EDITORIAL
Obesidade e asma
Dirceu Solé
Professor Titular da Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dirceu Solé Rua dos Otonis, 725 Vila Clementino CEP 04025-002 São Paulo/SP E-mail: sole.dirceu@gmail.com
O aumento da prevalência da asma e da obesidade em muitas partes do mundo, sobretudo em países desenvolvidos e de língua inglesa, tem chamado a atenção da comunidade científica. Esse fato tem motivado iniciativas para controlar o impacto da obesidade sobre a saúde da criança(1), assim como da asma(2). Na última década, estudos com crianças e adultos documentaram haver associação muito frequente entre a obesidade, avaliada pelo índice de massa corpórea (IMC), e a asma. O excesso de peso é apontado como fator de risco para desenvolver asma, piorar seu controle, aumentar as exacerbações e a procura por serviços de emergência e, além disso, é responsabilizado pelo desenvolvimento futuro de outras doenças crônicas(3). Segundo alguns autores, há evidências de que tais efeitos sejam gênero-dependentes(4), principalmente quando se avalia a repercussão da obesidade sobre a função pulmonar(5). A asma, devido à possibilidade de facilitar o aparecimento dos sintomas induzidos por esforço físico, gera sedentarismo, o qual, por sua vez, determina queda de condicionamento físico e torna cada vez mais fácil o desencadeamento de sintomas com os esforços. Recentemente, foi proposta a existência de um fenótipo clínico distinto, denominado de asma grave obesidade, para algumas formas graves de asma que se caracterizam por serem de difícil tratamento e controle(6).
Tanto a asma como a obesidade são doenças inflamatórias sistêmicas(7), porém, a relação entre ambas ainda é motivo de controvérsia. Na obesidade, possivelmente a desregulação hormonal associada ao tecido adiposo contribui para o estado inflamatório crônico, e a inflamação sistêmica presente aumenta o risco de morbidades associadas, tais como doenças cardiovasculares e diabetes. Tal inflamação, alojada na via aérea, poderia explicar a associação com a asma(8). Acredita-se que mediadores inflamatórios produzidos no tecido adiposo, leptina e baixos níveis de adiponectina, regulariam a proliferação de células T e desempenhariam um papel importante na fisiopatologia de doenças pulmonares, contribuindo também para o agravamento da inflamação sistêmica e para o descontrole na produção de radicais livres(9). A redução nas defesas antioxidantes pode piorar o quadro, com estresse oxidativo e consequente comprometimento sistêmico e da via aérea(10). Um estudo recente documentou, em adolescentes asmáticos obesos, aumento dos níveis de proteína C reativa sérica, sem elevação de outros marcadores de estresse oxidativo, quando comparados aos obesos(11).
Neste número da Revista Paulista de Pediatria, Andrade et al(12) publicaram uma pesquisa a respeito da associação entre obesidade, determinada pelo IMC, e asma, levando-se em consideração: idade, gênero, classificação inicial, controle da asma e valores espirométricos (volume expiratório forçado no primeiro segundo VEF1 e fluxo expiratório forçado entre 25 e 75% da capacidade vital forçada basal FEF25-75%) em adolescentes asmáticos. A casuística avaliada foi representativa e sem diferença entre os gêneros em relação à classificação inicial da asma e ao seu nível de controle. A quase totalidade dos pacientes apresentava forma persistente de asma e, em mais de 85% deles, a mesma estava parcialmente ou totalmente controlada. A análise das medidas espirométricas não mostrou correlação significante com o IMC quando foram avaliados pacientes com sobrepeso ou obesos. Assim, à semelhança de outros autores, não houve correlação significante entre sobrepeso/obesidade e asma com parâmetros clínicos, antropométricos e espirométricos.
Desse modo, ainda há muito a se investigar sobre a forma como a obesidade pode causar ou agravar a asma. É evidente que o ganho de peso e a obesidade são particularmente problemáticos em pacientes asmáticos. Portanto, estudos randomizados controlados são necessários para determinar as melhores abordagens de tratamento para asma em obesos.
Recebido em: 6/12/2012
Aprovado em: 17/12/2012
Conflito de interesse: nada a declarar
Instituição: Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil
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- 5. Lang JE, Holbrook JT, Wise RA, Dixon AE, Teague WG, Wei CY et al Obesity in children with poorly controlled asthma: Sex differences. Pediatr Pulmonol 2012. In press 2012.
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Endereço para correspondência:
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
01 Jul 2013 -
Data do Fascículo
Jun 2013