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Catolicismo de esquerda na França: uma análise da Federação Réseaux du Parvis

Left-wing Catholicism in France: An Analysis of the Réseaux du Parvis Federation

Resumos

Resumo: Neste artigo faz-se uma análise do catolicismo de esquerda na França por meio do estudo de Réseaux du Parvis, uma federação de associações cristãs, com maioria de tradição católica. É uma organização que desenvolve ações, notadamente intraeclesiais, com base na crítica à instituição católica e centrada na fiscalização da hierarquia eclesial. A investigação visa apresentar esse conjunto de grupos católicos e seu modo de organização enquanto federação, visto que se trata de uma versão contemporânea dos modos de organização da esquerda católica francesa. Entende-se que a análise de Réseaux du Parvis colabora com a constatação de que, no caso francês, a organização paroquial está em crise, considerando que tal associação se articula em rede, à margem das paróquias e dioceses.

Palavras-chave:
catolicismo; modernidade; Réseaux du Parvis; França


Abstract: This article analyzes left-wing Catholicism in France, by studying the Réseaux du Parvis, a federation of Christian associations, the majority of which is Catholic. This organization carries out actions critical of the Catholic institution, in particular intra-ecclesial actions - with a focus on Ecclesiastic hierarchy. This study presents this set of Catholic groups and their mode of organization as a federation, since it is a contemporary version of the modes of organization of the Catholic left in France. It is contended herein through the analysis of the Réseaux du Parvis that in the French case, parish organization is in crisis, and that this association mobilizes itself via a network, at the margin of parishes and dioceses.

Keywords:
catholicism; modernity; Réseaux du Parvis; France.


Introdução

O tema deste artigo1 1 O artigo apresenta parte dos resultados de pesquisa de pós-doutorado realizado na França, em 2018/2019, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Centre d'Études en Sciences Sociales du Religieux, sob a supervisão de Michael Löwy. Os dados foram coletados por meio de observação sistemática em atividades da federação Réseaux du Parvis, entrevistas com membros da rede, levantamento documental e utilização de informações contidas na revista Les Réseaux des Parvis. Agradeço a Philippe Degrave, Marcelo Camurça, Mathieu Gervais, Allan Coelho, Didier Vanhoutte e João Paulo de Paula Silveira pelos comentários e sugestões. diz respeito ao catolicismo na França e, em particular, à situação atual do catolicismo de esquerda, centrando o estudo na Federação Réseaux du Parvis, uma experiência de articulação dos grupos dispersos da esquerda cristã francesa (Gouguenheim, Jolly & Vanhoutte 2015GOUGUENHEIM, Lucienne; JOLLY, Jean-Bernand; VANHOUTTE, Didier (dir.). (2015), L’Évangile sur les parvis. Paris: Temps Présent.). A proposta, portanto, é apresentar uma análise da configuração dessa Federação, considerada uma expressão dos modos de organização de católicos de esquerda no contexto atual da Igreja católica na França.

Trata-se de uma federação de associações cristãs, a maioria católicas, que realiza ações, particularmente intraeclesiais, baseadas na crítica à instituição católica e centradas na fiscalização da hierarquia eclesial. Os temas em discussão são, portanto, principalmente religiosos. A investigação visa apresentar esse conjunto de grupos católicos e seu modo de organização enquanto federação no contexto francês, visto que se trata de uma versão contemporânea dos modos de organização da esquerda católica naquele país.

A perspectiva teórica e metodológica adotada como referência para a apresentação da referida federação é a sociologia dialético-compreensiva. Trata-se de uma perspectiva que se apropria de noções fundamentais da teoria marxiana em conjunto com a sociologia compreensiva alemã weberiana. A articulação de Marx e Weber segue a teorização de Michael Löwy (2013LÖWY, Michael. (2013), La Cage d’acier. Max Weber et le marxisme wébérien. Paris: Stock, coll. Un ordre d’idées.), que adota de forma complementar as abordagens desses autores em seus estudos sobre religião, tomando como base o conceito de afinidade eletiva. Assim, todos os fenômenos devem ser entendidos dentro da estrutura do sistema capitalista global, mas sem negligenciar a capacidade de agência do indivíduo considerado um ator social. Essa abordagem permite descrever a Federação estudada com base no contexto do catolicismo global e da modernidade em sua interface com a realidade religiosa francesa e, especificamente, a conjuntura dos grupos católicos minoritários de esquerda que se organizam à margem da instituição, por exemplo, Réseaux du Parvis.

O texto está organizado da seguinte forma: primeiro é apresentado alguns elementos que municiam a discussão da questão religiosa na modernidade, acompanhada da análise crítica do catolicismo na França, e uma breve caracterização da realidade contemporânea da Igreja católica no país. Em seguida, apresenta-se os católicos da Federação Réseaux du Parvis como exemplo contemporâneo de modelo de organização de católicos de esquerda. Para concluir, é feito um balanço no sentido de sistematizar os elementos fundamentais da organização que se articula em forma de rede e com base no princípio da horizontalidade.

Modernidade religiosa

A secularização tem marcado profundamente as religiões e as práticas de fé na sociedade hodierna. Entretanto, de acordo com André Tosel (2018TOSEL, André. (2018), “Notes”.Actuel Marx . Paris: PUF, 64: 9-10.), a dessecularização também é uma tendência atual. Peter Berger (2017BERGER, Peter L. (2017), Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa época pluralista. Petrópolis: Editora Vozes.) também entende que o mundo moderno continua a ser muito religioso. A secularização enquanto perda de influência das igrejas na sociedade é, dessa forma, seguida por um movimento de reavivamento das religiões e especialmente das práticas de fé desinstitucionalizadas e muitas vezes individualizadas, conforme destaca Philippe Portier (2012PORTIER, Philippe. (2012), (2002), “Le mouvement catholique en France aux XXe siècle retour sur un processus de dérégulation”. In: J. Baudouin, P. Portier (dir.). Le mouvement catholique français à l’épreuve de la pluralité. Enquête autour d’une militance éclatée. Rennes: Presses Universitaires de Rennes.). É uma secularização que abandona a religião da tradição para privilegiar as experiências sensíveis das crenças, segundo Denis Pelletier (2002PELLETIER, Denis; SCHLEGEL, Jean-Louis. (dir.). (2002), La crise catholique. Religion, société, politique (1965-1978). Paris: Payot.).

A questão é que vivemos hoje em um contexto societário com uma crescente afirmação de identidades coletivas de tipo religioso com consequente pluralização do campo religioso (Berger 2017BERGER, Peter L. (2017), Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa época pluralista. Petrópolis: Editora Vozes.). Diante desse cenário, a reflexão dedica-se ao catolicismo, especialmente os católicos de esquerda que atuam no cenário francês, representados pela Federação Réseaux du Parvis, cuja configuração de organização e temáticas oferecem um exemplo concreto dos modos de organização de grupos minoritários que se encontram à esquerda da instituição católica. Portanto, é necessário entender o papel desse modo católico no contexto aqui apresentado.

Nesse sentido, faz-se necessário destacar alguns elementos da sociologia de Weber (2004WEBER, Max. (2004), A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cia. das Letras.) para compor nossa análise e considerar seu estudo do catolicismo que demonstra uma incompatibilidade da relação católica com o espírito do capitalismo. “A hipótese weberiana me parece essencial para entender muitos fenômenos sociorreligiosos desde o século XIX até os dias de hoje” (Löwy 2018LÖWY, Michael. (2018), “Pontifex Maximus versus Kapitalismus laudato si: An antisystemical encyclical”. Actuel Marx, 2(2): 74-85.:75).2 2 Todas as citações diretas contidas no texto, com exceção aos trabalhos de Marcelo Camurça, foram traduzidas do francês pelo próprio autor deste artigo. O autor fala da hostilidade, aversão e até mesmo antipatia da Igreja católica em relação ao capitalismo.

Löwy (2018LÖWY, Michael. (2018), “Pontifex Maximus versus Kapitalismus laudato si: An antisystemical encyclical”. Actuel Marx, 2(2): 74-85.) considera que ainda existe uma corrente anticapitalista de esquerda no catolicismo - que é uma minoria, mas continua significativa. Segundo ele, a esquerda católica, apesar da hostilidade romana dos Papas João Paulo II e Bento XVI, continuou a crescer na Europa e na América Latina, sendo que hoje tem o apoio de Roma desde o advento do Papa Francisco.

Apesar das posições conservadoras sobre os direitos das mulheres de controlar seus corpos e sobre a moralidade sexual em geral, o Papa Francisco tem posições políticas e sociais de esquerda. Sua formação intelectual, espiritual e política é apoiada pela Teologia do Povo, uma variante argentina não marxista da Teologia da Libertação, um pensamento teológico que nasceu da perspectiva de interpretar a realidade latino-americana à luz do Evangelho (Löwy, Sofiati & Andrade 2020LÖWY, Michael; SOFIATI, Flávio Munhoz; ANDRADE, Luis Martínez. (2020), “Apresentação: Cristianismo da libertação e Teologia da libertação na América Latina”. Sociedade e Cultura, 23: e64381.). Ele adotou o nome de São Francisco de Assis, considerado o amigo dos pobres; e fez importante homilia no porto italiano de Lampedusa - entrada para migrantes ilegais -, denunciando a “globalização da indiferença” com uma crítica à desumanidade da política europeia em relação aos imigrantes.

Löwy (2018LÖWY, Michael. (2018), “Pontifex Maximus versus Kapitalismus laudato si: An antisystemical encyclical”. Actuel Marx, 2(2): 74-85.) cita uma série de atitudes do Papa para exemplificar seu argumento: o encontro com Gustavo Gutierrez, ícone da Teologia da Libertação, em setembro de 2013; a beatificação de 2015 e a canonização de 2018 de Oscar Romero, ex-bispo de San Salvador (capital de El Salvador) e ativista dos direitos humanos; a homenagem de julho de 2015 à memória de Luis Espinal Camps, na Bolívia; o discurso de aversão ao capitalismo na Bolívia, na cidade de Santa Cruz, por ocasião do Encontro Mundial dos Movimentos Sociais em 2015; a recepção no Vaticano, em 2014, dos ativistas de esquerda Alexis Tsipras e Walter Baier para o início de um processo de diálogo entre marxistas e cristãos - do qual Löwy é o principal organizador por parte dos marxistas -, cujo último encontro ocorreu na Grécia em agosto de 2018. Finalmente, Francisco foi denunciado como “Papa Marxista” por Rush Linebaugh, jornalista norte-americano, a quem ele respondeu recusando educadamente o adjetivo, acrescentando que não se ofendeu, pois “conhecia muitos marxistas que eram boas pessoas”.

No trabalho de campo iniciado em 2019 para a produção deste artigo, apresenta-se uma federação de associações católicas chamada Réseaux du Parvis. Seus membros se consideram católicos de esquerda e têm críticas muito radicais à estrutura da Igreja católica na França, críticas à esquerda da hierarquia. Os católicos de esquerda, conforme Denis Pelletier (2012PELLETIER, Denis; SCHLEGEL, Jean-Louis. (dir.). (2012), À la gauche du Christ: les chrétiens de gauche en France de 1945 à nos jours. Paris: Éditions du Seuil.), são aqueles com posições na sociedade civil favoráveis ao debate sobre o divórcio, a contracepção e o aborto. Também são favoráveis à expansão da liberdade humana, do pensamento autônomo e solidário. As suas posições dentro da Igreja são críticas à hierarquia, contra o modelo de funcionamento da instituição considerada saturada de tridentismo. Essas características são encontradas na federação estudada neste artigo, conforme se procura demonstrar. É um estilo católico inspirado na teologia de P. Teilhard de Chardin (1881-1955), na filosofia de Emmanuel Mounier (1905-1950) e em diálogo com a teoria marxista, mais presente nos anos 1960 do que hoje. Essa formação religiosa tem como referência fundamental as resoluções do Concílio Vaticano II (1962-1965), considerada o mais importante momento de abertura para a modernidade por parte do catolicismo global.

Duas perspectivas

Assume-se como ponto de partida a proposta de Marcelo Camurça (2011CAMURÇA, Marcelo A. (2011), “Crise ou recomposição do catolicismo na esfera pública: uma análise comparada entre uma literatura da França e do Brasil”. Boletim Cedes, out./dez.:1) para compreender as transformações sofridas pelo catolicismo contemporâneo e a sua capacidade de “continuar a fazer sentido num espaço público secularizado marcado pelo individualismo moderno, com o seu corolário no campo da moral e dos costumes”. E para refletir sobre o caso francês, utiliza-se a tese da “exculturação” do catolicismo francês desenvolvida por Danièle Hervieu-Léger (2003). Assim, entende-se que o processo de secularização da sociedade e a laicização do Estado levaram a uma diminuição do número de católicos, acompanhada de uma descatolicização, ou seja, uma diminuição das audiências em missas, em particular, e atividades eclesiais, em geral. Consequentemente, no caso da França, há uma retirada política e cultural do catolicismo, ou seja, uma saída do catolicismo da cultura francesa. A exculturação consiste, portanto, no fim da afinidade eletiva que existia entre a cultura comum dos franceses e a cultura católica. Para Hervieu-Léger (2003:97): “É este desligamento que nos esforçamos em definir quando falamos da exculturação do catolicismo francês.”

Pode-se notar que existe um modelo predominante de catolicismo comunitário neste país, mais ligado às comunidades e às novas formas de sociabilidade católica e menos às paróquias. Hervieu-Léger (2019HERVIEU-LÉGER, Danièle. (2019), “Mutations de la sociabilité catholique en France”. Études, 2(2): 67-78.) fala inclusive em fim da civilização paroquial. Camurça (2010CAMURÇA, Marcelo A. (2010), “Estaria o catolicismo na França do século XXI caminhando em direção a um perfil comunitário?” Religião e Sociedade, 30 (2): 74-89.:76), ao considerar as tensões causadas pelo tipo de secularismo que prevalece na França, demonstra que o modelo de uma igreja mais comunitária e menos paroquial permitiu a articulação de elementos que se apresentam de forma contraditória na realidade social, como o individualismo e o coletivismo. A estrutura horizontalizada e em rede da federação analisada reflete esse cenário.

Nessa perspectiva, propõe-se primeiro, para o estudo do catolicismo na França, articular as observações de Hervieu-Léger (2003) sobre o “fim do catolicismo” e a “crise católica” de Pelletier (2002PELLETIER, Denis; SCHLEGEL, Jean-Louis. (dir.). (2002), La crise catholique. Religion, société, politique (1965-1978). Paris: Payot.), com as análises de Philippe Portier (2002) - que apresenta com otimismo o panorama católico diante do mercado religioso plural - e Martine Cohen (1990COHEN, Martine. (1990), “Les renouveaux catholique et juif en France”. In: F. Champion; D. Hervieu-Léger. De l’émotion en religion. Renouveaux et traditions. Paris: Éditions de Centurion.) - que defende a ideia de uma vitalidade ainda crescente do catolicismo francês. Mesmo que, para o tema de pesquisa deste artigo, esteja-se mais de acordo com Hervieu-Léger e Pelletier, tal articulação inicial ajuda a aprofundar o conhecimento das estratégias do catolicismo para se manter no mercado de bens de salvação; inclusive como um preâmbulo para compreender o papel contemporâneo da Federação Réseaux du Parvis.

Assim, este estudo sobre o catolicismo francês toma como ponto de partida a análise das duas perspectivas principais sobre o tema: por um lado, têm-se autores que defendem a ideia de que existe certo esgotamento do projeto católico na Europa e um processo de desaparecimento da cultura católica na França; por outro lado, considera-se também as análises dos autores para os quais o catolicismo permanece vivo e ativo diante das transformações do mundo moderno.

Entre os autores que defendem a tese do enfraquecimento do catolicismo francês, a de Hervieu-Léger é a mais conhecida. De acordo com a estudiosa, as mutações culturais presentes na sociedade francesa influenciaram a forma como os indivíduos são religiosos. Essa realidade comprometeu o modelo tradicional de prática religiosa entre os católicos, à medida que novas formas de religiosidade se articulam à margem das instituições religiosas. No entanto, a autora enfatiza que “o fim de um mundo não é necessariamente o fim do mundo” (Hervieu-Léger 2003:325). Ou seja, o fim das práticas tradicionais católicas não significa o fim das crenças em geral, mas a descompatibilidade de novas formas de religiosidade com as instituições que representam a tradição. Entende-se que a autora observa o fracasso da reprodução social da instituição católica, mas não necessariamente do catolicismo, apesar de identificar que a cultura católica está cada vez mais desconectada da cultura francesa em geral.

Pelletier (2002PELLETIER, Denis; SCHLEGEL, Jean-Louis. (dir.). (2002), La crise catholique. Religion, société, politique (1965-1978). Paris: Payot.:297) considera que há uma crise católica na sociedade francesa. Segundo o autor, trata-se de um declínio das práticas católicas e do desaparecimento de um patrimônio religioso que na Europa afeta todas as religiões estabelecidas. Segundo ele, “[...] a filiação confessional perde a sua relevância como marcador de comportamento coletivo” (Pelletier 2002:7-10). A tese do autor para o caso do catolicismo é que ele está passando por uma crise fundadora, uma fase de aceleração em um longo período de transição dentro do campo religioso francês, correspondente aos anos 1965 a 1978, que incluem o encerramento do Concílio Vaticano II e a morte de Paulo VI, durante o qual houve: a) o declínio acelerado das vocações e práticas; b) a extrema politização de uma parte dos católicos; c) a crise da Ação Católica; e d) o surgimento de dissidências fundamentalistas.

Apesar da tese apresentada, Portier (2002PORTIER, Philippe. (2012), (2002), “Le mouvement catholique en France aux XXe siècle retour sur un processus de dérégulation”. In: J. Baudouin, P. Portier (dir.). Le mouvement catholique français à l’épreuve de la pluralité. Enquête autour d’une militance éclatée. Rennes: Presses Universitaires de Rennes.) observa que o catolicismo francês ainda é capaz de se mobilizar diante das transformações da sociedade contemporânea. Ao abordar a questão do confronto da instituição católica com a modernidade, ele entende que ela estabeleceu uma relação dialética com o mundo contemporâneo que permite sua coexistência com a sociedade francesa. Para Portier (2012PORTIER, Philippe. (2012), “Pluralité et unité dans le catholicisme français”. In: C. Béraud, F. Gugelot, I. Saint-Martin. Catholicisme en tensions. Paris: Éditions EHESS.), na base do catolicismo, há um processo de pluralização que está fragmentado em vários setores que lidam de maneiras diferentes com a modernidade. Ao mesmo tempo, na hierarquia da Igreja católica, há um processo de unificação em que o clero refuta os valores modernos. É essa combinação aparentemente contraditória que permite que a Igreja continue a agir com certa força na sociedade contemporânea. “O espetáculo contemporâneo da cena católica confirma esta intuição: a Igreja de hoje só pode ser compreendida, sem dúvida, com base na dialética do centrífugo e do centrípeta” (Portier 2012:21). O autor identifica duas lógicas simultâneas de tensão na Igreja: a lógica centrífuga dos leigos com sua pluralidade, ou seja, na base da Igreja predomina a lógica da pluralização; e a lógica centrípeta dos bispos que tentam manter o vínculo, construir a unidade. Em uma perspectiva de unificação, em uma epistemologia integralista, o cume da Igreja procura dialogar para reduzir a pluralidade interna na base e para controlar a pluralidade externa do catolicismo. Observa-se que o autor, em sua análise, destaca a tentativa de adaptação da instituição às condições impostas pela modernidade.

Nos anos 1990, Cohen (1990COHEN, Martine. (1990), “Les renouveaux catholique et juif en France”. In: F. Champion; D. Hervieu-Léger. De l’émotion en religion. Renouveaux et traditions. Paris: Éditions de Centurion.) já enfatizava a importante presença pública do catolicismo na França e seu desejo de permanecer uma voz representativa em relação ao Estado francês. Esse cenário levou a hierarquia a adotar uma abordagem cada vez mais pragmática, validando práticas religiosas individuais e comunitárias, como também observa Camurça (2010CAMURÇA, Marcelo A. (2010), “Estaria o catolicismo na França do século XXI caminhando em direção a um perfil comunitário?” Religião e Sociedade, 30 (2): 74-89., 2011). O resultado é uma lógica de autoridade que se apresenta publicamente como uma crítica da cultura moderna, mas que, internamente, aceita e consente a pluralização dos estilos de ser católico que estabelecem trocas com o mundo moderno.

A apresentação desse cenário é fundamental para entender os movimentos contemporâneos dos católicos de esquerda que são considerados neste artigo, tendo como exemplo a Federação Réseaux du Parvis. Entende-se que a análise da Federação colabora com a constatação de que, no caso francês, a organização paroquial está em crise, considerando que tal associação, exemplo prático das formas de articulação do catolicismo de esquerda, articula-se à margem das paróquias e dioceses.

Uma nebulosa de associação

Ao longo da análise foi possível mapear os diversos grupos que constituem a nebulosa das associações. Esse expediente permitiu a compreensão da diversidade de horizontes e das formas de atuação dos grupos que compõem a Federação. Assim, nesta seção se fará uma apresentação sumária de cada associação federada em Réseaux du Parvis. Optou-se por apresentar as associações com base na imagem pública que dão de si próprias nas suas revistas, boletins, blogs, websites, livros, informações publicadas na imprensa local e nas entrevistas realizadas3 3 Entrevista com Didier Vanhoute, Paris, 15/05/2019. Essa entrevista norteou o levantamento dos dados acerca das associações federadas em Réseaux du Parvis. no âmbito dessa investigação.

O número 92-93 da revista, no verão de 2019, mostra a composição da rede: nota-se a presença de 37 associações/grupos/fraternidades/comunidades/equipas, além do Collectif des Amis du Parvis e a rede Nous sommes aussi l’Église, o escritório francês de We are Church International, um membro ativo da rede e um dos mais à esquerda. Inicia-se apresentando as associações ligadas à Federação para, em seguida, apresentar as fundadas no momento da “destituição” de Jacques Gaillot, bispo de tradição de esquerda, de sua diocese.

Começa-se com Les amis du 68 rue de Babylone (associação nascida em 1993), composta por cristãos que se reúnem no endereço histórico da editora Temps Présent em Paris (Sevegrand 2003SEVEGRAND, Martine (dir.). (2003), Contribution pour l’avenir du christianisme. Paris: Desclée de Brouwer.); Équipe de chrétiens en classe ouvrière du secteur de Caen (criado em 2006), um grupo local de ativistas que partilham uma forma de viver o Evangelho nas “lutas da classe trabalhadora” (Journal Ouest France 2017JOURNAL OUEST France. (5/06/2017), Législatives. L’appel des chrétiens en classe ouvrière de Caen. ); Association Nationale des Correspondants des Communautés Chrétiennes de base (nascido nos anos 1990), ao qual reúne menos de uma dúzia de comunidades de base que se agruparam em volta da prioridade dos pobres e excluídos (Les Réseaux des Parvis 2011LES RESEAUX DES PARVIS. (11/2011), hors-série, nº 26.:14). Os três primeiros grupos têm como foco o tema da classe social, sendo que fazem claramente a “opção preferencial pelos pobres”. Eles tomam iniciativas que seguem o legado dos padres ouvriers, o principal grupo da esquerda católica na década de 1950.

Continua-se a breve apresentação das associações com Chrétiens de l’Ain en Recherch4 4 Disponível em: http://chretiens01recherche.free.fr. Acesso em: 6/09/2019. (formada em 2002). Trata-se de uma associação que se reúne periodicamente em nível diocesano, em Belley-Ars (cerca de 3 vezes por ano), e está organizada em defesa do respeito pela democracia e pela liberdade de consciência; Chrétiens en recherche Loir-et-Cher5 5 Disponível em: http://cer41.blogspot.com. Acesso em: 8/06/2019. (nascido oficialmente em 2002), na diocese de Blois, apresentam-se como leigos “em busca de um cristianismo mais próximo dos Evangelhos”; Coordination des groupes Jonas Alsace (criada em 2001) é uma associação composta por grupos locais com a proposta de organizar encontros para troca de ideias (Les Réseaux des Parvis 2011:27; Les Réseaux des Parvis 2012LES RESEAUX DES PARVIS. (05/2012), hors-série, nº 27.:12); Jonas-Vosges (nascido nos anos 1990), na diocese de Saint-Dié, é um grupo local que procura estimular a Igreja diocesana para “um diálogo pautado na verdade, para uma busca na liberdade, especialmente para a abertura de ministérios a serviço do Evangelho” (Les Réseaux des Parvis 2011:44); Croyants en liberté6 6 Disponível em: http://croyantsenliberte42.free.fr. Acesso em: 18/06/2019. (formada em 1989), em Saint-Etienne, é uma associação “situada do lado de fora da igreja” e “aberta ao diálogo”, preocupada em “escutar aqueles que se sentem afastados de uma Igreja que já não corresponde às suas expectativas” e cujos membros têm compromissos muito diversos na sociedade civil; Croyants en liberté (formada em 1989), em Moselle, com a proposta de “ser um lugar de encontro fora da Igreja institucional, onde as pessoas possam trocar, dialogar, expressar seus medos e esperanças”; este lugar de encontro em torno de uma “espiritualidade desencarnada” procura “trabalhar humildemente para promover mais justiça e fraternidade” (Les Réseaux des Parvis 2011:28); Humanistes croyants,7 7 A data da criação da associação é desconhecida. localizado na Bretanha, reúne pessoas que acreditam que hoje se vive a vingança “dos leigos sobre o clero”, porque “o Evangelho prevaleceu sobre as posições da Igreja atual” (Les Réseaux des Parvis 2011:42); o grupo Partage, Recherche et Évangile (formado em 1989), em Lyon, é um “lugar de acolhimento para os ‘órfãos’ da Igreja, para aqueles que estão ‘começando’ a acreditar de novo” (Les Réseaux des Parvis 2011:51); comunidade Ponto 18 8 Disponível em: https://rouen.catholique.fr/diocese/vie-consacree/associations-de-fideles/. Acesso em: 19/06/2019. (nascido em 1980), na diocese de Rouen, procura “encorajar o diálogo entre não crentes e crentes”. Pode-se situar esses nove grupos dentro do tema eclesial, com uma crítica à esquerda da instituição. São associações articuladas dentro das paróquias ou à margem destas; todavia, mesmo os grupos paroquiais são marginalizados pela instituição. Eles se organizam para a criação de outra estrutura de poder para a Igreja na França, cuja referência principal é o Vaticano II e a ideia de horizontalidade.

A questão das identidades também está presente em Réseaux du Parvis como mostram os grupos a seguir. David & Jonathan (fundada em 1972 e oficializada em 1983) é um movimento LGBTQIA+ cristão, formado por grupos locais “abertos” a todos para “mudar a mentalidade das Igrejas” (David & Jonathan 2009DAVID & JONATHAN (dir.). (2009), Les homosexuels ont-ils une âme? Paris: Harmattan.:31-32); Femmes et Hommes, Égalité, Droits et Libertés dans les Églises et la Société9 9 Disponível em: http://fhedles.fr. Acesso em: 19/06/2019. (fundada em 2011 após a fusão de FHE - Femmes et Hommes en Église - criada em 1970 e DLE - Droits et Libertés dans les Eglises - formada nos anos 1980) é uma associação que luta pela desconstrução religiosa do gênero, ou seja, está comprometida com a difusão do pensamento das feministas católicas na França (Les Réseaux des Parvis 2013LES RESEAUX DES PARVIS. (05/2013), hors-série, nº 29.). Os dois grupos organizados na cidade de Paris são críticos feministas das relações de gênero nas igrejas cristãs. São associações à margem do pensamento cristão predominante, que têm como alvo o patriarcado. Dessa forma, são grupos que também fazem uma crítica de esquerda à instituição católica.

Enquanto esses grupos pensam na questão das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, os grupos a seguir lidam com a questão dos padres casados. Plein Jour10 10 Entrevista com JC por e-mail em 28/06/2019. Disponível em: https://plein-jour.eu. Acesso em: 19/06/2019. (criado em 1998) apoia e reúne, de forma não pública, casais de sacerdotes casados que ainda pertencem ao ministério sacerdotal; Prêtres Mariés-Chemins nouveaux11 11 Disponível em: http://www.pretresmaries.eu. Acesso em: 19/06/2019. Entrevista com PD por telefone em 21 jun. 2019. (nascida em 1971 e reestruturada em 1991) é uma associação sem membros declarados, que reúne sacerdotes casados que deixaram o ministério sacerdotal; Rencontres de la Boivre12 12 Entrevista com JCG por telefone em 20/06/2019. (organizada nos anos 1990) é uma associação de sacerdotes casados que se encontram no campo, perto do rio Boivre, na Aldeia de Beruges, para partilhar as suas experiências da realidade de uma Igreja que institucionalizou o celibato e não dialoga com o clero sobre o tema. As três associações demonstram estar bem-organizadas, mas devido à temática tratada, foi difícil encontrar informações mais precisas sobre a sua estrutura organizacional. A questão dos padres casados na Igreja é um “tabu” que os casais tentam superar juntos, organizando-se para exigir da instituição uma postura diferente no que diz respeito ao celibato. São também associações muito críticas à posição oficial da Igreja católica, grupos à esquerda da hierarquia. No entanto, eles também se reúnem para compartilhar suas vidas e experiências como casais diante da dificuldade de sua condição de padres casados.

A questão da educação é também um tema da Federação. Chrétiens pour une Église dégagée de l’école confessionnelle (nascido em 1983) foi criado para defender uma escola secular. Esses cristãos opõem-se ao compromisso da Igreja de apoiar as escolas privadas (Mediapart 2017CABOTTE-CARILLON, Monique. (31/03/2017), “Chrétiens pour l’école laïque”, Mediapart.); Jeunesse Étudiante Chrétienne (nascida em 1929) celebrou seu 90º aniversário em 2019 Jec France 2019JEC FRANCE. (13 avril 2019), “90 ans après … Osons encore rêver”, Dossier de presse, 90ème anniversaire.). A JEC13 13 Entrevista com Claire Barbay, Paris, 7/06/2019. trabalha com o método ver-julgar-agir, muito presente entre os jovens da Teologia da Libertação na América Latina. Ambos os grupos estão focados na escola e na educação. Eles também estão à margem da instituição e procuram aproximar os católicos de uma forma de pensar a realidade contemporânea como lugar de promoção das ideias presentes no Evangelho. Assim, eles também são católicos abertos à modernidade e com posições à esquerda da hierarquia.

Os grupos seguintes são de caráter mais comunitário, são grupos de convivência que participam da Federação. Association Culturelle de Boquen14 14 Disponível em: http://asso-boquen.fr. Acesso em: 8/06/2019. (nascido em 1978) é composto por leigos comprometidos com uma vida de comunhão; Association culturelle Marcel Légaut15 15 Disponível em: https://www.marcel-legaut.org. Acesso em: 7/06/2019. (nascido nos anos 1990), cujo lema é “Viver para ser”, visa transmitir o pensamento de Marcel Légaut (1900-1990) - filósofo e matemático cristão -, combinando a pesquisa espiritual com a vida comunitária; Chrétiens ici maintenant ensemble16 16 Disponível em: https://www.cime34.com. Acesso em: 18/06/2019. (nascida no início dos anos 2000) é uma associação cujo objetivo é a promoção de uma comunidade cristã para dialogar, pesquisar, partilhar e sobretudo celebrar juntos; Communauté Chrétienne dans la Cité17 17 Disponível em: http://ctechretienneccc.canalblog.com. Acesso em: 18/06/2019. A data de criação da associação e o local de organização são desconhecidos. visa promover encontros entre cristãos e não cristãos para a troca de ideias, desenvolver amizades, aprofundar as escolhas de vida e encorajar o compromisso dos membros em ações de solidariedade; Fraternité Agapé (nascido em 1996), localizado em Chambéry, é um grupo local de encontros semanais para a partilha espiritual e fraterna da vida (Les Réseaux des Parvis 2011:40); grupo Croire en Liberté18 18 Disponível em: https://angouleme.catholique.fr/Groupe-Croire-en-liberte. Acesso em: 18/06/2019. (constituída em 2011), na diocese de Angoulême, é um lugar de encontro ecumênico e inter-religioso, amplamente aberto à partilha de testemunhos de compromisso; associação Chrétiens Aujourd'hui Orléans19 19 Disponível em: http://chretiensorleans.over-blog.com. Acesso em: 7/06/2019. (criada em 1998) consiste em uma rede de cerca de 100 endereços, composta por cristãos, protestantes e pessoas em busca de diferentes formas de expressão e celebração. Os sete grupos ligados em Parvis foram formados com base nas iniciativas dos cristãos, especialmente católicos, que procuram uma vida comunitária que a Igreja, como instituição, não está, na perspectiva deles, em condições de oferecer. Eles também são considerados neste estudo exemplos de críticas ao catolicismo hierárquico. Esses grupos mostram a incapacidade de a instituição oferecer alternativas de vida comunitária para os seus fiéis. São associações que compartilham outra estrutura eclesial, mais democrática e horizontal, em torno de experiências que mostram possibilidades de organização religiosa à esquerda das perspectivas tradicionais.

Os grupos apresentados a seguir são os que se organizaram em 1995 para contestar a decisão da Igreja Católica de “remover” o bispo Jacques Gaillot de sua diocese. Eles se concentram na crítica à hierarquia católica e defendem posições à esquerda da instituição. Associação Solidarité Église Liberté,20 20 Journal Ouest France, Solidarité Église Liberté veut soutenir les exclus, 14 abr. 2014. Disponível em: https://sel85.monsite-orange.fr. Acesso em: 19/06/2019. Vendée, reúne cristãos e não cristãos para partilhar a palavra e aproximar-se daqueles que são marginalizados ou excluídos pela sociedade e pela Igreja; Chrétiens et libres en Morbihan21 21 Celem - Chrétiens et libres en Morbihan, Bulletin nº 50 et 51, out. 2011, jan. 2012. é um grupo muito crítico em relação à Igreja, que se organiza no interior da diocese de Vannes a fim de lutar para que a palavra do Evangelho volte a ser uma prioridade dentro da instituição; Chrétiens sans frontières Gironde é uma associação de Pessac que rejeita a estrutura piramidal da Igreja Católica e luta pela colegialidade nas decisões da instituição. Ela é a favor da igualdade entre homens e mulheres, e entre religiosos e leigos na Igreja (Les Réseaux des Parvis 2011:24); Chrétiens sans frontières Orne se articulam para “continuar a luta para reparar a injustiça feita por Roma a Jacques Gaillot” (Les Réseaux des Parvis 2011:25). Esse grupo, que está muito próximo do movimento operário e à esquerda, está muito preocupado com o envelhecimento dos seus membros; Chrétiens sans frontières Val-d'Oise é uma associação que se reconhece “na mensagem do Evangelho” e segue “a dinâmica e a intuição de Jacques Gaillot” (Les Réseaux des Parvis 2011:26); Croyants en liberte,22 22 Disponível em: http://www.cely78.fr. Acesso em: 18/06/2019. de Yvelines, é uma associação que trabalha para “construir pontes entre a Igreja e a sociedade contemporânea”, para organizar “a unidade dos cristãos no seguimento do Concílio Vaticano II” e para “contribuir para a reflexão sobre a organização e o funcionamento da Igreja”; Espérance 54 (Les Réseaux des Parvis 2011:35; Bulletin Espérance 54 2009BULLETIN ESPERANCE 54. (2009), número 3, nouvelle série.), da diocese de Nancy, é uma associação que procura libertar os seus membros dos “condicionamentos religiosos”, a fim de ter um “pensamento livre e humanista no espírito do Evangelho”; Évangile et Modernité 49, de Angers, é um grupo que procura “viver hoje num Mundo que já não é o de Jesus ou o de antes do Concílio Vaticano II” (Les Réseaux des Parvis 2011:36); Evreux 13, da diocese de Marselha, é um coletivo local que “reúne cristãos envolvidos em diferentes instâncias da sociedade e da Igreja que romperam com a Igreja-Instituição ou a contestam a partir de dentro” (Les Réseaux des Parvis 2011:37). As associações Partenia 77, em Seine-et-Marne, e Partenia 2000, em Ivry sur Seine, usam o nome da diocese inexistente para onde Dom Jacques Gaillot foi enviado por Roma em 1995. Formaram-se em resistência ao autoritarismo, à opressão e à arbitrariedade da Igreja Católica. São também associações de partilha e de luta em defesa dos direitos dos “sem”: sem-terra, moradia, trabalho, documento (Les Réseaux des Parvis 2011:52-53).

Para concluir esta apresentação sumária das associações da Federação Réseaux du Parvis, note-se que ela procura uma Igreja fundada sobre o Vaticano II, aberta à modernidade e ao diálogo ecumênico. Ao lado, dentro ou à margem das dioceses, a Federação faz uma crítica de esquerda à instituição, debatendo temas que não são pensados democraticamente pelo clero. A Federação reúne os chamados “feridos pela instituição” (Raison du Cleuziou 2014RAISON DU CLEUZIOU, Yann. (2014), Qui sont les cathos aujourd’hui? Paris: Desclée de Brouwer, coll. Confrontations.) porque acredita que existe uma oposição entre a instituição e o Evangelho. “Estes católicos [feridos] lamentam as posições da Igreja sobre uma série de assuntos que excluem muitos dos fiéis (homossexuais, divorciados e pessoas em segundo casamento, mulheres em responsabilidade eclesial)” (Maudet 2015MAUDET, Marion. (2015), “Yann Raison du Cleuziou, Qui sont les cathos aujourd’hui ? ” Archives de sciences sociales des religions, 172, oct./déc.:3).

Essas associações vinculadas entre si vivem outra forma de organização, em rede, capaz de reunir católicos, cristãos e não crentes para viver e lutar em defesa dos direitos de grupos desfavorecidos como as mulheres, os pobres, a comunidade LGBTQIA+, os sacerdotes casados e suas esposas e filhos. As experiências vividas por Réseaux du Parvis - quer pela federação como um todo, quer por grupos isolados - mostram uma outra Igreja que está constituída à esquerda da instituição.

Para concluir, entende-se que essas associações, organizadas democraticamente em rede, partilham outro modelo de Igreja. É uma Igreja paralela à instituição com associações presentes nas dioceses, associações à margem das paróquias e associações fora da Igreja. Finalmente, há grupos que se reúnem do lado de fora da igreja, na praça, no coreto, esse lugar idealizado para construir a resistência à hierarquia e pelo sonho de outra comunidade evangélica.

Essas pessoas se veem como ativistas de esquerda - ou críticos, progressistas, de mente aberta à modernidade - e entendem que o valor prioritário da esquerda é a justiça social. A democracia é uma perspectiva muito presente na Federação: “A partir du Parvis, muitas pessoas escolheram ficar nas instituições da Igreja e lutar para que estas instituições sejam mais democráticas” (Les Réseaux des Parvis 2016LES RESEAUX DES PARVIS. (01/02 2016), nº 72.:6).

As associações de leigos católicos têm membros que hoje são ativos em movimentos antiglobalização, ambiental e de direitos humanos. E a Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, tornou-se uma referência contemporânea significativa para os católicos reunidos nessa rede. O presidente da Federação em 2019, Georges Heichelbech, cita o Papa como um crítico da civilização moderna: “Quando o capital é erguido como um ídolo, arruína a sociedade, condena o homem e o escraviza...” (Les Réseaux des Parvis 2016:15). Os leigos da Federação são críticos do Papa por causa de algumas de suas posições sobre o tema da igualdade das mulheres, mas consideram que “Francisco precisa de toda a convicção do Espírito e amplo apoio para fazer avançar o pensamento social da Igreja neste sentido” (Les Réseaux des Parvis 2016:12). Compreende-se que, por meio do papado de Francisco, a Federação Réseaux du Parvis tem considerado a possibilidade de renovação da esquerda católica na França.

Organização em rede

Na análise do tema da sociabilidade católica na França, Hervieu-Léger (2003HERVIEU-LÉGER, Danièle. (2003), Catholicisme, la fin d’un monde. Paris: Bayard.:276) a caracteriza como uma “[...] nebulosa de pequenos grupos e redes conectadas”, composta nomeadamente por movimentos espirituais, novas comunidades, “novas paróquias”, federando iniciativas largamente autogestionadas, ONGs cristãs e centros devocionais ligados a lugares de peregrinação. Ela entende que esse movimento católico está presente em todo o país, mas em pequenos grupos. O modelo de organização paroquial encontra-se em crise e é entendido como espaço fixo; enquanto o modelo predominante dos fiéis, do tipo peregrino, procura a mobilidade e a circulação. Esse cenário permite uma real “deslocalização” da sociabilidade religiosa. Com o poder de escolher a sua comunidade, muitos católicos preferem uma sociabilidade religiosa em rede.

A Federação Réseaux du Parvis (Schlegel 2012SCHLEGEL, Jean-Louis. (2012), “Vers la fin d’une parenthèse ?”. In: D. Pelletier, J. Schlegel (dir.). À la gauche du Christ: les chrétiens de gauche en France de 1945 à nos jours. Paris: Éditions du Seuil .:541), como apresentado, consiste em uma articulação de pequenas associações em que a maioria está organizada ao lado ou à margem das paróquias. Essa federação foi pensada com o objetivo de tornar-se “[...] um lugar de encontro e reconhecimento mútuo, uma plataforma de ação, de reflexão, de troca de experiências, a serviço da convivência em fraternidade” (Réseaux du Parvis 20--RÉSEAUX DU PARVIS. (20--), Notre histoire? Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/notre-histoire/ . Acesso em: 16/03/2019.
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). O seu lema é: “A nossa cultura comum: livre, diversa e em rede.” São grupos diferentes, de vários tamanhos e práticas, que procuram viver juntos na cultura cristã. A Federação tem esse nome porque parvis é entendido como “lugares públicos onde aqueles que entram na igreja e aqueles que saem dela se misturam com os que estão lá fora” (Réseaux du Parvis 20--). O parvis na França consiste em um espaço propício para o encontro, está situado na entrada da igreja. Para os ativistas da esquerda católica, é o espaço de liberdade, o espaço de novos contatos, um vínculo de amizade e, finalmente, um “lugar de liberdade criativa” (Valette 2015VALETTE, René. (2015), “Préface”. In: L. Gouguenheim, J. Jolly, D. Vanhoutte (dir.). L’Évangile sur les parvis . Paris: Temps Présent .:10). Assim, em uma tradução livre, Réseaux du Parvis significa Rede do Coreto, Rede da Praça, Rede do Pátio da igreja, enfim, um espaço situado entre o interior e o exterior da igreja no qual é possível pertencer à instituição em condições de negociar a adesão.

Entende-se que a França está passando por um novo processo de validação coletiva de crenças, que já não envolve a referência integrada, universal e permanente com mediadores autorizados. Trata-se de um cenário, segundo Hervieu-Léger (2003:286), que “favorece a emergência, na cena católica, de novas formas de socialização de tipo mais comunitário, mais próximas das aspirações diretamente expressas pelas pessoas envolvidas e, na maioria das vezes, geridas por sua iniciativa”. Como resultado da erosão do programa institucional da Igreja católica, da desorganização do poder religioso e da reduzida capacidade das autoridades religiosas em regular a vida dos fiéis, o catolicismo contemporâneo tornou-se frágil (Hervieu-Léger 2003:285, 329, 332), possibilitando, por exemplo, a ação crítica dos católicos organizados à esquerda da hierarquia.

Nesse contexto, os membros do Parvis têm uma relação crítica com a instituição: “Enquanto alguns desses cristãos críticos ainda trabalham nas Igrejas Instituídas, muitos se distanciaram da instituição católica. Para a maioria, eles se reúnem ‘fora das paredes’ para viver, falar e celebrar o Evangelho. Estão juntos de uma nova maneira” (Réseaux du Parvis 2018aRÉSEAUX DU PARVIS. (2018a), Qui sommes-nous? Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/wp-content/uploads/bsk-pdf-manager/2018-12-12_221.pdf . Acesso em: 7/05/2019.
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). Eles protestam contra a “Monarquia Romana”, desafiam as regras morais e o sexismo católico e, como a Teologia da Libertação (Löwy 2019LÖWY, Michael. (2019), La lutta des dieux. Christianisme de la libération et politique en Amérique latine. Paris: Van Dieren Éditeur.), fizeram a escolha da “opção preferencial pelos pobres” (Réseaux du Parvis 2018a).

Na análise dos últimos documentos públicos do Parvis, nos seus comunicados de imprensa, encontra-se críticas muito à esquerda da hierarquia católica francesa. Por exemplo, o conteúdo do comunicado elaborado para a Assembleia Geral de 2018, intitulado “Igreja Católica: não se reforma um campo de ruínas, tem que reconstruir do zero!” (Réseaux du Parvis 2018bRÉSEAUX DU PARVIS. (2018b), Eglise Catholique : on ne réforme pas un champ de ruines, il faut reconstruire à neuf! Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/2018/12/02/communique-de-presse-du-2-decembre- 2018/. Acesso em: 16/03/2019.
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), é realmente duro para com as posições oficiais da Igreja nos casos de pedofilia e expressa “grande preocupação com a situação causada pelo comportamento atual da Igreja católica”. O documento denuncia o “abuso sexual e a pedofilia cometidos por padres” e o “silêncio da hierarquia” diante dos fatos. O comunicado enfatiza “a solidariedade incondicional com as vítimas” e defende a tese de que “este escândalo é um sintoma de uma crise mais profunda” no catolicismo, uma crise ligada a causas estruturais. Esses católicos estão preocupados com o futuro do cristianismo: “[Esta crise] afeta não só a credibilidade da instituição católica, mas, a longo prazo, a sua própria existência e o futuro da transmissão da mensagem evangélica”.

A Federação propõe na prática novas formas de organização dos católicos na sociedade:

Mas a nossa Igreja é mais do que uma instituição dependente de uma hierarquia. É sobretudo, juntamente com outros crentes no Deus de Jesus, um povo de cristãos que é responsável, juntos e em pé de igualdade, pela implementação da mensagem libertadora do Evangelho. (Réseaux du Parvis 2018b)

Entende-se que a principal referência das posições defendidas neste documento é a ideia da “Igreja como Povo de Deus” forjada nos marcos do Concílio Vaticano II e que foi abandonada no papado de João Paulo II e refutada por Bento XVI.

Outro exemplo encontrado no trabalho de campo: o comunicado de imprensa de 2019 sobre a Catedral de Notre Dame, em Paris, intitulado “Será que salvar Notre Dame... seria um assunto para os católicos e os ricos?” (Réseaux du Parvis 2019aRÉSEAUX DU PARVIS. (2019a), Sauver Notre Dame… serait-il l’affaire des cathos et des riches? [Communiqué]. Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/wp-content/uploads/bsk-pdf-manager/2019-04-18_233.pdf . Acesso em: 18/06/2019.
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), na qual a Federação critica a postura da instituição em relação a sua relação com os mais abastados: “Na reconstrução de uma catedral, como na reconstrução da Igreja, a nostalgia do cristianismo triunfante e o paternalismo dos grandes deste mundo não pode servir de modelo”. Parvis chama a atenção da Igreja no sentido de evitar “a ilusão de restaurar o passado”, para “fazer como Jesus” e para “se conectar com os homens e mulheres do nosso tempo”. Entende-se que o documento demonstra um sincero espírito de abertura e diálogo com a modernidade, em conformidade com a perspectiva defendida por Jean Paul Willaime (2017WILLAIME, Jean-Paul. (2017), “Religion in Ultramodernity”. In: J. Beckford,; J. Walliss (org.). Theorising religion: classical and contemporary debates. Nova Iorque: Routledge.) de a religião atuar muitas vezes como recurso simbólico com posição crítica à realidade social.

O tema deste artigo, uma federação articulada em rede composta por leigos e leigas engajados, é um exemplo sobre o qual Hervieu-Léger trata da crescente informalidade da sociabilidade católica com uma cultura de negociação com a instituição e de cooperação entre os fiéis. A autora confirma que “[...] os padres 'abertos' [progressistas] há muito que encorajam a 'corresponsabilidade' dos leigos e a sua iniciativa autónoma” (Hervieu-Léger 2003:293). A Federação Réseaux du Parvis articula uma outra sociabilidade no qual, em conformidade com o que afirma a autora de Catholicisme, la fin d'un monde, “a identidade recebida na instituição já não comanda o compromisso do indivíduo” (Hervieu-Léger 2003:314), visto que é a partir do próprio compromisso pessoal que a identidade é recebida.

Os participantes dessa Federação têm construído novas formas de institucionalização religiosa. Hervieu-Léger mostra que, nos círculos católicos de hoje, o regime de institucionalidade está sendo radicalmente transformado e que a relação entre a concepção da verdade, a administração da autoridade e a socialização dos indivíduos está se desarticulando. Ela discorre sobre a transformação da Igreja de uma “instituição de identificação” para uma “instituição de serviços”, da qual os próprios fiéis constituem a modalidade do seu registro na instituição católica (Hervieu-Léger 2003:327).

No seu documento de apresentação, a Federação afirma: “Católicos de mente aberta, protestantes liberais, somos alguns milhares de cristãos - dentro de cerca de quarenta associações francesas - agrupados desde 1999 por Reseaux du Parvis, uma passagem de abertura entre o mundo interior e o exterior; é um espaço de encontros, debates e inovações” (Réseaux du Parvis 2018a). Nota-se que eles usam as palavras “abertura” e “aberta” para se apresentar e se reconhecer vivendo em uma sociedade secularizada e laica.

A estrutura da Federação é horizontal, porque segundo ela mesma “estamos todos à mesma altura”. No entanto, é possível encontrar nela uma hierarquia de serviços, que é definida por um estatuto e inclui um conselho de administração com um presidente e um tesoureiro. A Federação necessita dessa estrutura para organizar suas atividades - conforme informa o presidente Georges Heichelbech à época23 23 Entrevista com Georges Heichelbech, Paris, 13/04/2019. em uma entrevista - que incluem “intercâmbios sobre um tema, conferências, colóquios, mesas redondas, atividades de serviço, shows, festas, cafés, partilha do evangelho, celebrações etc.”.

A Federação tem cinco objetivos principais (Réseaux du Parvis 2018a). O primeiro é “promover e dinamizar a rede de associações e grupos cristãos que tentam viver o Evangelho na cultura laica e secularizada contemporânea”. Essa é a razão fundamental da existência da Federação, que procura reunir os grupos do catolicismo de esquerda na França. O segundo objetivo é “promover as práticas democráticas nas Igrejas e na sociedade”. Isso significa que a organização, de todas as associações, tem como objetivo uma ação coordenada na perspectiva desse estilo católico. Assim, entende-se que a Federação pretende lutar na instituição contra a hierarquia, ou pelo menos resistir a um catolicismo oficial e tridentino. O terceiro elemento consiste em “expressar a diversidade dos rostos das Igrejas: pluralismo, corresponsabilidade e paridade de gênero”. Aqui se encontra o elemento mais característico da prática dos militantes du Parvis: a militância feminista - que não é comum entre os católicos na França. Por exemplo, a primeira presidente da Federação, Annie Barbay,24 24 Entrevista com Annie Barbay, Paris, 13/04/2019. tem trabalhado insistentemente sobre o tema da igualdade de gênero na Igreja. Essa perspectiva é confirmada no documento que conta a história da rede: “[...] pretende promover práticas democráticas que respeitem a diversidade e a parceria igualitária entre homens e mulheres”. O quarto objetivo é “trabalhar a serviço do Evangelho com as riquezas de todas as Igrejas, numa verdadeira partilha ecuménica”. A Federação está aberta aos grupos cristãos, especialmente do lado progressista protestante, mesmo que a maioria das associações participantes sejam de origem católica. O último elemento especificado pela Federação é “dar maior visibilidade à rede de associações que a compõem e representar esta rede no exterior”. Eles trabalham para a divulgação das atividades e das posições das associações afiliadas.

Os membros da Federação consideram-se, dessa forma, leigos e religiosos que aceitam a sociedade secularizada e defendem a laicidade do Estado. São, portanto, cristãos secularizados, isto é, cristãos laicos.

Leigos e laicos

Uma parte significativa dos católicos na França optou por se organizar fora das paróquias, que se encontram em crise do ponto de vista da lógica organizacional no catolicismo. A maior parte é composta pelos católicos abertos à modernidade, ou seja, católicos de esquerda. Estes estão organizados em rede e de forma mais democrática do que a Igreja como um todo. Em geral, suas organizações são construídas ao lado ou à margem das dioceses para terem mais autonomia em face da autoridade dos bispos, ou para se oporem à hierarquia.

A Federação Réseaux du Parvis, por exemplo, foi organizada devido ao fato de Roma ter excluído de sua diocese o bispo francês Jacques Gaillot (Partenia 20--PARTENIA. (20--), Sans frontières: chemin de vie, une belle aventure. Disponível em: Disponível em: https://www.partenia.org . Acesso em: 5/05/2019.
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). Antes da formação da Federação, foram criadas algumas associações para defendê-lo, denunciar e lutar contra a ação percebida como autoritária do Papa João Paulo II, que, em 1995, dispensou o bispo de suas funções na diocese de Evreux, interior da França. Gaillot é considerado “o modelo utópico de um bispo que os católicos de esquerda têm imaginado desde o Vaticano II” (Schlegel 2012SCHLEGEL, Jean-Louis. (2012), “Vers la fin d’une parenthèse ?”. In: D. Pelletier, J. Schlegel (dir.). À la gauche du Christ: les chrétiens de gauche en France de 1945 à nos jours. Paris: Éditions du Seuil .:558).

A Assembleia Constituinte da Federação realizou-se em Paris, no dia 6 de fevereiro de 1999, com 14 associações. Atualmente reúne em torno de 40 associações locais, regionais ou nacionais, que estão em busca de outras faces da Igreja, conforme o slogan da Federação. Na análise das edições da revista Les Réseaux des Parvis observou-se que o número de associações variou muito ao longo dos 20 anos de existência da Federação. Por exemplo, no momento da conclusão do trabalho de campo para a produção deste artigo, foram encontrados 39 grupos associados.

A Federação também conta com a participação de ativistas que não estão numa associação participante da rede, mas são alimentados pela mesma lógica das associações, uma perspectiva que “[...] encontra suas raízes no espírito do Vaticano II e do choque de maio de 68...” (Les Réseaux des Parvis 2011:9). É um agrupamento chamado Les Amis du Parvis - uma estrutura flexível diretamente ligada à Federação por meio de um coletivo que conta com cerca de trinta membros.

Réseaux du Parvis pode ser encontrada no endereço histórico da esquerda católica francesa, na 68 rue de Babylone, em Paris - é o endereço atual da editora Temps Présent. A Federação conta com a colaboração de grupos católicos, como as revistas Témoignage Chrétien (Paris) e Golias (Lyon). A Federação, cujas associações constituintes organizam o Observatório Cristão da Laicidade, forma um “movimento diversificado” que se une pelo desejo dos leigos e leigas de viver o Evangelho no acolhimento da sociedade secularizada e laicizada.

A Federação é membro de duas redes internacionais, a European Network Church on the Move (EN-RE) e We are Church International (WAC-I), as quais concentram seus interesses nas possibilidades de reformas na instituição da Igreja católica e na justiça social. O EN-RE25 25 EN-RE, Criação, Génese e Evolução da Igreja em Movimento da Rede Europeia, 2010. Disponível em: www.en-re.eu. Acesso em: 20/06/2019. (nascido em 1991) é a “convergência espontânea de organizações - associações, comunidades, grupos e redes informais - de cristãos predominantemente católicos na Europa”. WAC-I26 26 Disponível em: https://www.we-are-church.org/413/index.php. Acesso em: 20/06/2019. (fundada em 1996) é “uma rede de grupos independentes e autônomos, cada um representando uma outra cultura na qual os cristãos católicos se esforçam por viver a mensagem de Jesus Cristo”. Essas redes são iniciativas de católicos dispostos a dialogar com a modernidade, alguns dos quais são altamente críticos em relação à hierarquia católica, especialmente a liderança da Igreja por Roma. Pode-se encontrar, por exemplo, muitas críticas à postura da instituição diante da crise ligada à denúncia de atos de pedofilia entre os sacerdotes.

A Assembleia Geral da Federação de 2018 aconteceu em Saint-Jacut-de-la-Mer, nas Côtes d'Armor, com a presença de 51 pessoas representando as associações. Em 2019, a Federação celebrou os seus 20 anos de existência em uma Assembleia Geral em La Clarté-Dieu, em Orsay.

Considerou-se os temas das últimas doze Assembleias Gerais Anuais, de 2008 a 2019, para confirmar a perspectiva de abertura à secularização da Federação e para evidenciar os elementos de esquerda em suas perspectivas. O tema de 2008 foi “Resistir ao que, como, com quem”, para pensar nas estratégias de ação de todas as associações. Em 2009, com o tema “Juntos ativos e criativos”, a Assembleia pensou sobre as ações coletivas da Federação. Os seus encontros tentaram coordenar a instituição para levar a cabo ações mais eficazes. As assembleias de 2010 e 2011 pensaram no futuro de acordo com a abordagem cristã com os temas “O tempo chegou...” e “Sinais de Esperança em um Mundo em Ruptura”. Nos anos 2012 a 2015 foi o momento de pensar a Igreja na sociedade com base no legado do Vaticano II, com os temas “Para além do Vaticano II, viver os desafios de hoje de forma evangélica...”, “Humanizar o mundo para além das religiões”, “Proximidade, solidariedade, conflitos, rupturas, medos, diferenças, exclusões...”, “Quem é o meu próximo numa sociedade multicultural?” e “O Evangelho du Parvis, cristãos no século XXI, rumo a um evento internacional 'Concílio 50'”. Em 2016 e 2017, a Federação estava redescobrindo e redimensionando sua espiritualidade com os temas “Naufrágio Feliz... O Evangelho Reavivado” e “Partir da vida para fazer dela um caminho de fé. Que rostos de Jesus e Deus encontramos? Que evangelhos estamos a escrever?”. O ano de 2018 foi usado para pensar em ação na sociedade: “Que tipo de sociedade queremos construir com os outros?”. E em 2019, com a comemoração dos 20 anos do Parvis, foi o momento de pensar na sua trajetória com o tema “Testemunhas de passagem(s), passagem de testemunhas...”.

Pode-se encontrar nos comunicados públicos da Federação Réseaux du Parvis elementos importantes para compreender a sua perspectiva para a Igreja e a sociedade. Ao analisar alguns dos comunicados publicados nos últimos anos, nota-se que, embora os principais comunicados tratem de temas eclesiásticos, a Federação participa dos principais debates públicos na França sobre religião e sobre as situações extremamente tensas vividas pela sociedade francesa. Por exemplo, houve comunicados sobre o incêndio de Notre Dame, em 2019, já citado neste artigo; o ataque ao jornal Charlie Hebdo, em janeiro de 2015; e a série de ataques em Paris e Saint-Denis, em novembro de 2015.

Alguns comunicados de imprensa referem-se à política francesa. Nas eleições de 2017, há um documento publicado antes do primeiro turno das eleições presidenciais que convida os católicos a participar de uma atividade de setores progressistas da Igreja para discutir com a população as 15 propostas apresentadas aos candidatos. E, no segundo turno, para evitar que a extrema direita (Marine Le Pen) chegasse ao poder, a Federação lançou um apelo para votar em Macron com o título “Domingo 7 de maio, sem hesitação, vamos votar em Emmanuel Macron”. Há também comunicados de imprensa que tratam da questão da Palestina e dos refugiados.

Em geral, as declarações públicas e os comunicados de imprensa dizem respeito a temas da Igreja - especialmente para a crise relacionada às denúncias de pedofilia - e às questões de bioética e casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em 2018, Parvis lançou um apelo intitulado “Debate Republicano sobre Questões Bioéticas” com o subtítulo “Nós somos católicos, mas o nosso pensamento permanece livre”, em que toma uma posição contra as “declarações das autoridades hierárquicas da fé católica e certos lobbies fundamentalistas” (Réseaux du Parvis 2018cRESEAUX DU PARVIS. (2018c), Débat républicain sur les questions de bioéthique. Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/2018/03/19/communique-des-reseaux-du-parvis-sur-la-bioethique/ . Acesso em: 5/06/2019.
http://www.reseaux-parvis.fr/2018/03/19/...
) em defesa das novas configurações familiares. Por ocasião da aprovação da lei intitulada Casamento para todos (Mariage par tous), há um comunicado em sua defesa proposto pelo Governo de François Hollande em 2013.

A questão da pedofilia tem sido objeto de vários comunicados de imprensa nos últimos anos. Em 2018, foi lançado um apelo ao Papa Francisco pedindo que a instituição tomasse uma posição a respeito das denúncias de padres pedófilos; e, em 2019, um comunicado de imprensa que afirma que a Igreja Católica aparece à população como uma “máfia criminosa” e que a instituição deve agir: “Nenhuma justiça excepcional pode ser tolerada diante destas abominações: os culpados que ainda estão vivos e aqueles que os encobriram devem ser levados à justiça civil, como qualquer outro cidadão” (Réseaux du Parvis 2019bRESEAUX DU PARVIS. (2019b), Actes pédophiles, viols de religieuses: la responsabilité révoltante de l’institution catholique. Disponível em: Disponível em: http://www.reseaux-parvis.fr/2019/03/10/actes-pedophiles-viols-de-religieuses-la-responsabilite-revoltante-de-linstitution-catholique/ Acesso em: 5/06/2019.
http://www.reseaux-parvis.fr/2019/03/10/...
), defende o comunicado.

Em suma, pode-se encontrar várias declarações públicas e comunicados de imprensa que criticam a hierarquia, para promover uma Igreja mais democrática e igualitária e fiel às ideias do Concílio Vaticano II, especialmente na perspectiva de uma Igreja como Povo de Deus. Os comunicados são mecanismos de difusão da lógica cristã vivida pelas associações federadas em Réseaux du Parvis. Seus leigos católicos mostram sua maneira laica de se tornar cristãos em uma sociedade caracterizada pela presença de novas formas de religiosidade e pela crise das instituições tradicionais. A maioria deles defende posições de abertura à modernidade e à esquerda do clero.

Considerações finais

A Federação Réseaux du Parvis é constituída por leigos de postura laica, ou seja, é uma rede de associações que almeja uma Igreja aberta ao mundo e à modernidade. São cristãos, especialmente católicos, que estão predominantemente à margem da Igreja institucional. As associações federadas entendem que procuram viver a palavra do Evangelho na sociedade, porque estão abertas à modernidade e carregam uma crítica de esquerda sobre a hierarquia católica.

Entretanto é um catolicismo realmente de esquerda que é encontrado na Federação? Majoritariamente, sim. Certamente, no campo da questão eclesial, os leigos da Federação examinada são de esquerda e estão até mesmo fora ou à margem da instituição. É necessário, no entanto, estudar outros aspectos da Federação para se ter a certeza das suas posições de esquerda na sociedade. Encontrou-se várias posições políticas, diferentes posições em relação aos Gillets Jeunes (importante movimento social articulado em 2018/2019 na França) e até se encontrou no campo membros da rede que votaram em Macron já no primeiro turno das eleições presidenciais de 2017. No entanto, entende-se que esses católicos estão abertos à modernidade, que se preocupam com os pobres, com as identidades marginalizadas (mulheres e comunidade LGBTQIA+) e com a situação ambiental, e que aspiram a uma outra sociedade, diferente da sociedade contemporânea. Essa realidade corrobora o que foi dito anteriormente a respeito da dialética entre catolicismo e modernidade.

Observa-se que o tema do desaparecimento da esquerda católica é recorrente entre os intelectuais e especialistas em religião na França. A questão das razões para essa queda, ou pelo menos o refluxo, também está muito presente na literatura sociológica francesa. No entanto, deve-se entender que a cultura católica na França ainda está ligada às forças políticas de direita e que o lado católico portador de valores de esquerda sempre foi uma minoria na Igreja católica. Esse é um fenômeno de grupo que ainda é limitado, mas sempre foi pequena a presença católica de esquerda no país. De fato, no passado houve melhores condições de articulação dentro da Igreja em comparação com os dias atuais. Compreende-se que, nos anos 1940, esse estilo católico gozou de reconhecimento público pela sua luta pela libertação da França, e que nos anos 1960 se manteve como uma minoria influente na Igreja e na sociedade. Também deve ser notado que a ação humanitária dos católicos de esquerda se tornou muito midiática nos anos 1980, mas hoje eles desapareceram dos meios de comunicação. Considerando que a esquerda católica é principalmente um fenômeno urbano e que suas instituições estão muito presentes em Paris, a região menos católica da França, entende-se que é possível que o catolicismo de esquerda tenha enfraquecido, porém ainda está vivo, sendo uma minoria assim como no passado. No entanto, devido à opção pela luta eclesial, elas são hoje menos visíveis na sociedade e nos meios de comunicação social.

Também é necessário entender que: a) a perspectiva de abertura à modernidade, com referência a Berger (2017BERGER, Peter L. (2017), Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa época pluralista. Petrópolis: Editora Vozes.), diminui as possibilidades de transmissão dos valores desta corrente; b) o processo de exculturação, com referência à Hervieu-Léger (2003), afeta também este estilo católico com a crise das paróquias (lugares muito fixos), abrindo, em particular, perspectivas de vida comunitária; c) os anos 1980 e 1990, com a nova secularização e as crises da modernidade nas sociedades, afetam também os católicos de esquerda; d) na sociedade francesa, houve um declínio na esquerda em geral desde os anos 1980; e) a Igreja foi muito dura com os católicos de esquerda nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, seguidos pelo Colégio dos Cardeais, na França, que dão preferência aos católicos pertencentes à corrente carismática, mobilizadas atualmente no movimento Manif pour tous, que surge contra a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Portanto, como criticam a instituição, não têm o seu apoio; f) a geração do Vaticano II que está fora, ao lado ou à margem da Igreja, abandona a transmissão do catolicismo e assume uma cultura de esquerda e secular diante dos seus filhos. Alguns até abandonam a referência ao próprio catolicismo, considerando-se somente cristãos.

Em 2013, com o início do pontificado de Francisco, nota-se uma recuperação da esperança de mudança na instituição entre os católicos da esquerda. Encontra-se críticas dirigidas ao Papa Francisco em relação às suas posições sobre questões de gênero e de mulheres, sobre a política de igualdade entre homens e mulheres na Igreja. No entanto, encontra-se também textos que consideram que o Papa está em processo de renovação do ensinamento social na Igreja. No campo, graças a entrevistas e leituras na revista Les Réseaux des Parvis, observa-se que Laudato Si' é uma referência importante para os leigos e leigas, com uma boa recepção hoje em dia na França. Essa encíclica é considerada o fundamento principal da ação dos católicos de esquerda em França. Assim, Roma hoje já não é o inimigo da esquerda católica. Pelo contrário, o Papa tornou-se um aliado nas lutas pela reforma institucional, mesmo que as suas posições sobre questões sociais sejam mais aceites do que sobre questões internas à própria Igreja católica.

Em suma, examinou-se a Federação Réseuax du Parvis, considerando a sua ação e as posições conjuntas das associações em toda a Federação. Este artigo intentou contribuir para fornecer elementos a fim de entender o modo de organização de Réseaux du Parvis, tendo em conta que se trata de uma experiência contemporânea das formas de articulação do catolicismo francês. Não foi possível, no entanto, determinar qual o peso real da Federação para o catolicismo de seu país. Todavia, evidenciou-se que essa associação é uma representação significativa das formas contemporâneas de organização dos católicos na França: organização em rede e de forma horizontal em detrimento da estrutura paroquial verticalizada.

Por fim, compreende-se que, por meio da análise dos cristãos da Federação Réseaux du Parvis, os católicos de abertura que defendem posições de esquerda são pequenos grupos presentes em toda a França, representados por instituições localizadas especialmente em Paris; são muito fragmentados, uma verdadeira nebulosa. São pequenos grupos em conflito interno e contra um inimigo comum: a Igreja institucional. Também se pode dizer que desde os anos 1990, com a crise da esquerda global e a marginalização do pensamento marxista, o capitalismo não é mais designado como inimigo a ser derrotado, embora os ativistas defendam posições contra a economia de mercado. Hoje estão à margem da instituição e organizam-se horizontalmente em associações contra a perspectiva católica cultivada pelo clero, por uma Igreja democrática que respeita as mulheres e está disposta a dialogar com o mundo contemporâneo. O tema da transmissão é uma preocupação dos adeptos da esquerda católica na França, porque esses leigos são de fato a geração de testemunhas do Concílio Vaticano II, são praticamente leigos e leigas sexagenários que tentam manter viva a perspectiva de uma Igreja como Povo de Deus que faz a opção preferencial pelos pobres.

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  • 1
    O artigo apresenta parte dos resultados de pesquisa de pós-doutorado realizado na França, em 2018/2019, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Centre d'Études en Sciences Sociales du Religieux, sob a supervisão de Michael Löwy. Os dados foram coletados por meio de observação sistemática em atividades da federação Réseaux du Parvis, entrevistas com membros da rede, levantamento documental e utilização de informações contidas na revista Les Réseaux des Parvis. Agradeço a Philippe Degrave, Marcelo Camurça, Mathieu Gervais, Allan Coelho, Didier Vanhoutte e João Paulo de Paula Silveira pelos comentários e sugestões.
  • 2
    Todas as citações diretas contidas no texto, com exceção aos trabalhos de Marcelo Camurça, foram traduzidas do francês pelo próprio autor deste artigo.
  • 3
    Entrevista com Didier Vanhoute, Paris, 15/05/2019. Essa entrevista norteou o levantamento dos dados acerca das associações federadas em Réseaux du Parvis.
  • 4
    Disponível em: http://chretiens01recherche.free.fr. Acesso em: 6/09/2019.
  • 5
    Disponível em: http://cer41.blogspot.com. Acesso em: 8/06/2019.
  • 6
    Disponível em: http://croyantsenliberte42.free.fr. Acesso em: 18/06/2019.
  • 7
    A data da criação da associação é desconhecida.
  • 8
    Disponível em: https://rouen.catholique.fr/diocese/vie-consacree/associations-de-fideles/. Acesso em: 19/06/2019.
  • 9
    Disponível em: http://fhedles.fr. Acesso em: 19/06/2019.
  • 10
    Entrevista com JC por e-mail em 28/06/2019. Disponível em: https://plein-jour.eu. Acesso em: 19/06/2019.
  • 11
    Disponível em: http://www.pretresmaries.eu. Acesso em: 19/06/2019. Entrevista com PD por telefone em 21 jun. 2019.
  • 12
    Entrevista com JCG por telefone em 20/06/2019.
  • 13
    Entrevista com Claire Barbay, Paris, 7/06/2019.
  • 14
    Disponível em: http://asso-boquen.fr. Acesso em: 8/06/2019.
  • 15
    Disponível em: https://www.marcel-legaut.org. Acesso em: 7/06/2019.
  • 16
    Disponível em: https://www.cime34.com. Acesso em: 18/06/2019.
  • 17
    Disponível em: http://ctechretienneccc.canalblog.com. Acesso em: 18/06/2019. A data de criação da associação e o local de organização são desconhecidos.
  • 18
    Disponível em: https://angouleme.catholique.fr/Groupe-Croire-en-liberte. Acesso em: 18/06/2019.
  • 19
    Disponível em: http://chretiensorleans.over-blog.com. Acesso em: 7/06/2019.
  • 20
    Journal Ouest France, Solidarité Église Liberté veut soutenir les exclus, 14 abr. 2014JOURNAL OUEST France. (14/04/2014), Solidarité Église Liberté veut soutenir les exclus.. Disponível em: https://sel85.monsite-orange.fr. Acesso em: 19/06/2019.
  • 21
    Celem - Chrétiens et libres en Morbihan, Bulletin nº 50 et 51, out. 2011, jan. 2012CHRETIENS ET LIBRES EN MORBIHAN (CELEM). (10/2011; 1/2012), Bulletin nº 50 et 51..
  • 22
    Disponível em: http://www.cely78.fr. Acesso em: 18/06/2019.
  • 23
    Entrevista com Georges Heichelbech, Paris, 13/04/2019.
  • 24
    Entrevista com Annie Barbay, Paris, 13/04/2019.
  • 25
    EN-RE, Criação, Génese e Evolução da Igreja em Movimento da Rede Europeia, 2010. Disponível em: www.en-re.eu. Acesso em: 20/06/2019.
  • 26
    Disponível em: https://www.we-are-church.org/413/index.php. Acesso em: 20/06/2019.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Set 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    19 Maio 2021
  • Aceito
    02 Dez 2021
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