Educação permanente em saúde na formação de técnicos em enfermagem^*

RESUMO

Objetivo:

Avaliar as compreensões de uma intervenção pedagógica sobre a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde em estudantes da educação profissional técnica de nível médio em enfermagem.

Método:

Pesquisa aplicada, do tipo intervenção pedagógica, realizada com vinte e três estudantes de curso técnico de enfermagem; utilizaram-se questionários, grupo focal e análise de conteúdo temática.

Resultados:

Avalia-se que a intervenção, construída coletivamente entre gestor, professores e pesquisadores, oportunizou a problematização dos conceitos de educação e educação continuada e permanente. Da análise emergiram as categorias temáticas Conhecimento prévio dos estudantes e compreensões da intervenção em sala de aula; Relação entre educação permanente e acolhimento pedagógico nas unidades de saúde; As inquietações sobre a ética e a articulação teórico-prática no cuidado; e Processo de trabalho e as aproximações com a educação permanente em saúde.

Conclusão:

Avaliou-se que a intervenção pedagógica favoreceu a reflexão crítica pelo futuro técnico de enfermagem sobre a educação permanente e a necessidade do planejamento pedagógico colaborativo para o alinhamento do processo de trabalho da equipe de saúde.

DESCRITORES
Educação Profissionalizante; Educação Continuada; Aprendizagem; Educação em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To assess the understandings of a pedagogical intervention on the Brazilian National Policy of Permanent Health Education targeted at secondary technical and vocational nursing students.

Method:

Applied, pedagogical intervention study conducted with twenty-three students of a secondary technical nursing course; questionnaires, focal group, and thematic content analysis were employed.

Results:

Intervention, collectively built by manager, nursing teachers, and researchers, is assessed to have led to a problematization of the concepts of education and continuing and permanent education. The following thematic categories emerged from the analysis: Prior knowledge of students and understandings of the classroom intervention; Relation between permanent education and educational welcome in health units; Ethics concerns and the articulation of care practice and theory; and Work process and approximations to permanent health education.

Conclusion:

The pedagogical intervention is assessed to have favored the critical reflection of the aspiring nursing technicians on permanent health education and the need for a collaborative pedagogical planning for aligning the health team’s work process.

DESCRIPTORS
Education, Professional; Education, Continuing; Learning; Education, Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Evaluar las comprensiones de una intervención pedagógica sobre la Política Nacional de Educación Permanente en Salud de Brasil en estudiantes de educación profesional técnica de nivel medio en enfermería.

Método:

Investigación aplicada, de tipo intervención pedagógica, realizada con veintitrés estudiantes de un curso técnico de enfermería; se utilizaron cuestionarios, grupo focal y análisis de contenido temático.

Resultados:

Se evaluó que la intervención, construida colectivamente entre gestores, profesores e investigadores, permitió problematizar los conceptos de educación y educación continua y permanente. Del análisis surgieron las categorías temáticas Conocimiento previo de los estudiantes y comprensión de la intervención en la clase; Relación entre la educación permanente y la acogida pedagógica en las unidades de salud; Preocupaciones por la ética y la articulación teórico-práctica en la atención; y Proceso de trabajo y las aproximaciones a la educación permanente en salud.

Conclusión:

Se evaluó que la intervención pedagógica favoreció la reflexión crítica de los futuros técnicos de enfermería sobre la educación permanente y la necesidad de planificación pedagógica colaborativa para alinear el proceso de trabajo del equipo de salud.

DESCRIPTORES
Educación Profesional; Educación Continua; Aprendizaje; Educación en Enfermería

INTRODUÇÃO

A Educação Permanente em Saúde (EPS) no Brasil expressa uma opção político-pedagógica e deve ser compreendida como uma prática de ensino-aprendizagem e como uma política de educação na saúde. A EPS tornou-se um marco legal do Sistema Único de Saúde (SUS) para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para a saúde, por meio da Resolução CNS n. 353/2003 e da Portaria MS/GM n. 198/2004, que têm como pressupostos: 1) a articulação entre ensino, trabalho e cidadania; 2) a vinculação entre formação, gestão setorial, atenção à saúde e participação social; 3) a construção da rede do SUS como espaço de educação profissional; 4) o reconhecimento de bases locorregionais como unidades político-territoriais, em que estruturas de ensino e de serviços devem se encontrar em ‘co-operação’ para a formulação de estratégias para o ensino na qualificação da organização da atenção em linhas de cuidado, o fortalecimento do controle social e o investimento na intersetorialidade. Posteriormente, a edição da Portaria GM Nº 1.996/2007 estabeleceu os dispositivos para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), adequando-a às diretrizes operacionais e ao regulamento do Pacto pela Saúde. Tais Portarias têm como foco a formação qualificada dos trabalhadores ao valorizar as práticas profissionais multidisciplinares e o caráter social das ações educativas potencializadas pelo trabalho coletivo, para além da necessária formação técnica específica(¹,²). Conceber a EPS como um valor significa delinear a estrutura curricular de um curso na perspectiva da integração ensino-serviço-comunidade, com vistas à transformação do modelo de saúde para a consolidação do SUS, ao articular temas como integralidade, humanização e trabalho em equipe/interprofissionalidade. A EPS alinha-se aos pressupostos da formação integral vislumbrada num projeto de sociedade e de educação de cunho democrático, com foco na criticidade, na autonomia e na responsabilidade cidadã(¹,³). Porém, assim como na maioria dos cursos de graduação da área da saúde, estudos apontam que a Educação Profissional Técnica de Nível Médio em Enfermagem (EPTNME) tem convivido, de forma hegemônica, com as exigências dos princípios da formação instrumental para o trabalho na economia neoliberal. Frequentemente, a EPTNME é modulada por negociações utilitaristas com as unidades de saúde, guiadas por projeto educativo tecnicista e pela ausência de reflexão sobre a realidade individual/social e sobre a ação(³,⁴).

A fim de verificar a relação entre a PNEPS e a EPTNME na literatura, uma busca foi realizada na Biblioteca Virtual de Saúde com os descritores “Educação Permanente AND Educação Profissionalizante AND Enfermagem”. Foram identificados 17 artigos e 4 teses e, após a aplicação dos critérios de inclusão (artigos disponíveis na íntegra desenvolvidos no Brasil nos últimos dez anos), constatou-se que nenhum estudo abordava essa relação.

Inovações paradigmáticas nessa formação se fazem necessárias; por isso, propõe-se, neste estudo, uma aproximação da EPTNME com a PNEPS, antagônica ao modelo tecnicista de formação nesse nível de ensino. Tal inovação poderá (re)significar relações e práticas que contribuam à elevação da qualidade de saúde da população a ser contemplada pela formação do Técnico de Enfermagem (TE). Este estudo também engloba aspectos de produção de subjetividade, de habilidades técnicas e de pensamento, na perspectiva da formação no e para o Sistema Único de Saúde (SUS)(⁵), ainda distanciados da EPTNME(³–⁵). Vislumbra-se aqui a construção coletiva de saberes sobre a EPS ao problematizar as práticas de cuidado no seu cotidiano, com a inclusão de estudantes da EPTNME(⁵). Isso deverá se traduzir num planejamento pedagógico colaborativo para o alcance dos objetivos estratégicos do SUS(¹). Ressalta-se que os estudantes são atores que convivem diuturnamente com as equipes de saúde e, frequentemente, são percebidos como um apoio nas escalas de trabalho(⁴). Diante da necessidade apontada empiricamente e pela literatura científica da área, planejou-se uma Intervenção Pedagógica (IP) sobre a PNEPS para os estudantes da EPTNME com a meta de produzir aproximações sobre o tema e responder à seguinte questão de pesquisa: Quais serão as compreensões dessa IP pelos estudantes? Dessa forma, objetivou-se, neste estudo, avaliar as compreensões de uma intervenção pedagógica sobre a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde em estudantes da educação profissional técnica de nível médio em enfermagem.

MÉTODO

Desenho do Estudo

Estudo aplicado com abordagem qualitativa, apoiado no Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ), do tipo intervenção pedagógica, que envolveu o planejamento e a implementação de interferência destinada a produzir avanços no processo de aprendizagem dos futuros Técnicos em Enfermagem (TE) sobre a PNEPS e posterior avaliação das compreensões dessa interferência(⁶).

Cenário do Estudo

O estudo foi realizado em uma escola pública de nível médio em enfermagem que oferece cursos subsequentes, no Estado de São Paulo, vinculada a um hospital público universitário. Quanto ao perfil do egresso, a escola compromete-se com a formação de profissionais que enfrentam uma realidade em constante mudança e de contradições, oportunizando a aprendizagem significativa para o desenvolvimento de pensamento que os habilite a trabalhar com os conhecimentos apreendidos para lidar com a realidade adversa. A aproximação com o local da pesquisa para estabelecer um relacionamento e propiciar o planejamento da IP com a direção e professores da escola técnica ocorreu por meio de quatro reuniões, quando reflexões sobre o tema da PNEPS foram realizadas para compreensão de sua necessidade pelos professores no processo formativo desse profissional, uma vez que essa política não está contemplada no Projeto Político Pedagógico (PPP). As discussões procuraram responder aos seguintes questionamentos: O que seria ensinado aos estudantes? Quem desenvolveria a atividade? Quando seria o melhor momento para desenvolver a aula? Onde esta ocorreria? Por que esse tema é relevante na formação do TE? Finalmente, como ocorreria? Para aprofundar a discussão, foi exibido o infográfico animado “Educação Permanente em Saúde” – https://www.youtube.com/watch?v=2-E2We4CjdU – produzido pela orientadora do projeto em outro estudo, que trata sobre os conceitos de Educação Continuada (EC) e Educação Permanente em Saúde (EPS). Ao final, definiu-se que a intervenção em sala de aula sobre a PNEPS seria desenvolvida pela pesquisadora principal e orientadora na disciplina de Saúde Coletiva, juntamente com o professor da EPTNME; após a realização dos estágios do bloco teórico, que inclui também a Saúde da Mulher e da Criança nas unidades de saúde, acordou-se a realização de um grupo focal (GF) com os estudantes participantes do estudo e pesquisadores. Ressalta-se que, entre os temas correlatos estudados previamente nas 45 horas da disciplina de Saúde Coletiva, estão: a constituição do SUS; história natural da doença; inúmeras doenças infecciosas e parasitárias; vigilância sanitária; e Política Nacional de Imunização. Quanto às estratégias de ensino, identificamos, além das aulas expositivas, seminários e estudos de caso. No PPP a escola expressa a necessidade pela busca de superação da cultura de transmissão de informações, para aquela em que há uma interação com a realidade.

Fonte de Dados

Numa amostra por conveniência, foram incluídos neste estudo estudantes da EPTNME que cursaram a disciplina de Saúde Coletiva e que posteriormente foram para os estágios do bloco teórico que incluiu a Saúde da Criança e da Mulher, tanto na atenção básica quanto na hospitalar. Os estudantes foram abordados pessoalmente e em grupo pelas pesquisadoras para apresentação das razões de desenvolvimento do estudo. A disciplina foi selecionada porque concentra conteúdos sobre o SUS. Dos 25 estudantes, nenhum se recusou a participar; contudo, dois foram excluídos, pois não estavam presentes no dia da aula planejada sobre PNEPS. Os 23 estudantes concordaram em participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Coleta e Organização dos Dados

A coleta de dados foi realizada em dois momentos entre os meses de março a junho de 2020 pela pesquisadora principal, enfermeira mestre em Ciências da Saúde, a qual recebeu treinamento em pesquisa qualitativa, e pela orientadora do projeto, pesquisadora na área da educação permanente e profissional, com experiência em abordagem qualitativa. A pesquisa constou de três questionários e um Grupo Focal (GF). Os questionários foram aplicados durante a aula, com a presença do professor enfermeiro responsável pela disciplina, na condição de observador participante. O primeiro questionário levantou os dados sociodemográficos dos participantes; o segundo, os conhecimentos prévios sobre o conceito de educação, EC e EPS; e o terceiro, os conhecimentos cognitivos construídos após a IP. Todos os questionários foram previamente analisados por especialistas. As informações foram organizadas em três planilhas diferentes no Excel. No segundo momento, foi realizado um GF com subgrupos de 11 e 12 participantes, respectivamente, orientado pelo pressuposto metodológico de Minayo e Costa(⁷). O valor qualitativo da técnica recai na interação e na troca de opiniões entre os participantes quando a reflexão de um pode sensibilizar o outro, possibilitando o mapeamento de consensos e dissensos sobre o tema(⁷). O GF teve duração média de 1 h 45, foi gravado em áudio e, posteriormente, transcrito e validado pelos participantes. As notas de campo sistematizaram as vivências da sala de aula, as observações e as reflexões. O GF teve como objetivo identificar as compreensões da intervenção sobre EPS e contou com a seguinte questão norteadora: Depois da realização dos estágios nas diversas instituições de saúde da atenção básica e hospitalar na sequência da aula ministrada sobre EPS, quais vivências foram significativas no período relacionadas ao tema para você e o grupo? A aula e o GF foram conduzidos pela pesquisadora principal e pela orientadora, com experiência legitimada nesse tipo de abordagem, que mediaram as discussões, reflexões e síntese do conhecimento. De forma concomitante, foi realizada uma revisão da literatura para aprofundamento científico acerca do tema, o qual subsidiou a IP. Buscas com os Descritores em Ciências da Saúde foram realizadas com o cruzamento dos termos “Educação em Enfermagem”, “Educação Permanente”, “Educação Profissionalizante” e “Pessoal técnico de saúde”.

Planejamento da Intervenção Pedagógica

O planejamento da atividade educativa teve como objetivo apresentar a PNEPS para os estudantes e estimular a reflexão sobre os conceitos de EPS e Educação Continuada (EC) e foi estruturada a partir da metodologia dialética(⁸). Orienta-se pela compreensão de que o conhecimento é construído pelas pessoas na sua relação com as outras e com o mundo, de modo que os conteúdos são trabalhados em três momentos pedagógicos interdependentes, a saber: 1) síncrese ou mobilização para o conhecimento, quando situações da realidade e questões problematizadoras do tema são colocadas aos participantes para que se manifestem suas compreensões/conceitos iniciais; 2) análise ou (re)construção do conhecimento, quando há uma confrontação entre o conhecido e um novo conhecimento apresentado com o objetivo de favorecer relações dialéticas; 3) sínteses orais e escritas do conhecimento, realizadas a partir das discussões entre os participantes e do referencial teórico-prático(⁸). Foram programadas as seguintes atividades: apresentação dos participantes; levantamento do conhecimento prévio dos alunos sobre EPS por meio de questionário, individualmente; exibição do infográfico animado “Educação Permanente em Saúde”; divisão em pequenos grupos para discussão das respostas individuais e elaboração de uma resposta coletiva sobre as questões do mesmo questionário; apresentação de respostas coletivas no grupo maior com todos os estudantes e problematização; painel final com uma síntese do conhecimento construído; e avaliação final da atividade.

Análise dos Dados

As informações coletadas foram submetidas à análise de conteúdo de Bardin(⁹), que foi organizada em três etapas: pré-análise, com a leitura flutuante das respostas dos questionários e transcrição do GF, a qual não foi discutida com os participantes; exploração do material com o recorte em 126 unidades de registro, que gerou ao final 12 códigos, que foram classificados em 4 categorias simbólicas representativas do conteúdo; por fim, o tratamento dos resultados procurou apreender o todo das informações textuais e uma análise a partir das categorias construídas foi realizada, ressaltando os aspectos semelhantes e diferentes. Para garantir o anonimato, os depoimentos individuais foram identificados por letras de A1 a A23 e os coletivos em GA, GB, GC e GD. Os dados sociodemográficos foram analisados mediante estatística descritiva. Os resultados parciais da análise de conteúdo foram discutidos com os participantes, etapa limitada pela conclusão do curso dos participantes.

Aspectos Éticos

Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer 3.020.365 de 2018. Foram respeitados todos os aspectos éticos relacionados à pesquisa com seres humanos, em conformidade com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os estudantes convidados a participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após a leitura junto ao pesquisador.

RESULTADOS

Em síntese, a apresentação dos resultados das compreensões da IP foi estruturada em quatro subseções. Participaram desta pesquisa 23 alunos, com faixa etária entre 19 e 60 anos, dentre os quais 37,93% são homens e 62,06% são mulheres; 74% são trabalhadores (39% na área da saúde). Em relação ao estado civil, 44,82% são solteiros e 48,26% são casados ou mantêm uma relação estável. Além disso, 24,13% têm ensino superior completo e 24,13% incompleto. Quanto à religião: 34,48% são católicos, 27,58% são evangélicos, 20,68% não têm religião, 13,79% são espíritas, 3,44% são umbandistas e 6,89% não informaram.

Conhecimento Prévio dos Estudantes e Compreensões Imediatas da Intervenção em Sala de Aula

Em sala de aula, os estudantes se mostraram interessados e participativos na IP, com reflexões e trocas de experiências que enriqueceram o momento. No levantamento do conhecimento prévio individual dos participantes sobre o conceito de educação, a ideia de construção coletiva do conhecimento para a cidadania foi valorizada e incluiu discussões sobre educação formal enquanto direito social e as relações com os pares nesse processo de trocas de experiências e para a sua inserção na sociedade.

Educação é o ato de instigar a si e o outro sobre o ambiente ao redor, trazendo experiências e vivências, junto com os demais, para construir práticas/conhecimentos que beneficiaram a toda uma comunidade (A5). Educação é um direito de todas as pessoas, o indivíduo adquire conhecimento em diversos níveis (fundamental, médio, superior) (…) para que se insira na sociedade e exerça sua civilidade, compreendendo assim seus direitos e deveres, para um bom convívio social (…) possibilita que o indivíduo conquiste seus objetivos pessoais, pois com mais qualificação, melhores serão as oportunidades no mercado de trabalho (A23).

A EC é percebida como relacionada ao aperfeiçoamento profissional, indo além da formação inicial.

EC é a possibilidade de o profissional aprimorar seus conhecimentos, contribuindo assim para a melhoria em suas atividades, com conhecimento mais específico no que diz respeito a sua profissão (A23).

Enquanto o conceito de EPS é posto como desconhecido por alguns dos participantes, para outros está relacionado à melhoria da saúde, com a compreensão sobre direitos e deveres, treinamentos, cursos, atualização de procedimentos, entre outros aspectos.

EPS para mim é aquela que faz com que as pessoas se conscientizem dos seus direitos e deveres em relação a sua própria saúde, para buscar uma melhor qualidade de vida (A2).

Após a apresentação do infográfico animado e discussões, os subgrupos modificaram suas respostas sobre as questões anteriores, numa construção coletiva sobre o conhecimento problematizado e previamente compartilhado, denotando as compreensões imediatas da IP.

A Educação é a construção de conhecimento, existindo princípios, ex.: familiar, religioso, cultural, agregando com o escolar, ou seja, o escolar é aprender, conhecer, compartilhar, é a busca de aprendizado e a troca de conhecimento (GD). EC é seguir uma sequência lógica de construção e aprimoramento, elevando um grau na formação atual (GA). EPS é a identificação dos problemas pelas equipes multidisciplinares, com apontamento de soluções e atividades de cursos, palestras e reciclagens para a implantação das decisões tomadas, visando a melhoria no atendimento em saúde (GB).

Após três meses de estágio, para levantar as compreensões a posteriori da IP sobre EPS, foi realizado um GF, em que os estudantes puderam compartilhar as suas experiências significativas. A partir dessas informações, foram construídas mais três categorias que melhor representaram as situações vivenciadas e sua relação com as aprendizagens sobre a PNEPS.

Relação Entre a Educação Permanente e o Acolhimento Pedagógico nos Serviços de Saúde

O acolhimento dos estudantes das unidades de saúde pela equipe de saúde foi motivo de inquietações e os participantes perceberam que se relacionam com a EPS. Há setores em que os profissionais, de forma pontual, compreendem os objetivos dos estágios e o momento de aprendizagem ao contribuírem com uma postura empática para com os estudantes. Em especial, discutiram sobre a postura da equipe médica ao serem surpreendidos com as orientações recebidas por esses profissionais.

As médicas que trabalhavam no CO, tudo o que elas iam fazendo, elas explicavam detalhadamente, como no caso de uma hemorragia, por exemplo. A técnica de enfermagem que trabalhava lá também, após a cesárea, nos explicava a limpeza que era realizada (A23).

Também destacaram os locais da atenção básica em que os técnicos tiveram uma postura sensível ao momento de aprendizagem dos estudantes e, de forma proativa, reconheceram o seu papel social naquela relação.

Na sala de vacinas, as técnicas de enfermagem se preocupavam em nos explicar (…) tintim por tintim os protocolos (A14). Quem ficou na pré e pós consulta (…) as técnicas de enfermagem se preocupavam em explicar detalhadamente como funcionava e eram muito atenciosas (A14).

Destacaram também que as recepções das unidades de saúde, por vezes, frustraram as expectativas dos estudantes, porque estes se sentem intrusos ou são isolados pela equipe no momento que estão ali para aprender.

(…) o que eu estava aprendendo aqui é orientar a pessoa (…) vai ter alguém que vai fazer cara feia (…) dizendo “lá vem esse povo doido, pra lá e pra cá trombando com a gente (A22). (…) os profissionais nos veem como intrusos (…) eles querem mais funcionários, não alunos, (…) que é trabalho a mais, e não abrem oportunidade para os alunos (A16).

Por outro lado, os estudantes valorizam a experiência dos profissionais e refletem sobre o quanto isso pode contribuir com uma aprendizagem qualificada. Além disso, ressaltam o interesse de alguns de compartilhar procedimentos.

Uma enfermeira de trinta anos de hospital ensinou-nos a fazer a mistura para enteroclisma, (…) procurei extrair da experiência desse profissional (…) aprimorar os conhecimentos (A19).

Ademais, o olhar para a integralidade do cuidado foi mencionado de forma pontual ao se valorizar a atitude da técnica de enfermagem.

(…) na unidade básica, tinha algumas pessoas que trabalhavam lá, que tinham um olhar integral durante o atendimento, como por exemplo: “você já foi ver essa manchinha?”, a técnica de enfermagem orientou a paciente a fazer um exame (A17).

As Inquietações Sobre a Ética e a Articulação de Teoria e Prática no Cuidado

Nesta categoria, os estudantes manifestaram um paradoxo entre os princípios da EPS e suas inquietações, que envolvem as relações conflituosas com a equipe de saúde que geram competição e incompreensões sobre o processo de aprendizagem. As abordagens da equipe para com eles foram consideradas inadequadas pelos estudantes, além de ser incoerente a articulação entre a teoria e a prática na aprendizagem no processo de trabalho. Contradições entre o discurso e a prática da equipe causaram constrangimentos e inquietações sobre o que é certo e o que é errado. A ética é questionada pela falta de respeito que os estudantes sentem no cotidiano do estágio e condutas duvidosas, como as adotadas pelos profissionais da enfermagem.

Nós assumimos alguns cuidados e a pessoa, não sei se por pirraça, sei lá, fazia uma coisa que era para nós fazermos (A3). (…) como no alojamento conjunto, quando um pai me parou (…) ele queria ajuda, porque seu filho estava vomitando. Estavam três técnicas de enfermagem (…) e eu contei o ocorrido (…) se elas poderiam ajudar. E uma das técnicas falou em voz alta para eu escutar: “Nossa eles acham que sabem tudo, e até parece que está morrendo, se é normal o bebê vomitar. Era apenas dar uma atenção ao pai aflito com aquela situação” (A8).

Processo de Trabalho e as Aproximações com a Educação Permanente em Saúde

Os estudantes refletiram sobre o quanto se faz necessária a educação para qualificar o processo de trabalho, no que se refere às dificuldades em realizar procedimentos sem conhecimento teórico, que podem afetar o cuidado seguro.

(…) eu presenciei a dificuldade do profissional em localizar uma veia com a luva, ele mordeu e arrancou a ponta da luva e localizou a veia com a luva rasgada (A23).

Por fim, também refletem sobre a trajetória dos profissionais que estão nas unidades, contexto de trabalho, condições salariais e ausência de processos educativos.

(…) são inúmeros fatores que fazem com que o profissional tome algumas atitudes, como falta de treinamentos (…) os poucos benefícios (…) a falta de funcionários (…) é até bom a gente questionar por que chegou nesse ponto (A3).

Os estudantes observaram uma situação pontual em que ocorria a reunião da equipe para discutir um problema do cotidiano, mas o protagonismo era parcial, porque nem todos participavam. A questão central era a falta de equipamento adequado para o atendimento.

A equipe se juntou, para realizar uma verificação dos monitores que funcionavam para conseguir a saturação de oxigênio de um paciente (…) uns falavam e outros se calavam, e apenas um tomava a frente do problema, tornando-o o chato da história (A13).

DISCUSSÃO

As compreensões imediatas da IP desenvolvida constataram que houve uma aproximação do estudante da EPTNME com a PNEPS ao ressignificar os conceitos de educação, educação continuada e educação permanente por meio de uma aula mediada pelo infográfico animado sobre o tema. Posteriormente, outras compreensões foram apuradas quando os estudantes refletiram sobre o contexto das unidades de saúde em que estagiaram e sua relação com a EPS. Foram destacadas as problemáticas relativas ao acolhimento pedagógico e processo formativo, além da articulação de teoria e prática no processo de trabalho.

Quanto ao perfil dos participantes, estudos corroboram nossos achados: a maioria é constituída por mulheres trabalhadoras com faixa etária variada, casadas, algumas com uma “superqualificação”, ou seja, graduação completa ou parcial(¹⁰,¹¹). Análise recente sobre a flexibilidade salarial e desemprego de longo prazo no Brasil, em 6 regiões metropolitanas, apontou que, em média, indivíduos brancos, homens e com alta escolarização (mais de nove anos de estudo) possuem taxas de salários mais altas e convivem com menores taxas de desemprego. Por sua vez, indivíduos do sexo feminino, não brancos e com baixa escolarização (zero a quatro anos de estudo) estão em situação oposta(¹²). Este estudo confirma que a enfermagem é uma porta de entrada para ampliar a escolarização de mulheres, na tentativa de buscar taxas salariais mais flexíveis e, com isso, menor persistência do desemprego no longo prazo(¹³).

Com relação ao planejamento da IP, construído a partir da integração entre a gestão, os professores do local estudado e os pesquisadores, o estudo confirmou a necessidade de a educação estabelecer ações coletivizadas, ao compartilhar os problemas e ações que buscam transformar a realidade. A cooperação e corresponsabilidade dos envolvidos demonstraram atitudes emancipatórias ao valorizar e reconhecer a possibilidade da introdução do tema da PNEPS na formação do TE, para ampliar a leitura da realidade e fortalecer a formação para o SUS(¹⁴,¹⁵). Historicamente, o planejamento político e pedagógico na EPTNME tem adotado a ótica de mercado, porque preconiza objetivos numa abordagem biologista, medicalizante e centrada em procedimentos. A formação é estruturada por meio de disciplinas, de forma fragmentada, em que os conhecimentos da área básica e os da área clínica estão dissociados, com predomínio de oportunidades de aprendizagem no ambiente hospitalar(⁴,¹⁶). Porém, considerar a formação integral é assumir que o planejamento pedagógico é uma ação intencional definida coletivamente pelos professores, gestão e representantes dos alunos, articulado a um compromisso sociopolítico, com interesses reais da população majoritária. Tem como expectativa a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo(¹⁴). Este estudo demonstra que esta é uma realidade possível mediante o empenho e comprometimento de todos os envolvidos com a necessidade da IP.

A problematização desenvolvida introduziu a PNEPS aos estudantes quando foi realizada a exposição de infográfico animado, articulando o conhecimento prévio sobre o conceito de EC e EPS. A EC é um desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores de saúde por meio do aperfeiçoamento de técnicas e conhecimentos atrelados à prática de saúde, enquanto a EPS é o compartilhamento de vivências da prática por meio de discussões entre os diferentes trabalhadores, em busca da criticidade, autonomia e cidadania(¹⁷–²⁰). As respostas dos questionários individuais e em grupo demonstraram que os estudantes têm princípios consolidados sobre cidadania e direito social, mas um olhar polissêmico para o significado da EPS. As ideias principais sobre os conceitos foram o desenvolvimento de competências, a capacitação e o treinamento para o trabalho, por vezes, de forma reduzida e acrítica. Por outro lado, a IP favoreceu a compreensão desses conceitos, principalmente a necessidade da EPS para a qualificação do cuidado, a partir da discussão coletiva para o aprofundamento do entendimento do processo de trabalho na busca de soluções para os problemas que vivenciam(¹⁸).

De uma maneira geral, no sistema educacional brasileiro, predominaram as tendências tradicional, renovada e tecnicista, que foram hegemônicas até os anos 70 e após, notadamente aquelas marcadas por preocupações sociais e políticas ou contra- hegemônicas, que surgem no cenário de redemocratização do país(¹⁹). Avanços são percebidos com a valorização dos pressupostos da pedagogia crítica de Paulo Freire, a serviço das transformações sociais no e para o SUS, e particularmente da EPS, tendo em vista superar as desigualdades sociais e buscar o bem-estar social(¹⁹). Para tanto, nesta pesquisa, os alunos foram incentivados a perceber os problemas que vivenciavam, observando, formulando perguntas e expressando opiniões. Essa estratégia pedagógica oportunizou a aprendizagem significativa para o desenvolvimento das habilidades intelectuais de análise, avaliação e compreensão por meio do intercâmbio de ideias, da cooperação entre os alunos. Busca-se com isso uma conscientização sobre o mundo do trabalho na saúde e suas relações(¹⁸,²⁰), ao dotar os estudantes de consciência crítica e capacidade de modificar a sua própria realidade(²¹).

As compreensões a posteriori da IP foram notadas, principalmente, a partir das inquietações sobre o processo educativo vivenciado nos estágios que foram compartilhadas no GF. Questões sobre o sentido do acolhimento pedagógico nos estágios e o sentido da articulação entre a teoria e a prática e sua implicação ética no contexto da equipe de saúde foram compreendidas como parte integrante da EPS. Diante disso, é indispensável uma educação na saúde que compreenda todos os envolvidos (usuários, trabalhadores, gestores e estudantes) no e para o trabalho. Essa compreensão passa pela necessidade de ressignificar a formação do TE e incluí-lo no processo, ao possibilitar uma ação reflexiva sobre a realidade, consciente e compromissada com os avanços e qualificação do SUS(⁴,²²). Tal formação problematiza democraticamente novos formas de cuidado e gestão, questionando modelos tradicionais de trabalho que segmentam as práticas de cuidado(⁴,¹⁸,²¹). Portanto, não basta a reestruturação da instituição de ensino com um PPP que contemple essa necessidade, a partir de metodologia crítica e reflexiva, e professores preparados pedagogicamente para esse fim(¹⁶). Evidencia-se aqui a condição indispensável do planejamento pedagógico articulado com a instituição de saúde a partir dos princípios da PNEPS. Esse planejamento terá implicações diretas no acolhimento dos estudantes pela equipe de saúde e na construção de cultura colaborativa e comprometida com a educação para o cuidado integral(¹⁵,²⁰).

Estudos demonstram que tanto os profissionais como as unidades de saúde não estão preparados para receber e acolher estudantes na perspectiva da EPS, seja por problemas estruturais ou falta de interesse ou incentivo financeiro, científico ou cultural por parte das instituições de ensino, dificultando essa integração(¹,¹⁶). Os resultados desta pesquisa apontam que o acolhimento pedagógico não sistematizado, que depende da consciência individual de cada profissional da equipe de saúde, compromete o processo de trabalho ético e político da unidade de saúde com o cuidado integral. Na ausência do diálogo cotidiano a ser promovido pela EPS, observa-se que os profissionais das equipes de saúde desconhecem o seu papel educativo para com os estudantes da EPTNME. Alguns têm a intenção clara de contribuir e prezar os momentos vivenciados por eles. Destaca-se que as unidades básicas têm sido um espaço valorizado e percebe-se o quanto os TE e enfermeiros desses locais buscam compartilhar conhecimento e experiências, como na sala de vacinas e pré-consulta, possivelmente porque as aproximações com a PNEPS são mais frequentes. Porém, por vezes, os estudantes são abandonados à sua própria sorte ou com um menosprezo, até mesmo sarcástico, ao cuidado fundamentado e seguro, a exemplo do pedido de ajuda da estudante para a criança com vômito, que foi negligenciado, como relatado. De forma surpreendente, registram a recepção calorosa do profissional médico, uma vez que esse estudante frequentemente é invisível no contexto da saúde(¹⁶).

É notório que, na formação profissional, a construção de saberes ocorre a partir das situações reais, no mundo do trabalho, por meio da integração do estudante em serviços de saúde, sustentada por um projeto pedagógico que deve ser direcionado para a realidade do sistema de saúde, com os princípios e as políticas que o norteiam, e se voltam para o cuidado integral humanizado(¹⁷). Ademais, o conceito de acolhimento, assim como no SUS, tem sido reconhecido como uma diretriz político- pedagógica na educação de jovens e adultos e implica uma atitude dialógica, crítica e sensível, baseada no estabelecimento de vínculos, nas relações de alteridade e no afeto. Tal conceito envolve também o reconhecimento dos saberes, experiências e histórias de vida dos estudantes, que dão significado ao currículo, rejeitando e denunciando toda forma de opressão, preconceito e discriminação que atinjam os estudantes(²³).

A partir dessa perspectiva, este estudo aponta para a importância da consciência profissional dessas equipes no acolhimento pedagógico do futuro colega, que poderá compartilhar o mesmo espaço de trabalho. Sabe-se que a solidariedade com aquele que aprende é a base da cidadania, que tem por meta o bem comum, cuja ponte na saúde pode ser a EPS. Em que pese a responsabilidade maior do docente que supervisiona os estágios, a cumplicidade da equipe nesse processo formativo inclusivo, que atua de forma complementar, alavanca as competências cognitivas, procedimentais e atitudinais do futuro TE, uma vez que estão envolvidos no mesmo contexto e com os mesmos propósitos. Além disso, os membros da equipe são exemplos, referências profissionais para o estudante, os quais esperam devolutivas ao criar vínculos em ações coletivas que envolvem o cuidado integral. Compreende-se que a ausência de espaços para a EPS que promovam a discussão e o planejamento do acolhimento pedagógico, por parte dos profissionais de saúde da unidade, possivelmente tem provocado perdas significativas no desenvolvimento da dimensão ético-política na formação do TE e sua exclusão de um diálogo propositivo e, por conseguinte, da equipe de saúde e nas suas relações de alteridade e afeto. Constituem um exemplo as atitudes que humilham e intimidam o estudante encontradas nesta pesquisa, o que o leva à falta de coragem para questionar práticas negligentes(²⁴). A compreensão de que os estudantes do TE devem se preocupar com a realização de procedimentos está presente em muitas unidades de saúde, possivelmente por uma compreensão utilitarista da educação, equivocadamente considerada mão de obra. Nesse sentido, estudo aponta que equipe de saúde e os enfermeiros assistenciais esperam que os estudantes possam ajudar a suprir a falta de profissionais. Essa visão fortalece a dissociação entre teoria e prática e reduz o estágio à ideia de “prática da teoria”, um espaço de instrumentalização técnica, o que reforça a distância dos mundos do ensino e do serviço(²⁵). Por outro lado, os participantes desta pesquisa relatam situações de rejeição e desprezo por parte da equipe de enfermagem, com atitudes que consideram desrespeitosas e que comprometem o cuidado. Possivelmente, esse fato se atrela à percepção da equipe de que a formação do estudante não é atribuição deles e, por vezes, podem sobrecarregá-los no próprio processo de trabalho diário(³,⁵,¹⁶,²⁰). A ausência de reflexão sobre as questões apontadas acima talvez limite o aprendizado de novos sentidos para as ações de saúde em defesa da vida individual e coletiva, que se insere num modelo de saúde centrado nas necessidades sociais.

A integração ensino-serviço orientada pela PNEPS é essencial na atuação das instituições de ensino na supervisão dos estudantes no cenário teórico-prático, a ser delimitada pelo planejamento da inserção desses estudantes na perspectiva do cuidado integral(¹,¹⁵,²¹). Porém, um de seus maiores desafios é a falta de sua institucionalização e a incipiente participação dos diversos atores, como ficou evidenciado nesta pesquisa, cujos participantes perceberam nitidamente a sua ausência nas unidades em que estagiaram, com relatos sobre a falta de qualificação dos profissionais. Notaram ainda que as reuniões de equipe são raras e o envolvimento dos trabalhadores é parcial e estanque. Por outro lado, levantaram a necessidade de considerar a problematização do contexto em que a equipe atua, seus desafios e limitações, para entender o processo de trabalho estabelecido e possíveis pressões sociais e sobrecarga laboral. Notadamente, trata-se de um exercício em que correlacionam o que aprenderam durante a IP com suas vivências no cenário de prática. A EPS implica um processo formativo crítico e reflexivo sobre a realidade que envolve todos os atores que vivenciam o cenário da saúde, entre eles os estudantes, com pactuações que favoreçam a integralidade do cuidado interprofissional e multiprofissional sob a lógica interdisciplinar(¹,²¹,²⁴), estratégia que busca a instauração de relações horizontais dentro das equipes(¹⁸). A complexidade dessa proposta depende de uma matriz curricular contextualizada aos serviços e um PPP coerente e coeso com esses princípios, além de professores licenciados com preparo político e pedagógico(²⁰–²²). Este estudo identificou no PPP da escola estudada aproximações com a necessidade da formação do TE para o enfrentamento de uma realidade contraditória, a ser ressignificada com consciência crítica numa dinâmica que retrata o cotidiano da EPS. Porém, é o início de uma construção que exige envolvimento permanente de todos que protagonizam na saúde a formação e o cuidado.

CONCLUSÃO

Avaliou-se que a IP produziu sentido ao significado da PNEPS, porque permitiu a reflexão crítica dos estudantes ao correlacionarem os conceitos problematizados em sala de aula com as vivências dos estágios. Entre outros aspectos, compreenderam que EPS significa acolhimento pedagógico pela equipe de saúde, em situações em que as iniciativas individualizadas, entre os TE da atenção básica, foram produtoras de afetos e mudanças, porque incluíram os estudantes em problemas reais do cuidado e oportunizaram a aprendizagem. Em outras situações, sentiram-se rejeitados e intimidados pelos profissionais porque incomodavam quando questionavam acerca dos usuários ou agiam com sensibilidade ou com inexperiência. Nesses locais, constataram o significado da desvalorização do conhecimento e o desconforto pela ausência de vínculos, pois passaram a reconhecer que a aprendizagem depende das interações, da solidariedade, da compreensão mútua expressa a partir da escuta e do diálogo, fundamentos da implantação da EPS. Diante dessas constatações, se faz necessário o planejamento pedagógico conjunto de ambas as instituições, educação e saúde, com o envolvimento da equipe de saúde, professores, gestão escolar e da saúde, no alinhamento de ações pedagógicas que contemplem os princípios formativos contidos no PPP. Por fim, recomenda-se a inclusão da PNEPS na estrutura curricular para formação do TE, com o objetivo de desenvolver a consciência crítica sobre o processo educativo no e para o trabalho ético e político dos estudantes da EPTNME. Compreende-se que este estudo indicou caminhos à inovação paradigmática para uma formação cidadã para o SUS, em detrimento da tecnicista e impessoal. Considera-se como limitação do estudo a percepção do objeto do estudo unicamente pelo olhar dos estudantes. Há que se desenvolver pesquisas que envolvam professores e equipe de saúde.

EDITOR ASSOCIADO

Vilanice Alves de Araújo Püschel

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  01 Abr 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  24 Jun 2021
• Aceito
  09 Fev 2022