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Avaliação da deposição de calda em anteras de trigo, para o estudo do controle químico de giberela (Gibberella zeae)

Spray deposition evaluation on wheat anthers to study the head blight (Gibberella zeae) chemical control

Resumos

A giberela, causada pelo fungo Gibberella zeae (Fusarium graminearum), é uma importante doença de infecção floral do trigo. Para controlar essa doença, o fungicida deve ser aplicado durante a antese, de modo a proteger as anteras. Os objetivos do presente trabalho foram de construir uma barra de pulverização que permitiu utilizar bicos em diferentes arranjos e quantificar a presença de corante nas anteras quando aplicado com diferentes pontas de pulverização, direções dos bicos na barra e com diferentes volumes de calda. Utilizaram-se pontas de jato plano (XR-11002), jato plano duplo (110DB2) e jato cônico vazio (JA-2), espaçadas em 0,50 m, em uma barra tradicional e numa barra modificada. Na barra modificada, foram utilizados corpos duplos giratórios, posicionando-se os bicos na vertical, 30º ou 45º para frente e para trás em relação à vertical. Os resultados mostraram que a utilização de dois bicos no mesmo ponto da barra aumentou significativamente o número de anteras que receberam o fungicida. As três pontas de pulverização comportaram-se de maneira semelhante. Dois bicos formando ângulo de 30º em relação à vertical proporcionaram a mesma quantidade de anteras cobertas com corante do que dois bicos posicionados na vertical. A angulação dos bicos em 45º com a vertical proporcionou maior número de anteras atingidas pela calda.

barras de pulverização; pontas de pulverização; anteras soltas e presas


The head blight caused by the fungus Gibberella zeae (Fusarium graminearum) is a major floral disease of wheat. The chemical control is efficient only if the fungicides are applied at the full anthesis to protect anthers. In this research, the main objective was to built such a spray boom to allow different spray nozzles arrangements. The anther staining provided by color dyes applied with different spray nozzles, nozzle arrangements, and spray volumes was also assessed. Two spray booms were used, one with individual nozzles spaced at 0.50 m and another one mounted with adjustable sets, also spaced at 0.50 m, each one having one nozzle forward (30º or 45º) and the other backward at an angle of 30º or 45º. The nozzle types used were flat fan, twin flat fan, and hollow cone. A total of four experiments were carried out. The deposition of color dye was higher on loose than on trapped anthers. The double nozzle sets resulted in increased spray volumes (200 to 400 L ha-1) and higher numbers of fungicide sprayed anthers. The nozzle types did not differ from each other. The anther staining was improved by nozzles positioned at 45º (forward and backward) but not at 30º.

spray booms; loose anthers; trapped anthers


ARTIGOS CIENTÍFICOS

MÁQUINAS E MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Avaliação da deposição de calda em anteras de trigo, para o estudo do controle químico de giberela (Gibberella zeae)1 1 Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo - FAMV/UPF. Trabalho parcialmente financiado pela Empresa Bayer Crop Science e apresentado no XXX Conbea.

Spray deposition evaluation on wheat anthers to study the head blight (Gibberella zeae) chemical control

Edivan PanissonI; Walter BollerII; Erlei M. ReisIII

IEngº Agrº, Mestre em Agronomia, e-mail: mnep@terra.com.br

IIEngº Agrº, Doutor, Docente da FAMV/UPF, Caixa Postal 611, 99001.970, Passo Fundo - RS, Fone/Fax: (0XX54) 316.8151, e-mail: boller@upf.br

IIIEngº Agrº, PhD, Docente da FAMV/UPF, Passo Fundo - RS

RESUMO

A giberela, causada pelo fungo Gibberella zeae (Fusarium graminearum), é uma importante doença de infecção floral do trigo. Para controlar essa doença, o fungicida deve ser aplicado durante a antese, de modo a proteger as anteras. Os objetivos do presente trabalho foram de construir uma barra de pulverização que permitiu utilizar bicos em diferentes arranjos e quantificar a presença de corante nas anteras quando aplicado com diferentes pontas de pulverização, direções dos bicos na barra e com diferentes volumes de calda. Utilizaram-se pontas de jato plano (XR-11002), jato plano duplo (110DB2) e jato cônico vazio (JA-2), espaçadas em 0,50 m, em uma barra tradicional e numa barra modificada. Na barra modificada, foram utilizados corpos duplos giratórios, posicionando-se os bicos na vertical, 30º ou 45º para frente e para trás em relação à vertical. Os resultados mostraram que a utilização de dois bicos no mesmo ponto da barra aumentou significativamente o número de anteras que receberam o fungicida. As três pontas de pulverização comportaram-se de maneira semelhante. Dois bicos formando ângulo de 30º em relação à vertical proporcionaram a mesma quantidade de anteras cobertas com corante do que dois bicos posicionados na vertical. A angulação dos bicos em 45º com a vertical proporcionou maior número de anteras atingidas pela calda.

Palavras-chave: barras de pulverização, pontas de pulverização, anteras soltas e presas.

SUMMARY

The head blight caused by the fungus Gibberella zeae (Fusarium graminearum) is a major floral disease of wheat. The chemical control is efficient only if the fungicides are applied at the full anthesis to protect anthers. In this research, the main objective was to built such a spray boom to allow different spray nozzles arrangements. The anther staining provided by color dyes applied with different spray nozzles, nozzle arrangements, and spray volumes was also assessed. Two spray booms were used, one with individual nozzles spaced at 0.50 m and another one mounted with adjustable sets, also spaced at 0.50 m, each one having one nozzle forward (30º or 45º) and the other backward at an angle of 30º or 45º. The nozzle types used were flat fan, twin flat fan, and hollow cone. A total of four experiments were carried out. The deposition of color dye was higher on loose than on trapped anthers. The double nozzle sets resulted in increased spray volumes (200 to 400 L ha-1) and higher numbers of fungicide sprayed anthers. The nozzle types did not differ from each other. The anther staining was improved by nozzles positioned at 45º (forward and backward) but not at 30º.

Keywords: spray booms, loose anthers, trapped anthers.

INTRODUÇÃO

Dentre as doenças do trigo, a giberela é a que apresenta as maiores dificuldades de controle. Essas estão relacionadas com: a) a maioria dos cereais é suscetível ao patógeno; b) nos restos culturais das espécies suscetíveis, são produzidas grandes quantidades de inóculo; c) até o momento, a resistência das cultivares é moderada; d) a esporadicidade da ocorrência dificulta a recomendação de controle químico (REIS, 1988; PARRY et al., 1995; REIS et al., 1996; REIS et al., 1997); e) os fungicidas devem ser aplicados durante a antese, e f) os equipamentos utilizados não propiciam cobertura adequada dos sítios de infecção (REIS et al., 1996).

Na utilização de fungicidas, deve-se realizar a aplicação no momento correto, de modo a atingir o alvo, depositando a quantidade de ingrediente ativo necessário para o controle do fungo, apresentando segurança ao agroecossistema (VELLOSO et al., 1984; MATUO, 1990; MATTHEWS, 1992; MAROCHI, 1996; OZEKI & KUNZ, 1998). O momento adequado da aplicação de fungicidas para o controle da giberela é quando for possível ocorrer a máxima exposição das anteras (REIS, 1988; MAULER-MACHNIK & ZAHN, 1994; REIS et al., 1996). REIS (1988) e VARGAS et al. (2000) estudaram o curso da antese do trigo e verificaram que a máxima quantidade de anteras expostas ocorre do sexto ao oitavo dia após o aparecimento das primeiras anteras.

O volume de calda pode ter efeito sobre a eficiência dos fungicidas e deve ser utilizado de acordo com o tipo de aplicação a ser executada. TEIXEIRA et al. (1998), estudando o efeito do volume de aplicação com uma ponta de jato plano, observaram aumento significativo da cobertura de alvos planos quando o volume de aplicação passou de 100 para 200 L ha-1 e não diferindo desse quando utilizaram 300 L ha-1. Por sua vez, SAYLER (1999), avaliando os efeitos do volume de pulverização com vistas ao controle de giberela, observou que volumes de calda acima de 506 L ha-1 aumentaram a cobertura das espigas, e acima de 336 L ha-1 diminuíram a intensidade da doença.

VELLOSO et al. (1984) relatam que pontas de jato cônico, por produzirem gotas menores, são as mais indicadas para pulverizações de fungicidas, porém essas geram gotas mais suscetíveis à deriva do que aquelas geradas pelas pontas de jato plano. Para a aplicação de fungicidas com pulverizadores de barras, SPRAYING SYSTEMS CO. (1999) recomenda a utilização de pontas de jato plano, indicando a utilização de pontas de jato cônico somente para a pulverização em faixas (jato dirigido).

Mc MULLEN (1998) relata que a aplicação de fungicidas com diferentes pontas de pulverização pode proporcionar diferentes níveis de controle de doenças, mas geralmente não são observadas diferenças estatísticas. Descreve ainda que o bico tradicional (ponta de jato plano 8002, mantida na posição vertical) não fornece boa cobertura das espigas para o controle da giberela. A mesma ponta, utilizada segundo um arranjo diferente do tradicional, mantendo dois bicos a cada 0,50 m da barra, sendo um direcionado para frente e outro para trás, melhorou a cobertura das espigas.

De acordo com MATTHEWS (1992), as gotas finas (diâmetro de 101 a 200 µm) são recomendadas para obter melhor cobertura, e gotas mais grossas (> 300 µm) para evitar a deriva. CHRISTOFOLETTI (1999) recomenda as categorias de pulverização média (201 a 300 µm) e fina (91 a 200 µm) para aplicação de fungicidas.

OZEKI & KUNZ (1998) recomendam uma densidade de 30 a 50 gotas cm-2 para fungicidas sistêmicos e acima de 70 gotas cm-2 para fungicidas protetores. Para o controle da giberela, mesmo utilizando fungicidas com modo de ação sistêmico, REIS et al. (1988) relatam que esses devem ser considerados como protetores, pois as anteras não apresentam xilema e não translocam essas substâncias.

Tendo em vista que os sítios de infecção da giberela são as anteras, que são difíceis de serem atingidas pelos fungicidas, é oportuna a busca de alternativas para melhorar a deposição da calda nesse alvo biológico. A melhoria das técnicas de aplicação deverá proporcionar melhor cobertura das anteras, trazendo melhores resultados na utilização de fungicidas.

Os objetivos deste trabalho foram desenvolver uma barra portátil que permita alterar a direção dos bicos e dos seus jatos de pulverização e determinar a cobertura de anteras de trigo com solução corante aplicada por meio de diferentes pontas de pulverização e diferente direcionamento dos jatos em relação à vertical, com a utilização de dois volumes de calda.

MATERIAL E MÉTODOS

Projetou-se e construiu-se uma barra portátil (Figura 1) que possibilita a utilização de dois bicos em um mesmo ponto, com possibilidade de variar a direção de seus jatos, em relação à vertical (para frente ou para trás), buscando direcionar as gotas para as espigas das plantas de trigo. Na montagem da barra modificada, utilizaram-se corpos de bicos giratórios duplos (QJ8600-2-1/4 NYB), fornecidos pela Spraying Systems Co. (detalhe b2 - Figura 1), que permitiram que os bicos fossem utilizados com diferentes ângulos em relação à vertical. Na barra modificada, os bicos podem ser utilizados em ângulos de até 45º em relação à vertical (Figura 1 - c).



Para avaliar o desempenho de diferentes tipos de pontas de pulverização, montadas na barra tradicional e na barra modificada, conduziram-se dois experimentos durante a safra de 1999 e dois na safra do ano 2000 (Tabela 1).

Aplicou-se uma solução de corante (Vermelho Sun 11B, líquido - produzido por Orema Indústria e Comércio Ltda.) na concentração de 5%, para posterior avaliação da quantidade de anteras de trigo atingidas pela calda. A aplicação foi realizada no estádio 65 da escala fenológica de ZADOCKS et al. (1974), com o auxílio de um pulverizador costal pressurizado com CO2. Na barra tradicional, foram montados três bicos espaçados em 0,50 m. Na barra modificada, foram montados seis bicos, utilizando-se de dois bicos a cada 0,50 m de distância (Figura 1). A configuração das barras possibilitou realizar as pulverizações mediante deslocamento do operador ao lado das parcelas experimentais. Essa forma de condução da barra diminui o risco de contaminação do operador e evita vibrações das plantas tratadas, que poderiam causar o escorrimento da calda recém-depositada no alvo, caso o operador se deslocasse próximo ao centro da parcela. A velocidade de deslocamento foi de 1 m s-1. As barras foram conduzidas a 0,40 m acima do ápice das espigas. As parcelas, com sete linhas de trigo (cultivar BR 23 em 1999 e Rubi no ano 2000), espaçadas em 0,17 m, mediam 5 m de comprimento.

A amostragem das espigas foi realizada na linha central de cada parcela, a partir de 20 minutos após as aplicações. O material coletado foi acondicionado em sacos de papel identificados, levado ao laboratório e avaliado no dia seguinte.

Em 1999, foi realizada a avaliação em cinco espigas, coletadas ao acaso, na linha central de cada parcela, sendo utilizadas quatro repetições de cada tratamento. Em 2000, foi realizada a avaliação em cinco espigas coletadas da mesma forma que em 1999, utilizando-se de três repetições por tratamento. Determinou-se a deposição do corante nas anteras soltas e presas por meio da identificação visual do corante sobre as anteras, a olho nu. Antera solta é definida como aquela exposta, ficando pendente externamente pelo filete. Antera presa é aquela aprisionada entre as extremidades apicais das glumas, sem o filete visível. As anteras soltas têm duração efêmera, ocorrendo a sua deiscência em curto espaço de tempo (24 horas). Por outro lado, as anteras presas permanecem até o final do ciclo da cultura.

Em 1999, no experimento 1, a densidade de espigas foi de 398 m-2. No momento da aplicação dos tratamentos, encontravam-se, em média, 31,7 ± 14,5 anteras soltas por espiga, 4,8 ± 3,5 anteras presas por espiga e a quantidade total de anteras por espiga foi de 36,5 ± 15,4. Durante a aplicação, a temperatura do ar foi de 20 ºC, a umidade relativa do ar 60% e a velocidade do vento 2 km h-1, o que não ocasionou deriva em nenhum tratamento. No experimento 2, a densidade de espigas foi de 390 m-2, encontrando-se, em média, 25,5 ± 14,2 anteras soltas/espiga, 3,3 ± 2,4 anteras presas por espiga e a quantidade total de anteras por espiga foi de 28,8 ± 14,6. Durante a aplicação, a temperatura do ar foi de 24 ºC, a umidade relativa do ar 60% e a velocidade do vento de 7,2 km h-1, ocasionando deriva nos tratamentos em que a solução corante foi aplicada com pontas de jato plano duplo e de jato cônico vazio.

No ano 2000, foram realizados dois experimentos distintos (tratamentos descritos na Tabela 1), cuja aplicação foi realizada no mesmo dia. A densidade de espigas foi de 305 m-2, encontrando-se 28,4 ± 11,8 anteras soltas por espiga; 6,9 ± 3,2 anteras presas por espiga, totalizando 35,3 ± 12,4 anteras por espiga. No momento da aplicação dos tratamentos, a temperatura do ar foi de 27 ºC, a umidade relativa do ar 65% e a velocidade do vento de 1 km h-1. A velocidade do vento, a temperatura e a umidade relativa do ar foram determinadas com o auxílio de um termoigroanemômetro portátil (Kestrel 3000).

Nos quatro experimentos, o delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os dados foram submetidos à análise de variância e comparados por meio do teste de Duncan, a 5% de probabilidade, quando o teste F mostrou diferenças significativas, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação da solução de corante permitiu estimar a cobertura das anteras, uma vez que, pela diferença de coloração (vermelho vs amarelo), a visualização foi facilitada. Independentemente dos tratamentos, a face frontal das espigas aparentou ter recebido mais calda. Isso indica que a cobertura pode não ter sido uniforme em todas as anteras, uma vez que essas se localizam em volta de toda a espiga.

A utilização de dois bicos no mesmo ponto da barra proporcionou o dobro do volume de calda aplicado (200 L ha-1 para 400 L ha-1). No experimento 1, os tratamentos 4 a 9, com volume de calda de 400 L ha-1, apresentaram aumento significativo da porcentagem de anteras cobertas com corante, sejam elas soltas, sejam presas (Tabela 2). Porém, não houve diferenças entre os arranjos dos bicos (tratamentos 4; 5; 6; 7; 8 e 9) ou entre as pontas utilizadas (tratamentos 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8 e 9).

Da mesma forma que no experimento 1, no experimento 2, a utilização de dois bicos no mesmo ponto da barra (400 L ha-1) resultou em maior número de anteras soltas que receberam corante (Tabela 3). Para as anteras presas, os tratamentos 1 e 3 (200 L ha-1) foram semelhantes em todos os tratamentos com 400 L ha-1.

No experimento 2, as pontas de jato plano duplo e jato cônico vazio tenderam a proporcionar menor porcentagem de anteras soltas atingidas pelo corante. O DMV das gotas geradas por essas pontas (respectivamente, 150 e 90 µm), nas condições de velocidade do vento ocorridas no momento da aplicação dos tratamentos (7,2 km h-1), favoreceram perdas de calda por deriva. Por outro lado, a utilização das pontas de jato plano (XR-11002) propiciou maior porcentagem de cobertura de anteras com corante. Isso pode ser atribuído ao maior DMV das gotas geradas por essas pontas (240 µm) sobre as quais o vento ocorrido acabou tendo um efeito benéfico, deslocando-as da sua trajetória, favorecendo o seu depósito sobre todas as faces das espigas. Essas observações discordam do relato de RAMOS et al. (1998), que estudaram o desempenho de diversos tipos de pontas e observaram que, para atingir as duas faces de alvos verticais (por exemplo, as anteras localizadas em ambas as faces das espigas do trigo), os melhores resultados foram obtidos com pontas de jatos cônicos ou com jatos planos duplos.

No experimento 3, realizado no ano 2000, não foram utilizadas pontas de jato cônico vazio, tendo em vista que, nos dois experimentos conduzidos em 1999, a deposição do corante proporcionada por essas não foi superior às pontas de jatos em leque ou duplos leques e, além disso, não são recomendadas para a utilização em barras (SPRAYING SYSTEMS CO., 1999).

Em relação à presença de corante nas anteras soltas, os tratamentos 5 e 6 apresentaram maior deposição, não diferindo estatisticamente dos tratamentos 2 e 4 (Tabela 4). Enquanto isso, nas anteras presas, não foram observadas diferenças significativas da presença de corante entre os tratamentos. Nesse experimento, verificou-se que os bicos direcionados 45º para frente e para trás, em relação à vertical, tenderam a apresentar maior porcentagem de anteras atingidas pela calda. Isso indica que os jatos direcionados a 45º com a vertical estão atingindo ambas as faces da espiga, o que seria desejável para melhorar o controle da giberela. Em valores absolutos, as pontas de jato plano apresentaram maior cobertura, sugerindo que as gotas mais finas geradas pelas pontas de jato plano duplo são facilmente deslocadas pelo vento e não atingem as anteras, concordando com os relatos de CHRISTOFOLETTI, 1999.

Pontas com diferentes vazões, que operam na mesma pressão, originam espectros de gotas e volumes de calda diferentes. Pontas de jatos planos e jatos planos duplos com diferentes vazões, que proporcionaram volumes de calda entre 100 e 400 L ha-1, não apresentaram diferenças significativas de cobertura em anteras soltas (Tabela 5). Já em relação à cobertura das anteras presas, as pontas de jato plano duplo proporcionaram maior número de anteras atingidas pelo corante do que as pontas de jato plano (Tabela 5). Nesse caso, o aumento do número de anteras atingidas pela pulverização pode estar relacionado com os maiores volumes de calda e com o maior fracionamento das gotas proporcionado pelas pontas de jato plano duplo, oportunizando que maior número de gotas se depositasse no alvo.

Em todos os experimentos avaliados, as porcentagens de anteras atingidas pela pulverização com corante variaram de 40 a 93 %, indicando que a deposição da calda nas anteras pode ser um fator que limita a eficácia dos fungicidas no campo. Também se pode deduzir que as anteras se constituíram num alvo difícil de ser atingido pelas gotas das pulverizações.

Com relação aos tipos de pontas avaliadas, a quantidade de anteras atingidas pela calda não diferiu entre as formas dos jatos gerados, exceto quando se utilizaram de pontas de jato plano duplo, com aplicação de volume de calda de 300 e 400 L ha-1. Na maioria dos casos avaliados, a ponta de jato plano (leque XR-11002), montada na barra tradicional, comportou-se de maneira semelhante aos melhores tratamentos, podendo ser recomendada para a aplicação de fungicida, visando ao controle da giberela.

Mc MULLEN (1998) relata que as aristas podem interferir na deposição da calda sobre as anteras. Em todas as situações, um fator que pode ter influenciado na deposição das gotas foram as aristas. Elas foram coloridas, indicando que as gotas, ao encontrá-las, depositam-se ou então se fragmentam, formando gotas muito finas, cuja quantidade de ingrediente ativo seria tão pequena que possivelmente não teria efeito fungicida. Neste sentido, seria importante verificar a cobertura das anteras em trigos múticos (sem aristas) para confirmar se as aristas interferem na deposição da calda.

Em todos os experimentos, as anteras presas apresentaram menor percentagem de deposição do corante. Em vista disso, pode-se deduzir que as anteras presas são dificilmente atingidas, uma vez que são relativamente "pequenas" e ficam presas entre as glumas apenas com o ápice exposto. Segundo REIS et al. (1996), as anteras presas são epidemiologicamente as mais importantes e necessitam de serem protegidas com o fungicida para prevenir epidemias. Ainda persiste o desafio de depositar o fungicida nestes sítios de infecção tão pequenos e protegidos. Portanto, é necessário estudar outras técnicas de controle ou ingredientes ativos que sejam mais eficazes e capazes de paralisar o processo pós-infecção.

Outro ponto que deve ser considerado, é a desuniformidade da antese em trigo (REIS, 1988; VARGAS et al., 2000). Se parte das anteras expostas não recebem a calda, pode-se concluir que a possibilidade de atingir todas as anteras é muito remota, e, então, o controle químico é dificultado, tornando-se pouco promissor. Por outro lado, se o controle obtido com os fungicidas, mesmo que moderado (60 % de controle), é economicamente viável, deve-se utilizá-lo, principalmente nas regiões onde os riscos de danos causados pela doença são maiores.

CONCLUSÕES

Tomando os resultados no seu conjunto, pode-se concluir que a modificação da barra, com bicos montados em corpos duplos giratórios, formando ângulos de 45 º com a vertical, bem como o aumento do volume de calda de 200 L ha-1 para 400 L ha-1 são medidas efetivas para aumentar o grau de cobertura do alvo biológico em estudo.

Da mesma forma, na comparação entre as pontas, a utilização de pontas com jatos planos duplos, quando comparada com pontas de jatos planos, que geram gotas de tamanho similar, mostra uma tendência a atingirem um maior número de anteras.

Recebido pelo Conselho Editorial em: 15-10-2001

Aprovado pelo Conselho Editorial em: 12-8-2003

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  • 1
    Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo - FAMV/UPF. Trabalho parcialmente financiado pela Empresa Bayer Crop Science e apresentado no XXX Conbea.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2004

    Histórico

    • Aceito
      12 Ago 2003
    • Recebido
      15 Out 2001
    Associação Brasileira de Engenharia Agrícola SBEA - Associação Brasileira de Engenharia Agrícola, Departamento de Engenharia e Ciências Exatas FCAV/UNESP, Prof. Paulo Donato Castellane, km 5, 14884.900 | Jaboticabal - SP, Tel./Fax: +55 16 3209 7619 - Jaboticabal - SP - Brazil
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