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Descrição de Austinixa bragantina sp. nov. (Crustacea, Decapoda, Pinnotheridae) do litoral do Pará, Brasil

Description of Austinixa bragantina, sp. nov. (Crustacea, Decapoda, Pinnotheridae) from the coast of Pará State, Brazil

Resumos

É apresentada a descrição de Austinixa bragantina sp. nov., encontrada no litoral paraense em associação com os calianassídeos Lepidophthalmus siriboia Felder & Rodrigues, 1993 and Callichirus major (Say, 1818)

Pinnotherelliinae; Brasil; taxonomia; espécie nova


Austinixa bragantina sp. nov., found in Pará coast associated with the Callianassid Lepidophthalmus siriboia Felder & Rodrigues, 1993 and Callichirus major (Say, 1818), is described.

Pinnotherelliinae; Brazil; taxonomy; new species


Descrição de Austinixa bragantina sp. nov. (Crustacea, Decapoda, Pinnotheridae) do litoral do Pará, Brasil

Description of Austinixa bragantina, sp. nov. (Crustacea, Decapoda, Pinnotheridae) from the coast of Pará State, Brazil

Petrônio A. Coelho

Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco. Cidade Universitária, 56601-910 Recife, Pernambuco, Brasil. Bolsista do CNPq. E-mail: petronio.coelho@bol.com.br

RESUMO

É apresentada a descrição de Austinixa bragantina sp. nov., encontrada no litoral paraense em associação com os calianassídeos Lepidophthalmus siriboia Felder & Rodrigues, 1993 and Callichirus major (Say, 1818)

Palavras chave: Pinnotherelliinae, Brasil, taxonomia, espécie nova.

ABSTRACT

Austinixa bragantinasp. nov., found in Pará coast associated with the Callianassid Lepidophthalmus siriboia Felder & Rodrigues, 1993 and Callichirus major (Say, 1818), is described.

Key words: Pinnotherelliinae, Brazil, taxonomy, new species.

O gênero Austinixa Heard & Manning, 1997 (Pinnotheridae, Pinnotherelliinae) foi erigido por HEARD & MANNING (1997) para abrigar oito espécies, sete delas anteriormente colocadas no gênero Pinnixa White, 1846: P. cristata Rathbun, 1900 (a espécie tipo do gênero), P. aidae Righi, 1967, P. behreae Manning & Felder, 1989, P. chacei Wass, 1955, P. felipensis Glassell, 1935, P. gorei Manning & Felder, 1989 e P. patagoniensis Rathbun, 1918, além de Austinixa hardyi Heard & Manning, 1997, descrita naquela publicação. A estas deve ser acrescentada A. leptodactyla (Coelho, 1997), igualmente descrita originariamente no gênero Pinnixa. Dessas, apenas três espécies são conhecidas do Brasil: A. aidae, A. leptodactyla e A. patagoniensis. Apesar disto, COELHO (1967), COELHO & RAMOS (1972) e COELHO & COELHO-SANTOS (1991) se referiram a espécimes identificados como Pinnixa ( = Austinixa) cristata provenientes do Amapá, Rio Grande do Norte e Pernambuco, cuja identificação foi corrigida para P. aidae ( = A. aidae) por COELHO (1997). Embora a citação de A. cristata tenha sido repetida por MELO (1996, 1998), esta espécie, no momento, deveria ser retirada da lista da fauna brasileira (COELHO 1997).

Estudando o desenvolvimento larvar de alguns crustáceos da costa do Pará, Jô de Faria Lima encontrou uma espécie de Austinixa, identificada provisoriamente como A. cristata, da qual alguns exemplares foram enviados ao Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco para confirmar a identificação. O exame de alguns espécimes mostrou que se tratava de uma espécie desconhecida, que é descrita no presente trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado foi obtido por coletas realizadas na Ilha Canela, situada nas proximidades de Bragança, Pará, cujas coordenadas geográficas são 00º47'06"S, 46º43'41"W. Amostras e Holótipo da espécie estão depositadas na Coleção Carcinológica do Departamento de Oceanografia, universidade Federal de Pernambuco, Recife (DOCEAN).

A descrição da espécie segue os critérios adotados por COELHO (1997).

RESULTADOS

Austinixa bragantina sp. nov.

Figs 1-17



Localidade tipo – Ilha Canela, Bragança, Pará, 00º47'06"S, 46º43'41"W.

Holótipo. Exemplar macho, coletado em 25.04.04, DOCEAN #13410.

Parátipos. Cinco machos e cinco fêmeas coletados na mesma localidade em 05.06.04, DOCEAN #13411.

Outro material. Três machos e quatro fêmeas, Ilha Canela, Bragança, Pará, coletados em 2003, DOCEAN #13412.

Diagnose. Carenas branquiais não atingindo as órbitas; quelípedes com dátilos bem desenvolvidos nos dois sexos; quartos pereiópodos desprovidos de carenas ou depressões.

Descrição. Carapaça (Figs 1-4) de largura pouco superior ao duplo do comprimento, pubescente nos ângulos externos; uma carena elevada, aguda, quase retilínea, se estendendo sem interrupção na região cardíaca, paralela à margem posterior da carapaça; anteriormente, uma área coberta por pilosidade aveludada, quase totalmente interrompida na porção mediana da carapaça. Regiões branquiais com carena iniciando um pouco após a porção mais larga da carapaça e continuando em direção às órbitas, sem alcança-las. Fronte, vista anteriormente, com um sulco mediano, porém, retilínea em vista dorsal. Órbitas maiores que a metade da fronte, com a margem formando carena aguda. Antenas maiores que o duplo da largura da fronte.

Terceiros maxilípedes (Fig. 5) com mero de margem externa quase reta, arredondada distalmente, comprimento maior que o dobro da largura; dátilo atingindo além do meio do mero e inserido junto á base do propódio.

Quelípedes fortes (Figs 6-9). Palma com margem superior convexa longitudinalmente, com uma carena dorsal; margem inferior longitudinalmente convexa na metade basal e côncava na metade distal. Superfície externa da palma lisa; superfície interna com uma faixa de pelos grandes recobrindo, parcialmente, a metade inferior. Dátilo de comprimento pouco inferior ao comprimento dorsal da palma, muito arqueado; pólex menor que a metade do comprimento dorsal da palma, triangular, pouco arqueado. Hiato grande entre o dátilo e o pólex, preenchido por pelos na sua porção basal, deixando ver alguns dentes nos dedos situados perto da porção mediana do hiato; os pelos do hiato não têm relação com aqueles da superfície interna da palma.

Segundos pereiópodos (Fig. 10) atingindo o propódio dos terceiros; terceiros pereiópodos (Fig. 11) atingindo a metade do dátilo dos quartos; comprimento dos quartos pereiópodos (Fig. 12) cerca de 1,5 vez a maior largura da carapaça; quintos pereiópodos (Fig. 13) atingindo a extremidade distal do mero dos quartos pereiópodos. Todos os pereiópodos com uma fileira de cerdas pinadas nas margens inferior e superior; além disto, margem inferior do mero dos quartos pereiópodos recoberta de pilosidade aveludada (Fig. 12). Dátilo de todos os pereiópodos com face inferior limitada por carenas.

Dimensões (mm). Holótipo macho: comprimento 2,4 e largura 5,6. Maior exemplar examinado, uma fêmea: comprimento 4,0 e largura 8,5.

Etimologia. "Bragantina" é um adjetivo feminino significando habitante ou natural da cidade de Bragança e concorda com Austinixa, cujo gênero gramatical, segundo HEARD & MANNING (1997), é feminino.

Comentários. Austinixa bragantina difere de A. aidae, A. gorei e A. hardyi pela presença de carenas branquiais e se assemelha a A. leptodactyla pelas carenas branquiais não atingindo as órbitas e pelo pólex forte nos dois sexos. A. bragantina pode ser separada de A. leptodactyla pela carapaça mais estreita e pela morfologia dos quartos pereiópodos que, em A. leptodactyla são muito característicos (vide COELHO 1997, fig. 5 e-f).

Austinixa bragantina é conhecida, até o momento, apenas da localidade tipo, onde foi encontrada vivendo em galerias dos Callianassidae Lepidophthalmus siriboia Felder & Rodrigues, 1993 e Callichirus major (Say, 1818). Assim, é considerada como fazendo parte da fauna da Província Guianense, embora novas coletas certamente irão ampliar sua área de ocorrência.

Chave para identificação das espécies de Austinixa encontradas no Brasil

1. Carapaça desprovida de carenas branquiais; pólex bem desenvolvido em ambos os sexos; quintos pereiópodos fortes .................................................... A. aidae 1'. Carapaça provida de carenas branquiais ..................................................... 2

2. Carenas branquiais atingindo as órbitas; pólex forte apenas nas fêmeas; quintos pereiópodos fortes ................................................... A. patagoniensis

2'. Carenas branquiais não atingindo as órbitas; pólex forte em ambos os sexos; quintos pereiópodos fracos ..................................................................... 3 3. Carapaça de largura aproximadamente igual ao triplo do seu comprimento; quartos pereiópodos com o mero inflado e com uma depressão onde podem ser alojados os quintos pereiópodos ............................................ A. leptodactyla 3'. Carapaça de largura pouco maior que o duplo do seu comprimento; quartos pereiópodos com mero desprovido de depressões ou elevações....................... ......................................................................................... A. bragantina

AGRADECIMENTOS

O autor agradece a Jô de Faria Lima o envio do material para estudo e a confecção dos desenhos dos exemplares que serviram de base para a descrição da espécie.

Recebido em 13.IX.2004; aceito em 14.VI.2005.

  • COELHO, P.A. 1967. A distribuição dos crustáceos decápodos reptantes do Norte do Brasil. Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 9/11: 223-238. [1969]
  • COELHO, P.A. 1997. Revisão do gênero Pinnixa White, 1846, no Brasil. (Crustacea, Decapoda, Pinnotheridae). Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 25: 163-193.
  • COELHO, P.A. & M.A. COELHO-SANTOS. 1991. A família Callianassidae no litoral do Estado de Pernambuco. Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 22: 243-257. [1993]
  • COELHO, P.A. & M.A. RAMOS. 1972. A constituição e a distribuição da fauna de decápodos do litoral leste da América do Sul entre as latitudes de 5ºN e 39ºS. Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 13: 133-236.
  • HEARD, W.R. & R.B. MANNING. 1997. Austinixa, a new genus of pinnotherid crab (Crustacea: Decapoda: Brachyura), with the description of A. hardyi, a new species from Tobago, West Indies. Proceedings of the Biological Society of Washington, Washington, 110 (3): 393-398.
  • MELO, G.A.S. 1996. Manual de identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo, Editora Plêiade, FAPESP, 603p.
  • MELO, G.A.S. 1998. Malacostraca – Eucarida. Brachyura. Oxyrhyncha and Brachyrhyncha, p. 455-515. In: P.S. YOUNG (Ed.). Catalogue of Crustacea of Brazil. Rio de Janeiro, Museu Nacional, 717p.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Out 2005
    • Data do Fascículo
      Set 2005

    Histórico

    • Recebido
      13 Set 2004
    • Aceito
      14 Jun 2005
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