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Importância do centro cirúrgico ambulatorial para a realização de cirurgias de catarata em larga escala

EDITORIAL

Importância do centro cirúrgico ambulatorial para a realização de cirurgias de catarata em larga escala

Embora a cirurgia de catarata seja um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados, a catarata ainda é a principal causa de cegueira no mundo(1). Estimativas apontam que, para o Brasil compensar o surgimento de novos casos de catarata, seria necessária a realização de cerca de 500 mil cirurgias por ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram realizadas em 2002, pelo sistema público de saúde, aproximadamente 300.000 cirurgias de catarata, quantidade insuficiente para a necessidade nacional(2).

Para aumentar a quantidade de cirurgias de catarata realizadas, é necessário aumentar a demanda nos serviços especializados, agindo tanto por meio de ações facilitadoras do acesso de pacientes ao tratamento, como de otimização da capacidade cirúrgica dos hospitais.

Assim, com relação aos pacientes, faz-se necessário:

- conscientizar a população sobre a doença e a possibilidade de cura, estimulando a procura pelo tratamento(3-8);

- promoção de cirurgia economicamente acessível(2-9);

- oferta de cirurgia de boa qualidade, que proporcione resultados satisfatórios, utilizando novas tecnologias, e estimule a procura pelo tratamento(2,10-18).

Para melhorar a eficiência dos serviços especializados, por meio de otimização de recursos, são necessários:

- distribuição de maior número de cirurgias para cada cirurgião(19);

- aumento de número de procedimentos em cada sala cirúrgica(20).

Arieta et al. (1996), a fim de otimizar o aproveitamento do primeiro centro cirúrgico ambulatorial para cirurgias de catarata do Brasil, propuseram em 1992, no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (HC – UNICAMP), a adoção de algumas medidas(21):

- aumento no número de consultas de triagem pré-cirúrgicas;

- maior flexibilidade da equipe cirúrgica, com inclusão de cirurgiões substitutos;

- marcação de cirurgias adicionais para substituírem as suspensas;

Quanto ao resultado da adoção dessas medidas, houve um aumento de 39,9% no número de cirurgias de catarata realizadas. Tais cirurgias adicionais não aumentaram os custos hospitalares fixos, tendo sido apenas consequência da maior eficiência no uso dos recursos já existentes. O aumento no número de cirurgias realizadas reduz o custo unitário da cirurgia, possibilitando assim, o aumento do volume cirúrgico com mínimo aumento das despesas(21-22).

Em 1998, por iniciativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, do Governo Federal (Ministério da Saúde) e com o auxílio das escolas de medicina, foi instituída a Campanha Nacional de Catarata. O acesso ao tratamento foi facilitado com a realização de Projetos-Catarata em todo o país(22,23).

Com o intuito de colaborar com a política nacional e a necessidade social de diminuir a prevalência da cegueira por catarata, além do interesse em melhorar as condições de ensino da cirurgia, criamos no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) em 1999, um centro cirúrgico ambulatorial (CCA), nos mesmos moldes do HC-UNICAMP. Esta unidade especializada em cirurgias de catarata por facoemulsificação em larga escala oferece à população necessitada tratamento com os melhores insumos disponíveis e oportunidade de treinamento supervisionado e de qualidade para novos cirurgiões. Em 10 anos de funcionamento, 201 oftalmologistas foram treinados no CCA-USP para realizar cirurgias de catarata(24,25).

Com o CCA, o número de cirurgias de catarata realizadas anualmente no HC-FMUSP passou de 836 em 1998, para 5.078 em 2005. Estimulamos a produtividade dos médicos e do pessoal auxiliar envolvido no atendimento, otimizamos o centro cirúrgico e facilitamos o acesso da população necessitada ao hospital por meio de mutirões continuados (Projetos-Catarata)(24,25).

O número de cirurgias realizadas anualmente no CCA–USP a partir de 2005 está demonstrado na tabela 1, evidenciando a importância dos centros cirúrgicos ambulatoriais e de sua otimização para a realização de um grande número de cirurgias de catarata, constituindo um fator fundamental para a expectativa de se minimizar a cegueira por catarata no Brasil.

Newton Kara-Junior

Professor colaborador livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP - São Paulo (SP), Brasil

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Maio 2011
  • Data do Fascículo
    Abr 2011
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