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Correção do componente p do índice cpos em uma população adulta brasileira

Correction factor for the m-component in the dmfs index in an adult brazilian population

Resumos

A experiência de cárie dentária é mensurada através da utilização de índices, sendo o CPOS um dos mais utilizados para essa finalidade. Diversas são as limitações deste índice, salientando-se o seu componente P. No momento da perda de um elemento dentário são consideradas perdidas, por este indicador, 4 superfícies cariadas nos dentes anteriores e 5 nos elementos posteriores, que nem sempre sofreram o ataque carioso. A necessidade de correção do valor do componente P do índice CPOS foi verificada neste trabalho. Foram avaliados clinica e radiograficamente 177 elementos dentários extraídos de 107 pacientes da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O valor da média ponderada do número de superfícies cariadas nos dentes extraídos, considerando o total desta população, foi igual a 3,0. O valor corrigido do componente P correspondeu a 3,5 para o grupo com idade até 35 anos e 2,5 para a faixa etária acima de 35 anos. Nenhuma diferença entre os sexos foi observada. Assim, é correto propor a correção do componente P ao se utilizar o índice CPOS nesta população e em outras populações com semelhante prevalência de cárie dentária.

Epidemiologia; Cárie dentária; Índice CPO


Experience in dental caries is measured by indices, DMFS being the one most frequently used. However, this index has undergone several criticisms, particularly in regard to its M-component. When 4 surfaces of an anterior tooth, or 5 surfaces of a posterior tooth are decayed, a tooth is considered lost, regardless of how much it is involved. The present study investigated if the M-component of the DMFS-index requires correction. One hundred and seventy-seven teeth extracted from 107 adult patients from the Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais were clinically and radiographically examined. When the sample was considered as a whole, the weighted mean value of carious surfaces in the extracted teeth was 3.0. The correction factor for the M-component was 3.5 for those up to 35 years of age, and 2.5 for those over 35. No gender differences were observed. Hence, it is necessary to propose a correction factor for the M-component of the DMFS-index for any population with a similar prevalence of dental caries.

Epidemiology; Dental caries; DMF-index


Saúde Pública

Correção do componente P do índice CPOS em uma população adulta brasileira

Correction factor for the M-component in the DMFS index in an adult brazilian population

Mauro Henrique Nogueira Guimarães de ABREU* * Mestrando em Odontologia, ** Cirurgião-Dentista e *** Professoras Adjuntas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - MG.

Sérgio Neves DRUMMOND** * Mestrando em Odontologia, ** Cirurgião-Dentista e *** Professoras Adjuntas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - MG.

Isabela Almeida PORDEUS*** * Mestrando em Odontologia, ** Cirurgião-Dentista e *** Professoras Adjuntas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - MG.

Helena Heloísa PAIXÃO*** * Mestrando em Odontologia, ** Cirurgião-Dentista e *** Professoras Adjuntas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - MG.

ABREU, M. H. N. G.; DRUMMOND, S. N.; PORDEUS, I. A.; PAIXÃO, H. H. Correção do componente P do índice CPOS em uma população adulta brasileira. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 12, n. 4, p. 323-328, out./dez. 1998.

A experiência de cárie dentária é mensurada através da utilização de índices, sendo o CPOS um dos mais utilizados para essa finalidade. Diversas são as limitações deste índice, salientando-se o seu componente P. No momento da perda de um elemento dentário são consideradas perdidas, por este indicador, 4 superfícies cariadas nos dentes anteriores e 5 nos elementos posteriores, que nem sempre sofreram o ataque carioso. A necessidade de correção do valor do componente P do índice CPOS foi verificada neste trabalho. Foram avaliados clinica e radiograficamente 177 elementos dentários extraídos de 107 pacientes da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O valor da média ponderada do número de superfícies cariadas nos dentes extraídos, considerando o total desta população, foi igual a 3,0. O valor corrigido do componente P correspondeu a 3,5 para o grupo com idade até 35 anos e 2,5 para a faixa etária acima de 35 anos. Nenhuma diferença entre os sexos foi observada. Assim, é correto propor a correção do componente P ao se utilizar o índice CPOS nesta população e em outras populações com semelhante prevalência de cárie dentária.

UNITERMOS: Epidemiologia; Cárie dentária; Índice CPO.

INTRODUÇÃO

A cárie dentária é uma doença que representa um problema de saúde coletiva no Brasil. Enquanto nos países industrializados é verificada significativa redução na prevalência desta doença a partir da década de 70 (GLASS6, 1982), os dados do levantamento epidemiológico realizado no Brasil em 1986 constatam valores bem acima da meta preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Federação Dentária Internacional (FDI) para esta doença. O CPOD aos 12 anos corresponde a 6,65, sendo que 60% deste valor corresponde a dentes cariados e 11% a dentes extraídos ou com extração indicada. Assim, as necessidades de tratamento são preocupantes, principalmente na população de baixa renda (BRASIL2, 1988). Atualmente, em Belo Horizonte - MG, é observada uma queda na prevalência da cárie dentária entre os usuários do Sistema Único de Saúde, com valor do CPOD médio igual a 2,75 para esta mesma idade (SANTOS14, 1996).

Com a finalidade de traçar este perfil epidemiológico são utilizados valiosos instrumentos denominados índices. Dentre os índices de cárie mais utilizados, encontra-se o CPOS. Este indicador foi proposto em 1938 por Klein, Palmer & Knutson (PINTO13, 1990) e objetiva medir a experiência de cárie em relação às superfícies dentárias.

Apesar de sua ampla divulgação e utilização, o índice CPOS apresenta dificuldades e limitações no seu uso. Quando é analisado o componente O (superfícies obturadas), pode-se acreditar que nem todas as superfícies restauradas estavam anteriormente cariadas; observa-se que algumas superfícies, então restauradas, poderiam ser submetidas a tratamento não-restaurador. Este índice está sujeito, também, ao erro de incluir outras condições ou patologias não associadas à cárie dentária. Mudanças qualitativas dos dentes, como, por exemplo, a modificação de uma superfície cariada em restaurada, não alteram o valor do CPOS. Além disso, este indicador de cárie não avalia cárie radicular (NIKIFORUK11, 1986; SHEIHAM et al.16, 1987; THYLSTRUP; FEJERSKOV17, 1995).

Em relação ao componente P, outras deficiências podem ser citadas. No momento da perda de um dente são consideradas perdidas por cárie 4 ou 5 superfícies em dentes anteriores e posteriores, respectivamente, independente de seu estado. Entretanto, com o aumento da idade da população, ocorre um aumento do número de dentes extraídos devido à doença periodontal e motivo protético (MACHADO et al.10, 1973; SHEIHAM et al.16, 1987; GUIMARÃES; MARCOS8, 1995). Este índice também perde representatividade em populações jovens com baixa prevalência de cárie, onde é verificada uma proporção maior de exodontias com finalidade ortodôntica (CHAVES3, 1986; PINTO13, 1990).

Os dentes extraídos assumem uma importância crescente dentro do índice CPOD na população brasileira. Para a faixa etária de 15-19 anos, os dentes extraídos representam 15% do CPO; para a faixa de 35-44 anos, a porcentagem aumenta para 66%; e, para a população com idade entre 50-59 anos, encontra-se 86%. Aos 18 anos, verifica-se que apenas 40% da população não apresenta qualquer dente extraído (BRASIL2, 1988).

A cárie ainda é a principal responsável pela perda dentária na população brasileira e também mundial (GUIMARÃES; MARCOS8, 1995; THYLSTRUP; FEJERSKOV17, 1995). Entretanto, a mortalidade dentária causada pela cárie diminui com o aumento da idade, ocorrendo o inverso com a doença periodontal. Assim, para esta população com idade superior a 40 anos, a doença periodontal é a principal responsável pelas perdas dentárias. Segundo LEITE et al.9 (1975), as exodontias causadas por razão protética são o segundo motivo mais prevalente de exodontias na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG). Tendo em vista então a diversidade de razões na perda dentária e que o índice CPOS propõe mensurar apenas experiência de cárie, vem sendo recomendada a não inclusão de dentes perdidos por motivos diferentes da cárie dentária neste indicador, criando-se assim o registro COS (WAGG18, 1974; THYLSTRUP; FEJERSKOV17 , 1995).

Os primeiros questionamentos sobre o valor do componente P se iniciaram no final da década de 30, quando BODECKER1 (1939) propõe que esse componente seja corrigido para 3,0 superfícies cariadas por dente extraído, para a população com idade superior a 35 anos. Na década de 70, em um trabalho realizado na Inglaterra, WAGG18 (1974) cita que a média do número de superfícies cariadas por dente extraído é igual a 2,25. FRENCKEN et al.5 (1990) também preconizam a correção do componente P para a população do continente africano e, provavelmente, para a de outros países onde a prevalência de cárie é semelhante. Foram analisados dois grupos, um com idade entre 9-13 anos e outro correspondendo à faixa etária de 16-19 anos. O número médio de superfícies com lesão cariosa, por dente extraído, foi 1,9 para aqueles pacientes do primeiro grupo e 1,6 para aqueles do segundo grupo etário.

Devido à importância de mensurar a experiência de cárie de maneira mais próxima da realidade, pela crescente participação de dentes extraídos dentro do CPO, bem como pela ausência de estudos epidemiológicos sobre este índice largamente utilizado no Brasil, este trabalho objetivou verificar as indicações das exodontias, quantificar o número de superfícies com lesão cariosa e, a partir destes dados, realizar um estudo de correção do componente P do índice CPOS. As possíveis relações entre sexo e idade foram também objeto de estudo.

MATERIAL E MÉTODO

O estudo envolveu 107 pacientes com idade superior a 18 anos. Esta faixa etária foi selecionada por apresentar maior freqüência de exodontias de dentes permanentes dentro da população brasileira (BRASIL2, 1988). Foram examinados 177 dentes durante o período de maio a dezembro de 1994.

A coleta de dados foi realizada nas clínicas cirúrgicas e de atenção primária da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, por quatro examinadores calibrados. Nas clínicas cirúrgicas são realizadas cirurgias bucais menores, dentre elas, as exodontias. Nas clínicas integradas de atenção primária são executados os procedimentos de atenção primária: exame clínico, educação em saúde, polimento coronário, raspagem supra e subgengival, aplicação tópica de flúor, aplicação de selantes, restaurações plásticas, tratamento conservador da polpa e exodontias.

Os examinadores, seguindo o protocolo adotado nessas clínicas, realizaram exames clínicos e analisaram as tomadas radiográficas periapicais, que são feitas obrigatoriamente pelos alunos do curso de Odontologia anteriormente às exodontias. O exame clínico foi realizado antes do procedimento cirúrgico, sob luz artificial, com utilização de espelho plano e seringa de água-ar. As imagens radiográficas periapicais foram analisadas pelos examinadores em negatoscópio. Ao exame clínico dos pacientes foram observados: idade, sexo, dente(s) e superfície(s) acometida(s) por lesão cariosa e motivo da(s) exodontia(s). O exame radiográfico forneceu informações complementares para o diagnóstico da presença ou ausência de lesão periapical e bolsa periodontal. Os dados obtidos nestes exames foram compilados em ficha clínica.

Para o diagnóstico de lesão cariosa de cicatrículas e fissuras, foi considerada lesão aquela superfície que apresentava ou não pigmentação acastanhada ou negra, com esmalte circundante de cor branco-azulada opaca (SHAFER et al.15, 1985), indicando comprometimento dentinário (ORGANIZAÇÃO12, 1991). As lesões cariosas já cavitadas também foram registradas. Em caso de dúvida entre dente hígido e cariado, o dente foi considerado hígido (ORGANIZAÇÃO12, 1991).

Os critérios adotados para definir as razões biológicas das exodontias seguiram aqueles propostos por MACHADO et al.10 (1973), LEITE et al.9 (1975) e GUIMARÃES; MARCOS8 (1995):

  • exodontias devidas a cárie dentária: lesões cariosas com destruição coronária total ou parcial, quando irreparável; lesões pulpares e periapicais decorrentes da cárie dentária.

  • exodontias em decorrência da doença periodontal: lesões periodontais com presença de bolsas periodontais; mobilidade dentária e perda óssea alveolar.

  • exodontias motivadas por indicação protética: dentes hígidos; dentes com lesões cariosas ou periodontais que não motivam exodontias por si sós e que seriam substituídos por próteses fixas ou removíveis.

  • outras causas: dentes inclusos ou semi-inclusos; traumatismos dentários e suas seqüelas; razões ortodônticas; dentes ectópicos; dentes sem antagonista.

Os terceiros molares superiores e inferiores não foram incluídos na coleta de dados.

A análise dos dados foi realizada através do Epi-Info, versão 6.0 (DEAN et al.4, 1995). A idade de 35 anos foi escolhida como ponto de corte para análise dos dados devido às recomendações da (ORGANIZAÇÃO12,1991). Como proposta de correção do componente P, foram estimadas as médias aritméticas dos números de superfícies cariadas (MAS) e médias ponderadas dos números de superfícies cariadas (MPS). A MAS foi calculada dividindo-se o número de superfícies cariadas pelo número de dentes anteriores e posteriores, separadamente. O cálculo da MPS foi feito através da soma do produto do valor das MAS por 4 (dentes anteriores) e 5 (dentes posteriores) e, em seguida, dividindo-se o valor encontrado pela soma de 4 e 5.

RESULTADOS

Os exames clínicos e radiográficos foram feitos em 107 pacientes, perfazendo um total de 177 dentes extraídos examinados. Deste total, 68 pacientes pertenciam ao sexo feminino e 39 ao sexo masculino. O número de pacientes com idade até 35 anos foi igual a 56, e 51 apresentaram idade superior a 35 anos.

Nos pacientes do sexo masculino, foram extraídos 45 dentes (65,2%) devido a cárie, 5 dentes (7,3%) por doença periodontal, 18 elementos (26,1%) por razão protética e 1 dente (1,4%) por outros motivos. Nas pacientes do sexo feminino, foram perdidos 68 dentes (63,0%) por cárie dentária, 16 (15,0%), por doença periodontal, 23 (21,0%), por motivo protético, e 1 (1,0%), por outros motivos.

Em relação aos motivos de exodontias, 113 dentes (63,8%) tiveram extração indicada pela cárie, 21 (11,9%) foram perdidos pela doença periodontal, 41 (23,2%), perdidos por motivo protético e 2 (1,1%) por outros motivos. Ao ser considerada a idade da população estudada, observou-se que, para os pacientes com idade até 35 anos, 61 dentes (76,2%) foram extraídos por motivo de cárie dentária, 3 (3,8%), por doença periodontal, 14 (17,5%), por razão protética e 2 (2,5%), por outros motivos. Para o grupo etário com idade acima de 35 anos, 52 dentes (53,6%) tiveram extração indicada pela cárie dentária, 18 (18,6%) foram extraídos por doença periodontal e 27 (27,8%) foram perdidos por motivo protético (Tabela 1).

A correção do componente P do índice CPOS, para a população como um todo, foi igual a 2,0 nos dentes anteriores e 3,8 nos posteriores. Assim, a MPS foi 3,0 (Tabela 2).

Quando foi analisada a relação entre idade e correção do componente P, na população com idade até 35 anos, a média aritmética do número de superfícies cariadas teve valor igual a 2,5 e 4,4 para os dentes anteriores e posteriores, respectivamente. A MPS neste grupo foi 3,5. Os pacientes com idade superior a 35 anos apresentaram médias aritméticas iguais a 1,7 em dentes anteriores e 3,2 em posteriores, e média ponderada com valor 2,5 (Tabela 2).

A correção do componente P do índice CPOS representou uma média ponderada de 3,0 e 2,8 superfícies cariadas por dente extraído, para o sexo feminino e e para o sexo masculino, respectivamente. Não foi observada diferença estatisticamente significante em relação às variáveis sexo e correção de P.

A análise da correção do componente P, considerando-se os diversos motivos de exodontias, resultou em uma média aritmética do número de superfícies cariadas, para os dentes anteriores e posteriores perdidos por cárie, equivalente a 3,7 e 4,8, respectivamente. A MPS para estes dentes foi 4,3. Dentes perdidos por indicação protética apresentaram uma MAS com valor 1,1 para os dentes anteriores e 1,6 para os posteriores; assim, a MPS foi igual a 1,4. Para os dentes anteriores com extração indicada pela doença periodontal, verificou-se uma média de 0,5 superfície cariada por dente. Os dentes posteriores, perdidos pela doença periodontal, apresentaram a MAS equivalente a 0,1. Não foram diagnosticadas quaisquer superfícies dentárias cariadas nos dentes perdidos por outros motivos. Considerando-se então os outros motivos, a MAS e MPS foram zero (Tabela 3).

DISCUSSÃO

A cárie dentária foi o principal motivo de exodontias na população estudada. No grupo com idade superior a 35 anos, as extrações por razão protética e pela doença periodontal assumem maior importância, representando 27,8% e 18,6%, respectivamente, do total de exodontias. Contudo, a cárie representa 53,6% do total das perdas dentárias neste grupo com idade acima de 35 anos, sendo ainda a principal causa das extrações. Estes resultados mostram a tendência na população brasileira, já descrita por MACHADO et al.10 (1973), LEITE et al.9 (1975) e GUIMARÃES; MARCOS8 (1995), da diminuição da importância da cárie dentária como motivo de perdas dentárias com o aumento da idade, ocorrendo o inverso com as perdas ocasionadas pela doença periodontal e por razão protética. Existe, portanto, uma associação direta entre as variáveis idade e motivo de exodontias. A doença periodontal, apesar de ter seu impacto aumentado com o avanço da idade, não foi identificada como a principal causa de exodontias no grupo com idade acima de 35 anos. GÓMEZ; GONZÁLEZ7 (1987), num estudo realizado em Cuba, procurando identificar os principais motivos de perdas dentárias, encontraram resultados semelhantes aos deste trabalho.

A única relação encontrada entre sexo e motivo de exodontia foi a maior prevalência de doença periodontal nas mulheres. Esta relação não foi observada em outros estudos (MACHADO et al.10, 1973; GÓMEZ; GONZÁLEZ 7, 1987).

Deve-se salientar a importância crescente do componente P com o aumento da idade na população brasileira, acarretando erros cada vez maiores na mensuração da cárie pelo CPOS. O presente estudo constatou que o componente P do índice CPOS não deve apresentar os valores clássicos 4 ou 5, propostos em 1938 por Klein, Palmer e Knutson, nesta população estudada. Ao serem adotados esses valores, será observada uma superestimativa da experiência de cárie dentária da população estudada.

A exclusão do componente P do índice CPOS é preconizada por THYLSTRUP; FEJERSKOV17 (1995), com a justificativa de que sua inclusão acarretará superestimativa da experiência da cárie, e não existe maneira de corrigir esta discrepância. Entretanto, para a população brasileira e, provavelmente, para outros países onde a prevalência de cárie é semelhante, esta não inclusão do componente P levaria a uma subestimativa de experiência de cárie dentária. Para superar estas limitações, estudos de correção deste componente devem ser realizados. Estas correções estão na dependência direta da epidemiologia da cárie dentária. Para esta população brasileira, a correção do valor deste componente é 3,5 para o grupo com idade até 35 anos e 2,5 para o grupo acima de 35 anos. Para o primeiro grupo etário, quando a doença cárie foi a principal razão de perda dentária (76,2%), a correção proposta é menos intensa. Para o segundo grupo, entretanto, foi necessária maior correção, devido ao maior número de perdas dentárias por motivo protético e pela doença periodontal. Com relação à variável sexo, não foi encontrada qualquer diferença estatisticamente significante entre as correções para a população brasileira.

Um estudo realizado nos EUA por BODECKER1 (1939), um ano após a criação do CPOS, já recomendava que este valor fosse igual a 3,0 para a população acima de 35 anos. Este valor de correção é semelhante ao encontrado neste estudo, considerando-se o total de pacientes; entretanto, para a população acima de 35 anos, a correção nesta população brasileira foi mais acentuada, com valor 2,5. Na Inglaterra, em 1974, período que coincide com o declínio da prevalência da cárie dentária nesse país, WAGG18 propõe a correção do componente P para o valor 2,25. As alterações no componente P apresentadas para crianças e adolescentes da Tanzânia por FRENCKEN et al.5 (1990) foram também mais acentuadas que as do presente trabalho, pois esse país africano apresenta prevalência inferior de cárie dentária quando comparado ao Brasil e pelas faixas etárias estudadas (9-13 anos e 16-19 anos).

WAGG18 (1974), ORGANIZAÇÃO12 (1991) e THYLSTRUP; FEJERSKOV17 (1995) recomendam a não inclusão de dentes perdidos por motivos diferentes da cárie dentária no índice CPOS, por ser este um indicador da cárie dentária. Este raciocínio é correto, sendo confirmado quando se observa que um número significativamente menor de superfícies cariadas é encontrado nos dentes perdidos por motivo protético, pela doença periodontal ou por outros motivos, resultando em correções do componente P para 1,4, 0,3 e 0,0, respectivamente. Entretanto, quando é realizado um levantamento epidemiológico utilizando o índice CPOS, existe dificuldade para definir quais foram as razões biológicas de uma ausência dentária na cavidade bucal, comprometendo a utilização deste parâmetro de exclusão de dentes perdidos por motivos diferentes da cárie dentária. Assim, a utilização de uma correção do componente P minimizaria essas distorções.

CONCLUSÕES

Quando de levantamentos epidemiológicos que utilizem o índice CPOS, é correto propor que o valor do componente P seja corrigido. Para a população brasileira estudada, a correção proposta é de 3,0. Ao se considerar faixa etária, o valor corrigido deste componente corresponde a 3,5 para o grupo com idade até 35 anos e 2,5 para o grupo com idade superior a 35 anos. Estas correções podem, então, ser sugeridas para levantamentos realizados no Brasil e em países com prevalência de cárie dentária semelhante, o que tornará a avaliação da cárie dentária mais próxima da realidade epidemiológica.

AGRADECIMENTOS

Este estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (PRPq/UFMG).

ABREU, M. H. N. G.; DRUMMOND, S. N.; PORDEUS, I. A.; PAIXÃO, H. H. Correction factor for the M-component in the DMFS index in an adult brazilian population. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 12, n. 4, p. 323-328, out./dez. 1998.

Experience in dental caries is measured by indices, DMFS being the one most frequently used. However, this index has undergone several criticisms, particularly in regard to its M-component. When 4 surfaces of an anterior tooth, or 5 surfaces of a posterior tooth are decayed, a tooth is considered lost, regardless of how much it is involved. The present study investigated if the M-component of the DMFS-index requires correction. One hundred and seventy-seven teeth extracted from 107 adult patients from the Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais were clinically and radiographically examined. When the sample was considered as a whole, the weighted mean value of carious surfaces in the extracted teeth was 3.0. The correction factor for the M-component was 3.5 for those up to 35 years of age, and 2.5 for those over 35. No gender differences were observed. Hence, it is necessary to propose a correction factor for the M-component of the DMFS-index for any population with a similar prevalence of dental caries.

Uniterms: Epidemiology; Dental caries; DMF-index.

Recebido para publicação em 09/08/97

Reformulado em 06/05/98

Aceito para publicação em 09/06/98

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  • *
    Mestrando em Odontologia,
    **
    Cirurgião-Dentista e
    ***
    Professoras Adjuntas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - MG.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Nov 1999
    • Data do Fascículo
      Out 1998

    Histórico

    • Aceito
      09 Jun 1998
    • Recebido
      09 Ago 1997
    • Revisado
      06 Maio 1998
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