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A Deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano no Discurso de Benjamin Netanyahu* * Artigo recebido em 19 de novembro de 2014 e aprovado para publicação em 10 de abril de 2015.

The Delegitimization of the Iranian Nuclear Program in Benjamin Netanyahu's Speech

Resumo

O Programa Nuclear Iraniano, durante os últimos anos, vem gerando grande controvérsia na comunidade internacional, sendo o Estado de Israel um dos grandes opositores do referido programa. Dito isso, o artigo procura analisar como ocorre o processo de deslegitimação desta política nacional iraniana dentro dos discursos do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Como arcabouço teórico, empregaremos os conceitos pós-modernistas de identidade, política externa e segurança, conforme preconizados por Campbell (1992) e Hansen (2006). Paralelamente, utilizaremos as metodologias oriundas da análise crítica do discurso de Thompson (2007) e Reyes (2006; 2008; 2011). Concluímos pontuando que a representação da identidade pacífica israelense em oposição a uma identidade iraniana ameaçadora constitui o eixo principal para a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano.

Contencioso Nuclear Iraniano; Israel; Pós-Modernismo; Análise Crítica do Discurso

Abstract

The Iranian Nuclear Program in recent years has generated much controversy in the international community, and the State of Israel is one major opponents of the program. That said, the article seeks to analyze how the process of delegitimization of this Iranian national policy within the discourses of the Israeli Prime Minister, Benjamin Netanyahu occurs. As a theoretical framework, we will employ postmodernist concepts of identity, security foreign policy as advocated by Campbell (1992) and Hansen (2006). In parallel we will use the methodologies from the Critical Discourse Analysis of Thompson (2007) and Reyes (2006; 2008; 2011). We conclude that the representation of peaceful Israeli identity as opposed to a threatening Iranian identity is the main shaft to the delegitimization of the Iranian Nuclear Program.

Nuclear Iran Contentious; Israel; Postmodernism; Critical Discourse Analysis

Introdução

O contencioso referente ao Programa Nuclear Iraniano vem ao longo dos anos opondo as potências ocidentais ao regime persa. Neste imbróglio, o posicionamento mais crítico vem de Israel, que sistematicamente procura deslegitimar o Programa Nuclear Iraniano, ao acusá-lo de ser apenas um meio para a obtenção de armas de destruição em massa. Em termos acadêmicos, esta questão envolvendo o Irã, em razão de sua grande relevância para as dinâmicas regionais e globais das Relações Internacionais, vendo sendo objeto de diversos estudos, sobretudo a partir de visões mais tradicionais, relacionadas ao realismo.

Este trabalho, porém, busca apresentar ao tema um olhar diferenciado. A partir da contribuição pós-moderna e da análise crítica do discurso, direcionaremos nosso foco analítico para o modo como Israel, na pessoa de seu atual primeiro-ministro, procura, discursivamente, deslegitimar o Programa Nuclear Iraniano. Desta forma, procuraremos evidenciar como Netanyahu busca convencer a comunidade internacional de que a referida política iraniana não é digna de apoio.

Nesse sentido, o presente trabalho tem como problema de pesquisa examinar como ocorre a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano dentro dos discursos de Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU entre 2009ONU - Organização das Nações Unidas. General Debate of the 64th Session. Statement by H.E. Mr. Benjamin Netanyahu. 2009. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/64/generaldebate/pdf/IL_en.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2014.
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e 2013. Procuraremos, assim, identificar e analisar quais são os recursos discursivos utilizados pelo líder israelense para esse fim. Para responder nosso problema de pesquisa, nos valeremos dos conceitos de representação de realidade e de dicotomias do pós-modernismo das Relações Internacionais, sobretudo a inter-relação entre identidade, política externa e discursos de segurança, conforme exposto por Campbell (1992)CAMPBELL, David. Writing Security: United States Foreign Policy and the Politics of Identity. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1992. e Hansen (2006)HANSEN, Lene. Security as Practice: Discourse Analysis and the Bosnian War. Londres: Routledge, 2006.. De forma complementar, empregaremos as metodologias de análise crítica do discurso de Thompson (2007)THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2007. e Reyes (2006;REYES, Antonio. Speeches and Declarations: A War of Words. Revista Alicantina de Estudios Ingleses, n. 19, p. 365-386, 2006. 2008; 2011) para melhor evidenciar o processo de deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano por Netanyahu.

Em termos estruturais, o presente trabalho apresenta, além desta introdução, algumas considerações sobre o nosso arcabouço teórico (pós-modernismo) e a respeito de nossa metodologia (análise crítica do discurso). Posteriormente, nossa análise vai ao encontro da ordem cronológica dos discursos de Netanyahu na Assembleia Geral da ONU entre 2009 e 2013.1 1 .O discurso de 2010 foi excluído de nossa análise, pois não foi proferido por Netanyahu, mas sim pelo seu então vice-primeiro-ministro, Avigdor Liberman. Concluímos demonstrando que a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano por Netanyahu ocorre, sobretudo, pela representação da identidade pacífica israelense em oposição a uma identidade iraniana ameaçadora, instrumentalizada em constantes demonizações do outro, associações do Irã com atores/eventos de caráter negativo ao Ocidente e suposições futuras a respeito da má intencionalidade nuclear iraniana.

Identidade, Discurso e Política Externa para o Pós-Modernismo

A abordagem do pós-modernismo vem se destacando nas Relações Internacionais desde os anos 1980 por uma visão crítica e alternativa ao mainstream da disciplina. Esta visão concebe criticamente a linguagem e o discurso como meios de representação da realidade. Para Shapiro (1989)SHAPIRO, Michael. Language and Political Understanding: The Politics of Discursive Practices. New Haven: Yale University Press, 1981., as realidades são mediadas por modos de representação, e representações não são descrições factíveis do mundo, mas sim modos de criar fatos. Assim, assume-se que a realidade em si não existe, havendo apenas representações particulares da mesma, que ganham significado a partir da linguagem. Ainda segundo Shapiro (1981), a linguagem não é uma ferramenta transparente funcionando como um meio para o registro de dados ao positivista, mas sim um campo de prática social e política, e, portanto, não há nenhum objetivo ou "verdadeiro significado" além da representação linguística a que se pode referir.

Esta representação da realidade, para os pós-modernos, esconde discursos dominantes, que por sua vez mascaram relações de poder entre os atores do sistema internacional. Para Der Derian (1989)DER DERIAN, J. The Boundaries of Knowledge and Power in International Relations. In: ______; SHAPIRO, M. (Ed.). International/Intertextual Relations: Postmodern Readings in World Politics. Lexington: Lexington Books, 1989., a abordagem pós-moderna possui como estratégia desconstruir ou desnaturalizar por meio de uma detalhada interpretação as linguagens, conceitos e textos que têm constituído os discursos privilegiados nas Relações Internacionais. Estes discursos como construtores de realidades têm a função de legitimar as ações e os interesses dos grupos e atores mais influentes nas Relações Internacionais. Este discurso privilegiado, no âmbito de nosso trabalho, vem a ser justamente o discurso ocidental contra o Programa Nuclear Iraniano.

Os discursos privilegiados são, em grande parte, articulados por meio da construção da identidade dos atores em oposição à identidade de atores externos. Para Hansen (2006, p. 1), "a relação entre identidade e política externa está no centro da agenda de pesquisa pós-estruturalista: a política externa depende de representações de identidade, mas também é por meio da formulação da política externa que as identidades são produzidas e reproduzidas".

Estas identidades serão construídas e reconstruídas a partir da criação de fronteiras entre a identidade estatal e o outro estrangeiro (CAMPBELL, 1992). Neste processo, criam-se antagonismos entre diferentes atores. Ainda segundo Campbell (1992), a política externa como sendo práticas de diferenciação implica em todos os confrontos entre o eu e o outro, abraçando ambas as valências positivas e negativas. Estas diferenciações serão responsáveis pela edificação dos discursos de segurança, em que o outro é sempre visto como uma ameaça ao eu (como ocorre na relação dicotômica entre Israel e Irã segundo Netanyahu).

A Análise Crítica do Discurso e sua Contribuição para as Relações Internacionais

Dentro dos estudos linguísticos, a corrente conhecida como análise crítica do discurso procura fornecer um olhar crítico para as relações sociais e de poder inseridas no contexto discursivo. Segundo Weiss e Wodak (2003WEISS, Gilbert; WODAK, Ruth (Org.). Critical Discourse Analysis: Theory and Interdisciplinarity. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2003., p. 15), "a análise crítica do discurso está fundamentalmente interessada em analisar as relações (opacas e transparentes) de dominação, discriminação, poder e controle que se manifestam na linguagem". Para Fairclough (1989)FAIRCLOUGH, Norman. Language and Power. Nova York: Longman, 1989., devemos nos atentar tanto para a conscientização dos efeitos sociais do discurso, quanto para a necessidade de superarmos estas relações assimétricas, que são sustentadas pelos discursos. Desta forma, a análise crítica do discurso procura enfatizar o caráter ideológico dos discursos. De acordo com Fairclough (1989, p. 85), a ideologia é

[...] mais efetiva quando sua ação é menos visível. Se alguém se torna consciente de que um determinado aspecto do senso comum sustenta desigualdades de poder em detrimento de si próprio, aquele aspecto deixa de ser senso comum e pode perder a potencialidade de sustentar desigualdades de poder, isto é, de funcionar ideologicamente.

Em sua contribuição para a análise crítica do discurso, John Thompson (2007) igualmente procura entender como ocorre a operação da ideologia por meio do discurso. O autor compreende a ideologia como um sistema de crenças, ou formas e práticas simbólicas que são empregadas a fim de estabelecer e sustentar relações de dominação. Neste viés crítico do termo ideologia, Thompson (2007, p. 79) concede grande importância para as formas simbólicas, presentes e construídas nos discursos:

[...] por formas simbólicas, eu entendo um amplo espectro de ações e falas, imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros, como construtos significativos. Falas linguísticas e expressões, sejam elas faladas ou escritas, são cruciais a este respeito.

Tendo como base estas formas simbólicas, Thompson procurará identificar como ocorrerá a operação da ideologia nos discursos. Para Fairclough (2003), ideologias são, em princípio, representações, mas podem ser legitimadas em maneiras de ação social e inculcadas nas identidades de agentes sociais.

Como foi dito, esta ideologia terá o papel de potencializar relações de dominação, o que no presente trabalho se reflete no discurso hegemônico de condenação do Programa Nuclear Iraniano. De modo a melhor identificar esta ação da ideologia, Thompson (2007) propõe o arcabouço metodológico conforme esquematizado no Quadro 1.

Quadro 1

Outra contribuição metodológica interessante para o estudo dos discursos políticos é a proposta por Antonio Reyes (2011). O autor procura entender como ocorre o processo de legitimação dentro dos discursos políticos. Reyes (2011) entende legitimação como o processo pelo qual os oradores credenciam ou licenciam um tipo de comportamento social. Nesse sentido, a legitimação é uma justificação de um comportamento. Em nosso trabalho, a investigação será a respeito da tentativa israelense de justificar a forte oposição ao Programa Nu clear Iraniano. Para Reyes (2011, p. 782):

O processo de legitimação é promulgado através da argumentação, ou seja, fornecendo argumentos que explicam as nossas ações so ciais, ideias, pensamentos, declarações etc. Além disso, o ato de legitimação ou justifi cação está relacionado a um objetivo, que, na maioria dos casos, busca o nosso apoio.

Assim, a legitimação está relacionada a objetivos políticos dentro do discurso político. Segundo Reyes (2011), esta legitimação pode se referir a uma ação ou posição ideológica sobre um assunto específico; como é o caso de Netanyahu a respeito do Programa Nuclear Iraniano. De modo a examinar e melhor compreender as estratégias de legitimação dentro do discurso político, Reyes (2011) elabora os cinco conceitos analíticos do Quadro 2.

Quadro 2

Estes conceitos procuram evidenciar o processo de legitimação das ações/ideias políticas dos atores sociais dentro de um ambiente discursivo.

Paralelamente a esses conceitos, Reyes (2006; 2008) igualmente desenvolve outros dois conceitos que serão muito úteis a nossa análise. Em seu artigo "Speeches and Declarations: A War of Words" (REYES, 2006), o autor desenvolve um modelo de construção retórica da guerra. Nele, apresenta o termo colocação conjunta sugestivamente ideológica3 3 .Do original em inglês, ideologically suggestive co-placement. para identificar a tática linguística de se aproximar dois objetos factualmente não relacionados criando, para o ouvinte, uma relação entre ambos. A partir deste recurso, podem ser criadas conexões entre grupos ou eventos, de modo a aproximá-los contextualmente. Essas conexões serão largamente utilizadas por Netanyahu em sua estratégia de relacionar o regime iraniano a eventos/grupos de má reputação, para deslegitimar o governo persa.

Já em seu trabalho "Hot and Cold War: The Linguistic Representa tion of a Rational Decision Filter" (REYES, 2008), Reyes expõe o conceito de enumeração emocional explícita4 4 .Do original em inglês, explicite emotional enumeration. para se referir a situações discursivas em que o orador procura descrever uma série de ações negativas do inimigo, de modo a criar medo e emoções aos ouvintes. Para o autor, a enumeração emocional explícita "é uma tática de poder linguístico que move emocionalmente o público, enfatizando o medo ou a rejeição, de modo a obter apoio público em decisões futuras" (REYES, 2008, p. 34). Descrições de situações dramáticas envolvendo o regime iraniano, de modo a deslegitimá-lo, característica da enumeração emocional explícita, serão bastante empregadas por Netanyahu.

Apresentado o arcabouço teórico do pós-modernismo e metodológico da análise crítica do discurso, seguiremos para a análise dos discursos de Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU entre 2009 e 2013.

Discurso de 20095

Logo nas linhas iniciais deste discurso, o líder israelense aborda o Holocausto e a suposta negação deste evento pelo então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.6 6 .Há grande polêmica nesta matéria. Aqueles que contrariam a versão de que o ex-presidente iraniano teria negado a existência do Holocausto afirmam que se trata de uma frase fora do contexto e/ou um erro de tradução. A corrente majoritária no Ocidente é de que o ex-presidente iraniano nega o Holocausto. A temática do nazismo e sua correlação com a identidade israelense-judaica será um tema recorrente nos discursos de Netanyahu. O esforço de Netanyahu consistirá sempre de reafirmar a identidade de vítima para os judeus, ao passo que associa indiretamente o ex-regime alemão ao atual governo iraniano. Esta construção discursiva dicotômica de identidades será fundamental para o esforço de Netanyahu em afirmar sua política externa. Segundo Resende (2011RESENDE, Érica. As condições de possibilidade da Guerra ao Terror: americanidade e puritanismo nas práticas discursivas da política externa norte- ameri cana no pós-onze de setembro. Século XXI - Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 2, n. 2, 2011., p. 15): "a linguagem é social e política, é um sistema inerentemente instável de sinais que geram significados através de uma construção simultânea de identidade e diferença".

A tentativa de construção de uma vitimização dos judeus, conjugada com o desejo de deslegitimação do presidente do Irã, ao associá-lo indiretamente com o Holocausto, pode ser vista nos conceitos de enumeração emocional explícita, de Reyes, e deslocamento, de Thompson. Nesse sentido, Netanyahu inicialmente procura dramatizar o Holocausto tendo como base a negativa deste por Ahmadinejad:

[...] E o que dizer dos sobreviventes de Auschwitz, cujos braços ainda trazem os números tatuados pelos nazistas? Aquelas tatuagens são uma mentira? Um terço de todos os judeus morreram nesta conflagração. [...] Isto é uma mentira?

[...] Em junho deste ano, o presidente Obama visitou o campo de concentração de Buchenwald. O presidente Obama prestou tributo a uma mentira? [grifo nosso]

A fim de relacionar o então presidente do Irã com os horrores do Holocausto (tendo como base a suposta negação deste evento por Ahmadinejad), Netanyahu pontua: "isso é uma mentira?" Assim, amparando-se na enumeração emocional explícita, o primeiro-ministro israelense procura construir uma imagem negativa de Ahmadinejad, valendo-se do medo, e movendo emocionalmente o público. De acordo com Geis (1987)GEIS, M. The Language of Politics. Nova York: Springer-Verlag, 1987., a política é essencialmente uma atividade linguística, uma atividade em que a linguagem é utilizada para informar os outros sobre questões políticas e persuadi-los a adotar medidas de ação em relação a essas questões.

Posteriormente, há a tentativa de generalizar para a comunidade internacional a suposta ameaça iraniana aos israelenses:

Talvez alguns de vocês pudessem pensar que este homem e seu regime odioso ameaçam apenas os judeus. Vocês estão enganados. A história tem nos mostrado inúmeras vezes que ataques contra os judeus acabam levando junto muitos outros [grifo nosso].

Neste trecho, vemos em operação duas das estratégias de legitimação de Thompson: universalização e narrativização. Na primeira, Netanyahu procura apresentar e universalizar a todos a suposta ameaça iraniana (que serve aos interesses de seu partido conservador). Com a segunda, o político visa alcançar justificativa para o seu ponto de vista através da história. Segundo Thompson (2007, p. 83), as exigên cias de narrativização "estão inseridas em histórias que contam o passado e tratam o presente como parte de uma tradição eterna e aceitável".

Na sequência de seu discurso de 2009, Netanyahu investe em uma forte tentativa de demonização do regime iraniano, conforme mostram os excertos abaixo:

Este regime iraniano é abastecido por um fundamentalismo que estourou na cena mundial há três décadas depois de estar adormecido durante séculos. Nos últimos trinta anos, este fanatismo varreu o globo com uma violência assassina e indiferença a sangue-frio em sua escolha de vítimas.

Ele tem insensivelmente abatido muçulmanos e cristãos, judeus e hindus, e muitos outros. Embora seja composto por diferentes ramificações, os adeptos dessa crença implacável procuram retornar a humanidade aos tempos medievais [grifos nossos].

Os conceitos de expurgo do outro e enumeração emocional explícita ficam nítidos aqui. Para Thompson (2007), o expurgo do outro envolve a construção de um inimigo que é retratado como mau, perigoso e ameaçador. Esta representação do outro ameaçador é complementada pela dramatização das ações do governo iraniano. Segundo Reyes (2008, p. 31), a técnica de enumeração emocional explícita procura "criar emoções de medo e rejeição". O conceito de enumeração emocional explícita é complementado pela colocação conjunta sugestivamente ideológica de associar, para o ouvinte, o regime iraniano à retórica sombria da Idade Média europeia, como pode ser visto nos excertos abaixo.

Já o conceito de enumeração emocional explícita pode igualmente ser visto nos trechos abaixo, em que o discurso dramático atinge o seu ápice. Aqui, a enumeração emocional explícita é complementada pela tática de diferenciação:

Sempre que podem, eles impõem uma sociedade arregimentada para trás, onde as mulheres, as minorias, gays, ou qualquer um que não seja considerado um verdadeiro crente, são brutalmente subjugados.

A luta contra esse fanatismo não coloca fé contra fé, nem civilização contra civilização. Ela coloca civilização contra barbárie, o século 21 contra o século 9, aqueles que santificam a vida contra aqueles que glorificam a morte [grifos nossos].

A clara separação dicotômica entre nós e eles funciona como eixo para a dramatização das ações do regime iraniano. Para Thompson (2007, p. 87), na diferenciação, é dada "ênfase às distinções, diferenças e divisões entre pessoas e grupos". Ainda comentando a respeito dessas representações de identidades (Ocidente - civilizado x Irã - bárbaro), pontuamos as considerações pós-modernas de relações internacionais, em que as identidades são afirmadas pelas políticas externas, justamente a partir da criação de barreiras entre o interno e o externo. Nesse sentido, para Campbell (1992), a constituição da identidade é realizada através da inscrição de limites que servem para demarcar o "dentro" e o "fora", o "eu" do "outro", o "doméstico" do "estrangeiro".

No trecho a seguir, notamos que as recorrentes estratégias de expurgo do outro e diferenciação agora são complementadas pela colocaçãoconjunta sugestivamente ideológica, futuro hipotético, universalização e metáfora.

Mas se a forma mais primitiva de fanatismo puder adquirir armas mais letais, a marcha da história pode ser revertida por um tempo. E como a vitória tardia sobre os nazistas, as forças do progresso e da liberdade prevalecerão somente após um terrível pedágio de sangue e de fortuna ter sido exigido pela humanidade.

É por isso que a maior ameaça que o mundo enfrenta hoje é o casamento entre fanatismo religioso e armas de destruição em massa [grifos nossos].

A colocaçãoconjunta sugestivamente ideológica possui o importante papel de aproximar dois objetos factualmente não relacionados, criando uma relação entre ambos para o ouvinte (REYES, 2006). Assim, no excerto acima, Netanyahu procura conectar a retórica sobre o nazismo com o atual regime iraniano e sua (suposta) demanda por armas de destruição em massa. Assim se transferem as conotações negativas do nazismo, com o futuro hipotético de o Irã adquirir armas de destruição em massa. Segundo Reyes (2011), o futuro hipotético é mais efetivamente alcançado através de uma ligação de problemas do passado com o futuro, de modo a desenvolver uma intertextualidade, permitindo que o orador sugira uma ação imediata no presente. Netanyahu igualmente procura destacar em seu futuro hipotético que um Irã nuclearizado não apenas é uma ameaça a Israel, mas a toda a comunidade internacional, destacando-se aqui também a técnica de universalização.

Dessa forma, trazermos as considerações de Reyes (2011), que afirma que o futuro hipotético que beneficie os outros através da ação proposta permite ao orador evitar insinuações de que suas motivações são de interesse próprio. Esta universalização de uma demanda do governo israelense é apoiada pela metáfora "casamento entre fanatismo religioso e armas de destruição em massa". Comentando sobre a técnica de metáforas, Reyes (2008, p. 33) afirma: "nós conceituamos o mundo através de metáforas e compreendemos as nossas experiências por meio de conceitos metafóricos que parecem reais para nós, pois ajudam a conceituar e reconceituar a política externa. Elas servem para atualizar as ideologias."

Posteriormente no discurso, observamos novamente a tentativa de edificação de um caótico futuro hipotético. A esta situação se soma o expurgo do outro (do governo iraniano) e a universalização da ameaça persa:

O desafio mais urgente que enfrenta esse corpo diplomático é impedir que os tiranos de Teerã adquiram armas nucleares. [...]

Será que a comunidade internacional irá confrontar um despotismo que aterroriza seu próprio povo, como bravamente defendem a liberdade?

[...] Será que a comunidade internacional opor- se-á aos apoiadores e praticantes do terrorismo mais perniciosos do mundo?

Nós queremos a paz. Eu acredito que a paz pode ser alcançada. Mas somente se revertermos as forças do terror, lideradas pelo Irã, que buscam destruir a paz, eliminar Israel e derrubar a ordem mundial.

A questão que se coloca à comunidade internacional é se ela está preparada para confrontar essas forças ou se acomodar perante ela [grifos nossos].

Os conceitos referidos acima se inserem novamente na representação dicotômica da identidade pacífica israelense x identidade violenta iraniana, ambas contidas em um discurso de perigo. Conforme Campbell (1992), a política externa pode ser entendida como uma prática que contingentemente constrói, por meio de performances estilizadas e reguladas, a identidade do Estado; que é mais obviamente dependente de discursos de medo e perigo.

O franco uso de adjetivos negativos como "tiranos" e "déspotas" contribui para a demonização do governo iraniano. Esta imagem negativa é complementada pela previsão de um futuro ameaçador não só para Israel, mas para toda a comunidade internacional. No trecho: "forças do terror, lideradas pelo Irã, que buscam destruir a paz, eliminar Israel e derrubar a ordem mundial [...], é evidenciada a estratégia de universalização", Netanyahu procura estender a toda a comunidade internacional uma demanda (o combate ao regime iraniano) de seu governo.

Já no fim deste discurso de 2009, Netanyahu vale-se mais uma vez do recurso da colocação conjunta sugestivamente ideológica para conectar a mitologia da ameaça do nazismo com o suposto perigo de um Irã nuclearizado, ao trazer um relato do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill:

Mais de setenta anos atrás, Winston Churchill lamentou o que ele chamou de "confirmação da intocabilidade da humanidade", o infeliz hábito das sociedades civilizadas de dormir até que o perigo quase as ultrapasse.

Desta forma, o líder israelense, além de aproximar o Irã de um dos regimes mais odiados da história, igualmente procura universalizar o seu interesse de censurar o governo iraniano.

O encerramento desta fala de Netanyahu busca reforçar a identidade judaica, bem como conectar a atual ameaça do Irã com tempos passados:

No espírito das palavras atemporais faladas por Josué há mais de 3 mil anos atrás, vamos ser fortes e ter ânimo. Vamos enfrentar esse perigo, garantir o nosso futuro e, se Deus quiser, forjar uma paz duradoura para as gerações vindouras.

Este esforço linguístico é instrumentalizado através das técnicas de narrativização e simbolização da unidade. Na primeira, a citação de uma passagem religiosa judaica procura estabelecer uma conexão entre passado e presente; que é cimentado justamente pelo uso da simbologia judaica (simbolização da unidade). Igualmente, é perceptível também a articulação entre identidade e a política externa (a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano). Nesse sentido, segundo Hansen (2006, p. xiv):

As políticas externas são legitimadas como necessárias, em termos de interesses nacionais, ou da defesa de direitos humanos, através de referências a identidades. No entanto, as identidades são simultaneamente constituídas e reproduzidas através de formulações de política externa.

Discurso de 20117

Dentro de seu processo de deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano, Netanyahu articula aqui uma ligação entre os atos terroristas da Al-Qaeda (que são demonizados a partir do expurgo do outro) com o regime do país persa. Assim, além de transferir o repúdio da comunidade internacional para o Irã (deslocamento), o líder israelense igualmente constrói um futuro aterrorizante para o mundo (futuro hipotético), caso o Irã obtenha armas de destruição em massa.

[...] A malignidade está crescendo agora entre Ocidente e Oriente e ameaça a paz de todos. Ela procura não libertar, mas sim escravizar, procura não construir, mas sim destruir.

Este mal é o Islã militante. Ele se esconde no manto de uma grande fé, mas, no entanto, assassina judeus, cristãos e muçulmanos com uma implacável imparcialidade.

[...] Desde o 11/09, militantes islâmicos têm massacrado incontáveis inocentes [...]. Eu acre dito que o maior perigo que o mundo pode enfrentar é que este fanatismo se arme com armas nucleares. E é precisamente isto que o Irã está tentando fazer [grifos nossos].

Analisando o excerto acima, vemos que, na ligação do Irã com grupos extremistas islâmicos, é dada ênfase a termos altamente negativos como "malignidade", "escravizar", "assassinos" e "massacre de inocentes" (expurgo do outro). Desta forma, vemos claramente o conceito de deslocamento de Thompson (2007), em que termos costumeiramente usados para se referir a um determinado objeto ou pessoa são empregados para se referir a outro e, com isso, as conotações positivas ou negativas do termo são transferidas para outro objeto ou pessoa.

Esta associação negativa será fundamental para que Netanyahu tenha maior legitimidade na construção de seu futuro hipotético, uma vez que estes grupos são uma ameaça global, conforme o mesmo destaca: "o maior perigo que o mundo pode enfrentar é que este fanatismo se arme com armas nucleares." Aqui são muito esclarecedoras as considerações de Reyes (2011): "um futuro hipotético que beneficie os outros através da ação proposta permite ao orador evitar insinuações de que suas motivações são de interesse próprio." Como é recorrente na retórica de Netanyahu, todo este excerto se insere na contraposição da identidade israelense/ocidental x a identidade do islã militante. Nesta contraposição, busca-se construir novamente a condição da ameaça iraniana. Segundo Campbell (1992), a relação entre identidade e política externa resulta da própria noção de segurança, uma vez que o perigo não é uma condição objetiva, mas um efeito de interpretação.

Discurso de 20128

No trecho abaixo, notamos novamente a tentativa de Netanyahu de vincular o regime iraniano a passagens históricas (Idade Média) e a grupos (Al-Qaeda) dotados de uma altíssima rejeição, com base na colocação conjunta sugestivamente ideológica. A partir de um viés dicotômico, são destacadas as características que separam os dois grupos (Israel, Ocidente = Modernidade x Irã, Al-Qaeda = Medievalismo). Aqui trazemos as considerações de Érica Resende sobre identidade e política externa. A autora concebe

[...] identidade e política externa como fruto de práticas de natureza essencialmente discursiva, relacional, política e social. É discursiva porque não é possível conceber objetos fora do campo discursivo, fora da linguagem; é rela cional porque somente se admite falar de um "Eu" na presença de um "Outro"; é política porque os discursos que tentam estabilizar significados competem para se tornar dominantes e assim impor suas respectivas unidades de pensamento único; e é social porque é articulada por meio de códigos culturais coletivamente articulados e propagados no campo social (RESENDE, 2011, p. 34).

Em nossa análise, identificamos a prática discursiva que opera linguisticamente representando a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano. No campo relacional, há a constante contraposição do "Eu"/vítima israelense x o "Outro"/ameaçador Irã. Na esfera política, notamos a tentativa de imposição do discurso dominante da deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano. E, por fim, o campo so cial articula o imaginário popular através de conexões com o nazismo e com a Al-Qaeda.

Retomando os conceitos de Reyes e Thompson, notamos que a vinculação problematizada acima se operacionaliza com base na diferenciação, no expurgo do outro, na eufemização e na enumeração emocional explícita.

[...] Atualmente, uma grande batalha está sendo travada entre o moderno e o medieval. [...] As forças do medievalismo buscam um mundo onde as mulheres e as minorias são subjugadas, onde o conhecimento é suprimido e onde não a vida, mas sim a morte é glorificada.

[...] É porque Israel valoriza a vida, que Israel preza e busca a paz. [...] Eles estão empenhados em conquistar o mundo. Eles querem destruir Israel, a Europa e a América. Eles querem extinguir a liberdade. Eles querem o fim do mundo moderno.

O Islã militante tem vários braços - desde os governantes do Irã, com suas Guardas Revolucionárias, aos terroristas da Al-Qaeda [...]. Mas, apesar de suas diferenças, estão todos enraizados no mesmo amargo solo da intolerância.

Eu tenho certeza de uma coisa. Por fim, eles falharão. No final, a luz penetra na escuridão [grifos nossos].

Inicialmente, com a diferenciação, é dada ênfase nas diferenças entre os dois grupos, apoiando-se nas características que os desunem (THOMPSON, 2007): "moderno x medieval", "Israel preza e busca a paz" x "Eles querem o fim do mundo moderno". Esta divisão é ancorada na identidade israelense. Para Hansen (2006, p. 6), "o conceito relacional do pós-estruturalismo de identidade implica que esta é sempre dada através de referências a algo que não é". E os discursos de segurança são tradicionalmente constituídos por meio de um "eu" nacional contra um ou mais "outros" ameaçadores, cujas identidades são radicalmente diferentes do "eu" (HANSEN, 2006).

Esta estratégia se combina com a construção de um inimigo, que é retratado como mau e ameaçador, em que os indivíduos são chamados a resistir coletivamente a ele, ou seja, o expurgo do outro (HANSEN, 2006). Este inimigo, o "outro" ameaçador, é sempre amparado e representado como a antítese do "eu" pacífico. Esta valoração do "eu" é observada com a eufemização: "É por que Israel valoriza a vida, que Israel preza e busca a paz."

Também podemos notar, nos dois primeiros trechos, o conceito de enumeração emocional explícita, onde termos são utilizados para gerar emoção ao ouvinte, de modo a gerar repulsa, ódio e desaprovação ao regime iraniano e, consequentemente, ao seu programa nu clear. A enumeração emocional explícita apresenta-se nos termos: "mundo onde as mulheres e as minorias são subjugadas", "onde o conhecimento é suprimido" e "onde não a vida, mas sim a morte é glorificada". Por fim, no último excerto, vemos o ápice da construção dicotômica das identidades em política externa: a disputa eterna entre "bem" e "mal".

Na sequência deste discurso, Netanyahu procura apresentar a ameaça de um Irã com armas nucleares como um perigo, não só a Israel, mas a todo o mundo, ao compará-lo novamente com a Al-Qaeda:

O que está em jogo não é apenas o futuro do meu país. Está em jogo o futuro do mundo. Nada poderia colocar mais em risco o nosso futuro em comum do que um Irã com armas de destruição em massa.

Para entender como o mundo seria com um Irã com armas nucleares, basta imaginar o mundo com uma Al-Qaeda com armas nucleares.

Não faz diferença se essas armas letais estão nas mãos do regime terrorista mais perigoso do mundo, ou da organização terrorista mais perigosa do mundo. Ambos são motivados pelo mesmo ódio; ambos são movidos pelo mesmo desejo de violência [grifos nossos].

No primeiro excerto, observamos que a tentativa de construção da deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano ocorre pela universalização da ameaça de um Irã nuclearizado a todo o mundo. Conforme Thompson (2007), nesta estratégia: acordos institucionais que servem aos interesses de alguns grupos são apresentados como servindo aos interesses de todos.

Permeando as três passagens, está a construção do futuro hipotético da grande ameaça mundial de um Irã com armas nucleares. Esta situação é amparada, além da tradicional depreciação do regime persa, na conexão do Irã com a Al-Qaeda, ambos representados como as entidades terroristas "mais perigosas do mundo". Podemos notar que a construção simbólica da dissimulação operacionalizada no deslocamento permite não apenas colocar em igualdade o Irã e a Al-Qaeda, como transferir as fortes conotações negativas do segundo ao primeiro.

Em seguida, ao comentar a ideia de que um Irã nuclearizado poderia auxiliar em uma nova détente, da mesma forma que funcionou entre EUA e URSS, Netanyahu vale-se da estratégia da voz do especialista, ao citar o acadêmico britânico Bernard Lewis:9 9 .O acadêmico Bernard Lewis (de origem judaica) é famoso por suas posições pró-Ocidente e conservadoras a respeito do Oriente Médio e do Islamismo Político.

Há um grande estudioso do Oriente Médio, o professor Bernard Lewis, que explica melhor. Ele afirma que, para os aiatolás do Irã, a destruição mútua assegurada não é um impedimento, mas sim um incentivo.

Reyes (2011) afirma que os políticos utilizam a voz do especialista de modo a legitimar, via menção de um especialista, uma ação ou ideia.

Netanyahu encerra este discurso com a sugestão do estabelecimento de uma linha vermelha para o Programa Nuclear Iraniano: para sustentar esta ideia, o primeiro-ministro israelense se valerá da estratégia de racionalidade, em que enumerará as razões para legitimar esta proposta. Esta técnica será complementada com o futuro hipotético do suposto ritmo acelerado em que o Irã busca condições de produzir bombas atômicas. Por fim, ainda temos o uso da colocação conjunta sugestivamente ideológica, em que regimes hostis ao Ocidente (nazismo, comunismo e o Iraque de Saddam Hussein) são relacionados indiretamente ao Irã. Inicialmente, para construir a legitimação à sua "linha vermelha", Netanyahu cita a ineficiência das atuais medidas da comunidade internacional:

Por quase uma década, a comunidade internacional tem tentado parar o programa nuclear iraniano com a diplomacia. Isso não funcionou.

[...] Por mais de sete anos, a comunidade internacional tem tentado sanções contra o Irã. [...]. Sanções também não pararam o programa nuclear iraniano [grifos nossos].

Posteriormente, elencam-se e adaptam-se situações históricas rela cionadas a "linhas vermelhas", de modo a vincular indiretamente estas situações à "ameaça" iraniana ao Ocidente. Estas relações com o passado são importantes para reafirmar a legitimidade do discurso israelense.

O presidente Kennedy estabeleceu uma linha vermelha durante a Crise dos Mísseis Cubanos. Esta linha vermelha evitou uma guerra e ajudou a preservar a paz durante décadas.

Se as potências ocidentais tivessem estabelecido linhas vermelhas claras, durante os anos 1930, eu acredito que eles teriam parado a agressão nazista, e a Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada.

Em 1990, se Saddam Hussein tivesse claramente sido informado de que sua conquista do Kuwait cruzaria a linha vermelha, a Primeira Guerra do Golfo poderia ter sido evitada.

Com certeza, linhas vermelhas devem funcionar com o Irã [grifos nossos].

Conforme Resende (2011, p. 33):

A política externa depende de representações que são atribuídas à nação, ao povo ou ao interesse que se busca proteger assim como à situação de ameaça ou crise que se procura eliminar. Para tanto, precisamos primeiro dar significado à realidade e povoá-la de objetos e de relações entre estes.

Dentro dessas representações históricas, encontra-se a tentativa de argumentação por parte de Netanyahu (técnica de racionalidade). Tendo como base essa série de argumentos, trazemos os comentários de Reyes (2011, p. 797), que afirma que "a racionalidade é uma construção social dentro de um grupo cultural, isto é, algo que faz sentido para a comunidade e se constitui a coisa 'certa' a se fazer".

Esta racionalidade está intimamente conectada à construção do futuro hipotético da ameaça futura de um Irã com bombas nucleares. Para Reyes (2011), o futuro hipotético é mais efetivamente alcançado através de uma ligação de problemas do passado com o futuro, de modo a desenvolver uma intertextualidade, permitindo que o orador sugira uma ação imediata no presente. Esta ação imediata se apresenta como um possível ataque às centrífugas de enriquecimento de urânio:

[...] Mas, para ser crível, uma linha vermelha deve ser feita em primeiro lugar em uma parte vital de seu programa: os esforços do Irã para enriquecer urânio.

[...] Para um país como o Irã, levará muitos, muitos anos para enriquecer urânio para uma bomba.

Isto requer milhares de centrífugas girando em conjunto com grandíssimas plantas industriais. Estas plantas iranianas são visíveis e elas ainda são vulneráveis [grifo nosso].

Discurso de 201310

Um dos objetivos de Netanyahu neste discurso é a deslegitimação do recém-eleito presidente iraniano Hassan Rouhani. Para tanto, o líder israelense se valerá das técnicas de racionalidade, expurgo do outro e enumeração emocional explícita.

Bem, Rouhani dirigiu o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, de 1989 a 2003. Durante esse tempo, os capangas do Irã balearam líderes da oposição em um restaurante em Berlim. Assassinaram 85 pessoas em um Centro Judaico em Buenos Aires.11 Mataram dezenove soldados americanos explodindo as Khobar Towers na Arábia Saudita.12

Assim como há trinta anos, os chefes de segurança do Irã sabiam sobre os bombardeios em Beirute que mataram 241 fuzileiros navais americanos e 58 paraquedistas franceses.13

Mas o regime que ele representa executa centena de dissidentes políticos e aprisiona milhares deles. Rouhani falou em "tragédia humanitária na Síria". Mas, no entanto, o Irã participa diretamente do assassinato e massacre de dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes, feito por Assad; e seu regime está sustentando um regime sírio que usou armas químicas contra o seu próprio povo [grifos nossos].

Observamos a racionalidade ao longo de todos os excertos. A contínua descrição dos atos violentos acima possui o papel de apresentar a deslegitimação de Rouhani e do regime iraniano como racionais e dignas de apoio. Para Reyes (2011), esta estratégia de legitimação tenta apresentar a sua escolha/decisão de forma racional. Esta construção é evidenciada pela citação e detalhamento de ações terroristas relacionadas ao Irã. Paralelamente, procura-se, com este detalhamento de ações, edificar a imagem de um inimigo ameaçador e perigoso para o Irã (expurgo do outro). Já no último trecho, fica claro o uso da enumeração emocional explícita, com a dramatização das ações do regime de Assad (apoiado pelo Irã): "assassinato e massacre de dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes."

Posteriormente, Netanyahu se valerá novamente da técnica de racionalidade para expressar o seu repúdio e desconfiança com o Programa Nuclear Iraniano, elencando possíveis perguntas que ficam sem resposta:

Por que um país que reivindica a energia nu clear somente para fins pacíficos iria construir instalações de enriquecimento subterrâneas ocultas?

Por que um país com vastas reservas de ener gias naturais investe bilhões no desenvolvimento de energia nuclear?

Por que um país com intenções meramente civis em seu programa nuclear continua a desa fiar várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU e segue suportando os custos de sanções paralisantes sobre a sua economia?

E por que um país com um programa nuclear pacífico desenvolve mísseis balísticos intercontinentais, cujo único propósito é lançar ogivas nucleares?

[...] Por que eles fazem tudo isso? A resposta é simples. O Irã não está construindo um programa nuclear pacífico. O Irã está desenvolvendo armas de destruição em massa [grifo nosso].

Todo este raciocínio termina com a objetiva resposta de que o Irã está sim desenvolvendo armas de destruição em massa. Durante o discurso, esta afirmativa é referendada pelo uso constante do futuro hipotético, em que o Irã desvia o uso da tecnologia nuclear para fins bélicos, enganando a comunidade internacional:

Somente no ano passado, o Irã enriqueceu três toneladas de urânio a 3,5%, dobrou seu estoque de urânio enriquecido e acrescentou milhares de novas centrífugas, incluindo centrífugas avançadas. Também continuou a trabalhar no reator de água pesada em Arak.14 Isso é para ter outra rota para a bomba - um caminho de plutônio.

[...] Ano passado, quando eu falei aqui na ONU, desenhei uma linha vermelha. O Irã tem sido bem cuidadoso em não cruzar esta linha. Mas o Irã está se posicionando para ultrapassar esta linha no futuro, no momento de sua escolha. O Irã deseja estar em uma posição de ter a vantagem de construir bombas nucleares antes que a comunidade internacional possa detectá-las, e muito menos impedi-lo [grifos nossos].

Outra técnica utilizada neste discurso para deslegitimar o Programa Nuclear Iraniano é associá-lo diretamente com o regime da Coreia do Norte, que possui um histórico de conflitos com a comunidade internacional. Assim, por meio da técnica de deslocamento, associam-se e potencializam-se as conotações negativas do regime norte-coreano ao Irã:

Como o Irã, a Coreia do Norte também disse que seu programa nuclear era para fins pacíficos.

Como o Irã, a Coreia do Norte também ofereceu concessões insignificantes e promessas vazias em troca de um alívio nas sanções.

[...] Um Irã com armas nucleares teria um peso esmagador sobre as principais fontes de energia do mundo.

[...] Um Irã com armas nucleares no Oriente Médio não seria outra Coreia do Norte. Seria como ter cinquenta Coreias do Norte [grifos nossos].

Posteriormente, Netanyahu insiste na associação do Irã com a Coreia do Norte, mas agora por meio da técnica da voz dos especialistas. O líder israelense, a partir da citação de um editorial do jornal The New York Times, procura deslegitimar as ações diplomáticas da comunidade internacional, que supostamente não funcionaram sobre o Programa Nuclear norte-coreano.

Aqui está o que o editorial do New York Times disse sobre isso: "por muitos anos, especialistas em política externa têm apontado para a Coreia do Norte como o último pesadelo [...] uma ditadura fechada, hostil e paranoica com um agressivo programa de armas nucleares. Muito poucos poderiam imaginar um resultado de sucesso.

E ainda que a Coreia do Norte a princípio concorde esta semana em desmantelar o seu programa de armas nucleares, voltar ao Tratado de Não Proliferação Nuclear,15 15 .O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) assinado em 1968 (e em vigor desde 1970) procura impedir a proliferação da tecnologia empregada para a produção de armamentos nucleares. Atualmente, possui 190 Estados-membros. Entre os Estados que não aderiram ao tratado, estão Israel, Coreia do Norte, Paquistão e Índia. respeitar as garantias do tratado e admitir que inspetores internacionais [...] A Diplomacia, ao que parece, depois de tudo, não funciona" [grifos nossos].

Como mencionamos anteriormente, o esforço aqui é estabelecer uma íntima relação entre dois regimes odiados pelo Ocidente, e indicar a grande possibilidade de fracasso da diplomacia, como no caso norte-coreano. Netanyahu vale-se de toda a credibilidade do jornal norte-americano The New York Times para sustentar sua posição mais firme contra o Programa Nuclear Iraniano, como pode ser visto no fim de sua citação do periódico: "a diplomacia, ao que parece, depois de tudo, não funciona."

Posteriormente, Netanyahu vale-se das técnicas de colocação conjunta sugestiva ideologicamente, expurgo do outro, narrativização e metáfora para seguir em sua estratégia de deslegitimação do programa nuclear iraniano, a qual é erguida sob a representação da vitimização dos judeus:

Eu sei que alguns na comunidade internacional pensam que eu estou exagerando esta ameaça. Claro que eles sabem que o regime iraniano lidera os cânticos "morte à América!", "morte a Israel!", e promete varrer Israel do mapa. Mas eles pensam que essa agressiva retórica é apenas arrogância para consumo interno. Es sas pessoas não aprenderam nada com a história?

O século passado nos ensinou que, quando um regime radical com ambições globais ganha demasiado poder, mais cedo ou mais tarde o seu apetite para agressão não tem limites. Esta é a lição central do século XX. Agora não podemos esquecer isso.

O mundo pode ter esquecido essa lição. O povo judeu, não. O fanatismo iraniano não é fanfarronice. É real. A este regime fanático jamais deve ser permitido se armar com armas nucleares.

Eu sei que o mundo está cansado de guerra. Nós, em Israel, sabemos muito bem o custo da guerra. Mas a história nos ensinou que, para evitar a guerra de amanhã, devemos ser firmes hoje [grifos nossos].

De maneira geral, temos novamente a vitimização histórica israelense (Holocausto) como oposição ao regime iraniano. Mais uma vez, Netanyahu, por meio da colocação conjunta sugestiva ideologicamente (que aqui dialoga com o conceito de narrativização), associa indiretamente nazismo e Irã: "o século passado nos ensinou que, quando um regime radical com ambições globais ganha demasiado poder, mais cedo ou mais tarde o seu apetite para agressão não tem limites." Assim, o que vemos é a constante reconstrução da identidade israelense. Dessa forma, segundo Hansen (2006, p. xiv): "as políticas exigem identidades, porém as identidades não existem como narrativas objetivas sobre indivíduos e lugares como 'eles realmente são', mas sim como sujeitos e objetos continuamente reafirmados, nego ciados e refeitos."

Já a demonização do Irã (expurgo do outro) pode ser vista no uso de adjetivos e termos pejorativos que são utilizados para construir o governo iraniano como um inimigo a ser combatido: "lidera os cânticos 'morte à América!' e 'morte a Israel!'"; "varrer Israel do mapa"; "regime radical" e "regime fanático". Entre esses termos, destaca-se a metáfora "varrer Israel do mapa". Neste ponto, trazemos as considerações de Reyes (2008, p. 33) sobre este recurso linguístico: "metáforas não são meras palavras ou ideias fantasiosas, elas incorporam modos de pensar e estruturar o discurso da política externa."

Por fim, Netanyahu apresenta sua solução diplomática a respeito do contencioso nuclear iraniano:

Então aqui está o que a comunidade deve fazer. Em primeiro lugar, manter as sanções. Se o Irã avança em seu programa nuclear durante as negociações, deve-se fortalecer as sanções.

Em segundo lugar, não concordar com um acordo parcial. Um acordo parcial iria suspender as sanções internacionais que levaram anos para funcionar na prática, em troca de concessões cosméticas que levará apenas algumas semanas para o Irã reverter.

Em terceiro lugar, suspender as sanções apenas quando o Irã desmantelar totalmente o seu programa de armas nucleares [grifos nossos].

A forte postura defendida contra o Irã é sustentada por meio da estratégia de racionalidade, em que se procura construir uma cadeia de raciocínio de modo a transparecer que sua causa é digna de apoio. Para Resende (2011, p. 25), "a meta para os tomadores de decisão em política externa - bem como para outros atores que buscam influenciar a política externa -, é a de apresentar uma política externa que pareça legítima e aplicável à sua audiência relevante".

Conclusão

Durante o presente trabalho, procuramos evidenciar como ocorre a deslegitimação do programa nuclear iraniano nos discursos do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Partindo do pressuposto teórico pós-modernista de Relações Internacionais de que a relação entre identidade e política externa resulta da própria noção de segurança, constatamos que a deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano no discurso de Netanyahu ocorre por meio da contraposição da identidade pacífica israelense sobre a identidade ameaçadora iraniana, dentro de um contexto de perigo mundial por parte do regime persa. Nesse sentido, as metodologias desenvolvidas por Reyes (2006; 2008; 2011) e Thompson (2007) mostraram-se extremamente úteis e complementares ao arcabouço teórico pós-modernista, dentro da análise da construção discursiva da política externa israelense.

A partir delas, podemos observar que a identidade israelense de vítima é constantemente (re)construída a partir da menção ao nazismo, ao passo que se tenta associar este regime ao governo iraniano, como demonstraram os conceitos de colocação conjunta sugestivamente ideológica, deslocamento e narrativização. Por meio dos mesmos conceitos, também podemos notar a tentativa de deslegitimação do regime iraniano a partir de conexões com atores/eventos de alta simbologia negativa, como a Idade Média, a organização da Al-Qaeda e o governo norte-coreano.

Igualmente, de modo a atingir seu objetivo de invalidar o Programa Nuclear Iraniano, o discurso de Netanyahu procura frequentemente demonizá-lo tendo como base adjetivos pejorativos e descrições de situações maléficas, representando de forma clara as duas identidades antagônicas, como evidenciam os conceitos de expurgo do outro e diferenciação. Ainda nesta representação negativa do outro, notamos a dramatização das ações iranianas por meio do conceito enumeração emocional explícita.

Outrossim referente ao Programa Nuclear Iraniano, o líder israelense procura frequentemente traçar uma linha de raciocínio, apresentando evidências e provas de que o Irã busca obter armas nucleares (evidenciadas pela técnica de racionalidade). Também há a constante representação de um futuro hipotético de um ameaçador Irã com armas nucleares, de modo a deslegitimar o referido programa nuclear.

Por fim, inferimos que os recursos linguísticos mencionados acima, combinados com a representação dicotômica das identidades israelense (vítima) e iraniana (opressora), são responsáveis pelo discurso de deslegitimação do Programa Nuclear Iraniano do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

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  • WEISS, Gilbert; WODAK, Ruth (Org.). Critical Discourse Analysis: Theory and Interdisciplinarity. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2003.
  • 1
    .O discurso de 2010 foi excluído de nossa análise, pois não foi proferido por Netanyahu, mas sim pelo seu então vice-primeiro-ministro, Avigdor Liberman.
  • 2
    .Como pode ser visto, as técnicas de racionalidade de Reyes e racionalização de Thompson são muito semelhantes. Para fins deste trabalho, optou-se por utilizar-se o primeiro conceito.
  • 3
    .Do original em inglês, ideologically suggestive co-placement.
  • 4
    .Do original em inglês, explicite emotional enumeration.
  • 5
    .Ver ONU (2009).
  • 6
    .Há grande polêmica nesta matéria. Aqueles que contrariam a versão de que o ex-presidente iraniano teria negado a existência do Holocausto afirmam que se trata de uma frase fora do contexto e/ou um erro de tradução. A corrente majoritária no Ocidente é de que o ex-presidente iraniano nega o Holocausto.
  • 7
    .Ver ONU (2011).
  • 8
    .Ver Israeli Government (2012).
  • 9
    .O acadêmico Bernard Lewis (de origem judaica) é famoso por suas posições pró-Ocidente e conservadoras a respeito do Oriente Médio e do Islamismo Político.
  • 10
    .Ver ONU (2013).
  • 11
    .Em 18 de julho de 1994, uma bomba explodiu na Associação Mutual Is raelita Argentina. O governo iraniano foi acusado de estar por trás do planejamento da ação.
  • 12
    .Em 25 de junho de 1996, uma caminhonete explodiu junto às Khobar Towers (complexo habitacional onde viviam as tropas norte-americanas na Arábia Saudita). O governo norte-americano condenou o Irã e o Hezbollah como responsáveis pelo ataque.
  • 13
    .Em 23 de outubro de 1983 (durante a Guerra Civil Libanesa), dois caminhões-bomba explodiram contra edifícios que alojavam norte-americanos e franceses, em Beirute. O governo norte-americano acusa o Irã pelo atentado.
  • 14
    .Importante cidade industrial iraniana, situada a 280 km de Teerã.
  • 15
    .O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) assinado em 1968 (e em vigor desde 1970) procura impedir a proliferação da tecnologia empregada para a produção de armamentos nucleares. Atualmente, possui 190 Estados-membros. Entre os Estados que não aderiram ao tratado, estão Israel, Coreia do Norte, Paquistão e Índia.
  • *
    Artigo recebido em 19 de novembro de 2014 e aprovado para publicação em 10 de abril de 2015.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2015

Histórico

  • Recebido
    19 Nov 2014
  • Aceito
    10 Abr 2015
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