, bios-precário emerge nas relações de leitura com materiais culturais que delineiam um tempo presente definido em grande medida pelo neoliberalismo, pelo declínio dos sonhos de modernização e progresso, a indeterminação e a flutuação, a falta de garantias, de projeções e o desfundamento de temporalidades teleológicas.

Nossa época é o momento que percebe e produz sentido a partir da precariedade, our time is ripe for sensing precarity, escreve Anna Tsing (2015, p.20)TSING, A. L. The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalism Ruins. Princeton: Princeton University Press, 2015.. Ou, de outro modo, a precariedade não é a exceção no funcionamento equilibrado do mundo e das coisas, mas a condição ontológica de nosso tempo (TSING, 2015TSING, A. L. The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalism Ruins. Princeton: Princeton University Press, 2015., p.20)16 16 No original: “lo precario como ontología de la actualidad”. . Algo da época que se pensa a partir da categoria de bios-precário estabelece as condições para pensar o precário como ontologia da atualidade. Com efeito, sobre a análise crítica de materiais culturais (RUCOVSKY, 2018aRUCOVSKY, M. M. Tanta vida mutua: Mujeres y precariedad animal. Atlea: Estudos Neolatinos, v. 20, n. 2, 2018a. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2018000200017&lng=en&nrm=iso&tlng=es. Acesso em: 21 ago. 2019.
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; 2018bRUCOVSKY, M. M. La vaca que nos mira: vida precaria y ficción. Revista Chilena de Literatura, n. 97, p.175-197, 2018b. Disponível em: https://revistaliteratura.uchile.cl/index.php/RCL/article/view/49094/51597. Acesso em: 21 ago. 2019.
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; 2019aRUCOVSKY, M. M. Rotar en la precariedade o sobre el trabajo de los jóvenes. AContracorriente: una revista de estudios latinoamericanos, v. 16, n. 3, p.139-160, 2019a. Disponível em: https://acontracorriente.chass.ncsu.edu/index.php/acontracorriente/article/view/1912/3277. Acesso em: 21 ago. 2019.
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; 2019bRUCOVSKY, M. M. Taedium Vitae: Precarity and affects in porteña night. E-Scrita. Revista do curso de Letras da UNIABEU, v. 10, n. 1, jan.-abr., 2019b. Disponível em: https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RE/article/view/3554. Acesso em: 21 ago. 2019.
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) ou como nas duas cenas iniciais (do Secretário de Saúde e do salário emocional), abre-se um campo de experimentações formais, mas também epistemologias alternativas na captura do presente como tal, em seu campo de forças e linhas de tensão, nos modos de transformar, transgredir e imaginar potencialidades. E essa capacidade de condensação e de captura que a cultura e a estética produzem, aqui é medido em torno dos sentidos do que significa essa fórmula, bíos-precário, esse terreno em que a vida precária se torna um umbral de disputa, de politização e de ensaio crítico sobre os modos de agenciamento.

Em torno ao bíos-precário se abre um campo expansivo de experimentações formais acerca do que é “fazer viver” e sua outra face, os modos de gerir o “fazer morrer”, como apreender uma vida e como fazê-la reconhecível, quais são as condições de habitabilidade (livability) de uma vida, como fazer vivível uma vida ou a vida17 17 A oscilação entre uma vida e a vida (“a vida como tal”) marca um ponto de clivagem na interpretação biopolítica de Butler. Para além das referências explícitas da autora do que se trata, não é tanto da especificidade ontológica da vida que Butler (em Marcos de guerra, por exemplo) identifica com a pergunta pelo bios do animal em relação ao do humano (direitos animais), ou o ser vivo em relação ao que não é (feto, embrião ou o direito à interrupção), mas a instabilidade e mobilidade da categoria mesma. Nesse sentido, a pergunta por uma vida, pelas condições para que uma vida seja vivível e digna de ser chorada, sua capacidade de reconhecimento enquanto precária vai da mão de um entendimento relacional e modal da vida, isto é, a aposta por uma biopolítica afirmativa, uma norma da vida impessoal e neutra, uma vida em sua singularidade e diferença. , quais são as redes (humanas e não-humanas) a que estão entregues as vidas e em quais se sustentam, quais forças pré-individuais e impessoais do vivente têm lugar e qual é a potência de variação e de excesso que habita a vida ou quais são os umbrais do impensado, do irrepresentável e do possível a partir da vulnerabilidade corporal.

A questão do bíos-precário e seu lugar na cultura implica repensar o modo em que a cultura, a filosofia e a crítica cultural - mas também o saber que se produz imanente aos materiais estéticos -, “pensa e responde a um horizonte histórico definido em grande medida pela biopolítica” (GIORGI, 2016GIORGI, G. Precariedad animal. Boca de Sapo, n. 21, 2016b., p.17)18 18 No original: “piensa y contesta un horizonte histórico definido en gran medida por la biopolítica”. Para referência, consulte a nota de rodapé 2. e a precariedade (BUTLER, 2019b;19 19 Para referência, consulte a nota de rodapé 12. STANDING, 2014STANDING, G. Por qué el precariado no es un “concepto espurio”. Sociologia del trabajo, nueva época, n. 82, p.7-15, 2014.;20 20 STANDING, G. O precariado: a nova classe perigosa. Traduzido por Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. LOREY, 2016LOREY, I. Estado de inseguridad: gobernar la precariedad. Madrid: Traficantes de sueños, 2016.). E para abordar essa figura, a princípio tautológica - a vida é, desde o início, precária, finita, contingente e vulnerável -, vamos considerar a interrogação sobre a questão do bíos e da precariedade que adquiriu crescente relevância na crítica filosófica e cultural. Mas também o problema reside no léxico mesmo, o sintagma conceitual bios-precário no horizonte da biopolítica e precariedade: quais são as condições de possibilidade dos viventes precarizados? O que é essa condição transversal que ilumina dimensões gerais do vivente e que denominamos bios-precário? De que modo se vinculam essas duas noções, esses diagnósticos críticos, e qual é a sua relevância para pensar o presente, o tempo do presente? Seria por acaso uma relação de mútua implicação? E, para ser mais preciso, qual é a especificidade da categoria de precariedade a respeito da lógica biopolítica em um presente marcado pela consolidação neoliberal a céu aberto?

Por isso é conveniente questionar se se trata de um conceito único unido mediante dois termos coordenados, em que ambas as expressões são sinônimas ou se seu valor semântico é diferente e, nesse caso, qual é a diferença e qual é o sentido estratégico de sua conjunção. Antes que uma redundância, bios-precário é uma triangulação que une e vincula ambos aparatos analíticos, o de Butler e o de Esposito, mas também se trata de um conhecimento que se produz a partir de diferentes análises críticas, materiais estéticos e culturais. Trata-se de uma caixa de ferramentas construída sobre a complementaridade imanente de suas práticas conceituais, mas também bios-precário é a vida para se pensar no ponto cego compartilhado, em determinados aspectos e níveis, tais como a temporalidade e a questão de época, o regime anímico e afetivo (RUCOVSKY, 2019aRUCOVSKY, M. M. Rotar en la precariedade o sobre el trabajo de los jóvenes. AContracorriente: una revista de estudios latinoamericanos, v. 16, n. 3, p.139-160, 2019a. Disponível em: https://acontracorriente.chass.ncsu.edu/index.php/acontracorriente/article/view/1912/3277. Acesso em: 21 ago. 2019.
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e 2019bRUCOVSKY, M. M. Taedium Vitae: Precarity and affects in porteña night. E-Scrita. Revista do curso de Letras da UNIABEU, v. 10, n. 1, jan.-abr., 2019b. Disponível em: https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RE/article/view/3554. Acesso em: 21 ago. 2019.
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), o não-humano e os contextos de contaminação e devastação do ecossistema (RUCOVSKY, 2018aRUCOVSKY, M. M. La vaca que nos mira: vida precaria y ficción. Revista Chilena de Literatura, n. 97, p.175-197, 2018b. Disponível em: https://revistaliteratura.uchile.cl/index.php/RCL/article/view/49094/51597. Acesso em: 21 ago. 2019.
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e 2018bRUCOVSKY, M. M. Rotar en la precariedade o sobre el trabajo de los jóvenes. AContracorriente: una revista de estudios latinoamericanos, v. 16, n. 3, p.139-160, 2019a. Disponível em: https://acontracorriente.chass.ncsu.edu/index.php/acontracorriente/article/view/1912/3277. Acesso em: 21 ago. 2019.
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), o trabalho com materiais estéticos e as operações formais que não são suficientemente consideradas, mas também a respeito do trabalho, da pobreza e dos indicadores de classe (RUCOVSKY, 2016RUCOVSKY, M. M. El fin del trabajo y la emergência de lo precario. Revista Nombres, revista de filosofia, n. 30, 2016.).

Por último, o nó conceitual de bios-precário habita em um estado de estranhamento generalizado que parece funcionar como uma zona privilegiada das indagações da cultura. Com efeito, o que sabe a literatura e a cultura acerca dos novos modos de subjetivação e formas de vida para as quais o trabalho e a pobreza como lugar em que se forjam identidades e projetos deixou de ser medida e substância do social? (LAERA; RODRÍGUEZ, 2019LAERA, A.; RODRÍGUES, F. El cuerpo del trabajo. A Contracorriente, v. 16, n. 3, p.31-38, 2019., p.33). Aquilo que anunciam a cultura e a literatura se refere à decomposição do universo do trabalho fordista e sua gramática cultural associada à pobreza, mas cujo conteúdo não chega a ser simbolizado. Neste mesmo sentido, bios-precário não foi a outra a face da pobreza e do trabalho, mas, a partir da inflexão neoliberal, o precário funciona como sensor de um deslocamento incipiente: o trabalho perde pregnância enquanto gramática do social porque, precisamente, ter trabalho já não coloca a pessoa em um determinado nível social, mas ter trabalho pode ser compatível com viver na pobreza. Aqui a figura de working poor (trabalhador pobre) é o signo que traz à superfície novos sentidos que, à diferença da estabilidade comum do proletário industrial (em nível de salário, mas também como classificador social) se refere à “fragmentação estrutural e organizacional da classe formalmente ocupada” (PACHECO, 2019PACHECO, M. Desde abajo y a la izquierda: Movimientos sociales, autonomía y militancias populares. Buenos Aires: Cuarenta Ríos, 2019., p.169), assim como aponta para a adaptação das expectativas e ânimos vitais em termos de rotatividade permanente, falta de futuros previsíveis ou narrativas de progresso social e, mais ainda, aponta para a uma crescente volatilidade e instabilidade trabalhista (STANDING, 2014STANDING, G. Por qué el precariado no es un “concepto espurio”. Sociologia del trabajo, nueva época, n. 82, p.7-15, 2014., p.8)21 21 No imaginário industrial-fordista, o trabalho é uma figura de estabilidade e permanência que permite a ascensão social e que funciona como revés biopolítico da pobreza. Visão piedosa da classe trabalhadora, o trabalho como fonte última de dignidade humana e cidadania, marca de identidade e de proteção social, aparece como a possibilidade redentora da pobreza. A pobreza (paupertas) é, então, signo de despojo e abandono, um estado de necessidade permanente e de renúncia - que Agamben (2014) identifica com o franciscanismo -, mas que, ainda assim, foca nas condutas, gestos, fisionomias e corporalidades da outridade racializada, no subumano, no inumano, no bestial e no zoológico. No entanto, o que ocorre na literatura e na arte contemporânea quando o trabalho e a pobreza se tornam irreconhecíveis porque os modos de produção da realidade e do sentido se transformaram na paisagem neoliberal? Diferentemente dessa violência que inscreve a pobreza a uma distância radical, a precariedade ilumina a proximidade. corporal do contagioso e adjacente, que começa a filtrar e permear a paisagem social de novas maneiras. Ou então, se o “pobre é, sempre, o outro; o precário é, por outro lado, o mensageiro de uma nova vulnerabilidade da qual não sou e nunca serei suficientemente protegido” (GIORGI, 2019, p.70). Sobre isso, o trabalho de Gabriel Giorgi (2019) sobre Macabea, por Clarice Lispector, é fundamental nesse sentido. Ver também minha indagação prévia em RUCOVSKY (2016). .

Bios-precário tampouco se reduz, nesse sentido, às novas subjetividades, a uma nova classe ou a um indicador social, seja o precariado (STANDING, 2014STANDING, G. Por qué el precariado no es un “concepto espurio”. Sociologia del trabajo, nueva época, n. 82, p.7-15, 2014.)22 22 Para referência, consulte a nota de rodapé 21. , o cognitariado ou o pobretariado, como sugere Pablo Semán (2017)SEMÁN, P. La grieta opositora. Le monde diplomatique, n. 217, 2017.. Precariado, cognitariado ou pobretariado são categorias em disputa política, conceitualizações maleáveis e de margens imprecisas antes que taxonomias sociológicas ou indicadores demográficos. Precários são, com efeito, as figuras dos telemarketers, os estagiários em empresas e os trabalhadores freelance, os vendedores ambulantes e da economia popular, os trabalhadores cognitivos e da indústria cultural, os entregadores de bicicleta via apps e serviço de translado (Rappi, Pedidos Ya, Globo, Uber, etc.), as trabalhadoras de cuidados com a casa, de serviços de limpeza, as governantas e baby-sitters, as caixas de supermercados, os coletores e recicladores, os guardas de segurança, os empregos temporários e/ou estacionários de empresas maquiladoras e de montagens. Categorias ambivalentes e de contornos porosos, estas apontam para a uma zona problemática não resolvida e de intenso fomento conceitual: quem se encaixa ou quem nomeia o precariado, cognitariado ou pobretariado? Que sinais de notícias trafica e que outras coisas mobiliza? Qual é o seu alcance epistemológico e a sua maleabilidade ontológica?

  • 1
    GIORGI, G. Formas comuns: animalidade, literatura e biopolítica. Tradução por Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2016.
  • 2
    O termo biopolítica se distancia, por sua vez, da noção de zoopolítica, a qual se refere à política que toma por objeto a zoé, a totalidade indiferenciada dos viventes, animais, humanos e não-humanos. A prevalência do termo bios sobre zoé se deve à aparição, no começo do século XIX, do termo “biologia” e, em particular, ao projeto de Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) de uma ciência dos corpos vivos, dos seres viventes enquanto viventes, escreve Edgardo Castro (2011, p.19)CASTRO, E. Lecturas foucaulteanas: una historia conceptual de la biopolítica. Buenos Aires: Unipe, 2011a.. Uma reapropriação contemporânea da noção de zoopolítica é a que defende Fabián Ludueña Romandini (2012), a respeitor de uma instância de interseção ou cruzamento entre vida e política que não passam pela exclusão de algo assim como zoé, mas por sua politização.
  • 3
    No original: “¿no se ocupa e incide la política siempre sobre la vida?”. LEMKE, T. Biopolítica: críticas, debates e perspectivas. São Paulo: Editora Politeia, 2018.
  • 4
    No original: “particular movilidad semántica”. BAZZICALUPO, L. Biopolítica. Um mapa conceitual. Rio Grande do Sul: Editora Unisinos, 2017BAZZICALUPO, L. Biopolítica: un mapa conceptual. Santa Cruz de Tenerife: Melusina, 2017..
  • 5
    ESPÓSITO, R. Bios. Biopolítica e Filosofia. Tradução de M. Freitas da Costa. Lisboa: Edições 70, 2010.
  • 6
    AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte, UFMG, 2002
  • 7
    Para referência, consulte a nota de rodapé 7.
  • 8
    Para referência, consulte a nota de rodapé 6
  • 9
    BUTLER, J. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Tradução de Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha; revisão de tradução de Marina Vargas; revisão técnica de Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
  • 10
    BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução de Fernanda Siqueira Miguens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
  • 11
    BUTLER, J. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução de Andreas Lieber; revisão técnica de Carla Rodrigues. Edição Kindle. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b.
  • 12
    Para referência, consulte a nota de rodapé 10
  • 13
    Diferente de Janell Watson (2012)WATSON, J. Butler’s Biopolitics: Precarious Community. Theory & Event, v. 15, n. 2, p.1-13, 2012., que encontra em Butler e Esposito uma lógica conceitual compartilhada, que se mantém “vinculado aos limites biopolíticos de um discurso liberal” nas valências dos pares bios/immunitas e precarity/precariousness, nossa teorização aposta em uma leitura de complementaridade em uma ontologia comum que excede o marco (neo)liberal, quando uma caixa de ferramentas imbrica com a outra, mas apenas a partir do diagnóstico crítico e de resistência ao tempo presente.
  • 14
    Na obra de Butler, as menções manifestas sobre biopolítica são escassas como, por exemplo, a identificação com as ciências da vida, o vitalismo e o racismo de estado em Marcos de guerra. A própria Butler reconhece sua dívida em relação a esse vasto campo de indagações (SOLEY-BELTRAN; PRECIADO, 2007SOLEY-BELTRAN, P.; PRECIADO, B. Abrir possibilidades: una conversación con Judith Butler. Lectora, v. 13, p.217-239, 2007.). No entanto, é possível rastrear uma chave de leitura ou um procedimento biopolítico em Butler em seu interesse em pensar sobre a regulação, os limites da vida e até a pergunta pelas condições sociais e econômicas que mantêm a vida. O trabalho de Eduardo Mattio (2017)MATTIO, E. Gubernamentalidad y agencia resistente: consideraciones biopolíticas en la obra reciente de Judith Butler. In: DAHBAR, M; CANSECO, A; SONG, E. (ed.). ¿Qué hacemos con las normas que nos hacen? Córdoba: Sexualidades doctas, 2017., Gubernamentalidad y agencia resistente. Consideraciones biopolíticas en la obra reciente de Judith Butler [“Governamentalidade e agência resistente. Considerações biopolíticas no trabalho recente de Judith Butler”] é fundamental nesta linha de pesquisa.
  • 15
    FOUCAULT, M. O que são as luzes? In: Ditos e escritos II. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Tradução de Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
  • 16
    No original: “lo precario como ontología de la actualidad”.
  • 17
    A oscilação entre uma vida e a vida (“a vida como tal”) marca um ponto de clivagem na interpretação biopolítica de Butler. Para além das referências explícitas da autora do que se trata, não é tanto da especificidade ontológica da vida que Butler (em Marcos de guerra, por exemplo) identifica com a pergunta pelo bios do animal em relação ao do humano (direitos animais), ou o ser vivo em relação ao que não é (feto, embrião ou o direito à interrupção), mas a instabilidade e mobilidade da categoria mesma. Nesse sentido, a pergunta por uma vida, pelas condições para que uma vida seja vivível e digna de ser chorada, sua capacidade de reconhecimento enquanto precária vai da mão de um entendimento relacional e modal da vida, isto é, a aposta por uma biopolítica afirmativa, uma norma da vida impessoal e neutra, uma vida em sua singularidade e diferença.
  • 18
    No original: “piensa y contesta un horizonte histórico definido en gran medida por la biopolítica”. Para referência, consulte a nota de rodapé 2.
  • 19
    Para referência, consulte a nota de rodapé 12.
  • 20
    STANDING, G. O precariado: a nova classe perigosa. Traduzido por Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
  • 21
    No imaginário industrial-fordista, o trabalho é uma figura de estabilidade e permanência que permite a ascensão social e que funciona como revés biopolítico da pobreza. Visão piedosa da classe trabalhadora, o trabalho como fonte última de dignidade humana e cidadania, marca de identidade e de proteção social, aparece como a possibilidade redentora da pobreza. A pobreza (paupertas) é, então, signo de despojo e abandono, um estado de necessidade permanente e de renúncia - que Agamben (2014)AGAMBEN, G. The Highest Poverty: Monastic Rules and Form-of-Life. Stanford: Stanford University Press, 2014. identifica com o franciscanismo -, mas que, ainda assim, foca nas condutas, gestos, fisionomias e corporalidades da outridade racializada, no subumano, no inumano, no bestial e no zoológico. No entanto, o que ocorre na literatura e na arte contemporânea quando o trabalho e a pobreza se tornam irreconhecíveis porque os modos de produção da realidade e do sentido se transformaram na paisagem neoliberal? Diferentemente dessa violência que inscreve a pobreza a uma distância radical, a precariedade ilumina a proximidade. corporal do contagioso e adjacente, que começa a filtrar e permear a paisagem social de novas maneiras. Ou então, se o “pobre é, sempre, o outro; o precário é, por outro lado, o mensageiro de uma nova vulnerabilidade da qual não sou e nunca serei suficientemente protegido” (GIORGI, 2019GIORGI, G. La incompetente: precariedad, trabajo, literatura. A Contracorriente, v. 16, n. 3, p.61-78, 2019., p.70). Sobre isso, o trabalho de Gabriel Giorgi (2019)GIORGI, G. La incompetente: precariedad, trabajo, literatura. A Contracorriente, v. 16, n. 3, p.61-78, 2019. sobre Macabea, por Clarice Lispector, é fundamental nesse sentido. Ver também minha indagação prévia em RUCOVSKY (2016)RUCOVSKY, M. M. El fin del trabajo y la emergência de lo precario. Revista Nombres, revista de filosofia, n. 30, 2016..
  • 22
    Para referência, consulte a nota de rodapé 21.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    15 Jul 2019
  • Aceito
    21 Abr 2020
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