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Editorial: Religião, Arte e Cultura

A relação entre religião e arte tem um lugar ambíguo nas ciências sociais. No pensamento de autores do fim do século dezenove como Mallarmé (1947MALLARMÉ, Stephan. (1947), Message Poétique du Symbolisme. Paris: Nizet.), Wilde (1994WILDE, Oscar. (1994), “The Decay of Lying”. In: Complete Works of Oscar Wilde. Nova York: Barnes and Noble.) ou Arnold (1949ARNOLD, Matthew. (1949), “The Study of Poetry”. In: The Portable Matthew Arnold. Nova York: Viking.), a arte aparece como instituição e prática que vai tomar o lugar das funções sociais da religião numa futura sociedade laica. Avaliar até que ponto isso realmente aconteceu, demandaria uma discussão (Shusterman 2008SHUSTERMAN, Richard. (2008), “Art and Religion”. The Journal of Aesthetic Education, Volume 42, Number 3: 1-18.) muito ambiciosa que aqui não temos o espaço ou intenção de iniciar. Torna-se porém cada vez mais evidente que as ideias de que a religião é um modelo para descrever a arte e que a arte moderna é uma espécie de religião sem Deus são compartilhadas tanto pela teoria da arte (Danto 2003DANTO, Arthur. (2003), The Abuse of Beauty. Chicago: Open Court. ) como pelas ciências sociais, aproximando autores tão díspares como Bourdieu e Gell. Na visão desses autores clássicos das ciências sociais, a arte estaria fundamentada numa “fé”, ou pior, numa “má-fé” coletiva, seria um gênero de “fetichismo”, a adoração de artefatos produzidos por humanos, que esquecem o ato de produção para “abduzir” (Gell 2018GELL, Alfred. (2018), Arte e Agência: uma teoria antropológica. São Paulo: Ubu Editora.) poder neles. As teorias de Bourdieu (1996)BOURDIEU, Pierre. (1996), As Regras da Arte. São Paulo: Companhia das Letras. eram particularmente críticas à construção dessa “má-fé” coletiva. Lidamos, nesse sentido, com teorias “anti-fetichistas” (Latour 2002LATOUR, Bruno. (2002), Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru: EDUSC. ). Gell, mais radicalmente, assumia que “nós sacralizamos a arte: a arte realmente é nossa religião”, logo, seria necessário que o antropólogo se tornasse agnóstico perante a arte, cego, um “filistino”, para finalmente poder “efetuar uma completa ruptura com a estética” (Gell 2005______. (2005), “A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia”. Concinnitas 8(1):40-63.: 44).

Porém, nos últimos vinte anos, temos assistido a uma reação ao modelo crítico, anti-fetichista, não só em relação particularmente à arte, mas às ciências sociais em geral. Acompanhamos a emergência de propostas “simétricas” (Latour 2002LATOUR, Bruno. (2002), Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru: EDUSC. ), que propõem considerar ao mesmo nível as práticas e discursos dos nossos sujeitos de estudo com as nossas teorias sociais. A partir dessa reviravolta, os cientistas sociais têm trabalhando tanto com temas religiosos como artísticos, tomando a sério a vida e o poder social das coisas, refletindo sobre as múltiplas noções de pessoa que a religião e a arte podem produzir. Abandonando as críticas da falsa consciência, religião e arte aparecem como campos da prática social e âmbitos de ação e combate político, e não só reflexos ou expressões ideológicas de uma estrutura social mais profunda. Os artigos que seguem neste número de Religião & Sociedade são uma mostra dessa reviravolta.

A publicação do dossiê Religião, Arte e Cultura, organizado por Edilson Pereira e Roger Sansi, em Religião & Sociedade confirma uma gradual e notável transformação na atenção voltada à arte, em amplo sentido, na história de uma revista dedicada ao clássico tema da religião - história essa que acompanha, de certo modo, os desenvolvimentos das ciências sociais brasileiras. Se no passado os estudos sobre artefatos, estilos e técnicas de fabricação estética concentravam-se na etnologia ameríndia (Melatti 1984MELLATI, Júlio César. (1984), "A Antropologia no Brasil: um roteiro". BIB, (17).), nas últimas décadas do século vinte as guinadas teóricas envolvendo materialidades, linguagem e ontologias (material turn, linguistic turn, ontological turn), entre outros, implicaram em novos modos de compreender as relações entre coisas e pessoas e de ambas com seus entornos. Se nos aventurarmos a uma sintética recuperação de publicações relacionadas à arte, em suas múltiplas expressões, nos quarenta anos de Religião & Sociedade, podemos identificar que ela foi primeiramente englobada por outros temas de grande recorrência - como “rituais”, “festas” e “eventos religiosos” (Vital da Cunha 2017VITAL DA CUNHA, Christina. (2017), “Religião & Sociedade 40 anos: números, temas, memórias”. Religião & Sociedade , 37(3): 225-240.). De acordo com o levantamento feito por Oliveira (2009OLIVEIRA, Paola Lins de. (2009), “Religião e Arte nos Estudos de Antropologia no Brasil: Ensaio bibliográfico sobre a produção de artigos do Anuário Antropológico e de Religião e Sociedade”. Trabalho de conclusão do curso “Antropologia do Pensamento Social no Brasil. Religião e Ciências Sociais no Brasil”, ministrado por Renata de Castro Menezes (PPGAS/MN/UFRJ). (Digitalizado)) no acervo da revista, o domínio estético, sensorial e metáforas teatrais apareciam já em estudos dedicados aos efeitos da dramatização ritual no Carnaval (DaMatta 1977DAMATTA, Roberto. (1977). “Carnavais, paradas e procissões: reflexões sobre o mundo dos ritos”. Religião & Sociedade , n.1.) ou sobre os rituais de possessão na umbanda (Birman 1982BIRMAN, Patricia. (1982), “Laços que nos unem: ritual, família e poder na umbanda”. Religião & Sociedade , n. 8.). Tal tendência coexistia, inicialmente, com o interesse pela dimensão subalterna e potencialmente subversiva da “cultura popular”, como aquela identificada na literatura de cordel (Menezes 1985MENEZES, Eduardo Diatahy. (1985), “A quotidianidade do Demônio na cultura popular”. Religião & Sociedade , 12(2): 93-130.)1 1 A exceção, e interessante contraponto, a essa primeira tendência foi a publicação do artigo “A Fonte da Juventude - Observações sobre A Europa de hoje de Alceu de Amoroso Lima” (Araújo 1987). . Na década seguinte, a música também passa a ser tematizada na revista, mas sobretudo em sua função linguística e ritual, de “cantar pra subir” (Amaral e Silva 1992AMARAL, Rita de Cássia; SILVA, Vagner Gonçalves da. (1992), “Cantar para Subir: um Estudo Antropológico da Música Ritual no Candomblé Paulista”. Religião & Sociedade, 16(1-2): 160-184.).

A partir da virada do século, observa-se uma interessante alteração na ênfase dos artigos voltados ao temas da arte/cultura em relação à religião. “Religião e filmes documentários no Brasil” (Monte-Mór 2004MONTE-MÓR, Patrícia. (2004), “Religião e filmes documentários no Brasil”. Religião & Sociedade , 24(2): 61-72.), “Fetiches e Monumentos. Arte pública, iconoclastia e agência no caso dos ‘orixás’ do Dique de Tororó” (Sansi 2005SANSI, Roger. (2005), “Fetiches e Monumentos. Arte pública, iconoclastia e agência no caso dos “orixás” do Dique de Tororó”. Religião & Sociedade , 25(2): 62-81.) e “Traços puritanos na pintura de Rembrandt” (Pulici 2007PULICI, Carolina. (2007), “Traços puritanos na pintura de Rembrandt”. Religião & Sociedade , 27(1): 48-76.) são alguns dos artigos que indicam o início de um reposicionamento analítico ainda em voga. Em 2007, um número da revista (vol. 27 no2) foi dedicado quase exclusivamente ao tema da música, expandindo-o e complexificando-o a partir de novas abordagens. O número incluía análises sobre a sacralização de uma cantora argentina (Martín 2007MARTÍN, Eloísa. (2007), “Gilda, el ángel de la cumbia: prácticas de sacralización de una cantante argentina”. Religião & Sociedade , 27(2): 30-54.), a industrialização da música evangélica no país (Paula 2007PAULA, Robson de. (2007), “Os cantores do Senhor: três trajetórias em um processo de industrialização da música evangélica no Brasil”. Religião & Sociedade , 27(2): 55-84.) e a presença de símbolos do candomblé e da umbanda na música de Clara Nunes (Bakke 2007BAKKE, Rachel Rua Baptista. (2007), “Tem orixá no samba: Clara Nunes e a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira”. Religião & Sociedade , 27(2): 85-113.), entre outros. Intensificando esse movimento, mais recentemente encontramos o dossiê “Materialidades do Sagrado” (Menezes e Rabelo 2015MENEZES, Renata; RABELO, Miriam. (2015), Editorial. Religião & Sociedade , 35(1): 9-12.), no qual se exploraram múltiplos enquadramentos relacionados o tema da cultura material e das relações entre coisas e pessoas - chave recorrente também nos estudos que envolvem artes, artistas, audiências, coleções, patrimônios etc. Nesse e em outros números, pode-se notar, ainda, o crescente uso de teorias e insights derivados da noção de performance, bem como das modalidades de expressão e de transformação intersubjetiva que ela envolve (Brantes 2007BRANTES, Eloísa. (2007), “A espetacularidade da performance ritual no Reisado do Mulungu (Chapada Diamantina - Bahia)”. Religião & Sociedade , 27(1): 24-47.; Puglisi 2009PUGLISI, Rodolfo. (2009), “La meditación en la Luz Sai Baba como performance ritual: acceso corpóreo-experimental a dios”. Religião & Sociedade , 29(1): 30-61.; Ferreira 2009FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa. (2009), “Teatralização do sagrado islâmico: a palavra, a voz e o gesto”. Religião & Sociedade , 29(1): 95-125.; Carozzi 2009CAROZZI, María Julia. (2009), “Una ignorancia sagrada: aprendiendo a no saber bailar tango en Buenos Aires”. Religião & Sociedade , 29(1): 126-145.; Teixeira 2014TEIXEIRA, Jacqueline Moraes. (2014), “Mídia e performances de gênero na Igreja Universal: O desafio Godllywood”. Religião & Sociedade , 34(2), 232-256.; Cardoso e Head 2015CARDOSO, Vânia Z.; HEAD, Scott. (2015), “Matérias nebulosas: coisas que acontecem em uma festa de exu”. Religião & Sociedade , 35(1): 164-192.; Pereira 2015PEREIRA, Edilson. (2015), “As mulheres por trás da face de Cristo: apropriações, performances e ambivalências da Verônica”. Religião & Sociedade , 35(1): 193-215.).

Amadurecendo uma trilha aberta por outros pesquisadores, buscamos contribuir com a apresentação de novas abordagens e investir na diversidade de enquadramentos conferidos aos objetos de estudos relacionados à arte, cultura e religião. Música, biografia, cinema, saberes técnicos, escultura e artes visuais, arquitetura, literatura e paisagem sonora fazem parte do rol de temas abordados pelas autoras e autores do presente dossiê. Em seu conjunto, os artigos nos permitem vislumbrar uma oxigenação de temas e abordagens na revista que ocupa um papel central nos estudos sobre religião no país.

No artigo de abertura deste número, Mylene Mizrahi retoma as relações do cantor de funk carioca Mr. Catra com o Judaísmo para repensar a noção de margem. Para Mizrahi, Catra seria um artista periférico, mais que da periferia. A margem não seria um lugar predeterminado pelo prejuízo e a invisibilização, a marginalidade, mas, pelo contrário, um dispositivo (Sansi 2015______. (2015), Art, anthropology and the gift. Londres, New York: Bloomsburry.), um mecanismo disparador de processos de subjetivação alternativos. A partir da margem, Catra constrói um modelo de vida alternativa, propõe uma nova “partilha do sensível” (Rancière 2005RANCIÉRE, Jacques. (2005), A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34.). Mizrahi interpreta a conversão de Catra ao judaísmo como um elemento chave nessa vida alternativa. Em confrontação ao modelo estético e político dominante, a divisão racial entre brancos e negros, Catra adota a posição de judeu desde a margem, como uma forma de transitar entre espaços sociais e questionar as suas divisões, jogando com o equívoco.

No segundo artigo do dossiê, Réia Sílvia Gonçalves Pereira aborda o funk como manifestação cultural que mobiliza a transformação não só artistas e produtores, mas daqueles que gostam e se identificam com estéticas e valores expressos em suas músicas. Ancorada na literatura da antropologia urbana, a autora coloca em primeiro plano a coexistência, nas periferias urbanas brasileiras, de modos de vida heterogêneos e potencialmente divergentes entre si. Pereira aborda, em especial, as modalidades de separação, trânsito e/ou confluência que se estabelecem entre “funkeiras” e “evangélicas” a partir de estudo de campo feito em uma das favelas da capital capixaba. Ao observar os diversos sons produzidos em casas, bares e igrejas - constituindo uma paisagem sonora mesclada por músicas de funk, pagode e hinos religiosos, além de muita conversa -, a autora destaca a importância do fator etário e da trajetória biográfica na configuração das expectativas de futuro de suas interlocutoras.

No artigo de Rafael Antônio Motta Boeing e Roberta Veiga, o terceiro do dossiê, os autores abordam interessantes relações estabelecidas entre cinema e religião. Se, na tradição dos estudos sobre rituais, a linguagem é um tema enfocado com especial atenção, cabe refletir similarmente de que modo a linguagem cinematográfica não apenas nos conta uma história, mas encena e participa de um tipo particular de “fabulação”. Lançando mão de noções da filosofia de Deleuze, que recupera o cinema-verdade de Jean Rouch e Edgar Morin para dissolver a oposição entre verdadeiro e falso, os autores indagam em que medida o documentário de Arthur Omar é afetado pelo simbolismo da Congada mineira. Nessa chave, é através da descrição dos mecanismos cinematográficos e de uma aproximação com o cine-transe rouchiano que nos movemos, no texto, entre saberes artísticos característicos do cinema e a potência do imaginário religioso que conecta os moradores da periferia de Belo Horizonte com personagens dos reinos de Congo e Moçambique.

O artigo seguinte nos traz, por sua vez, uma análise nova sobre um personagem amplamente abordado por especialistas de arte sacra brasileira. Em “O efeito Aleijadinho: ensaio de antropologia da expertise”, Lilian Alves Gomes estuda as consequências de um tipo de devoção secular, de fundo patriótico, que encontrou na figura de Antônio Francisco Lisboa um herói da arte brasileira. Nos circuitos que interligam restauradores, colecionadores, artistas e pesquisadores do barroco mineiro, as obras de Aleijadinho se tornam partes metonímicas de sua própria pessoa e evidenciam a sacralização de suas obras e da formação de um corpo de especialistas que as reconhecem, admiram, manipulam e se contestam mutuamente. A autora nos mostra que a consolidação da fama do artista desde o século dezenove fez com que se multiplicassem, nos séculos seguintes, tanto as obras atribuídas a ele, quanto as suas falsificações e consequentes denúncias e disputas em torno de sua autoria. O artista mineiro se torna, assim, entrada para uma nebulosa na qual saberes técnicos e atestados de autenticidade se misturam com modos de encantamento próprio dos objetos mágico-religiosos.

O penúltimo artigo do dossiê, de Juliano Florczak Almeida, acompanha diferentes momentos da história de um Convento na região metropolitana de Florianópolis - SC. Criado no início do século XX, ainda sob influência de um projeto romanizador católico na recente República, o edifício vai sendo ocupado por grupos de atores variados ao longo de sua existência, alternando entre sacerdotes homens e religiosas mulheres, entre freis e leigos, entre servidores públicos e turistas. Os usos dados ao espaço e sua identificação pública também se alternam ao longo do tempo, incluindo a função exclusiva de moradia, depois o atendimento terapêutico e espiritual e, finalmente, como local ocupado por setores da administração política local. Ao delinear essas diferentes etapas da vida do edifício, o autor destaca as variações e transbordamentos que ocorrem em relação ao papel do catolicismo na constituição e manutenção do prédio e no espaço público.

Encerrando o dossiê, o artigo de Daniel Rocha coloca os leitores “Sob o efeito de Mackandal” - personagem da novela “O Reino deste Mundo” escrita pelo cubano Alejo Carpentier no fim dos anos 1940. A obra, que mescla acuidade histórica com a inventividade característica do realismo fantástico latino-americano, nos leva ao passado do Haiti. Na segunda metade do século XVIII, Mackandal lidera um movimento popular que se valia do envenenamento dos senhores brancos para atingir a liberdade dos negros escravizados. Uma vez capturado, a execução do “Senhor do Veneno” ocorre sob duas perspectivas intercaladas por Carpentier: a dos negros que acreditavam nele, e a dos soldados que o mataram. Realidade e ficção se compõem mutuamente na narrativa que constitui uma forma de apreensão do milenarismo - frequentemente associado a situações de crise social - como via possível para a produção de utopias. Nessa chave, a utopia não é vista como um obscurecimento da razão, mas como forma de seu alargamento. A literatura que acessamos, a partir do artigo de Rocha, apresenta a história haitiana sob um viés eminentemente anticolonial e crítico.

Além dos textos do dossiê acima apresentado, este número reúne outros quatro artigos, dando vazão ao fluxo processado pela revista. São textos que sugerem um quadro rico de situações, exatamente pelas diferenças que existem entre eles: nas religiões abordadas, nas perspectivas assumidas, nas questões de pesquisa, etc. Com sua publicação, Religião & Sociedade continua a cumprir seu papel de compartilhar os resultados de pesquisa nesse imenso e complexo campo que é a religião.

O texto de Agustina Adela Zaros aborda a relação entre religião e memória ao tratar do problema da continuidade das práticas e crenças religiosas em uma comunidade de judeus na cidade italiana de Pádua. Para discutir o tema da transmissão religiosa, a autora desenvolve sua análise centrada em questões sobre geração, família, e comunidades em diáspora. Agustina Zaros apresenta em seu texto a importância dos rituais domésticos na formação de memórias fundamentais à transmissão religiosa em contextos diaspóricos, acentuando o trabalho do tempo ante os desafios da continuidade da vivência religiosa individual, mas sobretudo coletiva e comunitária.

O texto de Jerri Roberto Marin é uma contribuição à história do catolicismo no Brasil - mais especificamente, a imprensa católica que existiu entre o final do século dezenove e as primeiras décadas do século vinte. O artigo contrasta os empreendimentos apoiados pelo episcopado brasileiro com as avaliações de representantes da Santa Sé, explorando algumas tensões e descompassos no projeto de recristianização da sociedade almejado pela Igreja Católica.

O texto de Cecília Bastos dedica-se a um grupo de estudantes de Vedanta que tem aulas em uma instituição no Rio de Janeiro. Mesmo quando essa prática adquire o sentido de uma identificação com o hinduísmo, entre os estudantes predominam características, em seu estilo e suas inquietações, que se assemelham ao que a literatura sobre religião descreve acerca da Nova Era. O artigo os apresenta como buscadores espirituais, esforçando-se por analisar a sua ética - no sentido weberiano, como forma de estar no mundo.

Finalmente, o texto de Luís Antonio Groppo e Lívia Furtado Borges trata da relação entre juventude e religião no contexto universitário mineiro. Dentro do quadro mais amplo de um projeto que enfoca organizações juvenis, o texto parte da realização de pesquisa participante em um grupo de jovens pertencente à rede Aliança Bíblica Universitária (ABU). O artigo analisa como, no contexto deste grupo evangélico, são promovidas formas de socialização, sociabilidade e acolhimento para os jovens nele envolvidos, e de que modo suas práticas provocam importantes efeitos na relação de jovens estudantes com a esfera pública e na sua participação política, e suas respectivas tensões.

Referências Bibliográficas

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    A exceção, e interessante contraponto, a essa primeira tendência foi a publicação do artigo “A Fonte da Juventude - Observações sobre A Europa de hoje de Alceu de Amoroso Lima” (Araújo 1987ARAÚJO, Ricardo Benzaquen. (1987), “A Fonte da Juventude - Observações sobre A Europa de hoje de Alceu de Amoroso Lima”. Religião & Sociedade , vol.14, n.3.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2018
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